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A Revolução Haitiana e os ecos de uma insurreição negra

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Larissa dos Santos


University of São Paulo
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1

A REVOLUÇÃO HAITIANA E OS ECOS DE UMA INSURREIÇÃO


NEGRA

Larissa dos Santos1

RESUMO

Este artigo tem por propósito estabelecer uma discussão sobre a Revolução Haitiana e a
violência colonial que preencheu o clima da ex-colônia francesa de Saint Domingue
que culminou no levante da única rebelião escrava que conquistou a emancipação
desejada, assim como suas repercussões soaram no mundo colonial escravagista.

Palavras-chave: Revolução; Haiti; Escravidão; Colonialismo.

ABSTRACT

This article aims the addressing of a discussion about the Haitian Revolution and the
colonial violence that filled the climate of the former French colony of St. Domingue
that culminated in the uprising of the only slave rebellion that conquered an
emancipation, as well as its repercussions that went around in the colonial slave world.

Keywords: Revolution; Haiti; Slavery; Colonialism.

1
Graduanda de Biblioteconomia na ECA-USP, artigo feito para a disciplina de História da Cultura e da
Comunicação I.
2

INTRODUÇÃO

A Revolução Haitiana ou Revolta de São Domingos, como é popularmente


conhecida nacionalmente, foi a única rebelião escrava que conseguiu, de fato, abolir a
escravidão negra em seu territóri. Liderada por Toussaint L´Overture, a insurreição fez
ascender a chama abolicionista nas colônias escravistas, causando um impacto imediato
nas relações diplomáticas com as nações imperialistas escravagistas, que tomaram
medidas para sufocar a recém proclamada República do Haiti e endureceram suas
políticas escravas.

Veremos, então, como a violência do sistema colonial levou a tal ato único e
para Trouillot (1995) inimaginável mesmo quando estava no decorrer. E como isso
afetou os escravos em uma descolonização (Fanon, 1961) para que eles pudessem
combater o âmago colonialista. A violência que a instauração do mundo colonial causou
em formas sociais diferentes, acabando com sua autonomia e aculturando-o, investindo
em cidades que podem sim ser retomadas pelos povos.

A escolha do tema foi feita devido como o mundo colonial constrói uma
violência que se torna insustentável, prestando atenção na relevância que a revolução
tem na linha do tempo da história e por seu espalhamento no mundo que causou um
efeito borboleta, tendo reações fortes de todo o mundo, que responde com
incredulidade, repressão, vilanização e admiração, além da falta de conteúdo sobre dada
a importância que a revolução teve como influenciador da abolição nas Américas e em
conquistar transformações radicais no continente, e as raízes da crise socioeconômico e
política do Haiti de hoje está no tratamento pós-revolução que o Haiti sofre, que
transformou-o de a colônias mais rica e próspera para um caos social.

Os objetivos gerais do artigo é sintetizar as evidências da violência colonial que


leva a revolução e, depois um recorte da insurreição, focar nas repercussões que ela tem.
Especificamente, pretendo dar uma breve panorâmica investigativa de tudo que engloba
a revolução haitiana e fornecer material para o tema.

A metodologia utilizada no projeto foi a pesquisa bibliográfica, que possibilita


abordar o tema por meio de referências bibliográficas teóricas, visando a veracidade do
material para que me permita sintetizar o conteúdo por meio de citação direta e indireta,
de abordagem descritiva e resultado qualitativo. A estrutura do documento é dividida
3

em apenas dois capítulos para os temas: a contextualização das agressões do sistema


colonial que leva a Revolução Haitiana, uma perspectiva breve da insurreição e no
segundo, o impacto que ela causa nas colônias escravistas.
4

A violência colonial como estopim de uma revolução L`Ouverturiana

Para um melhor entendimento da violência colonial que levou os escravos a


fazerem uma guerra de mais de doze anos, transformando-a na única rebelião de
escravos que massivamente chegou a abolir a escravidão em seu território e fez
ascender a chama abolicionista nas colônias escravistas, causando um impacto imediato
nas relações diplomáticas com as nações imperialistas escravagistas, que tomaram
medidas para sufocar a recém proclamada República do Haiti e endureceram suas
políticas escravas, e para isso, é necessário começar com o genocídio nativo que se deu
na ilha de São Domingos após a chegada de Cristóvão Colombo em 1492 no que ele
chamava de La Española (que reúne atualmente o Haiti – de colonização francesa e
República Dominicana – de colonização espanhola), em procura de cultivo e ouro em
uma terra rica em metal amarelo, introduz violentamente o cristianismo a população
indígena, aculturando-os, assassinando, estuprando e trazendo doença e fome forçada
aos taínos2 que foram pacíficos e amistosos, agora reduzidos em números que beiram de
três milhões à um milhão para sessenta mil em apenas quinze anos, e no final do século
XVI, quase toda a população nativa havia desaparecido, escravizada ou morta pelos
colonizadores2. Desembarcaram em 1517 de navios negreiros, os primeiros grupos de
africanos escravizados na Ilha de Hispaniola – trazidos principalmente da Guiné, Togo e
Benin.

Com a chegada dos franceses, em 1625 e posteriormente em 1627 foi cedida à


parte ocidental da ilha, atualmente o Haiti oficialmente à França pela Espanha, dando-se
então, a intensificação do regime da plantation, modelo de exploração de terras baseado
na monocultura de exportação em sistemas agrários e emprego de mão-de-obra escrava,
estava que foi demandada maciçamente neste período de transição, na colônia que foi
rebatizada para Saint Domingue demandando reforço do emprego de mão-de-obra
africana constante, dado o fato que os escravos eram regularmente trabalhados até a
morte, então, mais milhares desembarcavam a cada ano. A colônia tornou-se,
posteriormente, em uma população de mais de meio milhão de negros africanos
submetidos escravidão, vinte e oito mil mulatos livres chamados de livres de cor e
pouco mais de trinta e três mil brancos controlando o sistema, a ilha de Saint Domingue

2
JAMES, Cyril Lionel Robert; The black Jacobins. [S.I]: Vintage books, 1963. 3-5p.
5

prospera em meio dos horrores da escravidão, considerada a mais rica colônia europeia
de todos os tempos, representado mais de um terço do comércio exterior da França e
indispensável para a manutenção da sociedade europeia, responsável pela metade da
produção de café e açúcar no mundo, o que era um grande motor capitalista da época.

Na obra Os condenados da Terra, Frantz Fanon demonstra um retrato da


estrutura que rege o mundo colonial, de um “mundo cindido em dois”, posto por
ele como:

A cidade do colono é uma cidade sólida, toda de pedra e ferro. É uma


cidade iluminada, asfaltada, onde os caixotes do lixo regurgitam de sobras
desconhecidas, jamais vistas, nem mesmo sondadas. Os pés do colono nunca
estão à mostra, salvo talvez no mar, mas nunca ninguém está bastante próximo
deles. Pés protegidos por calçados fortes, enquanto que as ruas de sua cidade
são limpas, lisas, sem buracos, sem seixos. A cidade do colono é uma cidade
[...] cujo ventre está permanentemente repleto de boas coisas. A cidade do
colono é uma cidade de brancos, de estrangeiras. A cidade do colonizado, ou
pelo menos a cidade indígena, a cidade negra, a Medina, a reserva, é um lugar
mal afamado, povoado de homens mal afamados. Aí se nasce não importa onde,
não importa como. Morre-se não importa onde, não importa de quê. É um
mundo sem intervalos, onde os homens estão uns sobre os outros, as casas umas
sobre as outras. (FANON, 1961 p. 56-57)

Este quadro não está oposto ao que C. L. R. James em sua obra Os jacobinos
negros, referencial importante deste artigo, retrata:

O estranho em San Domingo foi despertado pelo barulho do chicote,


os gritos sufocados e os pesados gemidos dos negros que viram o sol nascer
apenas para amaldiçoá-lo pela renovação de seus esforços e dores. O trabalho
deles começou no intervalo do dia: às oito, pararam para um café da manhã
curto e voltaram a trabalhar até o meio-dia. Eles começaram de novo às duas
horas e trabalharam até a noite, às vezes até dez ou onze. [...] eram cerca de
cem homens e mulheres de diferentes idades, todos ocupados em valas de
escavação em um canavial, a maioria nua ou coberta de farrapos. O sol brilhava
com força total em suas cabeças. O suor rolou de todas as partes. [...] um
silêncio triste reinou. Exaustão foi estampada em cada rosto, mas a hora de
descanso ainda não havia chegado. O olhar impiedoso do gestor patrulhava,
vários capatazes armados com longos chicotes movidos periodicamente entre
eles, dando golpes pungentes a todos os que, desgastado por fadiga, foram
compelidos fazer um descanso - homens ou mulheres, jovens ou velhos.
(JAMES, 1963, 9-10p)

Esta era uma imagem constante dos escravos nas plantações de açúcar que
exigiam trabalho incessante e árduo, o que não traz choque a constatar que a expectativa
de vida de um escravo era de três anos em meio a isso. Com uma terra tropical assolada
fortemente pelo sol e rodeada de insetos nas plantações, era necessário cavar uma
grande vala para garantir a circulação do ar das canas do açúcar, e as canas jovens
necessitaram de atenção extra para os primeiros três ou quatro meses e atingiam a
6

maturidade em 14 ou 18 meses. Cana poderia ser plantada em qualquer época do ano e


crescia, assim, a colheita de uma era o sinal para a escavação imediata de valas e a
plantação de outras. Uma vez cortados, eles tinham que ser levados para a fábrica, para
que o suco se tornasse ácido pela fermentação. A extração do suco e a fabricação do
açúcar bruto duravam três semanas por mês, divididos por 16 ou 18 horas por dia,
durante sete ou oito meses no ano e as horas que tinham de “descanso” nos intervalos de
trabalho compulsório, era para cultivar suas rações, o que muitos ignoravam por
extremo cansaço ou pela prática comum entre os escravos de todas as partes de causar
em si próprios inanição até a morte, o era uma crença popular porque muitos
acreditavam que a morte iria levá-los de volta a África ou por algumas tribos preferirem
a morte invés da escravidão3. Os escravos eram alojados em cabanas construídas em
torno de uma praça, sem janelas, a luz entrava apenas pela porta, o chão era apenas de
terra batida e a cama feita de palha, peles ou quaisquer artifícios que amarrasse. Em o
Código Negro (ou Código Noir) Luís XIV da França ordenou o que pensava-se ser
comida suficiente para cada escravo ter uma alimentação saudável por pelo menos três
dias e proibiu o exercício de qualquer outra religião não-católica. Ordens, estas, que não
foram cumpridas em nenhum lado, os senhores apenas alimentavam-nos o suficiente
para que sobrevivessem (e mesmo assim, muitos morreram de fome) e os escravos
praticavam, em segredo, vodu4.

Na obra Peles negras, máscaras brancas (1952), Fanon explicita que a sociedade
não escapa a influência humana e que é pelo homem que a sociedade chega a ser,
deixando o prognóstico nas mãos daqueles que quiserem sacudir as raízes contaminadas
do edifício, obtendo um tipo de “reificação” que a alienação colonial se expressa na
“invenção” do ser negro pela perspectiva negativa do outro com uma certa
“coisificação”:

“Olhe, um preto! ” Era um stimulus externo, me futucando quando


eu passava. Eu esboçava um sorriso. “Olhe, um preto! ” É verdade, eu me
divertia. “Olhe, um preto! ” O círculo fechava-se pouco a pouco. Eu me

3
[…] desde os navios negreiros, pelo suicídio, pela greve de fome, pela recusa de medicamentos, o
vento da revolta começou a soprar: os negros deixavam os corpos aos brancos e iam reunir-se no
mundo de suas avós. ” (HURBON, 1988, P. 67)
4
Vodu é um ramo de uma tradição religiosa teísta-animista baseada nos ancestrais africana, com raízes
primárias entre os povos Fon-Ewe da África Ocidental, no país atualmente chamado Benin,
anteriormente Reino do Daomé, onde ele é hoje em dia a religião nacional de mais de sete milhões de
pessoas. (CHARLES, Hùngbónò. Vodu haitiano. Disponível em: <
https://ocandomble.com/2011/03/21/vodu-haitiano-2/>. Acesso em: 29 de maio 2018).
7

divertia abertamente. “Mamãe, olhe o preto, estou com medo! ” Medo, medo!
E começavam a me temer. Quis gargalhar até sufocar, mas isso tornou-se
impossível (FANON, 1952, p. 105).

A revolução começa a ter raízes, também, na França quando em 26 de agosto de


1789, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão é votada pela Assembléia
Constituinte, dado o impacto que a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
causou nos colonos, especialmente os deputados, que com medo de uma possível
revolta dos mulatos e escravos, tentou barrar o documento. Com os ideais da Revolução
Francesa se difundindo pelo mundo, a investida revolucionária logo chega ao Haiti pelo
mulato Vincent Ogé que era líder de um movimento armado contra os brancos, que
voltaram da França depois de ter seu pedido de igualdade recusado.

E assim, sufocados pela imagem que o branco europeu colonial impôs em si,
demonizando-o para a justificativa de seus atos perversos, por seus trabalhos forçados
durante todo o dia e até tarde da noite, aculturação, punições apenas por um racismo
sadista, estupro, matança, doenças, subalimentação, preconceito de cor e todas as outras
finitas violências coloniais, eles explodem na noite do dia 14 de agosto de 1791,
liderados por Boukman, um alto sacerdote do Vodu e capataz de uma fazenda, que
acompanhava as notícias da Revolução Francesa e seu ressoar que se espalhou pelo
mundo: liberdade, igualdade e fraternidade, tais conceitos chegaram à ilha de São
Domingos trazidos diretamente da França pelo escravo liberto Vincent Ogé, que
inspirou Bouman, que reúne os escravos pela única conexão que todas aquelas línguas,
etnias diversas e divergentes, aglomeradas para impedir que se juntassem e causasse
rebelião, são ligados pelo Vodu em um discurso na clareira da floresta da Montanha
Vermelha, após fazer encantamentos de Vodu, declara:

O Deus dos brancos ordena crime. Nossos Deuses clamam por


vingança. Eles vão nos liderar e prestar assistência. Quebrem a imagem do
Deus dos brancos, que tem sede de nossas lágrimas! Vamos ouvir em nós
mesmos o grito para liberdade.

Dá-se, então, o início da Revolução Haitiana, como Läennec Hurbon expõe em


seu livro O deus da resistência negra: o vodu haitiano, outra obra importante para o
desenvolvimento deste artigo:

Reconstituíram a solidariedade étnica, recriavam suas tradições


antepassadas e redescobriram a unidade espiritual para melhor afrontar os
senhores brancos. É aí, nessas comunidades de resistência, que se constrói a
8

consciência e autonomia política e cultural dos escravos. Nessa época é o Vodu


que realiza a coesão dos escravos, impelindo-os à luta contra o domínio dos
brancos [...] uma cerimônia vodu, célebre na história do país, representou o
engajamento definitivo dos negros na luta pela independência. Nessa ocasião,
foi selado pacto de sangue pelo qual os escravos comprometiam-se a
exterminar os brancos e criar comunidade autônoma (HURBON, 1987, p. 68).

Pode-se entender melhor a desconstrução da concepção colonial no colono, e


quando essa descolonização do pensamento vira ações, como colocado por Fanon:

Então o colonizado descobre que sua vida, sua respiração, as


pulsações de seu coração são as mesmas do colono. Descobre que uma pele de
colono não vale mais do que uma pele de indígena. Essa descoberta introduz
um abalo essencial no mundo. Dela ocorre toda e nova revolucionária
segurança do colonizado. Se, com efeito, minha vida tem o mesmo peso do que
a do colono, seu olhar já não me fulmina, não me imobiliza mais, sua voz já
não me petrifica. Não me perturbo mais em sua presença. Na verdade, eu o
contrário. Não somente sua presença deixa de me intimidar como também já
estou pronto para lhe preparar emboscadas que dentro de pouco tempo não lhe
restará outra saída senão a fuga. (FANON, 1961, p. 23)

E quando a primeira fase da rebelião estoura, ela é violenta e sangrenta e


imperdoável. O que se segue é uma revolução com bases na organização de guerrilhas e
truculência extrema, os rebeldes incendiavam os canaviais, matavam os senhores e em
algumas ocasiões, suas famílias, aniquilaram as patrulhas e acampamentos de tropas
coloniais, obrigando os senhores se esconderem em cidades costeiras5. A França, envia
governadores e delegados com o passar do tempo para tentar manobrar o caos e instalar
uma aliança entre brancos e os homens livre de cor, cujo maior ambição era igualar-se
aos brancos em direitos e oportunidades, mas de nada adianta.

É interessante notar a divergência de pensamentos entre o antropólogo haitiano


Rolph Trouillot que enfatizou sobre como a Revolução Haitiana era impensável.
Trouillot argumenta que isso evidencia a incapacidade de a sociedade colonial, o ideal
humano da época, de acreditar em um levante negro que fosse capaz de pensar uma

5
Abater um europeu é matar dois coelhos com uma só cajadada, suprimir ao mesmo tempo um
opressor e um oprimido: restam um homem morto e um homem livre; o sobrevivente, pela primeira
vez, sente um solo nacional sob a planta dos pés. Nesse instante, a Nação não se afasta dele, ela se
encontra aonde ele vai, onde ele está – nunca mais longe, ela se confunde com a sua liberdade. É da
violência, portanto, que o 'filho da violência” retira a própria humanidade. Se o opressor se faz homem à
custa do oprimido, agora o oprimido faz-se homem, 'um outro homem, de melhor qualidade', à custa do
opressor, pois 'a violência, como a lança de Aquiles, pode cicatrizar os ferimentos que faz'. Para Sartre, é
chegada a hora de 'enfrentar esse espetáculo inesperado', o striptease do humanismo burguês – 'essa
ideologia mentirosa' e 'refinada justificação da pilhagem' que apenas 'caucionavam' as agressões dos
exploradores. (ALMEIDA, Silvio; Sartre: direito e política. Boitempo, 2016. p.172)
9

estratégia que assegurassem uma vitória sobre eles e a sustentação de um Estado


independente em uma colônia e que isso revelaria como eles “podem ler as notícias,
mas seus pré-conceitos sobre escravos não seria compatível com uma aceitação” e isto
mesmo enquanto a revolução já estava em vigor (Trouillot, 1995, p. 87) e com C.L.R.
James, que não encontra motivos para que a revolução passasse por encobrimento e
desentendimento absoluto, e sua argumentação é uma historicidade de fatos ao longo de
Os jacobinos negros (1938) por um viés marxista e repleto de pan-africanismo.

Uma figura de extrema importância para a revolução foi Toussaint L`Ouverture,


o escravo que virou líder. Toussaint Bréda, quando escravo, veio de uma casta
“privilegiada” entre os escravos que tinham um tratamento melhor do que maioria que
trabalhavam nos canaviais. Seu pai foi filho de um pequeno chefe na África, e depois
que foi aprisionado na guerra e vendido como escravo, fazendo a viagem em um navio
negreiro, foi comprado por um colono que, reconhecendo ser aquele negro uma pessoa
fora dos padrões que fora estabelecido pelo pensamento colonial e permitiu liberdades
na fazenda, assim como concedeu a Pierre Baptiste, que pode ser chamado de um “preto
velho” da sociedade colonial haitiana, que transferiu todo seu conhecimento e sabedoria
de diversos campos a Toussaint, em especial, o saber de várias línguas, como francês e
latim, o que ajudou imensamente nas sabedorias letradas que L`Ouverture adquiriu ao
longo do tempo. O pai de Toussaint, eventualmente, ensinou-o seu conhecimento sobre
plantas medicinais, o que ele logo mostrou-se hábil e quando cresceu e tornou-se livre,
inspirou-se muito na Revolução Francesa, conceitos que estavam sempre em suas
declarações, e por isso, queria permanecer conectado ao país da liberdade, igualdade e
fraternidade, e que abolissem a escravatura, o que de fato, ele conseguiu, por um tempo,
em agosto de 1793, se autodominou como governador vitalício, instaurando uma
constituição e estabelecendo novas políticas de igualdade. Toussaint conduziu os
africanos escravizados a uma vitória sobre os europeus, em especial os espanhóis que
vieram da parte ocidental da ilha e o exército inglês, que pretendia tomar a ilha e
reimplantar a escravidão para se apossar dos ricos canaviais, ambos com melhor
equipamento e um número maior de homens que foram derrotadas pelos ex-escravos,
que se estendeu por dez anos de árduas batalhas, forjando sua experiência político-
militar e seus próprios projetos políticos, sem interferência da França que agora
apoiava-os depois do êxito da expulsão dos exércitos europeus. Especula-se que o
movimento abolicionista na Grã-Bretanha se impulsionou de seu sucesso, suspendendo
10

o tráfico de escravos britânicos em 1807 (Trouillot, 1995). Toussaint proclamou em


1801 o outro lado da ilha, que era de propriedade espanhola depois de uma campanha
altamente vitoriosa, tais como contratos comerciais entre o Haiti, Inglaterra e os Estados
Unidos com grande apoio de Alexander Hamilton, entre 1799 e 1801, reconstruindo um
pouco a economia da ilha

De 1794 a 1800, agora os homens e mulheres livres, da ilha de São Domingos


lutaram e desfrutaram da maior liberdade que já conheceram. Entretanto, tudo mudou
quando em 1801, um poderoso exército mandado por Napoleão Bonaparte com
pretensão de reestabelecer o regime escravocrata na ilha. Nisto, os franceses prenderam
L`Ouverture e deportaram-no para a França, onde ele veio a falecer no cárcere em abril
de 1803 por pneumonia, na prisão Fort-de-Joux6. A morte do seu maior líder estrategista
e humanista, que organizou ex-escravos em uma potência bélica que derrotou dois
exércitos europeus imponentes desencadeou a mais radicalizada e última fase da
revolução, onde a população negra se uniu totalmente aos mulatos, que por motivos de
divergências não tinham muita conexão até então, apesar de já terem sidos aliados
previamente, para defender a liberdade que foi arduamente conquistada e tão única para
proclamar a independência em relação à França.

Outra figura importante que levou a batalha enquanto Toussaint estava vivo, e
especialmente, após sua morte, era seu general Jean Jacques Dessalines, que, lutou na
batalha de Creta-à-Pierrot contra o exército enviado por Napoleão em 1802 e liderados
pelo general Charles Leclerc que era o seu cunhado, com aproximadamente dezoito mil
franceses contra os mil e trezentos de Dessalines e L’Ouverture. Jean usou como
motivação uma tocha acesa por um barril de pólvora aberta afirmando que iria explodir
o forte inteiro caso os franceses invadissem. Tal ato pode ser a descrição de Dessalines,
que era conhecido como o homem que não tomava prisioneiros e incendiava vilas
inteira em nome da revolução7.

6
Após sua queda do poder em 1815, Napoleão às vezes refletia sobre a oportunidade que ele perdeu
em não se aliar a Toussaint. No início de 1802, ele elaborou uma carta para L’ Ouverture oferecendo-lhe
uma promoção e oportunidade para cooperar em um programa de militares franceses de expansão no
Caribe, embora a carta nunca tenha sido enviada. “[...] com um exército de vinte e cinco a trinta mil
negros, o que eu não poderia ter feito? ”, o que é certamente diferente de seu discurso inicial. (POPKIN,
Jeremy. A Concise History of the Haitian Revolution. [S.I]: John Wiley & Sons: 2012, p. 116.
7
BRITO, Anderson Silva de; Os libertadores do Haiti (1) Jean-Jacques Dessalines. Disponível em:
<http://correionago.ning.com/profiles/blogs/os-libertadores-do-haiti-1>. Acesso em: 30 de maio 2018.
11

Dessalines passou a ser o líder dos antigos escravos, algo que ele mesmo era, da
revolução depois da morte de Toussaint, lutando ao lado do líder dos mulatos Alexandre
Pétion, contra o exército francês. A última batalha da insurreição haitiana aconteceu em
04 de dezembro de 1803, quando resto do exército colonial francês de Napoleão
Bonaparte se rendeu às forças Dessalines que tinha como slogan de campanha
“liberdade ou morte! ”, dias depois do seu ataque ao forte Vertières. Com a rendição do
exército francês, agora liderados por Rochambeau, já que seu antecessor tinha falecido
por febre amarela, doença esta, que caiu em muitos soldados franceses, e assim, termina
no campo de batalha, a rebelião. Dessalines anunciou a Declaração de Independência
em primeiro de janeiro de 1804, a que é considerada oficial, declarando-se Imperador
do Haiti, e noticiando que:

Paz em nossos vizinhos, mas anátema no nome do francês! Ódio


eterno pela França! Este é o nosso grito. Nativos do Haiti, meu destino era um
dia ser a sentinela que vigiava o ídolo a quem você se sacrificava. Eu assisti e
lutei, às vezes sozinho, e se tive a sorte de colocar em suas mãos o objeto
sagrado que você me confiou, agora cabe a você preservá-lo. Lutando por sua
liberdade, trabalhei para minha própria felicidade. [...] Generais e chefes,
reunidos perto de mim para a felicidade de nosso país, chegou o dia, o dia que
tornará nossa glória eterna: nossa independência. [...] tenha em mente que eu
sacrifiquei tudo por sua defesa: pais, filhos, fortuna, e agora eu sou rico apenas
em sua liberdade; que meu nome se tornou um horror para todos aqueles povos
que querem a escravidão e que os tiranos só falam de mim quando amaldiçoam
o dia em que nasci. E se você recusar ou reclamar as leis que o gênio que cuida
do seu destino me dita para a sua felicidade, você merecerá o destino dos povos
ingratos. Mas longe de mim esta ideia horrível. Você será o suporte da
liberdade que você ama e o apoio do chefe que comanda você. Pegue o voto
de viver livre e independente [...] finalmente, juro perseguir para sempre os
traidores e os inimigos de sua independência. (ARDOUIN, 1832, p. 132,
tradução feita pela autora)

E por fim que “juramos viver livre e independentes e preferiríamos a morte do


que ter que voltar as correntes. ”

E assim, chega ao fim a única rebelião a ter sucesso em grandes escalas. Ela
mata mais de cem mil habitantes da ilha, deixando poucas partes de seu território
intactos da destruição e com uma liderança instável. A revolução dos negros repercute
imediatamente em todos os cantos do mundo, especialmente em colônias escravistas
que fez ascender a chama abolicionista, causando um impacto imediato nas relações
diplomáticas com as nações imperialistas escravagistas, que tomaram medidas para
sufocar a recém proclamada República do Haiti e endureceram suas políticas escravas
causando dificuldades para o mais novo país declarado independente, que sofreu para
receber legitimação e continuar livre. Como posto por Fanon, a destruição de um mundo
12

colonial não é apenas abolir uma zona escravagista e sim, um enterro profundo de
relações ou uma expulsão territorial:

A violência que presidiu ao arranjo do mundo colonial, que ritmou


incansavelmente a destruição das formas sociais indígenas, que arrasou
completamente os sistemas de referências da economia, os modos da aparência
e do vestuário, será reivindicada e assumida pelo colonizado no momento em
que, decidindo ser a história em atos a massa colonizada se engolfar nas cidades
interditas. Fazer explodir o mundo colonial é doravante uma imagem de ação
muito clara, muito compreensível e que pode ser retomada por cada um dos
indivíduos que constituem o povo colonizado. Desmanchar o mundo colonial
não significa que depois da abolição das fronteiras se vão abrir vias de passagem
entre as duas zonas. Destruir o mundo colonial é, nem mais nem menos, abolir
uma zona, enterrá-la profundamente no solo ou expulsá-la do território.
(FANON, 1961, p. 30)
13

Ecos de uma revolução negra

Como vimos o que é a Revolução Haitiana neste artigo, agora partiremos para
seus impactos dissertando sobre alguns tópicos, tais como: endurecimento das leis
escravas, a negação para reconhecer o Haiti como um novo país e não mais uma colônia
intrínseco a marginalização do levante negro em busca de sua emancipação perante as
outras nações em face do medo de que o exemplo revolucionário se repetisse
ocasionando em o excessivo ressarcimento coagido pela França pelo custo da
insurreição e seu reconhecimento oficial, sobretudo nas Américas, o embargo
econômico imposto pelos Estados Unidos de Thomas Jefferson causando uma isolação
que ajudou na instabilidade política e desastre econômico do jovem país e revoltas
inspiradas, como a German Coast Uprising, além de alimentar a faísca abolicionista em
todo o mundo e reforçar o seu discurso de que a escravidão não iria durar.

Logo depois de se declarar um país independente, agora o Haiti, nomeado por


Dessalines, usando o antigo nome dado para a ilha pelos taínos Ayti, o que traduz para
algo como região das montanhas (atualmente Haiti) é bombardeado por discriminação e
negação. Uma visão interessante e para uma maior perspectiva diferente a que vamos
ver posteriormente, podemos ver como um visitante reagiu ao Haiti pós-revolução em
solo haitiano, como Popkin coloca em sua obra A concise history of the haitian
revolution sobre o visitante americano branco, chamado Condy Raguet, em Cap
Français em 1804 e 1805 que teve uma reação levemente “positiva”, apesar de
misógina:

[...] foi um choque ter que comparecer diante de um oficial negro que
tratava os visitantes “com toda a dignidade e importância de um grande homem
dirigindo-se aos seus inferiores ” em nenhum lugar do mundo Atlântico os
brancos jamais se encontraram em tal situação. O relato de Raguet enfatizou a
destruição causada pelos longos anos de turbulência na ilha, observando a
condição ruinosa das antigas plantações e a pobreza dos negros que agora
cultivavam, mas ele também comentou sobre “a civilidade que encontrou no
camponês em viagens” e que isso contrariava suas suposições sobre o atraso
dos negros. Nas cidades, ele encontrou homens com "um grau de polidez e
urbanidade de maneiras pouco concebíveis", e dedicou um longo capítulo às
mulheres do país, apontando que, achava um contraste com as mulheres
brancas de classe média nos Estados Unidos. “Eles são capazes de se sustentar
respeitosamente e serem muito úteis ao seu país através de seus vários
empregos. ” Em suma, ao contrário do que a maioria dos brancos supunha que
aconteceria necessariamente se os negros tentassem formar um país próprio,
as cartas de Raguet mostravam que a nova república do Haiti era uma
sociedade funcional, com um governo, uma economia e uma civilização
própria. (POPKIN, 2012, pg. 138, tradição da autora)
14

A Revolução Haitiana repercutiu diferentemente do que as outras revoluções.


Em quase todas as áreas do mundo atlântico (Europa, África, América do Sul e América
do Norte), as economias dependiam do trabalho escravo e do tráfico negreiro, isso
incluía a antiga Saint Domingue, a colônia que foi a mais lucrativa do caribe,
especialmente em cana-de-açúcar. Ao fazer o que era impensável (escravos derrubarem
o sistema colonial feito pelos brancos, derrubando por parte uma crença fiel de
superioridade) para aqueles que estavam ao poder. Mas de outras formas, esse medo
consistente em muitos lugares do Novo Mundo estava tomando uma nova proporção:
em muitos lugares os números de escravos negros superavam os brancos, e os brancos
viviam com medo de que a história de insurreição negreira haitiana voltasse a se repetir
em suas terras, tal preocupação dos colonizadores era fundada, afinal, assim que as
notícias sobre o Haiti se espalham pelo mundo através de navios que carregaram
testemunhas e fofoqueiros da revolução haitiana, foi um grande fomentador das ideias
antiescravistas e anticoloniais que se seguiram, o que logo deu luz à reclamações de
colonizadores sobre como a “insolência” dos escravos que estava surgindo aos montes.
Dessa forma, a repressão contra os escravos negros que mostrasse “passar da linha”
passou a ser ainda mais intensa e violenta, com punições severas (a prática de afogar
escravos torna-se comum no mundo atlântico) e mesmo quando não se podia provar
atos rebeliosos, algum tipo de represália acontecia para “ensinar uma lição”, inclusive,
novas leis foram tomadas para tornar a libertação de escravos limitada.

Logo depois da declaração de independência em 1804 do Haiti, a França


recusou-se a reconhecer sua independência como um país de ex-colonos e o governo
napoleônico continuou a discutir planos para reocupar o território, mas as guerras
napoleônicas mantiveram o Haiti protegido, especialmente a marinha britânica que
barrou o exército francês. Quando o segundo presidente haitiano Jean-Pierre Boyer
assumiu e consolidou os mulatos e revolucionários pretos em seu governo, a França
percebe que não há mais chances de recuperar a colônia e parte para outra iniciativa,
que iremos ver mais tarde. França não foi o único país imperialista-colonial a negar a
independência do Haiti. A jovem nação sofreu negação por todos os lados, uma em
particular que trouxe surpresa à líderes haitianos foi o Estados Unidos, a traição sofrida
foi um abalo grande perpetuada pelo seu antigo aliado comercial. Fica claro, então, que
simplesmente não poderia aceitar uma nação negra em um mundo escravista.
15

A isolação do país preocupava o então atual presidente, Jean-Pierre Boyer, que


precisava recuperar a economia para reconstruir o país que perdeu a mão-de-obra de
cerca de 280,000 homens na revolução, e sua maior atividade econômica, a plantação de
cana-de-açúcar com a devastação das terras e das plantações queimadas numa das fases
iniciais da revolução como retaliação a seus senhores, assim como Dessalines que se
recusou a vendar açúcar aos franceses após 1804, tudo isto cumulou na ascensão de
Cuba e do Brasil como os principais mercados de açúcar. Boyer decidiu, então, arranjar
uma decisão diplomática para acabar com a isolação, e o meio encontrado foi imposto
pela França em 1825: uma indenização as perdas de terra aos colonizadores que as
perderam na Revolução Haitiana (já que Boyer tinha recusado a anterior que cobrava a
indenização de os escravos perdidos, o que ele argumentou que os escravos já eram
livres depois de agosto de 1793) ou eles iriam bombardear a capital do país com a frota
naval que se encaminhava a costa de Porto Príncipe, e que caso eles não cumprissem
com a dívida, eles iriam voltar atrás em seu reconhecimento da independência do Haiti e
invadir o bloqueio do país. Ele concordou. Assim, contadores franceses vão ao país para
calcular o valor da indenização que será paga, inspecionando os bens produzíveis do
país, mas ocorre um erro nisto: ora, eles calcularam a dívida baseado no orçamento que
Haiti tinha pré-revolução, e caso o país precisasse, poderia recorrer a empréstimos em
bancos franceses8. O resultado da indenização foi de 150 milhões de francos, a serem
divididas em parcelas anuais. O Haiti só foi ser aceito como país independente pela
França em 1838.9

As consequências do Débito da Independência para o Haiti foram severas, não


apenas no âmbito socioeconômico, que com uma dívida que não podia se pagar sem
aumentar a taxa de arrecadamento, causando uma satisfação imensa na população que
não acreditava o porquê de estarem pagando para seus antigos senhores algo que não
devia, algo que persiste até hoje, atualmente8, os haitianos apontam que seu país foi
forçado a comprar reconhecimento de uma independência que seu povo havia ganhado
no campo de batalha, assim se endividando pesadamente e quebrando a economia do

8
POPKIN, Jeremy. A Concise History of the Haitian Revolution. [S.I]: John Wiley & Sons: 2012, p. 148-
153.
8
A dívida só foi quitada oficialmente em 1947. E o presidente do Haiti, em 2003, Jean Bertrand Aristide
lançou uma campanha pedindo reembolso desta dívida da, exigindo a devolução pela França de US$
21.685.135.571,48, equivalentes, segundo seus cálculos. (FOLHA. País marcado por golpes se rebelou
contra escravidão. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0103200406.htm>.
Acesso em: 31 de maio 2018)
16

país totalmente, com as consequências sentida nos dias atuais e, para muitos, uma ação
neocolonialista. Como posto por Popkin, a dívida e o Código Rural estavam
intrinsecamente ligados, esta que foi uma política criada por Boyer para o
desenvolvimento do país, e um breve panorama social:

O Código Rural estava ligado ao arranjo de 1825 com a França, uma


vez que Boyer argumentava que seria necessária a restauração do sistema de
plantação para aumentar as safras produtoras de receita para quitar a dívida que
o país havia contraído. Na verdade, como seus antecessores, Boyer não
conseguiu impor seus regulamentos. Apesar das leis de Boyer, o Haiti rural
continuou a evoluir, como desde o início da revolução, na direção de uma
sociedade camponesa, com famílias individuais cultivando colheitas para
alimentar-se e produzindo café como fonte de renda em dinheiro. Agricultores
bem-sucedidos consolidaram suas propriedades e construíram famílias rurais
multigerenciais e morosas, vivendo juntas sob o controle de um patriarca
familiar. Embora o regime de Boyer continuasse a reconhecer o catolicismo
como a religião do estado, o lakou forneceu uma estrutura para a prática dos
rituais de vodu aos quais a maior parte da população permaneceu devotada.
Apesar das duras desigualdades na sociedade haitiana, o padrão de vida da
população rural era melhor do que nas outras ilhas do Caribe, onde a escravidão
ainda prevalecia. (POPKIN, 2012, pg. 132, tradição da autora)

Embora tenha enfrentado muitas dificuldades pós-revolução devido à


instabilidade política que tomou conta do novo país, e, do isolamento que sofreu pelo
resto do mundo, Haiti ainda tinha motivos prósperos:

Como escreveu um jornalista afro-americano em 1827, “[...] os


funcionários públicos são cheios de talentos e de cidadãos nativos - eles têm
seus juízes e tribunais e outros estabelecimentos como nós. ”Numa época em
que até mesmo as principais potências europeias, como a Áustria, a Prússia e
a Rússia, ainda não tinham qualquer forma de constituição escrita ou
instituições parlamentares, o Haiti pós-revolucionário não era certamente um
país “atrasado”. (POPKIN, 2012, pg. 155, tradução da autora)

A visão de estadunidense em relação a revolução haitiana é nosso próximo ponto


a ser exposto. O impacto do levante negro haitiano em solo norte-americano foi enorme,
causou uma rebelião, a compra de Louisiana da França e um embargo que sela o destino
econômico do Haiti revolucionário.

Como já tratado previamente, os Estados Unidos e Haiti eram aliados


econômicos no governo de Alexander Hamilton, mas tudo muda com a chegada de
antes de Thomas Jefferson ao poder, que traiu seu acordo comercial com o Haiti, não o
reconheceu como país livre, e ainda impôs um embargo econômico que isolou-o
igualmente e ajudou afundar a economia do país ainda mais, com medo que o
reconhecimento de uma nação negra causasse mais inspiração do que já tinha entre os
17

escravos em solo norte-americano. As sanções econômicas, duraram,


surpreendentemente, até 186310.

A revolução haitiana deixou Napoleão intrigado sobre o valor de Louisiana para


ele, e as notícias sobre o crescimento dos Estados Unidos o deixou pensativo. Tanto é,
que em abril de 1803, James Monroe e Robert Livingston vão a Paris para negociarem
em nome de Thomas Jefferson, que incialmente queria apenas Nova Orleans, mas
Napoleão rejeita e oferece todo o território de Louisiana para Jefferson por 80 milhões
de francos. O congresso estadunidense aprova a compra de 24 votos a 7 e em dezembro
de 1803, o território de Louisiana é oficialmente dos Estados Unidos. Até a expedição
de Lewis e Clark em 1804, que eles começaram a ter noção do território que compraram
quando encontram os nativos-indígenas já residentes da região e uma vasta reserva de
recursos naturais.

Em 1811, um grupo de mais ou menos 200 escravos, vestidos em uniformes


militares e armados com facas e machados, levantaram-se das plantações escravistas em
torno de Nova Orleans e partiram para conquistar a cidade, decididos que prefeririam a
morte antes de voltarem a realidade dura da escravidão em Louisiana. Sua rebelião,
conhecida como German Coast Uprising, foi a mais resistência armada contra o sistema
escravagista na história dos Estados Unidos. Eles começam ganhando uma batalha
usando táticas militares africanas de enganar o inimigo usando o terreno para
surpreende-los por trás, esgotando-os fisicamente, acabando com a vantagem numérica
e de treinamento que tinham, para depois continuar sua marcha.

Nos campos de cana fora da cidade, as tropas federais uniram-se aos plantadores
para combater os rebeldes escravos - uma aliança entre o poder governamental e a
agricultura com bases escravistas que seria a definição da jovem nação norte-americana
como um país escravagista nos anos levando à Guerra de Secessão. Ao longo do
conflito que iria selar o destino dos escravos que ousaram sonhar em liberdade. Uma
brutalidade se seguiu, mais de 95 escravos que se rebelaram morreram, em batalha e nos
julgamentos que se seguirem, sendo executados e tendo suas cabeças decepadas,
colocadas em estacas para que servissem de exemplo.

10
Quigley, Bill. Porque os EUA devem milhares de milhões ao Haiti. Disponível em:
<http://resistir.info/a_central/divida_haiti_jan10_p.html>. Acesso em: 26 de março de 2018
18

O que essa rebelião teve a ver com a revolução haitiana? Tudo. Por ser passar
em Louisiana agora norte-americana, outro impacto do levante do Haiti, onde teve altos
fluxos migratórios de haitianos que gira em torno de 2 mil11. Há pouca dúvida de que os
participantes da German Coast Uprising tomaram como inspiração o levante haitiano,
apenas que seu fim não foi igual.

Este não é o único exemplo, eles são, de fato, numerosos como Clavin afirma:

[...] que após a tentativa fracassada de um ferreiro alfabetizado e


escravizado chamado Gabriel de lançar uma insurreição de escravos em
Richmond, na Virgínia, em 1800, escritores fizeram comparações entre os
eventos locais e os que ocorrem simultaneamente em Saint-Domingue. O
testemunho do escravo acrescentava combustível ao fogo conspiratório, assim
como o "povo francês" [...] na tentativa fracassada de revolta de Denmark
Vesey em Charleston, Carolina do Sul, em 1822, as variações das palavras
Haiti e Saint Domingue apareceram quase vinte vezes em um relato da
investigação oficial, publicada e distribuída pelos funcionários. A reação a
essas rebeliões sugere que, no velho Sul estadunidense, as invocações da
Revolução do Haiti não eram algo sem sentido, mas sim uma condição de
qualquer trama insurrecionaria legítima. O medo dos brancos por uma segunda
Revolução Haitiana nos apresenta um paradoxo. (CLAVIN, 2012, pg. 28,
tradução da autora)

Um exemplo ainda melhor que Clavin nos dá, é que a revolução haitiana era
constante na sociedade norte-americana abolicionista. Eles compravam biografias de
Toussaint vindas da Europa e gostava de espalhar que ele “nunca quebrava sua palavra”
e era um líder militar e político fora da curva, e usava a revolução como argumento
sólido para sua agenda. O que também acontecia ao contrário, os escravagistas
argumentavam sobre a “selvageria” e “brutalidade” da revolução e como Dessalines era
um exemplo do negro raivoso que iriamos soltar em nossa sociedade se permitimos tal
coisa. Os mesmos discursos se seguiram na Guerra da Sucessão, quando estavam
querendo legitimar o negro no exército:

Em dezembro de 1861, Wendell Phillips entregou “Toussaint L'Ouverture” em Nova York e


Boston em frente a grandes e turbulentas multidões. Foi a primeira vez que ele fazia aquela palestra em
quase dois anos e, embora o texto permanecesse basicamente o mesmo, o público havia mudado. Depois
de oito meses de guerra, os homens e mulheres que agora ouviam estavam familiarizados com a conversa
sobre o impacto que os escravos fugitivos, ou “contrabandos”, estavam tendo na guerra, e as conversas
sobre soldados negros eram familiares a eles. Há poucas dúvidas de que Phillips e os homens e mulheres à
sua frente imaginavam servos americanos vestidos com casacos azuis e calças de soldados da União quando
ele declarou: “houve uma raça que, enfraquecida e degradada por escravidão, sem ajuda, rasgou suas
próprias correntes forjando-as em espadas e conquistando sua liberdade no campo de batalha, e essa foram
os negros de Saint Domingue.” (CLAVIN, 2012, pg. 98, tradução da autora)

11
BLACKBURN, Robin. The Overthrow of Colonial Slavery. Londres: Verso, 1988, pg. 282.
19

Voltando a impactos em colônias, acontece, em 1809 a reconquista espanhola da


parte oriental da ilha, o que de imediato causa tensões. Depois de Boyer reunificar todo
o Haiti, o governo dominicano pede ajuda a Boyer para que ele ajudasse a expulsar o
domínio da Espanha, o que Jean Pierre faz em vez disso é ocupar a República
Dominicana de 1822 a 1844. Com o passar do tempo, a rivalidade entre os dois países
permaneceu intacta, especialmente depois do massacre de Parsley sob ordens de Rafael
Trujillo, ditador da República Dominicana. A tensão entre os dois chega ao ponto de o
Haiti recusar ajuda dos dominicanos após o terremoto.

Em Cuba, as notícias sobre a revolução haitiana foram acompanhadas por todos,


apesar de os colonos quando encontrava escravos que espalhava as ideias haitianas,
eram punidos.

Os canais de circulação dos informes foram os mais diversos. Ofícios


secretos remetidos por autoridades coloniais que eram vazados por seus
mensageiros, relatos pessoais de soldados que combateram republicanos e
escravos rebeldes, depoimentos de refugiados da colônia espanhola de Santo
Domingo e notícias publicadas pela Gaceta de Madrid mantinham os cubanos
a par de todos os acontecimentos da ilha vizinha. Alguns dos principais
membros da oligarquia havanesa —como o marquês de Casa Calvo e Francisco
de Arango y Parreño— tiveram experiência direta de terreno em Saint-
Domingue, fosse combatendo as tropas republicanas francesas (caso do
marquês, comandante do Batalhão de Infantaria de Havana, que lutou em
Saint-Domingue entre 1793 e 1795), fosse participando de missões
diplomáticas (caso de Arango, que visitou a ilha em abril e maio de 1803, no
ápice dos embates entre as tropas de Napoleão e os ex-escravos em armas).
Mais importante que tudo, no entanto, é o fato de o Haiti ter inspirado
diretamente ações escravas em Cuba. Os eventos revolucionários do Haiti se
fizeram presentes a todo momento nas bocas dos cativos em Cuba, em uma
prática discursiva reiterada que expressava uma leitura aguda das
possibilidades de sucesso de uma rebelião escrava em larga escala. (Marquese,
Rafael; Parron, Tâmis, 2011, pg. 8)

Apesar de que um impacto haitiano em Cuba foi o aumento do tráfico negreiro e


uma expansão do mercado açucareiro e cafeeiro cubano, o medo de que uma nova Saint
Domingue realizasse na ilha cubana e acabasse com a ascensão do país nesses mercados
era grande pelos grandes proprietários de plantações, dado que a origem do sucesso da
economia escravista de Cuba, vinha da queda do Haiti. À medida que aumentava o número de
escravos africanos na ilha, o medo de uma revolta inspirada na haitiana multiplicava-se, o que
causou uma imigração espanhola promovida. Houve um plano posto em ação em 1812 que
tentou impor-se:
20

[...] na noite de 15 de março, poucos dias antes da data fixada por


Aponte para o início da rebelião, os escravos do engenho Peñas-Altas se
levantaram, destruindo a propriedade e matando o mestre de açúcar, seus dois
filhos e dois feitores brancos; em seguida, tentaram repetir o sucesso nos
engenhos da redondeza, mas foram derrotados e desbaratados ao atacarem a
quarta plantation. Nesta mesma noite, afixou-se nas paredes externas do
palácio do capitão general de Cuba uma declaração de independência da ilha,
que —soube-se depois— fora ditada por Aponte a Francisco Javier Pacheco,
outro negro livre que havia servido como voluntário no batalhão negro de
Havana. Nos dois meses seguintes, as autoridades prenderam cerca de 200
escravos e negros e mulatos livres envolvidos na trama, cuja meta central era
acabar com a escravidão e o colonialismo espanhol em Cuba. Os poderes
escravistas puderam então constatar, alarmados, a ampla participação de
membros dos batalhões de pardos e morenos em todas as etapas da sedição.
(Marquese, Rafael; Parron, Tâmis, 2011, pg. 28-29)

Apesar de alguns desejassem liberdade da Espanha e a emancipação da


escravidão em Cuba, não foi o suficiente para desmantelar o sistema, o que só foi
acontecer com o a abolição em 1886, o penúltimo país americano a fazer, atrás apenas
do Brasil (1888), e conseguiu independência da Espanha em 1889, movimento, este,
que começou em 1885.

Simón Bolívar tomou refúgio no Haiti depois do fracasso de seu próprio


movimento de independência (que não era antiescravagista) e para pedir ajuda em uma
nova empreitada libertadora. Ele desembarca na parte sul da ilha, em Les Cayes, que é
domínio do presidente mulato Alexandre Pétion, grande líder da revolução. Eles se
encontram em 1 de janeiro de 1816, com Pétion interrogando o homem mais jovem, um
ex-proprietário de escravos com: "como você pode fundar uma república onde a
escravidão existe?"

Depois de muita negociação, assinam um pacto. Em troca da promessa de


Bolivar de libertar todos os escravos de territórios que ele libertar, Pétion concorda em
fornecer a Bolívar com equipamentos e Bolívar deixa o Haiti em 31 de março de 1816,
com planos de tomar a Venezuela. Ele falha. Bolívar escreveu mais tarde para Pétion
agradecendo. A segunda aconteceu em 21 de dezembro de 1816 e se saiu muito melhor,
conquistando a independência em uma faixa de território que hoje inclui o noroeste do
Brasil, Guiana, Venezuela, Equador, Colômbia, Panamá e Bolívia. A contradição da
história, entretanto, é que Bolívar nunca reconheceu a independência do Haiti, e em
1826, na primeira reunião dos Estados independentes das Américas, convidou o
21

Presidente dos Estados Unidos John Quincy Adams, um defensor da Doutrina Monroe
de tráfico negreiro, e excluí o Haiti12.

No Brasil em 1805, o medo de um “novo Haiti” não era nada diferente. Devida a
situação bastante semelhante, tornou-se epidêmico entre os senhores sentirem-se
temoroso com qualquer menção haitiana, enquanto os negros, tomaram consolo no
exemplo caribenho, solanco soldados negros usavam medalhões com o rosto de
Dessalines estampado.

Ora, perguntavam-se alguns assustados grandes homens que viviam


no Brasil de então, se em São Domingos os negros finalmente conseguiram o
que sempre estiveram tentando fazer, isto é, subverter a ordem e acabar de vez
com a tranquilidade dos ricos proprietários, por que não se repetiria o mesmo
aqui? Garantias de que o Brasil seria diferente de outros países escravistas,
uma espécie de país abençoado por Deus, não havia nenhuma (AZEVEDO,
2004, p. 29).

A revolução haitiana deixou um clima revolucionário no ar e uma tensão


internacional de escravagistas em relação aos seus escravos. A primeira parte do século
XIX foi repleta de levantes de escravos na Bahia, dentre eles, a Revolta dos Malês
sendo o mais famoso.

Em 1831, noticiava-se a presença de negros da ilha de São Domingos


no Rio de Janeiro. Nesta mesma cidade, algum tempo depois foi denunciada a
existência de um haitiano que se chamava Moiro e que, segundo os
denunciantes, estava convidando os escravos das vilas do Bananal, Areia,
Barra Mansa e São João Marcos para se insurgirem. O plano já contava com
cerca de sete mil escravos. O haitiano foi preso, não negou as acusações de que
estava chamando os escravos para a insurreição, dizendo, entretanto, tratar-se
de uma “brincadeira”. Mesmo com tal argumento, as autoridades provinciais
pediram a sua expulsão do país. (NASCIMENTO, 2007)

Apesar de que a imagem mais significante para a diáspora africana sobre a


revolução haitiana são escravos jamaicanos que cantavam canções sobre a Revolução e

12
In War and Peace: The Americas' Broken Promises to Haiti. Disponível em: <
https://www.telesurtv.net/english/analysis/In-War-and-Peace-The-Americas-Broken-Promises-to-Haiti-
20160904-0013.html>. Acesso em 1 de junho 2018.
22

celebravam a independência do Haiti. Soldados negros no Rio de Janeiro usavando


colares com a imagem de Dessalines. Autoridades cubanas encontrando o retrato de
Toussaint e de outros líderes revolucionários haitianos em um livro, "um projeto para a
revolução", do notório rebelde negro José Antonio Aponte. E afro-americanos também
cantando canções sobre a Revolução Haitiana e nomeado seus filhos com o nome dos
fundadores do Haiti livre.
23

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Haiti fez história ao se tornar a primeira república negra independente no


mundo – liberdade, esta, conquistada por uma revolução que durou mais de uma década,
lutando contra os principais exércitos europeus da época – torna-se, também, o único
Estado fundado e sustentado totalmente por indivíduos antes escravizados e por
mulatos, o primeiro país do mundo a abolir a escravidão negreira e a segunda república
independente das Américas.

As autoridades coloniais endureceram o regime colonial, afastaram dos seus


territórios os escravos que disseminavam a “onda negra”, utilizaram-se de o racismo
científico e neocolonialismo para acabar com mais jovem país independente que faltou
com maturidade política para lidar com o pós-revolução e deixou sua instabilidade
relacional que ajudou com a crise socioeconômica da nação, tem quem diga que foi tudo
em vão, mas será? A descolonização das mentes de quem se levantou contra o sistema
do colono com armas, ações e pensamentos parece ter grudado, e como Fanon propõe,
isso abala a ordem mundial. A incompreensão e o silêncio forçado não progrediram
como os colonos queria, porque o Haiti foi uma constante referência nas sociedades
escravistas e isto transcendeu zonas, a onda negra de medo se instala em todo colono, e
foi tão essencial a cada abolição que, posteriormente, se seguiu.

A figura de Toussaint L´Overture e a luta que ele lidera sob bandeiras


anticolonialista e antiescravista, visando a emancipação coletiva de os seus, e mais tarde
com Dessalines, a independência conquistada com tanto ardor como um exemplo
histórico de que as populações negras também são vitoriosas frente à colonialistas
europeus.

Em síntese, a Revolução Haitiana foi única em muitos aspectos, intrinsecamente


com o processo histórico do país em uma luta não só senhorial, mas estrutural, nos
sistemas do colono e no racismo, reverberando em todo o mundo, enquanto o sistema
colonial assistia horrorizado seu pior medo acontecendo, uma rebeldia e resposta do
povo que ele tanto explora, explode, e luta de igual para igual, desmontando a lógica de
racismo científico imposta. As repercussões do feito haitiano espalham-se pelo mundo
colonial, indo de manipulada, temida ou admirada, vemos os ecos de uma revolução
negra.
24

REFERÊNCIAS

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BLACKBURN, Robin. The Overthrow of Colonial Slavery. Londres: Verso, 1988.
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Disponível em: <http://correionago.ning.com/profiles/blogs/os-libertadores-do-haiti-1>.
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CLAVIN, Matthew J. Toussaint Louverture and the American Civil War: The
Promise and Peril of a Second Haitian Revolution. [S.I]: University of Pennsylvania
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<https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0103200406.htm>. Acesso em: 31 de maio
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https://www.telesurtv.net/english/analysis/In-War-and-Peace-The-Americas-Broken-
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POPKIN, Jeremy. A Concise History of the Haitian Revolution. [S.I]: John Wiley &
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25

TROUILLOT, Michel-Rolph. Silencing the past: power and the production of history.
Boston: Beacon Press, 1995. 191p.

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