Você está na página 1de 27

CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA – UNISUAM

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

Juliana Tavares Farias

A INFLUÊNCIA DO ESTADO PUERPERAL NO CRIME DE INFANTICÍDIO

Rio de Janeiro

2022
CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA – UNISUAM

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

Juliana Tavares Farias

A INFLUÊNCIA DO ESTADO PUERPERAL NO CRIME DE INFANTICÍDIO

Artigo científico apresentado ao


Curso de Bacharelado em
Direito do Centro de Ciências
Sociais e Aplicadas do Centro
Universitário Augusto Motta -
UNISUAM como requisito
parcial para a aprovação na
disciplina Orientação em
Monografia, sob a orientação do
Prof. ____________________

Rio de Janeiro

2022
Juliana Tavares Farias

A INFLUÊNCIA DO ESTADO PUERPERAL NO CRIME DE INFANTICÍDIO

Artigo científico apresentado ao Curso de Bacharelado em Direito do Centro de


Ciências Sociais e Aplicadas do Centro Universitário Augusto Motta - UNISUAM como
requisito parcial para a aprovação na disciplina Orientação em Monografia, obtendo
pela banca examinadora assim composta:

Prof. _____________________________________

Orientador: (INSERIR NOME)

Prof. _____________________________________

Prof. _____________________________________
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha amada vó Norma, aos meus pais,


Mário Cesar e Jacqueline, ao meu irmãozinho Gabriel e ao amor
da minha vida, Matheus. Vocês são tudo o que há de mais
importante na minha vida! Obrigada por todo amor, carinho e
paciência sempre. Amo vocês com todo o meu coração!
“Sonhe! Mesmo que seus inícios sejam humildes, seus finais
serão prósperos.” – Min Yoon Gi.
RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso destaca a forma em que Estado


Puerperal influência no crime de Infanticídio, previsto no art. 123 Código Penal
Brasileiro, que constitui “Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio
filho, durante o parto ou logo após. Pena – detenção, de 2 (dois) a 6 (seis)
anos”. Tendo em vista que a genitora se encontra em um estado mental que a
faz passar por diversas perturbações psicológicas, fazendo com que esta perca
o discernimento da realidade, portanto perde a noção do lícito e ilícito, o que
acaba acarretando no indeferimento de sua pena, tratando-se de um crime de
homicídio doloso privilegiado. Este trabalho possui a finalidade de apresentar
pelos âmbitos jurídicos o lapso temporal entre o puerpério e o estado puerperal,
de forma que seja possível identificar os transtornos psíquicos e consequências
que ocorrem no período pós-parto.
Palavras-chave: Estado Puerperal, Infanticídio, Homicídio, Privilegio.
ABSTRACT

The present work of completion of the course highlights the way in which
Puerperal State influences the crime of Infanticide, provided for in art. 123
Brazilian Penal Code, which constitutes "Killing, under the influence of the
puerperal state, your own child, during childbirth or soon after. Penalty –
detention, from 2 (two) to 6 (six) years". In view of the fact that the mother is in
a mental state that causes her to go through several psychological disorders,
causing her to lose the discernment of reality, therefore loses the notion of the
lawful and illicit, which ends up resulting in the rejection of her sentence, being
a crime of privileged intentional homicide. This work has the purpose of
presenting through the legal spheres the temporal lapse between the
puerperium and the puerperal state, so that we can identify the psychic
disorders and consequences that occur in the postpartum period.

Keywords: Puerperal State, Infanticide, Homicide, Privilege.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................... 9

1 INFANTICÍDIO .................................................................................................10
1.1 Precedentes históricos...................................................................................11
1.2 Objetivo jurídico..............................................................................................12
1.3 Elementos do tipo............................................................................................13
1.4 Concurso de pessoas......................................................................................14
1.5 Elemento subjetivo e materialidade.................................................................16

2 A INFLUÊNCIA DO ESTADO PUERPERAL..................................................... 17


2.1 Lapso temporal do estado puerperal................................................................19
2.2 Psicose puerperal e a regra geral da inimputabilidade penal ......................... 20

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 23

REFERÊNCIAS...................................................................................................... 26
9

INTRODUÇÃO

A presente monografia visa demonstrar causas de exclusão de culpabilidade


no delito de infanticídio, decorrente das influências dadas através do estado
puerperal. Tais efeitos acarretados a genitora (sujeito ativo da conduta típica),
são sintomas fisiopsicológicos que decrescem o bom senso e causam a
impossibilidade de agir segundo o seu arbítrio, o que é capaz de ocasionar na
morte do infante pelas mãos da própria mãe.
O deferimento da sanção aplicada a mulher que extermina a vida de seu filho
nascente ou recém-nascido, é dado devido ao critério físico psicológico,
utilizado por décadas, também dito, estado puerperal. Entretanto, não há meios
de comprovações eficazes para este. Contudo, apenas fornecer ínfima punição
a uma mulher acometida de inúmeras perturbações mentais não seria razoável
ou conveniente à tal conduta. Observando que o objetivo principal está ligado
as alterações causadas à parturiente e não a uma conduta previamente
expressa em dispositivo de Lei.

Portanto, o infanticídio necessita ser reavaliado e debatido diante da


probabilidade da absolvição do autor do crime, se porventura a influência do
estado puerperal venha ser atestada através de perícias médicas. Posto isto, o
sujeito ativo da conduta carecerá de um tratamento psicológico e não de uma
sanção, dado que isto agravaria a sua situação.

Inicialmente, aborda-se de forma detalhada as origens deste crime,


apresentando seus mais diversos conceitos e sanções, conforme o passar dos
anos, especialmente, visando a Legislação Jurídica Penal dos anos de 1830,
1890 e 1940. Diante do desenvolvimento histórico, examinando os sujeitos
ativos do crime anteriormente citado, passaram a dispor de uma abordagem
moderada, na proporção em que os legisladores modificavam o Dispositivo
Penal e aderiam sistemas modernos, que os beneficiava e discernia de outros
delitos.
Além disso, o infanticídio será conceituado conforme previsto na Legislação
Penal Brasileira, apresentando os elementares que compõem este delito
10

conforme o conceito de estado puerperal; sujeitos ativo e passivo, o nexo


temporal e como é realizado.
Em seguida, a referida explicação do objeto fundamental desta monografia será
feita de forma minuciosa. Começando com a apuração do Estado Puerperal
conforme a Medicina, observando os transtornos suportados pela mulher
provenientes deste; psicológico, cogitando as perturbações que podem implicar
na saúde psíquica; e juridicamente, baseando-se em Princípios expressos
previamente na Constituição Federal, teses criminológicas, passíveis de
plausibilidade do instituto da absolvição judicial e algumas considerações feitas
quanto ao resultado devido a delitos praticados a mulheres gestantes.
Sendo assim, esta tese sustentará a descriminação da conduta típica, tal qual,
a assistência psicológica, do começo do lapso gestacional até o término do
puerpério, conforme a resolução deste problema, e logo, a real conclusão de
alteração a Lei Penal Brasileira.

1. INFANTICÍDIO

A adequação típica do referido crime, encontra se atualmente no art. 123 do


Diploma Penal, onde profere que: Matar, sob a influência do estado puerperal,
o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis
anos.

O Código Penal, não relata apenas a morte de uma criança, mas sim a
eliminação da vida de um ser nascente ou recém-nascido, no momento em que
sua genitora encontra se sob a atuação das perturbações causadas pelo estado
puerperal. Logo, torna se indispensável que todas as características do crime
sejam apreciadas para a formação da conduta típica disposta no referente
artigo.
Compreende-se por meio deste que existem duas análises que carecem ser
distinguidas para melhor entrosamento do respectivo assunto, sendo estas a
do verbo “matar”, referente ao ato de tirar a vida de um ser humano e a
qualificação da conduta típica em face da constatação de que recém-nascido
nasceu vivo e respirando, caso isto não ocorra, não caracteriza infanticídio.

Nas palavras de Muakad (2002, p. 120):


11

O feto nascente tem todas as características do feto nascido,


menos as que demonstram a faculdade de ter respirado. A
forma criminosa durante o processo da parturição é mais rara,
e a demonstração de que o feto estava vivo no momento em
que a mãe praticou contra ele a violência é a condição
indispensável para que se possa falar de crime de infanticídio.

Portanto, neste caso, reporta-se a um tipo de homicídio doloso privilegiado, tal


qual este privilégio adequa-se exclusivamente a parturiente, em consequência
das perturbações fisiopsicológicas originadas pelo estado puerperal, as quais
reduzem o seu discernimento, fazendo a com que esta tire vida de seu filho,
um neonato.

1.1 Precedentes históricos

No período medieval, não havia a distinção do sujeito que cometia o crime


infanticídio ou de homicídio, visto que tal delito estava incluso nos crimes em
que as punições eram aplicadas de forma extremamente rigorosa. As mulheres
que eliminavam a vida de seus próprios filhos recém nascidos, eram vistas
como pessoas extremamente perversas e as sanções aplicadas a estas eram
de total atrocidade.
O Ordenamento Penal do Imperador de Roma, Carlos V, denominada Constutio
Criminalis Carolina, previa punições de cunho desumano para quem praticasse
este crime, tais penalidades eram que as mulheres fossem enterradas ainda
vivas, dilaceradas ou torturadas através empalamento, podendo levar até três
dias para morrer.
No século XVIII, em virtude de novas ideias filosóficas, a punição aplicada para
o infanticídio fez se mais branda e este tornou se um crime privilegiado, e tal
privilégio era estendido apenas a genitora ou a seus familiares e tal crime só
era configurado quando visava encobrir desonra própria, honoris causa. O
estatuto penal brasileiro de 1830, foi o primeiro que converteu a sanção do
referido crime em mais moderada, adotando um critério totalmente psicológico.
Nestes termos, era previsto no art. 192: se a própria mãe matar o filho recém-
nascido para ocultar a sua desonra: Pena — prisão com trabalho por 1 a 3
anos.
12

O parâmetro psicológico passou a vigorar na Legislação Penal de 1890, onde


era apresentado uma grande delimitação ao infanticídio, aumentando da pena
do sujeito que o cometesse, porém, permanecendo com o mesmo sistema
privilegiado ao se tratar da progenitora. O instituto penal definia o crime com a
seguida proposição:

Art. 298, caput: Matar recém-nascido, isto é, infante, nos sete


primeiros dias de seu nascimento, quer empregando meios
diretos e ativos, quer recusando à vítima os cuidados
necessários à manutenção da vida e a impedir sua morte.

Tal conduta típica gerava a prisão de 6 a 24 anos. O parágrafo único


determinava uma pena mais branda, isto é, desde que o delito fosse executado
pela mãe com a propósito de encobrir a desonra própria, e este privilégio era
estendido apenas aos familiares da genitora. Alcantara Machado (1940) visava
no art. 312 do Projeto do Código Criminal Brasileiro que tirar a vida de um
infante no momento do parto ou logo após este para ocultar desonra própria, e
os sujeitos ativos se estendiam aos ascendentes, descendentes da irmã ou
mulher.
O atual Diploma Penal, tutelou um sistema distinto, considerando o caráter
fisiopsicológico originado pelo estado puerperal, o que revogou a teoria
psicológica (honoris causa) aplicada previamente para reduzir a penalidade,
deixando de caracterizar uma espécie de homicídio privilegiado e
caracterizando um crime autônomo. O legislador passou a prezar em específico
o fato de a genitora tirar a vida de seu filho recém-nascido devido circunstâncias
adversas. Atualmente, o infanticídio previsto termos do art. 123 da Legislação
Penal Pátria.
Segundo NUCCI (2021), se o infanticídio fosse um parágrafo do art. 121, ele
seria o autêntico homicídio privilegiado, porém, o legislador o quis dar
autonomia e construiu um tipo penal especial que é o art. 123, que figura hoje
como crime autônomo.

1.2. Objetivo jurídico:


13

O art. 123 do Dispositivo Penal possui o intuito de proteger o bem jurídico mais
importante que todos os seres humanos possuem, sendo este bem a vida.
Neste caso, visa tutelar a vida de um indivíduo desde o seu nascimento.
Proteção esta que se inicia, no decorrer das contrações, no processo em que
a placenta é expulsa do útero materno, e podendo acontecer também na
cesariana, momento em que médico obstetra faz o primeiro corte no ventre da
genitora, quando se dá início a vida extrauterina.

Nas palavras de NUCCI (2019, p. 324), o objeto jurídico é considerado como:


O interesse protegido pela norma penal, como a vida, o patrimônio, a
honra, a fé pública, entre outros. Segundo ROO, o objeto jurídico é o
bem ou interesse, eventualmente um verdadeiro e próprio direito
subjetivo, protegido por uma norma jurídica imposta sob sanção penal
e violada mediante uma ação delituosa. Naturalmente, ademais, e por
isso mesmo, o objeto jurídico do delito é também a norma jurídica que
tutela o bem ou interesse e em cuja transgressão consiste no delito,
assim como a obrigação ou dever jurídico de onde deriva aquela
norma e a cujo cumprimento o cidadão está obrigado, e ainda a
pretensão jurídica que corresponde a essa obrigação; também a
relação jurídica que deriva daquela obrigação e dessa pretensão.

MAGGIO (2004), ao definir este tópico afirma:


O Código Penal, ao definir os crimes contra a vida, fez de forma a
proteger e tutelar a vida do ser humano, como direito personalíssimo
e individual. Com efeito, a lei protege a vida como bem jurídico
supremo, de fundamental valor ao homem.

1.3. Elementos do tipo

A conduta típica prevista no crime de infanticídio tem como fundamento o verbo


“matar” é conceituado como tirar a vida de outra pessoa, em tal circunstância,
trata-se da vida de um filho que acabara de nascer e tem sua vida exterminada
pela sua própria mãe, estando esta sob os efeitos do estado puerperal. A
execução deve ocorrer no decorrer ou posteriormente ao parto.
Concerne a um crime que advém de forma livre e poderá ser praticado por
conduta comissiva, um exemplo disto é quando a genitora enforca o seu filho
recém-nascido. Tal delito também poderá ser cometido por conduta omissiva,
por exemplo, quando a mãe abandona o recém-nascido em local deserto
intencionalmente para provocar sua morte.
14

Quando a morte do feto é provocada antes do parto, torna se um critério do


crime de aborto, expresso no art. 124 do Código Penal, onde dispõe que:
provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem o provoque: Pena —
reclusão, de três a seis anos. Se a morte não for consumada imediatamente
após o parto, configura o crime de homicídio, disposto no art. 121 que onde
prevê que matar alguém: pena – reclusão, de seis a vinte do respectivo código.
Sendo assim, torna-se imprescindível a determinação da fase inicial do trabalho
de parto até o momento em que a mulher der à luz.
O parto é entendido como uma sucessão de processos físicos e psicológicos
nos quais o feto é desassociado do corpo da mãe. Advindo da dilatação do
útero e findando com a separação completa da criança do corpo da parturiente,
com a eliminação da placenta e a incisão do cordão umbilical.

Nas palavras de GONÇALVES (2012, p.74):


Ocorre o nascimento quando a criança é separada do ventre materno,
não importando tenha o parto sido natural, feito com o auxílio de
recursos obstétricos ou mediante intervenção cirúrgica. O essencial é
que se desfaça a unidade biológica, de forma a constituírem mãe e
filho dois corpos, com vida orgânica própria22, mesmo que não tenha
sido cortado o cordão umbilical23. Para se dizer que nasceu com vida,
todavia, é necessário que haja respirado. Se respirou, viveu, ainda que
tenha perecido em seguida. Lavram-se, neste caso, dois assentos, o
de nascimento e o de óbito.

1.4. Concurso de pessoas

Para ser configurado infanticídio, o art. 123 do Diploma Penal estipula que o
crime deverá ser constituído pela mãe biológica que, estando sob os efeitos do
estado puerperal, que extermine a vida de sua prole ao longo ou logo em
seguida ao parto. Quando houver a participação de um terceiro no respectivo
crime, imputa se a conduta típica a quem contribuir para o ato criminoso e este
receberá a pena que lhe for atribuída. A Lei Penal prevê no art. 29 quem, de
qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na
medida de sua culpabilidade. De acordo com Nucci (2020, p. 487), o concurso
de pessoas possui o seguinte conceito: “Trata-se da cooperação desenvolvida
por mais de uma pessoa para o cometimento de uma infração penal.”
15

Sobre o referente assunto, existem debates sobre a comunicabilidade do


privilégio no infanticídio. A corrente minoritária, uma vez adotada por Nelson
Hungria, não adota a comunicabilidade entre os elementares, desta forma, o
terceiro é indiciado pelo crime de homicídio, isto se dá devido a parturiente estar
subsistida de circunstância personalíssima. Logo, não existe comunicabilidade
de tal privilégio para aqueles que concorrem na atuação do delito, devido à
ausência de conduta previamente expressa o ordenamento jurídico penal.

Nas palavras de Hungria:

o infanticídio seria um ‘delictum privilegiatum’, onde a mãe se encontra


em uma condição “privilegiada” de diminuição de imputabilidade, a
qual não caberia se estender aos demais, além de que ao partícipe se
daria o privilégio ao responder pelo crime de infanticídio, onde cabia a
este a sanção cabível ao Homicídio, sendo esta maior; ou ainda
“delictum exceptum”, quando praticado pela própria mãe. (HUNGRIA,
1955, p. 237).

Sendo assim, esta teoria subestima o estado puerperal como critério deste
crime, visto que se trata de uma condição personalíssima. Ou seja, na teoria
monista, mesmo o crime sendo praticado com o auxílio de agentes, este segue
único e indivisível. Deste modo, o terceiro/partícipe é indiciado por homicídio e
a genitora, o sujeito ativo, responde por infanticídio, ou seja, apenas quem
pratica o tipo penal é o autor. Para Magalhães Noronha não há dúvida de que
o estado puerperal é circunstância (isto é, estado, condição, particularidade
pessoal) e que, sendo elementar do delito, comunica-se, ex vi do art. 30, aos
coparticipes. Só mediante texto expresso tal regra poderia ser derrogada.
Hungria, um dos maiores adeptos a esta teoria, em sua última obra, passou a
constatar a comunicabilidade de elementares.
Já a corrente majoritária, adotada por grandes doutrinadores como Rogério
Greco, Fernando Capez, Damásio de Jesus, sustenta a teoria da
comunicabilidade entre os elementares, prevista no art.30 do Código Penal,
onde é expresso que: “Não se comunicam as circunstâncias e as condições de
caráter pessoal, salvo quando elementares do crime”. Em tal teoria é
resguardada a probabilidade de terceiro responder por infanticídio como
coautor ou partícipe. Sendo o estado puerperal uma circunstância estritamente
16

pessoal, configurando a elementar da conduta típica no infanticídio, logo, a


genitora e o terceiro envolvido responderão pelo mesmo crime.
Por esta razão, as características de tal conduta típica, especialmente o estado
puerperal, tornam-se elementos deste crime. Logo, admite-se o concurso de
pessoas no crime de infanticídio. A menos, que terceiro, não esteja ciente disso,
para contestar a responsabilidade objetiva. As penalidades se aplicam a
terceiros em três casos:

1. Se a mãe matar o próprio filho com a ajuda de terceiro: sendo esta o


sujeito ativo do crime, os elementares serão comunicados ao participe,
que será indiciado criminalmente pelo mesmo crime. Neste caso, o
caráter pessoal não é comunicado, só é comunicado ao agente o
momento da participação;
2. O terceiro que mata o recém-nascido tendo a mãe como participe: neste
caso o terceiro é o sujeito ativo, conceituando o "homicídio", e, portanto,
será responsabilizado por tal crime, que está estipulado no art.121 do
CP. A mãe será envolvida como partícipe, porque seus atos são apenas
auxiliares, pois ela ajuda na morte de seu filho recém-nascido, então,
esta será indiciada por infanticídio;

3. A mãe e terceiro que forem coautores do ato, matando o sujeito passivo:


esta seria acusada de homicídio e seria acusada do mesmo crime
articulado no art. 29. Não podendo haver coautoria em crimes diferentes,
além das exceções pluralísticas previstas no §2º do respectivo artigo.

1.5. Elemento subjetivo e materialidade

O elemento subjetivo do infanticídio existe apenas a título de dolo, dado que


condiz com a intenção de materializar os elementares contidos na forma art.
123 do ordenamento jurídico penal. Neste caso, o dolo é considerado apenas
nas formas direta e eventual, visto que a genitora aspira pela morte de seu filho
e assumindo as consequências que podem causar a eliminação da vida do
neonato.
17

Neste crime, não existe a modalidade culposa, visto que não está expresso no
art. 123 do Código Penal. Se porventura, a genitora exterminar a vida de seu
filho de maneira culposa estando sob estado puerperal, esta não responderá
pela prática de homicídio e nem de infanticídio. Entretanto, poderá a mãe matar
o infante não estando sob a influência de tal estado e assim, será indiciada pelo
crime de homicídio culposo instituído no art. 121, §3º do respectivo código.
DAMÁSIO (2020, p.109) afirma que:
Delito nenhum pode ser caracterizado quando atua a mãe com
culpa, sob o estado puerperal, porque não seria possível exigir
da parturiente, perturbada psicologicamente, que aja de acordo
com as cautelas comuns impostas aos seres humanos.

Seguindo a linha de pensamento, HUNGRIA (1955, p.229) doutrinava que não


se deve admitir a forma culposa no delito de infanticídio, concluindo haver
homicídio culposo, caso o neonato venha a morrer por imprudência ou
negligência da mãe.
Refere-se a um crime material, onde a consumação é decretada com a morte
encefálica (cerebral) do recém-nascido ou neonato. Já a execução deste
deverá suceder no lapso temporal previsto em lei que institui "durante ou logo
após ao parto", da consumação, que pode decorrer horas mais tarde.

2. A INFLUÊNCIA DO ESTADO PUERPERAL

O estado puerperal é caracterizado pela soma de alterações de cunho físico e


psicológico que transcorrem pelo organismo feminino em consequência do
parto, momento este, em que a mãe tem o filho separado de seu corpo. Isto se
dá em virtude das dores exorbitantes causadas pelo choque físico, pelo imenso
e indispensável esforço, sangramento, pela emoção provocada pela dor, entre
outras coisas. O que ocasiona danos à saúde mental da mulher, previamente
em perfeitas faculdades mentais. ZIOMKOWSKI; LEVANDOWSKI (2017)
afirmam que assim, é possível a ocorrência de fatalidades, configurando a
presença de transtornos psiquiátricos, principalmente os psicóticos, como um
importante fator de risco para o infanticídio.

NUCCI (2021) conceitua o estado puerperal como:


18

Um estado que envolve a parturiente durante a expulsão da criança


do ventre materno, porque toda parturiente passa por alterações pisco
e físicas durante o momento do parto que podem transtornar a mãe,
pois são muitas dores físicas e também as vezes há o transtorno
psicológico, uma falta de apoio da família, do pai da criança, a
parturiente ali naquele momento começa a pensar o que fazer com a
criança, as dificuldades que lhe aguardam, é um momento
extremamente delicado. Essas alterações psicofísicas envolvem em
geral as mulheres que dão à luz.

De acordo com IACONELLI (2005, p.1-6):

Para a mãe em surto o bebê não existe enquanto tal, ele se torna um
espaço vazio que é preenchido com elementos presentes no
psiquismo da mulher e apartados do real. A angústia por ela
experimentada é da ordem do insuportável, podendo fazer emergir
rituais obsessivos e pensamentos desconexos.

Tais alterações são resultantes de modificações hormonais, que fazem com


que a mulher entre em estado mental transitório, que decresce o seu
discernimento e sua cognição em razão do estado puerperal. Estas
perturbações mentais, liberam instintos que podem levar a genitora a rejeitar e
matar seu próprio filho, um ser nascente ou recém-nascido, tornando-a autora
do crime de infanticídio. Contraparte, nas palavras de FRAGOSO (PESQUISAR
A FONTE), o estado puerperal existe sempre, mas nem sempre ocasiona
perturbações emocionais na mulher, que a possam levar a morte do próprio
filho.

Neste sentido, a jurisprudência possui seguinte entendimento:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - INFANTICÍDIO - APONTADO


DESCUIDO PROPOSITAL DA RÉ COM A CRIANÇA RECÉM-
NASCIDA - ESTADO PUERPERAL - PROVA SUFICIENTES À
PRONÚNCIA - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO IMPROVIDO.
Havendo elementos de convicção no sentido de que a criança faleceu
em decorrência de descuido proposital da mãe, em estado puerperal,
possível a caracterização do infanticídio, cumprindo relegar o exame
mais detido da causa ao Tribunal do Júri, sob pena de prematura
exclusão da competência do órgão constitucionalmente consagrado.
Recurso improvido.

(TJ-MG - Rec. em Sentido Estrito: XXXXX Poços de Caldas, Relator:


Ediwal Jose de Morais, Data de Julgamento: 15/02/2011, Câmaras
19

Criminais Isoladas / 1ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação:


01/04/2011)

2.1 O lapso temporal do estado puerperal

Para o mundo jurídico penal, configura-se o infanticídio na ocasião em que a


morte advém no decorrer do parto ou logo após, dado que se trata de um
elemento normativo da conduta típica previamente expressa, ou seja, logo
depois da eliminação da placenta (momento em que começa o puerpério).

SOUZA (2021) possui o seguinte entendimento sobre a duração de tal estado:

Todavia, muito embora haja controvérsia, bem como


efetivamente carência de maiores estudos acerca dessa
especial condição, aceita-se majoritariamente a existência do
estado puerperal, período puerperal, ou simplesmente
puerpério, consiste no intervalo de tempo entre a dequitação
placentária e o retorno do organismo materno às condições pré-
gravídicas, o que dura em média cerca de seis semanas,
permitindo à mulher estar apta a nova fecundação. Trata-se de
uma noção da medicina obstetrícia.

Em contrapartida, a medicina acredita enquanto dura o puerpério, dura o estado


puerperal. Isto é, pode durar horas, dias e semanas para se encerrar, dentro
de um prazo de 3 à 7 dias subsequentes a paridela, podendo haver
divergências entre os que observam que só pode ter a duração de algumas
horas posteriores a mulher dar à luz e o entendimento de que estende se em
até um mês.

Contudo, FRANÇA (2017, p.866) entende como fictícia a previsão do estado


puerperal no ordenamento jurídico penal e presume em sua obra de medicina
legal que:

Na verdade, não há nenhum elemento psicofísico capaz de


fornecer à perícia elementos consistentes e seguros para se
afirmar que uma mulher matou seu próprio filho durante ou logo
após o parto motivada por uma alteração chamada “estado
puerperal”, tão somente porque tal distúrbio não existe como
patologia própria nos tratados médicos. Sabe-se que no
puerpério podem surgir determinadas alterações psíquicas não
20

apenas durante e logo após, mas também algum tempo depois


do parto.

A expressão "logo após" possui o sentido de imediatidade, ou seja, de forma


instantânea. À vista disto, entende-se que o lapso temporal do estado puerperal
pode ter a durabilidade de vários dias conseguintes a concepção e conforme o
tempo passa, faz-se dificultoso a comprovação. A expressão em questão gerou
discussões entre no âmbito jurisprudencial e o doutrinário, visto que alguns
entendem que esta pode ser compreendida de forma vaga, tornando o
entendimento jurídico dificultoso. Portanto, os doutrinadores passaram a
reconhecer que o lapso temporal do fato típico poderá ocorrer entre algumas
horas após ao parto ou alguns dias depois. O que gerou a captação de que a
duração do estado puerperal pode variar conforme o organismo de cada
mulher, devendo ser investigado segundo o cada caso concreto.

2.2 Psicose puerperal e a regra geral da inimputabilidade penal

A psicose puerperal é ocasionada ao longo do parto, onde as mães passam a


vivenciar momentos de alucinações extremas, inquietação, agitação,
agressividade e confusão mental que se misturam com alguns poucos períodos
de lucidez. Neste caso, acaba se tornando habitual a depressão que vem
seguida de delírios, fazendo com que a genitora perca total percepção da
realidade. O transtorno é análogo a uma psicose momentânea que decorre ao
longo do puerpério e é exposta e diagnosticada de formas distintas e não se
preza como tal. Dado a identificação da psicose puerperal, a genitora carecerá
de do mesmo tratamento que as demais psicoses.

SPINELLI (2004) aduz:

Estudos neurocientíficos recentes sustentam a hipótese de que a


mulher portadora de psicose puerperal que comete infanticídio
necessita mais de tratamento e reabilitação do que de punição legal,
a fim de se evitarem outras fatalidades decorrentes da gravidade do
quadro; atualmente, alguns países já defendem essa hipótese. A
educação familiar também estaria presente nesse tipo de intervenção.
21

A Psicose Puerperal é uma doença mental podendo levar a isenção de pena,


colocando a genitora na situação de imputável. As psicoses acometidas a
mulher puérpera ao dar à luz ou logo após instituem o privilegium, entretanto,
nos dias subsequentes ao parto, caso forem agravadas pelo puerpério,
podem surgir diferentes psicoses, que já eram presentes na genitora, porém,
nunca exteriorizadas. Sendo assim, o fato destas não serem ocorridas no
lapso temporal previsto pelo art.123, a parturiente responde por homicídio, a
luz da regra expressa no art. 26 do Código Penal Brasileiro onde prevê que:

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou


desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da
ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento. Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a
dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental
ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.

Verifica-se que o parto consegue originar transtornos psíquicos patológicos que


limitam a genitora de forma geral, decrescendo o seu bom senso e causando a
impossibilidade de agir segundo o seu arbítrio. Nesse cenário, uma doença
mental é ocasionada na mãe como consequência do estado puerperal e esta
ficará isenta da penalidade a vista da aplicação da regra a luz do art. 26, caput
da Legislação Penal Brasileira. O crime de infanticídio, em concordância com
as legislações pátria e estrangeira, consiste em dois critérios: o primeiro trata-
se do critério o psicofisiológico, onde, na diminuição da pena serão analisados
os desequilíbrios físicos e psicológicos causados a mulher puérpera, sendo
este o adotado pela Legislação Penal Brasileira e mencionado no art. 123; o
segundo critério é o psicológico, onde a atenuação da pena é considerada
como honoris causa, onde a parturiente acometida de tribulações e agonias e
procurando omitir desonra própria, acaba ceifando a vida de seu próprio filho
recém-nascido e ocultando tal morte, como por exemplo, em caso de gravidez
ilegítima, neste caso, configura-se o crime de homicídio.

Nas palavras de NUCCI (2021):


22

Autores e penalistas ilustrados já disseram no passado que se o art.


123 não existisse, seria um caso de semi imputabilidade, art. 26,
parágrafo único, CP. Pois aquela pessoa se encontra sob perturbação
da saúde mental, pois o estado puerperal inicia junto com o parto com
as contrações e tudo aquilo que vem a seguir e vai até o retorno da
mãe ao estado de pré gravidez e é uma avaliação complexa porque
cada mulher reage de um jeito.

É essencial observar que nem todas as genitoras são acometidas do estado


puerperal, em vista disso, a doutrina prevê que seja investigado, dado que se
trata do elementar de um crime. Caso seja comprovado pela Medicina (peritos)
que a parturiente se encontrava exposta a tais perturbações no momento da
morte do neonato, é constatado o crime de infanticídio, no entanto, se na
investigação não houver a comprovação do estado puerperal no momento do
ocorrido, será considerado crime de homicídio. Neste sentido a jurisprudência
entende que:

EMENTA: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - INFANTICÍDIO


TENTADO - PROVAS DA MATERIALIDADE E DA AUTORIA -
CONSTATAÇÃO DA ABSOLUTA INIMPUTABILIDADE DA AGENTE
CAUSADA PELO ESTADO PUERPERAL - ÚNICA TESE
SUSTENTADA PELA DEFESA - ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA
IMPRÓPRIA - MEDIDA QUE SE IMPÕE. 01. Comprovado nos autos,
através de exame de verificação da sanidade mental - aliado aos
demais elementos de prova - que o estado puerperal provocou, na
agente, a absoluta incapacidade de entender o caráter ilícito do fato e
de determinar-se segundo esse entendimento no momento da ação,
impõe-se reconhecer sua inimputabilidade - causa de isenção de pena
- e, sendo essa a única tese sustenta pela defesa, absolvê-la
sumariamente da imputação que lhe foi feita na denúncia.

(TJ-MG - Rec. em Sentido Estrito: 10024030121107001 MG, Relator:


Fortuna Grion, Data de Julgamento: 26/03/2019, Data de Publicação:
05/04/2019)

Porém, existem situações em que o laudo pode se mostrar inconclusivo, e isto


ocorre em razão da decorrência do lapso temporal entre o fato típico e o exame,
podendo causar hesitação entre os peritos, situação em que se torna
necessário a presunção do estado puerperal na genitora, visto que é
imprescindível eleger a solução que se faça mais benéfica para esta. Neste
caso, aplica se o princípio “In dubio pro reo” aplicado em casos em que existem
dúvidas sobre o fato ocorrido ou em situações em que não haja provas o
suficiente, desta forma, a dúvida é interpretada de forma que favorece o réu,
23

visto que, a garantia da liberdade predomina acerca do poder punitivo do


Estado. Tal princípio tem previsão no art. 386, II do Código de Processo Penal
que dispõe: “O juiz absolverá o réu, mencionado a causa na parte dispositiva,
desde que reconheça: VII – não existir prova suficiente para a condenação.”

Nesta situação, a jurisprudência também possui o seguinte entendimento:

EMENTA: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - HOMICÍDIO


QUALIFICADO - DESCLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO DE
INFANTICÍDIO - IMPOSSIBILIDADE - AUSÊNCIA DE PROVAS QUE
ATESTEM A INFLUÊNCIA DO ESTADO PUERPERAL. Não havendo
provas incontestes de que o delito foi supostamente praticado sob a
influência do estado puerperal, não é possível o acolhimento, neste
momento, do pleito de desclassificação do crime de homicídio
qualificado para o delito de infanticídio, devendo a matéria ser
submetida à análise pelo Conselho de Sentença.

(TJ-MG - Rec. em Sentido Estrito: 10024200321933001 Belo


Horizonte, Relator: Henrique Abi-Ackel Torres, Data de Julgamento:
07/04/2022, Câmaras Criminais / 8ª CÂMARA CRIMINAL, Data de
Publicação: 12/04/2022)

Do contrário a mulher seria condenada por crime de homicídio.

Conclusão

O desenvolvimento do presente estudo possibilitou demonstrar que a


Legislação Penal Brasileira que vigora atualmente ainda possui critérios
relacionados com a visão da época em que seu texto foi elaborado, e que ainda
são utilizados para a aplicação de sanções em condutas típicas praticadas nos
dias atuais. Logo, torna se essencial uma nova observação e apreciação para
que se aponte o verdadeiro motivo de sua penalidade.

Salienta-se que delito de infanticídio possui condição personalíssima ao tratar


do sujeito ativo que o pratica, ou seja, a penalidade moderada é cabível apenas
a mulher que mate seu filho ser nascente ou recém-nascido, caso esta possua
os critérios previstos no art. 123 do Código Penal, também sobre o concurso
de pessoas, tratando dos elementos subjetivos e materialidade e a discussão
sobre o nexo temporal do referente delito.
24

Em vista disto, ao adotar o parâmetro fisiopsicológico no crime de infanticídio,


faz se necessário que o legislador o examine e indique o que levou o sujeito
ativo praticar tal conduta, as reais causas, incluindo fatores internos e externos,
a fim de demonstrar a inexigibilidade de conduta diversa por parte do autor e
tais causas não são examinadas de uma forma minuciosa, motivo pelo qual
carecem ter de maior relevância nos julgamentos penais.

Diante de tais circunstâncias, o estado puerperal foi incorporado a Legislação


Penal Brasileira vigente como parâmetro do crime de infanticídio, tornando se
este um crime privilegiado, em virtude das perturbações físicas e psicológicas
suportadas pela mulher durante este período. Entretanto, tal privilegio faz se
inútil, visto que os aspectos jurídicos são levados mais em consideração do que
as causas fisiopsicológicas examinadas pela perícia médica.

Dada a importância de tal assunto, verifica-se que o estado puerperal é


caracterizado pela soma de alterações de cunho físico e psicológico que
transcorrem pelo organismo feminino em consequência do parto, momento
este, em que a mãe tem o filho separado de seu corpo, e observa-se também
o lapso temporal em que a mulher atua sob o estado puerperal segundo a
medicina e pelo âmbito jurídico penal.

Tais alterações ocasionadas na mulher a fazem passar por momentos de


alucinações extremas, inquietação, agitação, agressividade e confusão mental
e estas modificações biológicas e psicológicas, podendo gerar maiores
problemas de saúde. Porém, nem todas as genitoras são acometidas pelo
estado puerperal, logo se faz necessário uma avaliação mais ampla por se
tratar de critério de um delito previamente expresso em lei.

Desta forma, também foi exposto que a existência a psicose puerperal e a


depressão pós parto, entre outras doenças decorrentes do estado puerperal,
são vistas como patologias críticas e havendo tal comprovação. Sendo assim,
25

a mulher é inclusa na imputabilidade penal, expressa previamente em lei devido


as condições de saúde mental em que esta encontra.

Portanto, conclui-se que é imprescindível que sejam consideradas as


condições em que saúde mental da mulher que comete o crime de infanticídio
se encontram, devido ao extremo nível de perturbações em que estas se
encontram, seja isto pelo fator biológico ou psicológico. Diante do exposto, faz
se necessária a inexigibilidade de conduta diversa, havendo a
descriminalização da referida conduta típica, tornando se essencial que a
Legislação Pátria passe a acatar a prevenção de tal delito, fazendo assim as
devidas e necessárias alterações em seu texto.
26

REFERÊNCIAS:

CAPEZ, FERNANDO. Curso de direito penal - v.2: PARTE ESPECIAL - arts. 121 a
212 - 21 ed - S. Paulo - Saraiva Educação, 2021.
JESUS, DAMÁSIO. Parte especial: crimes contra a pessoa a crimes contra o
patrimônio – arts. 121 a 183 do CP / Damásio de Jesus; atualização André Estefam.
– Direito penal vol. 2 – 36. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020. 488 p.
Bibliografia 1. Direito penal. 2. Direito penal – Brasil. I. Estefam, André. II. Título. 20-
0057
GONÇALVES, VICTOR EDUARDO RIOS. Sinopses Jurídicas: Dos Crimes contra a
pessoa / Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 13. ed. reform. – São Paulo: Saraiva, 2010.
– (Coleção sinopses jurídicas; v. 8) 1. Direito penal 2. Direito penal - Brasil I. Título. II.
Série.
GONÇALVES, C. R. (2012). Direito Civil Brasileiro, volume 1: Parte Geral/ Ed.10. São
Paulo: Saraiva.
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao código penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1955.
NUCCI, G. d. (2020). Manual de Direito Penal (16ª ed.). São Paulo: Forenses.
CAMACHO, Renata Sciorilli et al. Transtornos psiquiátricos na gestação e no
puerpério: classificação, diagnóstico e tratamento. Revista psiquiatria clínica, São
Paulo, v. 33, n. 2, p. 92-102, 2006
<https://www.scielo.br/j/rpc/a/thPtpV468Ff9sQSqd7VcxRt/?lang=pt#:~:text=Estudos
%20neurocient%C3%ADficos%20recentes%20sustentam%20a,alguns%20pa%C3%
ADses%20j%C3%A1%20defendem%20essa> Acesso em 27/03/2022
ZIOMKOWSKI, Patrícia; LEVANDOWSKI, Daniela Centenaro. Fatores de risco ao
crime de infanticídio: análise de julgamentos do Tribunal de Justiça do Estado do Rio
Grande do Sul. Pesquisa práticas psicossociais, São João Del-Rei, v. 12, n. 2, p. 361-
373, ago. 2017. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-
89082017000200009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 27/03/2022
IACONELLI, Vera. Depressão pós-parto, psicose pós-parto e tristeza materna.
Revista Pediatria Moderna, v. 41, n.4, p. 1-6, jul-ago. 2005. Disponível em
<https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/1927.pdf> Acesso em
27/03/2022.
INFANTICÍDIO - Podcast | Conversando com o Nucci 2021
<https://anchor.fm/guilherme-nucci/episodes/55-Infanticdio-epg5co/a-a4f1s61>
acessado em 30/03/2022.
27

MAGGIO, V. d. (2004). Infanticídio e a morte culposa do recém-nascido. São Paulo:


Millennium
MUAKAD, Irene Batista. O Infanticídio: 2ª ed., vol. 1, São Paulo: 2002.
Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJ-MG – Recurso em Sentido Estrito: 0321933-
46.2020.8.3.0024 Belo Horizonte. Disponível em:
<https://tj-mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1459109182/rec-em-sentido-estrito-
10024200321933001-belo-horizonte> Acesso em: 12/05/2022.

FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina legal. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2017.

SOUZA, Luciano. Capítulo 4. Infanticídio (Art. 123) - Crimes Contra a Pessoa In:
SOUZA, Luciano. Direito Penal - Vol. 2 - Ed. 2021. São Paulo (SP):Editora Revista
dos Tribunais. 2021. Disponível em:
<https://thomsonreuters.jusbrasil.com.br/doutrina/1198080860/direito-penalvol 2-ed-
2021>. Acesso em: 22/05/2022.
GONÇALVES, V. E. R. Curso de direito penal - parte especial - Arts 121 a 183. São
Paulo: Saraiva, 2020. Disponível em:
< https://app.saraivadigital.com.br/leitor/ebook:759303>. Acesso em 22/05/2022.
ALCANTARA, M. (1938). Projeto do Código Criminal Brasileiro. Disponível em
<https://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/65859/68470> Acesso em
31/05/2022

Você também pode gostar