Você está na página 1de 21

ESPIRITUALIDADE CRISTÃ

Prof. Cacau Marques

Sumário
DEFINIÇÕES ..................................................................................................... 3
O DESAFIO DA ESPIRITUALIDADE: A NOSSA CARNALIDADE ..................... 6
FÉ, A CONDIÇÃO PARA A ESPIRITUALIDADE ............................................... 7
ESPERANÇA, O COMBUSTÍVEL DA ESPIRITUALIDADE ............................... 9
AMOR, A OBRA DA ESPIRITUALIDADE ........................................................ 10
FORMAÇÃO ESPIRITUAL A IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS ESPIRITUAIS
......................................................................................................................... 12
AS DISCIPLINAS ESPIRITUAIS PESSOAIS ................................................... 15
AS DISCIPLINAS ESPIRITUAIS COMUNITÁRIAS .......................................... 20

Copyright @ 2022, BTBOOKS


1ª Edição: 2022

Edição: Rodrigo Bibo e Camila Abreu


Capa e Diagramação: Caio Duarte

Proibida a reprodução por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos,


xerográficos, fotográficos, gravação, estocagem em bancos de dados etc.), a
não ser em citações breves com indicação da fonte.
DEFINIÇÕES

• A Espiritualidade é a característica do que é espiritual. No âmbito da


vivência humana, a espiritualidade pode ser definida como o senso de
transcendência inerente a toda pessoa.
• Espiritualidade também pode se referir aos aspectos transcendentais que
guiam as concepções das pessoas sobre a vida e a realidade.
• Num terceiro sentido, espiritualidade também se refere às práticas,
religiosas ou não, que tem por objetivo o acesso à realidade
transcendental da existência.
• “Espiritualidade refere-se à busca por uma vida religiosa autêntica e
satisfatória, envolvendo a união de ideias específicas de determinada
religião com toda a experiência de vida baseada em e dentro do âmbito
dessa religião” Allister McGrath
• “Espiritualidade é o caráter auto transcendente de todo ser humano e tudo
que seja pertinente a isso, incluindo, e de modo mais importante, como
esse caráter, talvez infinitamente maleável, se apresenta concretamente
em situações cotidianas” Richard Woods

Ainda que a espiritualidade esteja, quase sempre, ligada a uma religião ou


compreensão mística do mundo, ela não é exclusiva da fé religiosa. Há uma
recente ênfase adotada por pensadores ateus que estimulam uma busca por
uma espiritualidade irreligiosa. Esse movimento procede do fato de que a
espiritualidade é um elemento universal da humanidade e nem mesmo os
materialistas podem negá-la.

Outras definições importantes


• Transcendência: característica do que está além do mundo sensível.
• Metafísica: disciplina filosófica que se ocupa da investigação do que está
além do mundo sensível.
• Religiosidade: característica do que tem religião. Refere-se às práticas do
fiel que se dão no âmbito religioso público ou privado.
• Crença: conceitos que orientam uma concepção religiosa.
• Fé: é o envolvimento consciente e prático do homem com a divindade ou
a fonte da transcendência.

A espiritualidade cristã é a vivência da realidade divina na vida do crente


segundo a revelação de Deus em Jesus Cristo. Para o cristão, a realidade
transcendente com a qual ele deve se relacionar é Deus mesmo. O “espiritual”
não é um conceito abstrato de realidades suprassensíveis, mas o próprio Espírito
que é Deus (João 4.24).
Sendo assim, toda a Espiritualidade Cristã versa sobre a comunhão do crente
com Deus. Não é um exercício de autoconhecimento, ou uma expansão de
consciência. Também não é o acesso a realidades sobrenaturais ou a
manipulação de poderes ocultos.
A Espiritualidade Cristã é celebrada no encontro real com um ser: O Deus
único e verdadeiro. Outras formas de contato com realidades espirituais são
vetadas pela fé cristã. A Bíblia é explícita em condenar culto aos anjos, consultas
aos mortos, comunhão com demônios.
Dessa forma, a espiritualidade cristã é a prática da Vida de Deus no indivíduo
e na comunidade. É o “andar no Espírito” (Gl. 6.16,25). A espiritualidade cristã
difere-se de outros tipos de espiritualidade pelo seu compromisso com os
conceitos doutrinários do cristianismo e os valores propagados pela fé cristã. A
espiritualidade cristã insere o adepto em uma comunidade que partilha desses
conceitos e valores e que reconhece a realidade a partir da mesma fonte de
verdade e amor: Deus, pai de nosso Senhor Jesus Cristo.

Segundo McGrath, o cristianismo é composto por três elementos principais:


• Um grupo de crenças: Embora haja diferenças entre os cristãos sobre
uma série de questões doutrinárias, (...) há um núcleo comum de crenças
por trás das diferentes expressões do cristianismo. Essas crenças têm
impacto significativo sobre como os cristãos vivem.
• Um grupo de valores: O cristianismo é uma fé fortemente ética. Isso não
significa que ele se resuma a uma série de regras que os cristãos
obedecem mecanicamente. Antes, significa uma série de valores
resultantes da redenção da pessoa. Esses valores estão intensamente
relacionados ao caráter de Jesus de Nazaré.
• Um modo de vida: Ser cristão não envolve somente crenças e valores; diz
respeito à vida real, na qual essas ideias e valores são expressos e
incorporados de maneira decisiva.

PERSPECTIVA PROTESTANTE
• Depravação Total: Nós não nos achegamos a Deus e nem o desejamos.
Ele se achega e se revela a nós
• Sola Scriptura: É na Bíblia que encontramos a verdade sobre Deus e a
sua revelação de maneira mais explícita.

Disso decorrem duas verdades


• A Espiritualidade cristã não se baseia em práticas de ascese para
elevação espiritual. O cristão não “invade” o universo divino, mas é
encontrado por ele.
• Não existe espiritualidade cristã à parte das Escrituras.
O DESAFIO DA ESPIRITUALIDADE: A NOSSA CARNALIDADE

A Condição Paradoxal Humana


• A tradição cristã reconhece que o ser humano se encontra em uma
condição paradoxal. Por um lado, somos boa criação de Deus, criados à
Sua imagem. Por outro, estamos em uma condição de oposição a Deus
por causa do pecado.
• Por sermos imagem de Deus, temos a vocação para a espiritualidade.
Mas por termos a condição pecaminosa, temos a tendência à carnalidade.
• Carnalidade é o oposto da espiritualidade. A vida carnal é aquela
construída ao redor de qualquer outra coisa que não seja Deus mesmo.

A Espiritualidade Corrompida
• A idolatria é a forma carnal de saciar a ânsia pelo transcendente sem,
contudo, encontrar-se com o Deus verdadeiro.
• Uma vez que temos uma existência que transcende a mera matéria,
somos forçados a criar sentido para a forma como vivemos. Nessa busca
por sentido, substituímos Deus por qualquer outra coisa. Assim surgem
os ídolos do nosso coração.
• Mesmo dentro da tradição cristã, podemos corromper a espiritualidade
verdadeira. Em nome de Deus, deixamos que nossa carnalidade domine
sobre nossa devoção e criamos nossos “bezerros de ouro” (Ex. 32.1-5).
• Há duas tendências muito fortes de corrupção da espiritualidade dentro
das nossas igrejas: a despersonalização de Deus e a “mesmificação” de
Deus.
• Mesmo dentro da tradição cristã, podemos corromper a espiritualidade
verdadeira. Em nome de Deus, deixamos que nossa carnalidade domine
sobre nossa devoção e criamos nossos “bezerros de ouro” (Ex. 32.1-5).
• Há duas tendências muito fortes de corrupção da espiritualidade dentro
das nossas igrejas: a despersonalização de Deus e a “mesmificação” de
Deus.
• A Despersonalização de Deus é quando retiramos do Criador o seu
aspecto pessoal. Deus, segundo revelado nas escrituras, é Espírito
pessoal. Nossa relação com Ele é uma relação pessoal e, sem o atributo
da personalidade divina, a espiritualidade cristã torna-se impossível.
• A Mesmificação de Deus é a tendência de tornarmos o Criador uma
extensão de nós mesmos. Fazemos dEle uma imagem exacerbada de
nossos desejos e valores. Com isso, não nos relacionamos com Deus em
si, mas com uma versão idealizada de nós.

Cristo como o mediador da Espiritualidade


• Em Cristo vemos a verdadeira imagem de Deus (Cl. 1.15). Ele não é um
ídolo criado por nós, mas a manifestação visível do próprio Deus criador
(Jo.1).
• Em Cristo, tanto a personalidade divina quando a sua alteridade fica
revelada. Nele, portanto, encontramos a possibilidade de um real
relacionamento com Deus. Ou seja, de uma verdadeira espiritualidade.

FÉ, A CONDIÇÃO PARA A ESPIRITUALIDADE

O paradigma bíblico
• Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas,
então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei
plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido. Assim,
permanecem agora estes três: a fé, a esperança e o amor. O maior deles,
porém, é o amor. (1 Coríntios 13:12,13)
• Paulo faz uma comparação entre a vida presente e a glória futura. Se
comparada à nossa realidade futura, a vida presente é como um espelho:
ainda que demonstra um reflexo daquela glória, sua visão é limitada. A
figura do espelho funciona bem pois representa dois tipos de limitação do
conhecimento da realidade celeste:
✓ Extensão: o nosso conhecimento da realidade celeste é limitado pelo que
a escritura nos revela.
✓ Presença: A experiência que temos com a glória divina é real, mas não é
plena como será no dia em que nos encontrarmos com nosso Senhor.
• Nesse texto, o tempo atual é caracterizado no versículo 12 pela palavra
“agora” (arti). No versículo 13 também aparece a palavra “agora” (nuni,
um sinônimo de arti), mencionando que tudo o que temos é Fé, Esperança
e Amor. Ou seja, no tempo presente, em que a percepção da glória divina
é limitada tanto na extensão quanto na presença, a realidade espiritual é
experimentada na fé, esperança e amor. A importância dessa tríade é tão
grande que Paulo a repete em diversos contextos diferentes (1Ts.1.3;
1Ts. 5.8,9; Cl. 1.4,5; Ef.1.15-18). Não só Paulo, mas também Pedro
(1Pe.1.21,22) e o autor de Hebreus (Hb. 10.22-24) fazem uso dela. Esses
três elementos constituem o paradigma da espiritualidade cristã.

Fé: Condição para a Espiritualidade


• “Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que
não vemos.” Hebreus 11:1
• Essa convicção não é mera certeza interior, mas uma certeza que impõe
um modo de vida. Vivemos pelo que cremos, não pelo que vemos (2Co.
5.7).
• Se temos certeza da realidade de Deus e de que a vida eterna nos está
garantida, não temos outra escolha senão viver de acordo com essa fé.
• Por isso o texto continua com uma lista de célebres homens e mulheres
do Antigo Testamento que viveram por fé (11.4-40). A firmeza dessa fé só
pode ser conhecida porque ela foi demonstrada em suas obras (Tg. 2.18).
• Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa
crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam. (Hebreus
11:6)
• A fé é a condição necessária para nos aproximarmos de Deus e o
agradarmos.
• Apenas quem crê pode agradar a Deus pois é ela que nos torna aceitáveis
diante dele (v.2). Não por nossas obras, mas pela Obra de Jesus que nos
apresenta ao Pai, santos, inculpáveis e irrepreensíveis (Cl. 1.22).
ESPERANÇA, O COMBUSTÍVEL DA ESPIRITUALIDADE

Esperança: Combustível da Espiritualidade


• Lembramos continuamente, diante de nosso Deus e Pai, o que vocês têm
demonstrado: o trabalho que resulta da fé, o esforço motivado pelo amor
e a perseverança proveniente da esperança em nosso Senhor Jesus
Cristo. (1 Tessalonicenses. 1.3)
• No texto citado acima, Paulo menciona a tríade fé-esperança-amor mais
uma vez. Mas aqui as palavras estão relacionadas a atitudes pessoais: a
fé ao trabalho, o amor ao esforço e a esperança à perseverança.
Perseverança (ou “paciência”) é a atitude que brota da esperança. Não
se abater diante das oposições, mas perseverar, é característica do
esperançoso.
• “Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque
sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um
caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança”. (Rm. 5.3,4)
• Não só a esperança brota da perseverança, mas também a perseverança
em meio à tribulação frutifica esperança.
• A tribulação enfrentada com perseverança só confirma e intensifica a
esperança.
• Essa realidade foi a motivadora dos mártires que continuaram fiéis mesmo
em face da morte (Estevão At. 7.55,56; Paulo Fl. 1.20,21; Pedro 2Pe.
1.13,14).
• Da mesma forma, a realidade da vida futura é a motivadora de toda a
nossa conduta. Somos chamados a andar de modo digno dessa realidade
(Ef. 4.1) e de buscarmos viver aqui com a vida que já temos guardada em
Cristo nos céus (Cl. 3.1-4).
AMOR, A OBRA DA ESPIRITUALIDADE

• “Toda a lei se resume num só mandamento: ‘Ame o seu próximo como a


si mesmo’”. (Gálatas 5.14)
• Quando perguntado por um escriba qual era o maior mandamento da Lei,
Jesus Cristo respondeu diretamente: “Ame o Senhor, o seu Deus de todo
o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento”
(Mt.22.37). Em seguida, acrescentou qual seria o segundo: “Ame o seu
próximo como a si mesmo” (v. 39).
• Essa dicotomia, contudo, foi malcompreendida pelos judeus
(especialmente fariseus) da época de Jesus. Por considerarem o amor a
Deus e ao amor ao próximo como coisas distintas, identificavam que
essas duas atitudes podiam estar até em oposição em alguns casos. (Ex.
Corbã em Marcos 7.9-13).
• Assim como fez com o resto da lei, Jesus também explicou o real sentido
dos maiores mandamentos. A transformação de concepção foi tão grande
que o Senhor resolveu proclamar “um novo mandamento”.
• Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu
vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. (João 13:34)
• Nesse momento de Jesus e os discípulos no cenáculo, o Senhor não
menciona o mandamento de amar a Deus. Na verdade, como um sábio
mestre o nosso Salvador resolveu o problema da dicotomia. Na mesma
cena, um pouco depois ele diz: Aquele que tem os meus mandamentos e
os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de
meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele. (João 14:21)
• Os discípulos e apóstolos entenderam isso perfeitamente:
✓ “Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros, pois
aquele que ama seu próximo tem cumprido a lei.” (Romanos 13.8)
✓ “Toda a lei se resume num só mandamento: ‘Ame o seu próximo como a
si mesmo’”. (Gálatas 5.14)
✓ “E agora eu lhe peço, senhora — não como se estivesse escrevendo um
mandamento novo, o que já tínhamos desde o princípio — que nos
amemos uns aos outros.” (2 João 1.5)
• “Amados, não lhes escrevo um mandamento novo, mas um mandamento
antigo, que vocês têm desde o princípio: a mensagem que ouviram. No
entanto, eu lhes escrevo um mandamento novo, o qual é verdadeiro nele
e em vocês, pois as trevas estão se dissipando e já brilha a verdadeira
luz. Quem afirma estar na luz mas odeia seu irmão, continua nas trevas.
Quem ama seu irmão permanece na luz, e nele não há causa de tropeço.”
(1 João 2.7-10)
• “Se vocês de fato obedecerem à lei real encontrada na Escritura que diz:
‘Ame o seu próximo como a si mesmo’, estarão agindo corretamente.”
(Tiago 2.8)
• A ênfase de Amar a Deus, chamada de “O Maior Mandamento da Lei” por
Jesus, é quase ausente no restante do Novo Testamento. Os discípulos
aprenderam do seu mestre que a maneira de amar a Deus é amando o
próximo (cf. 1 João 4.20). E é esse “Novo Mandamento” que eles
proclamaram para a Igreja.
• Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me
ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me
manifestarei a ele. (João 14:21)
• Já vimos que o mandamento especialmente referido por Cristo nesse
texto é o Novo Mandamento. Nesse versículo o Senhor condiciona o
conhecimento dele mesmo (via auto manifestação) ao cumprimento
desses mandamentos.
• A auto manifestação de Jesus Cristo se dá no cumprimento do
mandamento de amarmos o próximo.
• João, que escreveu esse evangelho e ouviu essas palavras da boca do
Mestre, repercutiu esse ensino em sua epístola: “Ninguém jamais viu a
Deus; se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu
amor está aperfeiçoado em nós.” (1 João 4.12)
FORMAÇÃO ESPIRITUAL A IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS
ESPIRITUAIS

• Definimos que a espiritualidade cristã é a prática da Vida de Deus no


indivíduo e na comunidade. Essa prática inicia-se com a fé, sustenta-se
com a esperança e é praticada em amor. Resulta, portanto, na execução
da vontade de Deus em nós.
• O maior inimigo da espiritualidade: a nossa carnalidade.
• Pois a carne deseja o que é contrário ao Espírito; e o Espírito, o que é
contrário à carne. Eles estão em conflito um com o outro, de modo que
vocês não fazem o que desejam. (Gálatas 5:17)
• Assim como um soldado treina muito antes de ir para o campo de batalha,
o cristão se fortalece espiritualmente para travar a batalha crucial contra
o pecado.
• Sendo assim, as disciplinas espirituais são uma necessidade e não uma
honra ou medalha.
• As disciplinas só têm valor quando são fruto de um coração que
reconhece suas fraquezas. As disciplinas espirituais também não são
sacrifícios que oferecemos a Deus.
• Lembremos que já temos todas as bênçãos garantidas pelo único
sacrifício perfeito que as poderia conquistar para nós: A Cruz de Cristo
(Rm. 8.32; Ef. 1.3).
• De fato, somos ensinados pela Palavra a dar um sacrifício ao nosso Deus,
o sacrifício de nós mesmos (Rm 12.1). Contudo, esse sacrifício não é feito
em desprezo do corpo, privação de sono ou de alimento, autoflagelação
ou qualquer ação de depreciação própria. Antes, é a dedicação de toda
nossa vida em obediência o sacrifício que o nosso Deus pede.
• Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os
vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso
culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede
transformados pela renovação do vosso entendimento, para que
experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.
(Romanos 12:1,2)
• O sacrifício do corpo de que Paulo fala não é o castigo de si, mas a oferta
de sua vida como instrumento de justiça (cf. Rm. 6.13). O culto racional
(ou “espiritual”) é a obediência a Deus começando com um entendimento
renovado que leva a transformação do que somos.
• É aí que as disciplinas espirituais demonstram sua importância. Elas são
formas de nos apegarmos ao novo entendimento para renovar as nossas
práticas segundo a vontade de Deus. E essa vida de obediência é o
verdadeiro culto que prestamos ao nosso Senhor e Salvador.

Conceitos importantes

• Santidade: A palavra “Qadosh” no hebraico carrega o sentido de


“separado”. Ela é frequentemente associada a Deus, mas também é
atribuída a pessoas e elementos da adoração separados para cumprir o
propósito de Iavé (Lv. 19.24; 21.6,7; 23,20). Ou seja, a santidade não é
apenas uma separação do que é impuro, mas também uma atribuição de
propósito para o que é santificado. Para o cristão, portanto, a Santidade
envolve dois aspectos:
✓ Negativo: Separar-se do pecado
✓ Positivo: Dedicar-se à glória de Deus em obediência a Ele.
• Edificação: A ideia de edificação é a de uma construção que está sendo
concluída aos poucos. No Novo Testamento, a edificação refere-se à
construção do caráter de Cristo no crente. Edificar significa buscar o
aperfeiçoamento do crente segundo a imagem de Jesus Cristo. Isso
envolve uma postura pessoal (1 Co. 10.23) e também um compromisso
mútuo no seio da Igreja (1 Ts. 5.11).

Disciplinas Pessoais e Comunitárias

• O crente é ensinado a congregar com seus irmãos (Hb 10.25), mas


também a orar e meditar secretamente em seu quarto (Mt. 6.6). As duas
dimensões da espiritualidade são essenciais para a vida saudável do
discípulo de Cristo.
• O exemplo de Daniel:
✓ Orava sozinho no quarto (Dn. 6.10)
✓ Orava com seus irmãos (Dn.2.17,18)

• Por que essas duas esferas da espiritualidade são tão importantes?


Talvez a melhor resposta seja a de que essas esferas garantem
autenticidade e fidelidade.
• Quem só possui a esfera coletiva da espiritualidade pode facilmente
buscar o reconhecimento de sua suposta santidade aos olhos dos
homens, sem estar realmente ligado no crescimento espiritual que ganha
no relacionamento sincero com Deus. Esse é o religioso, o fariseu. Aquele
que é santo diante dos homens, mas não enfrenta seu próprio pecado
oculto. Sobre esses, o Senhor Jesus diz que já receberam o seu galardão
(Mt. 6.5).
• O outro extremo é o daquele que acredita que pode viver seu cristianismo
sozinho, sem a prática comunitária. Esse cai no problema de não
compartilhar a compreensão da escritura e ter sua vida ministrada por
uma palavra ou ação do irmão.
• Em Hb. 10.25 somos ensinados a congregar para nos encorajar
mutuamente. Jesus nos ensinou a cuidar dos pecados uns dos outros,
inclusive repreendendo quem se tornar repreensível (Mt.18.15).
• Aquele que pensa viver um cristianismo isolado, rapidamente se desvia
para um tipo de religiosidade que é expressão de sua própria imagem e
vontade. A comunidade de fiéis, contudo, nos ajuda a termos fidelidade
em nossa vida cristã, reproduzindo o que a Bíblia realmente diz e não o
que simplesmente achamos mais conveniente.
AS DISCIPLINAS ESPIRITUAIS PESSOAIS

Meditação
• Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios,
nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos
escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei
medita de dia e de noite. (Salmos 1:1,2)
• Veja, o homem que é bem-aventurado é o que medita na Lei do Senhor.
• A palavra em hebraico traduzida por “meditação” tem raiz na mesma
palavra que significa “recitação”. Ou seja, meditar na Lei do Senhor é
recitá-la. Não é esvaziar a mente de um conteúdo objetivo, antes é ocupá-
la na expressão do conteúdo Bíblico. Essa meditação garante a condução
pura do crente na santidade (Sl. 119.9- 16).
• Note também que essa meditação é frequente. O salmista diz que o bem-
aventurado medita “de dia e de noite”. Isso não é mera forma de dizer.
Espera-se que o crente tenha prazer diário na Palavra de Deus. Em sua
recomendação sobre como devia ser o futuro rei de Israel, Moisés alerta
que ele deveria ler a lei todos os dias (Dt. 17.18-20). Essa meditação na
Palavra visava que o rei fosse fiel à Lei e que também não se tornasse
orgulhoso. O mesmo deve ser aplicado às nossas vidas.

Oração
• A oração é um dos temas mais presentes na Bíblia. A prática da oração é
a marca da vida dos homens e mulheres de fé. Na famosa parábola do
juiz iníquo (Lc.18.1- 8) o Senhor Jesus demonstra a importância de “orar
sempre e não desanimar” (v.1). A narrativa termina com uma pergunta do
nosso Senhor: Contudo, quando o Filho do homem vier, encontrará fé na
terra? (Lucas 18:8b)
• É interessante que Jesus termine a parábola sobre oração questionando
a fé dos homens. Isso só faz sentido se identificarmos que a falta de
oração é um sintoma de algo ainda mais profundo e sério: a falta de fé.
Quando nossa fé se enfraquece a oração deixa de ser prioridade. Quando
estamos mais fortalecidos na fé é quando mais oramos.
• Jesus demonstra como deve ser a oração do crente:
Vocês orem assim: “Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome.
Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. Dá-nos
hoje o nosso pão de cada dia. Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos
aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal,
porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém”. (Mateus 6:9-13)
• Por séculos a Oração do Pai Nosso tem servido de modelo para a prática
de oração dos cristãos. Vamos abordar trecho por trecho essa oração:
✓ Pai nosso, que estás nos céus: Há duas afirmações importantes nessa
fala. (1) Deus é chamado de Pai, o que nos dá uma tremenda
familiaridade com ele. (2) É dito que Deus está nos céus, o que ressalta
a distinção dele para conosco. Essas duas expressões colocam o crente
na perspectiva e no espírito corretos para orar. Temos liberdade, porque
estamos diante de nosso Pai. Mas também temos temor, porque esse pai
é o Deus que está nos céus (cf. Ec. 5.2).
✓ Santificado seja o teu nome: Esse pedido parece estranho para nós.
Como pedimos ao Deus santo que seu nome seja santificado? Essa
petição, contudo, refere-se ao testemunho do nome de Deus no mundo
através da nossa vida. Aprendemos no Salmo 23 que Deus nos guia em
retidão “por amor do seu nome”. Também vemos Deus zelar por seu nome
em Ezequiel 36.21. Isso porque o povo de Deus é o povo que se chama
pelo seu nome (2Cr.7.14). Um dos sentidos do mandamento “Não
tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão” (Ex.20.7) é o de não
“carregar” esse nome em vão. Clamar que o nome de Deus seja
santificado é clamar que em todo lugar ele seja visto como santo, a
começar pela santificação de seu próprio povo.
✓ Venha o teu Reino: O clamor pela vinda do Reino tem papel escatológico:
clamamos para a instauração da justiça de Deus, a redenção final. Mas
também tem um papel prático e presente: clamamos para que Deus agora
reine em nós e em todo lugar onde estivermos. Por isso esse pedido é
seguido por outro no mesmo sentido:
✓ Seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus: A vinda do reino,
pedida anteriormente, manifesta-se na vontade de Deus sendo realizada
em nós de maneira plena. Ansiamos pelo reino celeste com tal fervor que
pedimos que ele já se manifeste em nós aqui da mesma maneira como o
veremos manifestado na glória celestial.
✓ O pão nosso de cada dia dá-nos hoje: Essa parece ser uma frase
deslocada do resto da oração. Até aqui Deus era o centro da conversa,
mas, de repente, a necessidade pessoal do crente se manifesta: Senhor,
dá-nos pão. Essa frase, contudo, deve ser entendida como um
desdobramento ainda do pedido pelo Reino. O Reino de Deus se
manifesta em abundância. Ele é retratado nas parábolas e nas profecias
do AT como um banquete. A multiplicação dos pães por Jesus é sinal
desse Reino e também a sua manifestação como pão do céu exprime
essa ideia. Além disso, o próprio Senhor nos explica no mesmo capítulo
de Mateus que o sustento é fruto da busca pelo Reino e Justiça de Deus.
“Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça e todas essas coisas vos
serão acrescentadas” (Mt. 6.33). Quando pedimos pelo Reino, pedimos
também pelo pão. E quando pedimos pelo pão, nos comprometemos em
buscar o Reino.
✓ Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos os nossos devedores:
A contrição, confissão e arrependimento são parte da oração. Na verdade,
somos estimulados a nos confessar diante de Deus sabendo que Ele nos
perdoa (1Jo. 1.9). Esse pedido, contudo, expressa um compromisso
também: o de perdoarmos os que nos ofendem. Jesus completa o sentido
desse texto ao fim da oração (Mateus 6:14,15). Essa relação é bastante
enfatizada na parábola do credor incompassivo (Mt. 18.23-35). O que
podemos aprender desses dois textos é que os que foram perdoados por
Deus e têm consciência disso não podem privar o próximo do perdão. O
perdão é fruto natural da vida do perdoado.
✓ E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal: O
reconhecimento de que esse mundo é cheio de tentações e de que somos
fracos diante delas é um ponto importante da oração. Por isso somos
ensinados a pedir força diante das tentações. Note que não pedimos para
que não sejamos tentados, pois isso é impossível nessa vida. Pedimos
que não caiamos nas tentações. Em outras palavras, fechamos a oração
com um pedido de que sejamos fortalecidos para obedecer a Deus em
tudo. Dessa forma seremos guiados por seu Reino, sua vontade será feita
em nós como no céu e seu nome será santificado. A Oração termina com
um compromisso de cumprir o que pedimos assim como Deus cumprirá
em nós o seu querer.

Estudo
• Essa disciplina pode se confundir com o da meditação, já abordada acima,
mas há uma diferença fundamental nela. A meditação é voltada para a
aplicação pessoal. Em geral, partimos de questões nossas ou
encontramos na escritura aquilo que Deus deseja falar para nós naquele
momento, ou buscamos orientação para a nossa prática. O Estudo,
contudo, inclui o posicionamento do crente na comunidade.
• O estudo da escritura é mais profundo no sentido de buscar a mensagem
do texto para além das questões pessoais e momentâneas, mas com a
preocupação do que isso nos comunica sobre Deus e sua vontade a
respeito de toda a realidade.
• A partir do Estudo pessoal das escrituras o crente se prepara para o
exercício pleno de seus dons e para o desenvolvimento de seu papel na
comunidade. Afinal, o crente é ensinado a julgar as profecias e o ensino
pela Palavra (At. 17.11; Gl.1.8) e a admoestar e disciplinar os irmãos (Mt.
18.15-17). Essas responsabilidades (dadas a toda a Igreja) devem ser
assumidas pelo fiel e praticadas com dedicação ao estudo da Palavra. A
Bíblia incentiva que os crentes conheçam a Palavra de Deus, não apenas
os pastores e os mestres.

Jejum
• Erros comuns sobre o jejum:
✓ Jejum como troca com Deus: algumas pessoas entendem o jejum como
uma espécie de sacrifício pessoal em troca de uma bênção de Deus. Isso
nega a dádiva da Graça, pois coloca em nossas obras a causa da bênção.
✓ Jejum como dualismo entre corpo e espírito: Alguns sustentam uma visão
de que a negação dos desejos do corpo fortalecerá o poder do espírito.
Essa ideia de que o corpo material é mal e precisa ser negado para o
fortalecimento de nossa parte imaterial é um traço do gnosticismo ainda
presente entre o cristianismo contemporâneo.
• O Senhor Jesus mostrou que há uma ruptura entre o jejum do Antigo
Testamento e o do Novo Testamento: Os discípulos de João e os fariseus
estavam jejuando. Algumas pessoas vieram a Jesus e lhe perguntaram:
"Por que os discípulos de João e os dos fariseus jejuam, mas os teus não?
"Jesus respondeu: "Como podem os convidados do noivo jejuar enquanto
este está com eles? Não podem, enquanto o têm consigo. Mas virão dias
quando o noivo lhes será tirado; e nesse tempo jejuarão. Ninguém põe
remendo de pano novo em roupa velha, pois o remendo forçará a roupa,
tornando pior o rasgo. E ninguém põe vinho novo em vasilhas de couro
velhas; se o fizer, o vinho rebentará as vasilhas, e tanto o vinho quanto as
vasilhas se estragarão. Pelo contrário, põese vinho novo em vasilhas de
couro novas". Marcos 2:18-22
• Uma nova realidade espiritual (vinho novo) pede novas práticas de
espiritualidade (vasilhas novas).
• Nesse texto, a prática do jejum parece conectada com a presença ou
ausência de Cristo. Vivemos numa realidade em que Jesus está presente
conosco todos os dias (Mt. 28.20). Contudo, compreendemos que essa
presença de Cristo entre nós não é a presença plena final (lembremos do
que vimos em 1 Co. 13 sobre ainda vermos “por espelho” e não “face a
face”.
• O jejum é uma forma de concentrarmo-nos nos aspectos da ausência de
Cristo em nosso meio. Essa ausência é percebida no pecado, no
sofrimento, na injustiça e tantas outras coisas que demonstram que a
plenitude da Glória ainda não chegou.
• Dessa forma, a prática do Jejum é um lamento por não termos a plenitude
da glória de Deus ainda. É um concentrar-se no tanto de Deus que nos
falta. Por isso, jejuamos como forma de quebrantamento, lamento e
clamor.
• Em outras palavras, assim como na ceia nos alimentamos de Cristo, no
jejum aprendemos a ter fome de Deus.
AS DISCIPLINAS ESPIRITUAIS COMUNITÁRIAS

A Edificação Mútua
• E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos
do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de
coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças
por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo,
sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo. (Efésios 5.18-21)
• Plenitude do Espírito é a comunhão intensa com Deus na qual o Espírito
tem domínio total do crente.
• É uma situação momentânea, não necessariamente perene.
• No texto original o sentido de “encher-se” é passivo. É menos uma ação
pessoal e mais um “deixar-se encher”.
• Como formas de se encher do Espírito, Paulo destaca ações
comunitárias.

Adoração
• A adoração comunitária é a expressão pública da grandeza de Deus e é
uma das formas de concretização da fé da comunidade. Quando juntos
adoramos ao Senhor testemunhamos que somos família dEle e nos
reconhecemos como um corpo totalmente dependente de sua graça. Mais
do que isso, quando encaramos a grandeza de Deus em adoração e
percebemos nossa pequenez diante dele não conseguimos mais nos
julgar superiores ao próximo. Diante de Deus somos todos pó. Por isso
uma das formas de sermos cheios do Espírito é “falando entre vós com
salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando de coração ao
Senhor” (Ef. 5.19; cf. Cl.3.16).

Oração Comunitária
• Até o nosso Senhor rogou que seus discípulos estivessem com Ele em
oração (Mt.14.32,33). Devemos orar com os outros e uns pelos outros
(Tg. 5.16). Jesus nos deixou essa ordem porque queria que
participássemos da aflição uns dos outros. Estar em oração uns pelos
outros é expressão de comunhão e obediência a Deus.

Sujeição e Serviço
• Considerar o outro como superior é imitar a Jesus (Fp. 2.3-5).
• O crente segue o seu Senhor que veio ao mundo para servir (Mc. 10.45).
O serviço mútuo é a realização da obra de Jesus Cristo entre nós e não
há Igreja sem serviço. Isso nos impõe uma vida de humildade e
submissão e nos faz crescer espiritualmente.

Exortação, Ensino e Orientação


• A palavra “exortação” significa “encorajamento”, mas também é usada no
sentido de “admoestação, correção”. Essa atividade, feita em amor, deve
ser uma marca da igreja de Cristo e é essencial para o crescimento dos
discípulos. Somos estimulados pela Palavra a nos exortar mutuamente
(Hb. 10.25), a admoestar (1Ts.5.1) e ensinar (Mt.28.20) os nossos irmãos.
Isso só pode ser realizado em corpo, nunca isoladamente.
• Em Neemias 8, Esdras lê a Lei do Senhor diante do povo. O texto destaca
a unidade do povo a cada ação. O sentido disso é a comunhão que a Lei
do Senhor promovia entre o povo. O povo é um porque a Lei era uma.
• Assim, o ensino comunitário fornece a base para a unidade da igreja.

Unidade: O fruto último da Espiritualidade


• A nossa união com Cristo é o objetivo final da espiritualidade.
• A partir da transformação da nossa mente (Rm.12.2; Ef. 4.23; 1 Co. 2.16),
somos formados em nossas atitudes à imagem de Cristo (Cl. 3.10).
Se todos tivermos a mente e atitudes de Jesus, completaremos o objetivo final
da espiritualidade: Cristo, Tudo em Todos (Cl. 3.11

Você também pode gostar