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DOUTRINA BATISTA LIVRE

Robert E. Picirilli1

Lição Quatro: O Que Cremos Sobre a Pessoa de Cristo


CAPÍTULO V: CRISTO

SEÇÃO I: Sua Divindade

Jesus Cristo, o Filho de Deus, possui todas as divinas perfeições. Posto que Ele e o Pai
são um, em Sua natureza divina Ele preencheu todos os ofícios e realizou as obras de
Deus em prol de Suas criaturas, ofícios e obras essas que nos têm sido objetos de
revelações. Como homem, Ele cumpriu todos os deveres para com Deus que nos são
exigidos, excetuando apenas o arrependimento de pecado.

Sua deidade fica comprovada por Seus títulos, Seus atributos e Suas obras.

1. Seus Títulos. A Bíblia atribui a Cristo os títulos de Salvador, Senhor, Senhor dos
Exércitos, primeiro e último, Deus, verdadeiro Deus, grande Deus, Deus sobre
todos, poderoso Deus e Pai da eternidade.

2. Seus Atributos. Cristo é eterno, imutável, onipresente, onisciente, onipotente,


santo e digno de adoração.

Suas Obras. Através de Cristo é que o mundo foi criado. Ele o preserva, governa,
proveu redenção para todos os homens e será Juiz final de todos eles.

SEÇÃO II: A Encarnação de Cristo

O Verbo, que no princípio já estava com Deus e era Deus, mediante Quem todas as
coisas foram feitas, condescendeu em humilhar-se ao assumir a natureza humana e
tornar-se semelhante a nós, excetuando apenas a corrupção e o pecado. Nesse estado,

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Autor: Robert E. Picirilli (PhD) é professor emérito de Welch College (anteriormente Free Will Baptist Bible
College), autor de Discipleship: The Expression of Saving Faith (Discipulado: A Expressão da Fé
Salvadora),Randall House, 2013; Grace, Faith & Free Will: Contrasting Views of Salvation − Calvinism and
Arminianism (Graça, Fé e o Livre Arbítrio: Visões Contrastantes da Salvação − Calvinismo e Arminianismo),
Randall House, 2002), Teacher, Leader, Shepherd: The New Testament Pastor (Professor, Líder e Pastor:
o Pastor do Novo Testamento, Randall House, 2007) e Paul, the Apostle (Paulo, o Apóstolo, Moody, 1986).
Tradutor: Pastor Kenneth Eagleton, Jr.
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sujeito como estava à lei, esteve exposto às fraquezas de nossa natureza, foi tentado tal
como o somos, mas viveu como nosso exemplo, em obediência perfeita aos requisitos
divinos. Posto que Cristo era da descendência de Davi, segundo a carne, Ele é o “Filho do
homem”, e posto que a existência divina é a fonte da qual Ele veio, tendo sido aquela a
única agência pela qual foi Ele gerado, Ele é o “Filho de Deus”, sendo o unigênito do Pai
e a única encarnação do Ser Divino.

Aqui temos mais uma parte do Manual que está em acordo com todos os cristãos que
creem na Bíblia, independentemente de sua identificação denominacional.

Quando os teólogos examinam a doutrina de Cristo, tradicionalmente dividem este


tema amplo em duas partes principais: (1) a pessoa de Cristo (quem Ele é) e (2) a obra
de Cristo (Sua provisão da redenção). Este capítulo e lição lidam como o primeiro ponto:
quem é Cristo. Na próxima lição examinaremos o segundo ponto.

Este capítulo é subdividido em duas seções: (1) Cristo como sendo divino e (2) a
encarnação de Cristo, isto é, Sua humanidade.

I. A Divindade de Cristo

O primeiro parágrafo desta seção introduz o assunto, afirmando que Jesus Cristo era
tanto Deus quanto homem e agiu perfeitamente em cada uma destas naturezas. Suas
“divinas perfeições” se refere à Sua divindade, ao fato de que era e é realmente Deus. Já
tratei disto na primeira lição quando estudamos Deus como uma Trindade em quem
uma só essência é expressa em três manifestações pessoais.

Como Deus, Jesus Cristo “preencheu todos os ofícios e realizou as obras de Deus”,
incluindo a obra da criação. Como diz em João 1:1: “No princípio era o Verbo, e o Verbo
estava com Deus, e o Verbo era Deus”.

Como homem, Jesus agiu perfeitamente como os seres humanos foram projetados para
ser diante de Deus.

Teólogos cristãos tradicionalmente falam da pré-existência de Cristo. Isto significa


simplesmente que como Segunda Pessoa da Trindade Ele existia eternamente antes de
se encarnar em forma humana: João 1:1 e Filipenses 2:5-7 deixam isto claro.

Como aqueles que não levam a Bíblia a sério como Palavra de Deus têm a tendência de
duvidar da divindade de Cristo, o restante desta seção se dedica à demonstração de que

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Ele era e é Deus. A divindade de Jesus é totalmente provada na Bíblia pelos títulos que
recebe, pelos atributos que lhe são atribuídos e pelas obras que realizou.

A. Os títulos que Cristo recebeu na Bíblia demonstram sua divindade.

O Manual lista vários destes títulos.

1. Salvador. Compare Isaías 45:21 e João 4:42.

2. Jeová ou Senhor. As passagens do Antigo Testamento que usam Jeová ou Senhor


(ou Yahweh) são muitas vezes aplicadas a Jesus no Novo Testamento usando o
título Senhor. Veja, por exemplo, Lucas 1:76. Na realidade, em todo o Novo
Testamento, Senhor é usado para falar de Jesus de uma maneira que os leitores
judeus originais teriam entendido que Ele é um com o Deus do Antigo
Testamento.

3. Senhor dos Exércitos. Compare Isaías 6:5 e João 12:41.

4. O primeiro e o último. Compare Isaías 44:6 e Apocalipse 22:13.

5. Deus. Hebreus 1:8.

6. Verdadeiro Deus. 1 João 5:20.

7. Grande Deus. Tito 2:13: o sentido literal é “nosso grande Deus e Salvador, Jesus
Cristo”.

8. Deus sobre todos. Romanos 9:5.

9. Deus Forte e Pai da eternidade. Isaías 9:6 atribui estes e outros títulos magníficos
a Jesus: “o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da
Eternidade, Príncipe da Paz”. Estes certamente tinham a intenção de identificar o
Messias prometido, Filho de Deus, como o próprio Deus.

B. O atributos de Cristo na Bíblia demonstram Sua divindade.

Mais uma vez o Manual lista vários destes atributos.

1. Ele é eterno. Colossenses 1:17; João 1:1.

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2. Ele não muda: a palavra usada muitas vezes pelos teólogos cristãos é imutável.
Hebreus 13:8.

3. Ele é onipresente (está em todos os lugares ao mesmo tempo). João 3:13.

4. Ele é onisciente (sabe todas as coisas). João 16:30.

5. Ele é onipotente (tem todo o poder). Apocalipse 1:8 (“Todo-Poderoso”).

6. Ele é santo. Atos 3:14.

7. Ele deve ser adorado. Hebreus 1:6.

C. As obras atribuídas a Cristo na Bíblia demonstram a Sua divindade.

O Manual lista várias obras que somente Deus pode realizar, mas que foram
atribuídas na Bíblia a Cristo.

1. Ele criou toda a criação. João 1:3.

2. Ele preserva ou sustenta a existência da criação. Hebreus 1:3.

3. Ele governa o universo. Isaías 9:6.

4. Ele é o redentor. Efésios 1:7.

5. Ele será o juiz final de todos. 2 Timóteo 4:1.

Podemos acrescentar a estes fatos que Jesus aceitou o tipo de adoração que a Bíblia
claramente indica que dever ser reservada a Deus apenas. Veja Hebreus 1:6 e João 5:23.

Gostaria de enfatizar que Jesus Cristo está intimamente associado a Deus no Novo
Testamento. A conexão é tão próxima que seria blasfêmia se Ele não fosse Deus,
plenamente equivalente ao Pai de todas as maneiras. As fórmulas trinitárias, por
exemplo, são um exemplo desta conexão, como em Mateus 28:19-20. Até as saudações
simples nas cartas do Novo Testamento seriam equivocadas se Jesus Cristo não fosse
um com o Pai – 1 Coríntios 1:3 é um de muitos exemplos: “graça a vós outros e paz, da
parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo”.

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II. A Humanidade de Cristo — Como Visto na Encarnação

A segunda seção deste capítulo lida com a humanidade de Jesus Cristo.

A. O fato que se vê nisto é que Deus se tornou homem.

Sua existência humana se iniciou com a encarnação; uma palavra que literalmente
significa “em carne”. É a isto que João 1:14 se refere quando diz: “O Verbo se fez carne”.
Isto é, a Eterna Segunda Pessoa da Trindade se tornou um verdadeiro ser humano. Este
foi o último cumprimento do nome que lhe foi dado em Isaías 7:14, Emanuel, que
significa “Deus conosco”. Veja também Hebreus 2:14.

B. A maneira pela qual isto se realizou foi através do nascimento virginal.

Este foi um acontecimento milagroso e sobrenatural. De forma misteriosa, além da


nossa compreensão, o Espírito de Deus trouxe vida ao óvulo no útero de Maria sem o
envolvimento de um pai humano. Porém, havia ainda mais: a Segunda Pessoa da
Trindade assumiu esta forma de vida e nasceu na raça humana.

C. A exceção foi a “corrupção e o pecado”.

Em outras palavras, quando Jesus foi concebido, Ele não participou da culpa,
condenação e depravação da raça humana que já foi descrita previamente. Ele não teve
uma natureza pecaminosa e nem cometeu pecado – Hebreus 4:15.

D. O estado de humilhação.

O Manual diz que Ele “condescendeu em humilhar-se ao assumir a natureza humana”.


Isto significa que ele estava sujeito às enfermidades físicas, que incluíam o cansaço e a
fome (João 4:6). Ele também estava sujeito à tentação de todas as formas em que os
seres humanos são tentados (Hb. 4:15). Por experiência, Ele “aprendeu” e demonstrou o
significado de obediência perfeita (Hb. 5:8). No final, foi capaz de se humilhar no
sofrimento e na morte (Hb. 2:9).

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III. O Homem-Deus

Teólogos cristãos tradicionalmente falam da personalidade teantrópica de Jesus. Esta


palavra significa que Ele era verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem.
Costuma-se falar dele como homem-Deus, verdadeiramente Deus e verdadeiramente
homem, e expressá-lo como uma pessoa com duas naturezas. Ele tinha uma natureza
humana e uma natureza divina.

A. A união de duas naturezas em uma só pessoa é um mistério que ultrapassa a nossa


compreensão.

1. Existem pontos de vista equivocados sobre isto na história da doutrina cristã.

a. Alguns na Igreja negaram a divindade plena de Cristo. Incluem-se entre eles,


por exemplo, os Arianos e as Testemunhas de Jeová.

b. Outros têm negado a humanidade plena. Aqui se incluem os Gnósticos.

c. Ainda outros negaram a união das duas natureza em uma só pessoa, fazendo
com que Jesus tivesse duas personalidades.

d. Por fim, outros negaram a distinção entre duas naturezas, fazendo com que
Jesus tivesse somente uma natureza.

2. O que é essencial sobre a posição correta é que Jesus era uma pessoa, possuindo
um só conjunto de vontade, pensamentos e sentimentos; mas tinha duas
naturezas, uma humana e outra divina. Como resultado, observamos que
algumas coisas que são ditas a respeito de Jesus são verdadeiras a partir de uma
ou outra de suas naturezas. Por exemplo, quando se diz que estava cansado,
devemos entender que como pessoa, estava cansado, entretanto, isto se refere
a sua natureza humana. Deus nunca se cansa.

B. Teólogos cristãos costumam discutir a questão de se Jesus poderia ter pecado.

Sabemos que Ele não pecou, mas teria sido possível? Esta é uma questão difícil e
espinhosa e os Batistas Livres não têm posição oficial quanto a isto. Muitos teólogos
insistem na impecabilidade de Cristo, o que significa que era impossível que pecasse.

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Minha opinião (com o qual alguns dos meus amigos não concordam) é que
provavelmente não se deva responder esta pergunta com um simples “sim, Ele poderia”
ou “não, Ele não poderia”. Pela perspectiva de sua divindade, Ele não poderia, mas pela
perspectiva de sua humanidade, Ele poderia ter pecado. Não obstante, é certo que não
pecou e que não poderia haver redenção se tivesse pecado.

C. A doutrina cristã insiste em que Jesus era verdadeiramente Deus e verdadeiramente


homem.

Ele era tão verdadeiramente Deus quanto o Pai. Ele era tão verdadeiramente homem
quanto qualquer outro ser humano. Como foi mencionado, tradicionalmente isto se
expressa como tendo uma personalidade teantrópica (divina e humana).

Em conclusão, nossa doutrina da divindade de Cristo nos distingue (1) de todas as


formas de naturalismo, que diz que não há uma realidade sobrenatural – tudo é
natureza; (2) do deísmo, que diz que Deus não intervém no universo desde que o criou e
o preparou para funcionar de acordo com as leis da natureza sem a sua providência
ativa; (3) de todas as religiões que não reconhecem a redenção em Cristo; (4) dos
cristãos “liberais”, que nega a divindade de Cristo e (5) dos Unitários e outros grupos
cristãos que professam a tal doutrina da “unidade” e desta forma negam que há três
personalidades em um único Deus (Trindade).

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