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Análise de indicadores éticos do uso de animais ... Feijó AGS et al.

ARTIGO ORIGINAL

Análise de indicadores éticos do


uso de animais na investigação
científica e no ensino em uma
amostra universitária da Área da
Saúde e das Ciências Biológicas
Analysis of ethics indicators of animal use
in scientific investigation and education
among universitary sample from Health
Area and Biological Sciences

ANAMARIA G. S. FEIJÓ1
ALINE SANDERS2
ALINE DUTRA CENTURIÃO2
GABRIELA SANTOS RODRIGUES3
CARLA H. A. SCHWANKE4

RESUMO ABSTRACT
Objetivos: investigar, em uma amostra universi- Aims: To investigate, in an academic sample, ethical
tária, indicadores éticos envolvidos no uso de animais indicators involved in the use of animals on research and
na pesquisa e no ensino. education.
Métodos: foi distribuído um questionário aos Methods: A questionnaire was applied to students in
alunos do primeiro semestre dos cursos da área da class from the first semester of health-related courses
saúde (Medicina, Enfermagem, Odontologia, Nutri- (Medicine, Nursing, Dentistry, Nutrition, Physiotherapy,
ção, Fisioterapia, Farmácia e Educação Física) e das Pharmacy and Physical Education) and Biological Sciences
Ciências Biológicas para preenchimento em aula. As courses. The variables investigated were: age, gender,
variáveis investigadas foram: idade, gênero, curso, course, indicators of interest for the “animal ethics” subject,
indicadores de interesse pelo tema “ética animal” e ethical indicators of the use of animals on scientific research
indicadores éticos do uso de animais na pesquisa and on education. Data were typed in and analyzed through

1 Bióloga, doutora em Filosofia – ênfase em Bioética, coordenadora do Laboratório de Bioética e de Ética Aplicada a Animais da Faculdade
de Biociências da PUCRS.
2 Bióloga, pesquisadora do Laboratório de Bioética e de Ética Aplicada a Animais da Faculdade de Biociências da PUCRS pelo programa
PEC-Bio.
3 Acadêmica de Ciências Biológicas, bolsista BPA do Laboratório de Bioética e de Ética Aplicada a Animais da Faculdade de Biociências
da PUCRS.
4 Médica geriatra, doutora em Gerontologia Biomédica, professora do Programa de Pós-Graduação em Gerontologia Biomédica,
pesquisadora do Laboratório de Bioética e de Ética Aplicada a Animais da Faculdade de Biociências da PUCRS.

10 Scientia Medica, Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 10-19, jan./mar. 2008


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científica e no ensino. Os dados foram digitados e the SPSS version 11.5 statistic software. Results were
analisados no programa estatístico SPSS versão 11.5. expressed by descriptive statistics.
Os resultados foram apresentados de forma descritiva. Results: a total of 363 students answered the
Resultados: um total de 363 alunos respondeu aos questionnaires. The age average was 19.59±3.17 years old
questionários. A média de idade foi 19,59±3,17 anos, (69.3% female). Most of the students had some previous
sendo 69,3% do gênero feminino. A maioria dos knowledge about the subject; have not participated in
alunos pesquisados tinha algum conhecimento prévio practical classes with animals in their undergraduate
sobre o tema; não havia participado de aulas práticas courses, but have participated still in High School; would
com animais na graduação, mas havia participado take into consideration the pain/suffering of guinea-pigs,
ainda no ensino médio; levaria em consideração a their well-being and their number as much in education as
dor/sofrimento das cobaias, o bem-estar e o número in research; and are interested on the subject and would
delas tanto no ensino quanto na pesquisa; têm participate on courses about this theme. The students very
interesse pelo tema e participaria de um curso de often placed themselves in favor of animal substitution in
extensão sobre o mesmo. Com grande freqüência, os education activities.
alunos posicionaram-se a favor da substituição dos Conclusions: students are sensitized by the use of
animais nas atividades de ensino. animals on research and education. These findings are
Conclusões: os alunos são sensíveis quanto à utiliza- important in the context of animal ethics, whereas their
ção de animais na pesquisa e no ensino. Estes achados disclosure may aid the contemplation about the ethically
são importantes no contexto da ética animal, sendo que proper use of sentient beings.
sua divulgação poderá subsidiar a reflexão sobre a KEYWORDS: ANIMAL CARE COMMITTEES; ETHICS,
utilização eticamente adequada de seres sensientes. RESEARCH; ANIMAL RIGHTS; ANIMAL EXPERIMENTATION;
ANIMAL TESTING ALTERNATIVES; ANIMAL WELFARE/ethics;
DESCRITORES: COMITÊS DE CUIDADO ANIMAL; ÉTICA ETHICS COMMITTEES, RESEARCH; BIOETHICS.
EM PESQUISA; DIREITO DOS ANIMAIS; EXPERIMENTAÇÃO
ANIMAL; ALTERNATIVAS DE TESTES COM ANIMAIS; BEM-
ESTAR DO ANIMAL/ética; COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA;
BIOÉTICA.

INTRODUÇÃO As questões sobre quem ou o que tem status


moral são extremamente importantes e úteis na
As situações de conflito vivenciadas em nosso determinação de uma tomada de posição por
cotidiano provém, em parte, do grande desenvol- parte tanto dos investigadores quanto dos pro-
vimento científico e tecnológico de nossa era. fessores.3,4 O tratamento dos animais nas inves-
Nesse cenário, ganha espaço a Bioética, pois tigações biomédicas é uma das maneiras con-
permite o diálogo multidisciplinar e a reflexão cretas de demonstrar a defesa de determinadas
plural sobre essas situações conflitantes. Mais idéias dos pesquisadores de forma individual,
especificamente, a Animal Ethics (traduzida como ou da sociedade científica de forma coletiva. E
ética animal), inserida na Bioética, aparece como a maneira como os animais são utilizados para
uma das áreas do conhecimento que também o ensino das ciências pelos docentes corro-
pede uma reflexão multidisciplinar sobre os bora isto.5
limites de atuação do ser humano para com os As discussões abertas em relação ao uso
animais não-humanos.1 indiscriminado de animais, tanto na ciência
O uso de animais para aquisição de conhe- quanto na educação, impulsionou também a
cimento científico vem acompanhando o de- concepção e criação de comitês institucionais de
senvolvimento da ciência desde a Grécia antiga. uso e cuidado de animais, a fim de subsidiar
Entretanto, a utilização abusiva dos animais por cientistas, professores, estudantes e o público em
muitos representantes da comunidade científica geral quanto ao manejo desses seres sensientes
vem motivando discussões de caráter ético e de uma forma moralmente correta. Um comitê
científico, envolvendo profissionais oriundos da de ética é entendido e aceito como um corpo
área biomédica e afins, assim como da filosofia interdisciplinar de pessoas que buscam ensinar,
moral, que buscam garantir ações eticamente prestar consultoria ou propor normas
adequadas para com esses seres sensientes e institucionais no que tange aos aspectos éticos.6,7
estabelecer limites para essa utilização.2 Comitês de ética institucionais ao uso de
Muitas questões norteiam a postura dos seres animais, nos moldes dos comitês que se dedicam
humanos em relação aos animais não-humanos. às pesquisas com seres humanos, precisam ser

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formados por grupo multidisciplinar, a fim de alcançado a partir de uma política de capacitação
reduzir o conflito de interesses, a coerção e a continuada de seus membros;6,7 2) o conhe-
pressão para aprovação dos seus protocolos de cimento das concepções dos vários segmentos
investigação ou planos de aula por parte dos que constituem a instituição em relação ao tema
pesquisadores e professores, respectivamente no em questão (no caso, animais) que permitirá a
âmbito de atuação desses órgãos.8 A mais im- proposição de ações educativas concretas por
portante função de um comitê de ética orientado parte do comitê – o que se consegue através da
para a utilização de animais seria a educativa, análise de indicadores coletados entre com-
exercida através da avaliação de procedimentos ponentes desses segmentos, em pesquisas de
para com os animais, pesando o avanço do campo.
conhecimento ou o valor educacional de uma Dentro desta perspectiva, o presente estudo
técnica contra o impacto destes procedimentos visou investigar, em uma amostra de alunos
em termos de dor e sofrimento, confinamento e universitários da área da Saúde e das Ciências
outras situações de estresse ou morte do ser vivo.9 Biológicas da Pontifícia Universidade Católica do
A presença atuante de um comitê de ética Rio Grande do Sul (PUCRS), indicadores éticos
institucional ao uso de animais é primordial para do uso de animais na pesquisa científica e na
nortear as condutas eticamente adequadas de educação. Adicionalmente, visou fornecer subsí-
todos os profissionais envolvidos no manuseio dios ao Comitê de Ética ao Uso de Animais
de animais dentro da instituição.10 Quando o uso (CEUA) institucional.
de animais não está oficialmente legislado, as
funções desse órgão ampliam-se, pois será o MÉTODOS
responsável pelo estabelecimento das políticas
institucionais que assegurarão a observação Para este estudo transversal e descritivo
de normas éticas (limites) ao trabalho com os foram entrevistados estudantes dos cursos da
animais, atuando como orientador de ações Área da Saúde e das Ciências Biológicas da
moralmente adequadas para com os mesmos.11 PUCRS. Foram convidados a participar da
Países em desenvolvimento, como o Brasil, pesquisa todos os alunos do primeiro nível
praticamente não implementaram ainda um (semestre) dos cursos de Medicina, Farmácia,
debate propositivo sobre as questões éticas Nutrição, Educação Física, Enfermagem, Odon-
referentes aos animais e sobre a elaboração e tologia, Fisioterapia e Ciências Biológicas. As
implementação de linhas de conduta a serem variáveis investigadas foram idade, gênero, curso
defendidas pelos poucos comitês de ética espe- de graduação, indicadores de interesse pelo tema
cíficos existentes no país. A ampliação do diálogo “ética animal” e indicadores éticos do uso de
com os diversos segmentos envolvidos no pro- animais na pesquisa cientifica e no ensino.
cesso (utilização de animais) deve ser propiciada Foi feito contato com o Diretório Central dos
pelo comitê, que assumiria, assim, seu papel Estudantes e com os diretores das faculdades
educativo para o uso eticamente adequado dos envolvidas e, posteriormente, foram distribuídos
animais dentro da instituição que o criou.11 Para questionários para o levantamento das variáveis,
que investigações que subsidiem o debate a ser por bolsistas do Laboratório de Bioética e de Ética
proposto pelos comitês de ética ao uso de animais Aplicada a Animais da Faculdade de Biociências
sejam implementadas, existe a necessidade de da PUCRS (FaBio), a professores previamente
estudos que avaliem a visão de setores da contatados e conhecedores da pesquisa. Os
sociedade que estão mais diretamente envolvidos professores fizeram, então, a distribuição e o
com o uso de animais na ciência e educação, recolhimento dos questionários junto aos alunos,
como é o caso da comunidade universitária. sendo que o preenchimento foi feito em sala de
A importância dos comitês de ética insti- aula.
tucionais ao uso de animais em países como o Os dados foram digitados e analisados por
Brasil é inquestionável, pois eles nortearão as bolsistas do laboratório de Bioética e de Ética
condutas eticamente adequadas dos pesquisa- Aplicada a Animais da FaBio, utilizando o
dores e docentes em relação aos animais não- programa estatístico SPSS versão 11.5. Os re-
humanos. É imprescindível, entretanto, que esses sultados foram apresentados de forma descritiva.
órgãos definam suas diretrizes a partir de duas O estudo seguiu as recomendações da Re-
vertentes: 1) a clarificação dos princípios que solução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde
nortearão, filosoficamente, as decisões – o que é e foi aprovado pela Comissão Científica da FaBio

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e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS. Quanto à distribuição dos alunos por curso,
Não houve assinatura de termo de consenti- 19,8% (72 alunos) estavam matriculados no curso
mento livre e esclarecido, pois foi entregue um de Medicina, 16,5% (60) nas Ciências Biológicas,
questionário cujo cabeçalho trazia as explicações 11,8% (43) na Nutrição, 11,8% (43) na Odon-
sobre o projeto, os objetivos do mesmo e demais tologia, 10,5% (38) na Fisioterapia, 10,2% (37) na
informações. A aceitação de participação dos Enfermagem, 9,9% (36) na Farmácia e 9,4% (34)
alunos foi a devolução do instrumento preen- na Educação Física.
chido. Com objetivo de trabalhar o processo do A maioria dos alunos pesquisados mostrou
consentimento informado, foram realizadas conhecimento prévio sobre o tema “ética ani-
reuniões com os professores que entregaram os mal”, excetuando-se os alunos dos cursos de
questionários. Farmácia e de Nutrição. Em relação ao uso de
cobaias em aulas práticas, a maioria dos alunos
RESULTADOS respondentes não havia ainda tido essa expe-
riência, excetuando-se os da Medicina (98,6%) e
O questionário foi preenchido e devolvido por da Educação Física (100%). Os alunos dos cursos
363 universitários. A média da idade dos alunos foi de Biologia, Nutrição e Enfermagem foram os
de 19,59±3,17 anos, sendo que 69,3% eram do que menos participaram de aulas práticas com
gênero feminino, o qual predominou em todos animais: 23,7%, 23,3% e 24,3%, respectivamente
os cursos, excetuando-se o de Educação Física. (Tabela 1).

TABELA 1 – Posicionamento dos alunos do primeiro nível das áreas da Saúde e das Ciências Biológicas quanto
a diferentes aspectos de utilização de animais no ensino e na pesquisa.
Continua
Biologia Ed. Física Enfermagem Farmácia Fisioterapia Medicina Nutrição Odontologia Total
n=60 n=34 n=37 n=36 n=8 n=72 n=43 n=43 n=363
Você tem algum
conhecimento
prévio sobre o
tema?
Sim (%) 75,4 52,9 51,4 37,5 50,0 83,3 46,5 67,4 61,8
Não (%) 24,6 47,1 48,6 62,5 50,0 16,7 53,5 32,6 38,2
Você participou de
aula prática onde
foram usados
animais?
Sim (%) 23,7 100,0 24,3 41,7 44,7 98,6 23,3 37,2 51,4
Não (%) 76,3 0 75,7 58,3 55,3 1,4 76,7 62,8 48,6
Na docência, os
animais poderiam
ser substituídos
por métodos
alternativos?
Sim (%) 61,4 32,4 51,4 34,3 42,1 27,8 54,8 48,8 43,9
Não (%) 24,6 35,3 18,9 28,6 42,1 56,9 14,3 27,9 33,0
Nunca pensou (%) 14,0 32,4 29,7 37,1 15,8 15,3 31,0 23,3 23,2
Você levaria em
conta a dor e
sofrimento dos
animais na
pesquisa?
Sim 89,8 64,7 81,1 83,3 76,3 90,3 81,4 81,4 82,6
Não 10,2 29,4 10,8 11,1 10,5 4,2 9,3 9,3 10,8
Nunca pensou 0 5,9 8,1 5,6 13,2 5,6 9,3 9,3 6,6
Você levaria em
consideração o
bem estar dos
animais na
pesquisa?
Sim 98,3 82,4 83,8 80,6 86,5 88,9 76,7 79,1 85,6
Não 0 8,8 5,4 5,6 5,4 4,2 0 7,0 4,2
Nunca pensou 1,7 8,8 10,8 13,9 8,1 6,9 23,3 14,0 10,2
Você levaria em
consideração o
número de animais
utilizados na
pesquisa?
Sim 3,1 82,4 75,7 88,6 86,8 93,1 90,5 92,9 88,8
Não 3,4 8,8 13,5 2,9 10,5 4,2 2,4 4,8 5,9
Nunca pensou 3,4 8,8 10,8 8,6 2,6 2,8 7,1 2,4 5,3

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TABELA 1 – Posicionamento dos alunos do primeiro nível das áreas da Saúde e das Ciências Biológicas quanto
a diferentes aspectos de utilização de animais no ensino e na pesquisa.
Conclusão
Biologia Ed. Física Enfermagem Farmácia Fisioterapia Medicina Nutrição Odontologia Total
n=60 n=34 n=37 n=36 n=38 n=72 n=43 n=43 n=363
Você levaria em
conta a dor e
sofrimento dos
animais no ensino?
Sim 98,3 61,8 89,2 80,6 86,5 88,9 90,5 85,7 86,6
Não 1,7 20,6 5,4 11,1 8,1 6,9 4,8 4,8 7,2
Nunca pensou 0 17,6 5,4 8,3 5,4 4,2 4,8 9,5 6,1
Você levaria em
consideração o
bem estar dos
animais no ensino?
Sim 78,0 64,7 70,3 44,4 75,7 69,0 67,4 67,4 68,1
Não 11,9 23,5 16,2 22,2 16,2 16,9 14,0 16,3 16,7
Nunca pensou 10,2 11,8 13,5 33,3 8,1 14,1 18,6 16,3 15,3
Você levaria em
consideração o
número de animais
utilizados no
ensino?
Sim 98,3 81,8 83,3 90,9 78,9 91,5 88,4 88,4 88,7
Não 1,7 9,1 5,6 0 15,8 4,2 4,7 2,3 5,1
Nunca pensou 0 9,1 11,1 9,1 5,3 4,2 7,0 9,3 6,2

Quanto ao local onde os alunos participaram alunos posicionou-se contrária à substituição


das aulas práticas com animais, foi constatado (Tabela 1).
que a maioria teve a aula na PUCRS, e que 24,3% Também na Tabela 1 estão demonstradas as
dos alunos já haviam utilizado animais em aulas respostas sobre dor e sofrimento dos animais,
práticas no ensino médio. Todos os alunos da bem-estar dos animais e o número de animais
Medicina e da Educação Física responderam que utilizados na pesquisa científica. A maioria dos
não haviam realizado essa atividade durante o alunos tem a percepção de que devem ser levados
ensino médio (Tabela 2). em consideração a dor e o sofrimento das cobaias
utilizadas. Os dados obtidos demonstram que a
TABELA 2 – Local onde o aluno participou de aula maioria dos alunos também se preocupa com o
prática onde foram utilizados animais. bem-estar dos animais e apresenta sensibilidade
em relação ao número de animais que devem ser
PUCRS
Colégio/ensino PUCRS + Outros usados nas pesquisas.
Cursos médio colégio locais
(%)
(%) (%) (%) Adicionalmente, na Tabela 1 estão demons-
Biologia 25,0 66,7 0 8,3
tradas as respostas sobre dor e sofrimento dos
animais, bem-estar dos animais e o número
Educação
Física
75,0 0 0 25,0 de animais utilizados, atualmente, no ensino.
Também a grande maioria dos alunos partici-
Enfermagem 50,0 50,0 0 0
pantes da pesquisa considera estes fatores.
Farmácia 23,1 53,8 7,7 15,4
Perguntados sobre o interesse na temática
Fisioterapia 7,1 64,3 21,4 7,1 ética animal, a maioria dos alunos respondentes
Medicina 76,5 0 0 23,5 demonstrou interesse na mesma (73,8%). Os
Nutrição 33,3 44,4 0 22,2 alunos mais interessados foram os da Biologia
Odontologia 15,4 69,2 15,4 0
(94,9%) e os que demonstraram menor interesse
foram os da Medicina (41,7%). Quando os alunos
Total 54,4 24,3 3,6 17,8
foram questionados sobre uma possível partici-
pação em um curso sobre o tema “ética animal”,
Nos cursos de Biologia, Nutrição, Enferma- um número considerável (56,1%) posicionou-se
gem e Odontologia, a maioria dos alunos po- como favorável, sendo que em alguns cursos
sicionou-se a favor da substituição de animais estes representavam a maioria (Biologia 93,2%,
por métodos alternativos no ensino. Contudo, Enfermagem 75,7%, Farmácia 66,7%, Fisioterapia
no curso de Medicina (56.9%) a maioria dos 55,3% e Odontologia 53,5%). Entretanto, os

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alunos dos cursos de Educação Física (67,6%), de animais em aulas práticas. Este dado é bas-
Medicina (70,0%) e Nutrição (55,8%), na sua tante significativo se levarmos em consideração
maioria, não demonstraram interesse em parti- a falta de unanimidade na área científica sobre o
cipar de cursos dessa natureza. uso de animais em atividades práticas de ensino,
demonstrada nas diferentes posições de reno-
DISCUSSÃO mados pesquisadores. Segundo Bird,14 práticas
com a utilização de animais vêm sendo criticadas
Os alunos que compõem a amostra da pre- por aqueles que acreditam que a formação
sente pesquisa freqüentavam o primeiro nível profissional na área biomédica começa pela
dos diversos cursos das áreas das Ciências discussão de valores éticos de responsabilidade
Biológicas e da Saúde. Sob esta perspectiva, as e respeito para com a vida por parte dos pro-
respostas podem refletir uma vivência universi- fessores, pois esses valores estão sendo incutidos
tária inicial sobre o tópico “ética animal” mas, na formação dos alunos.
sobretudo, a bagagem de conhecimento adqui- Muitos defendem uma educação mais atual e
rida na sua vivência prévia ao ingresso na responsável, onde simulações interativas são
instituição de ensino superior. uma forma de se alcançar este objetivo. Na área
A seguir discutiremos os dados levantados na da educação temos que levar em consideração o
pesquisa, conforme a seqüência das questões aspecto formativo do educando. Salientam Valk
apresentadas nos resultados: et al.15 que, se os estudantes se virem confron-
tados com o uso de animais durante sua formação
a) Você tem algum conhecimento prévio acadêmica, não serão capazes de desenvolver
sobre o tema? uma atitude equilibrada em relação aos animais
A maioria dos alunos respondentes afirma- na pesquisa.
ram ter esse conhecimento prévio. Porém, na Alguns, entretanto, defendem a utilização
análise individualizada por curso, a resposta da de animais no ensino. Einstein9 acredita que o
maioria dos alunos da Farmácia e Nutrição foi treinamento de futuros biólogos não pode ser
negativa. Entendendo que a mídia pode ter realizado em modelos alternativos, e sim em
auxiliado na transmissão de notícias referentes a animais. Diz a autora que esses estudantes
conflitos éticos envolvendo animais, levando a precisam aprender como desenhar projetos de
sociedade em geral a conhecer a temática em pesquisa e executá-los, e como desenvolver suas
pauta, pode-se destacar a posição de Tom habilidades manuseando animais e conhecen-
Regan,12 filósofo e deontologista contemporâneo. do sua variabilidade. Defende um ensino que
Regan critica a mídia, afirmando que esta só saliente os aspectos éticos do uso adequado de
dá ênfase a ações radicais de ativistas, como animais, porém acredita que Biologia, por exem-
explosão de bombas em laboratórios em protesto plo, é uma ciência essencialmente experimental
ao uso de animais na investigação científica, por e o entusiasmo e interesse dos alunos deve ser
exemplo. Porém, no Brasil, não se verifica, na mantido com o uso de animais nas aulas. Se-
imprensa em geral, apenas a preocupação com gundo Orlans,16 entretanto, um professor deve
notícias sensacionalistas. Como exemplo disso, sempre considerar o custo ético da atividade,
podemos citar a divulgação da defesa do bem- em uma aula prática que utilize animais não-
estar de animais destinados à alimentação hu- humanos.
mana (porcos e frangos), externada pelo promo-
tor Chatkin. Essa defesa poderá transformar-se c) Local onde o aluno participou de aula
prática com animais
em ação ajuizada se os produtores não imple-
mentarem as boas práticas de produção. A notícia Um fato que chama a atenção é que a maioria
foi amplamente divulgada nos órgãos de infor- dos alunos da Biologia, Farmácia, Fisioterapia e
mação, os quais deram espaço para posições a Odontologia participaram de aula prática com
favor e contra a decisão do promotor.13 animais ainda no ensino médio. Esta questão
alerta para a possibilidade de estar sendo con-
b) Você participou de aula prática onde foram trariada a Lei 6638 de 08 de maio de 1979 que,
usados animais? em seu Artigo 3º, estabelece que a vivissecção não
Pelos resultados encontrados, podemos ve- é permitida em estabelecimentos de ensino de 1º
rificar que, embora fossem alunos de primeiro e 2º graus e em quaisquer locais freqüentados por
nível, 51,4% já haviam tido experiência com uso menores de idade.17

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Outro fato que se destaca é que a maioria dos Medicine e Yale University School of Medicine, não
alunos que tiveram aulas práticas, as tiveram na utilizam animais.20
própria universidade, o que nos remete à reflexão No Brasil, podemos citar que a Faculdade de
proposta quando da questão sobre aspectos Medicina Veterinária da Universidade de São
positivos ou negativos no que tange a este tipo Paulo21 e a Faculdade de Medicina da Univer-
de aula. sidade Federal do Rio Grande do Sul22 não uti-
lizam animais nas disciplinas de técnicas ope-
d) Na docência, os animais poderiam ser ratórias/cirúrgicas. No caso desta última, foram
substituídos por métodos alternativos? adquiridos simuladores plásticos de partes do
A resposta a este questionamento nos permite corpo humano para que os alunos possam treinar
verificar que não existe consenso por parte dos suturas, incisões e punções.
alunos em relação à substituição do uso de Os métodos alternativos podem parecer eco-
animais vivos em aulas práticas por métodos nomicamente desvantajosos para uma institui-
alternativos, já que 43,9% posicionaram-se favo- ção, pois exigem um aporte financeiro inicial
ráveis a substituição, 33% contrários, enquanto significativo. A longo prazo, porém, tornam-se
23,2% afirmaram nunca ter pensado sobre o um investimento vantajoso, uma vez que, após
assunto. Enfatizando novamente que a amostra adquiridos, podem ser usados inúmeras vezes.
é constituída por alunos de primeiro nível, pode- É necessário o interesse por parte das instituições
se inferir que estes não tenham conhecimento em buscar e oferecer métodos alternativos, bem
sobre o que são métodos alternativos. Entretanto, como fomentar a criação de novos recursos
segundo Feijó,2 embora o termo alternativo não didático-pedagógicos unindo esforços de dife-
tenha sido especificamente definido em nenhum rentes áreas.
documento, pessoas envolvidas no manuseio de Rivera23 salienta que métodos alternativos
animais entendem seu significado no contexto exigem muito tempo, dinheiro e paciência para
da investigação científica e da educação. Este serem desenvolvidos, sendo que ainda não exis-
conceito foi reforçado a partir da “teoria dos tem metodologias e conceitos válidos para o
3 R”, proposta por Russel e Burch pela primeira seu desenvolvimento, não podendo os mesmos
vez em 1959, em seu livro The principals of human serem implementados por meio de um decreto.
experimental technique.18 Esta teoria preconiza a Segundo a autora, os próprios Russel e Burch
utilização de métodos que resultam na redução lamentavam não haver uma teoria geral sobre
do número de animais utilizados, exigindo, por métodos alternativos e reconheciam que o
isso, excelente desenho estatístico da pesquisa desenvolvimento destes era parte da evolução da
proposta (Reduce), que incorpora refinamento metodologia científica.
nos procedimentos, tendo como resultado menos A posição contrária à substituição do uso
dor e sofrimento dos animais (Refine), e/ou que de animais por métodos alternativos pode ser
prevêem a substituição dos animais completos influenciada, segundo Hepner,5 por dois fatores:
pela parte biológica específica a ser pesquisada 1) resistência, por parte de alguns docentes, ao
(ex.: um tecido ou órgão e não um animal com- uso de métodos alternativos, ou por acharem os
pleto) ou por modelos não vivos e/ou compu- mesmos insuficientes para o aprendizado dos
tadorizados (Replace).8,10 estudantes, ou por seguirem a mesma metodo-
Nos Estados Unidos, para traçarmos um logia usada quando de sua formação profissional.
pequeno paralelo, embora o uso de animais no Sendo o professor o multiplicador de conhecimento
ensino médio seja permitido, um número repre- suas atitudes irão servir de modelo aos alunos que
sentativo de escolas já adotou alternativas para tendem a seguir a conduta de seus docentes;
substituição de animais em aulas práticas.19 No 2) falta de conhecimento dos alunos e professores
meio universitário, em países europeus e norte- sobre os métodos alternativos existentes.
americanos, os métodos alternativos estão sendo
cada vez mais utilizados em substituição aos e) Você levaria em consideração a dor e
animais em atividades de cunho prático. A título sofrimento, o bem-estar e o número de
ilustrativo cita-se que muitas faculdades de animais utilizados na pesquisa científica
Medicina norte-americanas, entre elas Albert e no ensino?
Einstein College of Medicine of Yeshiva University, Os alunos, em percentual significativo, mos-
Harvard Medical School, Indiana University School traram-se sensibilizados quanto a estas três situa-
of Medicine, Louisiana State University School of ções, tanto no ensino quanto na pesquisa.

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Análise de indicadores éticos do uso de animais ... Feijó AGS et al.

• EM RELAÇÃO À CONSIDERAÇÃO DA DOR E de vantagens para o ser humano, e os que já


SOFRIMENTO DAS COBAIAS defendem que somente benefícios mais sérios
Uma explicação plausível para esta sensibili- justificariam o uso de animais não-humanos.
zação pode ser a divulgação do tema na mídia, Estes últimos exigem sérios benefícios advindos
bem como a atuação de organizações não go- de uma determinada pesquisa, a qual privará os
vernamentais preocupadas com animais, co- animais de seu bem-estar, para que a inves-
mo destacado por Regan em sua obra ‘’Jaulas tigação seja realizada. Nestes argumentos apre-
Vazias’’12 e já salientado nesta discussão. sentados, reside a importância do questiona-
O trabalho da mídia pode ser verificado na mento.28
divulgação da notícia sobre a disputa judicial • EM RELAÇÃO AO NÚMERO DE ANIMAIS UTI-
estabelecida entre um aluno do curso de Ciên- LIZADOS
cias Biológicas da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul e a própria instituição, sobre Esta sensibilidade é fundamental para a ética
o direito do aluno não usar animais em sua animal, pois pode demonstrar que os alunos
formação profissional. Nessa disputa legal, os começam a se preocupar com o número abusivo
jornais e os órgãos televisivos preocuparam-se de animais utilizados tanto no ensino quanto
com a veiculação de opiniões divergentes sobre na pesquisa. Sabe-se que, com um desenho
o tema. O aluno em pauta defendeu não infrin- estatístico prévio, pode-se minimizar o número
gir dor e sofrimento em animais vivos na sua de animais sem alterar o resultado da pesquisa.
formação.24 Isto é defendido em muitas legislações e bastante
Como ainda é freqüente o uso de animais em qualificado na Teoria dos 3 R de Russel e Burch,18
aulas práticas das áreas biológicas e da saúde, a já citada anteriormente. A utilização de animais
sensibilização dos alunos das mesmas em relação em aulas práticas vem sendo cada vez mais
à dor e ao sofrimento dos animais merece des- discutida e substituída por métodos alternativos,
taque. Na concepção científica, segundo o “Guide os quais também já foram discutidos.
for the care and use of laboratory animals”,25 o uso Nas atividades de ensino envolvendo ani-
apropriado de anestésicos e analgésicos em mais, salienta-se, também, a importância do
pesquisas com animais é um imperativo ético e modelo do professor para o aluno. Esta idéia
científico. corrobora as opiniões de autores como Hepner,5
Bird14 e Balcombe,29 os quais defendem que o uso
• EM RELAÇÃO À CONSIDERAÇÃO DO BEM- de animais na educação terá sempre uma relação
ESTAR DAS COBAIAS direta com o uso dos animais na ciência, pois
Tanto em relação à pesquisa científica quanto estes estarão sendo usados para preparar estu-
à educação, os alunos posicionaram-se positiva- dantes à carreira de pesquisadores.
mente nesta questão, demonstrando mais uma
vez uma sensibilização em relação ao tema ética f) Interesse em participar de um curso de
animal e especificamente em relação ao bem- extensão universitária sobre o tema
estar dos mesmos. A noção de bem-estar animal Um número significativo de alunos demons-
surgiu antes da discussão sobre os direitos dos trou interesse, principalmente das faculdades de
animais, e é entendida como uma defesa à Biologia (93,2%), Enfermagem (75,7%) Farmácia
utilização humanitária destes, evitando dor, (66,7%), Fisioterapia (55,3%) e Odontologia
sofrimento e crueldade desnecessária.26 Costa & (53,5%). Chamou-nos a atenção a pequena por-
Pinto,27 citando Broom, caracterizam bem-estar centagem de alunos de Medicina (30%) e Edu-
animal como o estado de um dado organismo cação Física (32,4%) desta amostra que demons-
durante suas tentativas de se ajustar com o traram interesse em um curso de extensão sobre
ambiente. a temática. Este achado merece reflexão, levan-
A teoria do bem-estar animal aceita que os do-se em consideração que os alunos destes dois
animais têm interesses, mas que esses interesses cursos foram justamente os que mais utilizaram
podem ser sacrificados em prol de algum re- animais em aulas práticas. Será que o uso de
sultado esperado no uso do animal que justifique animais no primeiro nível não pode fazer com
sua utilização e eventual sacrifício.4 Os cientistas que o aluno entenda que é natural usar animais,
que defendem esta teoria (welfaristas) se dis- não querendo refletir sobre o assunto e ficando,
tribuem em dois grupos distintos: os que aceitam por isso, alheio a uma reflexão internacional
o interesse animal, mas podem ignorá-lo em prol sobre esses conflitos de cunho moral?

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Análise de indicadores éticos do uso de animais ... Feijó AGS et al.

Tendo em vista o interesse da maioria dos 3. Fox MA. The case for animal experimentation. Berkeley:
University of California Press; 1986.
alunos, e sendo a ética aplicada a animais uma
4. Regan T. The case for animal rights. Berkeley: Uni-
área que vem sendo bastante debatida atual- versity of California Press; 1983.
mente, devido a situações conflitantes envol-
5. Hepner LA. Animals in education: the facts, issues and
vendo o uso desses seres vivos, presume-se que implications. New York: Richmond Publishers; 1994.
a preocupação com a temática deva aumentar. 6. Tealdi JC, Mainetti JA. Hospital Ethics Committees In:
Connor SS, Fuenzilida-Puelma HL, editors. Bioethics:
issues and perspectives. Washington: Pan American
CONSIDERAÇÕES FINAIS Health Organization; 1990. p.52-8.
7. Bertomeu MJ. Implicações filosóficas na reflexão:
Esta pesquisa feita com estudantes de gra- discurso e ação dos comitês de ética. Bioética. 1995;3:21-7.
duação comprovou que a temática “animais não- 8. Podolsky MDML, Lukas DVMVS, editors. The care
humanos” realmente vem ganhando cada vez and feeding of an IACUC: the organization and
mais espaço, tanto na sociedade como no meio management of an institutional animal care and use
committee. Boca Raton: CRC; 1999.
acadêmico, passando a fazer parte do cotidiano
9. Einstein R. Can I teach biology without using animals?
de estudantes e profissionais da Área da Saúde e
In: Baker RM, Einstein R, Mellor DJ, et al., editors.
das Ciências Biológicas. A maioria dos alunos Animals and science in the twenty-first century: new
pesquisados demonstra interesse pela temática technologies and challenges. In: Australian and New
“ética animal”; assim, podemos inferir que o Zealand Council for the Care of Animals in Research
and Teaching. Proceedings of the ANZCCART Con-
tema deve ser trabalhado com os acadêmicos em ference; 1994 Oct 7-8; Melbourne, Australia; 1994.
cursos e/ou aulas. É fundamental que o discente p.59-64.
dessas áreas tenha um conhecimento básico do 10. Stokes W, Jensen DJB. Guidelines for Institutional
assunto: não devemos esquecer que esses alunos Animal Care and Use Committees: consideration of
alternatives. Contem Top Lab Anim Sci. 1995;34:51-5,
se tornarão profissionais e, assim como seus 58-60.
professores, formadores de opinião. 11. Feijó AGS. A função dos comitês de ética institucionais
Os conflitos morais inerentes ao uso de ani- ao uso de animais na investigação científica e docência.
mais em pesquisa e docência devem ser dis- Bioética. 2004;12:11-22.
cutidos de forma plural, sendo essa discussão 12. Regan T. Jaulas vazias. Porto Alegre: Lugano; 2006.
fundamentada em uma séria reflexão e em 13. Cecconi E. Promotor defende bem-estar de porcos e
conceitos teóricos pertinentes à esfera da Bioética frangos. Zero Hora. 2007 out 14; Geral:39.
(caracterizada por ser uma área multidisciplinar, 14. Bird SJ. The role of science professionals in teaching
responsible research conduct. BioScience. 1996;46:783-6.
que possibilita a discussão no âmbito das várias
15. van der Valk J, Dewhurst D, Hughes I, et al. Alternatives
áreas do conhecimento). to the use of animals in higher education: The Report
Um relatório com análise dos dados será and Recommendations of ECVAM (European Centre for
encaminhado ao CEUA-PUCRS, oficialmente the Validation of Alternate Methods) Workshop 33.
Altern Lab Anim. 1999;27:39-52.
instituído nesta universidade em abril de 2007, e
16. Orlans FB, Beauchamp TL, Dresser R, et a. The human
certamente servirá de subsídio para a proposição use of animals: case studies in ethical choice. Oxford:
de políticas ao uso de animais não-humanos no Oxford University Press; 1998.
âmbito institucional. 17. Brasil. Lei 6638 de 08 de maio de 1979. Normas para
a prática didático-científica da vivissecção de ani-
mais. [citado 2007 jul. 13]. Disponível em: http://
AGRADECIMENTOS www.ufrgs.br/bioetica/lei6638.htm
Agradecemos ao CNPq pelo apoio financeiro a esta 18. Russel WMS, Burch L. The principles of human experi-
investigação; à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação mental techniques: special edition. Universities Federation
for Animal Welfare. London: Herts; 1992.
da PUCRS pela bolsa BPA; aos demais integrantes do
Laboratório de Bioética e Ética Aplicada a Animais da 19. Orlans FB. In the name of science: issues in responsible
PUCRS pelas contribuições ao estudo e à elaboração do animal experimentation. Oxford: The University Press;
1993.
presente artigo; ao Dr. Luiz Glock e ao Dr. Irênio Gomes
da Silva Filho pelo auxílio nas análises estatísticas. 20. Physicians Committee for Responsible Medicine
(PCRM). Ethics in Medical Education. Medical school
curricula with no live animal laboratories.[2p,].[citado
REFERÊNCIAS 2007 set 17]. Disponível em: http://www.pcrm.org/
resch/meded/ethics_med_list.html
1. Reich WT, editor. Encyclopedia of bioethics. London: 21. Veríssimo R. Substância permite reutilizar cadáveres de
Collier MacMillan; 1978. animais para treinamento de alunos. Agência USP de
2. Feijó AGS. Utilização de animais na investigação e Notícias. Boletim. 2005 Jul 27(1676):[1p.] [citado 2007
docência: uma reflexão ética necessária. Porto Alegre: nov 9] Disponível em: http://www.usp.br/agen/bols/
EDIPUCRS; 2005. 2005/rede1676.htm#primdestaq

18 Scientia Medica, Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 10-19, jan./mar. 2008


Análise de indicadores éticos do uso de animais ... Feijó AGS et al.

22. Iglesias S. UFRGS deixa de usar animais para treinar pedia of animal rights and animal welfare. Westport:
estudantes de medicina. [citado 2007 out 11]:[1p.] Greenwood Press; 1998. p. 43-5.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ 27. Costa MJRP, Pinto AA. Bem-estar animal. In: Rivera
educacao/ult305u336151.shtml EAB, Amaral MH, Nascimento VP, editores. Ética e
23. Rivera EAB. Ética na experimentação animal e alter- bioética aplicadas à medicina veterinária. Goiânia:
nativas ao uso de animais em pesquisa e testes. In: Gráfica da UFG, 2006. p. 105-30.
Rivera EAB, Amaral MH, Nascimento VP, editores. 28. Francione GL. Animal rights and animal welfare:
Ética e bioética aplicadas à medicina veterinária. five frequently asked questions. Animal rights law
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and use of laboratory animals. Washington: National Endereço para correspondência:
Academy Press; 1996. ANAMARIA G. S. FEIJÓ
Av. Ipiranga, 6681 – Prédio 12C sala 278
26. Sztybel D. Distinguishing animal rights from animal CEP 90619-900, Porto Alegre, RS, Brasil
welfare. In: Bekoff M, Meaney CA, editors. Encyclo- Fone: (51) 3320-3545

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