Você está na página 1de 83

RONALDO LEITE DA SILVA FILHO

ADRIELLY DE LIRA MOREIRA SILVA

DIREITOS DOS ANIMAIS: INTER-RELAÇÕES ENTRE


ANIMAIS HUMANOS E NÃO HUMANOS.

PATOS-PB
2019
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA
BIBLIOTECA DO CSRT DA UFCG

S586d Silva Filho, Ronaldo Leite da


Silva, Adrielly de Lira Moreira
Direitos dos animais: inter-relações entre animais
humanos e não humanos / Ronaldo Leite da Silva
Filho. – Patos, 2019.
84f.: il. color.

Referências.

1. Direitos Animais não humanos. 2. Maus-tratos. 3. Sociedade.


1. Título.
CDU 628.4
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................... 7
CAPITULO 1. Domesticação dos animais: Homo sapiens amigo ou
inimigo? ................................................................................................ 10
DOMESTICAÇÃO DO LOBO, CÃO, GATO E CAVALO ............ 13
OS DIREITOS DOS ANIMAIS E AS RELIGIÕES ........................ 18
CAPÍTULO 2. Especismo vs. Biocentrismo: A vida humana é mais
importante do que a vida animal? ........................................................... 6
PERSONAGENS ÍCONES DO BIOCENTRISMO ......................... 13
MINHA VISÃO DE MUNDO EM DEFESA DO BIOCENTRISMO
........................................................................................................... 14
OS CRIMES PRATICADOS CONTRA OS ANIMAIS NOS
CIRCOS, TOURADAS, RODEIOS, CAÇA E EXPERIMENTAÇÃO
ANIMAL ........................................................................................... 20
ANIMAIS DE ZOOLÓGICOS ......................................................... 32
PENALIDADES CONTRA OS CRIMES PRATICADOS COM
ANIMAIS DE ZOOLÓGICOS ......................................................... 34
CAPITULO 3. Proteção Animal no município de Patos Paraíba:
Desafios e Avanços na Saúde Única. .................................................... 39
O MUNICÍPIO DE PATOS-PB ........................................................ 40
ABANDONO DE ANIMAIS NO MUNICÍPIO DE PATOS ............................ 41
ANIMAIS ABANDONADOS E CRIMES PRATICADOS CONTRA
ANIMAIS NA CIDADE DE PATOS-PB ......................................... 44
ANIMAIS NAS DEPENDÊNCIAS FEDERAIS DO CENTRO DE
SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL DA UFCG .............................. 45
PARTICIPAÇÃO DA POPULAÇÃO EM DEFESA DOS ANIMAIS
........................................................................................................... 48
CONCLUSÃO .......................................................................................... 49
REFERÊNCIAS ....................................................................................... 52
7

INTRODUÇÃO

As relações entre animais humanos e animais não-humanos é muito


antiga, com a domesticação de alguns animais como cães e gatos antes da
revolução agrícola há 12 mil anos atrás, estas relações estreitaram-se ao
longo do tempo gerando uma troca de serviços para ambas as espécies.
Animais como gatos e cachorros foram considerados divindades no
Antigo Egito, e quem matasse esses mesmos animais eram condenados à
morte, porém esses animais eram sacrificados para os deuses em seus
rituais religiosos. Um aspecto importante a ressaltar é a ação de muitas
religiões no trato com os animais, onde muitas coisas boas e outras cruéis
foram feitas contra a vida deles em nome da religião e de Deus ao longo
da história da civilização humana.
Apesar de muitos avanços científicos, tecnológicos e éticos terem
ocorrido na civilização, incluindo inovações também na medicina
veterinária no trato das enfermidades com animais de pequeno e grande
porte, a nutrição, a farmacologia e o manejo adequado de muitos animais,
ainda há muito para avançar na questão ética com estes seres. A medicina
tem provado que ter animais de estimação por perto diminui em nós,
humanos, o estresse, favorece os processos cognitivos, concentração, além
de ajudar na recuperação das pessoas doentes. O entretenimento é uma
forma muito lucrativa e depois da invenção da TV, internet e celulares o
entretenimento atingiu o seu ápice durante os séculos com o avanço destas
novas tecnologias. Porém, mesmo com a existência destas novas
tecnologias, existem vários entretenimentos que há séculos, utilizam os
animais como os protagonistas desses eventos, a exemplo: zoológicos,
circos, touradas, rodeios, caça esportiva, testes animais entre outros tipos.
Todas estas ações geram dores, mortes, sequelas físicas e psicológicas nos
8
animais.
As primeiras leis que tratam da questão dos direitos dos animais
foram primeiramente formuladas em sentido “utilitarista”, ou seja,
poderiam utilizar os animais de algumas maneiras que tivessem o objetivo
de trazer o bem coletivo. Os animais eram tratados como mercadorias e
não como seres sencientes, ou seja, dotados de natureza biológica e
emocional e passíveis de sofrimento. Com a expansão dos movimentos de
filosofia holística no mundo e das instituições em defesa dos direitos dos
animais, incluindo diversas Organizações Não-Governamentais (ONGs)
os direitos dos animais começaram a sensibilizar a sociedade brasileira
para um tema antes ignorando pelos setores da sociedade.
Culturalmente, a maioria das pessoas foram educadas para serem
especistas, ou seja, elas acreditam que a espécie humana é superior a todos
animais existentes, seja por motivos religiosos (textos sagrados) ou por
qual causa da nossa inteligência racional. Por outro lado, há um grupo de
pessoas que se consideram biocentristas, ou seja, elas acreditam que a
humanidade não é melhor do que os animais, no entanto apenas mais uma
espécie dentro desse grande ecossistema global.
Para criação das leis, dos decretos e dos estatutos dependemos
mais dos poderes Executivo (Presidente da República) e Legislativo
(deputados e senadores) do que o Poder Judiciário, este último é aquele
que coloca em prática as leis criadas pelos outros poderes. Leis que
protegem os animais e leis mais rigorosas para as pessoas que praticam
maus-tratos contra os animais a população deve exigir e cobrar dos seus
representes na sua cidade (prefeito e vereadores) no seu Estado
(governador e senadores e deputados estaduais e federais) e em seu país
(presidente), pois só assim o judiciário poderá fazer sua função de colocar
em prática as leis e suas observações.
9
As universidades, os centros urbanos e rurais são vítimas do
crime do abandono de animais. Os animais abandonados geram
problemas a esses locais, além da expansão das doenças e populações
de cães e gatos. É necessário a união dos poderes e movimentos que
fazem parte da sociedade para tomar providências que venham
amenizar as situações caóticas nas cidades.
Sensível a esta problemática nasceu este trabalho de apresentado
aqui em três capítulos, com o objetivo de realizar um estudo de revisão
bibliográfica sobre os direitos dos animais na sociedade brasileira com
seus desafios e avanços no âmbito jurídico e na saúde pública.
Almejamos ainda apresentar casos de maus-tratos com animais na
cidade de Patos e no Campus do Centro de Saúde e Tecnologia Rural,
da Universidade Federal de Campina Grande.
10

CAPITULO 1. Domesticação dos animais: Homo sapiens


amigo ou inimigo?
11
Convivemos com uma grande variedade de espécies animais em
nosso dia a dia, eles estão em nossas culturas, nossos filmes, nossos
lares, nossos inconscientes, nas crenças populares e nos livros. Enfim,
eles fazem parte da nossa vida, onde nós, Homo sapiens, somos apenas
mais uma dentre as milhares de espécies catalogadas pela ciência, nas
diversas classes taxonômicas, onde a classe Artrhopoda é a maior delas.
Dentre os animais, as primeiras espécies domesticadas pelo homem,
foram os cães e gatos. (BRADSHAW, 2012. Pags. 28-43).
Nossa reflexão leva aos seguintes questionamentos: Mas
essa domesticação foi benéfica ou maléfica do ponto de vista animal?
Houve mais ganhos ou perdas com essa relação entre homem-animal?
Será que, se os animais fosses seres racionais, eles aceitariam ou
negariam os impactos da domesticação que foram projetados sobre eles?
Segundo Aristóteles (2010.p.87) “o homem é um animal que, “Trata-se,
entre os animais que conhecemos, do único, ou pelo menos daquele que
em grau superior a qualquer outro, que partilha da natureza divina”
Pelas ideias do historiador Yuval Noha Harari em seu best-
seller internacional Sapiens uma Breve História da Humanidade na qual
revelar os momentos dos encontros entre animais e os Homo sapiens
arcaicos. Antes de explorar o assunto, precisamos saber o que significa
“domesticação”.
Segundo o dicionário Michaelis (2016) a palavra
domesticação significa “Prática usada pelo homem de amansar os
animais selvagens para empregá-los em atividades de seu próprio
proveito”. Então, a domesticação é um ato do homem sobre outros
animais para gerar vantagens em prol do seu bem-estar. Geneticamente,
o processo da domesticação, implica em uma série de mudanças físicas,
biológicas, anatômicas, psicológicas nos animais por meio de seleção
12
natural acumulativa e seleção artificial por ação antropológica.
Neste capítulo, iremos dissertar e analisar sobre a
domesticação dos cães, lobos, gatos e cavalos e, alicerçados nestes
exemplos poder inferir também sobre a situação de tantos outros
animais que foram domesticados pela civilização humana.
Há muitos relatos em várias religiões fomentando que os
animais foram feitos para servir aos seres humanos, sendo estes
dominados com o objetivo de suprir suas necessidades, um exemplo que
podemos analisar nesse seguinte aspecto do relato bíblico:

E DEUS disse: façamos o ser humano a nossa


imagem e semelhança. Que eles dominem os
peixes do mar, as aves do céu, os animais
domésticos e toda a terra e também os bichinhos
que se remexem sobre a terra (GÊNESIS, 1:26).

Na perspectiva da Ciência, os seres humanos (Homo


sapiens) surgiram na África Oriental há cerca de 2,5 milhões de anos,
originados a partir de um gênero anterior de primatas o chamado
Australopithecus por volta de 2 milhões de anos atrás, onde algumas
populações deixaram a África do Sul para outras regiões do globo
terrestre. Os antepassados dos seres humanos foram ficando cada vez
mais inteligentes com seus cérebros maiores e adquirindo capacidades
de adaptação de vida a novas circunstâncias, incluindo as ecológicas, na
qual o professor Yuval Noah Harari afirma em suas descobertas
arqueológicas. (NOAH, 2011.p.17).
Já tínhamos há cerca de 10 a 12 mil anos, contato direto ou
indireto com outras espécies sejam pela caça, seja pela fuga, ou seja,
pela disputa entre a vida e a morte dentro do campo de batalha.
Segundo Noah (2011) em seu livro Sapiens, Uma Breve História da
13
Humanidade os “Humanos arcaicos pagaram por seu cérebro grande de
duas maneiras. Em primeiro lugar, passaram mais tempo em busca de
comida. Em segundo lugar, seus músculos atrofiaram” (NOAH, 2011.
p.17).

DOMESTICAÇÃO DO LOBO, CÃO,


GATO E CAVALO

Antes da Revolução Agrícola, ocorrida há 10.000 anos a.C.


provavelmente o primeiro animal a ser domesticado pelo Homo sapiens
foi o lobo asiático (Canis lupus), entre 12.000 há 15 mil anos a.C. no
sudoeste asiático, na China e na América do Norte. Este animal é
considerado o ancestral do cão que conhecemos na atualidade. Há
registros sobre as transformações ocorridas em sua fisiologia e anatomia
que segundo britânico o Jared Diamond, da Universidade de Bristol em
seus estudos sobre história canina no seu livro Dog Sense (em
português, cão senso), afirma que:
Ao logo de grande parte da história humana, os
cães foram criados para desempenhar papéis que
a humanidade lhe atribuiu mas, não importa se a
tarefa deles era pastorear, vigiar, buscar a caça
ou puxar veículos, sua estabilidade e
funcionalidade eram considerados bem mais
importantes que seu tipo ou aparência
(BRADSHAW, 2011. pag.
19).
A domesticação, naturalmente foi sendo conduzida aos poucos.
No caso da domesticação dos lobos tem-se a seguinte circunstâncias:
As sobras dos alimentos eram oferecidas aos animais
do mato, e alguns se aproximavam. Por causa da
comida, passaram a viver próximos ás aldeias e seus
filhotes, a conviver com homens. Acabaram se
tornando domésticos (MÓL, 2014; VANANCIO
2014. pag.34)
14
No relato acima detalha-se ainda que os lobos iam atrás das
pessoas para conseguir calor da fogueira e as sobras das refeições feitas
pelos homens, posteriormente os seres humanos perceberam a
aproximação dos lobos para adquirirem comida. Sugerimos que, após
ver que os lobos estavam ficando menos selvagens na presença do
homem, o ser humano aproveitou essa oportunidade de fazer
“amizade”, mas essa amizade virou a chance de o homem explorar o
seu novo amigo, é o que John Brawshaw (2012) demostrou em seu livro
Cão Senso publicado pela Editora Record no Brasil.
Nesse processo de domesticação ocorreu uma troca de interações
que alguns autores como Jonh Bradshaw (2012), Peter Wohlleben
(2019) e Peter Singer (1975) consideram benefícios para ambas as
partes. Nesta pespectiva, o homem ganhou com essa domesticação do
cachorro um companheiro muito útil domesticando-o para ser leal,
social e obediente, usando-o para caçar e guerrear contra os animais
selvagens. Em contrapartida, o lobo ganhou abrigo, comida fácil sem
precisar se deslocar tanto para obtenção desta ou se arriscar numa luta
com outros animais.
O estudioso neste assunto, o biólogo John Bradshaw, observou
que o lobo e o cão perderam com a domesticação, pois, a partir de
então, deixou de ser livre, sujeito a outros desafios como morrer pelo
homem em campo de batalha. Evidentemente foram novas adaptações
para ambos animais e tantos outros ao longo da história da humanidade
que foram sendo domesticados nesta trajetória.
O animal passou a ter dono e não é mais livre, as vantagens dessa
domesticação são mais vantajosas para o homem e menos vantajosa
para o lobo. Animais selvagens vivem melhor na ausência dos homens
pois seu único objetivo é viver e perpetuar sua espécie. Não é à toa a
15
frase de Thomas Hobbes ao proferir que,

“Homem é o lobo do homem” (HOBBES, 1983. pag.3). Esta oração


metafórica, quer dizer que o homem é um animal que ameaça a sua
própria espécie. O que a máxima sublinha é a capacidade destruidora do
ser humano contra os seus. Podemos dizer que o homem é inimigo do
homem, nesse caso, homem se aproveitou do lobo para domestica-lo e
abriu possibilidades para novas domesticações e ter mais subordinados.

“Os indícios históricos registram a possível domesticação do cão entre


12 mil a 14 mil anos no máximo” (BRADSHAW, 2012. Pag. 61). Foi
encontrando um túmulo de 12 mil anos no norte de Israel, na qual havia
uma mulher enterrada junto com um filhote de cachorro. O filhote foi
enterrado perto da cabeça da mulher. (NOAH, 2011. pag. 55).
No Antigo Egito, os cachorros tinham privilégios de viverem no
interior de templos sagrados, porém eram sacrificados por motivos
religiosos. Nos festivais religiosos em homenagem ao deus Anúbis (deus
dos mortos) uma forma de expressar adoração e respeito ao deus Anúbis,
era abater cães e depois, embalsamar e posteriormente enterrar.
Milhares de cães eram mortos e embalsamados em canis anexos aos
templos. Uma prática muito comum era abatimento de filhotes, na
maioria das vezes com menos de um ano de idade. Os devotos
preferiam os filhotes porque o processo de mumificação do corpo era
mais rápido e econômico. “Nas sociedades do passado, sempre se
procurava destinar os animais a fim prático” (MÓL, 2014; VANANCIO
2014. pag. 37).
Na Grécia Clássica os cães de “classe baixa”, que eram mais
acessíveis para a população pobre da época eram abandonados nas ruas
da pólis (cidade) depois capturados pelas camadas pobres da sociedade
para seres sacrificados por motivos religiosos. Milhares de cães eram
16
oferecidos de tempo em tempo aos deuses com o objetivo de acalmar as
violentas tempestades de verão ou para ter uma boa plantação no
campo. Na Antiga Roma os cães eram utilizados para lutar contra os
gladiadores, leões e ursos.
Do período Paleolítico Superior aos modernos pets shops na
atualidade, cada época, cada região, cada povo e cada sistema
sociocultural e político-econômico têm feito com o cão distintas relações.
De animal sagrado nos templos do deus Anúbis até ás criações
clandestinas em massa na atualidade, o homem tem usado os cães

para diversos objetivos e fins. Alguns repletos de troca afetiva entre as


espécies, outras vezes na maioria das vezes são marcadas por abuso,
maus-tratos, exploração e escravização. A visão antropocêntrica que
homem está acima de tudo e ele é o centro do universo, faz com que ele
se ache ser mais superior da face da terra. “Ganância, estupidez,
crueldade, ambição, falta de lealdade, desdém e individualismo excessivo
são o que nos leva a explorar negros, pobres, índios, cachorros, vacas,
gatos e até aqueles a quem chamamos amigos” (CHUAHY, 2009. Pag.
8).
Os descendentes do cão atual abriram uma porta de exploração,
que hoje em dia é visto com muita frequência o que esses animais passam
nas mãos de alguns seres humanos mal-intencionados. Hoje em dia, é
muito comum ver explorações contra os cães nos programas de
televisão, filmes ou em vídeos postados no YOUTUBE fazendo
demonstrações com ordens dos seus donos, tais acrobacias na maioria
das vezes são aprendidas através maus-tratos por parte dos seus donos
gananciosos. (CHUAHY, 2009. pag. 26).
O fóssil mais antigo do gato numa região próximo ao Himalaia,
no Tibete, no qual o este tem 5,6 milhões de anos. (CARLOS et al,
17
2014. Pag.38). Ao contrário do cão que se aproximou do homem por
restos de comidas e pelo calor, o Felis silvestres (gato silvestre) que deu
origem ao gato doméstico, aproximou-se do homem porque os homens
“atraíam os ratos”, devido aos depósitos de suprimentos. Ao contrário
do cão e os demais animais, o gato foi o que contribuiu menos para
sobrevivência do homem. O homem viu no gato “um efetivo controle de
pragas”, os gatos afastavam os ratos das comidas das pessoas.
Carlos (et al, 2014. Pags. 36-43) apresenta que:

Entre 10.500- 9.500 anos atrás dos restos de um


camundongo doméstico preservado entre os
depósitos de grãos em Israel; o início da
agricultura e dos povoados permanentes cria
oportunidades de aproximação entre os gatos e
os homens, com o fim de caçar camundongos
(CARLOS et al, 2014. Pags. 36-43).

Os acadêmicos afirmam que os antigos egípcios foram os


primeiros a domesticar o gato há 3.600 anos. Ao contrário do cachorro,
o gato foi elevado como uma divindade na forma da deusa Bastet
(deusa-gata) há 2.900 anos. Um enorme número de gatos era
sacrificado, mumificado e enterrados para seres oferecidos a deusa-gata.
Sendo que para os egípcios os seus deuses podem ser representados

de várias formas, humana (antromórfica), animal (zoomórfica) ou


metade homem e metade animal (zooantromórfica). Segundo o
dicionário símbolos, “no Egito, doméstico, os gatos, eram consagrados á
deusa Bastet, protetora da casa, das mães e das crianças” (CECÍLIA,
2009. pag.58).

O primeiro equídeo de que há registo foi classificado pelo


nome de Hyracotherium. Era um pequeno animal de floresta nos
primórdios do Eoceno, há cerca de 55 milhões de anos atrás. Os cavalos
18
foram domesticados por humanos pela primeira vez há cerca de 6 mil
anos em campos na Ucrânia, sudoeste da Rússia e oeste do Cazaquistão.
Para os homens primitivos os cavalos serviam como meio de transporte,
de caça, de guerra, e até mesmo como alimento e essa relação entre
homem e cavalo foi cheia de controvérsias que fica evidenciada nas
palavras de Noah (2011, pags. 103-105):

A fim de transformar bois, cavalos, jumentos e


camelos em animais de cargas obedientes, seus
instintos naturais e laços sociais tiveram de ser
destruídos, sua agressão e sexualidade, contidas
e suas liberdade de movimento, restringida. Os
criadores desenvolveram técnicas como trancar
animais em jaulas e currais, contê-lo com rédeas
e arreios, treiná-los com chicotes e aguilhadas e
mutilá-los. Nem todas as sociedades agrícolas
foram tão cruéis com seus animais. A vida de
alguns animais domesticados podia ser muito
boa. Ovelhas criadas para lã, cachorros e gatos
de estimação, cavalos de guerra e cavalos de
corrida muitas vezes desfrutavam de condições
confortáveis (NOAH, 2011, pags. 103-105).

OS DIREITOS DOS ANIMAIS E AS


RELIGIÕES
Não sabemos ao certo em que momento a humanidade criou a
religião e muito menos sabemos o primeiro sacrifício religioso com
animais. Nossos antepassados estavam ficando cada vez mais
inteligentes aprendendo melhor a viver, sentir e pensar sobre o seu lugar
no mundo. A criação das ferramentas, criação da linguagem, a criação
da escrita e o domínio do fogo foram avanços cruciais no
desenvolvimento da humanidade. Segundo Noah (2011) afirmar que
“Lendas, mitos, deuses e religiões apareceram pela primeira vez com a
Revolução Cognitiva”.
19
Das pedras mágicas, animais mágicos, animais e pessoas invisíveis
no céu foram proibidos e aceitos sacrifícios de animais conforme a
evolução do pensamento religioso. Tanto para obter-se recompensas
divinas ou para aliviar as fúrias dos seres divinos os animais foram
sacrificados durante a história e ainda em 2019 é muito comum ver tais
situações.
Por pura ignorância humana em nome da religião milhares de
gatos foram sacrificados para os caprichos de uma deusa. Sim, o gato
ganhou fama enorme dentro do Egito, mas essa domesticação levou
milhares de gatos a seres mortos por caprichos tão banais. Os bichanos
na Idade Média eram considerados símbolos do demônio, sinal de azar,
em particular os gatos pretos eram consagrados em rituais de magia
pelas bruxas (CECÍLIA, 2009, pag. 58).
Segundo Sigmund Freud (2010) em seu livro o Futuro de Uma
Ilusão, diz que “a primeira forma em que a divindade protetora se
revelou ao homem foi animal, que existia uma proibição de matar esse
animal e comê-lo”.
Os animais nos ajudam proteger nossos lares, ajudam combate as
doenças, eles têm enorme importância e participação em nossas vidas
que chegam a ser quase divinos ou anjos da guardar para milhares de
pessoas. (LEAL, 2013.pags. 27-31).
Paro o sacrifício de animais domesticados em nome de uma
religião eles são cuidados e preparados para serem oferecidos á divindade
ou para expulsar algum demônio ou má sorte entre outros motivos que
são feitos pelas pessoas para obter respostas e soluções para seus
problemas. O culto religioso é um direito constitucional e garantido pela
Constituição do Brasil:

VII- É inviolável a liberdade de consciência e


20
de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a
proteção aos locais de culto e suas liturgias.
(BRASIL, 1888, pag. 13)

O Estado é laico, mas a Constituição garante aos adeptos de uma


religião tenha direito de expressar e praticar sua liberdade religiosa.
Porém, algumas religiões utilizam diretamente ou indiretamente o
sacrifício de um animal para que sua liturgia tenha êxito. No judaísmo
são sacrificados animais para Javé (nome de DEUS em hebraico), como
pode ser visto numa passagem bíblica: “Façam também um sacrifício
pelo pecado com um bode, e um sacrifício de comunhão com dois
cordeiros de um ano” (LEVÍTICO, 23:19).

Há várias religiões que não utilizam os sacrifícios dos animais em


suas liturgias, é o caso do budismo! O budismo prega a harmonia sobre
todos os seres vivos que estão interligados uns aos outros. Os budistas
evitam qualquer tipo de maldade ou prejuízo a qualquer ser vivo. No
Dhammpada, ou conhecido como “o caminho da sabedoria de Buda”, é
dito como um budista deve se comportar diante de todos os seres vivos
“Aquele que faz o mal sofre no presente e no futuro, sofre em ambos os
mundos” (DHAMMPADA, 2013, pag. 16).
De acordo com a filosofia budista, “devemos comer apenas o
suficiente para o sustento e não por prazer, e não devemos nos envolver
na morte de animais” (CHUAHY, 2009. Pag. 15). O que são os animais
dentro do budismo? No budismo os animais pertencem a uns dos seis
reinos inferiores da existência do samsara (fluxo incessante de
renascimentos) e que os seres humanos podem transitar a esse reino.
Como funciona esse reino animal? Na visão tradicional Budista, esse
reino é um pouco mais áspero. Os nascidos no reino dos animais são
21
vistos como pagadores pelos pecados do passado e dentro deste dogma
pode-se transgredir e ser jogado de volta para os reinos anteriores
mesmo pensando que os tinham ‘concluído’. “O pagamento
normalmente vem com o nascimento, por exemplo, como gado vivendo
uma vida esgotante puxando carrinhos, sendo chicoteado e em geral,
são maltratados” (DHAMMPADA, 2013. pag. 14).
Como animais funcionam principalmente por instinto, eles são
incapazes de gerar um bom karma (ação) e podem ficar presos neste
ciclo por centenas de milhares de anos terrestres. É errado comer
animais na visão budista? No budismo o momento da refeição é um
momento para a reflexão. Tudo o que está à mesa era vivo. Nenhum
deles precisa se alimentar do nosso corpo para viver, mas nós
precisamos. Concluímos que não somos mais importantes que um pé de
alface. É proibido matar qualquer tipo de animal no budismo? Uma das
regras do budismo é “não mate seres vivos”, isso serve tanto para seres
humanos, como também para os animais. “Porém, há correntes budistas
que comem animais e já outras estimulam o vegetarianismo”
(CHUAHY, 2009. pag. 15).
É daí também que a visão vegetariana do Budismo vem – a
compreensão de que há uma alma ali, um ser – foi espalhado por Buda
em forma de protesto à matança prevalecente e os sacrifícios populares
de animais. É notável que há uma grande espiritualidade e respeito a
todas as formas de vidas. “As religiões orientais mais expressivas, o
budismo, o hinduísmo e o jainismo têm como princípio ético- religioso
o Ahimsa, que consiste na rejeição constante da violência e no respeito
absoluto a toda forma de vida” (CHUAHY, 2009. pag. 14).

As crenças africanas chegaram ao Brasil com negros em


condições de escravidão entre os anos de 1549 a 1888. Os escravos
22
eram proibidos de praticarem suas crenças, pois seus senhores católicos
abominavam as crenças de matriz africana. O candomblé surgiu na
possibilidade de os escravos praticarem sua religião sem levantar
suspeitas dos seus senhores, pois a partir de um sincretismo religioso
(união das crenças africanas com as crenças católicas) foi possível
praticarem suas crenças nos orixás. Candomblé outra religião de matriz
africana, porém o sincretismo dela é a união das crenças africanas com
elementos católicos e espíritas. Segundo Ana Vasconcelos (2010):

Seus cultos ocorrem em templos, terreiros ou


centros. Acreditam que os orixás estão em todos
os lugares, sendo forças da natureza; e que cada
pessoa, ao nascer, vem ligada a um orixá
(VASCONCELOS, 2010. pag. 141).

Na Umbanda e no Candomblé os animais são sacrificados para os


Orixás para proteger as pessoas ou expulsar os seres malignos.
Normalmente o animal escolhido para morrer em prol do ritual é
“Segundo os adeptos, essa é uma prática surgiu em tribos africanas há
3 mil anos e que deve ser preservada como manifestação cultural.
Galinhas, cabritos, e ovelhas são degolados depois de passarem horas
esperando a morte” (CHUAHY, 2009. pag. 107). Os despachos são
feitos em vários lugares, como nos cemitérios, estradas, praias entre
outros lugares feitos pelos fiéis dessas religiões.
Recentemente o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu no dia
28 de março de 2019 que sacrifícios de animais em cultos religiosos é
constitucional. Os ministros do STF também foram contra a Constituição
Federal a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, criada em
1978, pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e
Cultura (UNESCO), violando os seguintes artigos dessa declaração:
23

VII- Proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma


da lei, as práticas que colocam em risco sua
função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a crueldade.
Art. 10º
1. Nenhum animal deve ser explorado para
divertimento do homem.
2. As exibições de animais e os espetáculos que
utilizem animais são incompatíveis com a
dignidade animal.
Art. 11º
Todo o ato que implique a morte de um animal
sem necessidade é um biocídio, isto é um crime
contra a vida.

“Tradição e herança cultural não valem como justificativa, uma


vez que não estamos numa tribo na África 3 mil anos atrás” (CHUAHY,
2009. Pag.107). Jamais a liberdade religiosa dever vencer o direito da
vida! Suas liturgias não devem explorar ou sacrificar animais, pois
sendo já em si um ato antiético e não merecem nenhuma consideração
por parte das pessoas que lutam pelos direitos dos animais. Peter Singer
filósofo, e professor australiano, nos ensina em seu livro, Libertação
Animal “que por mais que certos seres vivos não pertençam á espécie
humana, não significa dizer que tenhamos imediato a explorá-los”
(SINGER, .1975 pag. 11). Não termos direito de sacrificar ou explorá-
los por uma ordem de um deus ou convicções religiosas, pois é um ato
banal e não tem nada de divino nisso.
Em sua carta encíclica Laudato Si, cujo a tradução significa
“sobre o cuidado da casa comum”, qual foi escrita no dia 24 de maio de
2015, o Papa Francisco nos ensina como devemos encarar nosso
compromisso com a fauna e a flora terrestre: amar, respeitar e cuidar. O
Papa Francisco cita, “entretanto, não basta pensar nas diferentes
24
espécies apenas como eventuais recursos exploráveis, esquecendo que
possuem um valor em si mesmas” (FRANCISCO, 2015. pag. 26).
Todos os animais têm valor e muita importância no equilíbrio da
biosfera. É fundamental preservar, honrar e respeitar cada ser vivo desde
os mais bonitinhos, aos olhos humanos, até os mais feiosos aos olhos
humanos. Não somos mais homens e mulheres primitivos, somos uma
espécie racional que sabe o que é certo e o que é errado.
O problema não é a religião, mas sim “um antropocentrismo
desordenado gera um estilo de vida desordenado” (FRANCISCO, 2015.
pag. 76), esse tipo de liturgia que sacrificar animais é um ato
antropológico desordenado, tais liturgias poderiam substituir animais
por flores, frutos, bebidas entre outras. Além da questão moral, existe
também a lei. O sacrifício de animais é ilegal no Brasil, segundo a lei
federal Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 diz:

Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir


ou mutilar animais silvestres, domésticos ou
domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza
experiência dolorosa ou cruel em animal vivo,
ainda que para fins didáticos ou científicos,
quando existirem recursos alternativos.
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço,
se ocorre morte do animal.

“A religião não pode ser usada como escudo para o crime”


(CHUAHY, 2009. pag. 108). Infelizmente, mesmo assim o ritual é feito
diariamente nos terreiros de umbanda e candomblé.
Nossa Constituição garante a liberdade religiosa no Brasil, porém
as liberdades religiosas devem ser preservadas, desde que não infrinjam
a liberdade alheia, no caso da liberdade dos animais. Mas caso alguém
25
matasse seu filho ou alguém em nome da sua religião, seria crime ou
liberdade religiosa? No Brasil algumas aldeias indígenas praticam o
infanticídio, ou seja, o assassinato de bebês que nascem com algum tipo
de doença grave de saúde ou defeito físico.
Nossa Carta Magna, a Constituição, garante que os índios
brasileiros possam praticar o infanticídio sem ser crime. As pessoas que
defenderem os sacrifícios dos animais em cultos religiosos justificam os
atos dizendo que “não há diferença alguma entre matar um animal para
comer e matar um animal para o culto religioso”. Então, digamos que o
indivíduo não é índio, mas não aceitou o seu bebê com deficiência e
acabou matando ele, só por não ser índio ele irar para a prisão com base
no Código Penal.
Art.121. II § 2º, - Se o
homicídio é cometido: I – mediante paga ou
promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil.

Essa liberdade religiosa que nossa Constituição garante aos


grupos religiosos abrem brechas para praticar crimes que são
justificados por “motivos religiosos”, por isso não há diferença alguma
de matar animais por motivos religiosos e matar por diversão ou
crueldade, pois em ambos os casos continuam sendo crimes contra a
vida dos animais. Da mesma forma que os índios estão protegidos por
lei para praticar o sacrifício da sua prole e uma pessoa não está
protegida por lei para sair matando por ai seu filho ou sua filha em
ambos os casos são assassinatos e devem ser punidos e repudiados. Não
é preconceito contra os crentes de alguma

que faz o uso de animais em seus rituais, mas sim o bom senso ético,
26
moral e racional para saber que isso é um crime justificado e parado por
lei por motivos religiosos. “A tradição, nesse caso, é um simples disfarce
para a maldade humana. Temos que basear nossa responsabilidade moral
nos princípios da justiça e da compaixão, e não nos escondermos atrás da
tradição e nos acomodarmos com os valores que nos são familiares”
(CHUAHY, 2009. pag.108).

As primeiras leis que tratam da questão dos direitos dos animais


foram primeiramente em sentido “utilitarista”, ou seja, poderiam utilizar
os animais de algumas maneiras que tenha como objetivo trazer o bem
coletivo. O primeiro decreto que mencionar animais foi no ano de 1884,
sobre “tarifas e instruções regulamentares para o transporte de
passageiros e mercadorias pela entrada de ferro Conde d´Eu”. Decreto
diz: “Os animais mais ferozes só serão transportados nos trens de
mercadorias ou especiais, e acondicionados em fortes caixões, ou gaiolas
de ferro ou madeira”. (artigo 66).
Os animais eram tratados como mercadorias e não como
sencientes, ou seja, dotados de natureza biológica e emocional e
passíveis de sofrimento. Foi na capital em 1886, que as leis foram
melhorando sua visão sobre os animais e nessa determinava que: “É
proibido a todo e qualquer cocheiro, condutor de carroça, pipa d´água
[nessa época não existia redes de abastecimento de água] maltratar os
animais com castigos bárbaros e imoderados”.
Mól (2014) e Vanacio (2014) falaram a respeito de José do
Patrocínio um dos líderes, do movimento abolicionista no Brasil, contra
a escravidão afirmou em suas palavras:

Eu tenho pelos animais um respeito egípcio.


Penso que eles têm almas. Ainda que
rudimentar, e que eles sofrem conscientemente
27
as revoltas contra a injustiça humana” (MÓL,
2014; VANANCIO 2014. pag. 21).

A cidade de São Paulo deu um passo ao favor dos direitos dos


animais em 1895, com a criação de uma unidade da União Internacional
Protetora dos Animais (UIPA) dando maior atenção aos maus-tratos
sofridos pelos animais na cidade, além de preservar o bem-estar do
animal. Graças a luta da UIPA, a câmara municipal da cidade aprovou
uma lei municipal para proteger os animais. Além da UIPA foi criada
outra instituição com objetivo o bem-estar animal em 1907, foi criada a
“Sociedade Brazileira Protectora dos Animaes”, com sua sede no Rio de
Janeiro, que nessa época era a capital federal do Brasil.
Só em dezembro de 1920, com decreto nº 14.529 de 9 de dezembro
surgiu a primeira lei nacional em combate aos maus-tratos em âmbito
do território nacional. Esse decreto tinha como objetivo a proibição de
“casas de diversões públicas”, na qual nessas casas eram praticados os
combates entre os animais para diversão do público. Em seu artigo 5 o
decreto diz: “Não será concedida licença para corridas de touros,
garraios [bezerros] e novilhos, nem de briga de galos e canários ou
quaisquer outras diversões desse gênero que causem sofrimentos aos
animais”.
Com a expansão das instituições e das ONGs os direitos dos
animais começaram a sensibilizar a sociedade brasileira para um tema
antes ignorando pelos setores da sociedade. A vitória rumo aos direitos
dos animais prosseguiu em 1934, na qual foi aprovada, “medidas de
proteção dos animais não humanos” pelo o decreto nº 24.645 de 10 de
julho daquele ano, na qual demostrou 31 atitudes que podem ser
consideradas como crimes contra a vida animal. O decreto diz:
28
Art. 3º Consideram-se maus tratos:
I - praticar ato de abuso ou crueldade em
qualquer animal;
II - manter animais em lugares anti-higiênicos
ou que lhes impeçam a respiração, o movimento
ou o descanso, ou os privem de ar ou luz;
III - obrigar animais a trabalho excessivo ou
superiores ás suas forças e a todo ato que resulte
em sofrimento para deles obter esforços que,
razoavelmente, não se lhes possam exigir senão
com castigo;
IV - golpear, ferir ou mutilar, voluntariamente,
qualquer órgão ou tecido de economia, exceto a
castração, só para animais domésticos, ou
operações outras praticadas em beneficio
exclusivo do animal e as exigidas para defesa do
homem, ou no interesse da ciência.

Em 1981, com surgimento da Lei de Proteção á Fauna que proibir


a caça, perseguição e aprisionamento dos animais das florestas e matas
brasileiras. Em 1988, o surgimento do artigo 225 na Lei Maior do país, a
Constituição Federativa do Brasil na qual reconheceu os direitos dos
animais direitos dos animais em território nacional, na qual os três
poderes têm obrigação de proteger a fauna nacional. A Constituição
afirma que:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao poder público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito,
incumbe ao poder público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos
essenciais e prover o manejo ecológico das
espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do
29
patrimônio genético do País e fiscalizar as
entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de
material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação,
espaços territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei,
vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua
proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de
obra ou atividade potencialmente causadora de
significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se
dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o
emprego de técnicas, métodos e substâncias que
comportem risco para a vida, a qualidade de
vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os
níveis de ensino e a conscientização pública para
a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na
forma da lei, as práticas que coloquem em risco
sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a crueldade.

Impossível não mencionar um dos animais explorados em todo o


Brasil, em particular bastante explorado no Nordeste, o jumento cujo seu
nome científico é Equus africanus asinus. Símbolo do sertão, animal
escolhido por Jesus Cristo Mateus 21: 2 “Dizendo-lhe: Vão á aldeia que
está diante de vocês, e logo encontrarão uma jumenta amarrada, e um
jumentinho com ela. Desamarem e os tragam para mim”.
O Jumento, símbolo da cultura nordestina, um animal anacrônico.
Milhares de famílias nordestinas do passado e do presente exploram
esse animal nas atividades domésticas e econômicas. Em algumas
30
situações os jumentos são expostos a vários tipos de maus-tratos: Eles
são chicoteados várias vezes ao dia para que eles andem mais rápido.
Eles carregam cargas pesadas nas carroças. Eles são deixados expostos
ao sol sem água e comida na maioria das vezes pelos seus donos.
Descansam pouco, trabalham muito.

Muitas vezes são utilizados mesmo doentes ou feridos e muitas


vezes nem sequer são submetidos aos cuidados médicos
veterinários.Veículos de Tração Animal (VTA) são, transportes de
carga conduzidos por

animais, como carroças. A prática do VTA é muito antiga, desde


revolução da roda foi criado transportes utilizando as forças do animal
para movê-lo. Proibição ou autorização do VTA depende unicamente
das legislações propostas pelos legisladores dos municípios, é o que diz
o Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) no diz:

Art.24. Compete aos órgãos e entidades


executivos de trânsito dos Municípios, no
âmbito de sua circulação:
XVII- Registra e licenciar, na forma da
legislação, veículos de tração e propulsão
humana e tração animal, fiscalizando, autuando,
aplicando penalidades e arrecadando muitas
decorrentes de infrações.
XVIII- Conceder autorização para conduzir
veículos de propulsão humana e de tração
animal.

Infelizmente na cidade de Patos, no Estado da Paraíba não existe


uma lei proibindo a utilização de VTA. Porém, há uma lei municipal que
condena práticas pelos donos dos animais, a lei nº 4.879/2017 de 22 de
2
junho de 2017 diz o seguinte:

Art. 2º
I- Privá-los de necessidades básicas tais como
alimento adequado á espécie e agua.
V- Forçar a trabalhos excessivos ou superiores
as suas condições e a todo ato que resulte em
sofrimento, para deles obter esforços ou
comportamento que não se alcançariam senão
sob coerção.

Uma lei que abolisse o VTA teria um impacto na vida dos


animais como jumentos, cavalos e bois que suas forças não seriam mais
utilizadas em benefícios das pessoas. As pessoas iriam procurar outra
forma de substituir transporte animal por uma forma de transporte que
não tenha utilização da força animal nele. A cidade de João Pessoa, no
Estado da Paraíba foi uma cidade paraibana pioneira na abolição da
prática do VTA no município. A lei nº 13.170, 22 de janeiro de 2016
diz:
Art. 1º Fica proibido o emprego de veículos de
tração animal, a condução de animais com carga
e o trânsito montado nos seguintes locais e
situações existentes no Município de João
Pessoa:
I - em todas as suas vias públicas
asfaltadas ou calçadas; II - em toda a
orla marítima;
III - em toda área definida por lei como área
urbana do Município;
IV - em todo tipo de evento que envolva risco de
ocorrer maus-tratos e crueldades para com os
animais.
§ 1º Para efeitos desta lei consideram-se:
I - animais sujeitos à proibição: equinos,
asininos, muares, caprinos e bovinos;
II - tração animal: todo meio de transporte de
carga movido por propulsão animal;
3
III - condução de animais com cargas: todo
deslocamento de animal conduzindo cargas em
seu dorso estando o condutor montado ou não.
§ 2º Fica proibido em todo o Município de João
Pessoa:
I - condução de veículos de tração animal por
menores de 18 (dezoito) anos de idade;
II - condução de veículos de tração animal por
pessoa não-habilitada, conforme legislação
vigente;
III - trânsito de veículos de tração animal não-
registrados, conforme legislação vigente.

No mesmo ano de 2016 foi aprovada uma lei pelo Governo do


Estado da Paraíba, a lei nº 10.743 de 11 de julho de 2016, na qual
institui a lei de proteção e defesa dos animais no âmbito do Estado da
Paraíba. A lei diz:

Art.10. Será permitida a tração animal de


instrumentos ou veículos agrícolas e industriais,
somente pelas espécies bovinas, equinas, e
muares dentro das especificações de porte e
peso suportados pelas espécies.
Art.12. É vetado:
I- Atrelar animais diferentes espécies no mesmo
veículo.
II- Utilizar animal cego, enfermo, extenuado ou
desferrado em serviço, como castiga-lo.
III- Fazer viajar animal a pé por mais de 10
quilômetros sem lhe dar descanso.
IV- Fazer o animal trabalhar mais de 4 horas
seguidas sem lhe dar descanso, água e alimento.
V- Manter os animais soltos em estradas e vias
urbanas.

As leis existem contra essas práticas de utilização de jumentos


por questões socioeconômicas das pessoas quem utilizam os animais no
seu sustento. Porém, não é ético e nem moral fornecer ao animal uma
sessão de chicotadas e cargas elevadas de pesos para utilizar para seus
4
propósitos. O rei do baião, Luiz Gonzaga escreveu uma música
chamada “Apologia ao Jumento (o jumento é nosso irmão)”, na qual
defende o jumento e denunciar os maus-tratos sofrido por esse animal.
Nos seguintes versos da música já podemos ver por quais motivos
devemos denunciar essa prática que as pessoas justificam por ser uma
necessidade “econômica”, vejamos os trechos denunciantes:

O jumento sempre foi


O maior
desenvolvimenti
sta do sertão!
Ajudou o
homem na lida
diária
Ajudou o homem
Ajudou o Brasil a se desenvolver

Arrastou lenha
Madeira, pedra,
cal, cimento,
tijolo, telha Fez
açude, estrada de
rodagem Carregou
água pra casa do
homem
Fez a
feira e
serviu de
montaria
O
jumento é
nosso
irmão!
E o homem, em
retribuição O
que é que lhe
dá?
Castigo,
pancada, pau nas
5
pernas, pau no
lombo Pau no
pescoço, pau na
cara, nas orelhas
Ah, jumento é
bom, o homem é
mau!
E quando o
pobre não
aguenta mais o
peso De uma
carga, e se deita
no chão
Você pensa que
o homem chega,
ajuda O
bichinho se
levantar?
Hum...pois sim!
Faz é um
foguinho
debaixo do rabo
dele O jumento é
bom.
O jumento é
sagrado. O
homem é mau.
6
CAPÍTULO 2. Especismo vs.
Biocentrismo: A vida humana é mais
importante do que a vida animal?
7

Antes de iniciarmos esta reflexão é oportuno trazer a tona um


breve histórico e conceito sobre estas duas correntes de pensamentos
filosóficos antagonistas.
O pensamento filosófico chamado por Biocentrismo surgiu após
grandes movimentos filosóficos durante os séculos, na qual teve início
no IV a.C. chegando até nosso presente século XXI. Esse movimento
foi criado em contraposição à teoria Especismo. Na visão do
biocentrista o homem não é melhor e nem pior do que os animais, mas
sim é apenas um animal no meio de vários animais dentro da biosfera.
Nos baseando nas obras Manifesto pelos Direitos dos Animais da
cientista política Rafella Chuahy (2009) e a proteção Jurídica aos
Animais no Brasil escrito pelos

historiadores Samylla Mól (2014), podemos classificar a origem do


pensamento biocentrista cronologicamente:
Pitágoras no século IV a.C. já falava a respeito igualdade entre
homens e os animais, ele acreditava na transmigração da alma, ou seja,
homens poderia reencarnar em animais após a morte.
São Francisco de Assis no século XIII mudou radicalmente a
visão teológica que colocava o homem como a obra máxima da criação,
na qual viu que os animais eram seus irmãos e irmãs e mereciam
respeito, amor e consideração das pessoas.
O filósofo Ramon Bogéa no século XV afirmava que os animais
deveriam ter direitos como seres humanos tem.
Jean Jacques Rousseua no século XVII argumentava que os seres
humanos são animais, porém homens têm liberdade e racionalidade.
Jemery Benthan no século XVIII argumentou que a dor animal é
tão real e moralmente igual a dor humana. Jemery é considerando o pai
8
do utilitarismo moderno, na qual alegar que a capacidade de sofrer deve
ser o parâmetro para defender os animais e não sua capacidade racional.
Charles Darwin no século XVIII publicou três livros A Origem
das Espécies (1859), Descendência do Homem e a Seleção em Relação
ao Sexo (1871), A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais
(1872). E nesta obra defendeu em seus livros que o homem e os animais
compartilham um mesmo ancestral comum e que as mesmas condições
psicológicas e sociais podem ser observadas em ambas as espécies. Que
o ser humano não é uma obra divina, mas sim fruto de um processo
evolutivo de milhões de anos.
O filósofo alemão Arthur Shopenhauaer no século XIX sustentou
que os animais têm a mesma essência que os seres humanos.
Peter Singer iniciou um movimento filosófico no século XX
junto com um grupo de filósofos no ano 1970 em Oxford, na Inglaterra.
Ele escreveu o livro Animal Release (Libertação Animal), em 1975 na
qual defendeu direitos dos animais perante a sociedade humana e
condenou repugnantemente o especismo, na qual para ele o especismo é
a relação mais tóxica que pode exister entre os seres humanos e os
animais.
A causa animal tem ganhando a cada dia mais apoiadores tanto das
pessoas físicas, como também das pessoas jurídicas. Na cidade de Patos,
no Estado da Paraíba, o vereador Capitão Hugo (PTN), na qual já
aprovou algumas leis em pró da causa animal no município. As ONGs
quem são feitas tanto de pessoas físicas como jurídicas também são
fundamentais na causa pelos direitos dos animais e exercer seu direito
como cidadãos brasileiros para pedir mudanças aos três poderes que
governam o Brasil.
O Código Civil (CC) trata dos animais como “coisas” (lei nº.
9
10.406) e não seres com direitos, pois na visão do CC só pessoas têm
direitos. O CC dividi o mundo jurídico em duas entidades: pessoas ou
coisas. Mesmo não considerando os animais como sujeitos de direitos,
CC é utilizado no dia a dia na vida dos animais. Por exemplo no artigo
936 do CC diz que dono do animal será punido caso o animal dele
mordeu alguém, danificou patrimônio alheio ou qualquer coisa que
causa prejuízo a terceiros. O artigo 1277 do CC se alguém provocar ou
não procurar impedir barulhos do animal que tem sua guarda, poderá
pegar de 15 dias a 3 meses de prisão, além de multa.
O Código Penal (CP), no artigo 164 diz abandonar animais em
propriedade alheia é crime. Porém, o crime não é abandonar o animal e
não causa dor, sofrimento pelo efeito do abandono, pois tal crime neste
artigo é considerado “crime patrimonial”, pois abandono dos animais
geram prejuízos nas propriedades alheias. O Poder Judiciário não pode
legislar, ou seja, ele não pode criar leis, decretos, pois essa são funções
dos poderes Legislativo e Executivo. Daí nasce a necessidade dos
deputados e senadores criar leis para mudar a visão do nosso CC em
relação a ser sujeito de direitos e tem penas mais severas em nosso CP.
O Código Civil Brasileiro atualmente no século XXI estabelece
atualmente somente duas categorias jurídicas no país: pessoas ou coisas.
Pela legislação atual, os animais domésticos ou silvestres são
enquadrados na segunda categoria.
Os deputados e senadores brasileiros tentam modificam os
artigos do Código Civil com as seguintes propostas:
PL 6799/2013: Determina que animais são
sujeitos de direitos despersonificados. Aprovado
na Câmara, deve passar por comissão no
Senado.
PL 3670/2015: Determina que animais não
sejam considerados coisas, mas bens móveis
10
para efeitos legais. Aprovado no Senado,
aguarda análise da Câmara.

Essa poderá trazer vários benefícios aos animais sobre seus


direitos jurídicos, porém, tais direitos devem atingir todos os animais e
não somente cães e

gatos. Mas tais projetos podem sofrer resistência das empresas


alimentícias e certamente os bois, cavas, galinhas e entre outros animais
destinados a alimentação não vai aproveitar tais conquistas,
provavelmente os gatos e os cachorros serão os mais beneficiados com
essa mudança.
Já o biocentrismo prega a igualdade entre todas as espécies e
nenhuma é maior ou mais importante do que a outra. Nessa visão o
homem é apenas um animal no meio de vários animais dentro desse
grande ecossistema, e ele não é maior ou pior. Porém, ele não deve-se
orgulhar de ser uma obra divina, simplesmente deve aceitar “o homem
certamente se encontrará em uma situação difícil: terá de reconhecer
todo o seu desamparo, sua insignificância no mecanismo do mundo, não
será mais o centro da criação e o objeto do cuidado terno de uma
providência bondosa”. (FREUD, 2010. pag. 122). O maior problema do
biocentrismo é simplesmente “admitimos que somos parecidos com os
macacos, mas raramente nos damos conta de que somos macacos”.
(DAWKINS, 2005, pag. 25). É necessário que nós humanos,
reconheçamos que somos animais e quando praticamos atos cruéis
contra outro animal-humano, estamos ferindo nossos irmãos.
O termo especismo foi criado pelo psicólogo britânico Richard D.
Ryder na qual utilizou palavra em um panfleto pela primeira vez em
1970, em seu livro Especiesism, Painism and Happiness: A Morality for
the Twemty-wenty-first Century ( em português, especismo, painismo, e
11
felicidade: uma moralidade para o século XXI) posteriormente o termo
foi adotado por diversos autores que escrevem sobre os direitos dos
animais.
Podemos analisar cronologicamente as ideias filosóficas do
especismo durante os séculos:
As religiões abraâmicas que são cristianismo, judaísmo e
islamismo compartilham a visão que o homem é senhor de todos os
animais e ele pode dominar os animais, pois os animais são inferiores a
eles segundo a visão religiosa dessas religiões.
Aristóteles no século IV a.C. defendia que o homem era único ser
racional e o mais próximo de uma divindade. Também argumentava que
os animais não existem para interesses pessoais, mas somente para
benefício do homem.
O filósofo francês René Descartes no século XVII argumentou
que os animais não têm almas, que são como máquinas que não pensam
e não sentem dor. Sendo assim, não era pecado cometer maus-tratos
contra os animais. Esse pensamento cartesiano foi brutamente criticado
pelo o filósofo francês Voltaire.
Podemos classificar o especismo em dois tipos: o especismo
elitista e o especismo eletivo. No especismo elitista a espécie humana é
superior aos animais e a vida humana é mais importante do que a vida
animal. No especismo eletivo algumas espécies animais ou indivíduos
são considerados mais valorizados que outros. O elitista é mais comum
na sociedade, o eletivo é bastante visto dia-a-dia quando as pessoas
valorizam, por exemplo, mais gatos e cachorros e se esquecem dos
outros animais ou então quando as pessoas valorizam demais os animais
mais do que as pessoas. (SINGER, 1975. pags. 23,31, 33, 35, 164).
Segundo Peter Singer por motivos religiosos ou pessoais e na
12
maior parte das pessoas são especistas, ou seja, acreditam que a espécie
humana está acima de todos os seres vivos. O Homem se vangloria por
ser a espécie mais inteligente do reino animal, porém se essa sua
inteligência não for guiada pela ética e a moral, o homem se tornará a
espécie mais horrível do reino animal.
Sem dúvida nenhuma, somos uma espécie genial criamos carros,
escrevemos livros, criamos foguetes, levamos o homem até a lua e além
de tentar outras conquistas que nossa espécie alcançou. Porém, a nossa
espécie extrapolou muitas questões éticas e morais com os animais
humanos e não humanos, como escreveu o filosofo francês Rousseau
(1755): “Como conhecer a fonte da desigualdade entre os homens, se
não se começar por conhecer os próprios homens?” (ROUSSEAU,
1755. pag. 23).
O Homo sapiens vem praticando o especismo desde os tempos
mais remotos até os dias atuais, desde o dia em que ele não aceitou ser
um animal comum e passou se achar a obra máxima da criação, começou
a se achar superior aos demais animais e começou uma briga interna
contra sua própria espécie. “O primeiro sentimento do homem foi o de
sua existência; seu primeiro cuidado, o de sua conservação. Os produtos
da terra lhe forneciam todos os auxílios necessários. O instinto o levou a
fazer uso deles”. (ROUSSEAU, 1755. Pag. 62).

Racismo, xenofobia, homofobia e sexismo são alguns tipos de


especismo que a espécie humana prática contra sua própria espécie. Em
relação ao especismo praticado contra os animais, este consiste na
superioridade humana em relação a eles, justificando assim que
podemos utilizá-los ao nosso bel- prazer, sejam por questões
econômicas, medicinais, entretenimentos entre outros meios. No
decorrer da existência o homem tem utilizado os animais em
13
diversos setores, seja para

aprendizado, como também para alimento, descobertas científicas e


entretenimento.

PERSONAGENS ÍCONES DO
BIOCENTRISMO
São Francisco de Assis iniciou uma teologia nova contra a velha
teologia que era antes era sustentada pelo livro de Gênesis, em que
Deus autorizou os humanos a dominá-los, para Francisco todas as
criaturas são consideradas nossos irmãos e irmãs e merecem o nosso
amor o nosso respeito. São Francisco de Assis não era biólogo, nunca
frequentou a faculdade de ciências naturais, nunca leu livros sobre
proteção dos animais, porém ele sabia que os animais tinham uma
grande participação e valor no meio ambiente “essa convicção não pode
ser desvalorizada como romantismo irracional, pois influi nas opções
que determinam o nosso comportamento”. (FRANCISCO, 2015.
pag.15).
A ideia que todos os seres humanos são táxons irmãos uns dos
outros não é apenas uma mera ideia filosófica, mas sim algo
cientificamente comprovado pois, “podemos ter toda certeza de que
realmente há único ancestral de todas as formas de vida sobreviventes
neste planeta. A prova é que todas as espécies examinadas
compartilham (exatamente na maioria dos casos, que exatamente no
restante) o mesmo código genético”. (DAWKINS, 2009. pag. 24).
No mundo contemporâneo diversos pensadores adeptos da teoria
biocentrista a exemplo do filósofo australiano Peter Singer na qual na
sua obra mais conhecida sobre os direitos dos animais o seu livro a
Libertação Animal alerta para o momento atual com as ideologias
especistas na sociedade são um grande perigo aos animais quando
14
colocamos os interesses humanos e a vida humana em primeiro lugar.
Singer (1975) afirma que a visão especista é:

Os racistas violam o princípio de igualdade,


atribuindo maior peso aos interesses dos
membros da sua própria raça quando existe um
conflito entre os seus interesses e os interesses
daqueles pertencentes a outra raça. Os sexistas
violam o princípio da igualdade ao favorecerem
os interesses do seu próprio sexo. Da mesma
forma, os especitas permitem que os interesses
da sua própria espécie dominem os interesses
maiores dos membros das outras espécies. O
padrão é, em cada caso, idêntico (SINGER,
1975. pag. 20)

MINHA VISÃO DE MUNDO EM DEFESA


DO BIOCENTRISMO
A reflexão principal deste capítulo surgiu da grande inquietação
interior sobre as inúmeras barbaridades existentes praticadas contra os
animais, de forma particular com os animais domésticos gatos, cães,
galinhas, porcos entre outros.
A vida humana é melhor do que a vida de um animal? Podemos
utilizar a vida dos animais para melhorar nossas vidas? Podemos fazer
coisas horríveis contra os animais justificados para obter coisas que
salvem ou melhore a vida das pessoas? Iremos analisar algumas práticas
que os homens praticam com a vida dos animais para seus próprios
interesses, sem levar em conta a consideração da vida dos animais ou seu
bem-estar.
É duríssimo para o homem saber que não é uma obra única ou ter
algo especial nele, por isso a maioria das pessoas pregam um modo de
vida especista ao invés de modo de vida biocentrista. Porém, essa ideia
15
contra o biocentrismo já era esperada por Charles Darwin que seria
rejeitado pelas pessoas quando ele no século XVIII publicou o seu livro
que abalou o mundo, A Origem Das Espécies, na qual todos os animais e
incluindo o homem têm a mesma origem primitiva não divina. Muito
difícil as pessoas religiosas se sentirem confortáveis ao saber que porcos,
gatos, cachorros são seus primos e que seu DNA é 98,0% idêntico ao de
um chimpanzé. As pessoas tentam a todo custo negarem que somos
animais ou temos parentesco com os primatas, mas somos animais
racionais e não se parecemos com macacos, somos macacos e fazemos
parte da ordem primata. (DAWKINS, 2001. pag. 347).
Juridicamente cães e gatos têm mais direitos dos que os demais
animais, quando falamos de maus-tratos sobre animais as pessoas
pensam em gatos e cachorros, mas isso é uma visão especista eletiva
separando os animais, tornando uns mais importante e necessário do
que os outros. Muitas ONGs de proteção de animal dão mais prioridade
aos cães e gatos. Há casos alguns ativistas libertação dos animais dos
laboratórios na grande maioria são cães, gatos, aves e entretanto
camundongos são lembrados por eles. Mas se tal ONG ou ativista não
se revoltar pelos maus-tratos sofridos a todas espécies animais estes
estão sendo especistas eletivos.
As pessoas adoram cães e gatos e ficam sensibilizados quando ao
ver uma atitude cruel contra eles, mas por qual motivo as pessoas não se
revoltam com maus- tratos contra porcos, galinhas, vacas que são
abatidos com tamanha crueldade nos matadouros ou tratados
indignamente nas fazendas? A visão é que os cães e gatos são animais
para viverem como animais de estimação e porcos, galinhas e vacas são
animais para criar, explorar e comê-los depois e não para estimação.
Mas porcos, galinhas e vacas podem também ser animais para
16
estimação, por isso depende apenas da relação entre o homem e o
animal.
A religião também é uma grande culpada na questão da separação
entre animais e seres humanos e ela alimenta bastante o sentimento
especista das pessoas. A Bíblia e o Alcorão são dois livros sagrados para
duas grandes religiões do mundo com bilhões de seguidores, nos textos
sagrados afirmar que o homem tem o domínio sobre todos os animais e
homens podem utilizá-los como bem entender. Na visão religiosa a
humanidade é uma obra divina feita por DEUS ou deuses e não fruto de
um processo evolutivo de milhões de anos. As religiões tentam afastar a
visão animalesca da humanidade e dão prioridade a uma visão divina.
Alguns animais levam a má fama no senso comum das pessoas que
acham que a cobra é do diabo, corvo é símbolo da morte entre outros
presságios, criados por pessoas. Outros animais podem gozar de uma
boa reputação no meio das pessoas por causa dos textos sagrados como
a pomba que é vista como símbolo da paz e do Espírito Santo, na Índia
as vacas são sagradas, no budismo todas as formas de vida merecem
respeito. Já em outras religiões os sacrifícios são necessários para que
os rituais sejam estabelecidos com objetivo de agradar ou receber
recompensas com esses sacrifícios. Rituais com uso de animais
merecem ser repudiados pelos defensores dos animais.
A questão não é a censura ou descriminação por determinada
religião, mas penso exatamente como o ex-presidente americano
Abraham Lincoln na qual ele dizia que “Não me interessa nenhuma
religião cujos princípios não melhorem bem levem em considerações as
condições dos animais”. Penso exatamente como ele. Pois as religiões
têm que evoluir, não podemos aceitar doutrinas medievais e arcaicas
que não levem em consideração o bem-estar animal ou a deuses que
17
exigem dos seus seguidores sacrifícios de seres indefesos para agradá-
los.
As pessoas afirmam que não há diferença alguma de matar para
comer e matar para fins religiosos. Os nossos antepassados realmente
não desenvolveram seus cérebros com saladas, mas sim com base na
carne animal. Mas hoje temos a ética, a moral e as leis para nos dize o
que é moral e imoral. Não estamos mais naquela vida primitiva da
sobrevivência dos mais fortes. O canibalismo humano é

visto como antitético, imoral e crime prática tal ato, mas alguns animais
praticam o canibalismo e visto como algo natural dentro dessas
espécies. O que nos difere dos animais é a lei e a nossa racionalidade.
Com base na racionalidade e nas leis podemos guiar nossas atitudes e
atos para ética. Se não é certo e nem moral sacrificar pessoas como os
maias, astecas e incas faziam, por qual motivo seria certo tirar o cabrito
da sua mãe e oferece-lo a uma divindade? Nenhum dos dois devem ser
sacrificados com fins religiosos.
A questão de comer ou não comer ou de proteger ou não proteger
os animais são questões puramente culturais, religiosas e sociológicas.
Para mostrar que um tipo de animal é comido em determinado país e já
o mesmo animal em outro país não é visto como comida. Podemos
analisar isso através da quadro número 1 cujo jornalista Marta Zaraska
(2016) elaborou:
Quadro n1 Cardápios pelo mundo.
18
Animal Quem come Quem não come
As pessoas costumam
mantê-los como animais de
Milhões são consumidos anualmente estimação e trata-los como
na China. Em Cameroon, acredita-se membros da família. O que
Gato que o alimento traz sorte. Alguns torna um tabu mata-los ou
fazendeiros na comê-los. Os animais,
Suíça ainda comem gatos entretanto, são muitas
domésticos. vezes torturados e
sacrificados em rituais
religiosos.
Em alguns pontos da
África e da Ásia, comer
galinha é proibido, pois a
Uma parte popular da deita global, ave é considerada
Galinha responder por 31% do consumo de profética. Seus ossos são
carne pela humanidade utilizados em rituais de
adivinhações e sacrifícios.
Muitos indianos e tibetanos
consideram o animal sujo.
A carne bovina consta entre as mais Não permitida entre os
consumidas no mundo interior, seguidores do hinduísmo,
Vaca perdendo somente para a carne suína que consideram a vaca um
e de aves. animal sagrado.
Consumido em regiões da Ásia Ocidentais consideram o
oriental e Sudeste Asiático, incluindo cão como o “melhor amigo
Vietnã e Correia do Sul. Embora a do homem”.
prática esteja em declínio. Pessoas Frequentemente
em Yulin, na região Guangxi antropormorfizado, em
Cachorro Zhuangzu, na China, celebram o muitas famílias o animal é
solstício de verão com um amado, o que coloca o seu
controverso festival em que são consumo fora de questão.
abatidos 10 mil cães. Para esses Em países onde se come
povos, a carne traz sorte e saúde. cachorro, o aumento de sua
adoção como animal de
estimação corresponde á
queda na popularidade da
carne.
19
Uma iguaria no México e em Insetos são
Uganda, assim como outros insetos, impopulares em muitas
Garfanhoto nações ocidentais, onde
é uma excelente forte de proteína.
são considerados
intragáveis.
Pessoas evitam a carne
equina no Brasil, nos
Estados Unidos, na
Irlanda e no Reino
Unido, onde os cavalos
são vistos como
animais de companhia
ou de estimação.
Fatores econômicos
podem contribuir para
Consumido em vários países esse comportamento:
europeus e asiáticos, incluindo historicamente as
Cavalo França, Alemanha e Cazaquistão. pessoas obtinham mais
Com alto teor de proteína e baixo ganho ao criar cavalos
teor de gordura, a carne equina para o transporte do
costuma ser considerada uma que para alimentação.
iguaria. Alguns estudiosos
afirmam que a carne
equina, associada a
rituais pagãos, se
tornou impopular
quando o cristianismo
se
espalhou na Grã-
Bretanha no séc. VI
Proibida a adeptos do
islamismo e judaísmo.
Muitos historiadores
atribuem essas
Dados das Nações Unidas mostram restrição alimentar á
Porco que é a carne mais consumida no opinião de os porcos
mundo. serem transmissores de
doenças ou fato de
serem difíceis de criar
no Oriente Médio,
onde o tabu se
originou.

Marta Zaraska (2016).


20
OS CRIMES PRATICADOS CONTRA OS
ANIMAIS NOS CIRCOS, TOURADAS,
RODEIOS, CAÇA E EXPERIMENTAÇÃO
ANIMAL
Os circos configuram em outra categoria de entretenimento para
a sociedade e, em algumas situações utilizam animais em suas
exposições de entretenimento que os seres humanos fazem para explorar
a vida dos animais. O circo nasceu em 1970 na Inglaterra, era focado em
cavalos. No ano de 1831 começou a introdução de animais africanos no
circo chamado Cirque Olimpique de Paris. Posteriormente, o americano
Issac Van Amburg inventou o modelo moderno do circo atual que tem
dominador de leões outros eventos utilizando animais nos circos.
(CHUAHY, 2009, pag.77).
A presença dos animais em espetáculos circenses há muito tempo
vem sendo questionada pela sociedade visto que vários princípios
relacionados às cinco liberdades são negligenciados. Questionam-se as
acomodações, a alimentação, o transporte, a doma, o uso de violência para
que o animal elabore atividades com comportamento previsto, entre
outros.
Entretanto, a cultura de ter circo sem animais já vem sendo
difundida em nível mundial como por exemplo o Cirque Du Soleil,
como também no Brasil várias companhias circenses já não usam mais
animais em seus espetáculos como é o caso do Circo Show: Grande
Circo Popular do Brasil. Ao invés de animais, os números são com
trapézio, evoluções acrobáticas em cordas e tecidos, malabaristas, cama
elástica, contorcionismo, rituais de fogo, saltos, cômicos, ilusionismo e
entre outros. Este estilo de circo deve ser apoiado pelas pessoas e
incentivando os proprietários circenses a não utilizar mais os animais
em seus espetáculos. (CHAHY, 2009. pag. 80).
21
Segundo Fram Animal Welfare (em português, O Comitê de Bem-
Estar dos Animais Fazenda) sugeriu as cinco liberdades que todos os
animais devem possuir:
1- Livre de fome e sede.
2- Livre de desconforto.
3- Livre de dor/lesões/doenças.
4- Livre para expressar seu comportamento natural.
5- Livre de medo e estresse.
A conduta de não ter pessoas frequentando circos que utilizam
animais pode estimular os donos dos circos a substituírem as atividades
com animais por atividades lúdicas que não favoreçam a essa conduta.
Outro ponto importante nesse contexto é que as legislações que proíbem
a utilização de animas em espetáculos vêm sendo proposta e efetivada
em diversos estados do Brasil.
O domador de leões utiliza chicote para demostrar poder ao
público que tem controle sobre o rei da selva, porém não que o leão
tenha medo de um simples chicote, mas por causa do seu treinamento
bárbaro “O treinamento dos animais era simples e pode ser comparado
ao tratamento dado aos escravos: espanca-los até que ficassem
totalmente submissos diante de um chicote”. (CHUAHY, 2009. pag.77).
Só depois de inúmeras sessões de tortura, tanto físicas como
psicológicas, esses animais são dominados pelos seus donos para que
assim possam dar continuidade ao espetáculo. Para os domadores se
sentirem mais seguros, os leões
têm suas garras arrancadas ou serradas, deixando os leões com menos
recursos físicos para matar os seus domadores. Mas os chicotes não são
único meio de impor medo aos leões para que tenha medo dos seus
domadores, eles podem ficar enjaulados em espaços pequenos.
22
A situação dos animais circenses continua desagradável, pois são
forçados pelos seus donos andar de bicicleta, pular círculos de fogo,
ficar de cabeça pra baixo por longos períodos, aprender realizar piruetas
entre outras apresentações durante o espetáculo. Na maioria das vezes
esses animais são espancados, torturados e sofrem vários meios de
ameaças psicológicas para que eles aprendam os truquee e os
ensinamentos dos seus domadores.
Na cidade de Patos-PB os circenses são proibidos animais dentro
do território municipal, graças a Lei n º 2.910/ 2000 de 12 de maio de
2000. Os circenses também são proibidos no Estado da Paraíba pela Lei
n º 8.405 de 27 de novembro de 2007. As leis, tanto estadual como
municipal demostram que os circos não são benéficos aos animais ao
ponto de proibi-los tanto no território municipal como também no
território estadual. Utilizar a dor, a força e o tempo alheio para
promover espetáculos com fins lucrativos é um ato antiético que violar
as vidas inocentes, fazendo dessas vidas mercadorias para um público
alvo.
As pessoas também devem parar de patrocinar circos que utilizam
animais, pois além de alimentar o empresário do circo com seu
dinheiro, também estará contribuído para sofrimento desses animais.
Devemos nos lembrar de sempre que por trás daquelas lindas acrobacias,
das nossas admirações pelos eventos com animais, sempre tem um
animal triste e sofrendo para que show não pode parar. “os circos
pequenos e mais pobres a situação é ainda pior, pois faltam água,
comida, higiene e atendimento veterinário. Quando ficam velhos,
muitos dos animais são mortos, abandonados ou vendidos a laboratórios
para pesquisas”. (CHUAHY, 2009. pag.79).
Touradas, rodeios e caças são considerados como “esporte” pelos
23
seus participantes e tem aparo do governo para funcionar. As touradas
espanholas são conhecidas mundialmente como um esporte que
demostra bravura, coragem e paciência para vencer o touro diante de
uma arena com milhões de espectadores. Possivelmente as touradas tem
inspiração no Coliseu Romano, onde os gladiadores enfrentavam até a
morte leões entre outros animais. As touradas não podem ser
consideradas como esporte, pois ela foge de todas ideias de uma prática
esportiva.
Para uma prática esportiva justa: todos os participantes devem ter
chance de vencer o jogo; deve haver um perdedor ou vencedor; não
deve ter privilégio para nenhum jogador e deve ser mantido o respeito
mútuo entre as partes.
No caso das touradas elas violam todas as regras de uma prática
esportiva justa para os competidores. Na maioria das vezes, o touro
não tem chance alguma contra o toureiro. O touro não tem armas,
somente os seus pares de chifres e suas forças, já o seu adversário tem
a deposição uma espada, fazendo disso um duelo desleal e com
vantagem para o toureiro e desvantagem para o touro.. Não há respeito
algum pelo touro e nem para sua vida, sua dor e seu sofrimento, pois
a alegria do público é ver o touro morrer e ver o toureiro como
valente homem que colocou em risco sua vida em uma aposta nesse
jogo. “Qualquer esporte pressupõe que seus competidores tenham a
chance de ganhar honestamente”. (CHUAHY, 2009. pag.89).
As pessoas acreditam que os touros ficam bravos por causa da
cor vermelha da capa segurada pelo toureiro. Na verdade, eles não
ficam irritados com capa vermelha, mas sim pelo movimento da capa
feita pelos toureiros, os touros não enxergam o mundo colorido, mas
sim sua visão é preto e branco. Capa no ar, esse movimento é
24
interpretado pelo touro como uma forma de “provocações”. Mas isso é
apenas a ponta do iceberg das provocações, por trás dos bastidores das
touradas os touros são tratados de maneiras desumanas, como Rafaella
Chuahy (2009) diz:

Peões e toureiros espancam e torturam os animais


antes das touradas para deixá-los com raiva e
selvagens. Tanto as touradas espanholas como os
rodeios brasileiros fazem o uso do sedém (tira de
couro ou crina usada para comprimir a virilha e a
genitália do animal), da peiteira (tira de couro
amarrada ao redor do tórax, provocando dor e
sensação de asfixia), de choques elétricos e
mecânicos, de pimenta e outras substâncias
abrasivas, sinos que, pendurados na peiteira,
produzem som que causa pânico, e esporas aplicadas
no baixo-ventre e no pescoço, que produzem lesões
no couro e até nos olhos (CHUAHY, 2009. pag. 90)

A presença de pessoas assistindo, patrocinando, apoiando essas


práticas estimulam os campeonatos, torneios ou qualquer denominação
que tenha. É preciso trabalhar esses conceitos envolvendo educação,
esclarecendo o que acontece quando esses animais são submetidos à
essas condições de competição desleal.
Freud (2010), explica que:

Para que os membros casualmente reunidos de uma


multidão formem algo como uma massa no sentido
psicológico, a condição exigida é que esses
indivíduos tenham algo em comum, um interesse
comum por um objeto, uma orientação similar em
certa situação e (eu inseriria: consequentemente)
certo grau de capacidade para se influência uns aos
outros (FREUD, 2010, pag. 61).

Os rodeios brasileiros não são tão diferentes das touradas


espanholas, não há morte de bois nesse caso, porém ambas são ligadas
25
pelas crueldades que causam aos touros que sofrem durantes esses
espetáculos. A cidade mais famosa no Brasil dessa modalidade de
crueldade danosa aos animais é a cidade de Barretos, no interior paulista.
Barretos é a capital do rodeio no Brasil, gerando grandes
quantidades simpatizantes e também gerando milhões de reais na
economia da cidade. Uma modalidade desse evento antes de ser
proibida em 2006 pela justiça de Barretos, era a prova de laço no
bezerro. Nessa prova os peões lançar o bezerro jovem que tem menos
de 60 quilos pelo pescoço e ele é arrastado pela arena por longas
distâncias. Outra prova proibida foi a prova do laço em dupla,
aonde dois peões, estando em lados opostos, lançam a corda na cabeça
do animal e outra na novilha eles puxam o animal para cada um em sua
direção, que também foi proibida em 2006 pela justiça de Barretos.
Os defensores dos rodeios e das vaquejas argumentam que o
evento é uma “manifestação cultural”, que está apoiada no Art. 215 da
CF (Constituição Federal) diz:

Art. 215 O Estado garantirá a todos o pleno


exercício dos direitos culturais e acesso ás fontes da
cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização
e a difusão das manifestações culturais.
§ 1º O Estado protegerá as manifestações das
culturas populares, indígenas e afro-brasileiros, e das
de outros grupos participantes do processo
civilizatório nacional.

O STF julgou em maio de 2013 que rodeios e vaquejadas são


práticas inconstitucionais, pois causa crueldades aos animais envolvidos
no evento, o relator da ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade), o
Ministro Marcos Aurélio em seu voto afirmou que:
26
A par de questões morais relacionadas ao
entretenimento às custas do sofrimento dos animais,
bem mais sérias se comparadas às que envolvem
experiências científicas e médicas, a crueldade
intrínseca à vaquejada não permite a prevalência do
valor cultural como resultado desejado pelo sistema
de direitos fundamentais da Carta de 1988. O sentido
da expressão “crueldade” constante da parte final do
inciso VII do § 1º do artigo 225 do Diploma Maior
alcança, sem sombra de dúvida, a tortura e os maus-
tratos infringidos aos bovinos durante a prática
impugnada, revelando-se intolerável, a mais não
poder, a conduta humana autorizada pela norma
estadual atacada. No âmbito de composição dos
interesses fundamentais envolvidos neste
processo, há de sobressair a pretensão de
proteção ao meio ambiente (BRASIL, 2013).

Porém, os apoiadores e os simpatizantes conseguiram uma brecha


dentro da CF para alterar o texto que condenava os maus-tratos sofridos
pelos animais durante esses eventos. A Câmara dos Deputados e o
Senado Federal deram escapatória para esses eventos através da Ementa
Constitucional nº 96, de 2017:

Art. 1º O art. 225 da Constituição Federal passa a


vigorar acrescido do seguinte § 7º:
Art. 225
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII
do § 1º desde artigo, não se consideram cruéis as
práticas desportivas que utilizam animais, desde que
sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art.
215 desta Constituição Federal, registradas como
bem de natureza imaterial integrante do patrimônio
cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por
lei específica que assegure o bem-estar dos animais
envolvidos.

Não podemos permitir que a vitória dos vaqueiros acontece


quando o boi está no chão, com as quatros patas para cima, sendo
arrastados brutalmente. Isso não é uma vitória, mas sim um evento
27
doentio de brincar com a vida desses animais por pura diversão. Mesmo
indo contra a decisão do STF, os deputados assinaram uma ementa
constitucional Lei 13.364/2016 que regulamentar as atividades de
rodeios e vaquejadas como patrimônio cultural do Brasil. E o presidente
Jair Bolsonaro sancionou a Lei 13.873/2019 que regulamenta vaquejada
e rodeios no Brasil. Isso deve-se ao poder da bancada ruralista na
Câmara e no Senado com apoio do Executivo também.
Se não é ético derrubar uma criança e arrastá-la por vários
metros, então porque devemos apoiar tal ato contra os bovinos? Por
motivos econômicos, sociais e religiosos que tem influência dentro
desses eventos? Novamente o entretenimento e o especismo reinam para
deixar as massas mais fortes e abrem caminho para sadismo. “Os
defensores da prática alegam que ela é uma manifestação cultural, mas na
verdade não passa de um ritual de sadismo”. (CHUAHY, 2009. pag.92).
A caça de animais na modalidade “esporte” desperta bastante
interesse no Brasil por ser utilizada como entretenimento e muitas vezes
fonte de renda por parte de caçadores e empresas ligada ao ramo de
armas e munições. A caça de animais silvestres é proibida em todo o
território nacional, porém há uma exceção que é o estado do Rio Grande
do Sul que é único estado brasileiro a legalizar a caça em certas
temporadas e com restrições. (MÓL, 2014; VANANCIO 2014. Pags.
54-57).
No Brasil, a Lei da Fauna, nº 5.197/67, proíbe a caça profissional
e o comércio de espécies brasileiras, mas ela permite a prática amadora
desde que o nível das populações caçadas seja monitorizado. Vamos ver
os seguintes artigos que proíbe e legaliza a caça de animais silvestres:
Art. 1 º Os animais de quaisquer espécies, em
qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem
naturalmente fora do cativeiro, constituindo a fauna
28
silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e
criadouros naturais são propriedade do Estado, sendo
proibida a sua utilização, perseguição, destruição,
caça ou apanha.
Art. 2 º É proibido o exercício da caça profissional.
Art. 3 º É proibido o comércio de espécimes da
fauna silvestre e de produtos e objetos que
impliquem na sua caça, perseguição, destruição ou
apanha.

A caça de animais deve ser abandonada, como mostra Chuahy


(2009):
Caça não é um esporte, mas um ato de violência. O
animal não concordou em competir, apostar sua
vida, e as regras entre os participantes não foram
estabelecidas como ocorre em qualquer outro esporte
(CHUAHY, 2009. pag. 101).
O homem mata por puro sadismo e ignorância. Maior triunfo do
Homo sapiens foi ter abandonado aquela vida selvagem (matar ou fugir)
para se preocupar com coisas mais interessantes do que uma luta de
vida e morte. O que faz de nós seres humanos diferentes dos animais, é
que somos seres racionais, temos empatia pela dor alheia, somos uma
espécie de macaco habitando em um pálido ponto azul que faz parte de
um sistema solar.
É muito doentio e surreal tudo isso: o homem tranquilamente
deixar sua residência para procurar animais em seu hábitat natural,
depois de encontra-los os matam por ele sem piedade com vários tiros e
depois registram uma foto sorrindo com cadáver no chão demostrando o
seu “troféu”.
Matar por diversão é crime, antitético, injusto e desumano. A
Lei n º 9.605/1998 diz que matar animal não será considerado crime nos
seguintes casos: Em estado de necessidade, para saciar a fome do agente
ou de sua família. Para proteger lavouras, pomares e rebanhos de ação
predatória ou destruidora de animais, desde que legal e expressamente
29
autorizado pela autoridade competente.
Chuahy. (2009):
Muitos caçadores agem pelo prazer da perseguição,
e a morte é só parte do jogo. O prazer consiste em
ver o animal na mira e saber que a vida dele está em
suas mãos. Mais vitorioso será aquele que atingir a
presa mais rara, perigosa ou difícil de acertar. O
caçador é sádico: ele gosta de perseguir animais por
horas, com o objetivo de encontrar o meio que mais
lhe fascina para mata-lo. Muitos colocam o animal na
parede como “troféu”, para mostrar aos amigos sua
“bravura”, “superioridade” e “virilidade”. O que isso
diz a raça humana? (CHUAHY, 2009. pag. 103)

A ciência pode ser bonita, fascinante, incrível, porém essa mesma


ciência pode ser cruel contra as vidas dos animais. Sem dúvida
nenhuma os progressos científicos são de extrema importância para a
humanidade nas possíveis descobertas das curas para o câncer, e a AIDS
(sigla originada do inglês, que significa Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida), diabetes entre milhares de doenças que ainda não possuem
uma cura definitiva.
Mas nossos progressos científicos não vêm de um passe de
mágica ou obras de entidades sobrenaturais, mas sim frutos de animais
que são feitos na experimentação dos efeitos causados pelos produtos
químicos testados que causam sofrimento seja na pele, os olhos, na
boca, língua etc. Porém é antiético fazer dor a um ser vivo para aliviar a
dor de outro ser vivo. “Os progressos científicos mais extraordinários,
as invenções técnicas mais assombrosas, o desenvolvimento econômico
mais prodigioso, se não estiverem unidos a um progresso social e moral,
voltam-se necessariamente contra o homem.” (FRANCISCO, 2015.
pag.10).
Popularmente as pessoas pensam que as cobaias são apenas
camundongos por serem mais baratos e melhor de transportá-los.
30
Porém, além dos camundongos são utilizados também gatos, cachorros,
chimpanzés, coelhos entre outros animais. Os animais também são
testados pelas indústrias cosméticas e de produtos de limpeza para testar
os efeitos antes que os seus produtos sejam comercializados pelos seres
humanos ou testados em seres humanos.
Há mais de 40 anos os animais são utilizados nesses testes para
verificar risco de infecção nos olhos e na pele nos seres humanos. O
teste foi criado pelo americano John Draize em 1944, o teste é feito
colocando a solução ou substância sólida do cosmético que está sendo
avaliada, coloca-se a substância dentro do globo ocular ou na pele dos
animais. Depois são estudadas as reações sofridas pelos animais em
contato com a substância após alguns dias do teste feito Muitos das vezes
esses testes são realizados sem:

Analgesia- Drogas usadas têm o objetivo apenas de


aliviar ou minimizar a dor. Ou seja, elas provocam a
ausência ou o amortecimento da dor sem perder de
consciência.
Anestesia- Drogas usadas no paciente para que o
cérebro dele não reaja á dor durante um
procedimento cirúrgico. Dependendo do tipo, o
paciente pode ou não ficar consciente.

Os resultados são catastróficos quando não se utilizam tais


medicamentos para aliviar ou impedir o sofrimento do animal. Como
Chuahy nos explica:
Quando as substâncias químicas são colocadas em seus olhos,
eles pulam, choram, se contorcem de dor e tentam sair da jaula. Para
evitar que consigam esfregar os olhos e retirar as substâncias, eles são
presos em compartimentos onde não podem se mexer, exceto a cabeça,
única parte do corpo visível. Ás vezes é necessário o uso de clipes de
metal para que as pálpebras sejam forçadas a ficar abertas
31
permanentemente. Durante esse processo, nenhuma anestesia é usada, e
os coelhos muitas vezes acabam cegos (CHUAHY, 2009. pag. 63).
Para evitar esses tais abusos em nome de supostas “estudos
científicos” Lei n º 11.794/2008 determina algumas regras para que
possam acontecer os testes em animais e as pesquisas devem seguir as
seguintes normas dos artigos:
Art. 1 º A criação e a utilização de animais em
atividades de ensino e pesquisa científica, em todo o
território nacional, obedecem aos critérios
estabelecidos nesta lei.
§ 1º A utilização de animais em atividades
educacionais fica restrita a: I - estabelecimentos de
ensino superior;
II - estabelecimentos de educação profissional
técnica de nível médio da área biomédica.
Art. 3º Para as finalidades desta Lei entende-se por:
III - experimentos procedimentos efetuados em
animais vivos, visando á educação de fenômenos
fisiológicos ou patológicos, mediante técnicas
específicas e pré-estabelecidas;
IV- morte por meios humanitários: a morte de um
animal em condições que envolvam, segundo as
espécies, um mínimo de sofrimento físico ou
mental.
Art. 14º O animal só poderá ser submetido ás
intervenções recomendadas nos protocolos dos
experimentos que constituem á pesquisa ou
programa de aprendizado quando, antes, durante e
após o experimento, receber cuidados especiais,
conforme estabelecido pelo CONCEA.
§ 5º Experimento que possam causar dor ou angústia
desenvolver-se- ão sob sedação, analgesia ou
anestesia adequadas.
§ 7º É vedado o uso de bloqueadores
neuromusculares ou de relaxantes musculares em
substituição a substâncias sedativas, analgésicas ou
anastéticas.
Art. 16º Todo o projeto de pesquisa científica ou
atividade de ensino será supervisionado por
profissional de nível superior, graduado ou pós-
graduado na área biomédica, vinculado a entidade de
ensino ou pesquisa credenciada pelo CONCEA.
32

É dever e a obrigação todo cidadão brasileiro que faça denúncias


contra empresas que descumprir as normas credenciadas pelo CONCEA
(Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal). Deve-se
apoiar uso das novas experiências que não utilizar animais em seus
testes, ao invés disso, utilizem células e tecidos cultivado e também a
técnica com pele artificial. “Mesmo assim, o conflito entre a ética e a
ciência pode ser bastante positiva ao incentivar a comunidade científica
a investigar outros métodos de testes de laboratórios” (CHUAHY, 2009.
pag.73).
Muitos ativistas praticam o especismo específico, ou seja, uma
vida de um gato é mais importante do que uma vida de um rato. Por isso
não vemos ou lermos notícias de um grupo de ativistas roubando dos
laboratórios camundongos, mas sim é muito fácil de ver roubos de
cachorros, gatos, papagaios, macacos por esses ativistas.
O Papa Francisco que chefe máximo da Igreja Católica Apostólica
Romana (ICAR) pediu para todas as pessoas que meditem nos versos
seguintes do Catecismo da Igreja Católica “Os experimentos médicos e
científicos em animais são práticas moralmente admissíveis, se
permanecerem dentro dos limites razoáveis e contribuírem para curar ou
salvar vidas humanas. É contrário á dignidade humana fazer os animais
sofrerem inutilmente e desperdiçar suas vidas” (ICAR. 2011. pág. 625).

ANIMAIS DE ZOOLÓGICOS
O zoológico atual nem sempre foi com objetivo de estudo ou
entretenimento. A prática de capturar e enjaular animais selvagens vem
desde a época do período Neolítico, entre os anos de 8000 a 3000 a.C.
Os animais eram capturados e colocados dentro de gaiolas vistos como
33
símbolos de poder, riqueza e autoridade humana sobre os animais.
Esses eram exibidos aos convidados locais e visitantes estrangeiros com
o objetivo de impressionar e proporcionar uma espécie de passatempo.
O dono da coleção ganharia mais fama e admiração das pessoas, pois
quanto mais raro fosse o animal ou quanto mais feroz e difícil de ser
capturado, maior seria o orgulho e o prestígio daquele que tivesse tais
animais em exibição ao público.
Talvez um dos piores acontecimentos ligados ao zoológico seja a
exibição de seres humanos em zoológicos juntos com os demais animais
em 19 de julho de 1821, pouco mais de ano antes da independência do
Brasil, panfletos distribuídos nas ruas de Londres deixaram a população
em polvorosa. “O panfleto, em letras garrafais, trazia a seguinte
propaganda: Um selvagem chefe indígena, com sua esposa e filho,
sendo eles os primeiros de sua tribo a serem vistos na Europa.
Acabaram de chegar do Brasil, no navio Hope, de Liverpool, e podem
ser vistos no número 23 da New Bord Street” (APROBATO, 2013, pags.
7-13).
Se colocar uma espécie de criança Homo sapiens dentro de um
zoológico as pessoas se ofenderiam e acusariam o proprietário do
zoológico de ser racista, mas por qual motivo as pessoas não se chocam
vendo filhotes de outros animais enjaulados? Somo todos animais, o
DNA é a maior prova homóloga que todos os animais são descentes de
um único ancestral comum. “Os primeiros exploradores brancos na
África consideravam os chimpanzés e gorilas próximos apenas dos
humanos negros e não de si mesmo” (DAWKINS, 2009. pág. 142). As
pessoas se ofendem unicamente porque ali está “uma vida humana”, as
pessoas especistas não são a favor da vida, mas sim da vida humana.
Por esse motivo as pessoas não se chocam em ver animais presos em
34
gaiolas dentro de um zoológico.

PENALIDADES CONTRA OS CRIMES


PRATICADOS COM ANIMAIS DE
ZOOLÓGICOS

Não há motivo justificável para tratar animais como apenas um


método de estudo, pois a vida animal e humana ambas as vidas
merecem respeito e proteção. Podemos ver que a declaração universal
dos direitos do homem (artigo 3) e a declaração universal dos direitos
dos animais (artigo1) têm os mesmos objetivos para ambas as espécies:
Art. 1º - Todos os animais nascem iguais
perante a vida e têm os mesmos direito à
existência. (UNESCO, 1978. pag. 1).
Art. 3º- Todos têm o direito á vida,
e a viver em liberdade e segurança.
(UNESCO, 1948. pag. 1).

Quando uma pessoa prática um crime doloroso ou culposo ela é


condenada a viver gaiola numa cela em uma prisão por determinados
anos. Mas qual foi o crime dos animais? Qual foi ato doloroso ou
culposo para merecem viver engaiolados? “Zoológicos, circos, e
aquários são prisões para animais e, portanto, não deveriam existir”
(CHUAHY, 2009, pág.76).
Condenamos leões, tigres, elefantes, pássaros a viverem mais de
30 anos dentro de um zoológico que na maioria das vezes em condições
precárias, vivem depressivos, ansiosos, entre outros fatores psicológicos
que podem afetá-los.
Muitas vezes esses animais que estão nos zoológicos vieram de
tráfico de animais silvestres, é o que diz a Legislação de Direito
Ambiental na Lei nº 9.605/ 1998:

Art. 25 º. Verificada a infração, serão apreendidos


35
seus produtos e instrumentos, lavrando-se os
respectivos autos.
§ 1º Os animais serão prioritariamente libertados em
seu hábitat ou, sendo tal medida inviável ou não
recomendável por questões sanitárias, entregues a
jardins zoológicos, fundações ou entidades
assemelhadas, para guarda e cuidados sob a
responsabilidade de técnicos habilitados.

Infelizmente alguns desses animais não conseguem o privilégio


de voltar ao seu hábitat, ao invés disso, ele “permanecerão” numa prisão
sobre pretexto de estuda-lo, cuidá-lo e preservá-lo. Os zoológicos têm
papéis fundamentais na ciência, na educação ambiental e na preservação
de espécies amaçadas de extinção, porém, o melhor lugar para esses
animais sempre será seu habitat natural e longe de jaulas. (CHUAHY,
2009. pag. 76).
Como vimos no primeiro capítulo dessa obra em que nenhum
animal racional aceitaria ser domesticado por vontade própria para
servir ao bel-prazer dos seres humanos, também não aceitaria de modo
nenhuma ver a si mesmo e seus parentes dentro de um zoológico. A
chegada de animais para zoológicos, em sua grande maioria, se dá pelo
fato de que o homem retira-os da natureza e estes não tem como voltar e
assim lá permanecendo.
Aquilo que não é bom para a colmeia, não é bom para a abelha. As
pessoas podem defender os zoológicos pelos animais que são cuidados
por médicos veterinários e biólogos, tem alimentos disponíveis. Porém,
nenhum ser humano sensato trocaria sua liberdade de ir e vir para aonde
quiser por uma vida de prisão domiciliar com os melhores médicos, as
melhores tecnologias, os alimentos mais gostosos do mundo sem pode
sair jamais da sua casa. Se nenhum humano aceitaria viver engaiolado,
por qual motivo deveríamos tratar a vida dos animais dessa forma?
Devemos abandonar a ideia que os zoológicos são apenas algo bom para
36
os animais.
Podemos citar alguns malefícios que os zoológicos causam aos
animais:
1- Mistura inadequada de várias espécies diferentes vivendo
em uma mesma jaula.

2- Os visitantes oferecem aos animais alimentos inadequados


para eles. 3- Espaço pequeno comparado ao seu hábitat natural.
4- Animais estressados e depressivos. (CHUAHY, 2009. pag. 76).

O zoológico só será considerado algo benéfico aos animais quando


os seguintes motivos forem:
1- Proteger espécies raras da
ação humana.
2- Proteger espécies de
extinção.
3- Reprodução de espécie rara ou perto da extinção.
4- Proteger espécies endêmicas com altos ricos de extinção
(CHUAHY, 2009. pag. 76).
Dos zoológicos só poderão funcionar com autorização do
IBAMA. (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis). Os zoológicos poderão seres punidos com forme
o Decreto n º 6.514/2008:
Art. 31 Deixa o jardim zoológico e os criadouros
autorizados, de ter o livro de registro do acervo
faunístico ou mantê-lo de forma irregular: Multa de
R$ 500,00 a R$ 5.000,00.
Parágrafo único: Incorre na mesma multa quem
deixa de manter registro de acervo faunístico e
movimentação de plantel em sistemas
informatizados de controle de fauna ou fornece
dados inconsistentes ou fraudados.

Em casos mais graves o zoológico além de perder a licença do


37
IBAMA poderá fechar suas portas. Porém isso é mais complicado, pois
“o processo de

fechamento de um zoológico é lento e pode levar até dois anos”


(CHUAHY; RAFAELLA. 2009, pag. 88). Por isso se faz necessário a
participação dos cidadãos, os órgãos públicos e a fiscalização dos
zoológicos para fiscalizarem se os zoológicos estão cumprindo as
condições básicas de preservação e higiene da vida dos animais.
Ao invés de priorizar os zoológicos como campo de estudo ou
preservação da espécie, podemos valorizar e ampliar os seguintes
seguimentos:
1- Estação Ecológica.
2- Reserva Biológica.
3- Parque Nacional.
4- Monumento Natural.
5- Refúgios de Vida Silvestre.

O lugar dos pássaros é nos céus e não dentro de gaiolas, os peixes


em rios e não em aquários, as cobras nas florestas e não em biotérios.
Assim, os animais têm mais liberdade e espaço vivendo em seus
habitats naturais longe da presença humana. Substituição dos zoológicos
por outras formas de preservação e estudos dos animais é importante,
pois os animais permanecem livres em seus habitats naturais com ação
mínimas humanas.
A Lei n º 9.985/200 diz a função de cada uma delas:

Art. 9 º A Estação Ecológica tem como objetivo a


preservação da natureza e a realização de pesquisas
científicas.
Art. 10 º A Reserva Biológica tem como objetivo a
preservação integral da biota e demais atributos
naturais existentes em seus limites, sem interferência
humana direta ou modificações ambientais,
38
excetuando- se as medidas de recuperação de seus
ecossistemas alterados e as ações de manejo
necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio
natural, a diversidade biológica e os processos
ecológicos naturais.
Art. 11 º O Parque Nacional tem como objetivo
básico a preservação de ecossistemas naturais de
grande relevância ecológica e beleza cênica,
possibilitado a realização de pesquisas científicas e o
desenvolvimento de atividades de educação e
interpretação ambiental, de recreação em contato
com a natureza e de turismo ecológico.
Art. 12 º O Monumento Natural tem como objetivo
básico preservar sítios naturais raros, singulares ou
de grande beleza cênica.
Art. 13 º O Refúgio de Vida Silvestre tem como
objetivo proteger ambientes naturais onde se
asseguram condições para a existência ou
reprodução de espécies ou comunidades da flora
local e da fauna residente ou migratória.

Como podemos ver há espaços melhores para estudos e


visitações de pessoas do que sustentarem zoológicos. “A ideia do
zoológico moderno como modelo para a preservação de espécies e
educação não é ruim, mas a maioria das instituições atuais está longe
disso” (CHUAHY; RAFAELA. 2009, pag. 88). Os zoológicos tem uma
grande importância para estudos, pesquisas, preservação de espécies
ameaçadas de extinção por exemplo, mas em essência, em minha
opinião, acabam provocando maus-tratos aos animais através de
depressão longe do seu habita natural; podem causar brigas entre os
indivíduos que estão presos na mesma jaula entre outros aspectos. Não
defendo aqui o fechamento dos zoológicos, mas sim, que estes espaços
irregulares devem ser punidos, denunciados, onde, o melhor lugar para
os animais seja longe das jaulas.
39
CAPITULO 3. Proteção
Animal no município de
Patos Paraíba: Desafios e
Avanços na Saúde Única.
40
O MUNICÍPIO DE PATOS-PB

O município de Patos (Figura 1) está localizado na mesorregião


do sertão paraibano, distante de 307 km da capital João Pessoa atitude:
7.11532, Longitude: 34.861 7° 6′ 55″ Sul, 34° 51′ 40″ Oeste. De acordo
com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do ano 2019,
apresenta 107.605 habitantes. Tem uma geografia com relevo 95%
plano, clima semiárido e quente; vegetação composta principalmente por
caatinga arbustiva aberta (AQUINO, 2011. pág. 23).
A economia do município é movida pela agricultura, comércio,
funcionalismo e por eventos juninos. A cidade não dispõe de aterro
sanitário, apesar de ter sido um dos poucos municípios brasileiros a
apresentar em julho de 2014 ao Ministério do Meio Ambiente o Projeto
de Gestão e Tratamento de Resíduos Sólidos (PGIRS), com
participação de vários órgãos para desenvolvimento do projeto. O
saneamento básico na cidade é de apenas 92,73% em 2013. As paisagens
da cidade têm sido rapidamente alteradas pelo homem através do
crescimento das periferias com o surgimento de novos bairros,
desmatamento, construções de muitos loteamentos e queimadas do lixão
ao céu aberto.
Atualmente, Patos uma cidade com vários centros universitários
públicos e privados. Dentre estes, destaca-se o Campus Patos da
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) que este ano
completou 40 anos de existência, com quatro Cursos de graduação
(Ciências Biológicas, Engenharia Florestal, Odontologia e Medicina
Veterinária), além de quatro Cursos de Pós-Graduação (Ciências
Florestais, Ciência e Saúde Animal, Ciência Animal e Ecologia e
Educação Ambiental) bem como dispõe de um Hospital veterinário que
41
atende procedentes de vários locais em vários tipos de situações. Como
também as instituições públicas Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia da Paraíba (IFPB) e a Universidade Estadual da Paraíba
(UEPB). Também há várias instituições particulares de ensino superior
na cidade.

ABANDONO DE ANIMAIS NO MUNICÍPIO DE PATOS

Lei 9.605/98 em seu artigo 32 abandonar qualquer animal é


considerado um ato criminoso. Esta lei 9.605, lei de 12 fevereiro de 1998,
dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.
No Brasil o abandono de cães e gatos por seus donos sejam por
estarem doentes ou por não querem mais conviverem com os animais
sempre, essas escolhas foram feitas pelas pessoas geram um problema
de saúde pública nos municípios.
Lei municipal da cidade de Patos, lei 4.879/2017 de 22 de julho
de 2017 estabelece pernas administrativas para aqueles que comentem
maus-tratos contra os animais. A lei considera crimes desde privá-los
das necessidades básicas até as agressões físicas. A infração leve vária
entre R$ 50,00 até R$ 1.000 reais. A infração grave de R$ 1.100 até R$
50.000 reais e a infração muito grave de R$ 50.100 até R$ 100.000
reais. A lei foi da autoria do Vereador Edson Hugo de Sousa (mais
conhecido como Capitão Hugo).
Há vários tipos de crimes que colocam a vida dos animais em
perigo, mas um dos crimes mais comuns no cotidiano pode ser
observado em todas as regiões do Brasil descrito no Código Penal:
42
Art. 164 Introduzir ou deixar em
propriedade alheia, sem consentimento
de quem de direito, desde que o fato resulte
prejuízo; Pena- detenção de quinze dias a seis
meses, ou multa.

A prática criminosa além de ser um ato de crueldade, é um ato


que gera muito caos nas cidades brasileiras que gera o aumento das
populações de cães e gatos, além disso, pode aumenta o perigo de se
adquirir uma doença proveniente desses animais de ruas abandonados.
Por isso, é necessário que tenha apoio do Poder Público junto da
participação popular para que esses animais sejam castrados, vacinados
e adotados. Muitos são os benefícios da castração como a redução das
fugas, da agressividade, da marcação de território, das populações, além
da redução do risco de câncer e do aumento da longevidade do animal.
(PERREIRA, 20010. pag. 245).
Nas palavras do Papa Francisco (2015), em sua,Carta Encíclica
Laudato Si, diz:
43

É preciso investir muito mais na pesquisa para se


entender melhor o comportamento dos ecossistemas
e analisar adequadamente as diferentes variáveis de
impacto de qualquer modificação importante do meio
ambiente. Visto que todas as criaturas estão
interligadas, deve ser reconhecido com carinho e
admiração o valor de cada uma, e todos nós, seres
criados, precisamos uns dos outros (FRANCISCO,
2015. pag. 31).

É necessário reconhecer que o bem-estar humano depende


também do bem-estar dos animais e não é necessariamente somente sua
responsabilidade cuidar da sua própria saúde, pois se a saúde desses
animais não for levado a sério, várias doenças serão transmitridor aos
seres humanos podendo ocasionado problema sério participar da saúde
pública.
O artigo 164 do Código Civil trata como um crime patrimonial, e
não porque o abandono vai gerar problemas físicos, psicológicos ou
sociais aos animais que foram abandonados. O crime só será consumado
caso haja dano ao patrimônio alheio, caso não tenha dano ao patrimônio
não será considerado crime.
Outros crimes são reconhecidos pelo IBAMA: Quadro 2.

Legislação do IBAMA pela Lei n.º 9.605


44
Caça
Introdução de espécies exóticas Manejo de fauna
exótica invasora Maus-tratos
Tráfico: captura/cativeiro ilegal
CRIMES Tráfico: comércio na rede mundial de computadores
AMBIENTAIS
Tráfico: esquentamento de animais
Tráfico: feira-livre
Tráfico: uso e comércio de partes, produtos e
subprodutos de animais silvestres.
Fonte: IBAMA 2018.

ANIMAIS ABANDONADOS E CRIMES


PRATICADOS CONTRA ANIMAIS NA
CIDADE DE PATOS-PB
Com o crescimento da cidade de Patos nos últimos anos diversos
problemas de ordem ambiental, econômica, política e social passaram a
ser percebidos. Com o foco em nossa temática, destacamos que o
número de animais abandonados no município, incluindo as áreas
rurais, aumentou sobremaneira.
Um complicador para esta situação é que a Prefeitura do
município ainda não dispõe de um UVZ para fazer o controle de
zoonoses que possa cuidados específicos para atendimento médico-
veterinário de animais abandonados ou em vulnerabilidade, serviço
efetivo de captura de animais em vulnerabilidade o que facilita a
presença de animais em vias públicas nos diversos bairros do município
e alimentação destes animais que são em sua maioria cães e gatos.
O abando de animais e a vulnerabilidade em vias públicas nos
diversos bairros do município de Patos – PB geram diversos problemas
45
ao município e são consequência da ausência de Políticas Públicas
direcionadas para esta demanda. Nas imagens a seguir veremos como
essa prática criminosa afeta e gerar problemas urbanos na cidade de
Patos-PB e também ausência de formas políticas para resolver os
problemas das superpopulações que se encontram nos bairros da cidade.

ANIMAIS NAS DEPENDÊNCIAS


FEDERAIS DO CENTRO DE SAÚDE E
TECNOLOGIA RURAL DA UFCG

O crime de abandonar animais é muito praticado nos terrenos dos


mercados públicos e também nas instituições públicas de todo país. O
Centro de Saúde e Tecnologia Rural (CSTR), nos últimos anos a
população universitária está exposta a um quantitativo elevado de cães e
gatos abandonados como também pela reprodução destes animais ao
permanecerem em um ambiente sem controle populacional e/ou de
natalidade. A presença destes animais geram conflitos entre alunos,
professores, funcionários que fazem parte dessa instituição por muitas
vezes apresentarem doenças e risco de agressões por mordeduras.
Estes animais ocupam todos os espaços do CSTR, estão
normalmente agrupados, entretanto podem estar de forma
individualizada. A permanência dos mesmos próximos ao restaurante
universitário ou das cantinas dispostas no Campus está relacionada a
possibilidade de obter alimentação nestes locais, o que evidencia
conduta inapropriada em termos de vigilância sanitária.
Algumas tentativas administrativas para resolver este problema
foram feita partir de reuniões da Diretoria do CSTR em 2017 em
reunião com a participação de diversos órgãos interessados entre estes
46
Secretaria de Saúde e de Educação de Patos, Ministério Público Federal
(MPF), Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado da
Paraíba (CRMV-PB), o Diretor do Hospital Veterinário. Na época foi
formada a comissão para uma para visitar o abrigo de animais, foi
solicitado que a UFCG justamente com o Hospital Veterinário
contribuísse realizando esterilização de animais a partir de construção
conjunta do Centro de Zoonoses.
Recentemente, no ano de 2019, a administração do CSTR
demandou ações objetivando minimizar a presença de animais nas
instalações do campus que vem sendo gerado por reclamações
procedentes da comunidade sendo estas as principais: cães e gatos
andando livremente pelo campus e muitos desses animais atacando os
usuários do CSTR que reclamou bastante dos cães e gatos andando
livremente pelo campus e muitos desses animais atacavam as pessoas
que se movimentava pelo CSTR.
A partir das demandas de abandono, vulnerabilidade e presença
de animais no campus a atual gestão instalou 35 câmeras em locais
variados no CSTR, reservou um local cercado no campus para destinar
os animais abandonados onde estes animais são cuidados por
acadêmicos na parte de alimentação e tratamentos. O CSTR também
firmou parceria com a Prefeitura Municipal de Patos e Hospital
Veterinário Universitário para castração e vacinação dos animais
abandonados.
O cuidado da saúde o bem-estar dos animais não é apenas uma
questão de melhorar a vida dos animais, é também uma questão de
saúde única, pois populações de gatos e cachorros vão se aglomerando e
vivendo nas ruas podendo transmitir zoonoses ou agravos por
47
mordeduras e outras enfermidades para a população humana e animal.
Uma da zoonose de importância no contexto de Saúde Única é a raiva
que acomete todas as espécies de mamíferos, inclusive humanos.
O hábito de alimentar os animais é um dos fatores que favorecem
a permanência destes animas na dependência do CSTR que além do
abrigo encontram alimentação que muitas vezes é destinada em calçadas
e ambientes comuns do campus.
Não existe um controle da UFCG sobre a saúde dos animais
abandonados no campus, não se sabe a quantidade exata de animais,
quantos são castrados, quantos são vacinados e quantos têm doenças
zoonóticas. Os animais muitas vezes apresentam lesões no corpo e
ectoparasitas. Apesar dos esforços dos estudantes voluntários da
universidade relacionados aos cuidados com os animais, a população de
cães e gatos do CSTR está exposta à diversas doenças e pode ser fonte
de infecção para outros animais e humanos.
Cuidados médico-veterinários como avaliação clínica, vacinação
e castração são necessários para manter os animais saudáveis, controlar
a natalidade de animais, e evitar a transmissão de doenças para animais
e humanos.
A realização de vacinação e castração são necessários para
controlar doenças e expansão da reprodução de animais de rua.
Entretanto, não são as únicas medidas de profilaxia necessárias para
prevenção de doenças. A castração é um procedimento cirúrgico que
tem por finalidade principal evitar a reprodução. Realizar a esterilização
de animais reduz o quantitativo de animais aptos a reproduzir e com
isso a possibilidade de servirem como fonte de infecção e de agravos
para humanos e outros animais.
48
A alimentação dos animais deve ser com alimentos de boa
qualidade e deve ser evitado alimentar com carne crua ou mal cozida.
As fezes de gatos e cachorros devem ser recolhidas e destinadas em
local adequado.
Os monitoramentos do sistema dos serviços de água, esgoto ou
fossa. Instituir serviços regular de educação em saúde, envolvendo os
acadêmicos e a população. Estimular a melhoria do sistema de criação
de animais. Evitar contato direto com animais não-tratados. Ter
cuidados com higiene pessoal, lavando as mãos antes de ingerir
alimentos e depois de contato com animais. Impedir o acesso de
animais em plantações e reservatórios de água. (PERREIRAS, 2010.
pag. 245).
Rafaella Chuahy (2009) em seu livro Manifesto pelos Direitos dos
Animais,diz:

O movimento para a proteção e o direito dos animais


é um movimento como qualquer outro. Ele depende
do indivíduo, assim como dependeram os
movimentos democrata, feminismo, direito dos
negros, dos trabalhadores e muitos outros
(CHUAHY, 2009. pag. 216).

PARTICIPAÇÃO DA POPULAÇÃO EM
DEFESA DOS ANIMAIS

A Criação de leis, decretos, e estatutos é de competência do


Poder Legislativo e Poder Executivo, assim como a proposição de
políticas públicas para as demandas da sociedade. O Executivo
(presidente, prefeitos e governadores) o Legislativo (senadores,
deputados e vereadores). O Poder Judiciário é responsável por colocar
49
em prática as leis criadas pelos outros poderes.
A população tem os seguintes meios para conseguir do Poder
Público que suas exigências sobre temas diversos sejam atendidas:
• Abaixo-assinado
• Iniciativa popular
• Plebiscito

O abaixo-assinado é um documento de cunho coletivo que


contém manifestações de protesto, de solidariedade, pedido ou
reivindicação, firmado por um grande número de pessoas. Quando se
refere á pessoa que assina um documento.
A Iniciativa Popular permite que as pessoas expressem suas
vontades com relação ao governo. Neste sentido, um grupo de pessoas
pode elaborar uma proposta de projeto de lei que gostaria de ver
aprovado no Congresso. Para que chegue aos parlamentares e, talvez, à
votação, vários requisitos são levados em conta. O projeto, por exemplo,
deve ser assinado por pelo menos 1% do total de eleitores do país.
O plebiscito é uma consulta prévia que se faz ao eleitorado para
adoção ou não de determinada medida de relevante interesse público. É
a forma mais autêntica e democrática da participação do povo no
governo, pois a deliberação tomada diretamente dispensa o parecer dos
representantes da nação. (TORRIERI, 2019.pags. 9, 148, 195).

CONCLUSÃO
Existe uma grande necessidade de combater as práticas que
causem maus-tratos aos animais, independente do táxon, do nível de
sapiência ou seu aspecto visual. As leis devem ser cumpridas e a
50
participação popular é extremamente importante para denunciar maus-
tratos e cobrar dos seus representantes que estão em mandato
representado a sociedade brasileira com leis mais severas e rigorosas.
Práticas religiosas podem respeitar todas as formas de vida, criar
harmonia entre fé religiosa e a vida animal aspecto visual. É importante
educar para que cada pessoa possa escolher suas condutas baseadas em
princípios morais e éticos que devem seguir os ordenamentos jurídicos
aos quais os países são regulados. Que todas as formas de
entretenimento que utilizem os animais em seus eventos devem
respeitá-los. Aos consumidores de cosméticos devem utilizar produtos
que foram feitos sem testes em animais, após comprar o produto
verificar se por trás da embalagem tem um símbolo de um animal com
o seguinte letrado “não testado em animais”.
Os crimes devem ser imediatamente denunciados as autoridades
competentes como MPF, MPPB, Policia Ambiental, Civil ou
Rodoviária para se fazer cumprimentos da lei. Também deve não
alimentar os divulgadores e patrocinadores de eventos cruéis contra os
animais.
Devemos conhecer as leis para dar voz aqueles que não podem
falar ou se defenderem. Devemos proteger todas formas de vida sejam
elas humanas ou não humanas. A saúde humana está ligada a saúde
animal pois os animais podem ser reservatórios de vários tipos de
doenças que colocam a vida humana em risco como também o homem
pode transmitir doenças aos animais. São necessárias soluções
governamentais e populares para evitar a expansão das doenças e das
superpopulações de cães e gatos nos centros urbanos e rurais.
É necessário a participação de todos que fazem parte do CSTR
51
para mudar e melhorar a situação desses animais e assegurar o bem-
estar das pessoas que convivem dentro da instituição. Precisa-se
melhorar a estrutura do canil do CSTR- UFCG denominado Lar dos
Doguinhos, encontrar uma solução para os gatos abandonados, não
deixar os animais soltos e continuar firme no propósito de deixar o
CSTR bioseguro.
Através dessas formas o povo pode cobrar dos seus
representantes, do MPF e de qualquer órgão público que suas
solicitações sejam atendidas e julgadas. Mas também cabe ao povo
fazer sua parte:

✓ Acompanhar os processos jurídicos nas suas cidades e participar das


sessões públicas.
✓ Não abandonar animais nas ruas.
✓ Não comprar animais sem licença, combater a biopirataria.
✓ Não envenenar animais.
✓ Denúncia os acursados de maus-tratos.
✓ Ensinar aos seus filhos a cuidar dos animais e do meio ambiente.
✓ Faz necessário apoio da população junto com órgãos jurídicos para
que crimes cometidos contra os animais sejam punidos e evitados.

A população deve cuidar dos animais da sua cidade através das


seguintes sugestões:

✓ Doar ração e medicamentos.


✓ Dar abrigo fixo ou temporário.
✓ Dar água e comida.
✓ Divulgar as campanhas, denúncias e vaquinhas
52
✓ Exigir novas leis para proteção.
✓ Ser voluntário de uma ONG.
✓ Estudar as leis municipais, estaduais e federais sobre os animais.

REFERÊNCIAS

AQUINO, L. L. Geografia Patos bases para compreensão do espaço.


Patos: Editora Real, 2012.

ARISTÓTELES. Parte dos animais. São Paulo: Imprensa Nacional Casa


da Moeda, p. 87-117, 2010.

APROBATO, N. F. Fidelidade e traição entre cães e seres humanos.


Scientific American Brasil. São Paulo, edição 56, n56, p. 51-59 set/out,
2013.

APROBATO, N. F. A surpreendente história do jardim zoológico.


Scientific American Brasil. São Paulo, edição 56, n56, p. 7-13 set/out,
2013.

BRADSHAW, J. Cão senso: como a nova ciência do comportamento


canino pode fazer de você um verdadeiro amigo do seu cachorro. Rio
de Janeiro: Record, 28,43,61p. 2012.

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília:


DF, 2018.

BRASIL, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais


Renováveis. Diretoria de Proteção Ambiental. I59 Diagnóstico de
delitos ambientais. Brasília: DF, 13p, 2018.

BRASIL, Ministério de Saúde. Manual de Vigilância, Prevenção e


Controle de Zoonoses. Brasília: DF, 11p, 2016.

BÍBLIA SAGRADA. Edição Nova Bíblia Pastoral. São Paulo: Paulus,


Gênesis, 1:26, Levítico 23:19 Mateus 21: 2. 2014.
53
CARLOS, et al. A longa e fascinante domesticação do gato. Scientific
American Brasil. São Paulo, edição 56, n56, p. 36-43 set/out, 2014.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Vozes; São


Paulo: Paulinas, Loyola, Ave-Maria, 624p. 2011.

CECÍLIA, M. A. R. Dicionário de símbolos: o alfabeto da linguagem


interior. São Paulo: Editora Escala, 58p, 2009.

CHUAHY, F. Manifesto pelos direitos dos animais. Rio de Janeiro:


Record, p. 8, 14, 15,36, 63, 73, 76, 77, 79,80, 88, 90, 92, 101, 103, 107,
108, 216, 2009.

DHAMMAPADA. O Caminho da Sabedoría do Buddha. Mosteiro


Budista Therávada, 2013.

DARWIN, C. R. A origem do homem e a seleção sexual. São Paulo:


Hemus, 711p, 1974.

DAWKINS, R. A grande história da evolução: na trilha dos nossos


ancestrai
São Paulo: Companhia das Letras, 142p, 2009.

______. O capelão do diabo. São Paulo: Companhia das Letras, 23p,


2005.
______. O maior espetáculo da terra. São Paulo: Companhia das Letras,
239p, 2014.

______. O relojeiro cego: a teoria da evolução contra o desígnio


divino. São Paulo: Companhia das Letras, 347p, 2017.

FRANCISCO, P. Carta Encíclica Laudato Si. São Paulo: Editora


Paulinas. p. 10, 15, 26, 31, 76 2015.

FREUD, S. S. O futuro de uma ilusão. Porto Alegre: L&PM, p. 71-122,


2010.

______. O homem Moisés e a religião monoteísta. Porto Alegre, RS:


L&M, 2010.
54
______. O mal-estar na cultura. Porto Alegre: L&M, 2010.

HOBBES, T. Leviatã. Matéria, forma e poder de um Estado


eclesiástico e civil. São Paulo: AbrilCultural, 3p, 1983.

JACQUES, J. R A origem da desigualdade entre os homens. São Paulo:


Lafonte, 23-62p. 2017.

JESUS, G. C. F. Cartilha a lei da vida. Brasília: Ibama, 2004.

LEAL, G. Terapeutas de quatros patas. Scientific American Brasil. São


Paulo, edição 56, n56, p. 27-31 set/out, 2013.

MÓL, S; VENANCIO, R. A proteção jurídica aos animais no Brasil:


uma breve história. Rio de Janeiro: Editora FGV, p. 21, 34, 37,54,57
2014.

NETO, F. E. Dicionário de ecologia. São Paulo: Aquariana, 2001.

NEVES, D. P. Parasitologia humana. São Paulo: Editora Atheneu, 245p.


2010.

NOAH, Y. H. Sapiens: Uma breve história da humanidade. Porto


Alegre: L&M, p. 12, 17,55, 103, 105, 2011.

ORWELL, G. A revolução dos bichos: um conto de fadas. São Paulo:


Companhia das Letras, 12-14p, 1945.

ROUSSEAU, J. J. DU CONTRAT SOCIAL, OU PRINCIPES DU


DROIT POLITIQUE. in Collection complète des oeuvres, Genève,
1780-1789, vol. 1, in-4°.

ROUSSEAU, J. J. Discurso Sobre A Origem E Os Fundamentos Da


Desigualdade Entre Os Homens. L&PM, 1755.

SINGER, P. Libertação animal. WMF Martins Fontes,


23,31,33,39,164p, 1975.

TORRIERI, D. G. Dicionário jurídico. São Paulo: Rideel, 2019.


55
VASCONCELOS, A. Manual compacto de ensino religioso. São Paulo:
Rideel, 141p, 2010.

WOHLLEBEN, P. A vida secreta dos animais. Rio de Janeiro: Sextante,


2019.

ZARASKA, M. Por que você ama um e come o outro? Scientific


American Mente Cérebro. São Paulo, edição 287, n287, p. 36-45, 2016.
56

Você também pode gostar