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Índice

Capítulo I ............................................................................................................................................................. 2
1.1 Introdução ................................................................................................................................................. 2
1.2 Contextualização. .......................................................................................................................................... 4
1.3 Enquadramento Legal do Tema .............................................................................................................. 5
1.4 Relevância do Tema.................................................................................................................................. 6

1.5 Objecto de Estudo ..................................................................................................................................... 6


1.6 Objectivos .................................................................................................................................................. 7
1.6.1 Objectivo Geral.................................................................................................................................. 7
1.6.2 Objecticos Específicos ....................................................................................................................... 7
1.7 Problematização........................................................................................................................................ 8

1.8 Pergunta de Partida.................................................................................................................................. 8


1.9 Hipóteses. ................................................................................................................................................... 9
2 Justificativa da Escolha do Tema ................................................................................................................... 9
2.1 Metodologia da Elaboração do Trabalho e Fundamentação. ............................................................. 10
2.1.1 O Tipo de Estudo - Misto ................................................................................................................ 10
2.1.2 Tipo de Abordagem – Qualitativa. ................................................................................................. 10
2.1.3 Método de Abordagem – Indutivo ................................................................................................. 10
2.1.4 Método de Procedimento ................................................................................................................ 10
2.1.5 Técnica da Recolha de Dados ......................................................................................................... 11
Capítulo II ......................................................................................................................................................... 12
2.1 Revisão Literária .................................................................................................................................... 12
2.1.1 Definição de Conceitos .................................................................................................................... 12
2.1.2 Princípio de Igualdade .................................................................................................................... 12
2.1.3 Igualdade .............................................................................................................................................. 12
2.1.5 Segurança Social .................................................................................................................................. 13
2.1.6 Direito a Segurança Social .................................................................................................................. 13
2.1.7 Segurança Social Obrigatória ............................................................................................................. 14

2.1.8 Objetivos da Segurança Social ....................................................................................................... 14


2.1.9 A Proteção Social no Ordenamento Jurídico Moçambicano ........................................................... 15

0
2.2 A Segurança Social Básica ..................................................................................................................... 15
2.2.1 A Segurança Social Obrigatória ......................................................................................................... 15
2.2.2 Segurança Social Complementar ....................................................................................................... 15
Capítulo III ........................................................................................................................................................ 16
3.1 A Desigualdade na Proteção Social nos Casos de Sanção Disciplinar de Expulsão. ......................... 16
3.1.2 Infração Disciplinar e Contravenção ............................................................................................. 16
3.1.3 Poder Disciplinar ............................................................................................................................. 16
3.1.4 A Relação Laboral no Sector Público e no Privado. ..................................................................... 16
3.1.5 Os Tipos de Sanções Disciplinares. ................................................................................................ 17

3.1.6 As Implicações da Sanção Disciplinar de Expulsão no Sector Privado ...................................... 17


3.1.7 A Sanção de Expulsão no Aparelho do Estado ............................................................................. 17
3.1.8 A Expulsão do Funcionário no Estatuto dos Magistrados do Ministério Público. .................... 18
3.1.9 Como é Tratada a Sanção de Expulsão na Magistratura Judicial? ............................................ 18
Capítulo IV ........................................................................................................................................................ 19

4.1 O Direito Comparado ............................................................................................................................. 19


4.1.2 A Sanção de Expulsão do Magistrado Judicial no Ordenamento Jurídico Português. ............. 19
4.1.3 A Sanção de Expulsão no Ordenamento Jurídico Brasileiro....................................................... 20
4.1.4 A Sanção de Expulsão do Magistrado no Ordenamento Jurídico Angolano. ............................ 21
Capítulo V.......................................................................................................................................................... 22
5 Análise e Discussão de Resultados............................................................................................................ 22
5.1 Análise dos Resultados. ...................................................................................................................... 22
5.2 Discussão de Resultados. .................................................................................................................... 22
6 Conclusão........................................................................................................................................................ 23
7 Recomendações .............................................................................................................................................. 24
8 Referências Bibliográficas ............................................................................................................................. 25

9 Glossário ......................................................................................................................................................... 27

1
Capítulo I

1.1 Introdução
A presente monografia é referente ao trabalho de fim do curso de licenciatura em Direito no
Instituto Superior Monitor, o mesmo tem como tema “A Desigualdade na Protecção Social nos
Casos de Sanção Disciplinar de Expulsão em Moçambique – Análise Concreta dos
Magistrados Judicias” Partindo do prossuposto constitucional e legal segundo o qual a
protecção social é um direito fundamental constitucionalmente consagrado no artigo 95 da CRM,
bem como todos homens são iguais perante a lei gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos a
mesmos deveres, independentemente da cor, raça, origem étnica, lugar de nascimento, religião,
grau de instrução, posição social, estado civil dos pais, profissão ou opção politica conforme
artigo 35 da CRM, O tema em análise vem suscitar as desigualdades de tratamento dos
magistrados judicias em caso de sanção disciplinar de expulsão em comparação com os
magistrados do Ministério Público, os demais funcionários públicos e trabalhadores por conta de
outrem concretamente os do sector privado. Ademais a proteção social representa um direito
fundamental o qual o Estado deve garantir ao cidadão, nas situações que a lei prevê,
nomeadamente velhice, invalidez, calamidades, etc.

A legislação, seja ela especial, avulsa ou decreto lei, não pode a seu belo prazer retirar aos
cidadãos direitos consagrados a estes pela constituição sob pena de enfermar de vícios de
inconstitucionalidade… Trazer sanções disciplinares que retiram o direito a segurança social do
indivíduo, viola o Estado de direito democrático que Moçambique e outros Estados modernos
defendem, através da sua respetiva constituição e convenções internacionais que Moçambique
ratificou em particular os da OIT, carta africana dos direitos humanos e dos povos, entre outros.

A protecção social visa em última análise salvaguardar o bem das gerações futuras seja nos casos
naturais como a velhice, a morte, ou infortúnio que seria a invalidez, conformando se desta
forma, com o princípio da solidariedade; e não se pode hipotecar a educação, a assistência
médica e social dos dependentes do trabalhador de ânimo leve por meio de preceitos ou regras
que violam a lex superiore ou a constituição.

2
O tema em alusão, analisado sob prisma do direito comparado com alguns ordenamentos
jurídicos, em particular dos palopes ou comunidade dos países de língua oficial portuguesa –
CPLP, este demostra se extemporâneo ou desenquadrado.

Pelo exposto acima, este trabalho enquadra se no direito constitucional, mas, pela
comunicabilidade das áreas do direito e a linha ténue ou proximidade que este tema tem com as
áreas do direito de trabalho e administrativo, serão igualmente trazidos alguns aspetos relativos a
estas. Este trabalho, visa a obtenção do grau de Licenciatura em Direito pelo Instituto Superior
Monitor. O mesmo está organizado em capítulos e subcapítulos.

Palavras Chave:

Segurança Social, Protecção Social, Magistrados Judiciais, Igualdade, Descriminação.

3
1.2 Contextualização.

Os primeiros ensaios de direitos à proteção social em Moçambique encontram lugar após a


conquista da independência nacional e consequente nascimento do Estado e introdução da
Constituição da República Popular de Moçambique (CRPM) em 1975. Foi com base nesta
constituição que passamos a ter no Estado Moçambicano direitos do trabalhador, incluindo a
proteção social. No capítulo dos direitos fundamentais, o artigo 32 da Constituição de 1975, o
legislador constitucional introduz a protecção do cidadão na velhice e na invalidez, “ todo o
1
cidadão tem direito de assistência na velhice e invalidez…” Bem como, defende a igualdade
dos homens perante a lei independentemente da sua raça, cor, sexo, religião, origem étnica,
lugar de nascimento, grau de instrução social ou profissional, conforme artigo 26 da CRPM.

Associado ao dito supra, não foi de menor relevância a sede da conquista da liberdade e defesa
da soberania, por parte dos recém Estados africanos independentes após seculos de subjugação
colonial. É nesta senda que as normas de trabalho tiveram o seu percurso próprio convista ao
alcance dos objectivos propostos na carta africana dos direitos dos povos CADHP, na declaração
universal dos direitos humanos e dos povos DHDH e os preconizados pela organização
internacional do trabalho - OIT. As pessoas idosas ou incapacitadas têm igualmente direito a
medidas especificas de proteção que correspondem as suas necessidades físicas ou morais.2

São estes novos conceitos que iluminaram os legisladores a conformar os instrumentos que
regulamentam o labor nos ordenamentos jurídicos de forma a conformar se com os direitos do
trabalhador desde a higiene e segurança no trabalho a proteção social do trabalhador, na
invalidez e na velhice e Moçambique não foi excepção. A codificação do Direito de trabalho em
Moçambique não foi automática, isto é, foi um processo e teve as suas vicissitudes características
da função.

É, neste contesto que o quadro legal ou Estatuto Geral dos funcionários do Estado de 1987 na
alínea f) artigo 178, prevê na sanção disciplinar de expulsão, a perda de todos direitos adquiridos
pelo infractor, situação prevalecente no estatuto que revogou este último nomeadamente o
decreto lei 14/2009 de 17 de Março concretamente artigo 82 alínea f). Não obstante, o estatuto
geral dos agentes e funcionários do Estado que revogou este último, no mesmo capítulo da

1
Artigo 32 CRPM - 1975
2
Número 4 artigo 18 carta Africana dos direitos humanos e dos povos

4
responsabilidade disciplinar, o legislador introduz uma inovação ao estatuir que a expulsão
implica “o afastamento do infractor do aparelho do Estado, podendo ser readmitido decorridos
doze anos sobre a data do despacho punitivo.” 3 Bem como o número 4 do mesmo artigo prevê
a possibilidade de o infractor demitido ou expulso, poder requerer aposentação desde que tenha
pelo menos 15 anos de serviço no Estado.

Esta posição não só implicou uma viragem, mas uma evolução no sentido de igualdade de
tratamento dos trabalhadores ou cidadãos perante a lei, como veio conformar o princípio
de protecção social e da segurança social, que constituem direitos fundamentais. Pois a
cláusula que dispunha a perda de todos os direitos adquiridos pelo infractor em caso de
expulsão, punha em causa os direitos da segurança social e proteção social do trabalhador
o que seria um atropelo a constituição.

De forma controversa, o estatuto dos magistrados judicias – artigo 73 da lei 7/2009 de 11 de


Março, mantem-se inalterada no que tange a situação em análise, isto é, o magistrado judicial,
em caso de lhe ser aplicada a sanção disciplinar de expulsão, este perde todos os direitos
adquiridos no exercício de suas funções, o que contraria a lei e descrimina esta classe laboral em
relação aos demais funcionários públicos incluindo os magistrados do ministério público.

1.3 Enquadramento Legal do Tema


No que tange ao enquadramento legal, este trabalho tem como base o artigo 73 da lei 7/2009 de
11 de Março republicada pela lei 8/2018 de 27 de Agosto, que é a lei que aprova o Estatuto dos
Magistrados Judiciais no Ordenamento jurídico Moçambicano, o artigo em causa, será
confrontado com outras leis como os artigos 35 e artigo 95 ambos da CRM – Lei 1/2018 de 12
de Junho, bem como com os artigo 199 e 221 do estatuto dos magistrados do Ministério Publico
lei 1/22 de 12 de Janeiro e estatuto dos agentes e funcionários do Estado (EGFAE).

3
Alínea f) artigo 112 EGFAE lei 4/2022 de 11 de fevereiro

5
1.4 Relevância do Tema
O tema em apreço tem relevância na medida em que os magistrados judiciais, no ordenamento
jurídico Moçambicano, são discriminados dos seus direitos em caso de sanção disciplinar de
expulsão se comparados com os magistrados do Ministério público, dos demais funcionários de
Estado e do sector privado, contrariando a Constituição pois, esta defende a igualdade dos
cidadãos perante a lei. Ademais a segurança social e a proteção social, constituem direitos
fundamentais consagrados pela constituição nos artigos 85 e 95 da CRM; Em particular o
número 1 do artigo 95 dispõe que: “ todos os cidadão tem direito a assistência em caso de
incapacidade e na velhice” 4
retirar estes direitos ao cidadão, é ilegal, inconstitucional e anti o
Estado de direito e democrático.

1.5 Objecto de Estudo


O objeto de estudo do presente trabalho cientifico, é a inconstitucionalidade artigo 73 da lei
7/2009 de 11 de Março ou Estatuto dos Magistrados Judiciais que prevê tratamento diferenciado
ou discriminatório dos magistrados Judiciais se comparados aos demais funcionários públicos e
magistrados do ministério publico, em caso de sanção disciplinar de expulsão ao determinar a
perda de todos direitos adquiridos pelo infractor “A pena de expulsão consiste no afastamento
definitivo do magistrado, com a cessação de todos os vínculos com a função e a perda de todos
os direitos adquiridos no seu exercício.” 5
Esta disposição contraria a constituição que prevê a
proteção na velhice e invalidez artigos 95 da CRM, por outro lado, a Constituição defende a
igualdade dos homens perante a lei artigo 35.

A lei em causa, em particular o artigo 73 do estatuto dos magistrados judiciais, ao determinar a


perda de todos os direitos adquiridos pelo infrator no exercício de suas funções, descrimina em
primeiro lugar a estes magistrados se comparados com a outra classe dos mesmos, no caso os
Magistrados do Ministério Público pois, o regulamento ou estatuto que regulamenta estes
últimos, na mesma sanção, a de expulsão não prevê a perda dos direitos adquiridos pelo infrator
no exercício de suas funções, conforme dispõe: A sanção de expulsão consiste no afastamento do
magistrado do Aparelho do Estado, nos termos fixados pelo Estatuto Geral dos Funcionários e

4
Artigo 95, Constituição da República de Moçambique - CRM
5
Artigo 73 lei 7/2009 de 11 de Março – Estatuto dos Magistrados Judiciais.

6
6
Agentes do Estado. Por sua vez o Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado, na
expulsão, não prevê a perda dos direitos adquiridos pelo infrator mas, apenas o afastamento do
infrator, podendo ser readmitido decorridos oito anos após o despacho punitivo conforme artigo
199 do EGFAE lei 10/2017 de 1 de Agosto; O que sem dúvidas veio compatibilizar este artigo
em particular com a Constituição, salvaguardando o direito do trabalhador a segurança social, na
velhice e invalidez. O legislador neste aspecto em particular, veio protelar o princípio
constitucional de igualdade no caso entre os magistrados do ministério público e os demais
funcionários e agentes regulados pelo estatuto geral dos funcionários e agentes do Estado.

Não obstante, esta evolução legislativa no sentido de cada vez mais conformar os variados
instrumentos que regulam o labor do erário público no ordenamento jurídico Moçambicano, a lei
dos magistrados judiciais em particular o artigo 73 da lei 7/2009 de 11 de Março, continua
inalterada, ou não foi revista colocando em causa a igualdade dos cidadãos perante a lei e a
proteção social do cidadão/trabalhador na velhice e invalidez. Pois a revisão legislativa do
estatuto dos magistrados judicias de 2011, no caso lei 3/2011 de 11 de janeiro não alterou o
artigo em causa.

1.6 Objectivos

1.6.1 Objectivo Geral


• Debruçar sobre desigualdade na proteção social do trabalhador na velhice e invalidez,
expôr suas consequências e possíveis soluções para o problema.

1.6.2 Objecticos Específicos


• Debater a desigualdade do tratamento dos magistrados judiciais se comparados com os
demais funcionários públicos em caso de expulsão.

6
Art 199 Estatuto dos magistrados do Ministério Público (lei 1/2022 de 12 de Janeiro)

7
1.7 Problematização.
Da compulsa da Constituição da República de Moçambique, o número 1 do artigo 95 dispõe que
todos os cidadãos têm direito a assistência em caso de incapacidade e na velhice.
Bem como do artigo 35 da mesma, consagra o princípio de universalidade e igualdade no qual:
Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos
mesmos deveres, independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de nascimento,
religião, grau de instrução, posição social, estado civil dos pais, profissão ou opção política.
O artigo 73 da lei ou estatuto dos magistrados judiciais, lei 7/2009 de 11 de Março, ao prever a
perda de todos os direitos adquiridos pelo infrator em caso de expulsão, veio retirar o que a
constituição consagrou. Por outro lado esta lei discrimina os magistrados judiciais em caso de
expulsão se comparados com os demais funcionários públicos, visto que tanto o estatuto dos
magistrados do ministério público ( lei 1/22 de 12 de Janeiro), como o estatuto geral do
funcionários e agentes do Estado EGFAE - lei 4/2022 de 11 de fevereiro, não prevêm tal
situação, ou trata de forma diferente a sanção de expulsão. Prevalecendo desta forma a
discriminação pois: A lei geral não revoga a lei específica.7
A lei seja ela específica ou avulsa, não pode a seu belo prazer retirar aos cidadãos direitos
fundamentais consagrados no texto constitucional. A proteção social configura um direito
fundamental essencial na preservação do bem-estar social e económico, assegura e garante o
desenvolvimento sustentável, necessário para o bem-estar individual e coletivo. Assegura
igualmente o sustento, a assistência médica, a educação e continuidade das gerações vindouras
tanto em caso de infortúnio como a invalidez, a morte como na velhice. Daí, ser o papel do
Estado assegurar, garantir e promover o acesso destes direitos ao cidadão, ademais, a limitação
dos direitos fundamentais só é permitida em circunstâncias específicas previstas na lei, o que não
procede no caso em análise.

1.8 Pergunta de Partida


Em que medida a perda de todos direitos adquiridos pelo infrator na sanção disciplinar de
expulsão, prevista no estatuto dos magistrados judiciais viola o direito à Segurança Social e
ao princípio de igualdade dos cidadãos consagrados na Constituição?

7
José Oliveira Ascensão, O Direito – Introdução e Teoria Geral, pág. 536, Coimbra 2005

8
1.9 Hipóteses.

• Hip. 1 - A não revisão do estatuto dos magistrados judicias concorre para a


descriminação dos magistrados judiciais em relação aos demais funcionários públicos.
• Hip. 2 – A fiscalização sucessiva da constitucionalidade das normas pode ser a solução
deste problema.

2 Justificativa da Escolha do Tema

O artigo 73 do estatuto dos magistrados judiciais lei 7/2009 de 11 de Março republicada


pela lei 3/2011 de 11 de Janeiro e 8/2018 de 27 de Agosto, em caso de expulsão do infractor,
prevê a perda de todos os direitos adquiridos pelo infrator no exercício de suas funções
contrariando desta forma o direito do trabalhador a proteção social na velhice e invalidez e
o princípio de igualdade consagrados na CRM nos artigos 95 e 35 respetivamente. 8
De igual modo, este artigo é discriminatório na medida em que para o mesmo caso trata de forma
diferenciada os cidadãos, mormente, os funcionários do Estado no geral se comparados com os
magistrados Judiciais. O estatuto dos magistrados do ministério publico, a lei 1/22 de 12 de
janeiro, conforma a sanção de expulsão nos termos fixados no EGFAE.
A inconstitucionalidade desta cláusula, e a discriminação no funcionalismo público em particular
dos magistrados judiciais é tácita, daí justificar este trabalho académico, convista a ser um
eventual subsídio para a academia, e aos cultores do Direito no geral. A mesma cláusula, vai em
contramão com os princípios da organização internacional do trabalho, nomeadamente a
convenção 111 sobre a discriminação no emprego ratificada por Moçambique através do decreto
22/77 de 28 de Maio.
A humanização do direito, pressupõe ser um processo contínuo e permanente pois, a euforia de
normalização ou codificação dos actos administrativos, do comércio internacional, do direito
fiscal, do direito de trabalho e outras áreas do direito, não escapou do “positivismo exacerbado
ou radical”, nefasto ou prejudicial ao homem. O Direito deve estar ao serviço da humanidade e
não o contrário.

9
2.1 Metodologia da Elaboração do Trabalho e Fundamentação.

2.1.1 O Tipo de Estudo - Misto


O tipo de estudo no qual optamos na elaboração desta pesquisa é misto, na medida em que, é:
Exploratório-Explicativo pois: Na vertente exploratória, Primeiro fazemos uma caracterização
inicial do problema tratado na pesquisa com etapa inicial, o que permite uma maior
familiarização do tema da pesquisa e o levantamento de hipóteses, permite igualmente obter a
explicação de fenómenos qua antes não foram explicados ou explorados pelos demais
pesquisadores com recurso à bibliografia. Explicativa porque buscamos as causas do fenómeno
estudado para além de registá-los e analisá-los.

2.1.2 Tipo de Abordagem – Qualitativa.


O tipo de abordagem empregue nesta pesquisa é qualitativa pois: É uma abordagem de pesquisa
que estuda aspectos subjectivos de fenômenos sociais e do comportamento humano, no caso
concreto a descriminação de uma classe de trabalhadores do erário público no ordenamento
jurídico Moçambicano. Os objetos de uma pesquisa qualitativa são fenômenos que ocorrem em
determinado tempo, local e cultura concretamente em Moçambique. É um estudo em que
privilegiámos a pesquisa documental e bibliográfica.

2.1.3 Método de Abordagem – Indutivo


O método de abordagem é indutivo pois: Na elaboração desta pesquisa, partimos da
generalização para uma questão particular, isto é, da análise geral do quadro legislativo desde o
período colonial aos dias actuais sobre o tema, chegamos à premissa particular, no caso a razão
deste problema, bem como propômos a possível solução deste.

2.1.4 Método de Procedimento


Usamos o método comparativo pois: Fazemos a explicação do tema comparando as suas
semelhanças e suas diferenças, conforme afirma FACHIN (2001) o método comparativo,
consiste em investigar coisas ou fatos e explicá-los segundo suas semelhanças e suas diferenças.
Permite a análise de dados concretos e a dedução de semelhanças e divergências de elementos
constantes, abstratos e gerais, propiciando investigações de caráter indireto. FACHIN (2001)

10
2.1.5 Técnica da Recolha de Dados
A técnica que privilegiamos na recolha de dados, foi a consulta documental destacando a
legislação, os manuais ou livros, e a internet, pois a contextualização histórica e o maior acervo
cientifico do tema em análise, está em leis e manuais, esta técnica, permitiu me trabalhar com
dependência de outrem e foi vantajosa na economia do tempo; Daí a preferência desta opção, na
técnica de recolha de dados.

11
Capítulo II

2.1 Revisão Literária

2.1.1 Definição de Conceitos

2.1.2 Princípio de Igualdade


A CRM conceitua este princípio nos termos seguintes: Todos os cidadãos são iguais perante a
lei, gozam os mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres, independentemente da cor,
raça, sexo, origem étnica, lugar de nascimento, religião, grau de instrução, posição social,
estado civil dos pais, profissão ou opção política. 9

2.1.3 Igualdade
Etimologicamente Igualdade vem do latim equalitas: Falta de diferenças; de mesmo valor ou de
acordo com mesmo ponto de vista, quando comparados com outra coisa ou pessoa: igualdade
racial; igualdade salarial; igualdade de vagas. Princípio de acordo com o qual todos os indivíduos
estão sujeitos à lei e possuem direitos e deveres.

2.1.4 Princípio de Universalidade

O princípio da universalidade integra o núcleo essencial do regime jurídico do serviço público.


Tal instituto traduz-se em prestações materiais, titularizadas pelo Estado e prestadas por ele ou
por quem lhe faça as vezes, sob um regime publicista. Mediante tais prestações, o Estado cumpre
seu dever de realização dos direitos fundamentais sociais, plasmados na Constituição.
Direcionado a tal desiderato, o princípio da universalidade assegura a todas as pessoas o acesso
às prestações decorrentes dos serviços públicos, sendo dever inescusável do Estado permitir, a
toda a população, o acesso às comodidades materiais decorrentes de tais prestações. Tal princípio
traduz, assim, o dever de universalizar o acesso aos direitos fundamentais sociais concretizados
mediante os serviços públicos prestados, manifestando-se como condição de realização dos
objetivos fundamentais previstos no texto constitucional.

9
Artigo 35 CRM

12
2.1.5 Segurança Social
A Organização Internacional do trabalho – OIT, define segurança social como uma proteção que
o Estado proporciona a todos os cidadãos através de variadas medidas públicas. Não obstante a
eventual participação de entidades privadas no patrocínio a este direito através de medidas
complementares, cabe ao Estado promover e assegurar o acesso deste direito a todos cidadãos,
pois é um direito Fundamental no caso de Moçambique podemos citar o artigo 95 da CRM.
Segundo o dicionário da língua portuguesa infopédia, Segurança Social é um sistema de
assistência e proteção económica que garante um conjunto de regalias sociais aos beneficiários
em situação de reforma, invalidez, doença, desemprego, etc. 10

2.1.6 Direito a Segurança Social


A Organização Internacional do trabalho – OIT, define direito à segurança social como um
direito social básico de todos os seres humanos. Deste modo, o direito à segurança social foi
consagrado em diversos instrumentos de direitos humanos adotados pela Organização das
Nações Unidas (ONU) bem como pela maioria das nações; E esta explicitamente formulado
como tal nos instrumentos reguladores de direitos humanos, nomeadamente na Declaração
Universal dos Direitos Humanos (DUDH) e o Pacto Internacional dos Direitos Económicos,
Sociais e Culturais (PIDESC). A necessidade universal de segurança social foi reconhecida pela
comunidade mundial como um direito humano. Desde a criação da OIT, em 1919, realizar o
objetivo da segurança social tem estado sempre no centro do seu mandato. Especificamente, o
artigo 22.º da DUDH estabelece que:
Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo
esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de
cada Estado, dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao
livre desenvolvimento da sua personalidade.

10
https://www.jm-madeira.pt/opinioes/ver/2166/Universalidade_vs_igualdade edição do dia 20/06/22

13
2.1.7 Segurança Social Obrigatória
A que se destina aos trabalhadores assalariados ou por conta própria e suas famílias, com o
objetivo de protege-los, nas situações de falta ou diminuição da capacidade para o trabalho,
maternidade, velhice e morte. A proteção social obrigatória pressupõe a solidariedade de grupo,
o carácter comutativo e assenta numa lógica de seguro social.11

2.1.8 Objetivos da Segurança Social


Segundo o relatório da 100ª Conferencia Internacional do Trabalho indica como principais
objetivos da segurança social Independentemente de quem assume a responsabilidade principal
pelo exercício deste direito humano, os seguintes:
• Reduzir a insegurança de rendimentos, nomeadamente a erradicação da pobreza, e
melhorar o acesso de todas as pessoas a serviços de saúde, com vista a assegurar
condições de trabalho e de vida dignas;
• Reduzir a desigualdade e a iniquidade;
• Proporcionar prestações adequadas como um direito legal; e simultaneamente
• Garantir a ausência de discriminação baseada na nacionalidade, na etnia ou no sexo e
• Garantir a viabilidade, a eficiência e a sustentabilidade fiscais.
Esta posição, coaduna com a nossa legislação pois a lei que estabelece as bases da proteção
social em Moçambique, a lei 4/2007 de 7 de fevereiro, no seu artigo 2 estabelece que: ”A
proteção social tem por objetivo atenuar, na medida das condições económicas do pais, as
situações de pobreza absoluta das populações. garantir a subsistência dos trabalhadores nas
situações de falta ou diminuição de capacidade para o trabalho. bem como dos familiares
sobreviventes em caso de morte dos referidos trabalhadores e conferir condições suplementares
de sobrevivência.”12

11
Glossário – Lei de Bases da Proteção social – lei 4/2007 de 7 de Fevereiro
12
Artigo 2 - Lei de Bases da Proteção social – lei 4/2007 de 7 de Fevereiro

14
2.1.9 A Proteção Social no Ordenamento Jurídico Moçambicano
A proteção social em Moçambique, tem as suas bases na lei 4/2007 de 7 de fevereiro que
estabelece as bases do sistema de proteção social. E esta, estrutura-se em três níveis,
designadamente:
• Segurança Social Básica;
• Segurança Social Obrigatória;
• Segurança Social Complementar.

2.2 A Segurança Social Básica


Que abrange os cidadãos nacionais incapacitados para o trabalho, sem meios próprios para
satisfazer as suas necessidades básicas, nomeadamente: Pessoas em situação de pobreza
absoluta; Crianças em situação difícil; Idosos em situação de pobreza absoluta; Pessoas
portadoras de deficiência em pobreza absoluta e pessoas com doenças crónicas e degenerativas.
Este sistema é gerido pelo Instituto Nacional de Ação Social – INAS.

2.2.1 A Segurança Social Obrigatória


Este sistema abrange os trabalhadores por conta de outrem, nacionais e estrangeiros residentes
em território nacional trabalhadores por conta própria e nacionais a trabalhar no estrangeiro. Este
é gerido pelo Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) por sua vez regulado em específico
pela lei 51/2017 de 9 de Outubro.
A segurança social obrigatória dos trabalhadores por conta de outrem compreende as seguintes
prestações: Na doença, o subsídio por doença e o subsídio por internamento hospitalar; Na
maternidade, o subsídio por maternidade; Na invalidez, a pensão por invalidez; Na velhice, a
pensão por velhice; Na morte, o subsídio por morte, o subsídio de funeral e a pensão de
sobrevivência.

2.2.2 Segurança Social Complementar


Abrange, com carácter facultativo, as pessoas inscritas no sistema de segurança social
obrigatória. Este sistema é gerido por entidades de carácter privado ou público, cuja constituição
e funcionamento é regulamentada pelo Conselho de Ministros conforme número 5 artigo 39 da
lei 4/2007 de 4 da fevereiro. Portanto é um sistema complementar.

15
Capítulo III

3.1 A Desigualdade na Proteção Social nos Casos de Sanção Disciplinar de Expulsão.

3.1.2 Infração Disciplinar e Contravenção


Segundo a lei do trabalho, infracção disciplinar é todo o comportamento culposo do trabalhador
que viole os seus deveres profissionais, nomeadamente: O incumprimento do horário de trabalho
ou das tarefas atribuídas; A falta de comparência ao trabalho, sem justificação válida; A ausência
do posto ou local de trabalho no período de trabalho, sem a devida autorização, etc, etc
Por sua vez, contravenção é toda a violação ou não cumprimento das normas do direito do
trabalho constantes das leis, instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho, regulamentos
e determinações do Governo, designadamente nos domínios do emprego, formação profissional,
salários, higiene, segurança e saúde dos trabalhadores e da segurança social.

3.1.3 Poder Disciplinar


O poder disciplinar está inserido ou contemplado nos poderes do empregador que é a
prerrogativa que este último tem de aplicar sanções disciplinares aos trabalhadores que infligem
as regras e normas da empresa dentre elas as normas de higiene e segurança no trabalho entre
outras que regulam as actividades da empresa.

3.1.4 A Relação Laboral no Sector Público e no Privado.


A relação ou vínculo laboral entre o empregador e o trabalhador, no sector público é regulado
por meio da nomeação e excepcionalmente por meio do contrato. A relação de trabalho no
aparelho do Estado constitui-se através de nomeação em regime de carreira. Excepcionalmente,
a relação de trabalho no aparelho do Estado pode constituir-se em regime de contrato.13
Por sua vez no sector privado esta relação é estabelecida por meio do contrato de trabalho. Tanto
no primeiro como no segundo caso, são sempre observadas as regras do período probatório e ou
nomeação provisória tratando se do emprego no Estado. Não obstante esta dicotomia público ou

13
Art 14 EGFAE – Lei 4/2022 de 11 de Fevereiro

16
privado, a disciplina no local de trabalho é transversal, isto é, deve ser observada por todos os
trabalhadores ou colaboradores, independentemente da sua categoria profissional na empresa,
pois a sua não observância ou a infração, pode dar lugar a instauração de processo disciplinar
contra o trabalhador infractor. O funcionário ou agente do Estado que não cumpre ou que falte
aos seus deveres, abuse das suas funções ou de qualquer forma prejudique a Administração
Pública está sujeito a procedimento disciplinar ou à aplicação de sanções disciplinares, sem
prejuízo de procedimento criminal ou cível.14

3.1.5 Os Tipos de Sanções Disciplinares.


O escalonamento das sanções disciplinares tanto na LT como no EGAFE, hierarquizam se desde
a advertência como medida mínima à sanção de demissão e expulsão como a mais extrema e a
sua aplicação é precedida pela instauração do respectivo processo disciplinar com a excepção da
advertência. As sanções disciplinares aplicáveis ao funcionário do Estado são as seguintes:
Advertência; Repreensão pública; Multa; Despromoção; Demissão a expulsão.15

3.1.6 As Implicações da Sanção Disciplinar de Expulsão no Sector Privado


Na LT, a sanção disciplinar de Expulsão, implica a mais severa ou extrema do rol das
penalidades aplicadas ao infractor e esta, implica a afastamento do trabalhador da empresa e
consequente cessação da relação laboral. Não obstante este desligamento do trabalhador com a
empresa, a sanção não afeta os direitos adquiridos para o benefício da segurança social: A
aplicação da sanção de despedimento não implica a perda dos direitos decorrentes da inscrição
do trabalhador no sistema de segurança social se, à data da cessação da relação laboral, reunir
os requisitos para receber os benefícios correspondentes a qualquer um dos ramos do sistema.16

3.1.7 A Sanção de Expulsão no Aparelho do Estado


A lei geral que regula o labor na função publica, é o Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes
do Estado (EGFAE) ou lei 4/2022 de 11 de fevereiro. Neste instrumento, a sanção de expulsão,
não prevê a perda de diretos adquiridos para os benefícios da segurança social, ademais,
14
Art. 108 número 1 EGFAE – lei 4/2022 de 11 de fevereiro.
15
Art 111 EGFAE - lei 4/2022 de 11 de fevereiro.
16
Art. 63 número 4 lei do Trabalho – lei 23/2007 de 1 de agosto

17
respeitando se o direito ao trabalho o legislador foi mais longe ao salvaguar a readmissão do
infractor após doze anos do despacho que decreta a sua expulsão.

3.1.8 A Expulsão do Funcionário no Estatuto dos Magistrados do Ministério Público.


A lei que regula os magistrados do ministério público, lei 1/2022 de 12 da janeiro, o legislador
no artigo 199, conformou a sanção de expulsão conforme no EGFAE.
No tocante aos direitos da aposentação o magistrado do ministério público quando lhe for
aplicada a sanção disciplinar de expulsão, o artigo 221 do respectivo estatuto, prevê o desconto
de 730 dias na antiguidade do infractor na fixação da sua reforma.
Não obstante este desconto da antiguidade do trabalhador, este não perde na totalidade os seus
direitos da segurança social, garantindo desta forma o direito à proteção do trabalhador na
velhice e invalidez e a igualdade dos cidadãos perante a lei defendida pela CRM.

3.1.9 Como é Tratada a Sanção de Expulsão na Magistratura Judicial?


Controversamente ao plasmado na lei do trabalho – LT como no EGFAE e no estatuto dos
magistrados do Ministério Publico, a Expulsão do magistrado Judicial é tratado de forma
discriminatória se comparado aos demais cidadãos uma vez que a lei que regula esta classe
trabalhadora nomeadamente a lei 7/2009 de 11 de Março alterada pala lei 8/2018 de 27 de
Agosto, no seu artigo 73, a expulsão do infractor, prevê a perda de todos os direitos adquiridos
em exercício de funções: “A pena de expulsão, consiste no afastamento definitivo do magistrado,
com a cessação de todos os vínculos com a função e a perda de todos os direitos adquiridos no
seu exercício.”17 Esta posição viola o principio constitucional de igualdade dos cidadãos perante
a lei pois trata de forma diferenciada os funcionários públicos no que a expulsão diz respeito;
Bem com põe em causa o direito à proteção do trabalhador na velhice e invalidez.
A solução deste problema seria a alteração desta cláusula de forma a conformar com a
constituição e as demais leis.

17
Art. 73 lei 7/2009 de 11 de Março – Estatuto dos Magistrados Judiciais.

18
Capítulo IV

4.1 O Direito Comparado

4.1.2 A Sanção de Expulsão do Magistrado Judicial no Ordenamento Jurídico Português.


No ordenamento jurídico português, a constituição da república portuguesa (CRP) - lei 86/76 de
10 de abril atualizada pela lei 1/97 de 20 de setembro o artigo 63 no capítulo da segurança social
e solidariedade, prevê a segurança social como um direito universal a todo o cidadão cabendo ao
estado a organização e promoção de acesso a este direito incluindo a invalidez, a velhice, morte,
etc.
Quanto ao estatuto dos magistrados judiciais de Portugal (EMJP) - lei 21/85 de 30 de julho com
a última revisão com a lei 37/2009 de 20 de Julho, não obstante esta lei prever no número 1
artigo 107 a perda de direitos adquiridos em caso de demissão, no número 2 faz uma ressalva aos
direitos da aposentação do infrator como intangíveis pela sanção disciplinar, bem como defende
outro direito fundamental mormente, o direito ao trabalho: A mesma pena não implica a perda
do direito a aposentação, nos termos e condições estabelecidos na lei, nem impossibilita o
magistrado de ser nomeado para cargos públicos ou outros que possam ser exercidos sem que o
seu titular reúna as particulares condições de dignidade e confiança exigidas pelo cargo de que
foi demitido18 no mesmo diapasão esta posição coaduna igualmente com o Estatuto Disciplinar
dos Trabalhadores que Exercem Funções Publicas – lei 58/2008 de 9 de Setembro,
concretamente no número 4 artigo 11 conjugado com número 4 art. 182 da lei 35/2014 de 20 de
junho – lei do trabalho em funções públicas (LTFP).
Na ordem jurídica Moçambicana, esta posição não é a comungada pelo nosso legislador. No que
tange a lei específica que regulamenta o labor dos magistrados judiciais, conforme abordado nos
capítulos anteriores, o Magistrado Judicial, em caso de sansão disciplinar de expulsão perde
todos os direitos adquiridos em exercício de suas funções, colocando em causa direitos
fundamentais deste, relativos à segurança social e proteção social, conforme o aludido artigo 73
da lei 7/2009 de 11 de Março revisada pela lei 3/2011 de 11 de Janeiro.

18
Número 2 art. 107 lei 21/85 de 30 de julho, Estatuto dos Magistrados Judiciais de Portugal (EMJP)

19
Paradoxalmente no estatuto dos magistrados do ministério Publico de Moçambique – lei 1/22 de
12 de Janeiro no seu artigo 199, o legislador conformou a matéria subvertida em conformidade
com o estatuto geral dos agentes e funcionários do estado (EGFAE), o que é uma controvérsia,
uma discriminação dos cidadãos que constitucionalmente são iguais perante a lei, e que
consubstancia ou põe em causa a segurança social e proteção social desta classe.

4.1.3 A Sanção de Expulsão no Ordenamento Jurídico Brasileiro


A providência social no Brasil é regulado pela lei 8212 de 24 de julho de 1991, o Art. 1º dispõe
que: A Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes
públicos e da sociedade, destinado a assegurar o direito relativo à saúde, à previdência e à
assistência social.19
A Seguridade Social obedecerá aos seguintes princípios e diretrizes: universalidade da cobertura
e do atendimento; uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e
rurais; Equidade na forma de participação no custeio; Diversidade da base de financiamento;
Equidade na forma de participação e custeio; Diversidade da base de financiamento; Carácter
democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a participação da comunidade, em
especial de trabalhadores, empresários e aposentados.
No que aos funcionários públicos diz respeito, o labor na função publica é regulado pela lei
8112/90 de 11 de dezembro e esta, prevê a perda dos direitos adquiridos pelo infrator em casos
de demissão, “será cessada a aposentadoria do inativo que houver praticado na atividade, falta
punível com demissão” 20.
Quanto aos magistrados judiciais, a lei especial que regulamenta estes, parece blindar a pessoa
do magistrado no capítulo da responsabilidade disciplinar, em particular nos caos de demissão,
não vislumbra a perda dos direitos a aposentação; Pois segundo a lei orgânica do Magistrado
Judicial (LOMJ) lei 35/79 de 14 de Março, condiciona esta sansão ao voto de 2 terços do
conselho de juízes. E só pode ser demitido um juiz vitalício, remetendo de forma clara ao infrator
a aposentação compulsiva, com direito a sua aposentação.

19
Artigo 1 Lei 8212 de 24 de Julho – Lei da Previdência Social Brasileira.
20
Artigo 134 Lei 8112/90 de 11 de Dezembro Lei da Função Publica Brasileira.

20
4.1.4 A Sanção de Expulsão do Magistrado no Ordenamento Jurídico Angolano.

O regime disciplinar dos magistrados em Angola é regulado pela lei 7/94 de 25 de Abril, e da
compulsa da mesma, encontramos uma proximidade deste com os sistemas Português e
Brasileiro, em particular no que diz respeito ao capítulo disciplinar.
O estatuto em causa, não tem a Sansão de expulsão, mas sim de demissão e o artigo 79 dispõe
que: A Demissão consiste no afastamento definitivo do magistrado e implica a perda de estatuto
de magistrado e dos correspondentes direitos, sem prejuízo de outras consequências definidas
por lei.
Por sua vez o artigo 83 dispõe que a sanção de demissão prescreve volvidos 2 anos o que
transcreve o efeito disciplinar para o infractor.
O Direito criminal traz a ideia da não coletivização da responsabilidade criminal e esta ideia
vinca no direito do trabalho em particular na responsabilidade disciplinar como diz António
Monteiro Fernandes “As normas do direito colectivo do trabalho, não conformam directamente
as as relações individuais do trabalho, não criam direitos nem deveres para o trabalho
subordinado.”21

21
António Monteiro Fernandes: Direito do Trabalho, 2014 pág. 593 Coimbra.

21
Capítulo V

5 Análise e Discussão de Resultados


5.1 Análise dos Resultados.
Um dos grandes constrangimentos encontrados na elaboração deste trabalho, tem que ver com o
tema pois, existe escassez ou acervo bibliográfico de obras que versam de forma ampla o tema
discutido nesta pesquisa. Daí que tivemos a necessidade do recurso obrigatório ou quase que
imprescindível as leis específicas sobre a matéria. De igual modo, as várias alterações ou
revisões das leis ao longo do tempo, mormente o Estatuto dos Funcionários e Agentes do Estado
(EGFAE), bem como da lei específica da magistratura Judicial ou estatuto dos magistrados
judiciais, obrigou a uma análise pormenorizada destas leis ou instrumentos, para aferir se
efectivamente desta alterações, não teria se revisado o artigo que discrimina a classe social dos
magistrados se comparados com os demais funcionários públicos, o que acarretou mais tempo na
elaboração deste. O difícil acesso aos magistrados judiciais para efetivação de entrevistas ou
recolha de dados no campo, e o desconhecimento da clausula discriminatória, por parte de alguns
que os abordamos sobre a matéria, foi um factor contribuinte para manter ou optar por esta
técnica de recolha de dados, nomeadamente, pesquisa literária, e consulta das normas específicas
sobre o tema.

5.2 Discussão de Resultados.


Não obstante os constrangimentos que caracterizaram a elaboração desta pesquisa, logramos
resultados satisfatórios tendo em conta a delimitação do tema abordado. A fiscalização sucessiva
constitucionalidade das normas, só poderá resolver situações localizadas ou particulares que
possam surgir nos conflitos laborais típicos da expulsão do magistrado, que cheguem ao tribunal
para o julgamento da causa. Daí defendermos a revisão efectiva desta cláusula 73 do estatuto dos
magistrados judicias, pois, esta seria a solução mais acertada desta situação discriminatória.

As forças vivas da sociedade nomeadamente o legislador através da Assembleia da República, os


cidadãos por meio das associações ou sociedade civíl, o próprio executivo ou o Governo através
do Conselho de ministros, pode desencadear meios apropriados junto do Conselho
Constitucional para que esta clausula, seja declarada inconstitucional e sua consequente
alteração.

22
6 Conclusão

Concluindo não procuramos defender a impunidade dos que dos que infligem a disciplina
laboral, mas sim, apontar a inconstitucionalidade patente no estatuto dos magistrados. Pois, o
desenvolvimento sustentável harmonioso e de justiça social, só será possível se a nossa
legislação seja ela laboral ou económica ser constituída por normas justas, onde a discriminação,
e a irracionalidade, tendem a ser cada vez mais diminutos.
Procuramos trazer uma reflexão e um subsídio válido aos estudantes e cultores do direito,
sindicalistas e constitucionalistas sobre a segurança social e a proteção social no geral. Ao
abordar o direito comparado sobre o tema em análise, procuramos perceber a posição dos outros
estados ou ordenamentos jurídicos sobre a matéria, sobretudo os da CPLP por força dos laços
históricos comuns.
Não nos parece ser propositada a manutenção desta cláusula discriminatória no estatuto dos
magistrados judiciais, daí confirmar a hipótese segundo a qual, “A não revisão do estatuto dos
magistrados judicias em particular da cláusula (artigo 73), concorre para a descriminação dos
magistrados judiciais em relação aos demais funcionários públicos nos casos de expulsão.”
O debate sobre a proteção social, a eliminação de qualquer forma de discriminação laboral e a
segurança social são temas cada vez mais pertinentes nas várias geografias, e Moçambique não é
excepção, mas sim membro deste bloco ou grupo geopolítico; Bem como Moçambique é
membro das nações unidas e recentemente eleito membro não permanente do órgão mais
importante da ONU, nomeadamente o conselho de segurança. Daí a necessidade de cada vez
mais conformar se com os instrumentos normativos do concerto das nações, em especial os já
ratificados como a DHDH, e as convenções da OIT.
A igualdade dos cidadãos perante a lei é um princípio basilar de qualquer estado que se logra
democrático e Moçambique consagrou este princípio na sua constituição no artigo 35. A
regulação da vida em sociedade não é feita exclusivamente pela ordem jurídica, pelo que, há que
valorar outras ordens como a moral e a religiosa sem as quais, não haveria coexistência pacifica
e harmoniosa entre os homens, bem como não teríamos paz e desenvolvimento.

23
7 Recomendações

O Estatuto dos Magistrados do Ministério Público, o EGFAE e a Lei do Trabalho, perfilham a


mesma posição ao manter a incomunicabilidade entre a sanção disciplinar de expulsão com os
direitos do trabalhador inerentes à segurança social. O que expõe cada vez mais a discriminação
patente no Estatuto dos Magistrados Judiciais daí, recomendar ao legislador a revisão do artigo
73 deste estatuto pois fere a Constituição no que diz espeito a igualdade dos cidadãos perante a
lei artigo 35 e proteção social artigos 85 e 95 ambos da CRM.
A segunda recomendação, tem que ver com a fiscalização da constitucionalidade das normas,
isto é, antes da entrada em vigor de uma determinada lei, esta deve ser devidamente escrutinadas
e verificada dos eventuais vícios de constitucionalidade (fiscalização abstracta). Igualmente, no
processo de resolução dos conflitos que surgem no âmbito laboral, e que são presentes ao
tribunal para julgamento, o Juíz, deve decidi-las conforme a constituição, ou tendo como baliza,
a lei mãe, distanciando se desta forma de perpetuar a discriminação patente no artigo 73 do
estatuto dos magistrados judiciais. Da mesma forma os cidadãos ou a sociedade civil, podem se
organizar e submeter junto do conselho constitucional, a petição de verificação da
constitucionalidade desta cláusula discriminatória e sua consequente revogação.

24
8 Referências Bibliográficas

ASCENSÃO, José de Oliveira (2005) O Direito Introdução a Teoria Geral, 13ª ed, editora
Almedina, Coimbra.

MIRANDA, Jorge (1997) Manual de Direito Constitucional V, Coimbra

Declaração Universal dos Direitos Humanos

100ª Conferência Internacional do Trabalho

Convenção 102 da Organização Internacional do Trabalho OIT

Dicionário da língua portuguesa Infopedia disponível em - (www.infopedia.pt/lingua-


portuguesa/segurancasocial) data de acesso 23.06.22
CRM Lei 1/2018 de 12 de Junho.
CRPM – Constituição da República Popular de Moçambique de 1975
Lei 7/2009 de 11 de Março – Lei dos Magistrados Judiciais de Moçambique

Lei 3/2011 de 11 de janeiro – Lei dos Magistrados Judiciais – Moçambique.

Lei 1/22 de 12 da Janeiro Estatuto dos Magistrados do Ministério Público – Moçambique.

Lei 51/2017 de 9 de outubro – Regulamento da Segurança Social Obrigatória – Moçambique.

Lei 4/2007 de 4 de Fevereiro Lei de Bases do Sistema de Proteção Social - Moçambique

Lei 26/2019 de 27 de Dezembro Código de Execução das Penas - Moçambique

Lei 2/22 de 21 de Janeiro – Lei Orgânica do Conselho Constitucional - LOCC – Moçambique.

Lei 23/2007 de 1 de Agosto – Lei do Trabalho – Moçambique.

lei 21/85 de 30 de julho Estatuto dos Magistrados Judiciais de Portugal (EMJP)

Lei 37/2009 de 20 de Julho - Estatuto dos Magistrados Judiciais de Portugal (EMJP)

Lei 35/2014 de 20 de junho – Lei do Trabalho em Funções Públicas de Portugal (LTFP)

lei 8212 de 24 de julho de 1991 – Lei da Organização da seguridade Social do Brasil.

25
8112/90 de 11 de dezembro – Regime Jurídico dos Servidores Públicos do Brasil

lei 35/79 de 14 de Marco - lei Orgânica do Magistrado Judicial do Brasil (LOMJ)

Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida.

26
9 Glossário

Prestações - são os benefícios a que os destinatários de qualquer uma das formas de proteção
social tem direito.
Proteção Social - é um sistema dotado de meios aptos a satisfação de necessidades sociais,
obedecendo a repartição dos rendimentos no quadro da solidariedade entre os membros da
sociedade.
Reforma - designa o estado do beneficiário que, por reunir os requisitos legais, habilita-se a
receber a pensão de velhice ou a de invalidez, conforme os casos.
Riscos - são os acontecimentos perniciosos futuros, incertos e involuntários.
Segurança Social Básica - e a que visa prevenir situações de carência, bem como a integraτπo
social através da proteção especial a grupos mais vulneráveis. A proteção social básica tem como
fundamento a solidariedade nacional, reflete as características distributivas e é essencialmente
financiada pelo Orçamento do Estado.
Segurança Social Complementar - e a que se destina a proteger os trabalhadores assalariados
ou por conta própria e suas famílias, complementando de modo facultativo as prestações
concedidas no âmbito da segurança social obrigatória.
Segurança Social Obrigatória - é a que se destina aos trabalhadores assalariados ou por conta
própria e suas famílias, com o objetivo de protege-los, nas situações de falta ou diminuição da
capacidade para o trabalho, maternidade, velhice e morte. A proteção social obrigatória
pressupõe a solidariedade de grupo, o caracter comutativo e assenta numa lógica de seguro
social.
Trabalhador por Conta Própria - é aquele que exerce uma atividade humana produtiva sem
sujeição a um contrato de trabalho subordinado.

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