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Sumário
DEFINIÇÕES ..................................................................................................... 3
O DESAFIO DA ESPIRITUALIDADE: A NOSSA CARNALIDADE ..................... 6
FÉ, A CONDIÇÃO PARA A ESPIRITUALIDADE ............................................... 7
ESPERANÇA, O COMBUSTÍVEL DA ESPIRITUALIDADE ............................... 9
AMOR, A OBRA DA ESPIRITUALIDADE ........................................................ 10
FORMAÇÃO ESPIRITUAL A IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS ESPIRITUAIS
......................................................................................................................... 12
AS DISCIPLINAS ESPIRITUAIS PESSOAIS ................................................... 15
AS DISCIPLINAS ESPIRITUAIS COMUNITÁRIAS .......................................... 20
PERSPECTIVA PROTESTANTE
• Depravação Total: Nós não nos achegamos a Deus e nem o desejamos.
Ele se achega e se revela a nós
• Sola Scriptura: É na Bíblia que encontramos a verdade sobre Deus e a
sua revelação de maneira mais explícita.
A Espiritualidade Corrompida
• A idolatria é a forma carnal de saciar a ânsia pelo transcendente sem,
contudo, encontrar-se com o Deus verdadeiro.
• Uma vez que temos uma existência que transcende a mera matéria,
somos forçados a criar sentido para a forma como vivemos. Nessa busca
por sentido, substituímos Deus por qualquer outra coisa. Assim surgem
os ídolos do nosso coração.
• Mesmo dentro da tradição cristã, podemos corromper a espiritualidade
verdadeira. Em nome de Deus, deixamos que nossa carnalidade domine
sobre nossa devoção e criamos nossos “bezerros de ouro” (Ex. 32.1-5).
• Há duas tendências muito fortes de corrupção da espiritualidade dentro
das nossas igrejas: a despersonalização de Deus e a “mesmificação” de
Deus.
• Mesmo dentro da tradição cristã, podemos corromper a espiritualidade
verdadeira. Em nome de Deus, deixamos que nossa carnalidade domine
sobre nossa devoção e criamos nossos “bezerros de ouro” (Ex. 32.1-5).
• Há duas tendências muito fortes de corrupção da espiritualidade dentro
das nossas igrejas: a despersonalização de Deus e a “mesmificação” de
Deus.
• A Despersonalização de Deus é quando retiramos do Criador o seu
aspecto pessoal. Deus, segundo revelado nas escrituras, é Espírito
pessoal. Nossa relação com Ele é uma relação pessoal e, sem o atributo
da personalidade divina, a espiritualidade cristã torna-se impossível.
• A Mesmificação de Deus é a tendência de tornarmos o Criador uma
extensão de nós mesmos. Fazemos dEle uma imagem exacerbada de
nossos desejos e valores. Com isso, não nos relacionamos com Deus em
si, mas com uma versão idealizada de nós.
O paradigma bíblico
• Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas,
então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei
plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido. Assim,
permanecem agora estes três: a fé, a esperança e o amor. O maior deles,
porém, é o amor. (1 Coríntios 13:12,13)
• Paulo faz uma comparação entre a vida presente e a glória futura. Se
comparada à nossa realidade futura, a vida presente é como um espelho:
ainda que demonstra um reflexo daquela glória, sua visão é limitada. A
figura do espelho funciona bem pois representa dois tipos de limitação do
conhecimento da realidade celeste:
✓ Extensão: o nosso conhecimento da realidade celeste é limitado pelo que
a escritura nos revela.
✓ Presença: A experiência que temos com a glória divina é real, mas não é
plena como será no dia em que nos encontrarmos com nosso Senhor.
• Nesse texto, o tempo atual é caracterizado no versículo 12 pela palavra
“agora” (arti). No versículo 13 também aparece a palavra “agora” (nuni,
um sinônimo de arti), mencionando que tudo o que temos é Fé, Esperança
e Amor. Ou seja, no tempo presente, em que a percepção da glória divina
é limitada tanto na extensão quanto na presença, a realidade espiritual é
experimentada na fé, esperança e amor. A importância dessa tríade é tão
grande que Paulo a repete em diversos contextos diferentes (1Ts.1.3;
1Ts. 5.8,9; Cl. 1.4,5; Ef.1.15-18). Não só Paulo, mas também Pedro
(1Pe.1.21,22) e o autor de Hebreus (Hb. 10.22-24) fazem uso dela. Esses
três elementos constituem o paradigma da espiritualidade cristã.
Conceitos importantes
Meditação
• Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios,
nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos
escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei
medita de dia e de noite. (Salmos 1:1,2)
• Veja, o homem que é bem-aventurado é o que medita na Lei do Senhor.
• A palavra em hebraico traduzida por “meditação” tem raiz na mesma
palavra que significa “recitação”. Ou seja, meditar na Lei do Senhor é
recitá-la. Não é esvaziar a mente de um conteúdo objetivo, antes é ocupá-
la na expressão do conteúdo Bíblico. Essa meditação garante a condução
pura do crente na santidade (Sl. 119.9- 16).
• Note também que essa meditação é frequente. O salmista diz que o bem-
aventurado medita “de dia e de noite”. Isso não é mera forma de dizer.
Espera-se que o crente tenha prazer diário na Palavra de Deus. Em sua
recomendação sobre como devia ser o futuro rei de Israel, Moisés alerta
que ele deveria ler a lei todos os dias (Dt. 17.18-20). Essa meditação na
Palavra visava que o rei fosse fiel à Lei e que também não se tornasse
orgulhoso. O mesmo deve ser aplicado às nossas vidas.
Oração
• A oração é um dos temas mais presentes na Bíblia. A prática da oração é
a marca da vida dos homens e mulheres de fé. Na famosa parábola do
juiz iníquo (Lc.18.1- 8) o Senhor Jesus demonstra a importância de “orar
sempre e não desanimar” (v.1). A narrativa termina com uma pergunta do
nosso Senhor: Contudo, quando o Filho do homem vier, encontrará fé na
terra? (Lucas 18:8b)
• É interessante que Jesus termine a parábola sobre oração questionando
a fé dos homens. Isso só faz sentido se identificarmos que a falta de
oração é um sintoma de algo ainda mais profundo e sério: a falta de fé.
Quando nossa fé se enfraquece a oração deixa de ser prioridade. Quando
estamos mais fortalecidos na fé é quando mais oramos.
• Jesus demonstra como deve ser a oração do crente:
Vocês orem assim: “Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome.
Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. Dá-nos
hoje o nosso pão de cada dia. Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos
aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal,
porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém”. (Mateus 6:9-13)
• Por séculos a Oração do Pai Nosso tem servido de modelo para a prática
de oração dos cristãos. Vamos abordar trecho por trecho essa oração:
✓ Pai nosso, que estás nos céus: Há duas afirmações importantes nessa
fala. (1) Deus é chamado de Pai, o que nos dá uma tremenda
familiaridade com ele. (2) É dito que Deus está nos céus, o que ressalta
a distinção dele para conosco. Essas duas expressões colocam o crente
na perspectiva e no espírito corretos para orar. Temos liberdade, porque
estamos diante de nosso Pai. Mas também temos temor, porque esse pai
é o Deus que está nos céus (cf. Ec. 5.2).
✓ Santificado seja o teu nome: Esse pedido parece estranho para nós.
Como pedimos ao Deus santo que seu nome seja santificado? Essa
petição, contudo, refere-se ao testemunho do nome de Deus no mundo
através da nossa vida. Aprendemos no Salmo 23 que Deus nos guia em
retidão “por amor do seu nome”. Também vemos Deus zelar por seu nome
em Ezequiel 36.21. Isso porque o povo de Deus é o povo que se chama
pelo seu nome (2Cr.7.14). Um dos sentidos do mandamento “Não
tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão” (Ex.20.7) é o de não
“carregar” esse nome em vão. Clamar que o nome de Deus seja
santificado é clamar que em todo lugar ele seja visto como santo, a
começar pela santificação de seu próprio povo.
✓ Venha o teu Reino: O clamor pela vinda do Reino tem papel escatológico:
clamamos para a instauração da justiça de Deus, a redenção final. Mas
também tem um papel prático e presente: clamamos para que Deus agora
reine em nós e em todo lugar onde estivermos. Por isso esse pedido é
seguido por outro no mesmo sentido:
✓ Seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus: A vinda do reino,
pedida anteriormente, manifesta-se na vontade de Deus sendo realizada
em nós de maneira plena. Ansiamos pelo reino celeste com tal fervor que
pedimos que ele já se manifeste em nós aqui da mesma maneira como o
veremos manifestado na glória celestial.
✓ O pão nosso de cada dia dá-nos hoje: Essa parece ser uma frase
deslocada do resto da oração. Até aqui Deus era o centro da conversa,
mas, de repente, a necessidade pessoal do crente se manifesta: Senhor,
dá-nos pão. Essa frase, contudo, deve ser entendida como um
desdobramento ainda do pedido pelo Reino. O Reino de Deus se
manifesta em abundância. Ele é retratado nas parábolas e nas profecias
do AT como um banquete. A multiplicação dos pães por Jesus é sinal
desse Reino e também a sua manifestação como pão do céu exprime
essa ideia. Além disso, o próprio Senhor nos explica no mesmo capítulo
de Mateus que o sustento é fruto da busca pelo Reino e Justiça de Deus.
“Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça e todas essas coisas vos
serão acrescentadas” (Mt. 6.33). Quando pedimos pelo Reino, pedimos
também pelo pão. E quando pedimos pelo pão, nos comprometemos em
buscar o Reino.
✓ Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos os nossos devedores:
A contrição, confissão e arrependimento são parte da oração. Na verdade,
somos estimulados a nos confessar diante de Deus sabendo que Ele nos
perdoa (1Jo. 1.9). Esse pedido, contudo, expressa um compromisso
também: o de perdoarmos os que nos ofendem. Jesus completa o sentido
desse texto ao fim da oração (Mateus 6:14,15). Essa relação é bastante
enfatizada na parábola do credor incompassivo (Mt. 18.23-35). O que
podemos aprender desses dois textos é que os que foram perdoados por
Deus e têm consciência disso não podem privar o próximo do perdão. O
perdão é fruto natural da vida do perdoado.
✓ E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal: O
reconhecimento de que esse mundo é cheio de tentações e de que somos
fracos diante delas é um ponto importante da oração. Por isso somos
ensinados a pedir força diante das tentações. Note que não pedimos para
que não sejamos tentados, pois isso é impossível nessa vida. Pedimos
que não caiamos nas tentações. Em outras palavras, fechamos a oração
com um pedido de que sejamos fortalecidos para obedecer a Deus em
tudo. Dessa forma seremos guiados por seu Reino, sua vontade será feita
em nós como no céu e seu nome será santificado. A Oração termina com
um compromisso de cumprir o que pedimos assim como Deus cumprirá
em nós o seu querer.
Estudo
• Essa disciplina pode se confundir com o da meditação, já abordada acima,
mas há uma diferença fundamental nela. A meditação é voltada para a
aplicação pessoal. Em geral, partimos de questões nossas ou
encontramos na escritura aquilo que Deus deseja falar para nós naquele
momento, ou buscamos orientação para a nossa prática. O Estudo,
contudo, inclui o posicionamento do crente na comunidade.
• O estudo da escritura é mais profundo no sentido de buscar a mensagem
do texto para além das questões pessoais e momentâneas, mas com a
preocupação do que isso nos comunica sobre Deus e sua vontade a
respeito de toda a realidade.
• A partir do Estudo pessoal das escrituras o crente se prepara para o
exercício pleno de seus dons e para o desenvolvimento de seu papel na
comunidade. Afinal, o crente é ensinado a julgar as profecias e o ensino
pela Palavra (At. 17.11; Gl.1.8) e a admoestar e disciplinar os irmãos (Mt.
18.15-17). Essas responsabilidades (dadas a toda a Igreja) devem ser
assumidas pelo fiel e praticadas com dedicação ao estudo da Palavra. A
Bíblia incentiva que os crentes conheçam a Palavra de Deus, não apenas
os pastores e os mestres.
Jejum
• Erros comuns sobre o jejum:
✓ Jejum como troca com Deus: algumas pessoas entendem o jejum como
uma espécie de sacrifício pessoal em troca de uma bênção de Deus. Isso
nega a dádiva da Graça, pois coloca em nossas obras a causa da bênção.
✓ Jejum como dualismo entre corpo e espírito: Alguns sustentam uma visão
de que a negação dos desejos do corpo fortalecerá o poder do espírito.
Essa ideia de que o corpo material é mal e precisa ser negado para o
fortalecimento de nossa parte imaterial é um traço do gnosticismo ainda
presente entre o cristianismo contemporâneo.
• O Senhor Jesus mostrou que há uma ruptura entre o jejum do Antigo
Testamento e o do Novo Testamento: Os discípulos de João e os fariseus
estavam jejuando. Algumas pessoas vieram a Jesus e lhe perguntaram:
"Por que os discípulos de João e os dos fariseus jejuam, mas os teus não?
"Jesus respondeu: "Como podem os convidados do noivo jejuar enquanto
este está com eles? Não podem, enquanto o têm consigo. Mas virão dias
quando o noivo lhes será tirado; e nesse tempo jejuarão. Ninguém põe
remendo de pano novo em roupa velha, pois o remendo forçará a roupa,
tornando pior o rasgo. E ninguém põe vinho novo em vasilhas de couro
velhas; se o fizer, o vinho rebentará as vasilhas, e tanto o vinho quanto as
vasilhas se estragarão. Pelo contrário, põese vinho novo em vasilhas de
couro novas". Marcos 2:18-22
• Uma nova realidade espiritual (vinho novo) pede novas práticas de
espiritualidade (vasilhas novas).
• Nesse texto, a prática do jejum parece conectada com a presença ou
ausência de Cristo. Vivemos numa realidade em que Jesus está presente
conosco todos os dias (Mt. 28.20). Contudo, compreendemos que essa
presença de Cristo entre nós não é a presença plena final (lembremos do
que vimos em 1 Co. 13 sobre ainda vermos “por espelho” e não “face a
face”.
• O jejum é uma forma de concentrarmo-nos nos aspectos da ausência de
Cristo em nosso meio. Essa ausência é percebida no pecado, no
sofrimento, na injustiça e tantas outras coisas que demonstram que a
plenitude da Glória ainda não chegou.
• Dessa forma, a prática do Jejum é um lamento por não termos a plenitude
da glória de Deus ainda. É um concentrar-se no tanto de Deus que nos
falta. Por isso, jejuamos como forma de quebrantamento, lamento e
clamor.
• Em outras palavras, assim como na ceia nos alimentamos de Cristo, no
jejum aprendemos a ter fome de Deus.
AS DISCIPLINAS ESPIRITUAIS COMUNITÁRIAS
A Edificação Mútua
• E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos
do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de
coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças
por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo,
sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo. (Efésios 5.18-21)
• Plenitude do Espírito é a comunhão intensa com Deus na qual o Espírito
tem domínio total do crente.
• É uma situação momentânea, não necessariamente perene.
• No texto original o sentido de “encher-se” é passivo. É menos uma ação
pessoal e mais um “deixar-se encher”.
• Como formas de se encher do Espírito, Paulo destaca ações
comunitárias.
Adoração
• A adoração comunitária é a expressão pública da grandeza de Deus e é
uma das formas de concretização da fé da comunidade. Quando juntos
adoramos ao Senhor testemunhamos que somos família dEle e nos
reconhecemos como um corpo totalmente dependente de sua graça. Mais
do que isso, quando encaramos a grandeza de Deus em adoração e
percebemos nossa pequenez diante dele não conseguimos mais nos
julgar superiores ao próximo. Diante de Deus somos todos pó. Por isso
uma das formas de sermos cheios do Espírito é “falando entre vós com
salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando de coração ao
Senhor” (Ef. 5.19; cf. Cl.3.16).
Oração Comunitária
• Até o nosso Senhor rogou que seus discípulos estivessem com Ele em
oração (Mt.14.32,33). Devemos orar com os outros e uns pelos outros
(Tg. 5.16). Jesus nos deixou essa ordem porque queria que
participássemos da aflição uns dos outros. Estar em oração uns pelos
outros é expressão de comunhão e obediência a Deus.
Sujeição e Serviço
• Considerar o outro como superior é imitar a Jesus (Fp. 2.3-5).
• O crente segue o seu Senhor que veio ao mundo para servir (Mc. 10.45).
O serviço mútuo é a realização da obra de Jesus Cristo entre nós e não
há Igreja sem serviço. Isso nos impõe uma vida de humildade e
submissão e nos faz crescer espiritualmente.