Você está na página 1de 16

002301_impulso_36.

book Page 87 Thursday, July 22, 2004 4:20 PM

Sobre o uso de Animais na


Investigação Científica
ON THE USE OF ANIMALS IN SCIENTIFIC
INVESTIGATION
Resumo O homem interage com animais há milhares de anos. Tradicionalmente, os
animais são usados como alimento, instrumento de trabalho e transporte de pessoas
ou cargas. Atualmente, as pessoas interagem superficialmente com algumas espécies
(em particular cães e gatos) e exibem atitude contraditória ou de pouca compreensão
acerca de outros seres vivos. Elas comumente apresentam uma postura afiliativa em ROGERIO F. GUERRA
relação a alguns mamíferos prototípicos, espécies altriciais e indivíduos jovens, mas Universidade Federal de Santa
não apreciam a proximidade ou mesmo expressam-se negativamente quanto a outras Catarina, Florianópolis/SC
espécies (sobretudo insetos, répteis e roedores). São discutidos neste artigo a relação rfguerra@cfh.ufsc.br
do homem com a natureza, as idéias sustentadas pelos defensores dos direitos dos
animais e o valor do modelo animal para a investigação científica.

Palavras-chave INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA – DIREITOS DOS ANIMAIS – PRAGMA-


TISMO – SENTIMENTALISMO – ANIMAIS DOMÉSTICOS.

Abstract Humans have interacted with animals for thousands of years. Traditionally,
they have been used as food, as work instruments, and for transporting people or
loads. Today, urban people interact superficially with some domestic animals (mainly
dogs and cats) and exhibit contradictory attitudes or poor comprehension of most
living creatures. For example, people may display an affiliative response toward some
mammals (mainly young individuals from altricial species), but do not appreciate
cohabitation with, and may, indeed, exhibit strong negative attitudes toward a large
number of other species (mainly insects, reptiles and rodents). In this essay we
discuss the human relationship with nature, the ideas sponsored by animal rights
activists and the value of animal-models for scientific investigation.

Keywords SCIENTIFIC INVESTIGATION – ANIMAL RIGHTS – PRAGMATISM –


SENTIMENTALISM – DOMESTIC ANIMALS.

Impulso, Piracicaba, 15(36): 87-102, 2004 87


002301_impulso_36.book Page 88 Thursday, July 22, 2004 4:20 PM

INTRODUÇÃO

O
uso de animais, nos diversos setores da atividade hu-
mana, é amplo e variado e pode ser classificado da se-
guinte forma: produção e processamento de alimen-
tos de origem animal, indústria do vestuário, ador-
nos e utensílios domésticos (cintos, sapatos, casacos
e revestimentos de mobiliários), instrumento de tra-
balho (aragem do solo, transporte de cargas e de pes-
soas e produção artesanal de energia), auxílio senso-
rial e suporte psicológico (cães-guias para cegos ou companhia para fins
terapêuticos), segurança física e patrimonial (cães de guarda, cães ou ca-
valos utilizados pela polícia para controle de distúrbios populacionais) e
entretenimento e lazer pessoal ou coletivo (competições esportivas,
exposições de animais, circos, touradas ou rodeios), entre outros setores
da atividade humana. No que diz respeito à investigação científica, os ani-
mais são de vital importância nos seguintes procedimentos: transplantes
de órgãos, produção de vacinas e medicamentos em geral, cirurgias ex-
perimentais, práticas de ensino e testes de hipóteses na pesquisa experi-
mental, especialmente na pesquisa biológica.
O emprego de animais na investigação científica está associado a
descobertas de grande impacto social, aumento da longevidade e bem-es-
tar humanos. Não por acaso a maior parte dos detentores do prêmio No-
bel, nas ciências biológicas, realiza suas investigações com animais. Em
1964, a Declaração de Helsinque já anunciava os princípios básicos nor-
teadores da experimentação científica envolvendo humanos, pregando
que ela “deve estar de acordo com a moral e o princípio científico que jus-
tificam a pesquisa médica, fundamentada em evidências laboratoriais e
experimentação animal ou outros fatos cientificamente comprovados”.1
Posteriormente, a American Association for the Advancement of Scien-
ce esclareceu que “o uso de animais foi e continua sendo essencial (...)
para a pesquisa aplicada, com aplicabilidade clínica direta para os seres hu-
manos e os animais”.2 A resolução n.º 196 (de 10/out./96), do Conselho
Nacional de Saúde do governo brasileiro, reconhece a importância e a ne-
cessidade da experimentação animal e estabelece que toda investigação
envolvendo seres humanos deve fundamentar-se na experimentação pré-
via com animais. Entretanto, a despeito desses esclarecimentos, o uso de
animais na investigação científica tem sido questionado por alguns seg-
mentos da nossa sociedade.
As pessoas em geral têm uma visão ingênua a respeito da experi-
mentação animal e o seu interesse pelos animais é bastante seletivo, mais
dirigido aos mamíferos de grande porte, espécies altriciais ou animais
com alguma proximidade com o homem (notadamente cães, gatos e pri-

1 PATON, 1993, p. 256.


2 AMERICAN ASSOCIATION FOR THE ADVANCEMENT OF SCIENCE, 1991.

88 Impulso, Piracicaba, 15(36): 87-102, 2004


002301_impulso_36.book Page 89 Thursday, July 22, 2004 4:20 PM

matas). Grande variedade de organismos (peixes, Gandhi. Os jainistas tinham como líder o prínci-
répteis, moluscos e insetos, por exemplo) são pe Vardhamana Mahavira (nascido por volta do
simplesmente ignorados e não despertam o inte- ano 540 a.C.), que havia renunciado à sua condi-
resse das pessoas como um todo ou daquelas que ção social elevada e iniciado uma vida de pere-
especificamente se mostram contrárias ao uso de grinação, como fizera Siddharta Gautama, seu
animais na investigação científica. Além disso, a contemporâneo e fundador do budismo. O prín-
população brasileira emprega freqüentemente cipe Mahavira pregava que a alma está presente
nomes de animais para designar uma pessoa (bur- em todos os organismos – homens, mulheres,
ro, baleia ou serpente) e adota um número consi- moscas ou vermes –, de forma que todas as for-
derável de verbos (gatunar, espreguiçar ou gali- mas de vida merecem respeito. Visando a levar
nhar) ou de expressões (bêbado como um gambá, adiante esse postulado, os jainistas andavam nus e
cabeça de bagre ou falso como uma serpente), quase só se movimentavam ou ingeriam alimentos à luz
sempre, para depreciar uma pessoa ou uma atitu- do dia, evitando danos aos animais da noite ou a
de humana. ingestão involuntária de pequenos animais conti-
Uma reflexão honesta permite concluir que dos no alimento. Eles andavam com véus, cobrin-
o respeito aos animais é, na verdade, o respeito a al- do o rosto para evitar aspirar minúsculos organis-
guns animais. Essa visão, ao lado do apego aos mos presentes no ar e, antes de se sentar, execu-
mamíferos altriciais e de grande porte, revela que tavam movimentos suaves com um espanador
as pessoas exibem um sentimento extremamente para remover possíveis insetos que estivessem
contraditório em relação a esse domínio e não nos assentos.
compreendem a real importância do uso de ani- A cultura hindu é bastante complexa e
mais na investigação científica. Nesse sentido, o comporta tanto o respeito extremado à vida dos
interesse por temas ecologicamente corretos – que animais quanto o sistema de casta, associado com
vem aumentando com o passar do tempo – e a o comércio e depreciação das mulheres, infanti-
necessidade cada vez maior de uso de animais na cídio de meninas e segregação de pessoas perten-
investigação científica, em razão do surgimento centes às castas inferiores. Pelo que se conhece,
de novas doenças ou do fortalecimento de vírus e os preceitos do movimento jainista eram a ma-
bactérias resistentes ao arsenal farmacológico neira mais extremada de respeito à vida dos ani-
existente, podem dar surgimento a conflitos en- mais. Com o passar do tempo, esse movimento
tre os praticantes da pesquisa básica e experimen- perdeu força e seus ensinamentos mais rígidos
tal e as pessoas que apreciam e julgam que os di- foram abandonados pelos fiéis seguidores.
reitos dos animais são desrespeitados nos centros Na tradição islâmica, o homem é conside-
de pesquisa. rado a criatura mais nobre da natureza e todo o
resto fora criado para atender suas necessidades.
A RELAÇÃO DO HOMEM COM OS Nada é desprovido de função e tudo existe de
ANIMAIS acordo com os desígnios divinos. Tal como no
Por volta do século VI a.C., foi criado o mo- cristianismo, alguns animais (camelos, vacas, ca-
vimento jainista, na Índia, que pregava uma moral valos, mulas e cabras) têm especial valor para o
asceta extremamente severa. Seus seguidores fa- homem. De acordo com a tradição islâmica, al-
ziam oposição ao sistema de casta do bramanis- guns produtos de origem animal são usados
mo, condenavam o sacrifício de animais e evita- como medicamentos e outros devem ser evita-
vam qualquer tipo de violência (emitida pelo cor- dos. Os seguidores do Islã não abrigam animais
po, pelas palavras ou pelo pensamento). A filo- de estimação, pois o Alcorão estabelece que eles
sofia jainista obteve enorme impacto social e desempenham uma função utilitária (forneci-
influenciou a cultura indiana, especialmente a fi- mento de alimento e uso como força de trabalho)
losofia de não-violência pregada por Mahatma – a adoração indevida aos animais subtrai o mon-

Impulso, Piracicaba, 15(36): 87-102, 2004 89


002301_impulso_36.book Page 90 Thursday, July 22, 2004 4:20 PM

tante de devoção a ser dedicada a Alá e aos pró- tancial do PIB está relacionada com a exploração
prios familiares.3 de produtos de origem animal e, como ocorre
O Pentateuco apresenta um código de con- com as potências agropecuárias, entre elas, a Au-
duta a ser seguido pelos judeus, com o objetivo strália, a Nova Zelândia e os EUA, qualquer cida-
de não causar danos desnecessários, doenças ou dão aufere benefícios diretos ou indiretos dessa
desconforto físico aos animais. Os judeus eram exploração. Em alguns casos, eles são usados em
proibidos de consumir partes de um animal en- lazer e entretenimento (touradas, rodeios, circos
quanto esse ainda estivesse vivo.4 Outras leis hu- ou a Farra do Boi, festejo circunscrito ao estado
manitárias não permitem a exposição dos animais de Santa Catarina, por exemplo). Entretanto,
a maus-tratos, esforço físico além da capacidade muitos desses eventos guardam forte tradição
física, fome e dor; o animal também não pode ser cultural e não é adequado pensar que possam de-
impedido de se alimentar5 e, assim como o ho- saparecer repentinamente. Tudo isso revela que a
mem, deve ter o sétimo dia assegurado ao repou- nossa mentalidade é passível de mudança ao lon-
so.6 O agricultor não deve trabalhar a terra com go do tempo e que diferentes culturas podem ver
um boi e um jumento ao mesmo tempo,7 pois o o mesmo problema de modos diferentes.
mais fraco poderia ser arrastado pelo mais forte.
Estima-se que cerca de 1,4 milhão de espé-
Se porventura o dono encontrar um animal des-
falecido no chão, deverá carregá-lo, mesmo que cies (plantas, animais e microorganismos) já fo-
não lhe pertença.8 Antes do sacrifício, filhotes de ram catalogadas, mas o número de espécies des-
vacas, ovelhas e cabras devem ser amamentados conhecidas da ciência é fabulosamente estimado
por pelo menos sete dias, não podendo mães e entre 10 milhões e 100 milhões,13 revelando nos-
seus filhotes ser sacrificados no mesmo dia,9 tam- sa ignorância a respeito da diversidade biológica
pouco a pessoa está autorizada a remover um fi- do planeta. Os animais são imprescindíveis nas
lhote de pássaro ou pegar um ovo do ninho caso pesquisas sobre câncer, alcoolismo, produção de
a mãe esteja presente.10 Castrações de animais vacinas, transplantes de órgãos, doenças cardio-
são proibidas para os judeus11 e, durante o ano sa- vasculares e produção e testes de vários medica-
bático, período em que a terra permanece em re- mentos, como insulina, analgésicos, antibióticos,
pouso, os produtos dela eram socializados e usu- ansiolíticos, controladores de pressão sangüínea e
fruídos tanto pelos homens quanto pelos ani- outros.14
mais.12 A posição inferior dos animais não signi- As pessoas se beneficiam enormemente do
fica que eles não sejam merecedores de uso de animais na pesquisa experimental, direta
compaixão e respeito dos humanos, mas é dife- ou indiretamente, mas não têm a mínima idéia
rente dizer que uns e outros têm os mesmos di- dos procedimentos e cuidados tomados pelos in-
reitos. Se afirmamos que sim, surgem alguns pro- vestigadores na realização de uma pesquisa cientí-
blemas. fica. Embora algumas ações humanas represen-
Os animais possuem uma importância fa- tem impacto extremamente negativo para a sus-
bulosa para a economia do nosso país. Parte subs- tentabilidade da vida animal, as pessoas apreciam
3
tais empreendimentos e consideram como parte
Alcorão Sagrado,1989.
4 Gênesis, 9:4 (essa e as próximas citações fazem parte do Pentateuco, desejável do progresso humano. Com efeito, a
os cinco primeiros livros da Bíblia e da Tora). tabela 1 mostra uma sistematização do emprego
5 Deuteronômio, 25:4.
6 Êxodo, 20:10; 23:12; Deuteronômio, 5:14. de animais nos diversos setores da atividade hu-
7 Deuteronômio, 22:10.
8 Êxodo, 23:5; Deuteronômio, 22:4.
mana.
9 Levítico, 22:27-28.
10 Deuteronômio, 22:6-7. 13
WILSON, 1994.
11 Levítico, 22:24. 14Cf. PATON, 1993; BOTTING & MORRISON, 1997; e PAI-
12 Levítico, 25:5-7. XÃO & SCHRAMM, 1999.

90 Impulso, Piracicaba, 15(36): 87-102, 2004


002301_impulso_36.book Page 91 Thursday, July 22, 2004 4:20 PM

Tabela 1. Classificação do uso de animais nos diferentes • Desmatamento e ocupação desordenada do solo
setores da atividade humana e empreendimentos que Construção de condomínios em áreas virgens
interferem no equilíbrio populacional da vida selvagem. (matas, florestas e manguezais)
I. UTILIZAÇÃO DE ANIMAIS EM SETORES DA Desmatamento e ocupação desordenada da terra
ATIVIDADE HUMANA (animais da fauna local)
• Indústria de alimentos • Progresso industrial
Processamento de produtos de origem animal Poluição industrial (animais em geral)
(carne, leite e ovos) Vazamento de produtos tóxicos (animais em geral)
Agropecuária (bovino, suíno e avinocultura)
• Indústria do vestuário e utensílios domésticos CIÊNCIA, SENSO COMUM E
Peles de animais para confecção de roupas
(casacos, cintos, sapatos ou bolsas)
ANTROPOMORFISMO
Peles de animais para revestimento de mobília A relação da imprensa com a ciência revela-
(sofás ou assentos) se muito difícil, pois jornalistas e cientistas exi-
Ornamentos e itens do vestuário bem interesses diferentes, apesar de ambos lida-
(botões, pentes ou adornos com ossos e chifres)
rem com informações. A imprensa procura novi-
• Instrumento de trabalho
Transporte de pessoas ou carga dades, algo inusitado ou uma descoberta que in-
(cavalos, vacas, camelos ou elefantes) terfira substancialmente no tratamento de uma
Produção artesanal de energia doença grave. Com muita freqüência, um tema
(aragem do solo ou moagem de grãos) complexo é supersimplificado, por conta da exi-
• Auxílio sensorial e suporte psicológico güidade do tempo e da busca frenética do furo
Auxílio a pessoas portadoras de deficiência física
jornalístico, podendo levar a distorções e tornar
(cães e macacos)
Minimização do desconforto da velhice (cães e gatos) mais confuso o entendimento do real valor da ati-
Utilização para fins psicoterapêuticos vidade científica.15 Além disso, a imprensa faz
(cães, gatos ou pequenos roedores) uso de uma linguagem coloquial e não respeita a
• Segurança física e patrimonial precisão terminológica. Com efeito, nos primei-
Investigação policial (cães farejadores) ros anos da AIDS no Brasil, os jornais populares
Segurança doméstica e industrial (cães de guarda)
insistiam em chamar a doença de câncer gay,
Controle policial de distúrbios (cães e cavalos)
• Lazer e entretenimento
câncer cor-de-rosa ou peste gay. A forma de abor-
Feiras e exposições dagem era excessivamente jocosa, dando a enten-
(cavalos, bois, pássaros ou outros animais) der que a doença era exclusiva dos homossexuais.
Competições esportivas De mais a mais, a linguagem transmitia a falsa
(corridas de cavalos ou rinhas de galos) idéia de que a doença não representava algo tão
Lazer coletivo (rodeios, touradas ou vaquejadas) sério, o que indubitavelmente dificultou a im-
Cinema, documentários e propagandas veiculadas na TV
(cães, primatas e cetáceos)
plantação de campanhas de prevenção.
• Investigação científica e tecnológica As pessoas comuns não lêem, é claro, revis-
Produção de drogas, medicamentos e vacinas tas científicas e não se preocupam com a acuraci-
(camundongos e ratos) dade de suas conclusões. O seu entendimento
Treinamento de procedimentos cirúrgicos e aulas de anatomia baseia-se fortemente nas informações veiculadas
(cães, macacos ou roedores)
em revistas populares ou programas de TV. O
Teste de hipóteses na pesquisa experimental
(camundongos e ratos albinos) problema não é exclusivo dos brasileiros, uma
II. EMPREENDIMENTOS ASSOCIADOS COM vez que um recente levantamento mostrou que
MORTANDADE DE ANIMAIS certos seriados veiculados na TV (ER, Rescue 911
• Interferência em ecossistemas e Chicago Hope, esse último veiculado na TV bra-
Construção de hidrelétricas e barragens sileira) exploram de forma inadequada determi-
(animais silvestres em geral)
nados procedimentos médicos. Na maior parte
Introdução de animais exóticos em ecossistemas fechados
(animais em geral)
15 Cf. MATFIELD, 1995 e 2002; e NELKIN, 1996.

Impulso, Piracicaba, 15(36): 87-102, 2004 91


002301_impulso_36.book Page 92 Thursday, July 22, 2004 4:20 PM

dos episódios (61,9%) ocorre ressuscitamento Em terceiro lugar, importa saber se a homologia
cardiopulmonar e um número muito grande de funcional, decorrente de uma similaridade de es-
pacientes sobrevive à imediata intervenção médi- truturas cerebrais, relaciona-se com uma homo-
ca (75%).16 O irrealismo pode ser prejudicial ao logia contextual – em outras palavras, se o orga-
trabalho dos médicos, pois as pessoas têm difi- nismo tem estruturas semelhantes, se exibe um
culdades em separar fatos de ficção. Elas podem padrão de comportamento parecido e se esse
adquirir um otimismo exagerado em relação às comportamento ocorre nas mesmas condições e
doenças cardiovasculares e imaginar que, nos no mesmo contexto em relação ao comporta-
centros de atendimento emergencial, os profissio- mento exibido por uma pessoa!
nais falam rápido, estão sempre envolvidos em cor- Caso os três postulados forem atendidos,
rerias pelos corredores e a improvisação impera. poderemos inferir a existência de uma homologia
Comumente as pessoas insistem em se me- de estados subjetivos – i.e., se as estruturas são
ter na cabeça dos animais e inferem com facilida- homólogas, se o funcionamento dos órgãos ou o
de a existência de estados subjetivos humanos. comportamento são homólogos, se ocorrem em
Elas acabam por atribuir certas características contextos e circunstâncias bem similares, é pos-
mentais (sensação e percepção, gratidão, emoção, sível deduzir a existência de estados subjetivos
valor moral, brincadeira e imaginação, memória e homólogos! A similaridade de estados subjetivos
previsão etc.) a crianças muito jovens, cães, gatos, é possível, mas não significa que os animais te-
pássaros e peixes, em ordem decrescente – em re- nham exatamente as mesmas emoções dos seres
lação aos peixes, os cães estariam mais próximos humanos.
dos humanos.17 Animais domésticos ou filogene- O antropomorfismo (atribuição de estados
ticamente próximos ao Homo sapiens (cães, ga- subjetivos ou interpretações do valor funcional
tos, chimpanzés e golfinhos, por exemplo) são ti- do comportamento animal de acordo com a pers-
dos como altamente inteligentes e possuidores de pectiva humana) é o modo mais inadequado de
estados emocionais e subjetivos muito próximos explicar o comportamento dos animais. O terre-
ao do ser humano.18 O hábito de falar e dar no- no é cheio de armadilhas, mesmo para um pes-
mes aos animais domésticos é muito comum e as quisador experiente. O antropomorfismo pode
pessoas, às vezes, conferem capacidade extrasen- ser detectado no momento em que:
sorial a cães e gatos. 1. afirmamos que o animal possui uma habi-
Atribuir estados subjetivos aos animais é lidade cognitiva, quando na verdade ele
pura especulação, mas deve estar assentado em não a possui;
quatro postulados. Primeiro, é necessário saber se 2. certificamos que o animal não possui habi-
existem estruturas homólogas – i.e., qual é o nível lidade cognitiva, quando na verdade ele a
de similaridade das estruturas cerebrais, recepto- possui;
res neurais ou do sistema sensorial em relação às 3. inferimos que o animal possui uma habili-
estruturas presentes na espécie humana? Em se- dade cognitiva, com base em evidências
gundo lugar, podemos dizer que quanto maior o empíricas pobres ou insuficientes; ou
nível de similaridade estrutural, maior será o nível 4. falhamos nas conclusões e dizemos que o
de similaridade entre o funcionamento de um animal não possui uma habilidade cogniti-
órgão ou o comportamento do organismo – ou va, quando todas as evidências empíricas
seja, se as estruturas são homólogas, o funciona- apontam que ele a possui.
mento de um órgão ou o comportamento pro- A tarefa da psicologia comparativa não é adi-
priamente dito também deverão ser homólogos! cionar ou subtrair algo acerca da capacidade cog-
nitiva dos animais, mas descrever e explicar, o mais
16 DIEM et al., 1996.
17 RASMUSSEN et al., 1993.
fidedignamente possível, os fenômenos observa-
18 HERZOG & GALVIN, 1997. dos. Se, para um especialista, a tarefa parece cheia

92 Impulso, Piracicaba, 15(36): 87-102, 2004


002301_impulso_36.book Page 93 Thursday, July 22, 2004 4:20 PM

de obstáculos, a compreensão do leigo a respeito que a ciência e a tecnologia tornam a vida mais
do comportamento dos animais é pitoresca. saudável, fácil e confortável; e quase 90% dos
A percepção das pessoas comuns sobre os dois povos julgam que o governo deveria apoiar
fenômenos da natureza mudou muito com a ur- mais empreendimentos científicos e tecnológi-
banização e o afastamento das fazendas e do con- cos. No entanto, de forma contraditória, apenas
tato diário com os animais. Antes, os animais 40% dos britânicos e 56% dos norte-americanos es-
eram vistos como objetos e parte da propriedade tão de acordo com a seguinte afirmação: “os cien-
(bens semoventes), com valor comercial.19 A po- tistas devem ser liberados para realizar pesquisas
pularização dos documentários veiculados na TV, que causam dor e danos físicos a animais como
o surgimento de revistas de entretenimento ex- cães e chimpanzés, caso elas resultem em novas
plorando a beleza plástica dos animais e o sucesso informações sobre problemas de saúde huma-
de filmes (Congo, Babe, Flipper, Beethoven, entre na”.21
outros) contribuíram para a mudança de atitude Outro estudo revelou que os ativistas, na
em relação aos animais. Alguns filmes assustaram maior parte, são mulheres (76% a 80%), brancos,
as pessoas (e.g., King Kong, sobretudo sua versão com alto nível de escolaridade, vegetarianos e
antiga, e Tubarão), mas a transformação abrupta consideram que o movimento deve atentar mais
para temáticas politicamente corretas pode ser ao uso de animais na investigação científica e na
vista na comparação entre duas produções que indústria alimentícia.22 A rejeição ao uso de ani-
exploram de forma negativa e positiva o mesmo mais na investigação científica é maior para expe-
animal (Orca, a baleia assassina e Free Willye, res- rimentações envolvendo primatas e bem localiza-
pectivamente). da, pois certas categorias profissionais (advogados
Alguns programas de TV mais confundem e indivíduos envolvidos com política), adolescen-
do que esclarecem. O problema se agrava quando tes com idade entre 11 e 14 anos e mulheres rea-
um programa de entretenimento passa a ocupar o gem mais negativamente a tais empreendimen-
papel dos professores de ciência ou dos livros di- tos.23
dáticos. A compreensão do leigo quanto aos A imagem extremamente irrealista transmi-
avanços da ciência é precária. Com efeito, norte- tida pelos canais de informação adquire um valor
americanos e ingleses vêem positivamente o positivo, pois as pessoas passam a mostrar maior
avanço científico, mas cerca de 80% nunca ouvi- respeito à natureza e aos animais. Entretanto, o
ram falar de Galileu, Copérnico ou Darwin, um efeito maléfico seria a criação de estereótipos e
terço dos britânicos acredita que o Sol gira em preconceitos sobre as pessoas que trabalham com
torno da Terra, mais da metade crê que os anti- experimentação animal e a rejeição ao uso de ani-
bióticos eliminam vírus tanto quanto bactérias e mais em aulas práticas sobre técnicas cirúrgicas,
que os homens já viviam à época do dinossauros, anatomia e psicologia experimental. Essas ativi-
um em sete imagina que o leite radioativo pode se dades revelam-se extremamente vulneráveis ao
tornar seguro apenas com a simples fervura e ou- proselitismo ideológico, de modo que a qualida-
tros pensam que DNA é algo relacionado a ro- de do ensino e o avanço do conhecimento podem
chas, computadores ou corpos estelares.20 ser negativamente afetados. A partir do final da
Britânicos e norte-americanos demonstram década de 70, as pessoas passaram a se preocupar
grande interesse pela ciência, sobretudo em rela- mais com a preservação de certas espécies de ani-
ção às descobertas da área médica: respectiva- mais, como aves de plumagem exuberante, pri-
mente 63% e 88% deles consideram a ciência matas de modo geral ou mamíferos de grande
algo muito importante; 84% e 89% concordam porte (baleias, ursos, lobos ou alguns felinos).

19CARRUTHERS, 1992; e MUKERJEE, 1997. 21 Ibid.


20 DEAN, 1990; DURANT et al., 1989; e EVANS & DURANT, 22 PLOUS, 1998.
1989. 23 HORTON, 1994.

Impulso, Piracicaba, 15(36): 87-102, 2004 93


002301_impulso_36.book Page 94 Thursday, July 22, 2004 4:20 PM

Alguns animais são escolhidos como símbolos, ações podem ser explicadas por princípios mecâ-
especialmente as aves de plumagem exuberante, nicos – quando o animal emite um gemido de
primatas em geral e mamíferos aquáticos (baleias, dor, isso nada mais significa que a vibração de es-
golfinhos, focas e outros), mas a grande maioria truturas mecânicas ou válvulas em processo de
das espécies do reino animal nem sequer é conhe- ajustamento.25 As qualidades que Montaigne en-
cida pelos defensores dos animais. Ao lado de al- xergava nos animais eram vistas por Descartes
guns especialistas das ciências biológicas, os ati- como o oposto: os animais despendem todo o
vistas dos direitos dos animais, os apreciadores de seu tempo em busca de alimento unicamente
esportes radicais e as pessoas que gostam de acam- para preservar a integridade física – já o alimento
par nos finais de semana (sempre munidas de in- da alma são o conhecimento e a sabedoria.26 Des-
seticidas e repelentes) passaram a ostentar o título cartes também postulava que a alma abandonava
de ecologista, ambientalista ou amante da natureza. o corpo humano no momento da morte, de for-
ma que a dessacralização dos cadáveres permitiu
A ORIGEM DO MOVIMENTO EM PROL maior liberdade aos estudos investigativos da
DOS DIREITOS DOS ANIMAIS nossa anatomia e fisiologia.
A origem da atitude sentimental em relação aos O movimento antivivisseccionista é muito
animais deriva do idealismo do filósofo francês Michel antigo – surgiu na Inglaterra, em 1824 –, ganhou
de Montaigne (1533-1592), que imaginava os animais impulso a partir de 1840 e, sob a influência direta
vivendo em completa harmonia com a natureza e pos- da rainha Vitória (1819-1901), recebeu a designa-
suindo mais virtudes que os próprios humanos. Con- ção de Royal Society for the Prevention of Cru-
denava os maus-tratos aos animais, pois, para ele, isso elty to Animals, ou RSPCA.27 Apesar de seu papel
revelava uma propensão à crueldade – os espetáculos na criação da RSPCA, os defensores dos direitos
de lutas dos gladiadores romanos eram seus alvos pre- dos animais não consideram a rainha Vitória a pa-
feridos. Segundo Montaigne, os animais teriam virtu-
tronesse de seu movimento, o que é compreensí-
des inexistentes no gênero humano, como lealdade,
vel, se levarmos em conta que, desde o século
prudência, sabedoria e comportamento previdente.
XIX, parte importante da população inglesa asso-
Por seu turno, os humanos seriam traiçoeiros, insen-
satos, miseráveis, imprudentes e tão soberbos a ponto cia a aristocracia com lassidão, esbanjamento e
de desejar igualar-se ao Criador. A lealdade, por exem- modo de vida indolente. A aristocracia dominava
plo, seria uma virtude inabalável nos cães, que não vastas extensões territoriais e seus membros des-
abandonam ou deixam de exibir a afeição ao dono, pendiam boa parte do tempo em caçadas, no pró-
nem mesmo diante de maus-tratos e negligência. De prio território ou em outras partes do mundo
acordo com esse filósofo, o ser humano é a única es- (África e Índia, especialmente).
pécie a reagir negativamente diante da nudez, o que re- As caçadas eram atividades ritualizadas, exi-
fletiria a imperfeição de nossos corpos.24 Tais idéias re- gindo roupas apropriadas e um número conside-
velam-se plenamente de acordo com o movimento na-
rável de serviçais, cavalos e cães para dar suporte
turalista, que prega o retorno ao modo de vida de nos-
sos antepassados, mas o sentimentalismo não envolve
ao esporte preferido da realeza – a caça à raposa
uma reflexão crítica sobre os fenômenos da natureza. é praticada até hoje, mesmo diante dos protestos
Um contraste radical com essas idéias pode dos ambientalistas ou das pessoas que julgam que
ser visto na obra de René Descartes (1596-1650), os aristocratas deveriam despender seu tempo em
filósofo francês e quase contemporâneo de Mon- coisas mais úteis. Os animais abatidos (raposas,
taigne. Segundo o racionalismo cartesiano, os tigres e elefantes, entre outros) não tinham outra
animais são considerados um sistema mecânico 25 “Discourse on the method of rightly conducting the reason and
ou apenas um agregado de válvulas e sifões. Eles seeking for the truth in sciences”. Ibid., v. 31; e The Philosophical Wri-
não têm consciência, alma ou sentimentos e suas tings of Descartes, 1985.
26 Cf. KING & VINEY, 1992.
27 GRABAU, 1993; BLUM, 1994; MUKERJEE, 1997; e WILSON,
24 “The essays of Michel Eyquem de Montaigne”, 1952. 2002.

94 Impulso, Piracicaba, 15(36): 87-102, 2004


002301_impulso_36.book Page 95 Thursday, July 22, 2004 4:20 PM

serventia senão a simples ostentação de um su- para o treinamento de técnicas cirúrgicas foi eli-
posto espírito guerreiro. Caçadas e equitação minado desde 1876, de modo que os estudantes
eram esportes associados a saúde e virilidade. só podem ter o seu treinamento com cadáveres
Com efeito, a própria longevidade da rainha Vi- ou por meio de cirurgias verdadeiras, sob super-
tória foi descrita como resultante desse hábito. visão de um profissional experiente. Nos EUA, 40
A rainha Vitória teve um papel importante das 126 escolas de medicina aboliram a vivissec-
no fortalecimento do império britânico, mas o ção em aulas práticas e, na Holanda, é necessário
seu vigor imperial decaiu muito após a morte de que um pesquisador freqüente um curso prepa-
seu marido, o príncipe consorte Albert (1819- ratório antes de dar início a um programa de
1861)28 – desde então, a monarca tornou-se re- investigação científica envolvendo animais.32
clusa e passou a negligenciar suas responsabilida- Pesquisadores notáveis no campo da fisio-
des. Com o intuito de preservar ou reabilitar a logia e da psicologia experimental tiveram pro-
sua popularidade, seus conselheiros julgaram im- blemas com os adeptos do movimento em prol
portante a implantação de projetos associados à dos animais (entre eles, J. B. Watson, I. P. Pavlov
caridade ou o envolvimento da realeza com certas e H. F. Harlow) e outros líderes insuspeitos ali-
associações simpáticas ao público. De acordo mentaram ou se posicionaram ao lado dos anti-
com algumas análises, isso explica as razões para vivissectionistas, como o naturalista Charles Da-
a criação da RSPCA.29 rwin (contribuinte regular da RSPCA), John
Assim, o movimento em prol dos direitos Dewey, William James e George J. Romanes, au-
dos animais não é novo: suas raízes se encontram tor do primeiro livro sistemático sobre psicologia
na Bíblia, nas idéias do príncipe jainista Vardha- comparativa.33
mana Mahavira ou mesmo nas postulações de De alguma maneira, as restrições ao uso de
Michel de Montaigne. A novidade é o proselitis- animais dificultam o ensino de anatomia, fisiolo-
mo ou estilo panfletário nas pregações de idéias. gia, farmacologia e psicologia comparativa, assim
Entretanto, os defensores dos animais ganharam como o temor aos grupos de defesa dos animais
uma substancial contribuição acadêmica a partir restringe substancialmente a investigação cientí-
de 1975, quando foi publicado o livro Animal Li- fica. A diminuição do uso de animais na experi-
beration, do filósofo australiano Peter Singer.30 mentação científica ou no ensino de graduação
Os ativistas pregam uma hiperigualdade entre não resulta da crença de que tais práticas sejam
humanos e animais, de forma a evitar o que eles prescindíveis e sem significado para a formação
chamam de especismo (algo análogo ao racismo acadêmica dos alunos. Ela representa uma tenta-
ou sexismo) ou chauvinismo humano (semelhan- tiva de evitar a ação de grupos extremistas ou de
te ao machismo) e, com freqüência, lançam argu- se adaptar às práticas de ensino politicamente cor-
mentos absurdos para justificar suas ações: “ma- retas – o cinismo pragmático pode ter efeitos ter-
tar e comer [carne] é uma parte integral da evo- ríveis, pois os alunos de medicina, por exemplo,
lução dos seres humanos. Não matar e não co- que não têm treinamento prévio com animais, te-
mer [carne] é o próximo passo de nossa rão mais tarde seu treinamento enfrentando pro-
evolução”.31 blemas reais, i.e., atendendo seus pacientes em
Mas o seu alvo principal é a pesquisa reali- consultórios ou hospitais. Os ativistas que agem
zada em laboratório, não a pesquisa naturalística em defesa dos animais comumente exageram e
ou de campo. Na Inglaterra, o uso de animais tentam passar para o público que nos laboratórios
ocorre uma matança indiscriminada de animais,
28 The Cambridge Biographical Encyclopedia. 2.ª ed. Cambridge: Cam-
que a investigação científica não traz benefícios
bridge University Press, 1998.
29 TAYLOR, 2004.
30 Cf. SINGER, 1975 e 2002. 32 Ibid.
31 MUKERJEE, 1997, p. 71. 33 DEWSBURY, 1990; e WILSON, 2002.

Impulso, Piracicaba, 15(36): 87-102, 2004 95


002301_impulso_36.book Page 96 Thursday, July 22, 2004 4:20 PM

para a humanidade e que os pesquisadores são in- O objetivo do ALF é amedrontar os pesqui-
sensíveis. Freqüentemente, adotam uma forma sadores para limitar a investigação científica. É
bastante agressiva de atuação, ultrapassando os li- comum imaginar que atos de terrorismo contra
mites da legalidade. laboratórios e centros de pesquisa são realizados
Os defensores dos direitos dos animais po- por pessoas ingênuas ou desinformadas. Puro en-
dem ser alocados em dois grupos. O primeiro é gano: os ativistas são pessoas bem instruídas, so-
composto por scholars, políticos verdes e pessoas fisticadas em seus hábitos e sabem manipular
que atuam, por meio de procedimentos civiliza- com maestria as informações veiculadas na im-
prensa. Cometem atos repudiáveis sob vários as-
dos, em prol dos animais ou defendem causas
pectos: são antidemocráticas, uma vez que im-
ecologicamente corretas que beneficiam indistin-
plantam o terror por meio de atos ilegais e não le-
tamente os animais. O segundo grupo é o mais
vam em conta a real importância da investigação
problemático, pois seus membros adotam proce-
científica para o bem-estar da população, extra-
dimentos ilegais para defender aquilo que julgam
polam os limites razoáveis e colocam os animais
correto. Com efeito, os grupos Animal Liberation em pé de igualdade com os humanos ou, às vezes,
Front (ALF) e People for the Ethical Treatment até mesmo num plano superior.
of Animal (PETA) foram criados em 1981-1982,
Os ativistas do ALF e do PETA pregam que
nos EUA, e têm um longo histórico de atentados
a pesquisa científica envolvendo uso de animais é
terroristas (bombas, incêndios, queima de docu- absolutamente desprovida de sentido, que os pes-
mentos e libertação de animais criados em labo- quisadores são cruéis e pouco fazem, dada a sua
ratório, independentemente de fazer parte da insensibilidade, para minimizar o sofrimento dos
fauna local ou ter condições de sobrevivência em animais. Tal julgamento é incorreto e se vale de
liberdade). Por conta do considerável nível de pe- pressupostos facilmente refutáveis, fruto de um
riculosidade do ALF, esse grupo é classificado viés perceptivo ou de uma atitude mal-intencio-
pelo Federal Bureau of Investigations (FBI/EUA) nada a respeito de atividades contrárias às suas
como um dos dez mais perigosos em atuação no idéias. Todavia, importa ressaltar que essa rejeição
solo norte-americano.34 não é generalizada e que o nível de rejeição apa-
A análise da palavra front (ou fronte, no rece mais forte para as pesquisas realizadas em la-
nosso idioma) ajuda a compreender a filosofia do boratório ou aquelas que envolvem manipulação
ALF, pois ela é igualmente utilizada para designar experimental – estudos naturalísticos ou de cam-
uma área envolvida em conflito bélico ou uma po acabam ignorados por esses grupos ou não
parte de um agrupamento em posição avançada são seus alvos preferenciais. Se o pesquisador re-
nos combates. Front parece ter um significado es- aliza seus estudos com primatas ou carnívoros,
pecial para os militares, pois eles usam a palavra deve se cercar de cuidados extremos; se os estu-
em sua forma original, sem o devido aportugue- dos são feitos com insetos, o único fator que nor-
samento para fronte. O vocábulo também é em- teia o manejo dos animais é a consciência do pes-
pregado como sinônimo de face ou testa, mas a quisador de que ele está lidando com seres vivos.
maneira de o Animal Liberation Front atuar não Os ativistas pelos direitos dos animais atu-
sugere essa direção semântica. Grupos semelhan- am fortemente dentro das universidades, mas são
tes também usam palavras emprestadas do voca- extremamente tímidos no tocante aos outros se-
bulário militar para designar suas ações, como tores da atividade humana que envolvem explo-
Animal Rights Militia, que enviava cartas-bom- ração dos animais. As universidades privilegiam
as múltiplas opiniões, são livres e abertas e tais
bas a políticos, na Inglaterra.35
peculiaridades as tornam o nicho ecológico ideal
34 BLUM, 1994.
para o surgimento e a irradiação de tais idéias – a
35 Cf. nos dicionários os significados de militia/milícia. invasão de um laboratório de pesquisa muitas ve-

96 Impulso, Piracicaba, 15(36): 87-102, 2004


002301_impulso_36.book Page 97 Thursday, July 22, 2004 4:20 PM

zes é vista como resultante da livre expressão de os princípios para seis Rs (reason, responsability,
idéias ou manifestação de um espírito libertário, reduction, refinement, replacement e research, ou
mas se algo equivalente for realizado numa pro- integração de conhecimentos derivados de pes-
priedade particular, o resultado, sem dúvida algu- quisas clínicas e experimentais ou básicas e apli-
ma, envolve processo criminal ou encarceramen- cadas), com várias subdivisões (respect all ani-
to dos ativistas. mals, re-education in new techniques, review of
A mudança nos procedimentos científicos protocols, routine testings, reward animals when
envolvendo animais de laboratório foi influenciada possible etc.).36
pela publicação, em 1959, do livro Principles of A minimização do sofrimento dos animais
Humane Experimental Technique, dos pesquisa- não é tão simples quanto parece, pois revela-se
dores W. M. S. Russel (zoologista) e R. L. Burch difícil definir e quantificar essa variável – na maio-
(microbiologista). Segundo esses autores, os ria das vezes, o julgamento é subjetivo ou ocorre
princípios que deveriam nortear a investigação uma confusão terminológica a respeito de con-
científica teriam de se basear em três Rs: replace- ceitos como sofrimento, desconforto, dor ou ansie-
ment (substituição dos experimentos com ani- dade.37 Entretanto, o coeficiente de eticidade de
mais pelos realizados in vitro), reduction (simples um experimento pode ser conhecido com a ado-
redução do número de animais por meio de tes- ção da fórmula proposta por Porter.38 Esse autor
tes estatísticos mais sofisticados) e refinement elaborou um conjunto de perguntas cuja pontua-
(aperfeiçoamento de técnicas experimentais para ção final vai de oito (índice mínimo) a 40 (índice
minimizar a dor e o desconforto causado aos ani- máximo, experimento devendo ser evitado ou os
mais). O princípio dos três Rs influenciou bas- procedimentos, reformulados) e envolve oito
tante os procedimentos nos biotérios e laborató- perguntas, por exemplo, “Dor que poderia ser
rios, mas a sua aplicabilidade é muito restrita. provocada?”, com as seguintes respostas: nenhu-
Inúmeras questões surgem: experiências in vitro ma (valor 1), mínima ou superficial (valor 2),
podem substituir todas as formas de experiências? moderada (valor 3), considerável (valor 4) e se-
E as pesquisas que envolvem o registro de rea- vera (valor 5, máximo). Comumente, o que ima-
ções complexas, tal como a atividade cerebral ou ginamos ser dor é apenas uma inferência ou in-
o comportamento? A redução do número de ani- terpretação do que julgamos ser desconforto, to-
mais não interfere negativamente na qualidade de mando por base nossa própria experiência. No
análise dos resultados? Levada ao extremo, a re- lado oposto, pessoas bem-intencionadas propor-
dução não acarretaria a substituição da pesquisa cionam tratamentos humanizados aos animais, le-
experimental pela técnica de estudo de casos? No vando em conta o que elas próprias julgam ser
que diz respeito ao refinamento experimental, importante, mas não exatamente de acordo com
como julgar o que deve ser refinado? A con- a natureza deles.
clusão a posteriori de que algo merecia ser refina- A experimentação científica envolvendo
do tem alguma utilidade? animais obedece a alguns critérios. Em primeiro
A pesquisa in vitro não substitui aquela que lugar, é necessário o pesquisador ter um controle
visa a compreender um sistema inteiro ou o com- preciso sobre as variáveis que atuam sobre a es-
portamento do organismo. As técnicas de biolo- pécie em estudo, de forma que uma pequena ma-
gia molecular permitem, num primeiro momen- nipulação nos procedimentos possa ser associada
to, a redução do uso de animais na investigação com uma mudança no comportamento ou no
científica, mas também lançam novos problemas funcionamento de um órgão. Em segundo lugar,
e ampliam os horizontes da pesquisa biomédica. para realizar tal associação com segurança, a
O princípio dos três Rs é importante, pois pro-
36 ROWAN & GOLDBERG, 1995.
vocou uma reflexão acerca dos procedimentos de 37 Cf. BATESON, 1991; FLECKNELL, 1994; e ROWAN, 1995.
pesquisa – com efeito, alguns autores ampliaram 38 PORTER, 1992.

Impulso, Piracicaba, 15(36): 87-102, 2004 97


002301_impulso_36.book Page 98 Thursday, July 22, 2004 4:20 PM

amostra deve ser representativa e os animais não em torno de 17 milhões a 22 milhões, menos que
podem estar doentes ou mal alimentados – se o 1% do total abatido para consumo humano –
objetivo é estudar os efeitos da desnutrição ou o lembrando que cerca de 85% são camundongos e
desenvolvimento de uma doença, obviamente ratos, especialmente criados para o uso nas pes-
outras variáveis precisam ser controladas. Tercei- quisas científicas.42
ro, o número de animais utilizados nos experi- Além disso, é importante ressaltar que os
mentos não deve ser muito grande nem muito animais utilizados na investigação científica nas-
baixo, mas suficiente para permitir uma análise ceram e foram criados em laboratórios, são espé-
estatística e uma conclusão segura. Por último, a cies de pequeno porte e apresentam certas carac-
escolha da espécie não é aleatória, mas feita de terísticas físicas e comportamentais não observa-
acordo com a natureza da investigação científica, dos nos animais selvagens. O exame da legislação
pois alguns animais não são modelos adequados a e de normas editoriais de revistas científicas in-
certos experimentos (por exemplo, o uso de ro- ternacionais (referente aos EUA, Canadá e Euro-
edores em estudos sobre a aquisição de habilida- pa) revela que os próprios pesquisadores impõem
des complexas é muito restrito, porém, eles são restrições ao uso indiscriminado e não-justifica-
extremamente úteis em testes de medicamentos). do de animais em seus estudos. Os números exa-
O número de animais empregados em tos de animais utilizados na investigação científi-
investigações experimentais é diminuto e, com ca ou abatidos unicamente com o propósito de
efeito, vem decaindo com o passar do tempo, es- provisão alimentar variam muito, mas as estima-
pecialmente no que diz respeito às espécies de tivas reduzem mais ainda a proporção daqueles li-
grande porte (primatas, felinos e canídeos, entre gados ao avanço do conhecimento. Com efeito,
outros). Por outro lado, a literatura acerca dos di- uma quantificação mostrou que, nos EUA, 96,5%
reitos dos animais ou de idéias antivivisseccionis- dos animais são utilizados como alimento e ape-
tas tem aumentado muito desde 1970, tanto na nas 0,3% nas pesquisas científicas – proporcio-
Europa quanto nos EUA.39 Na psicologia compa- nalmente, isso equivale a dizer que a rejeição ao
rativa, nota-se um decréscimo na utilização de uso de animais nos laboratórios é 659 vezes maior
certas espécies de mamíferos (gatos, cães e coe- que no agrobusiness.43
lhos), que tem sido atribuída aos altos custos de
manutenção dos biotérios, a mudanças de ênfase
dessa matéria, que passou a se interessar por as- CONCLUSÃO: EXISTE FUTURO PARA A
pectos cognitivos, ou ao aumento da atuação dos EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL?
movimentos de defesa dos animais.40 O público leigo tem uma compreensão
Um levantamento realizado pela National precária a respeito dos avanços científicos e da
Academy of Science, nos Estados Unidos, indica importância da ciência – seu conhecimento ba-
que existem aproximadamente 110 milhões de seia-se em programas televisivos ou revistas de
animais de estimação (cães e gatos) dentro dos la- divulgação científica de baixa qualidade. As pes-
res de cidadãos americanos e mais de 5 bilhões soas fazem uso constante de medicamentos e não
são mortos para servir de alimento. Alguns cál- abrem mão de procedimentos cirúrgicos ou de
culos mais precisos apontam que um cidadão bri- vacinas para minimizar o desconforto e a dor. A
tânico consome, ao longo de sua vida, algo em exploração dos animais pode ser vista em filmes
torno de oito vacas, 36 porcos, 36 ovelhas e 550 de grande sucesso, circos, algumas práticas sociais
aves.41 Por outro lado o, montante de animais (rodeios, touradas, vaquejadas ou exposições
utilizados na investigação científica é estimado agropecuárias), sem que isso cause maiores cons-

39 MATFIELD, 1995. 42 AMERICAN ASSOCIATION FOR THE ADVANCEMENT


40 VINEY et al., 1990. OF SCIENCE, 1991.
41 PATON, 1993. 43 NICOLL & RUSSEL, 1990.

98 Impulso, Piracicaba, 15(36): 87-102, 2004


002301_impulso_36.book Page 99 Thursday, July 22, 2004 4:20 PM

trangimentos. Assim, também, os animais são instrutores são culpados disso, pois explicam ina-
úteis ao homem e a experimentação científica re- dequadamente as razões dos procedimentos ex-
presenta apenas a forma mais racional e reduzida perimentais ou são negligentes e arrogantes dian-
de uso. É uma via de mão dupla, uma vez que os te das dúvidas dos alunos. Esses apresentam difi-
estudos feitos com animais beneficiam o ser hu- culdades para entender a lógica e a utilidade das
mano e vice-versa. aulas práticas ou não conseguem extrapolar os
A rejeição aos procedimentos da pesquisa conhecimentos oriundos da pesquisa básica para
científica não revela apenas o amor aos animais, o trabalho rotineiro do profissional. Com fre-
mas também uma aversão ao conhecimento qüência, o leigo inteligente também exibe essa di-
científico (cientofobia) ou ao progresso tecnoló- ficuldade e cabe aos professores e instrutores
gico (tecnofobia). A ciência é um empreendi- compreendê-lo naturalmente e caprichar mais em
mento complexo, de modo que as leis e as tra- suas aulas de laboratório.
dições culturais não acompanham o avanço do O uso de animais nas aulas práticas e na
conhecimento; algumas novidades científicas investigação científica é algo a ser analisado com
simplesmente perturbam as pessoas – como clo- cuidado nesse contexto, pois laboratórios e linhas
nagem de seres vivos, fertilização in vitro, trans- de pesquisa podem ser fechados da noite para o
plante de órgãos e tecidos ou terapia genética. Os dia, em razão do proselitismo ideológico. Da
cientistas adotam uma linguagem muito especí- mesma forma, as pessoas que abominam a tortura
fica e as revistas científicas são inacessíveis ao pú- dos animais deveriam rejeitar os frutos da ativida-
blico leigo ou mesmo a cientistas de outra área de de científica (e.g., vacinas, antibióticos e todo o
atuação.44 Nesse sentido, alguns pensadores exa- conhecimento disponível acerca de procedimen-
geram e mostram um quadro extremamente ne- tos cirúrgicos e doenças neurodegenerativas).
buloso para a atividade científica: “o empreendi- Agir de modo seletivo revela ingenuidade, senti-
mento científico é ameaçado por tecnófobos, ati- mentalismo, falta de informação ou puro cinismo
vistas dos direitos dos animais, religiosos funda- pragmático.
mentalistas e, mais importante, por políticos Como aponta Carruthers, amar os animais,
oportunistas. Obstáculos sociais, políticos e eco- apreciar sua beleza plástica e enorme variedade,
nômicos tornarão cada vez mais difícil a atividade defender espécies ameaçadas de extinção e prezar
científica, especialmente no caso da ciência pu- a convivência com animais domésticos são atitu-
ra”.45 Tal fenômeno revela um interessante para- des plenamente racionais e humanas.46 Entretan-
doxo, pois a geração mais beneficiada com os to, não existem argumentos morais para a proi-
avanços da experimentação científica é a que mais bição do uso de animais na investigação científica
prega a limitação ou a redução do uso de animais ou como forma de alimento. Com efeito, esse fi-
nesse tipo de atividade. lósofo dedicou um livro ao tema, iniciando-o
A necessidade de experimentação científica com o seguinte argumento:
é maior nos dias de hoje e tende a aumentar com
minha percepção indica que a justificativa
a descoberta de novas doenças e com o fortaleci- para a valorização moral dos animais é fra-
mento de vírus e bactérias às drogas já existentes. ca e que a posição contrária é muito mais
Alguns alunos de graduação de cursos da área de consistente. Com efeito, considero a pre-
ciências biológicas (medicina, nutrição, farmácia ocupação popular com os direitos dos
e psicologia, particularmente) demonstram, não animais, na nossa cultura, mais um reflexo
raro, certa aversão ao uso de animais em aulas da decadência moral. Tal como Nero, que
práticas e treinamentos. Muitas vezes, os próprios tocava sua harpa enquanto Roma ardia
em chamas, muitas pessoas no Ocidente
44 HAYES, 1992.
45 HORGAN, 1996, p. 5. 46 CARRUTHERS, 1992.

Impulso, Piracicaba, 15(36): 87-102, 2004 99


002301_impulso_36.book Page 100 Thursday, July 22, 2004 4:20 PM

lamentam a sorte dos filhotes de focas e clara, mesmo para o próprio autor da investiga-
cormorões enquanto seres humanos pas- ção, e isso pode propiciar conflitos e julgamen-
sam fome ou são escravizados em outras tos incorretos sobre o papel da ciência. Assim,
partes do mundo.47
uma solução para evitar possíveis embates não
A preocupação com o bem-estar dos ani- poderia ser outra: ampliar o debate sobre o te-
mais é legítima e os movimentos sociais revelam ma, mostrando ao público leigo que o uso de
mudanças importantes nessa área; a tendência é animais na investigação científica é necessário e
a ampliação desse tipo de preocupação e da for- imprescindível e, ao mesmo tempo, propiciar
ma de atuação dos movimentos defensores dos condições para que os procedimentos cientí-
animais. O público leigo é mais imediatista e
ficos se tornem mais eficientes e os cientistas,
sempre está preocupado com a relevância social
mais atentos ao bem-estar dos animais. Tal dis-
de uma pesquisa; quando se trata de uma pes-
cussão deve ser realizada com cuidado, de modo
quisa aplicada, sua importância pode ser mais fa-
cilmente captada. Por outro lado, a aplicabilida- a evitar o proselitismo político, o radicalismo es-
de de uma descoberta científica nem sempre é tudantil e a inspiração de medidas institucionais
que atendem ao espírito politicamente correto
47 Ibid., p. XI (tradução do autor). (mas cientificamente incorreto).

Referências Bibliográficas
ALCORÃO Sagrado. Trad. Samir el Hayek. São Bernardo do Campo: Centro de Divulgação do Islam para a América
Latina, 1989.
AMERICAN ASSOCIATION FOR THE ADVANCEMENT OF SCIENCE. “Science, medicine, and animals”. Current Con-
tents, Nova York, 39 (30): 3-12, sep./1991.
BATESON, P.“Assessment of pain in animals”.Animal Behaviour, Nottingham 42: 827-839, 1991.
BOTTING, J.H. & MORRISON, A.R. “Animal research is vital to medicine”. Scientific American, Nova York, 276 (2): 67-
69, 1997.
BLUM, D. The Monkey Wars. New York/Oxford: Oxford University Press, 1994.
CARRUTHERS, P. The Animals Issue: moral theory in practice. Cambridge: Cambridge University Press, 1992.
DEAN, M.“How to stop the sun going around the earth”.The Lancet, Londres, 336: 615-616, 1990.
DEWSBURY, D.A. “Animal psychology in journals, 1911-1927: another look at the snark”. Journal of Comparative
Psychology, Washington, 112 (4): 400-405, 1998.
______.“Early interactions between animal psychologists and animal activists and the founding of the APA com-
mittee on precautions on animal experimentation”. American Psychologist, Washington, 45 (3): 315-327,
1990.
DIEM, S.J. et al. “Cardiopulmonary resuscitation on television”. New England Journal of Medicine, Boston, 334:
1.578-1.582, 1996.
DURANT, J.R. et al.“The public understands of science”.Nature, Londres, 340: 11-14, 1989.
“THE ESSAYS of Michel Eyquem de Montaigne”.The Great Books of Western World. Chicago: Encyclopaedia Britan-
nica, Inc., v. 25, 1952.
EVANS, G. & DURANT, J. “Understanding of science in Britain and the USA”. In: JOWELL, R. et al. (eds.). British Social
Attitudes. London: Gower Publishing Co., 1989.
FLECKNELL, P.A.“Refinement of animal use – assessment and alleviation of pain and distress”.Laboratory Animals,
Londres, 28: 222-231, 1994.
GRABAU, J.H.“Animal issues and society”.Toxicology Letters, Amsterdam, 68: 51-57, 1993.

100 Impulso, Piracicaba, 15(36): 87-102, 2004


002301_impulso_36.book Page 101 Thursday, July 22, 2004 4:20 PM

HAYES, D.P.“The growing inaccessibility of science”.Nature, Londres, 356: 739-740, 1992.


HERZOG, H.A. & GALVIN, S. “Common sense and the mental lives of animals: an empirical approach”. In:
MITCHELL, R.W. et al. (eds.). Anthropomorphism, Anedoctes, and Animals. Albany: Suny Press, p. 237-253,
1997.
HOLY BIBLE, new living translation. Wheaton: Tyndale House Publishers, Inc., 1996.
HORGAN, L. The End of Science. Reading: Helix Books & Addison-Wesley Co., 1996.
HORTON, L. “Changing cultural and political attitudes toward research with animals”. In: EDER, G. et al. (eds.). The
Role of the Chimpanzee in Research. Basel: Karger, p. 7-17, 1994.
KING, D.B. & VINEY, W. “Modern history of pragmatic and sentimental attitudes toward animals and the selling of
comparative psychology”.Journal of Comparative Psychology, Washington, 106 (2): 190-195, 1992.
MATFIELD, M.“Talk to the people”.Trends in Neurosciences, Oxford, 26 (3): 166-167, 2002.
______.“The public debate about animal experimentation”.ATLA, Nottingham, 23: 312-316, 1995.
MUKERJEE, M.“Trends in animal research”.Scientific American, Nova York, 276 (2): 70-77, 1997.
NELKIN, D. “An uneasy relationship: the tensions between medicine and the media”. The Lancet, Londres, 347:
1.600-1.603, 1996.
NICOLL, C.S. & RUSSELL, S.M. “Analysis of animal rights literature reveals the underlying motives of the move-
ment: ammunition for counter offensive by scientists”.Endocrinology, Chevy Chase, 127: 985-989, 1990.
PAIXÃO, R.L. & SCHRAMM, F.R. “Ethics and animal experimentation: what is debated?”.Cadernos de Saúde Pública,
Rio de Janeiro, 15 (1): 99-110, 1999.
PATON, E. Man & Mouse: animals in medical research. Oxford: Oxford University Press, 1993.
PLOUS, S. “Signs of change within the animal rights movement: results from a follow-up survey of activists”.Jour-
nal of Comparative Psychology, Washington, 112 (1): 48-54, 1998.
PORTER, D.G.“Ethical scores for animal experiments”.Nature, Londres, 356 (12): 101-102, 1992.
RASMUSSEN, J.L. et al. “Human’s perceptions of animal mentality: ascriptions of thinking”.Journal of Comparative
Psychology, Washington, 107 (3): 283-290, 1993.
ROWAN, A.“The third R: refinement”.ATLA, Nottingham, 23: 332-346, 1995.
ROWAN, A. & GOLDBERG, A.“Responsible animal research: a riff of Rs”.ATLA, Nottingham, 23: 306-311, 1995.
SINGER, P. Vida Ética. Trad. Alice Xavier. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 2002.
______. Animal Liberation. New York: Avon Books, 1975.
TAYLOR, A.“‘Pig sticking princes’: royal hunting, moral outrage, and the republican opposition to animal abuse in
nineteenth and early twentieth-century Britain”.History, Exeter, 89 (293): 30-48, 2004.
THE PHILOSOPHICAL Writings of Descartes. Trans. by Cottingham, Stoothoff & Murdoch. Cambridge: Cambridge
University Press, 1985, v. 1.
TORÁ, a lei de Moisés. São Paulo: Sêfer, 2001.
VINEY, W. et al. “Animal research in psychology: declining or thriving?”. Journal of Comparative Psychology,
Washington, 104 (4): 322-325, 1990.
WILSON, D.A.H. “Animal psychology and ethology in Britain and the emergence of professional concern for the
concept of ethical cost”. Studies in History and Philosophy of Biological and Biomedical Sciences, Cambridge,
33: 235-261, 2002.
WILSON, E.O. Naturalist. New York: Allen Lane and The Penguin Press, 1994.

Impulso, Piracicaba, 15(36): 87-102, 2004 101


002301_impulso_36.book Page 102 Thursday, July 22, 2004 4:20 PM

Dados do autor
Doutor em psicologia experimental e professor
titular do Departamento de
Psicologia/Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis/SC.

Recebimento artigo: 2/fev./04


Consultoria: 6/fev./04 a 8/mar./04
Aprovado:18/mar./04

102 Impulso, Piracicaba, 15(36): 87-102, 2004

Você também pode gostar