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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas


GCCA427 - Deontologia veterinária
Profº Dr. Robson Bahia Cerqueira

Ana Isabel Novaes Costa


Danielle dos Santos Costa
Gleidson Figueiredo Ferreira
Ingrid de Oliveira Santos
Thais Kettelly Borges Soares

RESENHA

Ética na utilização de Animais nos esportes

Cruz das Almas

2019
Ana Isabel Novaes Costa
Danielle dos Santos Costa
Gleidson Figueiredo Ferreira
Ingrid de Oliveira Santos
Thais Kettelly Borges Soares

RESENHA

Ética na utilização de Animais nos esportes

Cruz das Almas

2019
INTRODUÇÃO

“O respeito à vida é uma decorrência ética do respeito pelo seu


semelhante. O ser humano sabe que o animal pode sofrer, sabe fazê-lo sofrer e
pode evitar o sofrimento. A sabedoria dá-lhe responsabilidade (Maurício da
Veiga, 2016).”

Do grego ethiké, ética é um ramo da filosofia que trata dos valores morais
e os princípios ideais da conduta humana, sendo também definida como o
conjunto de princípios morais que se deve observar no exercício de uma
profissão (Michaelis &Weisfzflog, 1998); ética é uma característica a toda ação
humana e é a palavra em todos os setores e em todas as profissões, inclusive
na profissão médico – veterinária (Moraes,2003;Silva,2004).

A relação entre homem e animal em todo o mundo pode ser considerada


uma prática cultural, bem como um esporte. A partir disso, tais práticas
tornaram-se eventos como ação de graças, entretenimento e convenções
pecuárias em diversas cidades do mundo (Leira et al., 2018).

Atualmente, a utilização dos animais nestas competições esportivas


resulta em um amplo debate e reflexão tanto na comunidade científica quanto na
civil. Luna (2008) questiona vários pontos críticos onde os animais são
submetidos durante os rodeios, tais como: estresse, captura, espaço reduzido
para alocação, longos períodos sem alimento e água; além de traumas físicos,
perda de produtividade, funcionalidade e até a morte. Além disso, segundo
Broom (1991) o bem-estar é uma qualidade inerente aos animais e não uma
condição dada pelo homem.

PROTEÇÃO AOS ANIMAIS E PRÁTICAS CULTURAIS

O tema trata-se de uma polêmica, pois, envolve e divide opiniões


referentes às atividades culturais e a proteção animal. Alguns eventos realizados
em cidades brasileiras com animais atraem muitos turistas, mas essas festas se
confrontam com a legislação que defendem os direitos desses protagonistas.
Um dos questionamentos, por exemplo, é sobre os maus-tratos durante a
vaquejada, por exemplo, tradicional atividade cultural da região Nordeste do
Brasil. O centro das atenções da festa é um novilho, que é puxado pelo rabo e
derrubado por dois peões montados em cavalos.

A preocupação com a tutela dos animais, devido a sua importância,


mereceu regulamentação de cunho internacional, tendo a Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) proclamado
a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, em 1975, em Bruxelas,
Bélgica. Contudo, ainda hoje, a sociedade parece encontrar seus próprios
métodos de exploração dos animais sob um disfarce/argumentos de tradição,
lazer, cultura ou de esporte.

O antropocentrismo limitou a defesa do Direito Animal, quando os


consagrou como máquinas, coisas que são sujeitas a apropriação. Nos dias
atuais, a compreensão da vida animal é outra. Muitos países já possuem normas
que coíbem práticas de exploração e violência aos animais. No Direito Brasileiro
também existe um aparato normativo que vai nesse sentido, entretanto, é
imprescindível que se entenda como os animais são vistos pelo direito, e se
essas mesmas normas existem para a proteção direta dos animais ou como
reflexo a interesses humanos, seguindo a lógica antropocêntrica. Ainda, faz-se
necessário entender como tais normas se aplicam ao caso concreto.

A Constituição Federal de 1988 expôs o conflito entre manifestações


culturais e direito dos animais em dois dos seus artigos: art. 225 e art. 215.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.
1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas
que coloquem em risco sua função ecológica, provoque a extinção de espécies
ou submetam os animais à crueldade.
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos
culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a
valorização e a difusão das manifestações culturais.
1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares,
indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo
civilizatório nacional.
Nesse contexto, é necessário que se reflita sobre os animais sob a ótica
do Direito e como o Direito vem respondendo diante da popularização do debate
acerca dessa temática. Nota-se, por esse viés, que a reflexão sobre como os
humanos podem (ou não) dispor da vida animal remete aos primórdios da
filosofia, quando já muitos pensadores colocavam-se contrários a Aristóteles
com relação aos animais. Entretanto, o que acabou imperando foi a
compreensão da inferioridade dos animais não humanos em relação aos animais
humanos, concluindo-se que os animais são máquinas e funcionam quase que
como um relógio, como acreditava Descartes. Entretanto, na atualidade a
discussão vem no sentido contrário. A partir de compreensões éticas e de
comprovações científicas quando a capacidade de sofrimento e sensibilidade
dos animais, considerar os animais como máquinas já não é concebível. Mesmo
assim, as práticas de maus tratos, sofrimento e violência não cessam.

CÓDIGO DE ÉTICA DO MÉDICO VETERINÁRIO

CAPÍTULO I DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Art. 1º Exercer a profissão com o máximo de zelo e o melhor de sua


capacidade .

Art. 2º Denunciar às autoridades competentes qualquer forma de


agressão aos animais e ao meio-ambiente.

Art. 3º Empenhar-se para melhorar as condições de bem-estar, saúde


animal, humana, ambiental, e os padrões de serviços médicos veterinários.

Art. 4º No exercício profissional, usar procedimentos humanitários


preservando o bem-estar animal evitando sofrimento e dor.
CAPÍTULO II

Art. 6º São deveres do médico veterinário:

XIII - realizar a eutanásia nos casos devidamente justificados, observando


princípios básicos de saúde pública, legislação de proteção aos animais e
normas do CFMV;

XV - comunicar ao CRMV, com discrição e de forma fundamentada,


qualquer fato de que tenha conhecimento, o qual possa caracterizar infração ao
presente código e às demais normas e leis que regem o exercício da Medicina
Veterinária;

XVI – comunicar aos órgãos competentes e ao CRMV de sua jurisdição


as falhas nos regulamentos, procedimentos e normas das instituições em que
trabalhe, sempre que representar riscos a saúde humana ou animal.

CAPÍTULO X DAS RELAÇÕES COM O ANIMAL E O MEIO-AMBIENTE

Art. 18. O médico veterinário deve:

I - conhecer a legislação de proteção aos animais, de preservação dos


recursos naturais e do desenvolvimento sustentável, da biodiversidade e da
melhoria da qualidade de vida;

II - respeitar as necessidades fisiológicas, etológicas e ecológicas dos


animais, não atentando contra suas funções vitais e impedindo que outros o
façam;

ESPORTES COM ANIMAIS NO BRASIL

As modalidades de esportes com mais visibilidade no Brasil são o hipismo


e as modalidades que ocorrem durante os rodeios.

O hipismo é um esporte realizado com cavalos, e é bastante


recomendado para desenvolvimento de habilidades como concentração e
postura do praticante, contribuindo para que o praticante tenha uma postura
mais ereta e um melhor condicionamento físico. O hipismo fez e ainda faz parte
dos Jogos Olímpicos, bem como de outros eventos esportivos.

Os objetos usados nessa prática são equipamentos que conferem ao


cavaleiro segurança e proteção contra certos acidentes. O objetivo desse
esporte, portanto, é o cumprimento das atividades propostas, muitas vezes no
menor espaço de tempo possível. As modalidades mais conhecidas são o
adestramento, que consiste em movimentos pré-estabelecidos com dificuldades
variadas e seu objetivo é a execução perfeita do que é imposto; as provas de
salto, que o animal junto com o cavaleiro deve percorrer distâncias determinadas
saltando por obstáculos, o objetivo dessa prova é cumprir a meta em um curto
período de tempo cometendo o mínimo de erros possíveis; e também o
Concurso completo de Equitação que é em conjunto de provas que são
avaliadas simultaneamente. Podem ocorrer em um ou três dias. Outras
modalidades de hipismo são: Enduro, Volteio, Atrelagem, Rédeas e Polo.

Já o rodeio é um esporte que envolve uma série de concursos e exibições


derivadas da equitação, do laço e das habilidades desenvolvidas pelos
vaqueiros do norte do México e do oeste dos Estados Unidos na segunda
metade do século XIX. A montaria pode ser feita em cavalos ou bois.É grande o
público de rodeios no Brasil. Em 1956, na cidade de Barretos, em São Paulo, foi
realizada a primeira Festa do Peão de Boiadeiro, com exibição de vaqueiros.

Os cinco eventos do rodeio padrão são: cutiano, laçada do bezerro,


montaria em touro, bullriding, sela americana e bareback, prova dos três
tambores.

O Cutiano é uma forma de montaria em cavalo, na qual o peão somente


se apoia por duas cordas que ficam atadas à peiteira, e isso faz com que o
animal passe por sofrimento ao ter o instrumento o comprimindo. As notas mais
altas são dadas àquele peão que mais dá esporeadas.

A laçada de Bezerro consiste em um bezerro na arena e o mesmo passa


a ser perseguido em grande velocidade pelo peão, e, posteriormente laçado e
jogado ao chão.
Bull Ridingessé bastante conhecida como sendo a montaria em touro.
Nela o animal é esporeado, principalmente na área na qual fica o baixo-ventre.

No laço em Dupla, dois peões se deslocam em disparada, e um deles é o


responsável por laçar a cabeça do animal, e o outro fica responsável por laçar as
pernas de trás. Logo após, os mesmos esticam o animal entre si.

Bareback, o peão fica quase totalmente deitado, e assim deve marcar o


bicho no primeiro salto, posicionando as esporas diretamente no pescoço do
animal;

Sela Americana é uma forma de montaria em cavalo na qual é necessária


a marcação do animal, colocando as esporas em seu pescoço logo na primeira
vez em que ele pula e já no segundo pulo deve-se puxá-las a partir da paleta,
passando por toda a extensão da barriga até se chegar ao fim da sela. Quanto
maior for o ângulo, muito maior deverá ser a nota do peão.

A prova dos três tambores, disputadapor mulheres, consiste em uma


corrida de cavalos em torno de uma série de barris, a amazona deve contornar
os três tambores, em um percurso triangular preestabelecido, no menor tempo
possível.

ESPORTE DE IMPORTÂNCIA NO NORDESTE

A vaquejada é uma modalidade muito praticada nas regiões Norte e


Nordeste do País, onde as disputas são entre várias duplas, que montados em
seus cavalos perseguem pela pista e tentam derrubar o boi na faixa apropriada
para a queda, com dez metros de largura, desenhada na areia da pista com cal.
Cada vaqueiro tem uma função: um é o batedor de esteira, o outro é o puxador.
Esta modalidade atrai centenas de competidores em busca de grandes prêmios.
A Vaquejada é um dos esportes de maior apelo popular no Norte e Nordeste,
reunindo milhares de pessoas a cada evento.
IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DOS ESPORTES COM ANIMAIS

A Vaquejada é uma atividade Recreativa-Competitiva com


características de esporte do Nordeste Brasileiro, na qual dois Vaqueiros
montados a cavalo tende a derrubar o boi em uma demarcação, puxando-o
pelo rabo. As vaquejadas modernas se tornaram um negócio. Movimentam
cerca de 600 milhões de reais por ano, entre premiações, espetáculos e
publicidade, envolvendo assim, 120 mil empregos diretos e 620 mil
indiretos.Por ser uma atividade esportiva de grande relevância para o Estado
Nordestino e por se tratar de Patrimônio Cultural, o que foi reconhecido pela
própria Procuradoria Geral da República na Petição Inicial, a prática precisa ser
preservada. São inúmeras pessoas que sobrevivem de tal esporte. A
vaquejada movimenta a economia com eventos de grande porte, cria empregos
e reúne famílias. Esse esporte tem como uma das principais fontes de
movimentação econômica local, a prática da vaquejada, que com suas festas e
manifestações, atraem números significativos de pessoas apaixonadas pelo
esporte para prestigiar os eventos.De acordo com a ABVAQ, para a realização
de uma prova de vaquejada, há o envolvimento de aproximadamente 270
profissionais, entre veterinários, juízes, inspetores, locutores e equipes de
circuito, como: Organizadores, segurança, limpeza e apoio de gado, entre
outros. Além desta estrutura, ocorre também a contratação de empresas do
setor de shows e também outras atividades de apoio ao evento.

O Rodeio por sua vez atrai pessoas de diferentes tribos que acabam
colaborando com a economia local. Hoje, no Brasil, são realizados mais de 1,8
mil rodeios por ano. Segundo dados da CNAR, eles movimentam cerca de 3
bilhões de dólares e geram aproximadamente 300 mil empregos diretos e
indiretos. As festas de peão, assim como o réveillon e o carnaval, integram o
calendário oficial de eventos da Embratur (Empresa Brasileira de Turismo) e são
divulgadas no exterior. E pensar que estes mega eventos começaram, ainda na
primeira metade do século passado, como simples atividades de entretenimento
das comitivas de boiadeiro em vários municípios do interior do país.
REFERÊNCIAS

LEVAI, Laerte Fernando. Cultura da violência: antropocentrismo e subjugação de


animais, 2010.

FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Gilberto Passos de. Crimes contra a
natureza. 6. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.

RODRIGUES, Danielle Tetü. O Direito e os animais: uma abordagem ética,


filosófica e normativa. Curitiba: Juruá, 2009.

LEITE, José Rubens MoraĴo. Direito Constitucional Ambiental Brasileiro. São Paulo:
Saraiva, 2007.

CUSTÓDIO, Helita Barreira. Crueldade contra animais e proteção destes como


relevante questão jurídico-ambiental e constitucional. Revista de Direito Ambiental
7. São Paulo: RT, julho-setembro de 1997.

Conteúdo produzido pela LFG, referência nacional em cursos preparatórios para


concursos públicos e Exames da OAB, além de oferecer cursos de pós-graduação
jurídica e MBA.

Broom, D. M. 1991. Animal welfare: concepts and measurement. Journalof Animal


Science, 69(10), 4167-4175.

Leira, M. H., Colsani, G. C., Botelho, H. A., Barreto, B. B., &Reghim, L. S. 2018.
Relação homem versus touro nas arenas de rodeio. PUBVET, 12(8), 1-8.

Luna, S. P. L. (2008). Dor, senciência e bem-estar em animais. Ciência Veterinária


nos Trópicos, 11(1), 17-21.

Silva, E. A. V. 1987. Pequena enciclopédia do esporte. Rio de Janeiro, Brasil:


Cátedra.

Jus Brasil. A atividade do Rodeio no Brasil. Disponível em:


https://inayberrodrigues.jusbrasil.com.br/artigos/155145930/a-atividade-do-rodeio-no-
brasil. Acesso em: 05/12/2019.

Jus Brasil. Vaquejada: Importância Cultural e Econômica. Disponível em:


https://lucasgabriel1996.jusbrasil.com.br/artigos/398855237/vaquejada-importancia-
cultural-e-economica. Acesso em: 05/12/2019
Gazeta do interior. Rodeio: as cifras de uma tradição. Disponível em:
http://www.gazetainterior.com.br/index.php/rodeio-as-cifras-de-uma-tradicao/ Acesso em
05/12/2019

Tudo sobre Hipismo: regras, jogos, história, culote e spur, encontrado em:
https://regrasdoesporte.com.br/tudo-sobre-hipismo-regras-jogos-historia-culote-e-
spur.html. Acessado em 15 de dezembro de 2019

Animais no esporte, encontrado


em:https://animais.culturamix.com/informacoes/animais-no-esporte. Acessado em 15 de
dezembro de 19 às 13:12

Conheça as regras e a origem dos três tambores, encontrado


em:http://blog.brasilcowboy.com.br/country-life/esporte/conheca-regras-e-origem-dos-
tres-tambores/. Acessado em: 15 de dezembro de 19 às 14:48

Importância Econômica da vaquejada.


https://lucasgabriel1996.jusbrasil.com.br/artigos/398855237/vaquejada-importancia-
cultural-e-economica. Acessado em 15/12/2019

Tradição do rodeio. http://www.gazetainterior.com.br/index.php/rodeio-as-cifras-de-


uma-tradicao/ - Acessado em15/12/2019

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