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O DISCURSO RELIGIOSO NO “SERMÃO DA EPIFANIA”

Introdução
O discurso religioso busca sua legitimação nas escrituras sagradas. Assim, o seu enunciador
esconde-se na fala “divina”, colocando suas palavras como ditos divinos. Esta estratégia discursiva, não
só valida o discurso em questão, como protege o seu enunciador no ato discursivo. Padre Antônio Vieira,
em seus sermões, mostra-se hábil na aplicação de tal recurso. O “”Sermão da Epifania” é um discurso
com um alto grau de persuasão em que seu enunciador tenta persuadir a corte a apoiar as missões
autônomas no Brasil.
O presente trabalho busca analisar as estratégias de persuasão usadas por Vieira na constituição
deste sermão. Este estudo divide-se em duas partes: na primeira, analisa-se o autor e seu momento
histórico-discursivo, sua motivação e intencionalidade ao escrever o “Sermão da Epifania”; na segunda,
dá-se ênfase ao modo de persuasão do pregador no discurso em questão, analisando os elementos por
ele usados na construção de seus argumentos. O texto é fundamentado pelas críticas de Alfredo Bosi,
Eugênio Gomes e José A. Saraiva.

O Barroco

O período Barroco (1601-1768) foi uma época de grande conflito psicológico e espiritual. O homem
seiscentista achava-se dividido entre os prazeres terrenos e o céu. Como conseqüência desse fato, a
produção literária desse período revela a tentativa de evasão, caracterizada por uma linguagem
rebuscada – cultismo – e por um jogo de idéias mais raciocínio lógico – conceptismo.
Em meio a tanta instabilidade e incerteza, era necessário trazer algo visível e palpável em que o
homem pudesse apoiar suas crenças e sua moral. Para os pregadores, isso fez com que os textos
sagrados se tornassem fontes inesgotáveis de figuras, parábolas, metáforas e outros recursos, que lhes
possibilitavam sustentar um recurso maior – o da imaginação sensorial, tão explorado em suas pregações.
Foi nesse contexto que Vieira escreveu o “Sermão da Epifania’’, cujo objetivo principal era convencer a
corte a permitir que os missionários realizassem missões autônomas no Brasil, que não fossem vinculadas
aos colonos.

Padre Antônio Vieira

Dentro da classificação histórico-literária, Vieira enquadra-se dentro do estilo Barroco, devido à


presença constante, em seus sermões, da técnica do raciocínio cultista e conceptista (com maior ênfase
ao conceptismo) e ainda, do ponto de vista formal, ao amplo uso da metáfora, tendo sempre por base as
Sagradas Escrituras.
No que diz respeito ao estilo individual de Vieira, pode-se dizer que foi um pregador audacioso, a
ponto de ser colocado frente ao Tribunal da Inquisição pelo seu “atrevimento”, em alguns momentos, de
advertir severamente a Deus (como no Sermão de bom Sucessos das armas de Portugal contra as de
Holanda).
Vieira utilizou o púlpito sagrado para suas pregações religiosas e políticas como se fosse o
parlamento ou a imprensa, conseguindo atingir multidões de fiéis.
De lá, colocou-se em defesa da liberdade do homem. O negro e o índio foram seus principais
protegidos, mas os últimos foram sua grande paixão, levando-o a grandes sacrifícios, que tiveram o cunho
de autêntico heroísmo.

O “Sermão da Epifania”

O “Sermão da Epifania’’ surgiu numa sociedade colonialista cheia de conflitos. Estavam em jogo os
interesses econômicos da metrópole e os interesses religiosos e catequéticos defendidos pelos padres
jesuítas.
Segundo um acordo político firmado por colonizadores e jesuítas, a estes cabiam a função de
catequizar, educar os indígenas em um prazo de seis meses.
Decorrido este tempo de catequização, os índios tinham de trabalhar nas lavouras dos colonos
durante seis meses . Com o passar do tempo, o desenvolvimento agromercantil provocou a necessidade
de aumentar a mão-de-obra indígena, bem como o tempo de permanência dos índios nas lavouras.
Consequentemente, o acordo entre os jesuítas e os colonizadores foi se desfazendo, uma vez que
aqueles não concordavam em ceder o tempo de catequese em favor do trabalho na roças coloniais. O
conflito entre os acordantes culminou na expulsão dos jesuítas pelos colonos enfurecidos, os quais
detinham o poder econômico.
Foi assim que Vieira e outros missionários voltaram a Lisboa com a intenção de conseguir da corte
o direito de desenvolver missões autônomas, sem nenhum vínculo com os colonos, além da libertação dos
índios, que eram escravizados nas roças, com vistas à sua cristianização. No entanto, essa proposta
dificilmente seria aceita pela corte. Como libertar o índio para que ele fosse cristianizado se era por meio
do seu trabalho que se dava o enriquecimento da metrópole?
Diante de tal situação, o pregador compõe o “Sermão da Epifania”, como meio de alcançar os seus
objetivos, mas de forma que não afetasse os interesses da metrópole. Este sermão é, antes de mais nada,
um discurso constituído de um alto grau de persuasão em que Vieira concilia a defesa dos índios e, ao
mesmo tempo, enaltece a grandiosidade e o poder de dominação de Portugal.
Ao referir-se a este sermão, Alfredo Bosi (1993) observa: “O Sermão é exemplar como um xadrez
de conflitos sociais, dados os interesses em jogo, obrigando o discurso ora a avançar até posições
extremas, ora a compor uma linguagem de compromisso. No fundo, o pregador acha-se dividido entre
uma lógica maior, de raiz universalista, tendencialmente igualitária, e uma retórica menor, que trabalha ad
hoc, particularista e interesseira” (BOSI, 1993, p. 134).
Lançando mão da estética conceptista, o orador estabelece seu discurso engenhoso ancorado no
paradoxo e no raciocínio lógico, em que as idéias e as comparações foram cuidadosamente trabalhadas.
A arte da persuasão no “Sermão da Epifania” Devido ao público ao qual Vieira se dirige em “O
Sermão da Epifania” ser conhecedor da palavra, o pregador faz grande esforço para conseguir a
persuasão desejada. Seu discurso é pautado na Bíblia Sagrada que, naquela época, era vista como um
instrumento de Deus para guiar e orientar o povo. É por meio das comparações bíblicas que Vieira usa de
um maniqueísmo exagerado a fim de convencer seus ouvintes (a Corte Portuguesa) da necessidade e da
importância das missões autônomas tanto para o Portugal (metrópole) como para o Brasil (colônia).
Ao começar o sermão, Vieira lança o argumento de que a América faz parte do novo céu e nova
terra citados em Isaías. Esta terra, descoberta pelos portugueses, dava-lhes orgulho, mas ao mesmo
tempo responsabilidades e compromisso.
Assim, ele trabalha o jogo persuasivo em relação a um fato triunfante: “Este é o fim para que Deus
entre todas as nações escolheu a nossa com ilustre nome de pura fé, e amada pela piedade: estas são as
gentes estranhas e remotas, aonde nos prometeu que havíamos de levar o seu santíssimo nome; esta foi,
e será sempre a maior e melhor glória de valor, do zelo, da religião e da cristandade portuguesa” (VIEIRA,
1951, p. 14).
Na passagem acima, o enuciador remete a Portugal como a nação escolhida por Deus para
desbravar e dominar os lugares longínquos ainda não cristianizados. Se por um lado esta posição era de
orgulho e privilégio, por outro era de uma imensa responsabilidade, a de “levar Cristo” aos gentios que ali
habitavam. No que se refere ao jogo persuasivo em relação a um fato triunfante, bastante usado nos
sermões de Vieira, GOMES (1980) observa: “Nesse jogo, encontra-se o aspecto mais interessante da
paranética vieriana e, em face de algum acontecimento histórico, tomava as mais intrincadas direções
para justificação de um fracasso ou de um triunfo político” (GOMES,1980, p. 7). Assim o pregador irá
justificar o triunfo de Portugal, mas ao mesmo tempo o colocará numa posição paradoxal em relação a
colônia (Brasil).
Em seguida, ao traçar um paralelo entre a posição dos portugueses no passado e no presente, no
que diz respeito à propagação do cristianismo, Vieira chama a atenção da corte para a posição ocupada
pelos portugueses, valendo-se de um maniqueísmo elaborado: “Naquele tempo andavam os portugueses
sempre com as armas as costas contra os inimigos da fé, hoje tomam as armas contra os pregadores
da fé” (VIEIRA, 1951, p. 17.). Neste trecho o pregador está se referindo a posição dos colonizadores que
outrora combatiam os protestantes considerados inimigos da fé.
Agora, estes mesmos colonizadores estavam impedindo que os jesuítas catequizassem os índios,
tornando-se assim também inimigos dos pregadores da fé.
A partir daí, evidenciando este maniqueísmo, o pregador compara o nascimento e a perseguição
de Jesus por Herodes com as missões jesuítas e os colonos.
As missões proporcionavam o “nascimento de Jesus” na colônia, enquanto os colonos
representavam o perseguidor Herodes.
Depois dessas comparações, ele passa a mostrar a transformação dos índios, como conseqüência
das missões: “Eram aqueles mesmos bárbaros, ou brutos que sem o uso da razão nem sentido da
humanidade, se fartavam de carne humana (...) Estas são hoje as feras que em vez de nos tirarem a vida
nos acolhem entre si...” (VIEIRA, 1951, p. 23.) Defendendo a mudança de vida ocorrida com os índios,
Vieira chega a compará-los até mesmo com a baleia que protegeu o profeta Jonas em seu ventre: “...estes
os monstros que em vez de nos tragarem e digerirem nos metem dentro nas entranhas, e nelas nos
conservam vivos como a baleia a Jonas” (VIEIRA, 1951, p.23).
Dessa forma, os índios são tidos até mesmo como os protetores das missões pelas quais eram
favorecidos.
Posteriormente, em meio ao sermão, Vieira se defende da acusação feita pelos colonos, de que
aos jesuítas só interessava em defender dos índios para que estes pudessem servi-los em suas missões.
Neste trecho, ele usa o próprio evangelho, fazendo uma alusão aos reis magos (índios) e a Estrela (Vieira)
que os guiava: Magos também eram Índios, tal maneira seguiam e acompanhavam a estrela, que ela não
se movia nem dava passo sem eles (...) serviam à estrela aos Magos, ou os Magos à estrela? Claro que
a estrela servia a eles e não eles a ela (VIEIRA, 1951, p.43).
Essa forma de comparação pode, a princípio, parecer ilógica, mas, na verdade, ela cumpre um
propósito preestabelecido pelo autor, como salienta SARAIVA (1980):
Cada texto, cada palavra pode dar lugar a múltiplas associações (...) O que não é arbitrário nem
fantasista é o objetivo prático que o orador tem em vista: para convencer o ouvinte recorre a todos os
meios de pressa e de enredo, dando-lhes a aparência dos caminhos certos de uma verdade demonstrada
( SARAIVA, 1980, p.9)
No final de suas justificações e ataques comparativos, o orador dá o seu “xeque-mate”, assumindo
parte da culpa para com os índios, confessando-se não apenas omisso, mas também participante das
afrontas contra o estes: “(...) porque devendo defender os gentios que trazemos a Cristo, como Cristo
defendeu os Magos, nós, acomodando-nos à fraqueza do nosso poder e à força do alheio, cedemos da
sua justiça, e faltamos à sua defesa (...). Cristo não consentiu que os Magos perdessem a soberania,
porque reis vieram e reis tornaram: e nós não só consentimos que aqueles gentios percam a soberania
natural com que nasceram e vivem isentos de toda a sujeição; mas somos os que sujeitando-os ao jugo
espiritual da Igreja, os obrigamos, também, ao temporal da coroa, fazendo-os jurar vassalagem.
Finalmente, Cristo não consentiu que os Magos perdessem a liberdade, porque os livrou do poder e da
tirania de Herodes, e nós não só não lhes defendemos a liberdade, mas fizemos pacto com eles, por eles,
como seus curadores, que sejam meio cativos, obrigando-os a servir alienadamente a metade do ano (...)
(Vieira, 1951, p.47.).
Nessa passagem encontra-se triunfo deste sermão, ao confessar sua parcela de culpa em relação
a situação dos índios subjugados e explorados, Vieira não só consegue sensibilizar a corte, como também
faz com que cada um dos seus ouvintes sintam-se culpados e se arrependam perante Deus e a si próprio.
A técnica discursiva aqui usada foi da confissão em que o enunciador, até então protegido pela
fala divina, coloca-se presente na arena discursiva, instaurando sua voz enunciativa.
É importante observar também o sentido bíblico da confissão. Segundo Cristo, aquele que
confessa o seu pecado e o deixa, perdoado está. Desta forma a confissão estava atrelada ao perdão
divino. Ao confessar sua culpa perante toda a corte portuguesa, Vieira estava automaticamente recebendo
o perdão divino.
Assim, pregador consegue da corte a permissão para o desenvolvimento de missões autônomas
no Brasil. Castelo Branco, ao comentar sobre tal sermão observa: “Vieira comoveu até as lágrimas e fez a
Santa Liberdade volvesse a América a estalar as gargalheiras de índio e a cicatrizar-lhes as vergastadas
do tangente” (BRANCO apud GOMES, 1980).
Sua alegria, porém, dura pouco, pois dias depois o tribunal da inquisição o detém para julgamento,
devido a acusação de que protegia os “novos cristãos”, voltando ao Brasil somente os missionários que o
acompanharam.

Considerações Finais

O “Sermão da Epifania” é um exemplo da complexidade discursiva de Vieira e de sua forma


peculiar de persuasão. Este trabalho teve como objetivo evidenciar alguns traços persuasivos trabalhados
pelo autor nesta obra, bem como a forma de constituição de seu discurso religioso.
Através de alguns recursos barrocos (principalmente o conceptismo), o autor elaborou um
maniqueísmo para convencer a corte da importância das missões autônomas no Brasil. Assim, devido a
sua forma singular de persuasão, ele conseguiu alcançar o seu objetivo. Todavia, em razão do processo
inquisitório instalado em Portugal, sua volta ao Brasil tornou-se impossibilitada, regressando apenas no
final de sua vida, onde veio a falecer.

Exercícios para fixação:

1. (UNIFAL) É INCORRETO afirmar que o Padre Antônio Vieira:


a) valeu-se de seus sermões para a defesa de causas políticas e sociais, razão pela qual atraiu a fúria
dos colonos, dos comerciantes e da Inquisição.
b) tematizou, no Sermão do Bom Ladrão ou da Audácia, a necessidade de os seres humanos se amarem
entre si para pagar o amor extremo que Cristo manifestou pela humanidade ao sofrer e morrer na cruz.
c) utilizou, no Sermão da Epifânia ou do Evangelho, o argumento de que Jesus nasceu para defender a
ação evangelizadora dos missionários jesuítas entre os indígenas e a luta contra a violência dos
colonos que teimavam em escravizar os índios.
d) escreveu sermões que constituem a expressão máxima da prosa sacra barroca e da ideologia da
Contra-Reforma.
e) considerou, no Sermão da Primeira Dominga da Quaresma, que seus ouvintes estavam em pecado
mortal por continuarem a manter os índios no cativeiro, defendendo como remédio para tal situação, a
imediata liberdade de todos os índios escravizados.

2. Relacione:

a) Sermão da primeira dominga da quaresma


b) Sermão da sexagésima
c) Sermão de santo Antônio aos peixes
d) Sermão do rosário
e) Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as da Holanda

I. Contra os maus tratos aos escravos negros.


II. Contra a escravidão dos índios.
III. Contra os perigos do protestantismo.
IV. Contra a ambição dos colonos maranhenses.
V. Contra os exageros do estilo barroco.

É correto:

a) I - D, II - A, III - E, IV - C, V - B.
b) II - A, I - C, IV - B, V - E, III - D.
c) I - E, II - B, III - D, IV - C, V - A.
d) III - D, V - A, IV - C, II - B , I - E.

3. (UFOP) Considerando o texto do Sermão da Sexagésima, de Antônio Vieira, é incorreto afirmar que: 

a) é um discurso oratório no qual se percebem com nitidez o exórdio, o desenvolvimento e a peroração. 


b) em seu exórdio, o orador é bastante simples, indo diretamente ao tema do sermão sem maiores
circunlóquios. 
c) em seu desenvolvimento, o sermão apresenta um perfeito equilíbrio entre narração e argumentação. 
d) sua argumentação não dispensa procedimentos conceptistas tais como o silogismo, o paradoxo e o
exemplo. 
e) Vieira se exime de induzir os seus ouvintes, fazendo com que o sermão perca muito de sua eficácia.

4. (UFOP) Sobre o Sermão da Sexagésima, de Antônio Vieira, é incorreto dizer que: 

a) obedece rigorosamente às regras mais fundamentais da retórica para o púlpito, não descuidando de
qualquer detalhe.
b) pode ser definido como “uma profissão de fé oratória”, uma vez que aí ele expõe claramente os
princípios de sua arte de pregar. 
c) jamais se rende ao cultismo predominante na época, uma vez que o critica de forma precisa e clara.  
d) combina de modo bastante feliz as regras clássicas de um discurso pagão aos princípios religiosos da
doutrina cristã. 
e) utiliza uma parábola do Evangelho de São Mateus como uma metáfora que se desdobra em inúmeras
variações.

5. (UNOPAR-PR) Fernando Pessoa dizia que o Padre Vieira era o imperador da língua portuguesa. No
que diz respeito à criação literária, assinale a alternativa que justifica o fato de Vieira ser chamado de
Imperador.
a) Embora vivesse no Brasil, defendeu posições favoráveis à administração do império português.
b) Era possuidor de alta espiritualidade e por isso não se interessava por assuntos mundanos.
c) Revelava-se em seus sermões com uma arrogância desmedida que o distanciava das pessoas.
d) Servindo-se de um sofisticado jogo de idéias e conceitos, acabou por aprimorar, em grande estilo, a
esteticidade do idioma português.
e) Utilizou-se de um discurso pedagógico e investiu-se das funções de moralizador de todas as camadas
sociais.

6. Acompanhe alguns trechos do “Sermão da Sexagésima”, o mais célebre de Vieira:

Antigamente convertia-se o mundo, hoje por que não se converte ninguém?


Porque hoje pregam-se palavras e pensamentos, antigamente pregavam-se palavras e obras.
Palavras sem obras são tiros sem balas; atroam mas não ferem. (...) A razão disto é porque as
palavras ouvem-se, as obras vêem-se (...).
Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos (a causa de não frutificar a palavra de
Deus?) um estilo tão empeçado, um estilo tão dificultoso, um estilo tão afetado, um estilo tão encontrado a
toda a parte e a toda a natureza? O estilo há que ser muito fácil e muito natural.

Aponte, nas questões seguintes, o que é falso.

a) Vieira defende a idéia de que o pregador não deve usar a palavra pela palavra só para satisfazer o
gosto pelos malabarismos estéticos – na verdade, condena o estilo cultista.
b) Vieira acusa diretamente o estilo gongórico como o responsável pelo afastamento dos fiéis.
c) O grande pregador conceptista enfatiza que a importância da linguagem preciosa é decisiva para que
o ouvinte fique impressionado.
d) A linguagem de Vieira é evidentemente uma defesa ao cultismo, daí ter conseguido persuadir o seu
público.

7. (PUC-MG) Segundo o Prof. Luiz Roncari, “no sermão, qualquer intenção literária do autor esbarra em
sérios limites: desde a seleção do tema (imposto mais pelas circunstâncias e fatos de relevância social e
coletiva do que pelas inquietações individuais e subjetivas do autor)[...]”

A circunstância relevante que propiciou o tema do Sermão da Sexagésima é:

a) a falta de fé dos homens do século XVII.


b) O caráter inescrupuloso dos sermões dirigidos aos mais diferentes fiéis.
c) A ineficiência dos sermões na sua finalidade de convencer e converter.
d) A ânsia dos homens por sermões que clareassem suas dúvidas.
e) A ira do autor diante da perda de inúmeros fiéis.

8. (FUVEST-SP)A respeito de Pe. Antônio Vieira, pode-se afirmar:

a) Embora vivesse no Brasil, por sua formação lusitana, não se ocupou de problemas locais.
b) Procurava adequar os textos bíblicos às realidades de que tratava.
c) Dada sua espiritualidade, demonstrava desinteresse por assuntos mundanos.
d) Mostrou-se tímido diante dos interesses dos poderosos.

9. (MACKENZIE-SP) aponte a alternativa incorreta sobre o “Sermão da Sexagésima”.

a) O autor desenvolve dialeticamente a seguinte tese: “A semente é a palavra de Deus”.


b) O estilo é barroco e privilegia a corrente conceptista de composição.
c) O orador discute no sermão cinco causas possíveis que não permitiriam a entrada da palavra de Deus
no coração dos homens.
d) Vieira baseia-se em parábolas bíblicas e sua linguagem se vale de estruturas retóricas clássicas.
e) Pela sua capacidade de argumentação, Vieira consegue, neste sermão, convencer os indígenas a se
converterem.

10. Todas as passagens abaixo, pelo conteúdo apresentado, pertencem ao Sermão da Sexagésima,
EXCETO:
a) Há de tornar o pregar uma só matéria, há de defini-la para que se conheça, há de dividi-la para que se
conheça, há de dividi-la para que se distinga, há de prová-la com a Escritura, há de declara-la com a
razão, há de confirmá-la com o exemplo, há de amplifica-la com as causas e com os efeitos, com as
circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir...
b) Se uma nau fizesse um bordo para o norte, outro para o sul, outro para o leste, outro para oeste, como
poderia fazer a viagem? Por isso nos púlpitos, se trabalha tanto e se navega tão pouco. Um assunto
vai para um vento, outro assunto vai para outro vento; que se há de colher senão vento?
c) Mas que sendo o amor de Cristo tão excessivo, não o conheçam os homens? E que sendo o amor dos
homens tão imperfeito, o conheça Cristo?
d) Este desventurado estilo que hoje se usa, os que o querem honrar chamam-lhe culto. Os que o
condenam chamam-lhe escuro; mas ainda lhe fazem muita honra. O estilo culto não é de escuro, é
negro, e negro boçal, e muito cerrado.

11. Assinale o tópico que NÃO apresenta um traço estilístico do sermão de Vieira:

a) Encadeamento de raciocínio dialético;


b) Senso lúcido de figuração de ornamento;
c) Apelo persuasório com ênfase no coloquial;
d) Rigor semântico aliado à ordem natural do discurso.

12. Segundo o critico Affonso Àvilla, Vieira, “o mais artista dos prosadores barrocos de língua portuguesa
contraditou-se curiosamente e à sua própria arte num de seus celebrados sermões – o da Sexagésima”
(ÀVILLA: 1971,63)

A opção que melhor justifica tal contradição é:

a) A utilização da intertextualidade bíblica na abordagem de um tema profano.


b) A apóstrofe ao estilo da oratória sagrada utilizado em sua época.
c) A enumeração de conceitos que não condizem com Patrística.
d) A apologia à parenética dominicana, recorrente nos púlpitos.

13. A acentuada carga de ironia presente no Sermão da Sexagésima pode ser exemplificada na
passagem:

a) As palavras do Batista pregavam composição e modéstia, e condenavam a soberba e a vaidade das


galas; e o exemplo clamava: Ecce Homo: eis aqui está o homem vestido de peles de camelo, com as
cerdas e cilício à raiz da carne.
b) Mas como em um pregador há tantas qualidades, e em uma pregação tantas leis, e os pregadores
podem ser culpados em todas, em qual consistiria esta culpa? – No pregador podem-se considerar
cinco circunstâncias: a pessoa, a ciência, a matéria, o estilo, a voz. A pessoa que é, a ciência que tem,
a matéria que trata, o estilo que segue, a voz com que fala. Todas estas circunstâncias temos no
Evangelho.
c) Este grande frutificar da palavra de Deus é o em que reparo hoje; e é uma dúvida. ou admiração que
me traz suspenso e confuso, depois que subo ao púlpito. Se a palavra de Deus é tão eficaz e tão
poderosa, como vemos tão pouco fruto da palavra de Deus?
d) Vemos sair da boca daquele homem, assim naqueles trajos, uma voz muito afetada e muito polida, e
logo começar com muito desgarro, a quê? – A motivar desvelos, a acreditar empenhos ,a requintar
finezas, a lisonjear precipícios, a brilhar auroras, a derreter cristais, a desmaiar jasmins,a toucar
primaveras, e entre mil indignidades destas.

14. Assinale o comentário CORRETO sobre o Sermão da Sexagésima :

a) A prédica, dividida em 8 partes e marcada com um conteúdo bem patriótico, pode ser resumida na
seguinte passagem: “ Os bons anos não os dá quem os deseja, senão quem os assegura”.
b) No exórdio do sermão, que é voltado para a defesa da língua, o pregador afirma que “todas as nações
do Oriente de qualquer cor que seja, falam a língua portuguesa, mas cada uma a seu modo, como no
Brasil os de Angola e os de terra”.
c) Com base numa parábola bíblica, o orador discute sofre os efeitos da palavra de Deus e questiona as
interpretações equivocadas do texto sagrado, afirmando que “o Diabo tomava as palavras da Escritura
em sentido alheio e torcido”.
d) Neste sermão, Vieira discute o amor de Cristo no fim de seus dias. Teria Cristo amado mais os
homens no fim de sua vida? Vieira responde que não, pois desde o inicio esse amor foi perfeito e
infinito.

15. Vieira expõe suas idéias, sempre baseando suas opiniões em passagens da Bíblia. Isso NÂO ocorre
em:

a) “Não cuideis que encareço em chamar comedias a muitas pregações das que hoje se usam. Tomara
ter aqui as comedias de Plauto, de Terêncio, de Sêneca, e veríeis se não acháveis nelas muito
desenganos da vida e vaidade do Mundo, muitos pontos de doutrina moral, muito mais verdadeiros, e
muito mais sólidos, do que hoje se ouvem nos púlpitos”.
b) “Dizia o maior dos pregadores, S.Paulo: “se eu contentara aos homens, não seria servo de Deus”. Oh,
contentamos a Deus, e acabemos de não fazer caso dos homens! Advirtamos que nesta mesma Igreja
há tribunas mais altas que as que vemos”.
c) “De maneira que Jonas em quarenta dias pregou um só assunto, e nós queremos pregar quarenta
assuntos em uma hora! Por isso não pregamos nenhum. O sermão há de ser de uma só cor, há de ter
um só objeto, um só assunto, uma só matéria”.
d) “E por que cada um sobre cada um, e não todas sobre todos? – porque não servem todas as línguas a
todos, senão a cada um a sua. Uma língua só sobre Pedro, porque a língua de Pedro não serve a
André; outra língua só sobre André, porque a língua de André não serve a Filipe”.

16. No Sermão da Sexagésima, Vieira usa a imagem do semeador e da sementeira, como as passagens
comprovam, EXCETO:

a) Assim há de ser o pregar. Hão de cair as coisas e hão de nascer ; tão naturais que vão caindo, tão
próprias que venham nascendo.
b) A pregação tem umas coisas de mais peso e de mais fundo, e têm outras mais superficiais e mais
leves; e governar o leve e o pesado, só sabe fazer quem faz rede.
c) A primeira perdeu-se, porque a afogaram os espinhos; a segunda, porque a secaram as pedras; a
terceira, porque a pisaram os homens e a comeram as aves.
d) Saiba o Inferno que ainda há na terra quem lhe faça guerra com a palavra de Deus, e saiba a mesma
terra que ainda está em estado de reverdecer e dar muito fruto: Et fecit fructum centuplum.

17. Assinale o comentário INCORRETO sobre o Sermão da Sexagésima:

a) Seu estilo marcado pela maestria de verbalizar substantivos e de substantivar verbos, como o de usar
substantivos na função adjetiva.
b) Há citações de autores profanos, como ocorrem sutilezas de conceitos, torneios sintáticos e
trocadilhos.
c) Ao longo do sermão, há uma complicação do pensamento do autor sobre as tentações da carne, a
beleza feminina, as mulheres e o amor.
d) O orador faz uma verdadeira sutura estilística da variedade na unidade, e faz um ataque ao estilo
predominante na sermonística da época.

18. A prosa de Vieira exibe a forma de ludicidade inerente à sensibilidade barroca, com jogos armados de
similaridade, contigüidade e ambigüidade e agentes de ênfase, como a técnica iterativa. Assinale a
passagem que melhor exemplifica isso:

a) Assim há de ser a voz do pregador – um trovão do Céu, que assombre e faça tremer o Mundo.
b) Todas as criaturas quantas há no mundo se reduzem a quatro gêneros: criaturas racionais, como os
homens; criaturas sensitivas, como os animais ; criaturas vegetativas, como as plantas; criaturas
insensíveis , como as pedras.
c) Vai um pregador pregando a Paixão, chega o pretório de Pilatos, conta como a Cristo o fizeram rei da
zombaria , diz que tomaram uma púrpura e lhe puseram aos ombros; ouve aquilo o auditório muito
atento.
d) Da mesma maneira, uma coisa é o semeador e outra que semeia; uma coisa é o pregador e outra o
que prega. O semeador e o pregador é nome; o que semeia e o que prega é ação; e as ações são as
que dão o ser ao pregador. Ter nome de pregador, ou ser pregador de nome, não importa nada.

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