Você está na página 1de 425

1

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


2

LIVROS PROFÉTICOS
DO ANTIGO
TESTAMENTO I & II

ISAIAS B. F. DE SOUZA
SEMINÁRIO PENTECOSTAL BETHEL
EETAD

ESTE MATERIAL É PRODUZIDO PELO


SEMINÁRIO TEOLÓGICO DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS

EDIÇÃO 1 - 2023

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


3

ÍNDICE
DECLARAÇÃO........................................................................004
CREMOS................................................................................005
INTRODUÇÃO AOS LIVROS PROFÉTICOS................................009
LIVROS PROFÉTICOS DO A.T. (PROFETAS MAIORES)..............037
LIVROS PROFÉTICOS DO A.T. (PROFETAS MENORES).............258
REFERÊNCIAS........................................................................ 425

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


4

DECLARAÇÃO

É COM ESTIMA QUE APRESENTO O


TERCEIRO LIVRO DESTA COLEÇÃO DO
CICLO 1 NO CURSO DE TEOLOGIA AO MEU
CARO(A) ALUNO(A), MANIFESTO MEUS
PARABÉNS A VOCÊ QUE ESTA FAZENDO
UM IMPORTANTE INVESTIMENTO
PESSOAL E ESPIRITUAL, ESTA DEDICAÇÃO PRODUZIRÁ FRUTOS PARA
O REINO DE DEUS, FAÇA BOM USO DESTE MATERIAL.

PASTOR ISAIAS FERREIRA – REITOR DO SEMINAD INTERNACIONAL


WWW.SEMINAD.COM.BR

Declaração de Fé

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


5

•O SEMINAD declara que:

Cremos

1. Na inspiração divina verbal e plenária da Bíblia Sagrada, única


regra infalível de fé e prática para a vida e o caráter cristão (2 Tm
3.14-17);
2. Em um só Deus, eternamente subsistente em três pessoas
distintas que, embora distintas, são iguais em poder, glória e
majestade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo; Criador do Universo,
de todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e
invisíveis, e, de maneira especial, os seres humanos, por um ato
sobrenatural e imediato, e não por um processo evolutivo (Dt 6.4;
Mt 28.19; Mc 12.29; Gn 1.1; 2.7; Hb 11.3 e Ap 4.11);
3. No Senhor Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus, plenamente
Deus, plenamente Homem, na concepção e no seu nascimento
virginal, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição
corporal dentre os mortos e em sua ascensão vitoriosa aos céus
como Salvador do mundo (Jo 3.16- 18; Rm 1.3,4; Is 7.14; Mt 1.23;
Hb 10.12; Rm 8.34 e At 1.9);
4. No Espírito Santo, a terceira pessoa da Santíssima Trindade,
consubstancial com o Pai e o Filho, Senhor e Vivificador; que
convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo; que regenera
o pecador;que falou por meio dos profetas e continua guiando o

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


6

seu povo (2 Co 13.13; 2 Co 3.6,17; Rm 8.2; Jo 16.11; Tt 3.5; 2 Pe


1.21 e Jo 16.13);
5. Na pecaminosidade do homem, que o destituiu da glória de
Deus e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória
e redentora de Jesus Cristo podem restaurá-lo a Deus (Rm 3.23;
At 3.19);
6. Na necessidade absoluta do novo nascimento pela graça de
Deus mediante a fé em Jesus Cristo e pelo poder atuante do
Espírito Santo e da Palavra de Deus para tornar o homem aceito
no Reino dos Céus (Jo 3.3-8, Ef 2.8,9);
7. No perdão dos pecados, na salvação plena e na justificação
pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor (At
10.43; Rm 10.13; 3.24-26; Hb 7.25; 5.9);
8. Na Igreja, que é o corpo de Cristo, coluna e firmeza da verdade,
una, santa e universal assembleia dos fiéis remidos de todas as
eras e todos os lugares, chamados do mundo pelo Espírito Santo
para seguir a Cristo e adorar a Deus (1 Co 12.27; Jo 4.23; 1 Tm
3.15; Hb 12.23; Ap 22.17);
9. No batismo bíblico efetuado por imersão em águas, uma só
vez, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, conforme
determinou o Senhor Jesus Cristo (Mt 28.19; Rm 6.1-6; Cl 2.12);
10. Na necessidade e na possibilidade de termos vida santa e
irrepreensível por obra do Espírito Santo, que nos capacita a viver
como fiéis testemunhas de Jesus Cristo (Hb 9.14; 1 Pe 1.15);

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


7

11. No batismo no Espírito Santo, conforme as Escrituras, que


nos é dado por Jesus Cristo, demonstrado pela evidência física
do falar em outras línguas, conforme a sua vontade (At 1.5; 2.4;
10.44-46; 19.1-7);
12. Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito
Santo à Igreja para sua edificação, conforme sua soberana
vontade para o que for útil (1 Co 12.1-12);
13. Na segunda vinda de Cristo, em duas fases distintas: a
primeira — invisível ao mundo, para arrebatar a sua Igreja antes
da Grande Tribulação; a segunda — visível e corporal, com a sua
Igreja glorificada, para reinar sobre o mundo durante mil anos (1
Ts 4.16, 17; 1 Co 15.51-54; Ap 20.4; Zc 14.5; Jd 1.14);
14. No comparecimento ante o Tribunal de Cristo de todos os
cristãos arrebatados, para receberem a recompensa pelos seus
feitos em favor da causa de Cristo na Terra (2 Co 5.10);
15. No Juízo Final, onde comparecerão todos os ímpios: desde a
Criação até o fim do Milênio; os que morrerem durante o período
milenial e os que, ao final desta época, estiverem vivos. E na
eternidade de tristeza e tormento para os infiéis e vida eterna de
gozo e felicidade para os fiéis de todos os tempos (Mt 25.46; Is
65.20; Ap 20.11-15; 21.1-4).
16. Cremos, também, que o casamento foi instituído por Deus e
ratificado por nosso Senhor Jesus Cristo como união entre um
homem e uma mulher, nascidos macho e fêmea,
respectivamente, em conformidade com o definido pelo sexo de

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


8

criação geneticamente determinado (Gn 2.18; Jo 2.1,2; Gn 2.24;


1.27).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


9

LIVROS PROFÉTICOS
PROFETAS PRÉ, DURANTE E PÓS O EXÍLIO DE ISRAEL

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


10

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


11

(ESTA É A DIVISÃO DOS LIVROS DO A.T. NA BÍBLIA HEBRAICA)

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


12

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


13

(ESTA É A DIVISÃO DOS LIVROS DO A.T. NA BÍBLIA PROTESTANTE)

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


14

INTRODUÇÃO AOS LIVROS PROFÉTICOS

O primeiro grupo de escritos do Antigo Testamento


compreende cinco livros, que vão de Gênesis a
Deuteronômio, os quais estão ligados entre si. Foram
escritos por Moisés, relacionando-se ao preparo de Israel
para entrar em Canaã.
A seguir, vem o grupo formado por doze livros, de Josué
a Ester, classificado como livros históricos. São de escritores
diferentes, mas todos se referem à ocupação de Canaã por
Israel. Outro grupo compõe-se de dezessete livros proféticos,
divididos em cinco escritos dos profetas “maiores” e doze dos
chamados profetas “menores”. Entre os Livros Históricos e
os Livros Proféticos, está o grupo dos Livros Poéticos, os
quais não são nem históricos nem proféticos, mas
experienciais.
Nos profetas maiores encontram-se “(...) todos os
aspectos éticos básicos da profecia do Antigo Testamento e
da predição messiânica. Em Isaías, o futuro Messias é visto
como o Salvador que sofre e como o último soberano que

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


15

reina no império mundial. Em Jeremias, onde temos também


a demanda completa do Senhor contra Israel, Ele é o
‘Renovo’ justo de Davi e o Restaurador final do povo julgado
e disperso. Em Ezequiel, olhando para além dos juízos
intermediários, nós vemos o Messias como o Pastor e Rei
perfeito, em cujo reinado glorioso o templo ideal será erguido.
Em Daniel, que nos apresenta a cronologia mais específica
dos tempos e eventos em sua ordem sucessiva, vemos o
Messias “eliminado”, sem trono e sem reino, todavia
apresentando-se finalmente como imperador universal sobre
as ruínas do fracassado sistema gentio mundial. Os doze
escritos agrupados como “profetas menores”, embora
ampliem vários aspectos, não determinam a forma principal
da profecia messiânica. Eles se adaptam à estrutura geral já
apresentada para nós em Isaías, Jeremias, Ezequiel e
Daniel”.1 Esta classificação “maiores” e “menores” está
relacionada à quantidade do material escrito.
Os Livros Proféticos apresentam um tipo especial de
literatura bíblica escrita para objetivos específicos na história
posterior de Israel. Os 17 livros de profecia complementam
os 12 Livros Históricos de muitas maneiras. A ênfase não é
tanto histórica, e sim exortativa. O tom é também mais

1J. Sidlow Baxter. Examinai as Escrituras (vol. III). Edições Vida Nova, 1993, p.
210.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


16

intenso, como arautos notáveis trazendo conselho e


admoestação em épocas de grande crise e angústia nacional.
Todavia, além de censurar por falhas passadas e
advertir diante das crises contemporâneas na vida de Israel,
os profetas apontavam para o futuro. Falavam do julgamento
e dos tempos messiânicos que viriam para promover
arrependimento e volta à justiça.
Os profetas foram uma sucessão de mensageiros
convocados para um período especial — uma época de
purificação e apostasia. Eram “revivescentes e patriotas” que
falavam da parte de Deus ao coração e à consciência da
nação; mas seu significado mais profundo é que foram
especialmente chamados e inspirados por Deus para
transmitir uma mensagem de advertência e súplica, antes que
o golpe do juízo divino colocasse os dois reinos hebreus sob
o tacão de seus captores ímpios.
Os profetas de Israel foram chamados individualmente e
ungidos por Deus para o serviço de “emergência”, em
contraste com o serviço regular dos sacerdotes, anciãos e
reis. Além de serem denominados “profetas”, também
recebiam o nome de “videntes”, “sentinelas” ou “pastores”.
Esses termos indicam suas funções ao serem chamados por
Deus para interpretar e anunciar a palavra específica do

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


17

Senhor para o seu povo. As funções gerais dos profetas


podem ser observadas nas três seguintes classificações:

Porta-voz especial de Deus.

O termo “profeta” (heb. nabhi, e gr. prophetes) significa


“falar por” ou representar. Sua tarefa mais importante era agir
como embaixadores ou mensageiros divinos, anunciando a
vontade de Deus para o seu povo, especialmente em época
de crise. Eram, acima de tudo, pregadores da justiça em
época de decadência moral e espiritual, quase sempre numa
posição isolada.

Vidente.

A credencial de um profeta verdadeiro de Deus era a


habilidade infalível de penetrar no futuro e revelá-lo (Dt 18:21-
22). Essa habilidade autenticava sua mensagem como sendo
divina, porquanto somente Deus conhece o futuro.
Por intermédio dessa função profética, Deus chamou a
atenção para o seu programa futuro com relação a Israel e às
nações, elaborando depois o que já tinha esboçado nas
alianças com os antepassados (IIRs 17:13). Baxter faz o
seguinte comentário: “Como lemos em ISm 9:9, em tempos

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


18

idos os profetas de Israel eram chamados ‘videntes’,


denominação que persiste até os cativeiros (IICr 33:18;
35:15), sendo usada como sinônimo de ‘profeta’ (IISm 24:11;
IICr 16,7,10).
Esse nome primitivo, ‘vidente’, é notável por indicar
aquilo que está por trás do pronunciamento inspirado do
profeta. Ele era um vidente - indivíduo sobrenaturalmente
capacitado a “ver” coisas que se encontram além do
conhecimento humano comum. É bom notar, no entanto, que
embora seja dito que o profeta “viu” alguma coisa, isso não
significa necessariamente que tenha visto algo na forma de
uma visão, com seus olhos naturais.
Do mesmo modo, quando nos é dito que Deus falou ao
profeta, não devemos entender que necessariamente houve
uma voz que ele ouviu com seu ouvido físico. O elemento vital
em cada caso é que o profeta deve ter sido capaz de distinguir
perfeitamente entre a comunicação divina e sua consciência
pessoal. Só assim poderia haver a autoridade ou a
compulsão de falar como porta-voz de Deus.
Não precisamos especular quanto aos modos pelos
quais o Espírito Santo comunicava as verdades especiais a
esses homens, quer por meio de sonho, visão, voz, sinal,
quer por um impacto interior direto sobre a mente. Mistérios
sobre tal revelação e inspiração realmente existem; mas isso

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


19

de maneira alguma anula os fatos provados que proclamam


sua realidade.” 2

Professor da Lei e da justiça.

Apesar de os sacerdotes e os levitas serem


normalmente os professores de Israel, os profetas também
receberam essa função quando o sacerdócio degenerou (Lv
10:11; Dt 33:10; Ez 22:26). Quando ensinavam, o contexto
era geralmente de julgamento (Is 6:8-10; 28:9-10).
“No período mais antigo, a função profética pertencia
aos levitas, que tinham a responsabilidade de ensinar as
implicações da Lei Mosaica para a conduta diária nos
assuntos da vida de todos os dias. Mas até a própria Torá
previa a possibilidade duma classe de profetas distinta dos
sacerdotes, desempenhando um papel análogo ao de Moisés
(cf. Dt cap. 18 — uma passagem que não somente prediz o
Profeta Messiânico, mas também estabelece a ordem dos
profetas como tal).
Enquanto o sacerdócio ia se tornando sempre mais
profissional nas suas atitudes, e mais relaxado na prática
(como, por exemplo, Hofni e Fineias, os filhos de Eli), uma

2
J. Sidlow Baxter. Examinai as Escrituras. Vol. 3, p. 224-225.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


20

nova ordem de ensinadores surgiu para manter a integridade


do relacionamento com Deus através da aliança, despertada
no coração dos israelitas. Alguns dos profetas surgiram da
tribo sacerdotal Levi, tais como Jeremias e Ezequiel, mas a
maioria deles pertencia a outras tribos.” 3 Campbell Morgan
diz que havia três elementos na mensagem dos profetas,
diretamente de Deus.
1. A mensagem para os seus dias.
2. A mensagem de predição de acontecimentos futuros.
a) O fracasso do povo escolhido de Deus e o juízo divino
sobre o povo e sobre as nações em redor.
b) A vinda do Messias, sua rejeição e sua glória final.
c) O Reino Messiânico que seria finalmente estabelecido
na Terra.
3. A mensagem viva para os nossos dias; os princípios
eternos do bem e do mal.

3
Gleason L. Archer Jr. Merece Confiança o Antigo Testamento?
Edições Vida Nova, 2000 (3ª ed., reimp.), p. 224.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


21

Relação entre profetas e sacerdotes

Embora ambos fossem designados por Deus para o


serviço religioso, havia entre eles algumas diferenças
importantes:
Quanto à chamada, os profetas eram chamados e
designados por Deus individualmente, ao passo que os
sacerdotes eram designados em virtude da sua
descendência de Arão.
Quanto ao cargo, os profetas eram representantes de
Deus perante o povo; os sacerdotes eram representantes do
povo perante Deus.
Portanto, o principal lugar do ministério dos sacerdotes
era o santuário, o lugar da presença de Deus, ao passo que
os profetas se dirigiam ao povo nas cidades e na zona rural.
Quanto à obra especial, os profetas preocupavam-se
com a justiça espiritual e a purificação do coração; os
sacerdotes estavam mais interessados no sistema religioso
da aliança de Israel. Ambas as funções eram importantes
para o sistema de aliança de Israel, e se complementavam.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


22

OS PROFETAS ACONTECIMENTOS POLÍTICOS

Isaías Oseias Dominação da Assíria


Joel Queda de Samaria, 722 a.c.
Amós Exílio de Israel na assíria

Jonas Queda de Nínive, 612 a.c.


Fim do império assírio
Miqueias
Naum
Dominação da Babilônia
Habacuque Queda de Jerusalém, 587 a.c.
Jeremias Sofonias
O exílio de Judá
Ezequiel Obadias Na Babilônia durante 70 anos queda da
Daniel Babilônia, 539 a.c.
Dominação da Pérsia
Ageu O rei persa Ciro toma a Babilônia, e em
Zacarias 538 a.c. Autoriza a volta do exílio.
Malaquias Restauração do templo, 517 a.c. Espera
do messias, 450 a.c.

Quanto ao ensino, ambos interpretavam a Lei.


Os sacerdotes eram professores habituais; os profetas
eram pregadores de reavivamento.
Os sacerdotes “informavam”, os profetas “reformavam”.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


23

Os sacerdotes instruíam a mente do povo, os profetas


desafiavam o arbítrio, e se pronunciavam com enérgica
insistência quando a Lei era negligenciada pelos líderes e
pelo povo.
Dionísio Pape4 dá o seguinte esquema cronológico
aproximado:

4
Dionísio Pape. Justiça e Esperança para Hoje: a mensagem dos Profetas Menores. ABU Editora, 1982 (1ª ed.),
p.10.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


24

A NATUREZA DA PROFECIA

1. Profecia não é simplesmente predição do futuro.


Segundo a etimologia da palavra ‘profeta’, o prefixo pro
significa em lugar de e phemi (vem do grego) significa falar.
Um profeta, então, é alguém que fala em lugar de outra
pessoa. Embora toda predição seja uma profecia, nem toda
profecia é uma predição. A profecia pode referir-se ao
passado (uma palavra inspirada em retrospecto) ou ao
presente, assim como ao futuro (uma palavra inspirada em
antecipação).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


25

A profecia, quando não se refere ao futuro, é uma


declaração da verdade, sobre qualquer assunto, recebida
por direta inspiração de Deus. Profecia no sentido de
predição é uma declaração do futuro de um modo que
seria impossível à sabedoria comum do homem e que só
pode vir por inspiração direta de Deus.
2. A profecia, no sentido bíblico, é o produto e a expressão
de uma inspiração direta de Deus. Implica uma pessoa
chamada ou nomeada para proclamar como arauto a
mensagem do próprio Deus. 5 O constante refrão dos profetas
é “Assim diz o Senhor”; eles se apresentavam ao povo para
tornar conhecida a vontade de alguém acima deles e
expressar pensamentos e propósitos mais elevados dos que
os seus.
Eles não falavam de homem para homem, mas como
pessoas investidas de autoridade por Deus a fim de falar em
Seu nome aos pecadores. Nas palavras de II Pedro 1:21,
esses homens eram “movidos pelo Espírito Santo” o termo
grego traduzido aqui como “movidos” significa ser conduzido
ou impelido, e com certeza ensina que a inspiração dos

5 Segundo esta interpretação, o profeta não deveria ser considerado


o profissional que se nomeou a si mesmo, cujo propósito seria
persuadir as pessoas a aceitar opiniões da sua própria lavra.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


26

profetas era uma obra definitivamente sobrenatural operada


neles, objetivando a transmissão sem erro da verdade
divinamente revelada a eles.
3. Os profetas estavam longe de ser infalíveis em si
mesmos. Também não viviam num estado de inspiração
perpétua que garantisse infalibilidade a todas as suas
palavras e atos.
Isso está ilustrado no caso do profeta Natã (ver IISm 7).
Todavia, em todas as suas transmissões de comunicações
especiais ou diretas de Deus, a inspiração dos profetas pelo
Espírito Santo era tal que os tornava infalíveis como veículos
da mensagem divina. Esse era o resultado assegurado pela
obra sobrenatural da inspiração.
4. A inspiração e a pessoa do profeta. Pode-se perguntar:
Qual era a condição do profeta em si enquanto sob a
influência da inspiração?
Continuava em posse normal de suas faculdades
naturais, sendo senhor de si mesmo, como nas ocasiões
comuns? Ou seus poderes naturais tornavam-se inoperantes
por algum tempo, seja por meio de um êxtase sobrenatural
ou por um estado de passividade anormal? Quem responde
6
a estas perguntas formuladas por Baxter é C. Von Orelli:

6
Examinai as Escrituras (vol. III). Pág. 222.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


27

“Essa inspiração não é tal que suprima a consciência humana


do receptor, de modo a receber a palavra de Deus em estado
de torpor ou transe. O receptor, pelo contrário, está de posse
de toda a sua consciência, conseguindo depois dar um relato
claro do que aconteceu. A individualidade do profeta também
não é eliminada por essa inspiração divina. A peculiaridade
individual do profeta é um fator importante no que diz respeito
à forma como a revelação é dada a ele. Num profeta, vemos
uma preponderância de visões; outro não tem visões. Mas as
visões do futuro tidas pelo profeta são dadas nas formas e
cores fornecidas pelo seu próprio consciente. Mais ainda, a
maneira pela qual o profeta dá expressão à palavra de Deus
é determinada pelos seus talentos e dons pessoais, assim
como por suas experiências.”

VÁRIAS CLASSES DE PROFETAS

Os profetas de Israel remontam aos antepassados


Abraão, Moisés e Samuel, que foram denominados
“profetas” (Gn 20:7; Dt 18:15; ISm 3:20). Por 7intermédio
deles, Deus falou ao povo e estabeleceu suas alianças com
a nação. Moisés foi uma espécie de protótipo dos profetas,
prenunciando o último grande profeta, o Messias, que se

7
O Antigo Testamento em Quadros.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


28

levantaria para falar palavras poderosas, autenticadas por


obras poderosas e desempenho brilhante (Dt 18:15-22).
Embora os cargos de sacerdote e rei fossem restritos a
homens e a determinadas tribos, algumas profetisas foram
chamadas na história de Israel: Miriã, Débora e Hulda (Êx
15:20; Jz 4:4; IIRs 22:14).
Considera-se ter sido Samuel aquele que principiou a
ordem profética, o primeiro duma sequência, durante a
monarquia de Israel (ISm 3:1; At 3:24). Essa sequência não
era contínua. Prosseguia, porém, esporadicamente quando o
Senhor fazia a designação para esse cargo.
A partir dos dias de Samuel, “escolas de profetas” foram
fundadas em Israel (ISm 19:20, a primeira escola
mencionada, IIRs 2:3,5), onde jovens ajuntavam-se ao redor
de profetas experientes e reconhecidos, formando pequenos
grupos, aprendendo deles. “Além disso, fica claro que o
próprio Espírito Santo frequentemente operava de maneira
sobrenatural por meio dessas ‘escolas de profetas’ e entre os
‘filhos de profetas’”.
Eram centros de vida religiosa, onde a comunhão com
Deus era buscada mediante oração e meditação e onde a
recordação dos grandes feitos de Deus no passado parecia
preparar para a recepção de novas revelações. Essas
escolas também eram centros de ideias e ideais teocráticos,

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


29

dos quais jovens consagrados saíam para exercer enorme


influência na nação e manter acesa a chama da verdade
divina em meio aos dias sombrios da apostasia.
Parece provável também que a música e as poesias
sagradas fossem cultivadas e transmitidas tanto oralmente
quanto por escrito. Foi nessas colônias de jovens estudantes
devotos que o Espírito Santo encontrou uma oportunidade
única de manifestar a mente de Deus à nação mediante
vasos preparados. Dessa forma cresceu em Israel uma
ordem profética reconhecida.”8
Isso justifica o fato de profetas anônimos serem
repetidamente citados (ver IRs 13:1,1118; 18:4; 20:13,22,35;
22:6; entre outras referências).
Comentando IRs 13:1 (Eis que por ordem do Senhor
veio de Judá a Betel um homem de Deus), Russell Shedd
afirma: “Nenhuma passagem bíblica oferece o seu nome. É
um dos muitos profetas de Deus que transmitiram aos
herdeiros do poder real as mensagens divinas, quando estes
andavam desviados dos caminhos que Deus lhes indicara.
Deus sempre teve mensageiros, que nem sempre se
tornavam famosos; o importante é entregar a mensagem e

8J. Sidlow Baxter. Examinai as Escrituras. (vol. III). Edições Vida Nova, p.
223.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


30

viver fiel a ela. É interessante procurar saber quantos deles


são mencionados nos dois livros dos Reis, especialmente
porque o nome que os hebreus dão aos livros de Josué,
Juízes, I e II Samuel, I e II Reis é “Profetas Anteriores”,
constando como “Profetas Posteriores” aqueles cujas
palavras são registradas nos livros que têm o seu nome:
Isaías, Jeremias etc.” 9Eram profetas da “palavra” ou orais e
da “escrita”.

Profetas da “escrita”

Quase todos os profetas da “escrita” escreveram depois


de terem sido profetas da “palavra”.
Principiando próximo da época do expurgo do culto a
Baal por Jeú, os períodos de maior concentração desses
profetas foram justamente antes da destruição do Reino do
Norte e antes da destruição do Reino do Sul.
Manifestavam-se geralmente em época de decadência
nacional e julgamento iminente. Eram, num certo sentido, as
incômodas consciências da nação.

9 A Bíblia Vida Nova, p. 376.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


31

Nesse contexto pode-se observar os seguintes temas


importantes:

Temas éticos
a. A condenação da idolatria, da imoralidade e da injustiça
seguida do convite para arrependimento e vida íntegra.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


32

b. O caráter de Deus ao exigir justiça e misericórdia, e ao


prometer julgamento para os impenitentes.
c. A religião verdadeira está ligada ao coração e não
apenas às mãos.

Temas escatológicos
a. A vinda do Senhor e o seu impacto sobre Israel e as
nações.
b. O caráter e a vinda do Messias no julgamento, salvação
e glória.
c. A vinda da era messiânica e suas bênçãos sobre Israel
e o mundo.
d. A preservação dos restantes fiéis de Israel.
O cativeiro é o tema principal dos profetas. Alguns
serviram antes do exílio (profetas pré-exílicos); outros
serviram no exílio (profetas exílicos); e outros serviram depois
do exílio (pós-exílio). Seis profetas viveram no tempo da
destruição de Israel pela Assíria: Joel, Jonas, Amós,
Oseias, Isaías e Miqueias. Sete profetas viveram no tempo
da destruição de Judá pela Babilônia: Jeremias, Ezequiel,
Daniel, Obadias, Naum, Habacuque e Sofonias. E três
viveram no período da restauração: Ageu, Zacarias e
Malaquias.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


33

O período dos profetas em Israel cobriu 500 anos, do


nono ao quarto século antes de Cristo. Depois as vozes dos
profetas silenciaram até João Batista.
“No início eu tinha lido os profetas para extrair dicas
sobre o futuro, o mais tarde e o muito mais tarde será que o
mundo vai acabar com um holocausto nuclear? O
aquecimento global está se conduzindo aos últimos dias?
Mas, na verdade, a mensagem dos profetas deve influenciar,
sobretudo, o meu agora. Será que confio num Deus amoroso,
poderoso, mesmo nesse século caótico? Será que me apego
à visão de Deus de paz e justiça? Creio que Deus reina,
mesmo que o mundo demonstre pouca evidência disso? (...)
Talvez nunca entendamos os artelhos e os chifres das bestas
de Daniel. Mas, se ao menos pudermos crer que a nossa
batalha é de fato contra principados e potestades; se ao
menos pudermos crer que Deus é confiável e consertará tudo
o que está errado; se ao menos pudermos demonstrar a
paixão de Deus pela justiça e pela verdade neste mundo aí,
creio eu, os profetas cumpriram sua missão mais importante
e necessária.”
As épocas dos profetas da “escrita” de Israel em nossas
versões bíblicas, os livros proféticos não aparecem na ordem
cronológica. Entretanto, eles estão relacionados com os dias
e as circunstâncias em que foram falados e escritos.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


34

Então é importante distinguir o contexto histórico de


cada um deles, conforme o quadro seguinte:

JUDÁ (REINO DO SUL) ISRAEL (REINO DO NORTE)


DATA REI PROFETA DATA REI PROFETA
CRISE: Em 931, ano da morte de Salomão, a nação se dividiu em dois reinos,
Judá e Israel.

a.C. Roboão 931 Jeroboão


913 Abias 910 I
911 Asa 909
886 Nadabe
873 Josafá 885 Baasa
885 Elá
853 Jeorão 874 Zinri Elias (ano
841 Acazias OBADIAS 853 Onri 870-845)
(ano 845) 852 Acabe Eliseu (845-
Acazias 798)
Jorão
CRISE: Em 841, Jeú matou os reis de ambos os reinos,
apoderou-se do trono de Israel. E destruiu o generalizado culto
a Baal no Reino do Norte.
841 Rainha 841 Jeú
835 Atalia JOEL (ano
Joás 830-825) 814 Jeocaz
796 798 Jeoás
Amazias 793 Jeroboão JONAS (785-
792 II 760)

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


35

Azarias 753 AMÓS (760)


750 (Uzias) 752 Zacarias OSÉIAS
752 Salum (755-725)
Jotão ISAÍAS (740- Menaém
680) 742
MIQUEIAS Pecaías
(730-720) 752*
743 Peca
728 732
Acaz Oseias
Ezequias
CRISE: Em 722, os assírios destruíram Samaria e exilaram Israel para a
Assíria. Judá foi poupado em virtude da reforma de Ezequias e do
expurgo da idolatria.

Ezequias NAUM (ano


697 Manassés 710 aprox.).
642 Amom
640 Josias
609 Jeocaz JEREMIAS
609 Jeoaquim (ano 627-585)
597 Joaquim SOFONIAS
597 Zedequias (ano 625)

HABACUQUE
(ano 607)
DANIEL (ano
603-536)

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


36

EZEQUIEL
(ano 592-570)

CRISE: Em 586, os babilônios destruíram Jerusalém e


exilaram os judeus para a Babilônia. Em 538, a Pérsia libertou
e devolveu os exilados para eles construírem o Templo em
Jerusalém.
536 Zorobabel AGEU (ano
(gov.) 520)
ZACARIAS
(ano 520-480)
CRISE: Em 444, a Pérsia mandou Neemias reconstruir o muro
de Jerusalém e tornar-se governador.
444 Neemias MALAQUIAS
(gov.) (ano 430)

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


37

LIVRO: 66 CAPÍTULOS
GRUPO: PROFETAS MAIORES
PERÍODO: 735 A 701 A.C.
AUTORIA: ISAÍAS

PARECER DE ISAIAS SOBRE JESUS

JESUS É O MESSIAS, ELE CUMPRIU MAIS DE 50


PROFECIAS NO LIVRO DE ISAÍAS, COMO;
➢O DESCENDENTE DE JESSÉ NO QUAL
REPOUSARÁ O ESPÍRITO DO SENHOR (IS. 11.1,2; MT.
1)
➢ NASCE DE UMA VIRGEM (IS. 53; 1 PE. 2.21-25)
➢ ELE NÃO FOI DETIDO PELA MORTE, E ATRAVÉS
DELA E DE SUA RESSURREIÇÃO, JESUS
ESTABELECE UM NOVO REINO, O REINO DE DEUS

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


38

PROFETA ISAÍAS

O nome Isaías significa “Jeová é salvação”; “o Senhor


(Javé) deu salvação”. Nasceu e cresceu em Jerusalém (7:3;
22:15; 28:14; 37:2).
Viveu entre os anos 760 e 640 a.C. Seu ministério teve
lugar durante os reinados de Uzias (792-740 a.C., cf. IICr 27);
Acaz (724 – 708 a.C., cf. IICr 28) e Ezequias (708-679 a.C.,
cf. IICr 29). Era filho de Amoz (distinto do profeta Amós) (1:1).
Segundo a tradição judaica, Amoz era irmão de Amazias e,
então, Isaías teria sido primo do rei Uzias. O acesso direto de
Isaías tanto ao rei (7:3) como ao sacerdote (8:2) presta apoio
à tradição. Durante a maior parte de sua vida, foi pregador da
corte ou capelão do rei. Tinha trânsito livre na corte, assim,
acompanhava de perto a evolução da política interna e
externa. Muitas vezes, até interferia no curso dos
acontecimentos (IIRs 16; IICr 28; Is 7:4).
A tradição diz que ele sobreviveu até o reinado do iníquo
Manassés, quando foi por ele martirizado, sendo posto no oco
do tronco de uma árvore e serrado ao meio. É possível que
Hb 11:37 refira-se a ele.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


39

➢ Cenário

O versículo de introdução do livro de Isaías situa o


profeta durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e
Ezequias, reis de Judá.
O trecho de Is 6:1 refere-se, especificamente, à morte
do rei Uzias, o que pode ser datado em cerca de 735 a.C.
Isaías, o filho de Amoz, proclamou sua mensagem à nação
de Judá e em sua capital, Jerusalém, entre 742 e 687 a.C., o
que foi um período crítico para o Reino do Norte, por causa
da invasão assíria, que resultou no cativeiro assírio. Partes
do livro parecem refletir um tempo posterior ao cativeiro
babilônico (capítulos 40—66) conforme alguns supõem, o
que só teria acontecido após a época de Isaías.
Historicamente, Isaías acompanhou Amós e
Oseias, que ministraram na nação do norte, Israel. Miqueias
foi contemporâneo de Isaías e trabalhou no reino do sul,
Judá.
➢ Sua Vida

Sabemos que o nome do pai de Isaías era Amoz (Is 1:1),


e que sua esposa era profetisa, embora não saibamos
dizer em qual capacidade (Is 8:3).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


40

Coisa alguma se sabe sobre seus primeiros anos de


vida. Com base em Is 6:1-8, alguns conjecturam que ele era
um sacerdote. No entanto, outros pensam que ele pertencia
à família real. Isso se alicerça sobre tradições judaicas.
O certo é que, aos seus dois filhos, foram dados nomes
que simbolizavam a iminência do juízo divino.
O primeiro deles, “Um-Resto-Volverá” (no hebraico,
Shear-yashub; Is 7:3), parece que já era homem feito nos
dias de Acaz. O outro filho, chamado “Rápido-Despojo-
Presa-Segura” (no hebraico, Maher-shalal-hashbaz; Is
8:3), tal como seu irmão, recebeu um nome simbólico.
É possível que, nesses dois nomes, estejam em pauta
tanto o cativeiro assírio quanto o cativeiro babilônico.
Quando a nação do norte foi levada em cativeiro, a nação
do sul só conseguiu permanecer precariamente, pagando
tributo (IICr 28:21).
Calcula-se que, durante quarenta anos, Isaías atuou
ativamente como profeta do Senhor em Judá.
Se, afinal de contas, Isaías não pertencia à aristocracia,
pelo menos sua habilidade literária confirma sua excelente
educação. O seu grande centro de atividades foi Jerusalém.
Não se sabe a que tribo ele pertencia.
Mas ele levava a sério o seu ofício, usando roupas de
linho cru e uma capa de pelos de cor escura, vestes próprias

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


41

de quem lamentava, porquanto o que ele previa para o povo


de Israel era extremamente desastroso.

Período do Ministério de Isaías

A. Nos tempos de Uzias (783—738 a.C.) e de Jotão (750—


738 a.C., como regente, e 738—735 a.C., como
governante único). Nesse primeiro período, Isaías pregava
o arrependimento, mas não conseguiu convencer a quem
quer que fosse. Então proferiu um terrível julgamento que
estava prestes a desabar sobre a nação.
B. O segundo período de seu ofício profético começou no
início do reinado de Acaz (735—719 a.C.), até o reinado de
Ezequias.
C. O terceiro período começou com a ascensão de
Ezequias ao trono (719—705 a.C.) até o décimo quinto ano
do seu reinado. Depois disso Isaías não mais participou da
vida pública, embora tivesse continuado a viver até o começo
do reinado de Manassés.
O ministério de Isaías, portanto, estendeu-se por um
período de pelo menos quarenta anos (740-701) e talvez
mais, já que Ezequias não morreu antes de 687 e é duvidoso
que o co-regente Manassés ousasse martirizar Isaías com
Ezequias ainda vivo.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


42

➢ Escritor

Além do livro que tem seu nome, Isaías escreveu uma


biografia do rei Uzias (IICr 26:22) e outra de Ezequias (IICr
32:32). Contudo, essas biografias, com o tempo, se
perderam.

➢ Estilo

Isaías escrevia com vigor e eloquência sem iguais, entre


todos os demais profetas do Antigo Testamento. Com toda a
justiça, pois, ele é considerado o principal dos profetas
escritores.
Seus escritos antecipavam os ensinamentos bíblicos
sobre a graça divina.
Sua linguagem é rica e repleta de ilustrações. Seu estilo
é severo, apesar de imponente. Suas aliterações e bem
calculadas repetições ilustram grande habilidade literária,
colocando seus escritos numa classe toda à parte.
Ele jamais se precipitava em suas palavras, as quais
fluíam graciosamente. A parábola da vinha (Is 5:1-7) serve de
excelente exemplo do uso poderoso que ele fazia das
palavras. Suas doutrinas normativas eram o reinado e a
santidade de Yahweh. Com base nisso, segue-se,
necessariamente, o julgamento divino contra os
desobedientes. A Assíria estava aterrorizando Israel, mas

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


43

como um terror enviado por Deus contra um povo


desobediente. Todavia, Deus permanecia no controle das
coisas. Coisa alguma acontece de surpresa para Ele.
O propósito de Deus terá de prevalecer, finalmente (Is
14:24-27; 28:23ss.). Apesar de suas profecias melancólicas,
Isaías previu o dia do triunfo do bem. Chegará, afinal, o tempo
em que a Terra encher-se-á do conhecimento de Yahweh,
assim como as águas cobrem o mar (ver Is 11:9).
Profetizou para a nação de Israel que Ciro seria o seu
libertador (Is 45:1-13), duzentos anos antes do nascimento de
Ciro. E profetizou acerca de Jesus, o Messias (Is 53). Tem
sido chamado “o maior dos profetas” e o “profeta da
redenção”. Foi um dos maiores profetas do VT, não somente
pela duração do seu ministério, mas pela variedade de
assuntos tratados no seu livro. É denominado “o teólogo
dos teólogos”.
A tradição rabínica de que Amoz, pai de Isaías, era
irmão do rei Amazias, não tem confirmação adequada.
Assim mesmo, alguns intérpretes creem que podemos
inferir, da sua conduta, que ele era de nobre
descendência, e como tal, tinha influência na corte real.
Quanto a esta conexão é certo apenas que o trabalho de
Isaías se ligava intimamente com a casa real de Davi. Ele
enfrentou ousadamente o rei Acaz (7:3ss.); no reinado de

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


44

Ezequias ele teve grande influência (caps. 36—39); e durante


o resto de sua vida ele observou com olhos proféticos os
eventos políticos de sua época. Por tudo isto, o elevado
nascimento e a posição social de Isaías serviram-lhe bem,
mas não lhe foram indispensáveis. Da maior importância foi
o fato de que ele sabia que fora chamado pelo Senhor. De
suas profecias podemos inferir com certeza que Isaías era
um homem culto.
Embora a descendência real de Isaías possa ser apenas
uma conjectura, ele tem sido chamado, com toda justiça, de
rei dos profetas. Entre os profetas ele é o maior. Exibe uma
dignidade real mediante a intrepidez da sua ação pública, a
majestade da sua pregação, e a força nobre e a beleza
poética das suas palavras. Além disso, especialmente na
segunda divisão principal, uma compaixão sacerdotal marca
a sua pregação.
Ele descreve o Cristo com clareza meridiana (nos
capítulos 1—39, como Rei messiânico; nos capítulos 40—66,
como Servo sofredor do Senhor), e por esta razão com justiça
ele é chamado o evangelista do antigo pacto.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


45

AUTORIA DO LIVRO

O livro de Isaías foi escrito com


duas ênfases distintas (cap.
1-39 e cap. 40—66). Por isso, alguns comentadores sugerem
que tenha havido mais de um autor. Entretanto, cremos tratar-
se da obra de um mesmo autor, com duplo enfoque temático
e com linguagem adaptada (estilos literários diferentes).

Argumentos que afirmam ser Isaías o único autor:

A. A tradição judaica, a Septuaginta e o historiador Josefo


atribuem o livro integralmente a Isaías.

B. O NT cita Isaías mais vezes do que todos os demais


profetas reunidos, dando Isaías como autor de ambas as
seções. É citado por: João Batista em Mateus (3:3); Mateus
(4:14-16; 8:17; 12:17-21); João (12:38-41); Jesus (Lc 4:16-
21); oficial Etíope (At 8:28); Paulo (Rm 9:27-29; 10:20).

C. A introdução do livro (1:1) dá Isaías como o autor, e não


há indício de interrupção ou mudança de autoria em nenhuma
das suas divisões em nenhum dos antigos manuscritos

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


46

(confirmado também pelos rolos do Mar Morto e pela


Septuaginta).
D. As duas seções de Isaías têm uma simetria teológica
nos seus pontos de vista de Deus e do Messias.
A expressão “o Santo de Israel”, usada raramente pelos
outros escritores, é encontrada 25 vezes em Isaías, sendo
doze vezes em 1—39 e treze vezes em 40—66.
Essa consistência de teologia predomina em todo o livro.
Podem se apontar 40 ou 50 frases e sentenças que aparecem
em ambas as divisões do livro e, portanto, favorecem a
autoria única (cf. 1:20 com 40:5 e 58:14; 11:6-9 com 65:25;
35:6 com 41:18, etc.).

NOTA DO ESTUDANTE
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


47

VISÃO E MESSIAS DE ISAIAS

Introdução ao Antigo Testamento traz o seguinte


resumo da visão e da missão de Isaías:

➢ Visão

É evidente que o profeta adquiriu um senso de missão


por meio de seu encontro com Javé. Esse fato grandioso não
foi, provavelmente, o chamado inicial, mas uma
reconvocação para a tarefa específica de anunciar
julgamento. Devemos ler os capítulos 1—5 como um breve
panorama de toda a mensagem e também como um resumo
dos temas pregados por Isaías durante os anos finais de
Uzias. Incluem-se a acusação contra o povo por sua letargia
e seu pecado rebelde (1:1-26), e a promessa de redenção
para os que se voltarem para Deus (v. 27- 31); uma visão da
glória dos últimos dias (2:1-4); outra alternância, dessa vez
em ordem reversa, do julgamento (3:1—4:1) e da glória
vindoura (4:2-6); e o lindo “cântico da vinha” (cap. 5). Duas
visões são indicadas (1:1; 2:1), talvez combinadas com
algumas mensagens avulsas para moldar o argumento
introdutório.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


48

A visão de Javé (cap. 6) é datada “no ano da morte do


rei Uzias” (cerca de 740 a.C.). Antes disso, Isaías viu as
glórias e o esplendor da corte terrena de Uzias, mas quando
o rei morreu, Deus lhe concedeu a visão da corte celestial. A
visão contém uma revelação do Senhor três vezes santo (isto
é, incomparavelmente santo, v. 1-3), sentado num trono “alto
e sublime”, vestido com um manto cujas pontas enchem o
templo. Anjos chamados serafins servem para guardar o
trono, adorar o Senhor e ministrar a Isaías em sua
necessidade, por ser pecador (v. 7). Isaías também tem uma
visão de si próprio — um pecador habitando em meio a
pecadores (v. 6), necessitado de misericórdia porque seus
olhos “viram o Rei, o Senhor dos Exércitos” (v. 5). Nesse
momento Isaías recebe a revelação do ministério que lhe é
designado (v. 8-13).

➢ A Missão

Um remanescente de Judá de quem Isaías, perdoado e


purificado (v. 7), era precursor sobreviveria, como uma árvore
derrubada pode ganhar novas raízes (v. 13). Os nomes que
o profeta deu aos filhos Shear-yashub = “Um-Resto-Volverá”
(7:3) e, em especial, o do mais novo, Maher-shalal-hashbaz
(8:1-4) = “Rápido-Despojo-Presa-Segura” (8:1-4) indicam sua

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


49

mensagem dual. O nome do primeiro filho fala das conquistas


assírias que deixam só um remanescente de sobreviventes.
O do segundo filho descreve os assírios pilhando Damasco e
Samaria e sua coalizão cobiçosa que ameaçou Acaz, rei de
Judá. A visão declara que Deus é livre para se fazer
conhecido e o perdão dos pecados ao seu profeta e aos fiéis.
A tarefa de Isaías é complexa. À primeira vista, parece
conter uma mensagem da rejeição de Israel e de Judá. Javé
diz a Isaías que Ele está para impossibilitar que as pessoas
se arrependam (6:10).
O confronto entre o faraó e Moisés pode ser um paralelo:
o faraó primeiro endurece o próprio coração e, depois, Javé
sela o processo (ver Êx 7:3, 14). Em Isaías, porém, um
aspecto redentor encontra-se nas palavras: “a santa semente
é o seu toco” (Is 6:13). Essa imagem da esperança futura,
extraída da horticultura, torna-se parte das figuras da
promessa messiânica (Jr 23:5-6; 33:15; Zc 3:8; 6:12).
Ambos, julgamento e esperança, são inerentes ao
relacionamento que vemos entre Deus e Israel.
De acordo com IICr 26:22, Isaías escreveu os “atos” de
Uzias, implicando que o profeta era escriba ou responsável
pela crônica oficial daquele rei.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


50

A profecia implica que Isaías transitava com facilidade


em círculos oficiais e era próximo dos reis (ver 7:3; 8:2; 36:1—
38:8, 21s.; particularmente IIRs 18:3—20:19).
Tal posição explicaria de modo satisfatório seu
conhecimento da situação mundial. Aliás, a percepção de
como o Deus soberano emprega as nações para levar as
bênçãos e os julgamentos decorrentes da aliança foi uma das
contribuições profundas de Isaías para Israel compreender
seu lugar no programa de Deus na história.

A ÉPOCA DE ISAÍAS

R. N. Champlin traz o seguinte resumo do pano de


fundo histórico.
O próprio livro de Isaías (ver 1:1) informa-nos de que
esse profeta viveu durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz
e Ezequias, reis de Judá. O trecho de Is 6:1 menciona a morte
do rei Uzias (cerca de 735 a.C.).
Miqueias, outro profeta, foi seu contemporâneo que
trabalhou em Judá. O período da vida de Isaías foi crítico. No
tocante a Israel, é um dos períodos mais abundantemente
confirmados pelo testemunho histórico e por evidências
arqueológicas.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


51

Foi o tempo em que os grandes monarcas assírios,


Tiglate-Pileser II, Salmaneser IV, Sargão e Senaqueribe,
lançaram-se à tarefa de universalizar o império assírio. Parte
desse esforço foram as campanhas militares contra o norte
da Palestina, que incluía as nações de Israel e Judá.
Parece que Isaías iniciou seu ministério público em
cerca de 735 a.C. e continuava ativo até o décimo quinto ano
do reinado de Ezequias (cerca de 713 a.C.). Talvez ele tenha
vivido até bem dentro do reinado de Manassés.
As tradições judaicas afiançam que no período desse rei
é que Isaías foi serrado pelo meio, ao que possivelmente
alude o trecho de Hb 11:37, embora referências e tradições
dessa ordem não possam ser comprovadas, sendo talvez
meras conjecturas. Seja como for, o trecho de Isaías 1:1 não
menciona Manassés, e isso é uma omissão significativa, se
Isaías viveu todo esse tempo. Seja como for, seu ministério
público poderia ter-se ampliado por quarenta anos e
certamente não envolveu menos do que vinte e cinco anos.
Se os capítulos 40 a 66 não foram originalmente escritos
por Isaías, conforme pensam alguns, então poderíamos dizer
que as profecias de Isaías abordavam, essencialmente, a
ameaça assíria, bem como a razão dessa ameaça, ou seja, a
teimosa desobediência de Israel, a par da indiferença
religiosa e da corrupção moral.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


52

Se esses capítulos, porém, pertencem genuinamente a


Isaías, então devemos considerá-los profecias, e não história.
Em outras palavras, dificilmente Isaías teria sobrevivido
até o tempo do exílio babilônico, que é o pano de fundo
desses capítulos. Porém, ele pode ter visto profeticamente
aquele período histórico. Os estudiosos conservadores
preferem tomar o ponto de vista profético. Então o livro
unificado de Isaías aborda tanto o cativeiro assírio
quanto o cativeiro babilônico.
Acabe e seus aliados detiveram temporariamente o
avanço assírio, por ocasião da batalha de Qarqar, em 854
a.C., mas isso não fez com que os assírios desistissem de
seus ideais de conquista territorial.
Tiglate-Pileser III (745—727 a.C.) invadiu o Oeste,
conquistou a costa da Fenícia e forçou certos reis, como
Rezim, de Damasco, e Menaém, de Samaria (além de vários
outros), a pagarem tributo. O trecho de IIRs 15:19-29 revela-
nos isso. Ali esse rei é chamado Pul, que era o seu nome
nativo, conforme se sabe mediante fontes informativas
babilônicas.
Em cerca de 722 a.C. ele conquistou grande fatia da
Galileia e deportou daquela região as duas tribos e meia de
Israel que ocupavam a área. E fez com que aquelas

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


53

populações se misturassem a outras, conforme era seu


costume (IIRs 17:6-24).
Salmaneser V (726—722 a.C.) seguiu na esteira de seu
pai, quanto às conquistas militares. Peca, rei de Israel, foi
assassinado. Seu sucessor, Oseias, tornou-se vassalo da
Assíria. Seguiu-se um cerco de três anos da capital, Samaria,
até que o reino do norte, Israel, foi destruído, em 722-721 a.C.
Amós e Oseias foram os profetas do Senhor que predisseram
isso.
Alguns pensam que Sargão teria sido o monarca assírio
que, finalmente, conquistou Samaria e completou a derrota
do Reino do Norte. Seja como for, o trabalho de destruição se
completou. Sargão continuou reinando até 705 a.C., tendo
ainda feito muitas guerras contra a Ásia Menor, contra a
região de Ararate e contra a Babilônia.
Senaqueribe, filho de Sargão (705—681 a.C.), invadiu
Judá, nação que já se sujeitara a pagar tributo à Assíria. Acaz
pagou tributo a Tiglate-Pileser III, e Ezequias foi forçado a
fazer o mesmo a Senaqueribe.
Foram capturadas 46 cidades de Judá, e Ezequias, em
Jerusalém, ficou engaiolado como se fosse um pássaro,
embora a própria cidade não tenha sido vencida. Então
Senaqueribe foi assassinado, e seu filho, Esar-Hadom (ver Is
37:38), continuou a opressão contra Judá. Alguns pensam

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


54

que foi por esse poder que Manassés ficou detido por algum
tempo na Babilônia (IICr 33:11). Judá não caiu totalmente
diante da Assíria, mas ficou debilitado.
A Babilônia veio então a substituir a Assíria como
potência mundial dominante e foram os babilônios que,
finalmente, derrubaram os habitantes de Judá e os levaram
em cativeiro.
Os capítulos quarenta em diante do livro de Isaías
cobrem esse período, profeticamente (conforme dizem os
estudiosos conservadores) ou historicamente (conforme
dizem os estudiosos liberais, que, por isso mesmo,
atribuem esses capítulos finais de Isaías a outro autor, que
não aquele profeta).
Conforme se pode ver, Isaías viveu na época em que
impérios caíram e se levantaram. Em sua confiança de que
nada de mal poderia acontecer a um obediente povo de
Israel, ele partia da ideia de que as tribulações do povo de
Deus se deviam a causas morais e espirituais, e não apenas
políticas e militares.
Ele pressupunha que Deus controla todas as coisas, e
que todo o desastre que recaiu sobre Israel poderia ter sido
impedido, se o povo de Deus se tivesse mostrado fiel ao
Senhor. Porém, o que sucedeu foi precisamente o contrário.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


55

As nações de Israel e Judá haviam caído em adiantado


estado de decadência moral e espiritual.
Na primeira metade do século VIII a.C., tanto Israel (sob
Jeroboão II, cerca de 782—753 a.C.) quanto Judá (sob Uzias)
haviam desfrutado de um período de grande prosperidade
material. Foi uma espécie de segunda época áurea, perdendo
em resplendor somente diante da glória da época de
Salomão.
Os capítulos dois a quatro de Isaías nos fornecem
indicações sobre isso. Mas, ao mesmo tempo em que
prevalecia a riqueza material, prevalecia a pobreza espiritual,
incluindo a mais desabrida idolatria, que encheu a terra (Is
2:8). De tão próspera e elevada situação, Israel e Judá em
breve cairiam.
A Assíria deu início à derrubada, e a Babilônia a
terminou.
“Isaías, em seu ministério, enfatizava os fatores
espirituais e sociais. Ele feriu as dificuldades da nação em
suas raízes sua apostasia e idolatria e procurou salvar Judá
da corrupção moral, política e social. Porém, não
conseguiu fazer com que seus compatriotas se voltassem
para Deus.
Sua comissão divina envolvia a advertência de que
sobreviria o castigo fatal (Is 6:9-12). Dali por diante, ele

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


56

declarou, ousadamente, a inevitável queda de Judá e a


preservação de um pequeno remanescente fiel a Deus (Is
6:13).
Todavia, alguns raios de esperança alegram as suas
predições. Através desse pequeno remanescente, ocorreria
uma redenção de âmbito mundial, quando viesse o Messias,
em seu primeiro advento (Is 9:2,6; 53:1-12). E, por ocasião do
segundo advento do Messias, haveria a salvação e a
restauração da nação (Is 2:1-5; 9:7; 11:1-16; 35:1-10; 54:11-
17).
O tema de que Israel, um dia, será a grande nação
messiânica no mundo, um meio de bênção para todos os
povos (o que terá cumprimento somente no futuro), que fez
parte tão constante das predições de Isaías, tem atraído para
ele o título de profeta messiânico” (Unger, em seu artigo
sobre Isaías, citado por Champlin).

NOTA DO ESTUDANTE
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


57

NOTÁVEIS ENSINOS E
ÊNFASES DO LIVRO DE ISAÍAS

1. Contra a Idolatria. O lapso de Israel nesse pecado e


em outros levou Isaías a escrever seu livro, porquanto viu que
o desastre esperava o desobediente povo de Israel. O trecho
de Is 40:12- 31 é uma ótima peça literária contra os ídolos
mudos, que pessoas insensatas fabricam em substituição a
Deus. Outras condenações da idolatria acham-se em Is
2:7,8,18,21,22; 57:5-8.
2. A Providência e a Soberania de Deus. Deus
governa os indivíduos e as nações. Esta é uma verdade que
empresta grande peso à profecia, porquanto Deus age a fim
de corrigir os pecadores em seus erros; e essa correção, às
vezes, é feita de maneira desastrosa para os desobedientes.
A Assíria aparece como instrumento nas mãos de Deus, em
Is 10:5. A vara da ira de Deus, a Assíria, foi enviada para punir
a hipócrita nação de Israel (vs. 6). Contudo, a providência
divina também tem o seu lado positivo. Pode abençoar e
destina-se a abençoar àqueles que se arrependem e vivem
em consonância com os verdadeiros princípios espirituais.
Deus exerce controle sobre a cena internacional, conforme é
ilustrado em certas porções dos capítulos 10 e 37 do livro de
Isaías.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


58

3. O Pecado do Homem. Quanto a esta questão, há


vívidas descrições no livro de Isaías. Esse pecado é escarlate
(Is 1:18); por causa do pecado o coração dos homens se
afasta para longe de Deus (Is 29:13), seus pés correm para
praticar o mal, e eles se apressam por derramar sangue
inocente (Is 59:7). Aqueles que rejeitam o pecado podem
esperar pelo favor divino (Is 56:2-5). Deus ouve a causa dos
oprimidos (Is 1:23). Os orgulhosos são repreendidos, mas os
humildes são exaltados (Is 22:15-25).
4. Redenção. Esse é um dos principais temas do livro
de Isaías. Por isso mesmo, este profeta tem sido chamado de
“o evangelista do Antigo Testamento”. Suas declarações
proféticas têm um caráter nitidamente messiânico. Ele via
quão inadequados eram os sacrifícios de animais e os ritos
religiosos (Is 1:11-17; 40:16). Apesar disso, aconselhava a
devida observância das obrigações religiosas (Is 56:2; 53:10).
O capítulo 53 encerra a famosa passagem do Servo Sofredor
(o Messias), com tanta frequência citada pelos cristãos como
texto de prova acerca de Jesus e de Seu caráter messiânico,
como o grande sacrifício expiatório. O capítulo 55 salienta a
salvação eterna posta à nossa disposição. Is 55:5 prediz a
salvação das nações gentílicas.
5. Os Poemas do Servo. Esses poemas talvez se
refiram a Israel ou Jacó, indicando mais especificamente a

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


59

nação de Judá. Porém, há ocasiões em que esses poemas


que se referem claramente ao Messias, o Filho de Judá.
Alguns eruditos, que não dão o devido valor à profecia e
objetam à prática de alguns de torcer o texto a fim de
encontrar ali menções ao Messias, afirmam que essas
passagens são referências estritamente contemporâneas à
nação de Israel.
O exame de todas essas passagens, porém, demonstra
o inegável tom messiânico de algumas delas. Ver Is 41:8-53;
42:1-9; 49:1-6; 50:4-10; 44:1,2,21,26; 45:4 e 48:20.
Ezequiel mostrou-nos a dualidade de uso que se
encontra no livro de Isaías. O trecho de Isaías 37:25 chama
de servos de Deus tanto a nação de Israel quanto o Rei
messiânico. Notemos como, em Isaías 42:1-6, o servo é
ungido pelo Espírito de Deus para uma grandiosa obra de
testemunho e de julgamento. Esses versículos descrevem o
Messias e o trecho de Mt 12:18-21 cita a passagem de Isaías.
6. Escatologia. Acima de tudo, Isaías é um livro
profético, e destacar todas as profecias seria apresentar,
virtualmente, uma tabela do conteúdo do livro. Ha predições
sobre o reino de Deus em Is 2:1-5; 11:1-16; 25:6—26:21; 34
e 35, 52:7-12; 54; 60; 65:17-25; 66:10-24. A ressurreição de
Cristo e a sua volta aparecem em Is 25:6—26:21. Isaías 34
apresenta Edom como o inimigo escatológico do povo de

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


60

Deus, em um sentido simbólico. O quarto versículo desse


capítulo foi citado por Jesus acerca de Sua própria vinda (Mt
24:29), como também é feito em Apocalipse 6:14. O retorno
de Israel à sua terra e o reino milenar de Cristo são descritos
em Isaías 35. Certas profecias a curto prazo dizem respeito,
essencialmente, à invasão e ao cativeiro assírio (Is 10:5ss.;
36). O trecho de Isaías 39, porém, olha para mais adiante no
tempo, o cativeiro babilônico de Judá.
Isaías 53 é a passagem messiânica mais notável de
Isaías, onde são descritos os sofrimentos de Cristo.

7. Sete conceitos eternos no Livro de Isaías:

1 - Aliança (55:3)
2 - Bondade (54:8)
3 - Força (26:4)
4 - Júbilo (35:10)
5 - Julgamento (33:14)
6 - Luz (60:19)
7 - Salvação (45:17)

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


61

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


62

CITAÇÕES DE ISAIAS NO NOVO TESTAMENTO

Champlin afirma: “Que Isaías previu a vinda do Messias


é fato aceito por todo o Novo Testamento. Algumas das
citações são didáticas, mas a maioria delas é de natureza
preditiva sobre o Cristo ou sobre as circunstâncias de seu
período na Terra. Algumas delas podem ser aplicadas ao:
- Novo Israel;
- A Igreja conforme se vê em IPe 2:9 (Is 43:20,21).
Outras situam Israel em relação à igreja, como em Rm
9:27,28 (Is 10:22 e 1:9). A natureza dessas predições tem
feito o livro de Isaías ser chamado de “o evangelho do
Antigo Testamento.” Os escritores do Novo Testamento
muito se utilizaram dos escritos de Isaías. Há pelo menos 67
citações claras desse livro, no Novo Testamento, a saber: 19

__________________________________________________________________________

19
R.N. Champlin. O Velho Testamento Interpretado (vol. V).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


63

CRISTOLOGIA DE ISAIAS

Segundo Ellisen, nenhum outro livro do Antigo


Testamento é tão integralmente messiânico como Isaías.
Chamam-no algumas vezes de “Quinto Evangelho” ou
“Profeta Evangélico”, em virtude das muitas previsões sobre
o Messias. Esse conteúdo messiânico pode ser observado
em diversas categorias: 20
A. Pessoa do Messias C. A Obra do Messias
1. Ser genuinamente 1. Ser apresentado por um
humano, nascido de mulher precursor no deserto (40:3).
(7:14; 9:6; 53:2). 2. Ser ungido para operar
2. Ser nascido virginalmente, com o poder do Espírito
por concepção sobrenatural Santo (11:2-4; 61:1).
(7:14). 3. Pregar e aconselhar como
3. Ser Deus em carne profeta (11:2-4).
humana (9:6). 4. Realizar muitos milagres,
4. Ser o Filho de Davi (9:7; especialmente na segunda
11:1,10). vinda (35:4-6).
5. Ser Jeová (YHWH), o 5. Ser desacreditado pela
Criador de todas as coisas sua própria geração (53:1).
(44:24; 45:11-12). 6. Morrer com os perversos e
B. O Caráter do Messias ser enterrado com os ricos
(53:9).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


64

1. Ser humilde e sem 7. Ser traspassado e moído


atrativos (7:14-15; 53:2-3). pelas nossas iniquidades
2. Ser manso, não (53:5).
barulhento nem rude (40:11; 8. Receber sobre si as
42:2-3). iniquidades de todas as
3. Ser justo em todas as suas pessoas, por ordem de Deus
ações (9:7; 11:5; 32:1). (53:6).
4. Ser bondoso para com os 9. Ser o vencedor da morte
fracos e aflitos (61:1). (25:8).
5. Ser irado e vingativo para 10. Esmagar com fúria os
com os perversos perversos na segunda vinda
impenitentes (11:4; 63:1-4). (34:2-9; 63:1-6).
11. Ser o Rei de Israel (9:7;
44:6).
12. Reinar, como o “Senhor
dos Exércitos”, no monte
Sião e em Jerusalém (24:23)

20
Stanley A. Ellisen. Conheça Melhor o Antigo Testamento. Editora
Vida, p. 227-228.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


65

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


66

SÍNTESE DO LIVRO
PRIMEIRA PARTE (CAP. 1—35)

CAPÍTULO 1
A mensagem deste
capítulo refere-se a Judá
e a Jerusalém (vv. 8, 12,
21, 27). É provável que
não se trata de um único
discurso, mas de
pequenas mensagens
pronunciadas em
ocasiões diferentes.

O profeta descreve:

1) A vã aflição do povo (v. 2-9), pois não reconhecem o


Senhor Deus, apesar de os ter escolhido por filhos; toma a
terra e o céu por testemunha contra eles;
2) revela que a obediência é melhor que o sacrifício (v.
10-20). A oferta não atrai a misericórdia do Senhor, e
Jerusalém recebe o epíteto de Sodoma, Gomorra e prostituta.
Contudo,
3) Deus conclama o seu povo a um novo início: aos
quebrantados — a cerimônia de purificação (v.24-27); e aos
impenitentes — o julgamento (v. 28-30).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


67

APLICAÇÃO | LEPRA COMO SÍMBOLO DO PECADO – Cap. 1;6


Não está declarado isto na Bíblia, mas pode-se dizer que i é. A
lepra mencionada na Bíblia não era tratada pelo médico, e sim
pelo sacerdote de Israel, o que expressa a ideia de pecado,
uma vez que o sacerdote era um mediador entre o pecador e
Deus. Por sua vez, Is. 1;6 e Sl. 51;7 falam do pecado como uma
doença espiritual horrível e destruidora. Ver também Rm.
5.12; 7.11; Tg. 1.14-15 (Pr. Dr. Antônio Gilberto)

CAPÍTULOS 2—6

Os capítulos de 2 a 5 estão claramente ligados:


a) embora as palavras de abertura do capítulo 2 indicam urna
nova visão, as palavras introdutórias dos outros capítulos
mostram continuidade;
b) todos esses capítulos versam sobre o mesmo assunto, a
saber, o “dia do APLICAÇÃO ANTROPOLÓGICA| CABELOS,
Senhor” (2:11, 12, 17, PELOS – Cap. 3;24
Finalidades ou funções dos cabelos ou pelos do corpo:
20; 3:7,18; 4:1, 2; 1 – Evitar fricção, por causa do movimento
2 – Resfriar a região, absorvendo calor
5:30);
3 – Absorver barulho, que danifica o corpo
c) todos dizem 4 – Absorver vibrações de alta frequência, que

respeito diretamente a danificam o corpo, especialmente líquidos


5 – Distinguir sons, especialmente os pelos do ouvido e
Judá e Jerusalém (2:1,
da cabeça
3, 6; 3:1, 8, 16; 4:3-5; 6 – Absorvem a luz

5:3). (Pr. Dr. Antônio Gilberto)

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


68

Notamos também que essa seção termina com seis “ais” (5:8,
11, 18, 20, 21, 22).

OS 6 AIS DE ISAIAS 6

1º AI - 5.8 CONDENA A GANÂNCIA


2º AI – 5.11 CONDENA A CORRUPÇÃO SOCIAL A BOEMIA

3º AI – 5.18 CONDENA A CORRUPÇÃO TEOLÓGICA


4º AI – 5.20 CONDENA A CORRUPÇÃO MORAL
5º AI – 5.21 CONDENA O ORGULHO E SOBERBA
6º AI – 5.22 CONDENA OS HÉBRIOS E CORRUPTORES

7º AI – 5.23 CONDENA OS QUE TRABALHAM PARA A INJUSTIÇA

Síntese temática – Pr. Prof. Isaias Ferreira

O capítulo 6 destaca-se claramente por seu tema. É um


fragmento autobiográfico surpreendente. A nova visão do
profeta aqui não é da sua nação, mas do próprio Deus e seu
propósito é prepará-lo para um ministério profético mais
amplo. Há uma nova visão (vv. 1-5), uma nova unção (vv.
6,7) e uma nova comissão (vv. 9,10).
Mas o importante aqui é que Isaías viu o Senhor como
Rei. O ponto alto é a exclamação reverente: “... os meus
olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!”. Se pudermos
antecipar os capítulos seguintes só por um momento,
veremos que a partir desse ponto o alcance profético de

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


69

Isaías amplia-se maravilhosamente; mas antes foi necessário


que visse o Senhor como Rei de todas as nações, a fim de
sentir vivamente e ser capaz de declarar com vigor que, por
trás, acima e além de todas as conturbações que profetizaria
estavam o controle e o propósito soberanos do Imperador
Universal, o Senhor.
A referência imediata desse capítulo 6, porém, é
novamente a Judá e a Jerusalém (vv. 5, 9-13); portanto, de
qualquer modo podemos agora marcar os seis primeiros
capítulos de Isaías como
sendo uma sequência, no
sentido de que todos se
referem diretamente a
Judá e seu assunto
principal é o “dia do
Senhor”.

CAPÍTULOS 7—12

Encontramos aqui seis capítulos referentes


principalmente a Israel (o Reino do Norte, das dez tribos, do
qual Samaria era a capital). Ver o início do capítulo 7:
“Sucedeu [...] que Rezim, rei da Síria, e Peca, filho de
Remalias, rei de Israel, subiram a Jerusalém, para pelejarem

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


70

contra ela...”. Veja também o versículo 2, onde o nome


“Efraim” substitui Israel.
Síria e Israel são os invasores (vv. 1, 2). É Israel que vai
ser “destruído, e deixará de ser povo” (v. 8). O rei Acaz de
Judá, sitiado pela Síria e por Israel, é informado de que a terra
(Síria e Israel) será desamparada diante dos dois reis aos
quais teme (v. 16).
A mensagem inteira é de consolo para o aflito Acaz (vv.
3-16); mas que estranho conforto ficar sabendo de repente,
sem qualquer motivo para a transição, que um perigo bem
mais mortal do que qualquer coisa que se acabou de dizer de
Israel recairá sobre Judá!
De forma alguma, no versículo 17 as palavras são
dirigidas diretamente ao rei de Israel. A redação não deixa
dúvidas: “Mas o Senhor fará vir sobre ti, sobre o teu povo e
sobre a casa de teu pai, por intermédio do rei da Assíria, dias
tais, quais nunca vieram, desde o dia em que Efraim se
separou de Judá”.
Em outras palavras, viriam dias sobre Israel como nunca
tinham ocorrido antes desde que as dez tribos se haviam
estabelecido como reino separado, e o perigo vinha da
Assíria. Ora, todos sabemos muito bem que Israel é que foi
destruído pela Assíria e não Judá, pois, embora tivesse

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


71

permissão para perturbar Judá também, o Senhor interveio,


a Assíria sofreu grande derrota e Judá foi poupada.
O capítulo 8, que continua o mesmo assunto, torna ainda
mais claro que se trata de Israel. Veja o versículo 4: “...serão
levadas [...] e os despojos de Samaria, diante do rei da
Assíria”.
Veja também o versículo 6, onde o povo que “com Rezim
e com o filho de Remalias se alegrou” (ARC) não é
certamente o de Judá! Note que o versículo 8 diz nitidamente
que a Assíria de fato “inundaria” Judá, exatamente como
Miqueias 1:9 diz, excluindo assim Judá das palavras que
acabaram de ser pronunciadas sobre Israel.
O restante do capítulo fala da “confederação” que a Síria
e Israel queriam forçar sobre Judá; mas Israel surge
novamente perto do final e no capítulo 9. A ligação entre os
capítulos 8 e 9 torna a referência principal a Israel ainda mais
clara.
O capítulo 10 continua a mesma profecia. Entre outras
coisas, isso é mostrado pelo solene refrão: “Com tudo isto
não se aparta a sua ira, e a mão dele continua ainda
estendida” (9:l2, 17, 21; 10:4). Do versículo 5 ao 34 o profeta
desvia-se para falar à Assíria, o poder que deveria destruir
Israel e também afligir Judá (vv. 11, 12).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


72

No final, a própria Assíria seria destruída. Isso leva aos


capítulos 11 e 12, que descrevem o reino vindouro do
Messias, em que os “desterrados de Israel” e os “dispersos
de Judá” seriam reunidos (11:12).
Nota: Exatamente como os capítulos de 1 a 6
ocupavam-se sobretudo de Judá, terminando (no 6) com uma
belíssima visão do Senhor como Rei soberano nos céus,
vemos que os capítulos de 7 a 12 tratam principalmente de
Israel, terminando com uma gloriosa visão do Senhor como
Rei soberano na Terra, no reino messiânico que virá.
E mais: do capítulo 7 ao 12, assim como do 1 ao 6,
encontramos repetidas referências ao “dia do Senhor”
(7:18,20,21,23; 10:20, 27; 11:10,11; 12:1,4).
Portanto, podemos dizer agora que os seis primeiros
capítulos se referem ao “dia do Senhor” principalmente em
relação a Judá, e os seis capítulos seguintes referem-se ao
“dia do Senhor” principalmente em relação a Israel.

APLICAÇÃO | O ESPÍRITO DO MESSIAS – Cap. 11;2


Em completude da afirmação paulina em 1 Co. 2;16, o profeta
Isaias traz a revelação da excelência do Espírito sobre Cristo,
este texto a parte, necessitaria de uma pneumatologia mais
detalhada, porém vale focalizar o que está na mente de
Cristo.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


73

1 – Espírito do Senhor
2 – Espírito de Sabedoria
3 – Espírito de Inteligência
4 – Espírito de Conselho
5 – Espírito de Fortaleza
6 – Espírito de Conhecimento
7 – Espírito de Temor do
Senhor
APLICAÇÃO DO ALUNO(A)
Caro(a) aluno(a) identifique na
Bíblia sete personagens que
tinham as sete ou uma das
características do Espírito Santo
descrito no capítulo 11.2
/
________________________________________________
CAPÍTULOS 13—23

Esses capítulos formam claramente um conjunto, pois


são uma sucessão de “sentenças”, sendo que, com exceção
de uma (a do “Vale da Visão”), todas relacionam-se às
nações gentias, como segue:
13-14,27 Sentença contra a Babilônia
14:28-32 Sentença contra a Filístia
15—16 Sentença contra Moabe
17—18 Sentença contra Damasco
19—20 Sentença contra o Egito

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


74

21:1-10 Sentença contra o deserto do mar


21:11,12 Sentença contra Dumá (Edom)
21:13-17 Sentença contra a Arábia
22 Sentença contra o Vale da Visão
23 Sentença contra Tiro.

Note também nesses capítulos o “dia do Senhor” (13:6,


9,13; 14:3; 17:4, 7, 9; 19:16, 18, 19, 21, 23, 24; 20:6; 22:12,
20, 25; 23:15).

CAPÍTULOS 24—27

Do capítulo 24 ao 27 temos o “dia do Senhor” em


relação ao mundo inteiro. Todos os expositores concordam
que a linguagem aqui abrange toda a Terra.
Marque especialmente as passagens 24:1, 4, 5, 16, 19,
20, 21; 25:6, 7; 26:21; 27:1. Em primeiro lugar, a mensagem
foi para Judá; depois, para Israel; depois, para todas as
nações gentias circundantes; e agora, para todo o mundo!
Não é possível enganar-se quanto ao assunto desses quatro
capítulos: mais uma vez, é o “dia do Senhor” (24:21; 25:9;
26:1; 27:1, 2, 12, 13).
CAPÍTULOS 28—33

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


75

Esses capítulos também se agrupam nitidamente.


Consistem de seis “ais”. Todos tratam especialmente de
Jerusalém, que é sempre o centro de toda a atuação terrena
de Deus. Embora o primeiro “ai” (cap. 28) dirija suas palavras
de abertura aos “bêbados de Efraim”, esses são usados
apenas como uma advertência para Judá. As palavras
“também estes” no versículo 7 (compare com o v. 14) mudam
o “ai”, dirigindo-o a Judá. E, apesar de o último desses “ais”
falar anonimamente da Assíria, como “o destruidor”, ainda
assim a mensagem é dirigida claramente a Jerusalém. Assim
sendo, os seis “ais” do capítulo 5 sobre Jerusalém encontram
agora um paralelo nesses outros seis. A cidade de maior
privilégio é a cidade de maior responsabilidade! Estes são os
seis “ais”:
28 bêbados de Efraim e Judá;
29:1 hipócritas (v.13) de Ariel;
29:15 intrigantes perversos de Jerusalém;
30 os rebeldes contra o Senhor;
31 os aliados incrédulos;
33 o destruidor assírio.
Note a expressão “o dia do Senhor” várias vezes
reaparecendo nesses capítulos de “ais” (28:5; 29:18;30:23;
31:7).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


76

CAPÍTULOS 34—35

Nesses capítulos temos o clímax da explosão profética


dessa primeira parte de Isaías. Descrevem a vingança do
Senhor sobre o mundo e a restauração de Sião. Note a
passagem 34:8 — “Porque será o dia da vingança do Senhor,
ano de retribuições pela causa de Sião”.
Embora nesse capítulo 34 a fúria seja desencadeada
contra Edom em particular, fica perfeitamente claro que Edom
é usado aqui tipologicamente.
Veja como o capítulo começa: “Chegai-vos, nações,
para ouvir, e vós, povos, escutai; ouça a terra e a sua
plenitude, o mundo e tudo quanto produz. Porque a
indignação do Senhor está contra todas as nações...”. Isaías
não só abrange aqui todas as nações da Terra, mas também
se projeta para o fim da História. Depois disso, após esse
quadro terrível de vingança, com seus tons sombrios e
lúgubres, leva-nos a uma cena tranquila e triunfante do reino
definitivo, no capítulo 35.
É a descrição da graça e da glória finais depois do
pecado e do juízo. No capítulo 34 estamos na “grande
tribulação” no fim da era presente. No capítulo 35 estamos no
milênio! Como é notável, então, o desenvolvimento expansivo

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


77

nessa primeira parte de Isaías! Faça um breve retrospecto


desses 35 capítulos novamente.
Nos primeiros seis, ficamos limitados a Judá. Mas,
depois da visão transformadora do Senhor como Rei de todas
as nações e épocas, no capítulo 6, as profecias têm um
alcance cada vez maior, até abrangerem todas as nações e
toda a história! Se nos seis primeiros capítulos estamos
confinados a Judá, nos seis seguintes projetamo-nos para o
reino das dez tribos de Israel. Depois disso, no grupo seguinte
(13 a 23) todos os principais reinos dos dias de Isaías são
cercados.
Depois, nos quatro capítulos que se seguem (24 a 27) o
mundo inteiro gira diante dos olhos da profecia. Do capítulo
28 ao 33, Jerusalém torna-se o ponto focal, como centro de
todas as atividades e controvérsias do Senhor com nossa
raça.
Finalmente, no capítulo 34, somos lançados à “grande
tribulação” no final da era presente, e depois levados ao
clímax belíssimo do Milênio, no capítulo 35! Não é uma
maravilhosa expansão, desenvolvimento, progresso,
desígnio? E não defende um autor humano único por trás do
todo, assim como indica o único autor divino por trás do
humano?

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


78

ADENDO HISTÓRICO (CAP. 36—39)

Esses quatro capítulos históricos foram colocados como


uma transição da primeira para a segunda parte do livro. Os
dois primeiros tratam da invasão de Judá pela Assíria (depois
do que a Assíria declina até ser destruída).
Os dois restantes falam da doença, recuperação e
contato de Ezequias com a Babilônia a nova potência mundial
que agora começa a ocupar o cenário.
Assim sendo, esses quatro capítulos são uma transição
deliberada dos capítulos de 1 a 35, em que a Assíria é a
potência mundial dominante, para os capítulos de 40 a 66,
em que a Babilônia é a potência mundial dominante.
Nota: Podemos estabelecer agora nossas descobertas na
primeira parte de Isaías como segue:

ORÁCULOS DE PUNIÇÃO E RESTITUIÇÃO (1—39)


1—6 O dia do Senhor e JUDÁ
7—12 O dia do Senhor e ISRAEL
13—23 As dez sentenças contra as NAÇÕES
24—27 O “dia” e o MUNDO inteiro
28—33 Os seis “ais” sobre JERUSALÉM
34—35 A ira final: SIÃO RESTAURADA
36—39 Adendo histórico à parte I

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


79

SEGUNDA PARTE (CAP. 40—66)

Esses vinte e sete capítulos são um poema messiânico.


O assunto recorrente é o Cristo que virá, a redenção de
Israel e a consumação final. Os capítulos não podem ser
separados. Unem-se para formar o maior poema messiânico
da Bíblia.
Os vinte e sete capítulos foram dispostos em três grupos
de nove capítulos cada, sendo o final de cada composto
marcado pelo mesmo refrão solene. Assim, no final do
primeiro grupo (48:22) lemos: “Para os perversos, todavia,
não há paz, diz o Senhor.” Depois, no final do segundo
(57:21) lemos: “Para os perversos, diz o meu Deus não há
paz.” Finalmente, no fim do terceiro (66:24) temos isso de
novo, mas de forma ampliada: “... o seu verme nunca
morrerá, nem o seu fogo se apagará; e eles serão um horror
para toda a carne”.
Quem quer que tenha feito o atual arranjo em capítulos
sem dúvida repartiu deliberadamente os vinte e sete capítulos
em três partes. Mas existe algo mais profundo do que a
simples intenção humana. Há desígnio divino. Por
unanimidade, a maior de todas as passagens do Antigo
Testamento relativas à expiação de Cristo é Isaías 53; e não
é do máximo significado que esse capítulo imortal do

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


80

“Cordeiro” esteja no capítulo central do grupo central? No


exato centro desse tremendo poema messiânico, Deus
colocou o CORDEIRO.
Ele é o essencial, o foco, o centro, o coração. Vamos
manter o Cordeiro onde Deus o colocou — no centro! Cristo
como Cordeiro de Deus deve ser central em nossa fé,
esperança e amor, em nossa pregação, ensino e testemunho,
em nosso pensamento, oração e estudo bíblico, assim como
Deus fez dele o centro da profecia, da história e da redenção.
Quanto aos três grupos de nove capítulos, podemos
fazer a seguinte síntese:
No primeiro grupo (40—48), o destaque recai sobre a
supremacia do Senhor. Há um claro progresso de ideias. Nos
dois primeiros capítulos desse grupo (40 e 41), o Senhor é
visto como supremo em seus atributos de onipotência,
onisciência e onipresença. Note, por exemplo, passagens
sublimes como 40:12- 18; 41:4 etc., 21-29. Depois, do
capítulo 42 ao 45, temos a supremacia do Senhor na
redenção. Ver 42:5- 9, 13-16; 43:1,3, 10, 11, 12, 25; 45:5-8,
15-17, 20-22.
Finalmente, do capítulo 46 ao 48, vemos a supremacia
do Senhor no juízo. Esses três capítulos versam sobre o juízo
em relação à Babilônia e seus deuses: Bel, Nebo etc. Mas

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


81

note a nova referência acentuada à supremacia do Senhor


em 46:5, 9, 10; 47:4; 48:12-14, 20-22.
No segundo grupo (49—57), o destaque recai sobre o
“Servo” do Senhor. O “Servo” foi mencionado antes, no
primeiro grupo, mas agora é levado a uma proeminência
maior. Nos capítulos 49 e 50, sem dúvida a referência é
principalmente à nação eleita, Israel, embora mesmo aqui
exista uma referência latente e final a Cristo.
Mas a partir de 52:13 até o final do capítulo 53 há uma
transição para a referência clara, plena e gloriosa ao Messias-
Redentor pessoal que estava para vir. Com base nisso, nos
capítulos 54 e 55 temos a restauração da nação de Israel e o
reinado do Cristo (55:4 etc.) como líder e comandante
davídico.
Esse grupo termina então nos capítulos 56 e 57, com um
apelo urgente e uma renovação da promessa.
Finalmente, no terceiro grupo (58—66) temos o
desafio do Senhor.
A apresentação é tripla. Primeiro, há o desafio em vista
da falha presente (58 e 59). A seguir, vem o desafio em vista
das simples perspectivas da época que se levantavam diante
de Israel (60—65).
O capítulo 66 termina o magnífico poema com um
desafio conclusivo de promessa e advertência finais.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


82

Nota: Podemos agora colocar em forma de análise plana a


segunda parte de Isaías. A mensagem central do livro é que
o Senhor é o Rei supremo e único Salvador. Na parte um,
o capítulo-chave é o sexto, onde temos a visão do profeta
do Senhor como Rei. Na parte dois, o capítulo-chave é o
53, onde vemos o Cordeiro, primeiro sofrendo e depois
triunfando.

ORÁCULOS DA REDENÇÃO E CONSUMAÇÃO (40—66)


• GRUPO 1. A SUPREMACIA DO SENHOR (40—48)
O Senhor supremo em atributos (40—41)
O Senhor supremo na redenção (42—45)
O Senhor supremo no castigo (46—48)
• GRUPO 2. O “SERVO” DO SENHOR (49—57)
Primeiro Israel: finalmente Cristo (49—53)
Israel restaurada: Cristo reina (54—55)
Portanto, o estímulo presente e a promessa (56—57)
• GRUPO 3. O DESAFIO DO SENHOR (58—66)
Em vista dos erros presentes (58—59)
Em vista dos grandes eventos futuros (60—65

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


83

REIS SOB A VOZ PROFÉTICA DE ISAÍAS

1. REI UZIAS E REI JOTÃO (Is 1—6)


O começo do reinado de Uzias foi bem-sucedido na
recuperação das forças militares e econômicas de Judá.
Contudo, afastou-se de Deus no final de sua vida e foi
ferido de lepra por ter assumido deveres sacerdotais. Esta

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


84

lepra isolou-o dos negócios do Estado nos últimos quatro


anos de seu reinado, ficando o reino sob a regência de seu
filho Jotão, que, reinou ao todo 16 anos sobre Judá.
Jotão fez o que era reto aos olhos do Senhor (IICr 27:2),
embora não tenha conseguido mudar muito o povo das suas
corrupções.
Jotão é mencionado apenas duas vezes no livro de
Isaías, ao que parece, Isaías não esteve muito ativo durante
o seu reinado. Mesmo assim, há indícios de Jotão ter apoiado
os ensinamentos espirituais de Isaías.
Os primeiros capítulos de Isaías enquadram-se
perfeitamente nessa situação citada acima (IIRs 15:5).
Isaías 6:1-13 relata a comissão do profeta, no ano da
morte do rei Uzias. Sem dúvida ele havia escrito os capítulos
1 a 5 antes desse tempo.

2. Rei Acaz (IS 7—14)


Acaz era mal e idólatra. Deus permitiu que Rezim, rei da
Síria, e Peca, rei de Israel, invadissem o seu reino. O profeta
Isaías esteve calado sob o reinado de Jotão, mas esta
invasão colocou seu ministério em evidência: “Disse o Senhor
a Isaías: Agora sai... ao encontro de Acaz” (7:3).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


85

Ele apelou para que Acaz colocasse sua confiança em


Deus e não procurasse ajuda com Tiglate-Pileser de Nínive.
Deus enviou Isaías para encorajar ao rei Acaz.
Além de predizer a ruína de Israel (reino do norte) pela
Assíria (cap.8), o profeta viu o fim de todas as lutas de Israel
pelo nascimento de Cristo. Ele deu a Acaz um sinal de que
Judá não iria perecer (Is 7:14). Acaz recusou a evidência
onde deveria ter apoiado sua fé.
Fez seus próprios planos com a Assíria, apoiou-se nela,
em quem mais tarde seria o instrumento do seu castigo (Is
7:17-20; IICr 28:16,19,20-25).
Daí, segue-se a sentença de Deus sobre o rei e a terra
(Is 8:6-22 – destruição das nações idólatras).
Is 9:6,7 é outra grande profecia acerca de Cristo —a
criança que haveria de nascer sentaria no trono de Davi. Is
10, estranha combinação: sofrimento presente e glória futura.
Is 11, quadro da glória do reino futuro que Cristo virá
estabelecer na Terra. Is 12, nesse reino, o povo irá adorar ao
Senhor. Is 13, ruína da grande Babilônia, que iria levar Judá
cativo. Is 14, morre o rei Acaz, mas Isaías diz que esta morte
não deve ser aclamada como o fim das cargas, pois
opressores piores restavam por vir.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


86

3. REI EZEQUIAS (Is 15—39)


O reino do piedoso Ezequias foi um dos períodos mais
importantes de toda história de Israel. A Assíria ameaçava as
fronteiras do norte. Antes do sexto ano de Ezequias, Samaria
caiu diante da Assíria, que se animou para novas conquistas.
Oito anos mais tarde, Judá foi invadida. A primeira
invasão foi promovida por Sargão e a segunda por
Senaqueribe, seu filho. IIReis 18:13-16 relata o desespero de
Ezequias diante da segunda invasão e como buscou em vão
o socorro do Egito. Até que os assírios sitiaram Jerusalém e
exigiram rendição.
Os v. 17-37 narram as dramáticas negociações entre o
general assírio e as autoridades de Jerusalém. Isaías 37:36-
38 descreve o rápido e terrível desastre que se deu com os
assírios ao serem mortos em seus acampamentos por uma
visitação misteriosa.
Os reinos de Judá e de Israel se tinham enfraquecido
tanto pela idolatria e pela corrupção que os inimigos logo
prevaleceram como feras sobre eles.
Primeiro Israel em 722 a.C. e, depois, Judá em 586 a.C.
Os dois reinos acabaram-se e o povo foi levado cativo. Nessa
época Isaías viveu e profetizou.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


87

AS PROFECIAS MESSIÂNICAS

As profecias messiânicas 22 são passagens do Antigo


Testamento que se referem a um futuro Rei ungido que levará
salvação a Israel. As passagens podem ser consideradas
profecias messiânicas por duas perspectivas distintas:

1. Da perspectiva da igreja cristã, muitas passagens são


consideradas messiânicas, desde Gênesis 3:15 até
Malaquias 4:5-6.
Desse ponto de vista, registram-se 124 passagens, cada
uma com seu cumprimento específico no NT. Esse método
de identificação de profecias messiânicas começa com
citações ou referências do NT ligando o ministério e/ou o
significado da vida de Jesus ao AT.
O método permitiu que os primeiros cristãos
testemunhassem aos judeus usando as Escrituras deles para
provar que Jesus era aquele de quem as Escrituras falavam.
O método também ajudou os cristãos a aprender mais a
respeito de Jesus e compreender sua obra de salvação.
Desse ponto de vista, o primeiro sentido das passagens do
AT não é tão importante quanto o sentido contemporâneo da
passagem para a Igreja.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


88

Os judeus dos dias de Jesus usavam um método


semelhante de interpretação para obter o significado pleno e
a aplicação da passagem.

2. Do ponto de vista histórico, só um número limitado de


passagens é considerado profecia messiânica. Para ser
assim considerada, a passagem precisa apresentar a
referência do autor original a um futuro Rei de salvação.
Esse método começa com o contexto histórico do AT e
seleciona passagens que apontam para o futuro, referem-se
a um Rei ungido e descrevem a salvação do povo de Deus.
Esse método falaria de cumprimentos incompletos na vida de
reis judaicos específicos como Ezequias, do cumprimento
importante no ministério terreno de Jesus Cristo e do
cumprimento final na segunda vinda. As principais passagens
em vista são IISm 7; ICr 17; Sl 2; 72; 89; 110; 132; Is 2:2-5;
9:1-7; 11:1-10.
Esse ponto de vista tem origem nos conceitos modernos
de história e nos métodos mais recentes de interpretação da
literatura antiga. Procura-se compreender como o antigo
Israel entendia a si mesmo em vários pontos de sua história.
Fazem-se perguntas como: quando Israel começou a
esperar que Deus enviasse um novo libertador? O que Israel
esperava que esse novo tipo de libertador fosse e fizesse?

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


89

Como as várias mudanças na visão histórica de Israel afetam


a visão e a expectativa de um libertador messiânico?
Pergunta-se: de que maneira Jesus de Nazaré cumpre
as expectativas de Israel? O israelita comum nos dias de
Jesus devia ser capaz de perceber que Jesus era o Messias
esperado? Jesus apresentou uma interpretação do Messias
que divergia da interpretação que Israel fazia na época? De
quem eram os métodos de interpretação bíblica que os
autores inspirados do NT empregavam quando interpretavam
Jesus à luz do AT? Como a Igreja hoje pode interpretar
legitimamente as Escrituras do AT à luz do cumprimento que
vemos na pessoa de Jesus? Os dois pontos de vista,
portanto, começam com diferentes ênfases, diferentes tipos
de pergunta e diferentes métodos de interpretação.
Basicamente, terminam com a mesma pergunta: Como o AT
nos ajuda a compreender a vida, o ministério e a obra
salvadora de nosso Salvador Jesus, o Messias? Os dois
pontos de vista veem Jesus como o cumprimento da religião
e da esperança do AT.
O primeiro ponto de vista pode encontrar textos isolados
que apontam para Jesus. O segundo ponto de vista pode
considerar que a aplicação de algumas passagens a Jesus
pode ser resultado da história da interpretação, mas não o
significado do autor original.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


90

Ambos os pontos de vista afirmam que os autores do NT


de fato usaram o AT para testemunhar que Jesus de Nazaré
era o Messias de Israel e o Salvador do mundo. Ao fazê-lo,
eles consideram que a ideia original era de um rei terreno
governando do trono do ancestral Davi e restaurando o poder
político à nação de Israel. Essa perspectiva histórica
desenvolveu-se dentro da história de Israel.
Essa concepção culmina no ministério de Jesus, o
Messias e Servo Sofredor, morrendo numa cruz e sendo
ressuscitado para ascender a um trono celeste à direita do
Pai. Ali Ele rege não só a Israel, mas todo o universo.
Esse governo tornar-se-á claro a todas as nações e
povos quando Jesus retornar na segunda vinda para
estabelecer seu reino tanto na Terra como no Céu.

SÍRIA

Síria é a tradução atual do termo hebraico Arã e refere-


se em geral ao território a noroeste de Israel. No período do
Antigo Testamento, pequenas cidades-estados (em particular
Hamate e Damasco) competiam entre si pelo controle da
área.
Arã abrangia o Líbano e a Síria de hoje, com pequenas
partes da Turquia e do Iraque. No NT, Síria refere-se à

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


91

província imperial romana localizada em torno de sua capital


em Antioquia e inclui a Judeia. Geograficamente, a Síria é
uma área indefinida.
Para Tiglate-Pileser III da Assíria, ela se estendia do
monte Líbano a Ramote-Gileade. Hoje, os estudiosos da
Bíblia costumam pensar na região desde os montes Taurus,
no norte, até Damasco, no sul (ou além) e dos montes do
Líbano, no oeste, até o rio Eufrates no leste.
Do oeste para o leste a Síria compreende:
(1) uma estreita planície costeira,
(2) os montes Líbano,
(3) o cânion formado pelos rios Orontes e Leontes,
(4) o planalto fértil que termina no deserto da Arábia.
Os arqueólogos prestam informações valiosas da
história antiga da Síria.
Ebla originou-se em cerca de 3500 a.C. e tornou-se
capital de uma importante cidade-estado de cerca de setenta
mil habitantes por volta de 2500 a.C. Ela continuou exercendo
grande influência até cerca de 1600 a.C., ainda que às vezes
derrotada por reis da Mesopotâmia.
Yamhad, com sua capital Alepo, foi uma importante
cidade-estado após 2000 a.C. Ali se desenvolveu um famoso
estilo de arte síria confirmada em decorações sobre selos
cilíndricos. Alalakh foi outra cidade importante nesse reino.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


92

O reino caiu sob ataques hititas em cerca de 1630.


Qatna governou a Síria central durante esse período. A Bíblia
liga os patriarcas à Síria nesse período.
Arã é alistada como descendente de Sem (Gn 10:22-23;
cf. 22:20-24).
A esposa de lsaque, Rebeca, era arameia de Padã-Arã
(25:20). Jacó foi chamado arameu peregrino (Dt 26:5; cf. Os
12:12). O profeta Balaão era arameu (Nm 23:7; Dt 23:4).
Cerca de 1550 a.C., o Egito começou a exercer controle
significativo sobre a Síria, combatendo os mitanis e depois os
hititas para obter o domínio.
Durante esse período, Kumidi, Sumur e Ulasa serviram
como centros administrativos. Qatna, Biblos, Tiro, Sidom,
Beirute, Arwada, Damasco e Cades permaneceram como
cidades-estados com governantes locais submissos ao faraó
egípcio como vassalos.
Os hurritas começaram a se misturar com a população
basicamente semita do oeste. Ugarite, importante cidade na
costa nordeste da Síria, ganhou grande destaque nesse
período.
Os arqueólogos remontam sua origem ao período
calcolítico (cerca de 6500 a.C.). Escavações têm revelado
muita coisa da língua, literatura, religião e vida cananeia.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


93

Apesar de seu tamanho e importância, Ugarite raramente


gozou de independência política.
Seu rei era vassalo dos hititas, egípcios ou de outras
cidades sírias como Yamhad. Ugarite caiu em cerca de 1180
a.C. diante dos Povos do Mar, dos quais surgiram os filisteus,
além de outros grupos tribais.
Os povos nômades chamados arameus começaram a
marcar presença desde a Pérsia até a Síria nessa época.
Em cerca de 1112 a.C., a Assíria, sob Tiglate-Pileser,
tornou-se a principal ameaça contra a Síria. Os sucessos iam
e vinham, com Tiglate-Pileser alardeando ter atravessado o
Eufrates e atingindo a Síria vinte e oito vezes. Mas os
documentos também mostram que os arameus invadiram a
Assíria.
A Bíblia fala do surgimento de cidades-estados sírias da
época de Saul e Davi. Saul enfrentou o rei de Zobá (ISm
l4:47), como também Davi (IISm 8:3; cf. o título do Sl 60).
Damasco era aliada de Zobá (IISm 8:5), mas Hamate
congratulou-se com Davi por ter este derrotado a Zobá. Isso
mostra as mudanças de relacionamento entre as pequenas
cidades-estados da Síria.
Zobá forneceu soldados para os amonitas em sua luta
contra Davi (IISm 10:6). A derrota fez o rei Hadadezer de

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


94

Zobá lutar contra Davi apenas para sofrer outra derrota (IISm
10:13-19).
A derrota de Zobá deu a Rezom oportunidade de
estabelecer Damasco como o poder sírio (IRs 11:23-24).
Rezom não deixou Salomão em paz (IRs 11:25). Escavações
mostram que Damasco tornou-se cidade antes de 3000 a.C.
Abraão ali perseguiu reis para recuperar Ló (Gn 14:15); e
Eliézer, servo de Abraão, era de Damasco (Gn 15:2).
Asa, rei de Judá (905-874 a.C.) pagou a Ben-Hadade de
Damasco para romper sua aliança militar com Baasa de Israel
e atacar o reino do Norte (IRs 15:18-22). Outro Ben-Hadade
de Damasco formou uma grande coalizão de reis e atacou
Samaria sob o rei Acabe (874-853 a.C.). Um profeta levou
Israel à vitória, depois puniu Acabe por fazer um tratado com
Damasco (IRs 20). Josafá de Judá e Acabe de Israel
atacaram os arameus, mas perderam em Ramote-Gileade,
resultando na morte de Acabe (IRs 22). O profeta Eliseu
também livrou Samaria de Ben-Hadade (IIRs 5—7). Eliseu
então profetizou uma troca de dinastia em Damasco,
anunciando Hazael como seu rei (IIRs 8:7-15).
Salmaneser III da Assíria (858-824 a.C.) alegou vitória
sobre Ben-Hadade e sobre Hazael em Carcar, numa série de
batalhas entre 853 e 838. A batalha de 853 viu Irhuleni de
Hamate, Ben-Hadade de Damasco e Acabe de Israel

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


95

interceptarem o avanço de Salmaneser. Acazias de Judá e


Jorão de Israel juntaram forças contra Damasco em 841, o
que fez Jorão matar Acazias (IIRs 8:25—9:28).
Após 838 a.C., Hazael e Ben-Hadade restauraram o
poder de Damasco (IIRs 10:32-33; 13:3-25; cf. Am 1:4). Mas
Adad-Nirari III da Assíria (810-783) pôs fim a isso com
invasões de 805 a 802 e de novo em 796.
Hazael atacou Israel e forçou o rei Joás a pagar tributo
(IIRs 12:17-18), mas Jeoás de Israel reconquistou as cidades
israelitas tomadas por Damasco (IIRs 13:19, 25).
Por fim, Jeroboão II (798-782 a.C.) confirmou o poderio
de Israel ganhando o controle de Damasco (IIRs 14:28). Zakir
de Hamate preencheu parte do vazio de poder na Síria,
levando Hamate a seu poder máximo (800-750 a.C.). Em 753,
Salmaneser IV da Assíria lutou contra Damasco.
Os últimos esforços de Damasco começaram com seu
último rei Rezim, que se tornou vassalo de Tiglate-Pileser em
738 a.C. Rezim juntou-se a Peca de Israel, invadindo Judá e
atacando Jerusalém. Rezim conseguiu capturar Elate e a
entregou a Edom (IIRs 16:6).
Acaz de Judá recusou-se a crer na advertência do
profeta Isaías de que Israel e Arã não ameaçariam Judá muito
tempo (Is 7). Ele pagou a Tiglate-Pileser da Assíria para
derrotar seus inimigos (IIRs 16:5-18).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


96

Tiglate-Pileser alegou ter destruído 501 cidades em


dezesseis distritos quando capturou Damasco e exilou seus
líderes. Ele nomeou governadores próprios em centros
provinciais sírios em Hauran, Qarnini (ou Carnaim) e Gileade
no sul, e Subatu no norte. Quando Damasco rebelou-se em
720 a.C., Sargão II desbaratou a rebelião e destruiu Hamate.
Isso iniciou um controle estrangeiro permanente na Síria,
primeiro pela Assíria, depois pela Babilônia após 612, pela
Pérsia após 538 e por fim pela Grécia em 321.
Na divisão do império grego após a morte de Alexandre,
Síria tornou-se o nome popular do reino selêucida
centralizado em Antioquia. As revoltas macabeias levaram à
independência judaica em 167 a.C. Em 64 a.C. Roma
transformou a Síria em província. Um procurador
subordinado ao legado sírio governava Judá (cf. Mt 4:24; Lc
2:2). Antioquia permaneceu como o centro governamental da
província.
Paulo viajava para Damasco a fim de ali perseguir os
cristãos, quando Deus interveio para salvá-lo (At 9). Ele
evangelizou na Síria (At 15:41; Gl 1:21). Antioquia tornou-se
centro missionário cristão (At 13:1- 3). Ali foi criado o termo
cristão (At 11:26).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


97

ASSÍRIA

“Os teus pastores dormem, ó rei da Assíria; os teus


nobres dormitam; o teu povo se derrama pelos montes, e não
há quem ajunte.” (Na 3:18) O principal território da Assíria era
uma região triangular cujo lado oeste corria ao longo do rio
Tigre, desde Nínive para o sul, por uns 160 km até a
tradicional capital em Assur. O terceiro ponto do triângulo
ficava em Arbela, cerca de 80 km a leste do Tigre. A história
da Assíria é em geral dividida em três períodos: o assírio
antigo (cerca de 2000-1393 a.C.), o assírio médio (cerca de
1363-1000 a.C.) e o neoassírio (cerca de 1000-612 a.C.).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


98

O período assírio antigo


Shamshi-Adad I (cerca de 1815-1782 a.C.) uniu as
cidades-estados assírias formando o primeiro reino assírio.
Ele se estendia das montanhas Zagros no leste até o rio
Eufrates a oeste.

O período assírio médio


Após um período de fragilidade, o reino assírio voltou a
se erguer com Assur-Ubalit I (cerca de 1363-1328 a.C.). Eles
desenvolveram sua famosa perícia militar e, durante esse
período, também saquearam a Babilônia.
Os assírios começaram assimilando a cultura
babilônica, adotando o culto do deus Marduque e a vasta
literatura religiosa dos babilônios.

O período neoassírio
Enfraquecida pelos arameus, a Assíria levantou-se de
novo no século X. Eles eram “o poder imperial mais bem-
sucedido jamais visto no mundo”. Assurbanipal II (883-859
a.C.) iniciou campanhas militares anuais notoriamente
selvagens. Ele estendeu o controle efetivo da Assíria até Tiro,
na costa mediterrânea. Alardeava a sua própria crueldade:
“Provoquei tempestades nos picos das montanhas e as
tomei. No meio das montanhas imensas os matei. Com o

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


99

sangue deles tingi as montanhas, que ficaram como lã


vermelha. Com o restante deles escureci os canais e
precipícios das montanhas. Tomei-lhes as posses. As
cabeças de seus guerreiros decepei e com elas formei uma
pilha defronte à sua cidade. Seus jovens e virgens, queimei-
os com fogo”.
Foi por certo tal política de “terror planejado” que
incentivou Israel e Judá a formarem alianças com os arameus
(Ben-Hadade de Damasco) e com os fenícios (o casamento
de Acabe com Jezabel de Sidom).
Assurbanipal II reconstruiu Calá entre Nínive e Assur,
como sua nova capital. Seu palácio era um dos mais belos da
antiguidade, decorado com altos-relevos que relembravam
suas vitórias.
Numa expedição militar à Síria em 853 a.C., Salmaneser
III (858-824) enfrentou uma coalizão de reis sírios e
palestinos (incluindo Acabe de Israel e Bem-Hadade de
Damasco) em Carcar. Não se sabe se obteve uma vitória
indiscutível (a batalha não é mencionada na Bíblia), mas ele
voltou em 841 para cercar Damasco e cobrar tributo de Jeú,
o novo rei de Israel.
Seguiu-se então outro período de relativa fragilidade na
Assíria, durante o qual Damasco assediou continuamente a
Israel e a Judá. Adad-Nirari III (810-783 a.C.) levou um

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


100

período de alívio para Israel (IIRs 13:5) por meio de uma


expedição contra Damasco em 805. A fragilidade da Assíria
(época do ministério de Jonas, IIRs 14:25) foi maior durante
a expansão de Jeroboão II de Israel (793-753) e Uzias de
Judá (792-740).
Tiglate-Pileser III (também chamado Pul, 745-727 a.C.)
restabeleceu o poder assírio e, com um exército permanente
recém-formado, iniciou guerras de conquista em vez de
simplesmente saquear. Em 743, ele começou várias
incursões contra a Síria e a Palestina. Anexando reinos
arameus como províncias assírias, cobrou tributo de Israel e
Judá (IIRs 15—16).
Pela rebelião de Oseias, rei testa-de-ferro de Israel,
Salmaneser V (727-722 a.C.) conquistou Samaria em 722
após um cerco de três anos e deportou seus habitantes (IIRs
17). Em 712, no início do reinado de Ezequias (715-687),
Judá revoltou-se (Is 20:1). Sargão (712-705) respondeu com
uma demonstração do poder assírio. Uma revolta posterior,
apoiada pelos egípcios (IIRs 18—19; Is 30:1-5; 31:1-3; 37:6-
37), fez com que Senaqueribe enviasse em 701 um exército
que derrotou o Egito, conquistou quarenta e seis cidades de
Judá e cercou (mas não tomou) Jerusalém.
Esar-Hadom (680-669 a.C.) e seu filho, Assurbanipal
(668-627), estenderam o império assírio até o Egito (cf. Na

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


101

3:8-10), mas estavam constantemente envolvidos em lutas


de defesa por todos os lados. Ao que parece, Assurbanipal
empregou grande parte dos recursos da Assíria para suprimir
uma rebelião da Babilônia, de Elão e de outros (652-639).
Isso acarretou o declínio final do poderio assírio,
permitindo a Josias (641-609) levar reformas e restauração
temporárias a Judá.
Assur, a cidade padroeira, caiu nas mãos dos medos em
614 a.C.. Nínive, a capital, caiu (cf Na 2:8—3:7,
provavelmente por inundação [Na 1:8]) diante dos medos,
babilônios e citas em 612. Josias de Judá tentou em 608
obstruir o exército egípcio em Megido, impedindo-os de
auxiliar os assírios em sua luta contra os babilônios (IIRs
23:29). Josias fracassou e foi morto.
Mas as forças babilônias sob o príncipe Nabucodonosor
perseguiram e por fim derrotaram os exércitos assírios em
Carquemis em 605.

NOTA DO ALUNO(A)
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
___________________________________________

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


102

LIVRO: 52 CAPÍTULOS
GRUPO: PROFETAS MAIORES
PERÍODO: 626 A 586 A.C.
AUTORIA: JEREMIAS? (EMBORA BARUQUE FOSSE O AMANUENSE)

PARECER DE JEREMIAS SOBRE JESUS

O MESSIAS É PRENUNCIADO COMO UM RENOVO NA


LINHAGEM DE DAVI NO LIVRO DE JEREMIAS;
➢ A MORTE E A RESSURREIÇÃO DE JESUS
ESTABELECERAM UMA NOVA ALIANÇA NOVA NA
QUAL JEREMIAS PROFETIZOU

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


103

O PROFETA JEREMIAS

Yeremyahu ou Yirmeyah (hebraico) significa: Jeová


encontra, estabelece, designa ou eleva. Era filho de Hilquias
(que foi provavelmente o sumo sacerdote na ocasião da
reforma de Josias; Hilquias foi também o bisavô de Esdras
Ed 7:1). Nasceu em Anatote, cidade distante cerca de 5km a
nordeste de Jerusalém.
Recebeu sóbria educação doméstica e religiosa
segundo a lei de Moisés. Foi influenciado pelos
ensinamentos de Isaías e
um estudante cuidadoso
das profecias de Oseias.
Jeremias era gentil,
afetuoso, misericordioso,
tímido e severo. Foi apelidado
de “o profeta sentimental”, o
mais psicológico de todos os
profetas. Não gostava de
pronunciar discursos
agravantes, denunciadores.
Deus chamou-o e fê-lo
forte, corajoso, imóvel como coluna de ferro para pronunciar
seus discursos implacáveis. Era versado na história de sua

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


104

nação e provavelmente de notável cultura, pois quando lhe


sobrevinham os conflitos naturais, por causa de sua
pregação, eram os nobres quem o defendiam (Jr 26).

Sua vocação
Jeremias foi separado por Deus para o ministério
profético ainda antes de nascer (1:5). A palavra do Senhor
veio a ele não de forma súbita, mas persistente (em hebraico
Way’hi, que quer dizer: “continuou a vir”).
Ele protestou “sou uma criança”, “demasiado novo”,
dando a entender que a sua falta de capacidade era devido a
sua juventude: entre 21 a 24 anos de idade. Contudo, Deus
tocou (1:9) nos lábios, tornando-o seu mensageiro com poder
para destruir ou recriar. Também lhe foi anunciado que ele
encontraria grande oposição dos príncipes, dos sacerdotes e
do povo. Mas, não devia se atemorizar porque Deus estaria
com ele, tornando-o invencível (1:19).
Sua chamada está associada a duas visões:
1) A visão da amendoeira (árvore que desperta mais
cedo na primavera) era para confirmar sua chamada,
mostrando que Deus vela pela sua palavra;
2). A visão da panela a ferver prestes a derramar seu
conteúdo fervente, inclinando-se do norte, ilustrava a futura
invasão babilônica.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


105

Lições:
1. O Divino Criador escolhe, elege e determina quem vai
servir em determinado setor do seu Reino.
2. Quando o Senhor nos confia uma missão, não
devemos temer. Ele é quem nos capacita.

Seu ministério

Começou a profetizar no 13º ano de reino de Josias, e


continuou a sua obra até a tomada de Jerusalém, no 5º mês
do 11º ano do reinado de Zedequias. Jeremias viu cinco reis
subir ao trono de Judá (Israel já fora levado cativo para a
Assíria).
Deste modo, a sua vida se estendeu pelos últimos 18
anos do reinado de Josias, pelos 3 meses que Jeoacaz
reinou, pelos 3 meses de Joaquim e pelos 11 anos e 5 meses
do reinado de Zedequias — ao todo 40 anos sem interrupção.
Durante os reinados de Josias e Jeoacaz foi-lhe
permitido exercer seu ministério sem embaraços, mas
durante os reinados de Jeoaquim, Joaquim e Zedequias
sofreu severa perseguição. Os seus conterrâneos o
ameaçavam de morte, caso insistisse na função profética.
Contudo, ele continuou fielmente sua missão.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


106

No reinado de Joaquim foi aprisionado por sua audácia


em profetizar a desolação de Jerusalém.
Durante o reinado de Zedequias, foi preso como
desertor e permaneceu na prisão até a tomada da cidade,
época em que foi posto em liberdade por Nabucodonosor.
Não se sabe como, nem em que tempo morreu. A
tradição conta que, encolerizados por suas contínuas
admoestações e repreensões, os judeus mataram-no no
Egito.

AUTORIA DO LIVRO

1. A autoria de Jeremias é fato provado e não tem sofrido


séria contestação. Pode ser confirmada de dois modos,
segundo Ellisen: Internamente, o livro tem numerosas
referências biográficas e autobiográficas de Jeremias como
autor e Baruque como escrivão ou secretário (Jr 36:4).
Nenhum outro profeta teve o seu nome repetido tantas vezes
quanto Jeremias (131 vezes). Baruque é mencionado 23
vezes. Externamente, o livro é atribuído a Jeremias em Dn
9:2 e Ed 1:1, bem como em tradições judaicas.
2. A formação de Jeremias é inteiramente envolvida com
profecia. Por esse motivo, sabe-se mais da vida pessoal

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


107

desse profeta do que de qualquer outro. Em muitos casos,


suas ações tornavam-se parte da mensagem.

IMPORTÂNCIA DO LIVRO

Autobiografia – nele o profeta é revelado. Jeremias é


como uma lente de aumento na qual podemos ver os seus e
os nossos sentimentos e sofrimentos e ler melhor a
escrituração divina nas nossas vidas.
História – ilumina os últimos 40 anos do reinado
davídico e descreve minunciosamente a destruição de
Jerusalém.
Profecia – mostra as causas do cativeiro e a sua
duração (Jr 25:11-14). Descreve a repatriação de Israel e o
estabelecimento do reino eterno.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


108

CONTEXTO HISTÓRICO E RELIGIOSO

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


109

Situação internacional: Por 300 anos a Assíria havia


dominado o mundo, agora ia-se enfraquecendo.
Continuavam a porfia pela supremacia mundial: Assíria,
Babilônia e Egito. Babilônia tornava-se poderosa. O Egito que
1000 anos antes fora uma potência mundial e decaíra, outra
vez se enchia de ambição. Babilônia venceu (lá pelo meado
do ministério de Jeremias), quebrou a força da Assíria, em
609 a.C. e, depois derrotou o Egito na Batalha de Carquemis,
605 a.C. Por 70 anos regeu o mundo — os mesmos 70 anos
do cativeiro dos judeus.

Situação religiosa: Depois de Ezequias, o melhor rei de


Judá, de quem Isaías foi contemporâneo, reinaram Manassés
e o seu filho Amon, dois dos piores reis de Judá. Durante

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


110

esses dois reinados, num período de 67 anos, medrava a


idolatria. Judá chegou ao seu nível moral mais baixo.
Durante o reinado de Josias, um bom rei, sucessor de
Amon, Jeremias era o seu valioso coadjutor na reforma
religiosa, como Isaías fora na reforma de Ezequias. No 18º
ano do reinado de Josias o Livro da Lei foi achado, talvez pelo
pai de Jeremias, na ocasião de uma limpeza do templo (IIRs
22). A leitura do livro trouxe reavivamento, que não foi
duradouro (3:10). Com a morte de Josias, as condições como
são descritas nos caps. 10—12 iam de mal a pior.
Era, portanto, nesse tempo de pecado e rebeldia que
Jeremias fora chamado a exercer seu ministério (2:34; 2:19-
20; 7:18).

ANALOGIA ENTRE JEREMIAS E CRISTO


- Cresceram numa vila da Palestina.
- A situação histórica era a mesma: Jerusalém estava à beira
da destruição.
- Exerceram seus ministérios uns 40 anos antes da
destruição.
- Provinham de ancestrais ilustres e de lares onde dominava
o amor de Deus.
- Ambos tinham o sentimento de uma missão divina, desde
os primeiros dias da juventude.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


111

- Nenhum era casado.


- Solidão foi a porção dos dois.
- Os dois tinham completa comunhão com Deus.
- Choraram sobre Jerusalém.
- Foram difamados e rejeitados pelos chefes religiosos da
nação.
- Ambos morreram fora de Jerusalém.
- Jeremias carregou uma carga que simbolizava o peso do
pecado de Judá. Jesus carregou a cruz que simbolizava o
peso do pecado da humanidade.

MENSAGEM DE JEREMIAS DO
PONTO DE VISTA GERAL

Jeremias avisava do juízo vindouro e convidava o povo


a arrepender-se de seus pecados, salientando que se o povo
obedecesse ao Senhor, Ele de algum modo o livraria.
Empregou as figuras do matrimônio e da filiação para
descrever a intimidade da relação de Israel e Javé, e os
deveres implicados nessa relação (31:9). Sem cessar,
advertia Jerusalém para que se rendesse ao rei da Babilônia,
agente do castigo divino. Seus amigos acusaram-no de
traidor.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


112

Nabucodonosor recompensou-o por esta advertência ao


povo, não só poupando-lhe a vida, mas oferecendo-lhe uma
honraria, até mesmo uma dignidade na corte babilônica
(39:16). Todavia, Jeremias bradava que o rei da Babilônia
estava cometendo um crime hediondo na destruição do povo
do Senhor, e, por essa causa, no devido tempo, esse país
seria assolado para sempre (50; 51).
O livro não é arranjado em ordem cronológica, mas pela
ordem dos assuntos. Algumas de suas mensagens têm data.
Profecias referentes a Judá (cap. 1–24). Profecias referentes
ao juízo e o conforto (cap.25–45). Profecias referentes às
nações (cap. 46–51). Conclusão e resumo da queda de
Jerusalém (cap. 52). Supõe-se ter sido escrito por outra
pessoa na restauração.

ALGUNS CONCEITOS BÁSICO DA MENSAGEM

O CONCEITO DE DEUS EM JEREMIAS

A. Criador e Soberano Senhor que governa todas as coisas


tanto no Céu como na Terra (5:22, 24; 10:12:23.23) e dispõe
de tudo de conformidade com a sua vontade (18:5-10; 25:15-
38; 27:6-8).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


113

B. Conhecedor dos corações (17:5-10) e fonte da vida para


todos que nele confiam (2:13; 17:13).
C. Deus ama ternamente o seu povo (2:2; 31:1-3) e exige
obediência e lealdade (7:1-15).
D. Deus abomina sacrifícios, deuses pagãos e oblações a Ele
oferecidas por parte de um povo desobediente (6:20; 7:21;
14:12).

A idolatria: O mal particular contra o qual Jeremias


combateu foi a idolatria. Suas referências à adoração
prestada a deidades pagãs confirmam que a prática era
generalizada e tomava muitas formas. Ídolos eram
encontrados no próprio templo (32:34) e nas vizinhas cidades
de Jerusalém eram sacrificadas crianças a Baal e a Moloque
(7:31; 19:5; 32:35).
A imoralidade: A geração de Jeremias era idólatra e a
imoralidade aparece como concomitante da idolatria. A
corrupção moral era inescapavelmente seguida pela
eliminação do temor a Deus e pela perda da reverência às
suas leis. A devassidão e a desonestidade eram comuns
entre os sacerdotes e profetas (5:30). Em lugar de
combaterem a imoralidade, sacerdotes e profetas
contribuíam para a sua propagação. Ironicamente, a idólatra
e imoral Judá continuava zelosamente religiosa:

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


114

reverenciavam a arca (3:16), as tábuas da Lei (31:31), a


circuncisão como sinal da aliança (4:4; 6:10; 9:26), o templo
(7:4,10; 11:15; 17:3) e o sistema de sacrifícios (6:20; 7:21).
O julgamento: É inevitável que o julgamento tenha
relevância na mensagem de Jeremias. Judá seria punida:
seca e fome (5:24), invasão de um poder estrangeiro etc.
Jeremias e os falsos profetas: A polêmica principal de
Jeremias com os sacerdotes era dupla: a) procuravam tirar
lucro do ofício; b) discordavam que o templo de Jerusalém
nunca cairia perante os babilônios (6:13; 18:18; 29:21-32). Os
profetas falsos confirmavam o iludido povo de Judá nesse
otimismo fácil (8:10-17; 14:14-18; 23:9-40).
A esperança de Jeremias: O exílio de Judá na
Babilônia não permaneceria para sempre (25:11; 29:10). A
própria Babilônia seria derrubada (cap. 50 e outros).
Jeremias e a religião de Judá: Jeremias antecipou,
com perfeita serenidade, a destruição do templo, a queda da
dinastia davídica, a cessação do sistema de sacrifícios e o
ministério do sacerdócio.
Chegou até mesmo a proclamar que o sinal da aliança,
a circuncisão, não tinha significado algum sem a circuncisão
do coração (4:4; 9:26). Confiança nos sacrifícios, no templo e
no sacerdócio era vã, a não ser que fosse acompanhada pela

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


115

mudança de coração (7:4-15; 21-26). Conhecer a lei sem


obedecê-la era totalmente inútil (2:8; 5:13-38). Ele viu a
necessidade da lei ser escrita não em pedras, mas nas
tábuas do coração, assim, impelindo-os a uma espontânea
obediência (31:31-34; 32:40).

Jeremias e o futuro ideal: O profeta olha bem além da


volta de Judá do exílio e além do reinício da vida na Palestina
(30:17-22; 32:15; 44; 33:9-13). No futuro ideal, a Samaria
teria participação (3:18; 31:4-9), a abundância prevaleceria
(31:12-14), Jerusalém seria santa ao Senhor (31:23; 38-40),
e seria chamada de “Senhor, justiça nossa” (33:16). Seus
habitantes retornariam ao Senhor arrependidos (3:22-25;
31:18-20) e de todo o coração (24:7). Deus os perdoaria
(31:34b), poria dentro deles o seu temor (32:37-40),
estabeleceria o governo do príncipe messiânico sobre eles e
admitiria as nações gentílicas (16:19; 3:17; 30:9).

Do ponto de vista específico

1ª Mensagem (2:1—3:5) — Deus pede que Israel se lembre


de quando era uma noiva bonita, enfeitada, seguindo o
Senhor no deserto, onde ninguém semeia. Nesse tempo,

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


116

Israel andava com o seu Senhor e lhe devotava verdadeira


afeição.
2ª Mensagem (3:6-30) — Veio no tempo de Josias, rei de
Judá. A idolatria continuava a ser a grande mancha na vida
social e espiritual dessa nação, que se corrompera e teimava
permanecer em seu pecado. Contudo, é convidado a
arrepender-se. Descortina-se a garantia do perdão divino
desde que o arrependimento seja genuíno e sincero. Mas a
nação preferiu rebelar-se. Não houve qualquer sinal externo
de um regresso íntimo a Deus e o profeta pronuncia a
sentença: O Norte vai atacar Israel.
3ª Mensagem (7:1—10:25) — Para Judá, o templo era
sacrossanto e, portanto, seria poupado se acontecesse o
pior. Certamente, Jeová interviria para salvar a cidade onde
colocara o Seu nome. Jeremias afirma justamente o contrário.
Mandado por Deus prostrou-se à porta do templo e
proclamou que o templo não salvaria a nação.
4ª Mensagem (11:1—12:5) — Tema: Concerto nacional. A
base do concerto era o amor. Deus manda o seu profeta
publicar nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém, todas
as palavras afirmando que os seus pais tinham sido
severamente advertidos de que, se não cumprissem o
prometido, a aliança estava sem efeito. Mais uma vez o amor
de Deus é manifesto, pois tanto Jerusalém como as cidades

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


117

de Judá estavam corrompidas pela idolatria e suas


consequências.
5ª Mensagem (14:1—15:9) — Relaciona-se com uma das
mais terríveis secas que a Palestina sofreu. Era uma forma
de castigo para o povo reconhecer a necessidade de Deus
em suas vidas.
6ª Mensagem (16:1—17:18) — O profeta é aconselhado a
não casar e ter filhos porque as crianças que nascessem
nessa terra seriam pasto de enfermidade, morreriam e não
teriam quem as enterrassem (16:4). A morte dessas crianças
seria causada pela debilitação e má nutrição por falta de
alimentos.
7ª Mensagem (18:1-17) — Vem associada à visita à casa do
oleiro, onde o profeta compreendeu a ilustração: Quando o
vaso não saía conforme o oleiro desejava, ele o quebrava,
amassava o barro novamente, e moldava-o como desejava.
Assim como o oleiro fazia com o barro, o Criador fazia com o
povo. O barro na mão do oleiro era como Israel na mão de
Deus.
8ª Mensagem (19:1-15) — Proferida por atos em dois locais:
A. Vale de Hinon, a sudoeste da cidade, onde o seu lixo era
jogado e queimado no monturo. Naquele lugar impróprio e
mal cheiroso, Deus falou ao seu povo (vs.3): ali seriam
amontoados cadáveres removidos das ruas da cidade e a

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


118

mesma seria cercada e todos ficariam como pássaros na


gaiola. Ao entregar a mensagem, Jeremias quebraria o vaso,
que não seria recomposto, significando que Jerusalém nunca
mais seria a mesma.
B. Depois da cerimônia do vale, a procissão se dirigiu para o
átrio do templo onde a cena seria repetida. No vale, lugar
destinado a receber os destroços da catástrofe. No átrio,
indica que tudo estava terminado. Por causa desta profecia,
Jeremias foi colocado na prisão e no cepo (20:1-6).
9ª Mensagem (21:1-14) — Outro aviso da queda de
Jerusalém.
A. Mensagem a Zedequias (21:1-7) – os babilônios seriam
agentes do castigo divino.
B. Mensagem ao povo (21:8-10) – dois caminhos propostos:
o caminho da vida era sair da cidade e entregar-se ao
conquistador. O caminho da morte era permanecer resistindo
a Babilônia e morrer de fome ou de peste ou de espada.
C. Mensagem à casa real (21:11-14) – a prática da justiça e
do juízo.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


119

LOCAIS E FORMAS USADAS POR JEREMIAS PARA


ENTREGAR AS MENSAGENS

Jeremias entregava suas mensagens nos lugares


públicos, nos átrios do templo, no palácio real, nas portas da
cidade, nos dias de festa ou jejum, quando o povo das
comunidades rurais vinha à cidade para o culto (7:2; 17:19;
19:14; 22:1; 26:2; 35:2; 36:5, 10).
Jeremias fez considerável uso de simbolismo em suas
pregações (19:1). Vejamos:
Cap. 13:1-7 — O CINTO ESTRAGADO: Linho era o
material para as vestes dos sacerdotes (Êx 28:42), pelo que
Israel seria um povo santo e sacerdotal. Era considerado o
melhor dos materiais, servindo de símbolo apropriado para o
povo escolhido por Deus.
Por que cinto? Cinto denota a proximidade especial e o
propósito ornamental de Israel para Deus. Por que não
colocar o cinto na água? Possivelmente para diminuir seu
conforto no uso, ou para ilustrar o pecado do povo ao mostrar
quão sujo estava. Segundo a ordem do Senhor, Jeremias
escondeu o cinto na fenda de uma rocha, junto ao Eufrates.
Retirando o cinto dali ele estava apodrecido por causa da
umidade, simbolizando que Judá também estava podre. É

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


120

provável que o cinto fosse ricamente adornado, chamava


atenção quando ele andava pelas ruas de Jerusalém.
Agora, apodrecido, roto e sujo, chamava atenção pela
sua feiura. Aglomerando o povo curioso ao redor dele,
Jeremias aproveitava a oportunidade para explicar que, do
mesmo modo, Judá com quem Deus se havia cingido para
andar entre os povos, antes belo e glorioso, deteriorava-se e
seria lançado fora.
Cap. 18:1-6 — O VASO E O OLEIRO: Ilustração
adequada para revelar o absoluto poder e direito que Deus
tem em governar os seres que criou e as nações que chamou
à existência.
Cap. 19:1-2 — A BOTIJA QUEBRADA: Pode ter sido
de fabricação esmerada. Ao quebrar propositadamente o
vaso de barro, na presença de um grupo de anciãos, levados
por Jeremias ao Vale de Hinon, ilustrou quão facilmente
Jerusalém seria destruída, enfatizando o anúncio da ruína
que pendia sobre a orgulhosa cidade.
Cap. 27 e 28 — BROCHAS E CANZIZ: Segundo
instruções do Senhor, Jeremias fez um jugo e o colocou no
pescoço. E andou pela cidade, dizendo que a Babilônia
subjugaria Israel e as nações vizinhas. Um dos falsos
profetas, Hananias, desaforadamente, confrontou-se com

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


121

Jeremias no templo e quebrou o jugo de madeira (28:10),


como castigo, morreu dois meses mais tarde (28:1,27).
Cap. 35 — OS RECABITAS: Eram uma tribo que vinha
dos tempos de Moisés (ICr 2:55; Nm 10:29-32; Is 1:16; IIRs
10:15-16, 23), que, através dos séculos, seguia o ideal do
deserto, abstendo-se do que lhes parecia ser influências
degenerativas da vida na cidade. A fidelidade dos recabitas24
aos preceitos dos pais contrastava com o desprezo de Israel
para com as alianças de Deus.

Visão dos cestos de figos (24:1-10)

Dois cestos de figos postos diante do templo, depois que


Nabucodonosor levou cativos Jeconias e outros para
Babilônia, em 597 a.C. Um cesto tinha figos bons e, o outro,
figos estragados. Os figos bons representavam os que
haviam sido deportados e aos quais havia sido prometido o
retorno à Palestina. O cativeiro era para educar e firmar
Israel.

__________________________________________________________________________
24O Senhor elogia os recabitas “(...) não por seu estranho
comportamento, mas pela tenacidade com que se apegavam ao que criam
ser certo”. — Comentário Bíblico Moody.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


122

Dali sairia o que de melhor havia em Israel. Os figos


ruins ilustravam aqueles que haviam permanecido na
Palestina ou os que fugiram para o Egito, de onde não lhes
fora prometido retorno ou restauração. Os que ficaram na
terra misturaram-se com os elementos trazidos pelos reis,
formando os samaritanos.

Visão do Fim (25:1-38)

Na batalha final de Carquemis (605 a.C.), os babilônios


derrotaram os egípcios e terminaram então com o domínio do
Faraó Neco sobre a Palestina. Nesta batalha Jeremias vê a
vontade de Deus. Os babilônios eram inimigos do Norte
dirigidos por Deus, a fim de levar a cabo o seu julgamento
sobre Judá.
Após os 70 anos de cativeiro, Judá veria a destruição da
Babilônia.

Um capítulo fundamental: “O capítulo 25 deve ser


cuidadosamente verificado de novo. Em primeiro lugar,
marca exatamente o ponto de partida do ministério profético
de Jeremias (v. 3). Em segundo, definitivamente prediz o
cativeiro de setenta anos na Babilônia, com vinte anos
inteiros de antecipação (versículo 11, com a data no versículo

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


123

1). Em terceiro, mostra claramente que os capítulos de 46 a


51 — o grupo de profecias de Jeremias sobre as nações
gentílicas — já estavam compostos em forma de “livro” (vv.
13, 17-26) no quarto ano de Jeoaquim, vinte anos antes do
exílio, embora estejam agora colocados no fim do livro de
Jeremias como chegou às nossas mãos”.25

O VALOR TEOLÓGICO DE JEREMIAS

Jeremias mostra a profecia em carne e osso. Ele queria


identificar-se com seu povo e viver uma vida normal. Em vez
disso, teve de pregar contra seu povo e enfrentar outros
profetas e depois perguntar a Deus: “Por quê?”. Por meio da
humanidade do profeta, Deus falou a Judá e às nações
durante a maior crise de Israel. Deus mostrou que a
obediência, a justiça e a piedade o agradavam e garantiam o
futuro da nação. A tradição na teologia e no culto nada
garantiam.
Deus podia inverter posições políticas para disciplinar o
povo de sua aliança e depois reconduzi-lo para si.

___________________________________________________________
25J. Sidlow Baxter. Examinai as Escrituras. Edições Vida Nova, p. 287.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


124

Nabucodonosor foi bem-sucedido na conquista de


Jerusalém porque era agente do julgamento divino contra seu
povo pecador. No final, porém, as nações em sua arrogância
enfrentariam a ira de Deus, enquanto Israel seria o povo de
uma aliança nova e sincera.
Jeremias afirmou que o plano maior de Deus era
abençoar seu povo (29:11). Os planos de Deus, porém, são
condicionados pela resposta humana (18:7-10). A rebeldia
persistente pode gerar punição, mesmo quando Deus
promete bênção. O arrependimento pode evitar a tragédia,
mesmo quando Deus promete julgamento.
Jeremias afirma a infidelidade do povo de Deus e a
necessidade de intervenção divina para salvá-lo. Jeremias
antevê um tempo em que Deus escreveria uma nova aliança
no coração do povo de Deus, quando Deus seria conhecido
em comunhão íntima, quando Ele já não se lembraria dos
pecados do povo (31:31-34). As esperanças de Jeremias
cumprem-se no novo relacionamento com Deus que se
tornou possível pela morte de Cristo (Hb 11:12-22).

CRONOLOGIA DAS PROFECIAS DE JEREMIAS


REINADO DATAS CAP PROFECIA OU
ACONTECIMENTO

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


125

Josias 627- Jr. 1-20 Mesmo durante a reforma de


609a.C. Josias, Jeremias anunciou o
julgamento de Judá em virtude dos
pecados de Manassés (15:4).
Estão intercaladas curtas vinhetas,
sem data, de profecias mais
recentes.
Com a morte de Josias, acabou a reforma e principiaram os
maus reinados dos seus filhos.
Jeoaquim 609 26 Jeoaquim, no seu 1º ano,
605 35:1-10 procurou matar Jeremias.
A desobediência de Judá em
605 25 contraste com os obedientes
recabitas.
605 36 O não arrependimento de Judá
trará 70 anos de desolação por
605 45 intermédio da Babilônia.
Jeoaquim despreza e queima a
605 46-49 palavra de Jeremias vinda do
Senhor.
Jeremias encoraja Baruque, seu
fiel secretário, a se proteger
durante o próximo julgamento
vindo da Babilônia.
Quando a Babilônia derrotou o
Egito em Carquemis, Jeremias

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


126

anunciou o julgamento do Egito e


de toda a Palestina.
A rebelião de Jeoaquim e Jeconias resultou na deportação para
a Babilônia, em 597.
Zedequias 597 24 Retratou a administração de
Zedequias como “figos ruins” e
597 27 comparou o grupo exilado de
Jeconias a “figos muito bons”.
Jeremias admoestou a
594 28 Zedequias e a todas as nações a
594 29 submeterem-se à Babilônia, e os
falsos profetas aconselharam o
594 50-51 contrário.
Falso profeta Hananias morreu
por contradizer Jeremias.
O falso profeta Semaías foi
amaldiçoado por contradizer a
profecia de Jeremias dos 70 anos
de cativeiro.
Jeremias avisou os judeus da
Babilônia da próxima destruição
total daquela nação em virtude do
seu orgulho e depravação.
Nabucodonosor começou o cerco a Jerusalém, em janeiro de
588 (Jr 39:1; 52:4).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


127

Sem data 30 Jeremias anunciou uma futura


restauração de Israel e Judá,
Sem data
31 depois do “tempo de angústia para
Jacó”.
588
21-23 Jeremias predisse uma “nova
aliança” substituindo a mosaica, a
ser firmada com Israel e Judá
depois da restauração.
588
32-33 Quando a Babilônia cercou
Jerusalém, Zedequias dirigiu-se a
Jeremias em busca de um milagre
587
37 de livramento; o pedido do rei é
recusado e Zedequias ouviu a lição
histórica de como o Senhor julgou
587
34 os seus iníquos irmãos.
Jeremias comprou um campo
perto de Jerusalém, como símbolo
587
38 de uma futura restauração. Essa
restauração virá por um “Renovo
de justiça” de Davi, o qual garantirá
586
39, 52 a continuação de Israel.
Jeremias novamente na prisão
(quando a Babilônia se ausentou
ligeiramente para combater o
Egito) reafirmou a Zedequias a
certeza do cativeiro.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


128

Jeremias denunciou os líderes


por deixarem de cumprir a aliança
de libertar os escravos, outro
motivo para a vinda do próximo
julgamento pela Babilônia.
Jeremias (na prisão) repetiu o
conselho para submeterem-se à
Babilônia e evitarem a destruição
de Zedequias, de sua família e de
Jerusalém.
Babilônia tomou Jerusalém; os
filhos de Zedequias e os nobres
foram mortos; Zedequias ficou
cego e foi para o exílio enquanto
Jeremias foi libertado.
Jerusalém foi destruída em agosto de 586 (Jr 52:12).
Gedalias 586 40-44 Gedalias, governador, foi morto
por rebeldes. Jeremias foi levado
ao Egito; ali ele denunciou a
idolatria dos judeus e predisse a
destruição do Egito quando a
Babilônia chegasse.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


129

LAMENTAÇÕES DE

LIVRO: 5 CAPÍTULOS
GRUPO: PROFETAS MAIORES
PERÍODO: 586 A.C.
AUTORIA: JEREMIAS?

PARECER DE JEREMIAS SOBRE JESUS

O OLHAR MISERICORDIOSO E PIEDOSO DE


JEREMIAS PARA COM O POVO, REPRESENTA UM
POUCO DE OLHAR DE MISERICÓRDIA QUE JESUS
TEVE POR NÓS, AO MORRER PELOS NOSSOS
PECADOS E GARANTIR VIDA ETERNA A TODO
AQUELE QUE O CONFESSAR COMO SENHOR E
SALVADOR

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


130

Muro das Lamentações dos Judeus

Jerusalém sofreu diversas destruições maciças, e três


delas terminaram no “nono dia de Abe” (9 de agosto,
conforme H. H. Ben-Sasson, History of the Jewish People,
pág. 333). Foram elas a destruição pelos babilônios em 586
a.C., pelos romanos em 70 d.C. e a destruição romana do
movimento messiânico de Bar Kocheba no ano 135. Todas
elas foram catastróficas para a nação na sua época, e o
“Nono dia de Abe” tornou-se o dia da comemoração desses
holocaustos pelos judeus do mundo todo.
Nesse jejum anual o
Livro de Lamentações é
lido nas sinagogas ao
redor do mundo, sendo
que em muitas delas
também o leem todas as
26
sextas-feiras.
Ao longo de uma
história de sofrimento, ao
recitar esses poemas de lamentação, os judeus dispersos
têm sido ajudados no extravasamento do seu pesar e
desespero, e reativado a esperança de um futuro
rejuntamento na “cidade santa”.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


131

26Todas as sextas-feiras, anciãos e jovens israelitas, de ambos os sexos,


congregam-se no Lugar das Lamentações em Jerusalém, perto da esquina
sudoeste dos alicerces do velho templo, onde um muro de 47 metros de
comprimento e 17 metros de altura, é venerado ainda como uma memória do
santuário. Escreve o Dr. Geikie: “É comovedor ver a fila de judeus de muitas
nações, vestidos com seus mantos pretos, como sinal de luto, lamentando em
voz alta a ruína da casa cuja memória ainda é tão querida para sua raça, e
recitando os tristes versículos das Lamentações e dos Salmos apropriados,
entre lágrimas, enquanto beijam fervorosamente as pedras”.

Nenhum outro profeta teve tal identidade de sentimentos


com o povo ou fez parte tão intimamente dos seus pesares e
julgamento. Durante quase 50 anos, Jeremias ficou com a
nação recalcitrante enquanto ela passa por suas mais
profundas provações. Ele aconselhou-a do centro do
redemoinho.
Ao invés de obter o respeito do povo, foi humilhado,
denunciado, preso num calabouço e rotulado de traidor.
Suportou depois o cerco e a fome, presenciou a entrada
ruidosa do inimigo, a pilhagem, o massacre e o incêndio do
templo e da cidade. Levado a Ramá (ao norte de Jerusalém),
foi libertado das correntes para testemunhar mais tarde a
matança da maioria dos habitantes de Jerusalém e a partida
de 4.600 pessoas acorrentadas para a Babilônia. Preferiu
ficar em Mispa com Gedalias, o governador nomeado.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


132

Sofreu ainda, porém, a provação do assassínio de


Gedalias na rebelião de Ismael e Joanã, e foi levado para o
Egito, onde o ultrajaram outra vez (Jr 41-44). Dizem que ele
foi apedrejado pelo seu próprio povo por condenar sua
ininterrupta idolatria e impenitência. Poucos profetas tiveram
mais motivos de pesar do que Jeremias, conforme ele
expressa em Lamentações 3:48-49.

Cenário religioso

1. A época da redação desse livro foi a mais sombria


hora da religião de Israel. Todos os alicerces da sua fé
pareciam ter desaparecido. A cidade escolhida por Deus fora
arrasada, o templo projetado e habitado pelo Senhor tornara-
se um monte de cinzas, o povo tinha sido levado para a terra
idólatra da sua origem, Babilônia. Até mesmo o próprio
Senhor recusara-se a ouvir as orações dos judeus (Jr 14:11-
12). Os 40 anos de pregação de Jeremias pareciam ter ficado
sem a menor reação aparente.
2. A destruição do templo trouxe uma nova era à religião
de Israel, a era da dispersão da sinagoga.
Já não havendo templo, muito do sistema ritual foi
suspenso, pois as ofertas que acompanhavam as festas e os
acontecimentos sagrados só podiam ser feitas no altar do

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


133

templo. Na Babilônia, os judeus aprenderam a adorar e a


estudar a Torah em pequenas reuniões que os rabinos
chamavam de pequenos “santuários”, ou sinagogas (Ez
11:16). Ali os fiéis eram obrigados a lembrar e aprimorar sua
fé a fim de sobreviver como raça no meio da cultura pagã.
3. Da fé de Israel na aliança só lhes restavam as
Escrituras com as promessas da aliança do Senhor para com
os antepassados. Despojados de todas as outras coisas,
tiveram de meditar nas profecias e contar com elas mais do
que nunca.

Características do Livro das Lamentações

É constituído por um poema de cinco partes, construído


em forma de acróstico. Todos os capítulos exceto o central
possuem 22 versículos, enquanto o do meio tem 66. Isso
ocorre porque há 22 letras no alfabeto hebraico e os
versículos dessas cinco elegias (cada elegia estando
representada por um capítulo completo em nossa versão)
seguem sucessivamente o alfabeto, cada versículo
começando, em ordem, com uma das 22 letras. A terceira
elegia está construída com 22 tercetos, sendo que cada um
destes inicia com uma letra do alfabeto hebraico, em
sequência.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


134

Autoria das Lamentações

Assim registrou Dr. Shedd: “Desde os tempos mais


antigos, os judeus e, posteriormente, os cristãos têm atribuído
o livro de Lamentações à pena de Jeremias. A Septuaginta
declara tal atribuição desde o segundo século a.C., e a
Vulgata latina desde o quarto século d.C. Argumentos
convincentes baseados na tradição judaico-cristã sobre a
autoria de Jeremias têm sido apresentados. Aceitando-se a
autoria de Jeremias, portanto, o livro de Lamentações se
torna um ‘suplemento’ do livro de Jeremias, que tão
frequentemente prediz uma catástrofe tal como aquela que é
descrita em Lamentações. Porém, as lamentações de
Jeremias são inteiramente isentas daquela atitude mental
que diz ‘eu bem disse’. Ele preocupa-se tão somente em
lamentar as aflições de Jerusalém, e em pleitear perante
Deus que não a rejeite para sempre”.

Valor ético e teológico dos Lamentos de Jeremias

“Lamentações diz que não há nenhum lugar como a


nossa pátria, especialmente quando esta deixa de existir. O
livro mostra a face honesta da oração no meio da tragédia.
Lamentações dá ao povo de Deus a liberdade de questionar

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


135

e, mesmo assim de experimentar sua presença. Ele mostra


que o caminho da esperança é pavimentado com
honestidade e questionamentos misturados com louvor. A fé
cresce no meio da crise, quando o povo de Deus leva seus
problemas a Ele”.
ESBOÇO DAS LAMENTAÇÕES DE JEREMIAS
Tema: A miséria humana e o significado divino da destruição de
Jerusalém.
Lamento l Lamento 2 Lamento Lamento 4 Lamento 5
Má Causas 3 Caráter Clamor dos
situação de divinas do Tristeza de degenerado restantes de
Jerusalém julgamento Jeremias e do povo Jerusalém
de mais
Jerusalém fatores das
aflições
- Descrição -Adversário -Cota do - Sua - Sua
geral das (1-8) profeta no depravação necessidade
aflições (1- -Agonia (9- sofrimento é um de amparo
11) 16) de Sião (1- lembrete de como órfãos
- -Súplica 18) Sodoma (1- (1-10)
Prolongada (17-22) - Aflição, 10) - Sua
lamentação mas - Sua provação de
do esperança desolação é sofrimento
povo (12- (19-38) um como
22) - Súplica julgamento criminosos
nacional e (11-18)

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


136

pessoal do Senhor - Seu apelo


(39-66) (11-20) pela
- Sua salvação
destruição é como
uma lição arrependidos
para Edom (19-22)
(21-22)
JULGAMENTOS DIVINOS QUE ISRAEL—JUDÁ DEVE SOFRER
Paralelos entre Lamentações e Deuteronômio
(ISRAEL) Essência dos Lamentações Deuteronômio
Julgamentos
Judá (Israel) espalhado entre as 1:3 28:65
nações não encontrará paz nem
segurança.
Judá (Israel) será o escravo de 1:5 28:44
forças estrangeiras e a cauda das
nações.
Seus filhos e filhas serão cativos 1:5 28:32
em nações pagãs.
Em fraqueza fugirão ante o 1:6 28:25
perseguidor e serão
absolutamente derrotados. As
defesas falharão e os soldados
fugirão em sete direções em total
confusão.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


137

Os jovens serão levados e feitos 1:18 28:41


escravos. Os pais os perderão
para sempre.
O povo de Judá (Israel) será 2:5 28:37
objeto de canções zombadoras,
escárnio e desprezo.
Mães, no seu desespero, 2:20 28:53
comerão os próprios filhos para
não morrer de fome.
O pecado, especialmente o da
idolatria, cobrará um alto preço
em sofrimento.
Jovens e velhos morrerão juntos 2:21 28:50
na poeira das ruas.
O inimigo não respeitará idade
nem sexo.
Mães, com as próprias mãos, 4:10 28:56-57
cozinharão seus filhos. As mais
gentis esconderão seus filhos
para comê-los depois do ataque
do inimigo. As esposas não mais
respeitarão seus maridos, mas se
tornarão animais selvagens.
A herança de Israel dada no 5:2 28:30
Pacto Abraâmico passará às
mãos dos estrangeiros selvagens.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


138

O judeu construirá uma casa, mas


nunca morará nela. As
propriedades ficarão à disposição
dos invasores e seus filhos.
Perseguidos, os judeus não 5:5 28:65
encontrarão paz no exílio. A
espada os seguirá até lá e
continuará a matança. O pecado
cobrará um alto preço dos
desobedientes.
Os sofrimentos no exílio serão 5:10 28:48
variados e severos. A fome fará a
pele dos cativos queimar como se
estivesse sujeita a um forno.
Mulheres casadas e virgens serão 5:11 28:30
estupradas nas ruas de Sião.
Uma mulher prometida a um
judeu nunca se tornará esposa
dele, mas cairá íntima de um
soldado impiedoso.
Os velhos não serão respeitados 5:12 28:50
e não receberão misericórdia.
Cairão vítimas das mesmas
brutalidades.
O Monte Sião tornará uma pilha 5:18 28:26
de entulho e animais selvagens
farão dele seu lugar de

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


139

assombração. Os muitos e
radicais pecados de Judá (Israel)
exigirão múltiplos e radicais
castigos, servindo de agentes de
restauração para o remanescente
que sobreviver.

BABILÔNIA

Babilônia é nome de um país e também da sua principal


cidade.
A Babilônia dominou o cenário político do Oriente
Próximo em vários períodos entre 3000 a.C. e 539 a.C. Para
o estudioso da Bíblia, a Babilônia é mais famosa como a
nação que conduziu Judá para o exílio em 586 a.C. e que
destruiu Jerusalém. Em hebraico, o nome Babilônia está bem
relacionado com a palavra Babel (Gn 10:10; 11:9).
As origens da Babilônia perdem-se nos estratos
arqueológicos abaixo da linha de água corrente no antigo sítio
da cidade localizado cerca de 80 quilômetros ao sul da atual
Bagdá. Pouco depois de 2000 a.C., na época de Abraão, a
história da Babilônia torna-se acessível para estudos
modernos. Os reis amorreus, como o famoso Hamurábi

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


140

(cerca de 1792- 1750 a.C.), conduziram a cidade à


ascendência internacional.
Os reis hititas destruíram a cidade da Babilônia, pondo
fim a essa dinastia babilônica em cerca de 1595 a.C. Um
período acerca do qual pouco sabemos é o que veio sob o
domínio de reis cassitas.
Em cerca de 1350 a.C., os reis da Babilônia eram
importantes o suficiente para manter correspondência com
reis egípcios. A correspondência deles mostra problemas que
ferviam no norte da Assíria. As conquistas elamitas puseram
termo a essa fase da história babilônica em cerca de 1160
a.C.
Um breve reflorescimento com Nabucodonosor (cerca
de 1124-1103 a.C.) foi seguido por 200 anos de obscuridade
e fragilidade. Os caldeus e outras tribos nômades ocuparam
boa parte da Babilônia. Pouco depois de 900 a.C., a Assíria
assumiu o controle da Mesopotâmia, incluindo a Babilônia.
Os assírios muitas vezes permitiam que os reis babilônios
reinassem como vassalos, pagando-lhes tributo.
Em 721 a.C., o caldeu Marduque-apal-iddina (chamado
Merodaque-Baladã no AT) governava a Babilônia. Em 710
a.C., Sargão II da Assíria forçou Marduque-apal-iddina a fugir
para junto de seus aliados em Elão. Ele voltou para a

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


141

Babilônia com a morte de Sargão em 705 e, pelo que parece,


enviou mensageiros a Ezequias (IIRs 20:12-19; Is 39).
Senaqueribe da Assíria retomou o controle em 703 a.C.,
destruindo finalmente a cidade da Babilônia em 689 a.C. em
reação às revoltas apoiadas por Elão.
Nabopolassar, chefe caldeu, estabeleceu a
independência babilônica em 626 a.C. Em 612, com a ajuda
dos medos, ele destruiu Nínive, capital assíria. O faraó Neco
do Egito marchou em defesa da Assíria em 609 a.C., mas não
conseguiu rechaçar os babilônios.
Nabucodonosor, o príncipe da coroa, liderou a Babilônia
na vitória decisiva sobre o Egito em Carquêmis em 605 a.C.
(cf. Jr 46.2-12).
Quando se tornou rei, Nabucodonosor forçou Jeoaquim
de Judá a pagar tributo como seu vassalo em 603 a.C. Uma
vitória egípcia temporária em 601 encorajou Jeoaquim a se
rebelar (cf. IIRs 24:1-2). Por fim, a Babilônia retaliou e forçou
o novo rei de Judá, o jovem Joaquim, a se render em 16 de
março de 597 a.C. Muitos judeus foram exilados para a
Babilônia (IIRs 24:6-12). Nabucodonosor nomeou Zedequias
como rei de Judá, mas ele também se rebelou em 589 a.C.,
apenas para ser logo derrotado em 586. Essa derrota
acarretou a destruição de Jerusalém e de seu templo e o

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


142

exílio dos principais cidadãos para a Babilônia (ver Jr 37:4-


10; 52:1-30; IIRs 25:1-21).
A morte de Nabucodonosor deu início ao declínio
gradual da Babilônia ao longo de alguns reis que se seguiram
a ele: Awel-Marduque, o Evil-Merodaque de IIRs 25:27-30
(561-560 a.C.); Neriglissar (560-558 a.C.), Labashi-Marduque
(557 a.C.) e Nabonido (556- 539 a.C.). Nabonido, ao que
parece, tentou substituir o deus babilônio Marduque pelo
deus-lua Sin, e mudou-se para Tema, no deserto da Arábia,
onde permaneceu dez anos, deixando seu filho Belsazar no
cargo (cf. Dn 5:1). A população babilônia ficou desanimada e
recebeu de bom grado a invasão de Ciro da Pérsia, deixando-
o entrar pelas portas sem oposição em 539 a.C. A Babilônia
estabeleceu uma sociedade complexa e sofisticada, em que
se adoravam oficialmente mais de mil deuses, ainda que
cerca de só vinte exercessem forte influência. Entre eles
estavam Anu, deus dos céus, Enlil, deus da terra e Ea, deus
das águas. No auge político da Babilônia, porém, o principal
deus era Marduque, deus padroeiro da cidade de Babilônia.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


143

Marduque era também chamado Bel ou senhor (ver Is


46:1; Jr 50:2; 51:44). Entre os outros deuses estavam
Shamash, o deus-sol; Sin, o deus-lua, Istar, a deusa da
estrela da manhã e do anoitecer. Istar era conhecida como a
Rainha dos Céus (ver Jr 7:18; 44:17-19). Arqueólogos
descobriram milhares de
placas babilônicas, em que se
registram muitos textos
narrativos, tais como o Enuma
elish, a história da criação, e a
Epopeia de Gilgamés, a
história do dilúvio. Para os
judeus e para os cristãos, a
Babilônia tornou-se sinônimo do mal e o arqui-inimigo (ver IPe
5:13; Ap 14:8; 16:19; 17:5; 18:2).

Nabucodonosor fez da Babilônia uma cidade magnífica. O portão de


Ishtar (aqui reconstruído) e o caminho processional conduziam aos grandes
templos. O portão era feito de tijolo esmaltado azul, decorado com figuras
de animais. (Um dos fornos de tijolo fora da cidade pode ter sido a “fornalha
de fogo ardente”de que fala Daniel.) Imagem usada na Enciclopédia da
Bíblia. Edições Paulinas, 1987, p. 193.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


144

LIVRO: 48 CAPÍTULOS
GRUPO: PROFETAS MAIORES
PERÍODO: 593-571 A.C.
AUTORIA: EZEQUIEL

PARECER DE EZEQUIEL SOBRE JESUS

➢ JESUS É O REI E PASTOR SOBRE QUEM


EZEQUIEL FALOU (EZ. 34.11-31), JESUS É FONTE DE
ÁGUAS VIVAS TAMBÉM FALADA POR EZEQUIEL.
(EZ.47.1-2)

O exílio foi um período para testar ideias acerca de


Deus. A presença divina estava restrita à Palestina? Deus era
impotente contra os deuses da Babilônia? Javé podia ser
cultuado numa terra estranha? A teologia de Ezequiel estava
ajustada para essa nova situação.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


145

O Profeta

Ezequiel, filho de Buzi, veio de uma família sacerdotal


(1:3). Cresceu na Palestina, provavelmente em Jerusalém, e
foi posto no exílio em 597a.C. (ver 33:21; IIRs 24:11-16).
Devia ter vinte e cinco anos na época, pois cinco anos depois,
aos trinta (ver 1:1), foi chamado para o ofício profético, época
dos levitas entrarem em atividade (cf. Nm 4:3).
Ezequiel era feliz no casamento (24:16), e a morte
repentina da esposa, anunciada de antemão por Javé, foi
tratada como um sinal sombrio para alertar Israel (v. 15-24).
Morava em casa própria no exílio, em Tel-Abibe, próximo ao
canal de Quebar (3:15; cf. 1:1), que ficava nas vizinhanças de
Nipur, na Babilônia. Anciãos chegaram à casa de Ezequiel

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


146

buscando conselho (8:1), o que concorda com a declaração


de que ele estava “no meio dos exilados” (1:1), vivendo numa
comunidade de prisioneiros de guerra oriundos de Judá. Ele
data certas revelações pelo ano específico do exílio do rei
Joaquim. Seu
chamado
profético ocorreu
no ano 5 (593
a.C.) e a última
data registrada é
o ano 27 (571),
indicando um
ministério de pelo
menos vinte e três anos.

A ÉPOCA.

“O profeta Ezequiel dá-nos um novo ponto de partida.


Seu livro, como o de Daniel, que o segue, foi escrito no
período após haver iniciado o exílio dos judeus na Babilônia.
Tanto Ezequiel como Daniel, porém, foram levados cativos
para a Babilônia alguns anos antes do cerco final e saque de
Jerusalém em 587 a.C. — pois houve duas pequenas
deportações anteriores de judeus cativos para a Babilônia,

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


147

como vemos em IIRs 24:8-16, Jr 24:1 e Dn 1:1-4. Esses foram


os primeiros frutos daquela ceifa do cativeiro, que no final os
babilônios colheram até o último grão.”
O exílio (597-538) foi quase coincidente com o império
babilônico (612-539). O cativeiro de um grupo seleto de
judeus em 597 a.C. foi seguido de um exílio mais geral em
586.
As condições físicas do exílio eram ao que parece
aceitáveis para muitos judeus. Os babilônios não
costumavam punir povos conquistados, apenas tomavam
medidas para prevenir revoluções. Os assírios, mais cruéis,
empregavam a tática de desalojar populações, dividindo-as e
espalhando-as, fazendo com que perdessem sua identidade
nacional por meio de casamentos mistos e outras formas de
absorção. Em contraste, os babilônios deportavam pessoas
em pequenos grupos e permitiam-lhes preservar sua
identidade nacional. (Por isso, Judá teve permissão de voltar
do exílio, enquanto a maior parte dos membros das dez
“tribos perdidas” do Reino do Norte foi absorvida.).
Jeremias aconselhou uma prática de “trabalho normal”
no cativeiro (Jr 29:4-7), e isso ao que parece foi seguido pelos
exilados. Dentro em pouco, encontravam-se judeus em
empreendimentos mercantis. Quando chegou a oportunidade

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


148

de retornar para Jerusalém, muitos preferiram permanecer na


Babilônia.
A escolha deles marcou o início do centro judaico que
posteriormente produziu o Talmude Babilônico, um grande
compêndio de lei judaica completado no século VI a.C.
A forma do Livro de Ezequiel — A profecia consiste basicamente
em mensagens transmitidas por ordem de Javé, anunciadas
oralmente (3:10-11; 14:4; 20:27; 24:1-3; 43:10) e, presume-se,
juntadas pelo profeta e/ou editores de uma época posterior. Treze
datas são fornecidas, cada uma relacionada com uma revelação de
Javé.
ANO MÊS DIA (1=597/596 a.C.)

1:2 Visão Inicial 5 4 5 31 jul 593


8:1 Visão do Templo 6 6 5 17 set 592
20:1 Mensagem aos anciãos 7 5 10 14 ago 591
24:1 Relato do cerco de 9 10 10 15 jun 588
Jerusalém
26:1 Profecia contra Tiro 11 (1) 1 7 jan 587
29:1 Profecia contra Faraó 10 10 12 7 jan 587
29:17 Profecia à Babilônia a 27 1 1 26 abr 571
respeito do Egito
30:20 Profecia contra Faraó 11 1 7 29 abr 587
31:1 Profecia ao Faraó 11 3 1 21 jun 587
32:1 Lamentação pelo Faraó 12 12 1 3 mar 585
32:17 Lamentação pelo Egito 12 1 15 27 abr 586

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


149

33:21 Relato de queda de 12 10 5 8 jan 585


Jerusalém
40:1 Visão do templo 25 1 10 28 abr 573
restaurado
• Obviamente, não em sequência cronológica.

EZEQUIEL PROFETA COM MUITOS AUDIOVISUAIS

Nenhum outro profeta fez tanto uso da linguagem


figurada ou de visões.
O livro de Ezequiel está cheio de provérbios, alegorias,
ações simbólicas, pequenas descrições e visões
apocalípticas. Foram formas usadas especialmente para
chamar a atenção e imprimir as verdades no restante do povo
judeu rebelde e endurecido que estava na Babilônia. Ocorrem
em todo o livro

Veja no quadro a seguir:


1:4-28 Visão da Glória do 18:2-3 Provérbio dos pais que
Senhor como “quatro seres comeram uvas verdes.
viventes” saindo de uma nuvem. 19:1-9 Alegoria de Israel como
2:9—3:3 Ezequiel come o rolo leoa aprisionada e suas crias.
de lamentações pelo julgamento 19:10-14 Alegoria de Israel como
de Israel. videira desarraigada.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


150

3:16-27 Ezequiel torna-se mudo 21:3-22 Parábola da espada do


exceto para as mensagens Senhor, afiada e
especiais do Senhor. desembainhada.
4:1-17 O profeta encena o cerco 22:18-22 Israel é comparado à
de Jerusalém e a chegada da escória da fundição.
fome. 23:2-49 Jerusalém e Samaria
5:1-17 Ele se barbeia com são comparadas a duas irmãs
espada afiada, dividindo o adúlteras.
cabelo a fim de ilustrar o 24:2-14 Alegoria da panela e da
julgamento pela espada. carne rejeitada.
6:1 ss. Profetiza na direção das 24:16-27 Ezequiel não tem
montanhas de Jerusalém. permissão de prantear a morte
8:2 ss. Em visão, é levado ao de sua esposa, como um sinal
templo de Jerusalém para para Israel.
observar a idolatria. 27:1-36 Alegoria do orgulho e do
9:1-2 Executores da cidade navio que se afunda.
preparam-se para destruí-la 28:12-19 Retrato da criação e da
enquanto os restantes justos expulsão do querubim “rei de
são marcados para ser Tiro”.
preservados. 29:2 ss. O Egito é comparado a
10:2 ss. O querubim espalha dragão do Nilo.
brasas sobre Jerusalém, Apanhado em armadilha em
indicando conflagração. 32:2-10.
10:4-22 A Glória afasta-se da 31:2-18 Alegoria do corte de dois
cidade e do templo sobre rodas cedros, Assíria e Egito.
girantes dos querubins. 34:2-10 Líderes de Israel são
comparados aos pastores

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


151

12:3 ss. Ezequiel encena a homicidas, em contraste com o


queda de Jerusalém fazendo Senhor, o verdadeiro Pastor.
pacotes e esgueirando-se pelo 37:1-14 Parábola dos “ossos
muro da cidade. secos”, mesmo sem vida, dando
13:10-16 Jerusalém é origem à casa de Israel.
comparada a uma parede 37:16-22 Parábola dos “dois
caiada prestes a cair. pedaços de pau” unidos, como
14:13-23 Julgamento inevitável, símbolo de Judá e Israel.
mesmo com orações como as 40—42 Visão do agrimensor
de Noé, Daniel e Jó. medindo Jerusalém e o templo
15:2-6 Jerusalém é comparada para construção.
a uma videira em combustão. 43:2-7 Visão da volta da Glória
16:2-63 Jerusalém é comparada do Senhor ao novo templo.
a uma esposa meretriz.
17:2-10 Alegoria de Israel como
cedro; Babilônia e Egito como
duas grandes águias.
17:22-24 Alegoria do renovo do
cedro a ser plantado em Israel.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


152

CARACTERÍSTICAS DA PROFECIA DE EZEQUIEL

Alegorias e Atos Simbólicos.

O livro de Ezequiel inclui certo número de alegorias:


Jerusalém como uma vinha (cap. 15) e esposa de Javé (16:1-
43), águias imperiais (17:1-21), a dinastia davídica como uma
leoa (19:1-9) e uma vinha (19:10-14), a espada do juízo (21:1-
17), Oolá e Oolibá representando as duas capitais
corrompidas, Samaria e Jerusalém (23:1-35) e a panela de
destruição (24:1-14).
A profecia também inclui uma série de atos simbólicos
ou dramáticos (às vezes chamados “profecia vivenciada”).
As alegorias eram um recurso constante da profecia de
Ezequiel, a que os exilados faziam objeção (20:49). Eram
uma tentativa de representar de forma “teatral” a verdade
simples da queda iminente de Jerusalém e do fim da nação
de Judá. Seus ouvintes não estavam dispostos a ouvir,
somente a esperança de retorno iminente os mantinha em pé.
Para vencer essa resistência natural, o profeta recorreu a
várias imagens.
Os atos simbólicos tinham o mesmo propósito. A
catástrofe iminente foi encenada de maneira dramática, para
reforçar os oráculos de julgamento. Em 37:15-23, a

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


153

mensagem de restauração e reunião do reino dividido foi


dramatizada com um ato simbólico em que dois pedaços de
madeira foram permanentemente juntados para se tornarem
um.
“Filho do homem”. Esse título, traduzido como “mortal”
na BLH, é empregado cerca de noventa vezes em Ezequiel,
sempre por Javé dirigindo-se a Ezequiel. Como forma de
tratamento, em outra parte do Antigo Testamento, aparece só
uma vez em Daniel 8:17.
A expressão ocorre em todo Ezequiel, muitas vezes
precedido pela fórmula de recepção da mensagem: “Veio a
mim a palavra do Senhor”. Ocorre em contextos de
convocação (por exemplo, 2:3: “Filho do homem, eu te envio
aos filhos de Israel...” cf. 2:1; 3:4).
É pouco provável que o título “filho do homem” em
Ezequiel deva ser comparado com o mesmo título empregado
por Jesus em referência a si mesmo (empregado em outra
parte somente por Estevão; At 7:56). É questionável,
também, que tenha alguma relação com a expressão “um
como o filho do homem” em Daniel 7:13. É mais provável que
o título fosse usado para destacar a natureza humana do
agente em contraste com a fonte divina da mensagem.
O título com frequência precede a fórmula do
mensageiro, “Assim diz o Senhor Deus”. Em contraste com o

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


154

Senhor divino transcendente, Ezequiel recebe um papel


humilde, como mero mortal.
“Volve o Rosto Contra”. Em nove ocasiões, os
oráculos de Ezequiel são introduzidos pela instrução: “Volve
o rosto contra...” Isso parece reflexo de um costume arcaico
de fitar o objeto de uma profecia (Nm 24:2; IIRs 8:11). Tal
olhar profético é um reforço físico do foco da mensagem
divina. (Pode-se também comparar a noção dos exilados
orando em direção ao templo em IRs 8:48 cf. Dn 6:10).
Essa fórmula é empregada em mensagens aos montes
de Israel (6:2), às falsas profetisas (13:17), ao sul (20:46), a
Jerusalém (21:2), aos amonitas (25:2), a Sidom (28:21), ao
Faraó, rei do Egito (29:2), ao monte Seir (35:2) e a Gogue
(38:2). Quando envolvem lugares ou pessoas distantes, essa
fórmula não implica que Ezequiel tenha viajado para anunciar
seus oráculos. Antes, como no discurso retórico ao Faraó em
31:2; 32:2, tais oráculos eram evidentemente voltados para
os ouvidos dos exilados, sendo anunciados para essa
audiência.
“Eu Sou Javé”. Essa fórmula de autodesignação ocorre
muitas vezes em Ezequiel e pode ser considerada marca
registrada do livro. A mesma expressão aparece em Levítico
(18:2, 4-6, 30, etc.). O propósito ou resultado pretendido nas
mensagens de Ezequiel é muitas vezes expresso na fórmula

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


155

de “reconhecimento”: “para que saibais que eu sou o Senhor”


(6:7, 14; 7:4, 27; 11:10 etc.). A derrota e o exílio do povo
escolhido criou uma necessidade dolorosa de defender Javé
diante de Israel e do mundo e deixar claro seu verdadeiro
caráter e vontade.
As Visões de Deus. Conforme registrado no capítulo l,
Ezequiel viu uma teofania ou manifestação terrena de Javé,
antes de ouvir a comissão para atuar como profeta de
julgamento. A teofania apresentava Deus chegando numa
tempestade com fogo e sentado num trono de julgamento. O
trono ficava sobre uma plataforma ou firmamento (BLH,
“cobertura”), sustentada por “seres viventes” cujas asas
carregavam a estrutura da terra. Debaixo dele havia rodas
controladas de maneira invisível pelas criaturas, para
locomoção sobre a terra.
Essa visão complicada fundia concepções israelitas
antigas com outras representações do Oriente Próximo,
evidentemente conhecidas dos exilados. Apresentava ao
povo uma imagem poderosa do caráter transcendente e
aterrador do Deus que havia julgado seu povo.
O dispositivo sobrenatural semelhante a uma carruagem
do capítulo 1 reaparece nos capítulos 8—11, numa visão da
destruição de Jerusalém e de seus cidadãos. Parou no átrio
do templo (10:3). O fogo que arde na base (1:13) fornece

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


156

brasas para queimar a cidade (10:2, 6-17). Seus “seres


viventes” são agora chamados “querubins” (10:1-3). A nova
designação tem o intuito de induzir a comparação com a
representação estática da presença divina dentro do templo,
a arca com seus querubins (9:3). Javé abandona o templo,
monta no trono móvel e parte da cidade (10:18-19; 11:22-23),
deixando Jerusalém entregue a sua sorte.
Na visão do novo templo nos capítulos 40ss., o
dispositivo, descrito como a “glória” divina, vem para assumir
residência (43:2,4-5; 44:4). A nova Jerusalém recebe um
novo nome apropriado: “O Senhor Está Ali” (48:35). A
presença divina restaurada deve ser a garantia de bênçãos
para os exilados após seu retorno à terra.

Os Pecados de Judá.

A base da punição de Deus é dada em Levítico 26:14-


33: “se me não ouvirdes e não cumprirdes todos estes
mandamentos [...] Voltar-me-ei contra vós outros...” (v. 14,
17). Ezequiel constrói sobre esse tema, ecoando Levítico 26,
especialmente nos capítulos 4—6. O profeta ataca o culto não
ortodoxo nos lugares altos ou santuários locais em todo Judá
(cap. 6). Descobre que a própria área do templo é cenário de
atos grosseiros de idolatria (8:4-16). Além disso, ele denuncia

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


157

os pecados sociais irrestritos em Judá e em Jerusalém (7:23;


9:9; 22:6-13, 25-29). A capital é caracterizada como infiel a
Javé, seu protetor, tanto por abrigar formas pagãs de culto,
especialmente o sacrifício de crianças, como em seu recurso
político a alianças estrangeiras (16:15-29; 23:11-21, 36-45).
Os pecados da geração presente do povo da aliança são o
auge de uma longa história de rebelião (2:3,4). Jerusalém não
é a cidade gloriosa de Deus decantada pela teologia de Sião,
adotada por seus líderes: seus pecados são uma expressão
de suas origens pagãs (16:3). A podridão de Israel remonta à
época de sua redenção do Egito: o povo reagia regularmente
com truculência para com a graça divina (20:5-31).

Um Programa de Renovação Moral.

Tanto Jeremias como Ezequiel citam um provável


provérbio da época: “Os pais comeram uvas verdes, e os
dentes dos filhos é que se embotaram” (Jr 31:29; Ez 18:2).
Ele atribui a situação presente do exílio à geração
anterior e prenuncia o fatalismo dos “filhos” do exílio. Num
oráculo posterior a 586, Ezequiel apresenta em resposta um
princípio duplo: “a alma que pecar, essa morrerá”, mas “o [...]
justo, certamente, viverá” (Ez 18:4-9). A promessa divina de
vida escatológica e restauração à terra (cf. 37:14) deve ser a

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


158

motivação para uma vida moralmente boa, mesmo no exílio.

Os exilados são acusados de ter vivido em transgressão


dos mandamentos tradicionais de Deus (18:5-9). É tarde
demais para mudar? De maneira alguma. Javé convida os
perversos a se arrepender (18:21-23) e a herdar a vida
prometida a seu povo obediente (18:30-32). Ezequiel assim
infunde nos exilados desmoralizados algo por que viver e os
desafia a enfrentar a realidade espiritual.

SÍNTESE DE EZEQUIEL

O JULGAMENT O
DE JUDÁ PECADOR
(Ez 1:1—24:27)

O chamado de
Ezequiel (1:1—3:27)

Ezequiel vê a glória de Deus (1:1-28). Em 593 a.C., o


Senhor revelou sua glória a Ezequiel por meio de uma visão
sofisticada: uma nuvem de tempestade vindo do norte; em
meio à tempestade, apareceram quatro criaturas aladas
flamejantes. Cada uma combinava características humanas

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


159

e animais (bem parecidas com algumas das divindades


menores retratadas na arte do antigo Oriente Próximo).
Acompanhando cada criatura em todos os seus movimentos
havia uma grande roda cujo centro era cheio de olhos. Uma
plataforma brilhante estendia as asas acima das criaturas,
fazendo um barulho ensurdecedor ao se mover.
Acima da plataforma havia um trono feito de pedras
preciosas. Uma figura humana, chamejante como fogo e
cercada de esplendor radiante, sentava-se no trono.
Percebendo que via uma representação da glória de Deus,
Ezequiel caiu com o rosto em terra.
A missão de Ezequiel (2:1—3:27). O Senhor levantou
Ezequiel e o convocou como mensageiro para o Israel
rebelde. Ele encorajou o profeta para que não temesse,
mesmo diante de hostilidades ou perigos intensos. Ezequiel
devia proclamar a palavra do Senhor, quaisquer que fossem
as reações. Para simbolizar sua convocação, o Senhor
instruiu Ezequiel a comer um rolo que continha palavras de
lamentação e julgamento. Ele prometeu dar a Ezequiel a
determinação, a perseverança e a firmeza de que ele
precisaria para enfrentar seus ouvintes obstinados.
Depois desse encontro com o Senhor, o Espírito divino
conduziu Ezequiel à comunidade exilada em Tel-Abibe na

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


160

Babilônia, onde se assentou em silêncio perplexo por uma


semana.
O Senhor então o convocou para servir como sentinela
responsável por alertar seus ouvintes quanto ao julgamento
divino iminente. Ezequiel devia avisar tanto os perversos
como os justos que fossem tentados a recuar. Caso o profeta
falhasse na tarefa, o sangue deles recairia sobre sua cabeça.
Assim que a sua missão foi anunciada, impuseram-se
pesadas restrições a ela. Ezequiel não teria a liberdade de
proclamar mensagens de alerta como e quando quisesse. O
Senhor o instruiu a entrar em sua casa, onde permaneceria
confinado e impossibilitado de falar.
Ele poderia sair ou falar apenas quando o Senhor o
orientasse especificamente nesse sentido. Essas restrições
seriam uma lição concreta para o povo de Deus, com o intuito
de ensinar que a rebeldia tornava cada vez mais difícil Deus
comunicar-se com o povo.

Lições concretas de julgamento (4:1—5:17)

Ezequiel dramatiza o cerco de Jerusalém (4:1-17). O


Senhor instruiu Ezequiel para que desenhasse Jerusalém
numa placa de argila (ou talvez num tijolo) e representasse
em miniatura um cerco completo à cidade, com rampas de

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


161

cerco, acampamentos inimigos e aríetes. O profeta também


devia colocar uma panela de ferro entre si e a cidade. Esse
ato talvez ilustrasse a natureza inviolável do cerco ou
representasse a barreira entre Deus e seu povo pecador.
O Senhor também instruiu o profeta a levar
simbolicamente o pecado (ou talvez a punição) de Israel. Ele
devia deitar-se sobre o lado direito por 390 dias,
correspondentes aos anos do pecado (ou punição?) do Reino
do Norte. Ezequiel 4:9-17 descreve o profeta realizando
várias atividades, e isso indica que às vezes ele se levantava,
saindo daquela posição simbólica. Não se sabe ao certo se
aquilo simbolizava épocas de pecados no passado ou de
punições futuras. O significado dos números 390 e 40
também é incerto.
Por ordens do Senhor, Ezequiel fez pães com vários
grãos e os guardou num jarro. Durante o período de 390 dias
(cf. 4:5), ele devia comer uma porção diária de 228 gramas
de pão, complementada por meio litro de água. Essa dieta
restrita simbolizaria o racionamento de comida que seria
necessário durante o cerco iminente de Jerusalém.
O Senhor também disse a Ezequiel que assasse o pão
sobre fogo obtido pela queima de excremento humano. Ainda
que a lei do Antigo Testamento não o proíba especificamente,
Dt 23:12-14 dá a entender que isso era considerado impuro.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


162

O ato de Ezequiel prenunciava o destino dos exilados,


forçados a ingerir alimentos em terra estrangeira impura.
Quando Ezequiel objetou que sempre se mantivera
cerimonialmente puro, o Senhor permitiu que ele empregasse
esterco de vaca como combustível.
O cabelo de Ezequiel (5:1-17). O Senhor também disse
a Ezequiel que rapasse todo o cabelo da cabeça e os pelos
da face e dividisse os fios em três partes iguais. Ele devia
queimar um terço, cortar outro terço com a espada e lançar o
terço restante ao vento. Esses atos simbolizavam a
destruição iminente de Jerusalém e o exílio dos seus
habitantes. Ao mesmo tempo, Ezequiel devia preservar
alguns fios de cabelo nas orlas da própria roupa,
simbolizando o remanescente que sobreviveria ao
julgamento. Entretanto, para mostrar a severidade e a
extensão do julgamento divino, ele devia jogar alguns desses
fios no fogo.
O pecado de Jerusalém seria a causa de sua queda.
Apesar de sua condição privilegiada, o povo de Deus havia
se rebelado contra os mandamentos do Senhor e profanado
o templo com ídolos. O julgamento divino seria tão severo,
que o povo faminto chegaria a comer os membros da própria
família. Dois terços da população da cidade pereceriam pela
fome e pela espada, enquanto outro terço seguiria para o

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


163

exílio. As nações vizinhas tratariam Jerusalém como objeto


de zombaria.

Profecias de julgamento iminente (6:1—7:27)

O julgamento dos lugares altos (6:1-14). Em toda a


terra, o povo havia erigido altares para cultuar deuses
pagãos. O Senhor estava para destruir esses altares e encher
os santuários pagãos com cadáveres e ossos daqueles que
ali cultuavam. De norte a sul, a terra seria devastada.
“Deserto” refere-se ao deserto do sul. “Diblá” [ARC] deve,
provavelmente, ser lido Ribla, cidade da Síria. Entretanto, o
Senhor preservaria um remanescente e o espalharia entre as
nações. Esses sobreviventes um dia reconheceriam a
soberania do Senhor e confessariam o seu próprio pecado de
idolatria.
O dia do Senhor (7:1-27). Chegara o dia do julgamento
de Judá. Não haveria atraso, pois os atos sangrentos
arrogantes e violentos da nação exigiam punição. O Senhor
daria paga aos pecados de seu povo e não teria misericórdia
para com ele.
Seu julgamento seria completo e inevitável. A praga e a
fome matariam os que estivessem dentro de Jerusalém,
enquanto espadas inimigas assassinariam os que vivessem

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


164

nos campos ao redor. Aterrorizados, os poucos sobreviventes


fugiriam para as montanhas e lamentariam o seu próprio
destino.
Descartariam a prata e o ouro, tendo consciência de que
isso não os salvaria. O inimigo saquearia suas riquezas e
profanaria o templo. Nem mesmo os líderes religiosos e civis
da nação, incluindo o próprio rei, seriam capazes de evitar
esse dia de julgamento.

A glória de Deus afasta-se do templo corrompido


(8:1—11:25)

A idolatria no templo (8:1-18). Enquanto estava


assentado em sua casa com alguns anciãos exilados de
Judá, Ezequiel teve uma experiência surpreendente.
Transportado numa visão ao templo de Jerusalém, ele viu um
ídolo junto à porta setentrional do pátio interno. Também
estava presente a glória do Senhor, que ele presenciara duas
vezes antes (cf. 1:28; 3:23).
Entrando no pátio por um buraco no muro, Ezequiel viu
70 anciãos da terra oferecendo incenso às imagens de
animais impuros desenhados nos muros. Cada um daqueles
anciãos também cultuava um ídolo particular em segredo,
pensando que seus atos ficavam ocultos ao Senhor. Voltando

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


165

à porta norte, Ezequiel viu mulheres chorando por Tamuz,


deus mesopotâmico da fertilidade que se supunha ter sido
confinado no submundo. Voltando para o pátio interno, ele
observou 25 homens cultuando o sol bem na entrada do
templo. Tal flagrante e desrespeito pelo Senhor exigia
punição.
A glória do Senhor se vai (9:1—11:25). Os capítulos
9—11 descrevem o afastamento paulatino da glória de Deus
do templo corrompido. O Senhor convocou seis executores e
um escriba. O Senhor instruiu o escriba a colocar uma marca
na fronte de cada pessoa fiel na cidade. Ele então encarregou
os executores de matar impiedosamente todos os que não
portassem essa marca, a começar pelos limites do templo.
Quando Ezequiel expressou sua preocupação de que
toda a nação fosse exterminada, o Senhor lembrou a ele que
o julgamento era bem merecido. A terra estava cheia de
sangue e injustiça, e o povo havia perdido a fé no Senhor.
Quando o escriba retornou de sua tarefa de marcar os
justos, o Senhor lhe disse que juntasse brasas dentre as
rodas de seu carro flamejante e as espalhasse sobre a cidade
num ato de julgamento purificador. Mais uma vez, o veículo
que leva o trono do Senhor é descrito em detalhes (cf. 10:9-
14 com 1:4-21), e as criaturas vivas do capítulo 1 agora são
chamadas especificamente querubins. Na visão anterior, uma

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


166

roda seguia cada querubim em seus movimentos. A glória do


Senhor, que antes deixara o trono acima dos querubins e se
movia para a entrada do templo, agora voltava a subir no
carro dos querubins. Os querubins se elevaram e pararam
sobre a porta oriental do templo.
Na porta abaixo, havia 25 homens incluindo Jaazanias e
Pelatias, dois líderes do povo que davam maus conselhos
aos habitantes da cidade e lhes garantiam que não sofreriam
nenhum dano (11:1-2). Eles se comparavam à carne numa
panela que permanecia intocada pelas chamas embaixo dela.
O Senhor disse a Ezequiel que profetizasse contra eles. O
Senhor traria contra eles a espada e os conduziria para fora
da cidade, para o exílio.
Enquanto Ezequiel proclamava a mensagem, Pelatias
morreu. De novo, Ezequiel expressou a preocupação de que
o remanescente do povo fosse destruído (cf. 11:13 com 9:8).
O Senhor garantiu a seu profeta que ele não abandonara de
todo a seu povo.
Ele estava preservando um remanescente entre os
exilados e um dia o levaria de volta à terra. Essa comunidade
restaurada rejeitaria os deuses-ídolos e cultuaria o Senhor
com verdadeira devoção.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


167

Depois dessa palavra de garantia, o carro que levava a


glória do Senhor elevou-se da cidade e parou no Monte das
Oliveiras, a leste da cidade (11:23).
O Senhor abandonara sua morada escolhida, deixando-
a desprotegida e vulnerável à invasão. Nesse momento,
terminou a visão de Ezequiel, e ele a relatou a seus
companheiros exilados.

Lições concretas do exílio (12:1-28)

Ezequiel prepara sua bagagem (12:1-16). O Senhor


instruiu Ezequiel a juntar seus pertences e depois, na
presença de seus companheiros exilados, cavar um buraco
na parede da própria casa à noite e fingir estar fugindo. Ele
devia carregar seus pertences sobre os ombros e cobrir a
face.
Ao fazê-lo, estaria encenando o destino de Zedequias,
rei de Judá. Poucos anos mais tarde, quando a conquista
babilônica de Jerusalém tornou-se inevitável, Zedequias
arrumaria seus objetos pessoais e fugiria da cidade à noite.
Os babilônios o capturariam, vazariam seus olhos e o
levariam para o exílio.
Ezequiel treme enquanto come (12:17-20). A seguir, o
Senhor instruiu Ezequiel a tremer violentamente enquanto

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


168

comia e bebia. Fazendo isso, estava representando o destino


dos habitantes de Judá e Jerusalém. Quando os babilônios
devastassem a cidade, a ansiedade e o desespero os
dominariam de tal maneira, que não seriam capazes nem de
saborear uma refeição.
Corrigidas as percepções enganosas das profecias
(12:21-28). Os israelitas tinham um ditado: “Prolongue-se o
tempo, e não se cumpra a profecia” (12:22). O provérbio
parece refletir seu ceticismo a respeito das mensagens dos
profetas do Senhor.
O Senhor anunciou que o ditado devia ser trocado por:
“Os dias estão próximos e o cumprimento de toda profecia”
(12:23), pois Ele estava para cumprir seus decretos.
Alguns também pressupunham erroneamente que a
mensagem profética de Ezequiel pertencia a um futuro
distante, sendo-lhes, portanto, impertinente.
O Senhor anunciou que suas profecias seriam
cumpridas de imediato.
A denúncia da falsa profecia (13:1-23) Havia em Israel
muitos falsos profetas que alegavam ser porta-vozes do
Senhor e garantiam às pessoas que tudo terminaria bem.
Eles eram como os que se põem a caiar um muro frágil para
esconder seus defeitos. O Senhor exterminaria da
comunidade da aliança esses impostores. Seu julgamento

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


169

chegaria como uma chuva torrencial, um vento violento e um


granizo destrutivo que arremessariam ao chão os muros
caiados.
O Senhor também denunciou as falsas profetisas que
desviavam o povo com mensagens mentirosas obtidas por
adivinhação. Alguns interpretam a cevada e o pão de 13:19
como o pagamento delas, mas é mais provável que os
elementos mencionados fossem usados como parte de seus
rituais. Suas atividades tinham o efeito de debilitar os retos, e
esses adivinhos na realidade incentivavam os perversos a
continuar em seus maus caminhos. O Senhor os exporia
como fraudes e livraria seu povo da influência negativa deles.
A denúncia contra os líderes idólatras (14:1-11) O
Senhor denunciou por idolatria vários dos anciãos que viviam
no exílio. Mesmo que buscassem um oráculo divino
pronunciado por Ezequiel, abrigavam no coração um espírito
idólatra. O Senhor responderia diretamente a tais indivíduos,
eliminando-os da comunidade da aliança. Qualquer profeta
que ousasse apresentar um oráculo a tais hipócritas seria
punido com severidade.
A destruição certa de Jerusalém (14:12-23) A
presença de um remanescente justo em Jerusalém não
impediria a destruição da cidade. Os indivíduos podiam ser
livrados, mas a ruína da cidade era certa. Para dar ênfase a

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


170

esse ponto, o Senhor declarou que mesmo que Noé, Daniel


e Jó, três indivíduos aclamados pela retidão, residissem na
cidade, ela não seria poupada.
Esses homens escapariam, mas não conseguiriam
salvar ninguém, nem mesmo os próprios filhos. Homens e
animais seriam destruídos pelo julgamento divino, o que viria
em forma de espada, fome, animais selvagens e praga. Além
de preservar todos os indivíduos justos deixados na cidade,
o Senhor também permitiria que uns poucos perversos
sobrevivessem e se juntassem aos exilados na Babilônia.
Quando Ezequiel testemunhasse o grau do pecado
deles, então saberia por experiência própria que o julgamento
divino da cidade fora necessário e perfeitamente justo.

Ilustrações do pecado e do julgamento de Israel


(15:1—17:24).

Jerusalém, a videira inútil (15:1-8). O Senhor extraiu


uma lição da videira silvestre, inútil para fins de construção.
Como de costume, ela é usada como combustível. Uma vez
queimada, seu estado carbonizado torna-a ainda mais
imprestável.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


171

A forma hebraica do nome é escrita de maneira distinta


da que aparece no livro de Daniel. Além disso, Daniel era
contemporâneo de Ezequiel, enquanto Noé e Jó eram
personagens da antiguidade. Alguns entendem que se tem
em vista Daniel, um governante justo que aparece num conto
cananeu datado do segundo milênio a.C. Nesse caso, todos
os três exemplos seriam de não-israelitas que viveram muito
antes da época de Ezequiel. Outros, porém, fazem objeção a
essa identificação, alegando que o AT não menciona essa
figura lendária em nenhum outro trecho e que o Senhor não
empregaria um adorador de deuses cananeus como modelo
de retidão.
Também se pode deixá-la no fogo até ser consumida por
completo. Jerusalém era comparável a tal videira. O Senhor
já a havia sujeitado a seu julgamento de fogo. Como a videira
carbonizada, ela não seria totalmente consumida.
Jerusalém, a esposa infiel (16:1-63). O Senhor valeu-
se de uma alegoria para ilustrar a ingratidão e a infidelidade
dos cidadãos de Jerusalém. Em sua origem, Jerusalém era
uma cidade Cananeia, habitada por amorreus e hititas. Ela
era como um bebê não desejado, jogado num campo e
deixado à morte por abandono. Contudo, o Senhor preservou
a vida da criança.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


172

Mais tarde, depois que cresceu, transformando-se numa


jovem bela e madura, o Senhor firmou uma aliança de
casamento com ela. Ele a vestiu com belas roupas, deu-lhe
alimento e a transformou numa rainha. A fama dela correu as
nações.
Embriagada com sua riqueza e posição, Jerusalém
voltou-se para outros deuses e nações. Construiu santuários
pagãos, sacrificou seus próprios filhos aos ídolos e firmou
alianças com as nações vizinhas. Ela se tornou pior que uma
prostituta. Em vez de receber pagamento dos amantes, ela
pagava a eles.
O Senhor a puniria com severidade pela ingratidão e
pela infidelidade.
Ele a exporia publicamente e a executaria. As próprias
nações com as quais ela havia firmado aliança voltar-se-iam
contra ela e a destruiriam. Desenvolvendo ainda mais a
alegoria, o Senhor destacou que Jerusalém não era diferente
de sua mãe e irmãs, infiéis a seus maridos e filhos. Como os
cananeus que residiam na cidade em dias antigos, os
habitantes de Jerusalém sacrificavam os filhos e as filhas a
deuses pagãos. Jerusalém, a exemplo dos povos de Samaria
e de Sodoma, vistos aqui como suas irmãs, negligenciava a
justiça e fazia coisas abomináveis aos olhos de Deus. Os

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


173

pecados de Jerusalém chegavam a exceder os de Samaria e


Sodoma.
Ainda que fosse humilhada por causa de seus pecados,
o Senhor um dia restauraria a cidade. O Senhor renovaria sua
aliança com ela e faria expiação de seus pecados.
Uma parábola sobre duas águias (17:1-24). O Senhor
usou outra parábola a fim de ilustrar verdades acerca de
Jerusalém. Uma águia vigorosa chegou ao Líbano, quebrou
o topo de um cedro, transportou-o para uma cidade de
mercadores e ali o plantou. Essa águia também levou
algumas sementes da terra de Israel e as plantou num solo
fértil, onde cresceram, formando uma videira com ramos
cheios de folhas. Mas quando se aproximou outra águia
vigorosa, as raízes e os ramos da videira cresceram em
direção a ela. O Senhor anunciou então que a videira seria
destruída pelo vento oriental. De acordo com a interpretação
da parábola (cf. 17:11-18), a primeira águia representa
Nabucodonosor, que levou para a Babilônia o rei de
Jerusalém e alguns nobres.
Faz-se referência à deportação de Joaquim e de outros
em 597 a.C. (cf. IIRs 24:8-16). O plantio da vinha representa
a preservação de um remanescente em Judá, encabeçado
por Zedequias, a quem Nabucodonosor nomeou seu rei
vassalo. A segunda águia simboliza o Egito, de quem Judá

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


174

buscou auxílio quando decidiu rebelar-se contra os


babilônios. A destruição da videira indica o fim de Judá, que
os babilônios puniriam com severidade por causa da rebelião.
Entretanto, o futuro não era inteiramente sombrio. O
Senhor quebraria um ramo do topo de um cedro e o plantaria
num monte alto, onde cresceria até se transformar numa
árvore grande e frutífera. Já que o ramo de cedro antes
simbolizava o rei exilado (cf. 17:3-4 com 17:12), é provável
que o ramo aqui mencionado refira-se ao futuro rei a quem o
Senhor estabeleceria em Jerusalém (representado pelo
monte).
A responsabilidade individual (18:1-32). O povo de
Deus citava um provérbio que dava a entender que estava
sofrendo injustamente pelos pecados de gerações anteriores.
O Senhor corrigiu-lhe o pensamento falho.
Deus sempre preserva os justos e se opõe aos
perversos, sem levar em conta a condição moral de seus
ancestrais. Para ilustrar seu pensamento, o Senhor
descreveu um homem reto imaginário que repudia a idolatria,
o adultério e a injustiça. Tal homem pode ter a certeza da
proteção divina. Contudo, se ele tiver um filho idólatra,
adúltero e injusto, esse filho mau será destruído, apesar da
justiça do pai. Na sequência, se esse homem perverso tiver
um filho justo, esse filho não será considerado responsável

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


175

pelos atos malignos do pai. Antes, como seu avô, sua vida
será preservada pelo Senhor. Cada um é julgado com base
em seus feitos, não nos atos dos pais.
A lição para os israelitas era óbvia. Se estavam sofrendo
julgamento divino, isso significava necessariamente que eles,
a exemplo dos pais, eram maus. Em vez de reclamar de que
Deus era injusto, precisavam arrepender-se e deixar seus
caminhos perversos, pois Deus desejava que vivessem e não
morressem.
Um lamento pelos príncipes de Israel (19:1-14) O
profeta ofereceu pelos príncipes de Israel um lamento que, à
semelhança das mensagens anteriores, contém alguns
elementos de parábola. A mãe dos príncipes (provavelmente
a nação de Judá ou a cidade de Jerusalém, cf. 19:10-14) é
comparada a uma leoa que criou vários filhotes. Um deles
cresceu e se tornou um leão forte que estraçalhava pessoas,
mas por fim foi capturado e levado ao Egito. A referência é ao
injusto Jeoacaz, levado cativo pelos egípcios em 609 a.C. (cf.
IIRs 23:31-34). Outro filhote cresceu forte e levou terror à
terra, mas caiu numa armadilha, foi colocado numa gaiola e
levado para a Babilônia. Aqui se faz referência ou a Joaquim
ou Zedequias, ambos levados ao exílio (cf. IIRs 24:8—25:7).
Mudando de figura, o Senhor compara a mãe dos
príncipes a uma videira frutífera, que ele destrói em sua fúria

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


176

e replanta num deserto. Tem-se em vista a queda e o exílio


da nação (ou da cidade).
A rebeldia do passado e do presente de Israel (20:1-
44) Quando alguns anciãos no exílio chegaram para
questionar o Senhor, este se recusou a responder-lhes. Em
lugar disso, Deus disse a Ezequiel que repassasse a história
rebelde da nação. Desde bem cedo, quando o Senhor
confrontou-se com seu povo no Egito, eles resistiram à sua
vontade, apegando-se aos ídolos. Depois que Deus os livrou
da servidão e lhes deu a lei, eles se rebelaram no deserto.
Apesar de o Senhor ter proibido aquela geração de entrar na
terra prometida, ele preservou seus filhos e os advertiu a não
seguir nos passos dos pais. Entretanto, os filhos, ainda no
deserto, pecaram contra o Senhor. Quando finalmente Deus
os estabeleceu na terra, eles adoraram deuses cananeus em
santuários pagãos. Os idólatras do tempo de Ezequiel não
eram diferentes. Por conseguinte, o Senhor os purificaria por
meio de julgamento e exílio. Depois de retirar os adoradores
rebeldes de ídolos, ele restauraria a nação na terra.
O povo então repudiaria o comportamento anterior e
adoraria o Senhor em pureza.
O fogo e a espada do Senhor (20:45—21:32) O
julgamento recairia sobre Judá como um incêndio devorador
na floresta. Ao levar os babilônios em direção à terra, o

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


177

Senhor brandiria sua espada afiada e polida. Brilhando como


um relâmpago, essa espada levaria destruição por toda a
terra. Em seu caminho para a Palestina, Nabucodonosor
chegaria a uma encruzilhada no caminho, onde uma via
levava a Jerusalém e a outra a Rabá, proeminente cidade
amonita. Para determinar sua sequência de ações, ele usaria
vários métodos de adivinhação, inclusive tirando flechas
marcadas da aljava, consultando seus ídolos e examinando
fígados. O Senhor faria com que todos os indicadores
apontassem para Jerusalém.
Nabucodonosor sitiaria e conquistaria a cidade e levaria
seu povo ao exílio. Enquanto isso, os amonitas, ainda que
arrogantes e hostis, não deviam pensar que seriam
poupados. A espada de julgamento do Senhor também
recairia sobre eles (cf. 25:1-7).
Jerusalém, uma cidade sanguinária (22:1-31) A
corrupção dentro de Jerusalém tornara seu julgamento
inevitável. Aqui se mencionam alguns pecados específicos,
inclusive a idolatria, o abuso de poder, a falta de respeito para
com os pais, a negligência para com viúvas e órfãos, a
profanação do sábado, o incesto, o suborno e a usura. A
violência tomava conta da cidade.
Em todo o capítulo há referência ao derramamento de
sangue inocente (cf. 22:3-4, 6, 9, 12-13, 27). Os príncipes e

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


178

oficiais civis assumiam a liderança nesse sentido, oprimindo


os pobres e indefesos. Até os líderes religiosos eram
corruptos. Os sacerdotes não instruíam o povo na lei e não
faziam distinção entre o sagrado e o profano. Os falsos
profetas proclamavam mentiras em nome do Senhor. Quando
o Senhor procurou um homem que intercedesse pela nação,
não encontrou ninguém. Por conseguinte, ele purificaria a
cidade por meio do julgamento e dispersaria o povo entre as
nações.
A alegoria das duas irmãs (23:1-49) Para ilustrar a
infidelidade da nação, o Senhor usou uma alegoria em que
comparava Samaria e Jerusalém a duas irmãs promíscuas
chamadas Oolá e Oolibá. Oolá significa sua tenda e Oolibá,
minha tenda está nela. Talvez o segundo nome reflita o fato
de que Deus habitava no templo de Jerusalém. As irmãs
haviam sido prostitutas desde a mocidade no Egito. Ainda
que pertencessem ao Senhor (não é claro se como esposas
ou filhas), elas cortejavam o favor de nações estrangeiras.
Oolá (Samaria) buscou aliança com os assírios. Ela é
retratada desejosa de soldados assírios, prostituindo-se entre
seus oficiais. Por ironia, seus amantes a mataram e levaram
seus filhos embora.
Oolibá (Jerusalém) testemunhou o destino da irmã, mas
não conseguiu aprender com o exemplo dela. Ela também

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


179

desejou os assírios e depois voltou a atenção para os


babilônios e para outros povos. Empregam-se linguagem viva
e imagens duras para retratar sua ninfomania. O Senhor
avisou que seus amantes voltar-se-iam contra ela.
Os babilônios chegariam contra a terra com todo o
poderio militar e destruiriam cruelmente a população. Oolibá
seria publicamente humilhada e sofreria o mesmo destino da
irmã Oolá.
A parábola da panela (24:1-14) No mesmo dia em que
os babilônios iniciaram o cerco de Jerusalém (15 de janeiro
de 588 a.C.), o Senhor deu a Ezequiel uma parábola que
ilustrava a queda da cidade. Jerusalém era como uma panela
cheia de crostas (o derramamento de sangue e a idolatria,
24:6-8, 13). Os habitantes da cidade eram como carne e
ossos cozidos na panela. O fogo que queimava sob a panela
(o cerco babilônio) cozinharia por completo a carne e
queimaria os ossos, e ambos seriam por fim retirados pedaço
por pedaço (um retrato do exílio).
A panela vazia seria então deixada no fogo até que se
queimassem suas impurezas.
A morte da esposa de Ezequiel (24:15-27) O Senhor
anunciou a Ezequiel que sua esposa amada teria morte
súbita. Mas, como uma lição concreta para Israel, o Senhor
ordenou que o profeta não externasse luto por sua morte,

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


180

conforme o costume. Em vez disso, poderia apenas gemer


para si mesmo. Quando sua esposa morreu logo depois,
Ezequiel obedeceu às instruções do Senhor.
Ao observar seu silêncio, as pessoas perguntaram-lhe o
significado daquilo. Ezequiel explicou que elas não deviam
chorar a queda da amada cidade e de seu templo, assim
como ele se recusava a lamentar a morte da esposa.
Quando por fim a cidade caísse, um fugitivo traria
notícias a Ezequiel. Naquele momento o Senhor poria fim à
mudez do profeta (cf. 3:26-27; 33:21-22). Ele então falaria
abertamente aos sobreviventes da catástrofe, advertindo-os
e incentivando-os.

O JULGAMENTO CONTRA AS NAÇÕES VIZINHAS


(Ez 25:1—32:32)

As nações em torno de Judá não escapariam do


julgamento divino. Essa divisão contém oráculos contra sete
nações específicas. Ainda que se representem todos os
pontos cardeais, Tiro (ao norte) e o Egito (ao sul) recebem
atenção especial. As sete sentenças contra o Egito concluem
a divisão. A ampla distribuição geográfica das nações
mencionadas, bem como o uso simbólico do número sete,
transmitem a impressão de completitude.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


181

Amom (25:1-7). O Senhor julgaria os amonitas pelo


prazer deles com a queda de Jerusalém. “Filhos do Oriente”
(25:4; ou os babilônios ou tribos saqueadoras do deserto)
pilhariam Amom e reduziriam Rabá, sua cidade mais
proeminente, a um pasto.
Moabe (25:8-11). O Senhor puniria igualmente os
moabitas, vizinhos de Amom ao sul, também por se terem
alegrado com a queda de Jerusalém. Os “povos do Oriente”
(25:10) conquistariam as cidades fortificadas que guardavam
a fronteira setentrional de Moabe, deixando a terra vulnerável
à invasão.
Edom (25:12-14). O julgamento também recairia sobre
Edom (já mencionada em 25:8, cf. “Seir”), localizada ao sul
de Moabe. Na queda de Judá, Edom manifestara um espírito
vingativo (cf. Obadias). O Senhor vingar-se-ia de Edom por
meio de seu povo Israel.
Filístia (25:15-17). O Senhor se vingaria dos filisteus
(também referidos aqui como os queretitas), vizinhos de Judá
a oeste, por se terem oposto ao povo de Deus durante
séculos. Tiro (26:1—28:19)
A queda de Tiro (26:1-21). Tiro, localizada na costa
mediterrânea ao norte de Israel, era um centro comercial
proeminente. Apesar de suas riquezas e defesas, não seria
capaz de resistir ao julgamento do Senhor. Muitas nações a

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


182

assolariam, como águas turbulentas do mar. Num futuro


próximo, os exércitos de Nabucodonosor cercariam a cidade
e a conquistariam. Tiro seria reduzida a um monte de ruínas
e jamais seria reconstruída. Por toda a costa mediterrânea,
parceiros comerciais de Tiro lamentariam sua destruição.
O lamento do profeta por Tiro (27:1-36). Para dar
ênfase à certeza do julgamento de Tiro, o Senhor disse a
Ezequiel que lamentasse de antemão a destruição da cidade.
Tiro é comparada a um grande navio comercial feito com a
melhor madeira, adornado com lindas velas e tripulado por
marinheiros capazes. Tiro comprava e vendia todos os
produtos imagináveis, incluindo metais e pedras preciosas,
escravos, animais, tecidos e roupas, alimentos e até presas
de marfim. Sua lista de parceiros comerciais incluía
praticamente todas as nações e cidades do mundo
conhecido. Mas uma tempestade (o julgamento do Senhor)
destruiria esse grande navio. Todos os marinheiros e
mercadores se afogariam no mar, fazendo com que seus
parceiros comerciais olhassem da praia, lamentando o
destino dela.
A denúncia contra o rei de Tiro (28:1-19). Destacando
o rei de Tiro como representante da cidade, o Senhor
anunciou que esse soberano orgulhoso e sua cidade seriam
humilhados. Por causa do grande sucesso e da riqueza da

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


183

cidade, o rei se imaginava um deus e tinha grande orgulho da


sua própria sabedoria. Ainda que alguns considerem o
“Daniel” de 28:3 um lendário rei cananeu chamado Daniel, a
referência à sua capacidade de desvendar segredos indica
que se tem em vista o Daniel da Bíblia, contemporâneo de
Ezequiel (cf. comentários sobre 14:14,20). Quando chegasse
o dia do julgamento, o rei seria humilhado diante de seus
executores, e suas ilusões de grandeza seriam substituídas
pela dolorosa realidade de sua mortalidade.
Antevendo a queda do rei, Ezequiel pronunciou um
lamento zombeteiro contra ele. Comparou o rei a um
querubim sábio, belo e ricamente adornado, que antes
habitava no jardim do Éden e gozava de acesso ao monte
santo de Deus. Esse querubim acabou perdendo a posição
de prestígio em razão de sua arrogância e por causa das
práticas econômicas opressoras (numa alusão ao império
comercial de Tiro). O Senhor o lançou do monte sagrado e o
destruiu com fogo diante das nações.
O ambiente histórico que envolve as figuras desse
lamento é incerto. O monte de Deus encontra paralelos na
mitologia cananeia. Seria possível esperar o uso de tais
imagens míticas numa mensagem a um rei fenício (cf. Is 14:4-
21, em que temas e figuras mitológicas são usadas numa
zombaria dirigida ao rei da Babilônia). O versículo 13 parece

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


184

referir-se ao jardim do Éden da tradição bíblica, mas os


únicos querubins mencionados no relato de Gênesis são os
colocados como guardiões junto à porta do jardim, após a
expulsão de Adão e Eva (Gn 3:24). Talvez Ezequiel tenha
extraído suas figuras de uma tradição extrabíblica acerca do
Éden.
Por causa das referências ao Éden e ao orgulho e queda
do querubim, há quem veja uma referência velada a Satanás
em 28:12-19. Mas a alusão ao Éden não sustenta essa ideia.
Satanás não é mencionado de maneira clara em Gênesis 2—
3, muito menos retratado como querubim. Satanás é
tradicionalmente associado à serpente no relato sobre o
Éden. Mas mesmo que essa interpretação esteja correta, a
serpente é identificada com um dos animais criados por Deus
(cf. Gn 3:1, 14), não com um querubim disfarçado.
Sidom (28:20-26). Sidom, outra cidade fenícia de
destaque, também sofreria o julgamento divino. A exemplo de
Tiro, ela havia tratado o povo de Deus com hostilidade. O
Senhor destruiria os sidônios com praga e espada.
O Senhor um dia restabeleceria seu povo em sua terra,
onde este viveria em paz, livre das ameaças dos vizinhos
hostis.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


185

Egito (29:1—32:32)
A oposição do Senhor ao faraó (29:1-16). O Senhor
anunciou que também se oporia ao faraó, o orgulhoso rei do
Egito. Comparando o rei a um crocodilo no rio Nilo, o Senhor
alertou que o arrancaria do rio e o lançaria no deserto, onde
morreria e seria comido por animais que se alimentam de
carniça.
O Senhor transformaria toda a terra (desde Migdol, no
norte, até Assuã, no sul) em ruína durante quarenta anos e
dispersaria os egípcios entre as nações. Depois do exílio de
quarenta anos, o Senhor os devolveria à terra, mas o Egito
jamais voltaria a experimentar sua glória anterior. O povo de
Deus, que antes confiara no Egito, já não esperaria seu
auxílio. Não se sabe ao certo quando e como essa profecia
se cumpriu. Os registros históricos não revelam que o Egito
tenha sofrido desolação ou exílio nos níveis descrito por
Ezequiel.
Pilhagem para Nabucodonosor (29:17-21). Em 571
a.C., logo depois que Nabucodonosor suspendeu seu longo
cerco contra Tiro, Ezequiel recebeu outra mensagem a
respeito do Egito. Apesar de Nabucodonosor ter saído de Tiro
relativamente pouco recompensado por seus esforços, o
Senhor lhe daria o Egito, de onde ele extrairia abundância de
riquezas. É provável que essa profecia tenha se cumprido em

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


186

568 a.C., quando, de acordo com um texto babilônico,


Nabocodonosor parece ter conduzido uma campanha militar
contra o Egito.
O Dia do Senhor contra o Egito (30:1-19). A queda do
Egito está associada com o “Dia do Senhor”, expressão
empregada em outras partes do Antigo Testamento em
relação ao tempo em que o Senhor vem como guerreiro e
destrói seus inimigos de maneira rápida e decisiva. Valendo-
se de Nabucodonosor como sua “espada”, o Senhor
destruiria tanto o Egito como seus aliados. O grande rio do
Egito, o Nilo, secaria, seus ídolos e príncipes mostrar-se-iam
indefesos, e todas as suas cidades famosas seriam
conquistadas.
A destruição do poder do faraó (30:20-26). Ezequiel
recebeu uma mensagem a respeito do faraó em 587 a.C., um
ano depois que Nabucodonosor derrotou o faraó Hofra em
batalha, quando este tentou chegar em socorro da Jerusalém
sitiada (cf. Jr 37:5-8). Quando permitiu que Nabucodonosor
derrotasse Hofra, foi como se o Senhor tivesse quebrado o
braço do faraó, um símbolo de seu poderio militar.
Mas o Senhor reservava mais da sua ira para o Egito.
Ele fortaleceria o rei da Babilônia, que conquistaria o Egito.
Ambos os braços do faraó seriam quebrados. Quando os

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


187

egípcios fossem vencidos e espalhados entre as nações,


reconheceriam a soberania do Deus de Israel.
Um cedro caído (31:1 -18). O Senhor desafiou o faraó
e seus exércitos a aprenderem uma lição da história. A
Assíria, poderoso império no Oriente Próximo, de 745 a 626
a.C., já havia sido como um cedro imponente do Líbano.
Ele era alto e bem nutrido. Pássaros se abrigavam em
seus ramos e animais buscavam abrigo sob sua sombra.
Nem mesmo as árvores no jardim do Éden conseguiam
competir com ele em majestade e beleza.
Entretanto, por causa do orgulho, Deus o entregou a
uma nação impiedosa (os babilônios), que o despedaçou.
Nenhuma outra árvore jamais cresceria tanto. O faraó era
também como uma árvore alta, mas, à semelhança da
Assíria, ele e seus exércitos cairiam esmagados contra a
terra.
Lamento pela destruição do faraó (32:1-16). O Senhor
revelou a Ezequiel um lamento sarcástico que a nação um dia
cantaria pelo faraó derrotado.
Ainda que ele fosse como um leão forte ou um crocodilo
vigoroso, seria capturado, destruído e devorado por animais.
A escuridão cobriria sua terra como sinal de julgamento e
destruição. A Babilônia invadiria o Egito, destruiria seu povo
e lhe roubaria as riquezas.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


188

Os exércitos egípcios são mortos (32:17-32). Os


exércitos do faraó seriam mortos e desceriam à terra dos
mortos. Eles se juntariam aos exércitos de outras nações que
haviam espalhado terror sobre a terra, mas acabaram
encontrando seu fim. Entre essas nações estavam a Assíria,
Elão (no leste da Mesopotâmia), Meseque e Tubal (nações
do norte, cf. 38:2), Edom e Sidom.

A RESTAURAÇÃO DE ISRAEL (Ez 33:1—48:35)

A renovação da missão de Ezequiel (33:1-20)


Pouco antes da queda de Jerusalém, o Senhor renovou
a missão de Ezequiel como sentinela espiritual da nação (cf.
3:16-21). Uma das principais responsabilidades de um vigia
era alertar seu povo da iminência de perigos. Desde que
desempenhasse sua tarefa, o vigia não era responsável por
aqueles que não levassem seus avisos a sério e não
estivessem preparados quando chegasse a desgraça.
Ezequiel estava em posição semelhante. Ele devia alertar
tanto os perversos como os apóstatas quanto à destruição
iminente e chamá-los ao arrependimento. Embora a nação
estivesse depreciada por causa do pecado, o desejo de Deus
era que deixasse seus maus caminhos e vivesse.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


189

A legitimação do ofício profético de Ezequiel (33:21-


33)
Em janeiro de 585 a.C., cinco meses depois que o
templo fora destruído, um fugitivo transmitiu a notícia a
Ezequiel. Na noite anterior, o Senhor havia aberto a boca de
Ezequiel, encerrando seu longo período de silêncio forçado
(cf. 3:26; 24:26-27).
Agora que as profecias de Ezequiel haviam se cumprido,
seu ministério seria principalmente de incentivo, e suas
mensagens estariam centradas na restauração futura dos
exilados. Mas ele devia anunciar mais um discurso de
julgamento. Os sobreviventes que permaneceram em Judá
depois da destruição de Jerusalém mantinham ilusões de
grandeza, pensando que a terra agora lhes pertencia.
Ezequiel corrigiu esse pensamento falho, mostrando que a
idolatria e a hipocrisia deles lhes impedia de desfrutar a terra.
Outra onda de julgamento os encobriria. No passado,
não haviam levado a sério as mensagens de Ezequiel, mas
no dia do julgamento acabariam percebendo que ele era um
verdadeiro profeta do Senhor.
O pastor de Israel faz uma nova aliança com seu
povo (34:1-31)
Os líderes de Israel, comparados a pastores, não
haviam cuidado de maneira adequada do rebanho de Deus.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


190

Esses líderes, consumidos por interesse próprio, haviam na


realidade oprimido e explorado o povo. As ovelhas estavam
agora espalhadas e sendo assoladas por animais selvagens
(nações estrangeiras, tais como a Babilônia). O Senhor
anunciou que esses líderes incompetentes seriam eliminados
e que Ele assumiria o cuidado com o rebanho. O Senhor
reuniria de novo em Israel suas ovelhas espalhadas e feridas,
onde se alimentariam em paz em ricas pastagens. Ele
restabeleceria a justiça entre seu povo e levantaria para Ele
um novo rei davídico ideal. Deus faria com eles uma “aliança
de paz”, que lhes garantiria isenção de perigos e
prosperidade agrícola.
A vingança contra Edom (35:1-15) Deus julgaria as
nações que tradicionalmente haviam intentado a destruição
de seu povo. Como exemplo por excelência de tal nação,
Edom foi destacada como objeto da ira de Deus.
Os edomitas participaram da queda de Jerusalém, com
esperanças de ficar com a terra de Israel para si.
Com arrogância, zombavam do povo de Deus em seu
tempo de calamidade. Edom experimentaria a vingança de
Deus. Deus os trataria como eles haviam tratado seu povo.
Os edomitas seriam mortos pela espada e a terra deles ficaria
como um monte desolado de ruínas.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


191

A prosperidade retorna a Israel (36:1-15). Os exércitos


estrangeiros haviam dominado os montes de Israel e
alardeavam suas conquistas. O Senhor jurou que faria a
vingança recair sobre essas nações (Edom é de novo
destacado, cf. 36:5). Ele também restauraria seu povo na
terra. Mais uma vez, as plantações frutificariam nos campos
e as cidades seriam habitadas.
Deus purifica seu povo (36:16-38). Israel havia
corrompido a terra com seus atos pecaminosos e trazido
desonra ao nome de Deus. Quando seguiu para o exílio, as
nações tiraram conclusões erradas sobre o caráter de Deus.
Para se vingar e restaurar sua reputação entre as nações, o
Senhor restabeleceria os exilados na terra. Ele os purificaria
dos pecados, criaria neles um desejo de lealdade e renovaria
suas bênçãos agrícolas. Nesse tempo, as nações e também
Israel reconheceriam sua soberania.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


192

Israel revive (37:1-14). A visão dos ossos secos retrata


de maneira viva a restauração miraculosa de Israel. Nela, o
profeta viu um vale cheio de ossos secos e soltos,
representando o povo disperso de Israel. Entretanto, de
repente os ossos
OS TRÊS ESTÁGIOS DA MORTE
começaram a se juntar, 1º ESTÁGIO – ABIÓTICOS
e apareceram tendões A – Perca da circulação sanguínea
B – Perca das faculdades físicas (Visão,
e carne sobre eles. O Paladar, Olfato, Tato e Audição)

sopro da vida entrou 2º ESTÁGIO – PUTREFAÇÃO


A – O corpo incha de gases
nos corpos e uma B – Os órgãos derretem

multidão de seres vivos 3 º ESTÁGIO – ESQUELETIZAÇÃO


O corpo é consumido pela terra e restam
pôs-se de pé no vale. apenas os ossos
Pr. Prof. Isaias Ferreira
Assim também, o
Senhor faria reviver miraculosamente a nação de Israel.
Ele a livraria do túmulo do exílio, colocaria seu Espírito
em seu meio e a estabeleceria mais uma vez na terra
prometida.
“Os prisioneiros israelitas, sem nenhuma força política,
haveriam de formar uma nação; sem nenhuma força moral,
iam vencer a idolatria e formar uma religião pura. Isto se faria
não por força, nem por poder, porém pelo Espírito do próprio
Deus (cf. Zc 4:6)”. O cap. 37 ilustra o tema da restauração de
Israel. “Historicamente, visa a volta dos exilados do cativeiro

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


193

babilônico; profeticamente, visa a restauração no Novo Israel,


no dia escatológico, quando o Reino do Messias se realizará”.
Israel e Judá são reunificados (37:15-28). O dia de
restauração também seria um dia de reunificação para Israel
e Judá. Para ilustrar isso, o Senhor mandou que Ezequiel
tomasse duas varas, uma representando o Reino do Norte e
a outra, o Reino do Sul, e as segurasse juntas, como se
fossem uma.
Do mesmo modo, o Senhor devolveria os exilados de
Israel e de Judá à terra e voltaria a formar com eles um reino.
Ele levantaria um novo rei davídico ideal para liderá-los,
estabeleceria com eles uma nova aliança e mais uma vez
habitaria em seu meio.
A destruição definitiva das nações (38:1—39:29)
Esses capítulos descrevem uma invasão de Israel por
nações distantes lideradas por “Gogue, da terra de Magogue,
príncipe de Meseque e Tubal”. As tentativas de identificar
Gogue com uma figura histórica não convencem. Magogue,
Tubal e Meseque são mencionados em Gn 10:2 e ICr 1:5
como filhos de Jafé. Nos dias de Ezequiel, os descendentes
deles habitavam o que é hoje a Turquia oriental. De acordo
com 38:5-6, entre os aliados de Gogue estavam a Pérsia,
Cuxe (atual Etiópia), Pute (atual Líbia), Gômer (outro filho de
Jafé, cujos descendentes residiam no extremo norte de

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


194

Israel), e Bete Togarma (de acordo com Gn 10:3, Togarma


era filho de Gômer).
Ezequiel previa um tempo em que os exércitos dessas
nações atacariam o Israel confiante. O Senhor interviria com
poder e livraria seu povo. Um terremoto violento abalaria a
terra, e os exércitos inimigos, em pânico, voltar-se-iam uns
contra os outros. O Senhor faria chover granizo e enxofre
sobre eles. A matança seria comparável a um grande
sacrifício. Aves e animais selvagens devorariam a carne e o
sangue dos guerreiros inimigos. Mesmo com essa
assistência do reino animal, o povo de Israel levaria sete
meses para dar fim a todos os cadáveres. As armas dos
inimigos forneceriam ao povo de Deus um suprimento de
combustível que duraria sete anos.
Uma vez que essa profecia não corresponde a nenhum
fato histórico conhecido, é melhor compreendê-lo como algo
que ainda aguarda cumprimento.
Gogue e suas hordas simbolizam a oposição ao reino de
Deus que ocorrerá no final dos tempos e será esmagada com
violência (cf. Ap 20:8-9).
A restauração da pureza de culto (40:1—48:35)
Nessa divisão do livro, o Senhor deu a Ezequiel uma
visão de Israel restaurado. Ele viu um retrato detalhado do
novo templo e recebeu instruções minuciosas para os futuros

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


195

líderes das nações. O livro termina com uma descrição


pormenorizada das divisões geográficas futuras da terra.
Os estudiosos divergem na interpretação dessa parte.
Alguns consideram que sua linguagem simbólica é cumprida
na igreja do Novo Testamento, enquanto outros interpretam
a profecia como algo que se aplica a um Israel literal do futuro.
Alguns entendem esses capítulos como uma descrição literal
das condições na época do milênio. Outros entendem a visão
como um retrato idealizado, talvez exagerado, da futura
restauração divina de seu povo cumprida com elementos
simbólicos.
Um novo templo (40:1—43:12). Por meio de uma
visão, o Senhor proporcionou a Ezequiel uma antevisão do
novo templo. A começar pela porta oriental do átrio externo,
ele foi conduzido por um percurso que o levou ao átrio interno,
suas salas internas, o pórtico do templo, o santuário externo
e, por fim, ao lugar santíssimo.
Em todo o percurso fornecem-se medidas e descrições
detalhadas.
O mais importante era que Deus residiria no novo
templo. Quase vinte anos antes, Ezequiel tivera uma visão da
glória de Deus deixando o templo de Jerusalém (cf. caps. 8—
10). Aquele templo foi em seguida destruído pelos babilônios.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


196

Agora, por meio de outra visão, o profeta testemunhava


a glória de Deus retornando à cidade e fixando residência no
novo templo (cf. 43:1-9).

Regulamentos para o novo templo (43:13— 46:24).

Esses capítulos contêm algumas instruções e regras


para os sacerdotes e governantes que no futuro atuariam na
comunidade da aliança restaurada.
Essa parte começa com instruções para a construção do
altar do templo (43:13-17) e para seus sacrifícios de
dedicação (43:18-27). Depois que se fizessem as devidas
ofertas pelo pecado por sete dias consecutivos, o altar seria

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


197

considerado puro e estaria pronto para uso. A partir do oitavo


dia, o altar poderia ser usado para holocaustos e ofertas
pacíficas, que expressavam a devoção do adorador a Deus e
sua comunhão com Ele.
Uma vez que a glória do Senhor retornaria ao complexo
do templo pela porta oriental do átrio externo (cf. 43:4), essa
porta permaneceria fechada. Só o “príncipe” poderia sentar-
se nesse lugar, onde comeria na presença do Senhor (44:1-
4). Esse príncipe é identificado em outras partes como o rei
davídico ideal, o Messias, a quem o Senhor levantaria para
reger seu povo (34:24; 37:24-25).
No passado, israelitas rebeldes haviam violado a aliança
do Senhor, permitindo que estrangeiros levassem seus
costumes detestáveis para dentro do templo. Esses
estrangeiros eram “incircuncisos de coração e incircuncisos
de carne” (44:7), significando que lhes faltava devoção ao
Senhor, bem como o sinal físico de que faziam parte da
comunidade da aliança. Tais estrangeiros foram proibidos de
entrar no novo templo (44:5-9).
Visto que os levitas haviam sido infiéis ao Senhor,
seriam rebaixados (44:10-14). Poderiam cuidar das portas do
templo, matar animais para sacrifício e atender ao povo, mas
não teriam permissão de lidar com objetos sagrados nem com
ofertas para o Senhor. Como prêmio pela fidelidade, a

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


198

linhagem de Zadoque da família levítica atuaria como


sacerdote do Senhor (44:15-16). Zadoque era descendente
de Arão por Eleazar e Fineias (cf. ICr 6:3-8, 50-53).
Na futura distribuição de terras devia-se reservar uma
parte para o Senhor e para seus sacerdotes bem no centro
da terra (45:1-6). O príncipe (o rei davídico) possuiria a terra
contígua à porção do Senhor a leste e a oeste (45:7-8). Essa
menção do futuro príncipe leva a uma exortação aos líderes
civis do povo de Deus na época de Ezequias. Eles não
deviam oprimir o povo, mas promover a justiça e a equidade
na esfera socioeconômica (45:9-l2).
O Senhor também apresentou regras detalhadas
relacionadas às ofertas e festas (45:13—46:24), incluindo a
Festa de Ano Novo, a Páscoa e os Tabernáculos. Várias
regras a respeito do príncipe destacam o capítulo 46. Nos
dias de sábado e de lua nova, o príncipe conduziria o povo
em culto ao Senhor, apresentando ofertas no vestíbulo da
porta oriental do átrio interno.
O rio que flui do templo (47:1-12).
Ezequiel vislumbrou um rio que fluía do templo para o
Oriente. O rio ia-se aprofundando à medida que seguia para
o deserto, rumo ao mar Morto. Sua água fresca estava cheia
de peixes, e pescadores alinhavam redes em suas margens.
Também se alinhavam às margens do rio árvores de frutas

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


199

comestíveis cujas folhas tinham propriedades terapêuticas.


Esse rio, fonte de vida que fluía do trono de Deus, simbolizava
a restauração da bênção divina experimentada pela terra.
Limites e distribuição das terras (47:13—48:35).
O livro de Ezequiel conclui com uma descrição
detalhada dos limites e da distribuição futura da terra. A
cidade santa, construída como um quadrado perfeito no meio
da terra, teria doze portas (três em cada um de seus quatro
muros) designadas segundo as tribos de Israel. A cidade
seria chamada “Javé-Shamá”, que significa o Senhor está ali.

O VALOR ÉTICO E TEOLÓGICO DE EZEQUIEL

Ezequiel foi o profeta-sacerdote do julgamento e da


esperança.48 Sua mensagem aos exilados na Babilônia ainda
fala para pessoas feridas e abatidas que necessitam da
segunda chance dada por Deus. A destruição de Jerusalém
e a deportação de seu povo para a Babilônia fez com que
alguns questionassem a capacidade de Deus para salvar e o
compromisso dele com sua aliança. Ezequiel interpretou
esses acontecimentos de acordo com o caráter de Deus.
A estranha visão introdutória de Ezequiel retrata Deus
como alguém incomparável, perfeito em santidade e poder.
Tal Deus não permaneceria com pessoas impenitentes.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


200

Jerusalém caiu, não porque Deus fosse incapaz de


salvá-la, mas porque Ele entregou seus habitantes ao destino
que eles escolheram.
Mas o julgamento era só parte do retrato que Ezequiel
fazia de Deus. Mesmo no exílio, longe da pátria, Deus era
acessível para o profeta. A fidelidade de Deus era a
esperança de Ezequiel. Deus é o Pastor cuidadoso de seu
povo (Ez 34). Deus é a única esperança de vida nova para os
ossos mortos da nação de Israel (Ez 37). Os cristãos podem
aprender a ser responsáveis com Ezequiel. Como ele, os fiéis
devem identificar-se com a dor daqueles ao seu redor (3:15).
Como Ezequiel, os cristãos são “atalaias”, responsáveis por
alertar o próximo sobre as consequências do pecado (3:16-
21). Ezequiel 34 adverte os fiéis a não buscarem o interesse
próprio em detrimento dos outros. Antes, os cristãos devem
ser exemplos do amor e do cuidado de Deus em seus atos.
Os fiéis devem compartilhar as boas novas de que Deus
ainda é o Doador da vida renovada e da segunda
oportunidade aos que se voltam para Ele com
arrependimento e fé.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


201

___________________________________________

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


202

LIVRO: 12 CAPÍTULOS
GRUPO: PROFETAS MAIORES
PERÍODO: 605-535 A.C.
AUTORIA: DANIEL

PARECER DE DANIEL SOBRE JESUS

➢ DANIEL DESCREVE ALGUÉM QUE VEM NAS


NUVENS DO CÉU, RECEBEU UM REINO ETERNO E
ADORADO, ESSE ALGUÉM SE REFERE A JESUS, O
MESSIAS (DANIEL 7.13 ,14)

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


203

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


204

O LIVRO DE DANIEL

AUTORIA E DATA

Criticismo

Os críticos não querem que Daniel seja o autor do livro.


Eles não admitem revelação divina, nem possibilidade de
conhecer o futuro. Portanto, para eles é impossível que um
homem escrevesse História antes que ela acontecesse.
Querem, então, que tenha sido escrito por um “judeu pio” que
viveu 200 anos depois do tempo de Daniel e, portanto, estava
simplesmente contando a história como se tinha passado.

EVIDÊNCIAS DA AUTORIA DE DANIEL

a. Um judeu pio não teria escrito como profecia, se não


fosse verdade. Um homem pio não fabrica visões de Deus.
b. O fato de ter sido escrito em duas línguas mostra que
o autor era uma pessoa acostumada a usar as duas línguas.
O hebraico de Daniel é semelhante ao hebraico de Ezequiel
que também escreveu durante o cativeiro. O aramaico foi o
mesmo usado em Babilônia naquele tempo.
c. Jesus Cristo chama Daniel de “o profeta” (Mt 24:15).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


205

d. A Septuaginta foi escrita antes do tempo de Antíoco


Epifânio e inclui o livro de Daniel. Então Daniel foi escrito
antes desse tempo.
e. Josefo, o historiador judeu (75 d.C. aprox.), disse que
o sumo sacerdote de Jerusalém mostrou o livro de Daniel a
Alexandre, o Grande, em 332 a.C., quando este marchou
contra Jerusalém.
f. Rolos do Mar Morto datados entre 200-100 a.C.
contêm o livro de Daniel.

DIFICULDADES NA INTERPRETAÇÃO

a. Problema: Daniel 1:1 diz que Nabucodonosor subiu a


Jerusalém no 3º ano de Jeoaquim (Jr 25:1 diz que foi no 4º
ano).
Resposta: Em Babilônia se computava os anos do rei
começando com o ano novo seguinte à coroação. Em
Jerusalém contava os anos do rei começando com o ano
novo prestes à coração. Para os judeus, uma parte conta
como um inteiro. Assim o 3º ano de Daniel seria o 4º ano de
Jeremias. Daniel está contando da saída de Nabucodonosor
de Babilônia, e sabe-se que, antes de subir contra Jerusalém,
o rei teve um encontro com os egípcios, em Carquemis, onde
os derrotou. Depois, subiu contra Jerusalém. Portanto,

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


206

transcorreu-se o tempo para Jeremias datar sua profecia no


4º ano do rei.
b. Problema: O nome do rei Belsazar não aparece nas
crônicas babilônicas. Durante muitos anos os críticos
disseram que ele não existiu.
Resposta: A arqueologia tem descoberto nas escrituras
de Nabonidas referência e orações em favor do filho
Belsazar. Nabonido, genro de Nabucodonosor, finalmente
subiu ao trono depois de vencer o último dos que se seguiram
imediatamente após a morte do pai. Após estabelecer-se,
iniciou a reconstrução da cidade. Quando seu filho Belsazar
completou 13 anos, Nabonido o fez regente da Babilônia e
entregou-lhe o governo da cidade, enquanto ele mesmo saiu
em expedições arqueológicas. Este jovem vaidoso não
resistindo à tentação da companhia de mil dos grandes da
cidade, morreu na noite do seu 17º aniversário. Naquela noite
de blasfêmia, ele também deu bebida aos soldados da
cidade. Antes disto, Ciro, o persa, mandara-lhe uma
embaixada sugerindo que ele devia entregar-se ou aliar-se
com ele. Belsazar matou o embaixador, cortou-o em pedaços
e enviou-o numa cesta a Ciro, dizendo que faria o mesmo
com ele, se viesse à Babilônia. Ciro indignou-se e enviou
Dario, o medo, seu amigo e general, com os soldados que
estavam na sua mão, contra Babilônia. Dario chegou perante

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


207

os muros da cidade na noite desta referida festa. Os soldados


bêbados se esqueceram de fechar a porta. Dario entrou sem
lutas, encontrou todos os grandes, também bêbados, tomou
a cidade e enviou mensagem a Ciro, o qual, poucos dias
depois, fez a entrada triunfal tomando posse da cidade.
Nabonido soube e veio contra, mas, recebendo mensagens
de Ciro, entregou-se sem luta e viveu pacificamente na casa
de Ciro até a sua morte.
c. Outros pontos iniciais de discordâncias eram
relacionados às histórias da fornalha, da cova dos leões, da
escola de aprendizes e da loucura de Nabucodonosor.
Entretanto, a Arqueologia forneceu explicações adequadas a
elas. Os arqueólogos descobriram no palácio de
Nabucodonosor um prédio identificado como “Escola de
Aprendizes”, provando sua existência. Outro prédio
descoberto, sendo redondo, parecido com o lugar de queimar
tijolos, e sobre a porta estava escrito: “Fornalha onde
mataram os inimigos do rei”. As escavações de um poço
descobriram no seu muro a inscrição: “Cova de animais
ferozes onde matavam os inimigos do rei”. Finalmente,
descobriram o original da história da loucura do rei escrita por
ele e arquivada entre os livros do palácio.
LINGUAGEM

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


208

Um aspecto interessante do livro de Daniel é o fato de


ser escrito em duas línguas. De 2:4 até o fim do capítulo 7, a
língua é o aramaico. No restante, o hebraico. Existe algum
sentido especial nisso? Acreditamos que sim.
Baxter relaciona: “Existe uma correspondência
inequívoca entre a imagem do sonho de Nabucodonosor, no
capítulo 2, e a primeira das visões de Daniel, no capítulo 7.
Ambas dão em linhas gerais todo o curso dos “tempos dos
gentios”, enquanto as visões posteriores predizem o futuro
especialmente em relação ao povo da aliança. Assim, os
capítulos de 2 a 7 estão em aramaico, que era na época a
língua gentílica usada no comércio e na diplomacia em todo
o mundo conhecido. Portanto, podemos ver nessa passagem
da língua judaica para a língua comum dos gentios, um
símbolo significativo do que de fato estava acontecendo na
história, por um ato soberano de Deus”.
“Há, porém, ainda mais do que isso. Trata-se de mais
uma prova de que o livro realmente foi escrito quando diz que
foi. Antes dos dias de Daniel, os judeus não entendiam
aramaico (ver IIRs 18:26). Depois da época de Daniel, eles
deixaram de compreender o hebraico (ver Ne 8:8). No tempo
de Daniel, porém, eles compreendiam ambas as línguas. Se
o livro foi escrito por um impostor querendo consolar seus
conterrâneos, quase 400 anos mais tarde, por que escreveu

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


209

a metade dele numa língua em que não podiam mais ler? Ou,
se quisesse mantê-lo em hebraico, para investi-lo de valor
sagrado e antigo, por que colocou esses capítulos centrais na
língua comum de seus dias? Eis um belo enigma complicado
para ser resolvido pelos que favorecem uma data posterior!
Enquanto isso, ficamos gratos de ver no fenômeno um novo
selo colocado sobre o livro pela mão de Deus”.

Posição no Cânon: Os autores dos livros proféticos


eram homens especialmente levantados por Deus, ocupando
a posição técnica de profeta, servindo de mediadores entre
Deus e a nação, declarando ao povo as palavras idênticas
que Deus lhes tinha revelado. Daniel, porém, não foi profeta
nesse sentido estrito e técnico. Foi antes um estadista na
corte de monarcas pagãos.
Na qualidade de estadista, possuía realmente o dom
profético, e é nesse sentido, aparentemente, que o Novo
Testamento o chama de profeta (Mt 24:15). Portanto, Daniel
foi estadista, inspirado por Deus para escrever o livro que tem
o seu nome, pelo que também esse livro aparece no cânon
do Antigo Testamento na terceira divisão, entre os escritos de
outros homens inspirados que não ocuparam o ofício
profético.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


210

MENSAGEM GERAL

O livro de Daniel destaca a soberania de Deus com


relação aos impérios gentílicos mundiais, até o tempo da
destruição deles, na ocasião da segunda vinda do Seu Filho.
“A visão é a de um Deus que governa, cheio de soberania e
poder, de reis que desaparecem; de dinastia e impérios que
surgem e caem enquanto Deus, entronizado no Céu, governa
seus movimentos”. (Campbell Morgan)

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO DE DANIEL

1. Conhecimento concernente às “coisas que hão de vir”.


2. Estas profecias nos dão a vista dos séculos até ao fim,
durante o tempo em que Israel está posto ao lado.
3. Nosso Senhor Jesus se refere a Daniel no Seu discurso
profético no Monte das Oliveiras, sendo assim evidente que
o livro de Daniel é a chave da interpretação.
4. O livro do Apocalipse seria um livro selado sem o livro de
Daniel, e vice-versa.
O livro escrito pelo homem mui amado e o livro escrito
pelo discípulo amado têm de ser estudados juntos, e são a
chave de toda a profecia.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


211

O livro de Daniel é diferente do resto dos livros que


compõem o Antigo Testamento. Embora se encontre, em
nossas Bíblias portuguesas, entre os profetas, não contém
mensgens proclamadas em nome do Senhor, à maneira dos
profetas; nem se trata de um livro histório no sentido em que
o são os livros de Reis, embora comece a partir de um ponto
na história e se mostre claramente interessado nela.
Usando sonhos e visões, sinais, símbolos e números
ele parece estar declarando o curso da história e chamando
atenção ao seu significado, mapeando seu curso à medida
em que ela se encaminha ao seu final. Em linguagem técnica
o livro é, portanto, escatológico (gr. eschaton, fim).
“O livro de Daniel é muitas vezes classificado como literatura
“apocalíptica”. Foi um tipo de literatura profética que floresceu
de 200 a.C. até 110 d.C., dando destaque a visões de
imagens simbólicas de seres humanos e espirituais, com
significado vago. Nela eram também importantes as
expectativas de catástrofe cósmica iminente, em que as
forças do bem venceriam as do mal e proporcionariam o
estabelecimento do governo universal messiânico.
Os profetas Isaías, Ezequiel, Daniel e Zacarias
certamente descrevem acontecimentos sobrenaturais de
caráter cósmico que resultam no estabelecimento da era
messiânica, uma vez que ver o futuro faz parte da profecia.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


212

Entretanto, seus livros não podem ser classificados com os


muitos “apocalipses” que pseudo-escritores produziram
naquele período. Os elementos apocalípticos de Daniel não
são uma imagem vaga, mas são explicados em termos do
mundo real; nem tampouco são meros decretos de
determinismo, mas lembretes do programa divino profetizado
para inspirar o povo de Deus a boas ações, bem como a ter
confiança esperançosa. É um livro “apocalíptico” no
verdadeiro sentido de “apocalipse”, uma “revelação” de Deus.

Objetivo prático de Daniel

Segundo observou Ellisen, “Embora esse livro esteja


repleto de conteúdo profético, está também impregnado de
muitos desafios para a vida prática e piedosa. As profecias
foram dadas não para promover misticismo, mas fortalecer o
caráter. Não como motivo de curiosidade, mas para infundir
coragem. O autor esmera-se em registrar como uma vida
pura, com estudo bíblico e persistente oração, constitui o
manancial de onde ele recebeu as visões de Deus (1:8-9; 9:2-
20).
Na grande profecia das “setenta semanas” para Israel
em 9:24-27, por exemplo, os princípios praticados tiveram
antes grande ênfase. Essa profecia de quatro versículos é

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


213

precedida de um longo relato de Daniel a estudar Jeremias,


a orar, a confessar os seus pecados, a
apelar a Deus com base nas suas alianças e compaixão.
Deve também ser observado que essa revelação de longo
alcance foi dada logo após a experiência de Daniel na cova
dos leões (6:1; 9:1).
Um objetivo básico da profecia é promover vida piedosa.
Nos difíceis tempos dos Macabeus, o Livro de Daniel foi sem
dúvida um fator preponderante na inspiração da coragem
piedosa deles, e os estimulou para serem fortes e executarem
grandes feitos (11:32).”

SITUAÇÃO DOS CATIVOS NA BABILÔNIA

Por muitos anos, Jeová enviara mensageiros ao seu


povo, avisando do juízo que vinha sobre eles.
Finalmente chegou o dia do juízo e Deus os levou ao
cativeiro, enquanto a terra teve o seu descanso dos anos em
que Israel não obedeceu às ordens sobre o Ano Sabático (Lv
26:33-34; IICr 36:20-21; Jr 25:9-12).
Nabucodonosor foi o instrumento usado por Deus para
executar o seu juízo a Israel. Três vezes ele subiu a
Jerusalém (Jr 52:12; 28:30; Is 39:7). Na primeira visita, em
606 a.C., Nabucodonosor (que naquele tempo estava

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


214

governando em segundo lugar com o seu pai) levou 300


rapazes nobres, sendo Daniel, um destes e alguns dos vasos
da casa de Deus (IIRs 24:1). Em 598, a segunda leva,
incluindo Ezequiel. Em 587, ele sitiou a cidade, queimou
todos os prédios importantes e levou todos os habitantes que
escaparam à morte, deixando somente os mais
pobres.
Com o poder de Nabucodonosor começa o Tempo
dos Gentios. Uma característica do tempo dos gentios é a
subjugação de Jerusalém.
Mesmo com toda idolatria, o povo não era maltratado.
Os babilônicos deram a seus exilados bairros onde podiam
morar em conjunto e gozar certa liberdade tanto política como
religiosa. Os judeus na Caldéia ajudaram a construir edifícios,
outros trabalhavam em seus próprios lares (possuíam casas
— Ez 3:24 e 33:30). Os anos do cativeiro converteramnos em
hábeis comerciantes, outros deram-se à
agricultura e a outros misteres; enquanto os que
permaneciam em Judá estavam em extrema pobreza (Ne 1:1-
4).
Com Daniel junto ao rei, o povo judeu foi conceituado.
Durante o exílio, alguns profetas escreveram suas visões e
mensagens. Continuaram a praticar em Babilônia alguns
serviços religiosos, tinham sacerdotes, guardavam o sábado,

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


215

circuncidavam, jejuavam, obedeciam a Moisés, cultuavam a


Deus, liam as Escrituras e oravam na Sinagoga (daí começou
a se espalhar a Sinagoga).
Uma minoria de judeus ingressou no paganismo, o resto
se manteve firme em Deus e nas suas tradições. Quando Ciro
deu liberdade aos cativos para voltarem a sua terra
(Jerusalém), muitos deles rejeitaram o convite, pois tinham
indústrias, comércios, propriedades, riquezas que não lhes
permitiam voltar à terra natal. “Como povo escolhido de Deus
jamais deveriam ter-se permitido esquecer, mesmo lá na
Babilônia, das promessas divinas específicas sobre o futuro,
as quais foram feitas primeiramente a Abraão e,
frequentemente, repetidas e ampliadas nos tempos cruciais
de sua história. Estas promessas asseveravam-lhes que
possuiriam a terra de Canaã. Lá construiriam uma cidade e
uma casa para o Deus vivo; produziriam uma linhagem de
reis que culminaria com o rei divino; seriam abençoados e
tornar-se-iam bênção para todas as nações da Terra. Para
mantê-los unidos era necessário acreditar nesse processo, o
que os preservaria ante todas as outras nações. Mas como
seria cumprido agora este destino, sob o governo de
Nabucodonosor, sob a incerteza da situação mundial, e ante
as sublevações destes novos tempos? Será que haveria uma
mínima possibilidade da promessa feita a Abraão e aos

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


216

patriarcas de realizar? Eles haviam sido arrancados da terra


em que foram plantados. Estavam dispersos em países
distantes. Será que valia a pena apegar-se a esta tradição do
passado e procurar permanecer fiel ao chamado que os
patriarcas ouviram tantas vezes? Poderiam atrever-se a
esperar que o
milagre do grande êxodo do Egito viesse a se repetir num
novo êxodo da Babilônia naqueles dias

REIS ATUANTES DURANTE O CATIVEIRO

Nabucodonosor (Nabu “defensor dos limites”) Este foi o


genial edificador do império babilônico. De seus 70 anos de
vida, governou 43. Nabopalassar, pai de Nabucodonosor,
vice-rei babilônico, sacudiu o jugo assírio, 626-605 a.C. Em
609, Nabucodonosor pôs-se à frente dos exércitos do pai,
subdividindo os países ocidentais, arrebatou do Egito o
domínio da Palestina 605 a.C. e levou alguns judeus para
Babilônia como cativos, entre os quais o próprio Daniel que
exerceu poderosa influência sobre o rei, como amigo e
conselheiro — três vezes Nabucodonosor reconheceu que o
Deus de Daniel era o verdadeiro Deus (Dn 2:47; 3:29; 4:34).
Belsazar – último rei da Babilônia. Filho primogênito e favorito
de Nabonidas.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


217

Dario – Quando tinha 62 anos, assumiu o trono da Caldéia


depois da tomada da Babilônia por Ciro. Eramlhe
subordinados três presidentes, dos quais Daniel era um
deles. Eles tinham autoridade para escrever a todos os
povos, nações e línguas que habitavam em toda a terra. E
escreveram um decreto que levou Daniel à cova dos leões.
Foi neste reinado que Daniel teve a visão das 70 Semanas.
Ciro – Filho de Cambises e fundador do Império Persa, tomou
Babilônia e ficou senhor de toda a Síria Ocidental. Respeitava
a religião dos vencidos e, em lugar de procurar fundir numa
única nação todas as raças que tinha subjugado, só lhes
pedia obediência e tributo. Permitiu que os judeus voltassem
do cativeiro (IICr 36:22-23).

Cap.1: JUDEUS NA CORTE DA BABILÔNIA;


COSTUMES PAGÃOS JULGADOS

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


218

A intenção de Nabucodonosor em mudar a identidade


de Daniel e dos jovens judeus pela identidade do povo
babilônico foi um fracasso (Dn 1:3- 7). Eles não se
esqueceram do seu Deus; antes permaneceram fiéis. Daniel
propôs em seu coração não se contaminar (Dn 1:8). Ele e
seus amigos não se deixaram controlar pelas circunstâncias,
mesmo sabendo que recusar obediência a um decreto real
poderia resultar na morte deles. É notória a fidelidade de
Daniel e seus companheiros. Deus deu graça a Daniel para
com o chefe dos eunucos (Dn 1:11-16). A experiência mostra
que não há situação à qual Deus não possa providenciar uma
saída. Daniel e seus companheiros são considerados
superiores (Dn 1:17- 21). A fidelidade desses jovens permitiu
que fossem considerados dez vezes melhores que todos os
magos e astrólogos da Babilônia.
Nisto vemos a pretensão de Satanás de exterminar a
memória de Jerusalém e dos judeus, fazendo-os misturarem-
se com os gentios e assim se acabarem Daniel e três dos
seus companheiros, achando-se em Babilônia, lugar de
idolatria e imundícia para o judeu, assentaram no seu coração
não se contaminar com estas coisas (Dn 1:8).
Toda a comida do rei era oferecida aos deuses. Tendo
feito esta resolução, declararam-na aos chefes dos eunucos.
Deus abençoou esta declaração e fez que achassem graça

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


219

perante o eunuco, para ele ceder ao seu pedido. No fim de


dez dias de prova, foram achados mais fortes e mais bonitos
do que todos os outros. Não somente receberam bênçãos
físicas, mas também Deus aumentou a sua sabedoria e
entendimento (Dn 1:19-20).
A invisível mão de Deus dirige todo o curso dos
acontecimentos (versículos 2,9) e dá não somente saúde
física mas também vigor intelectual aos Seus fiéis servos. O
dom particular de Daniel de entender visões e sonhos era
apropriado à sua necessidade numa terra em que tal coisa
era esperada de homens sábios, e o Deus que era a fonte de
todo o conhecimento também daria discernimento para
distinguir o certo do errado. Assim, não havia por que temer
que o estudo da cultura babilônica ou de qualquer cultura
pudesse resultar em conversão a uma religião estranha.
Mas havia mais em jogo do que a sua reputação pessoal
ou mesmo a sua fé pessoal. Como representantes do único
Deus eles tinham de provar, no contexto religioso altamente
competitivo da Babilônia, que o temor do Senhor é o princípio
da sabedoria. Grande inteligência e muito trabalho sozinhos
não explicam o seu sucesso; a sua sabedoria era um dom de
Deus (cf. Cl 1:9; 2:9,19). O dom específico confiado a Daniel
faria dele não apenas um conselheiro de confiança de

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


220

Nabucodonosor mas também um canal de revelação, como o


próximo capítulo começará a mostrar.
Daniel foi logo conhecido no meio dos seus
contemporâneos por sua piedade e fidelidade, que chegou a
ser proverbial (Dn 6:10-11; Ez 14:14,20 e 28:3). Como José
no Egito, Daniel também subiu ao lugar de autoridade
revelando sonhos, tornou-se homem de grande fé e
entendimento. Durante longos anos serviu perante reis em
lugares de grandes responsabilidades. Em tudo, porém, foi
fiel a Deus na sua vida particular e no seu testemunho
público.

Sim e não!

Daniel e seus companheiros agarraram os privilégios


que lhes foram oferecidos na escola aberta por
Nabucodonosor. O procedimento deles era cooperar mas
sem desviar-se da sua linha, mantendo as suas consciências
fiéis em sua lealdade a Deus.
Isto significava dizer sim! aos desafios e convites da vida
babilônica. Significava enfrentar, realisticamente, a situação
presente, e que necessitava de ação e de testemunho. A
visão deles era tão ampla que não fizeram objeção ao

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


221

ganharem nomes babilônicos em lugar dos seus próprios


nomes (1:7).
Ainda que fizessem tais concessões, tinham um espírito
de imparcialidade que, a qualquer momento, a resposta não!
podia ser dada, clara e abertamente, a qualquer custo (3:18;
6:10). Levantaram o seu protesto em relação à comida
provinda da mesa real. Pelos padrões orientais, compartilhar
de uma refeição era se comprometer a uma amizade; tinha
uma significação pactual (Gn 31:54; Êx 24:11; Ne 8:9-12; cf.
Mt 26:26-28). Assim, aqueles que tivessem se disposto a
obedecer nessa questão aceitavam uma obrigação de
lealdade ao rei. Parece que Daniel e seus companheiros
tenham rejeitado este símbolo de dependência do rei porque
queriam estar livres para cumprir as suas obrigações
prioritárias para com o Deus a quem serviam.
A contaminação que temiam não era tanto de natureza
ritual como moral, provinda da sutil adulação que
representavam as dádivas e favores, que continham, bem no
fundo, implicações de um leal apoio, não importando quão
dúbias pudessem ser as futuras políticas de ação do rei. “O
resultado da experiência de dez dias (vs. 15-16) justificou a
confiança de Daniel de que a sua saúde não sofreria dano.
Mesmo um pequeno ato de auto-disciplina, feito por lealdade
como um princípio, coloca os servos de Deus sob a Sua

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


222

aprovação e bênção. É desse modo que ações atestam a fé,


e o caráter é fortalecido para enfrentar situações mais difíceis
no futuro.” “No seu interior eles se mantinham estranhos à
vida e à cultura com que evidenciavam estar inteiramente
envolvidos. Nunca negaram a convicção de que pertenciam
de corpo e alma a outro reino.
Cuidavam de nunca perder o contato com a singular e
poderosa Palavra de Deus que os alcançava quando se
reuniam para ler e orar no sentido de que pudessem
compartilhar da mesma visão e esperança que havia
inspirado reis, profetas e sábios da sua nação.
Eles disciplinavam de tal forma as suas vidas e mentes
que, mesmo vivendo em meio a uma Babel de outras vozes,
mantinham-se sempre abertos para ouvir o que a Palavra de
Deus tinha para lhes dizer. O propósito que tinham ao
participarem da escola de Nabucodonosor era para assistir
diante do rei (1:5-19), mas estavam determinados a fazê-lo
não como babilônios mas como dedicados israelitas.
Permaneciam conscientes de que em todos os seus deveres
e tentações, eles estavam sendo provados, não por
Nabucodonosor, mas pelo Deus de Abraão, de Isaque e de
Jacó, a quem pertenciam e a quem deviam servir e amar
antes de tudo o mais. Permaneciam convictos de que o futuro
deles como nação dependia de permanecerem separados

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


223

até a sua volta para casa para retomar a sua própria vida
nacional.” Estavam, portanto, dispostos a servir a Babilônia,
a edificar lhe a sociedade e a traçar-lhe a história, mas nunca
ao ponto de sacrificar a sua própria história nacional em prol
daquela da Babilônia.
Estavam dispostos a prestar homenagem a
Nabucodonosor, mas nunca ao ponto de diminuir a dedicação
que davam ao Deus de seus pais.

CAP. 2: O SONHO DE NABUCODONOSOR; FILOSOFIA


PAGÃ JULGADA

Neste capítulo, pela primeira vez, o curso deste mundo


é desenrolado profeticamente à vista dos homens. Esse
sonho e sua interpretação é um grande pivô da profecia, é o
alicerce de todos os sonhos e visões seguintes. A mesma
revelação encontra-se, em outros termos, no capítulo 7.
Tempo dos Gentios – Esta expressão tão usada em
relação ao livro de Daniel não se encontra no livro dele, mas
é uma frase do Novo Testamento. Nosso Senhor Jesus foi o
único que usou esta expressão – Lc 21:24. O tempo dos
gentios começou com Nabucodonosor quando levou os
israelitas em cativeiro (ver Jr 27:5-9). A glória do Senhor

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


224

partiu de Jerusalém, como foi vista por Ezequiel (9:3; 1-4;


10:18-19; 11:23).
Jerusalém estava suprema enquanto estava ali o trono
e a glória de Jeová. As nações tinham procurado, sem
resultado, derribá-la, mas quando a iniquidade de Jerusalém
estava se enchendo, a glória do Senhor partiu da cidade, e
Ele entregou-a nas mãos de Nabucodonosor. Continuará até
a Glória do Senhor voltar (Ez. 43:2,4,5; 44:4).
Plenitude dos Gentios – Não se deve confundir a
expressão “tempo dos gentios” com “plenitude dos gentios”.
Esta última fala da Igreja e se refere ao número completo
tirado dos gentios para a Igreja (Rm 11:25); isto ocorrerá na
vinda de Cristo para a Igreja (ITs 4:16-17; At 15:14).
O Tempo dos Gentios terminará com a vinda de Cristo
no juízo para estabelecer o seu reino em Jerusalém. As
profecias de Daniel falam do Tempo dos Gentios, mas não
falam da Igreja, a qual foi o mistério escondido durante o
tempo do Velho Testamento (Ef 3:5-6).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


225

COMENTÁRIO SOBRE O SONHO

“Jamais homem algum teve sonho tão


O sonho memorável. Além disso, era tão
esquecido (2:1-13) necessário que Nabucodonosor o
esquecesse quanto que o sonhasse.
– Deus tinha Se o próprio rei tivesse sido capaz de
escolhido relatar o sonho, talvez pudesse haver
interpretações conflitantes; mas o fato
Nabucodonosor
de ele ter sido esquecido
para iniciar o tempo completamente e depois lembrado por
dos gentios e lhe Daniel mediante a inspiração foi prova
cabal de que tanto o sonho como sua
revelou por sonhos
interpretação provinham do Altíssimo.”
o seu plano. O rei, J. Sidlow Baxter.
porém, não podia se
lembrar do sonho que tanto lhe perturbou. E, para que lhe
dissessem o que ele havia sonhado, chamou magos
(possuidores de conhecimentos ocultos), astrólogos (aqueles
que buscam sinais nas estrelas), encantadores (invocadores
de espíritos malignos) e caldeus (classe de homens “sábios”
em Babilônia). Eles, prontos a interpretarem, exigiram que o
rei lhes contasse o sonho. O rei, porém, viu a incapacidade e
o espírito mentiroso da parte deles, e, pelas suas próprias
confissões de impossibilidade de solucionar o caso (v. 10-11),
o rei enfurecido ordenou que fossem mortos todos os sábios
da Babilônia (v. 12).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


226

Uma revelação de Deus (2:13-23) — Daniel e seus


companheiros também seriam vítimas dessa matança.
Entretanto, Daniel pediu tempo ao rei, a fim de revelar-lhe o
sonho. E na companhia de Hananias, Misael e Azarias,
clamou ao Deus do Céu, sobre este mistério, a fim de que
não perecessem. Tendo obtido resposta da sua petição,
Daniel louvou ao seu Deus, com essas declarações (v. 20-
23): A. Sabedoria e força pertencem a Deus;
B. Ele é quem muda os tempos e estações;
C. Ele remove e estabelece reis;
D. Ele dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos que
discernem;
E. Ele revela as coisas profundas e escondidas;
F. Sabe o que está nas trevas e a luz habita com Ele;
G. Graças pela revelação do sonho.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


227

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


228

Sabendo Arioque, o encarregado de promover a


matança, correu ao rei dizendo que havia achado o homem
que podia revelar o sonho, como se fosse achado por ele
(2:24-25).
O seu desejo de honra e glória contrasta com a
humildade de Daniel que, antes de revelar o sonho,
esclareceu ao rei a fonte de seu conhecimento: “... há um
Deus nos céus, o qual revela os mistérios”.
Conteúdo e Interpretação do sonho (2:27-45)56 —
Daniel explicou ao rei que o sonho seria para o fim dos
dias ou para os dias vindouros. E descreveu a estátua do
sonho e a pedra cortada sem auxílio de mãos. Isto serviria
como introdução para a interpretação do sonho. O sonho de
Nabucodonosor apresenta o curso do Tempo dos Gentios.
Daniel, através da interpretação, identifica
Nabucodonosor pessoalmente com a cabeça de ouro (Dn
2:38b), e diz que ele é rei de reis. Esta frase era usada para
se falar dos imperadores da Babilônia, Média e Pérsia. A ideia
era que havia “reis” debaixo da autoridade de outro “rei”
maior.
O segundo reino do sonho é o Medo-Persa, e
corresponde aos peitos e braços de prata. Este reino sucedeu
ao Império Babilônico no ano 539 a.C. O ventre e os
músculos de bronze representam o Império Grego, que foi

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


229

estabelecido por Alexandre “o Grande” no ano de 331 a.C.,


depois de sua vitória sobre Dario III. O último Império, o
Romano (27 a.C.), foi dividido primeiro em duas partes (as
duas pernas da estátua, 330 d.C., época de Constantino) e
depois em dez partes (os dedos dos pés, futuro).
As pernas da estátua, o último Império, foram cumpridas
na divisão do Império Romano em duas partes: o Império
Romano do Ocidente (Roma) e o Império Romano do Oriente
(Constantinopla, Império Bizantino). Mais de 2500 anos têm-
se passado e agora os dedos dos pés da estátua estão
prestes a ter o seu cumprimento.
A União Europeia (antes o Mercado Comum Europeu)
integrada por um grupo de nações, unidas por motivos
econômicos e comerciais, pode representar os dedos da
estátua vista por Nabucodonosor em Daniel 2:41. Mesmo que
o número de membros possa variar até a manifestação do
anticristo, serão dez os da aliança quando a besta se
apresentar. Atualmente, na União Europeia existem mais de
dez nações, mas a união final — esta ou outra — será a Nova
Roma e estará localizada no território que geograficamente
pertencia ao antigo Império Romano.
As Nações da União Europeia já têm formado o seu
parlamento e têm como sede Bruxelas, capital da
Bélgica.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


230

As dez nações formarão uma aliança de ferro e de


barro. A mistura do ferro e do barro representa a mistura de
várias formas de governo, unidas através de alianças (Dn
2:43).
A estátua é destruída por uma pedra cortada sem auxílio de
mãos (o Rei Jesus, em sua segunda vinda) e a pedra se
expande em forma de um monte que encherá toda a Terra
(Dn 2:35, 45; Is 2:2; Mq 4:1).
Abaixo da cabeça de ouro, os metais perdem o valor,
mas ganham força. Roma era a mais forte em potência militar
e a mais fraca em sistema governamental. Cientificamente
tem-se comprovado que o barro cozido é de alta resistência,
mas parte-se com facilidade por não ceder à pressão (baixa
elasticidade), agüentando até o momento final antes de
quebrar-se. O ferro, por outro lado, aparenta ser mais
resistente, mas, sob pressão, fica deformado: não
acontece assim com as cerâmicas modernas.
Utilizando-se a cerâmica tem-se fabricado motores
experimentais de automóveis e diversos aparelhos que
aguentam a força e as altas temperaturas que destruiriam o
próprio ferro.
Tudo isto comprova a inspiração divina do sonho e
sua interpretação, já que Deus conhecia a natureza da
cerâmica antes do homem.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


231

A pedra cortada sem auxílio de mãos destruiu o sistema


mundial dos gentios (em sua forma final). É então quando a
pedra se tornará um grande monte, que encherá toda a terra.
A destruição do sistema mundial dos gentios não ocorreu na
primeira vinda de Cristo. A ação descrita pela pedra, Cristo,
em sua destruição da estátua (símbolo do sistema mundial
dos gentios), terá seu fiel cumprimento na segunda vinda (Dn
7:26, 27).
Daniel é honrado (Dn 2:46-49). Nabucodonosor,
humilhado, reconheceu superficialmente o Deus de Daniel,
declarando que Ele era o maior entre todos os deuses. No
capítulo 4, o rei alcançará maior compreensão do único Deus.

Cap. 3: IMAGEM DE OURO E FORNALHA ARDENTE–


ORGULHO RELIGIOSO JULGADO

A) A imagem de ouro O arqueólogo Oppert, que fez


de Nabucodonosor escavações nas ruínas de Babilônia,
em 1854, achou o pedestal de uma
une o império (3:1-7) A colossal estátua, num lugar chamado
imagem erigida foi Duair, que pode ter sido o resto da
gigantesca estátua de ouro de
imensa, tendo 60 Nabucodonosor, que talvez fosse uma
imagem dele mesmo.
côvados de altura e 6
de largura (cerca de 30m de altura por 3 de largura) o número
seis indica coisas puramente humanas (ver I Sm 17:4 e Ap

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


232

13:18, onde também sobressai o número humano). Os


comentadores admitem que a estátua poderia representar o
espírito da Babilônia, ou o próprio imperador, ou um dos
deuses nacionais tradicionais, ou poderia constituir-se num
ponto de enfoque sincretista para todas as
religiões. Champlin sugere que essa imagem de ouro
provavelmente representava o panteão do império, e talvez
deificasse o próprio rei como seu deus mensageiro.
O sonho do segundo capítulo, em que Nabucodonosor
figura como a cabeça de ouro da imensa e grotesca imagem,
pode ter-lhe sugerido que seria apropriado construir uma
imagem dele próprio, para efeitos de autoglorificação.
Ao estabelecer culto à estátua, o rei estava misturando
o poder político com a religião. No caso da Babilônia,
Nabucodonosor era a lei e o Estado; portanto, prostrar-se
perante a estátua era prostrar-se perante Nabucodonosor.
Temos aqui a tentativa de uma religião mundial de
aparências, de exterioridades. Algo para ver (v. 3), algo para
ouvir (v. 5), mas nada para satisfazer a alma. O incidente
representa o conflito entre a adoração ao Deus verdadeiro e
o uso humanístico da religião como um meio de incrementar
o poder dos governantes deste mundo.
O ato de adorar aquela imagem tipificou então o que
haverá de acontecer na metade da grande tribulação, com

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


233

relação ao anticristo.
A longa lista de pessoas importantes reunidas para
a cerimônia de dedicação da imagem gradua-os com o status
de cada um. “Assim que começaram a ouvir, começaram a
prostrar-se” (v. 7) – houve uma resposta total e imediata. O
rei havia alcançado a unidade que buscava. Baldwin resume:
“Aqui estão todos os grandes do império, caindo estirados
sobre os seus rostos diante de um obelisco sem vida, ao som
de uma miscelânea musical, regida pela batuta do rei
Nabucodonosor”.
B) Três judeus protestam (3:8-18) Se não fosse pelos
informantes, o rei não teria sabido que os três homens que
havia promovido não lhe deram atenção. Acusaram
maliciosamente; esta expressão significa literalmente “comer
a carne arrancada do corpo de alguém”; daí, “difamar”. Os
acusadores estavam ressentidos pelo fato de ter o rei
promovido estrangeiros para estarem acima deles.
Agora, está aí a oportunidade de obter o favor do rei,
revelando-lhe a traição daqueles. Havia inveja e preconceito
para com esses varões de Deus somente pelo fato de eles
serem judeus. Pelo relato, se vê que Daniel não estava
presente, talvez estivesse viajando ou doente.
Os amigos de Daniel recusaram-se a ajoelhar perante a
estátua, isto é, recusaram a contaminação com religião falsa.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


234

A justiça exigia que os três homens não fossem condenados


tão somente com base no “dizem que” e por isso, a despeito
da sua furiosa raiva, Nabucodonosor lhes deu uma chance de
se retratarem. Era imperativo que o grande rei não perdesse
a compostura diante de tão magnificente assembleia de
delegados internacionais, e ele desafia qualquer deus a livrá-
los das mãos da majestade
babilônica.
Os jovens crentes hebreus fizeram a confissão de sua fé
diante de Nabucodonosor. Não há nada que os três possam
dizer em sua defesa. Tecnicamente, eles são culpados,
porém também havia se dado deles uma imagem falsa. Tudo
o que podem fazer é se colocar nas mãos do seu Deus, ao
qual o rei desafiara. Eles não duvidavam do poder do seu
Deus de livrá-los da fornalha do rei, mas não tinham o direito
de presumir que Deus efetivamente o faria.
Se não o fizesse, estavam dispostos a assumir as
consequências, não comprometendo a sua consciência
diante de tal trama – ou seja, estavam preparados para
arriscar suas vidas em nome daquele a quem serviam –
“Ilustra mais uma vez como o comportamento fiel e leal,
mantido durante as decisões de questões menos
importantes, pode chegar à frutificação num testemunho

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


235

espetacularmente corajoso a Deus na hora da provação mais


severa, perante outros.” Eles se dispuseram a tornar-se
mártires de sua causa, o que é melhor do que a apostasia.
C) Livramento na fornalha (3:19-30)
A fúria do rei diante desse desafio à sua autoridade faz
com que cometa grandes erros (vs. 3-18):
1. Utilizar os homens mais fortes do exército para atar
três mansos hebreus (v. 20).
2. Aquecer demasiado a fornalha – se é que queria
prolongar e multiplicar o sofrimento dos três jovens, teria de
usar menos fogo (v. 19). As fornalhas na Babilônia tinham
uma relação com a queima de tijolos (cf. Gn 11:3), os quais
eram largamente usados na falta de pedras. O combustível
usado era o carvão, o qual, uma vez que houvesse a
necessária circulação de ar, produzia as altas temperaturas
exigidas no forno e na fundição (Is 44:12). Alguns fornos de
olaria, bastante grandes, têm sido escavados fora de
Babilônia.
3. A fornalha superaquecida consumiu os mais fortes
soldados do rei.
4. O contrassenso do rei quanto a Deus. Em 2:47, o rei

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


236

engrandece a Deus, agora o O crime da intolerância religiosa


desafia (v. 15). Assim faz o (Dn 3:6). Um infame exemplo disso

homem que não controla a são os horrores da Inquisição,


instituída pela Igreja Romana no
sua ira, a qual transforma-se
Concílio de Tolosa, em 1229. Entre
em cólera ou fúria (Sl 37:8). os anos 1540 e 1570 esse tribunal
Esta é apenas uma das matou 900.000 cristãos. Na

muitas ocasiões em que a ira famigerada Noite de São


Bartolomeu, na França, em 24-08-
irracionalmente
1572, a Inquisição matou 70.000
desencaminhada pode levar
cristãos.
à estultícia e à tragédia.
O soberbo Nabucodonosor teve um susto (vs. 24- 26):
em vez de três homens amarrados, ele vê quatro homens
soltos. O quarto é semelhante a um filho dos deuses ou
“semelhante a um deus” – e começa a ficar claro para o rei
que há um Deus que pode livrar alguém de sua mão. Quanto
mais os perseguisse, tanto mais confirmaria o testemunho
deles. Os três homens estão livres para irem ao seu encontro
quando os chama, saindo da fornalha.
Impressionado pela ausência de quaisquer sinais de
queimaduras, o rei é forçado a reconhecer que o Deus deles
os havia livrado, reduzindo a nada o decreto de
Nabucodonosor. Embora ele possa fazer decretos que são
obrigatórios no mundo, o seu poder está longe de ser
absoluto. Ele havia deixado fora dos seus cálculos o Deus

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


237

Altíssimo (v. 26), cujo poder passa a reconhecer no novo


decreto do versículo 29.
Este título para Deus é frequentemente encontrado na
boca de não-judeus (Gn 14:19; Nm 24:16; Is 14:14). O edito
declara a religião dos judeus legal no âmbito do império; ou
seja, o rei concedeu uma posição oficial ao judaísmo. A fé dos
judeus podia ser praticada sem perseguição. O rei continuaria
a reconhecer outros deuses, mas estava certo de que
nenhum outro deus faria o que ele vira o Deus dos judeus
fazer. O rei moveu-se na direção de um monoteísmo piedoso,
mas é inútil falar aqui em algum tipo de conversão.
Um decreto raro sobre blasfêmia contra Deus, sobre
falar mal de Deus – e por um rei pagão! “Aqueles hebreus
“apresentaram seu corpo” como sacrifício a Yahweh (ver Rm
12:1). Ele ficou satisfeito e os devolveu sem ferimentos e sem
sequer terem sido chamuscados pelo fogo. Eles se
dispuseram a fazer o sacrifício final e a vida deles foi
protegida e, em certo sentido, devolvida. Essas são as lições
morais e espirituais que aprendemos da história. Aqueles
jovens obedeceram a Deus e não aos homens (ver At 5:29).”
Os três hebreus já tinham recebido altos ofícios por
influência de Daniel (2:4,9), mas agora foram promovidos. O
rei “fez prosperar” os três jovens, ou segundo outra tradução,
“constituiu em novas dignidades”.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


238

CONSIDERAÇÕES PESSOAIS
Prof. Pr. Isaias Ferreira

1. A grande estátua que Nabucodonosor construiu é um


símbolo da imagem idólatra que será construída em honra ao
anticristo (Ap 13), em cumprimento das palavras de Jesus em
Mt 24:15. Vimos que o tempo dos gentios começou com a
adoração de imagens, e desse modo também findará. A
Palavra de Deus adverte: “Guardai-vos dos ídolos” (I Jo 5:21).
Na vida do cristão, um ídolo é tudo aquilo que toma o lugar e
o tempo que pertencem a Deus.
2. Babilônia na Bíblia indica a rebelião dos homens
contra Deus; como uma ideia humana de governo
independente de Deus, começou em Gn 10 e 11.
Em nossos dias, essa rebelião continua, mesmo que
disfarçada de muitas maneiras. Toda altivez que se levante
contra o conhecimento de Deus (II Co 10:5) é parte desta
rebelião.
3. Babilônia como cabeça de ouro do capítulo 2 tornasse
um tipo ou modelo da cabeça do sistema gentílico. Esse
sistema tem como objetivo eliminar a Deus e exaltar a
satanás. Nabucodonosor é um símbolo do anticristo. E
Babilônia é um símbolo do sistema político-religioso que será
estabelecido nos últimos dias.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


239

4. Na libertação dos jovens judeus, vemos de forma


figurada a libertação do remanescente de Israel durante a
tribulação.

PRONUNCIAMENTEO DE NABUCODONOSOR

Nabucodonosor fez a sua proclamação depois de


ter-se recuperado da loucura proveniente do castigo de Deus.
A declaração não contém data, mas é possível que tenha
ocorrido durante a segunda metade do seu reinado, quando
ele esteve em paz e tinha terminado a obra de edificação.
Note-se que a proclamação é dirigida a todos... os povos,
nações e línguas.
Nabucodonosor foi o primeiro rei gentio mundial e, ao
levar para o cativeiro os judeus, deu início ao tempo dos
gentios, em cumprimento ao mandamento de Deus.
Paz vos seja multiplicada, são palavras que mostram
uma mudança na vida do rei. Aparentemente, o castigo de
Deus sobre Nabucodonosor lhe favoreceu para o seu bem
eterno.
Quais foram os motivos pelos quais Daniel não interferiu
mais cedo? Não está declarado, mas deve-se notar que
Daniel apareceu por sua própria vontade (Dn 4:8). Isto mostra
a graça que Deus havia dado a ele.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


240

A expressão deuses santos (Dn 4:8) pode ser traduzida


também como “Deus santo”. O contexto deste capítulo indica
o uso do singular. A duração da condenação predita é de sete
tempos, frase que pode significar sete anos.
O número sete confirma que o castigo era proveniente
de Deus. O propósito do decreto (Dn 4:17): “(...) a fim de que
conheçam os viventes que o Altíssimo tem domínio sobre o
reino dos homens; e o dá a quem quer; e até ao mais baixo
dos homens constitui sobre eles.”

A INTERPRETAÇÃO DO SONHO E SEU CUMPRIMENTO


(DN 4:24-37)

A árvore simboliza Nabucodonosor. A humilhação do rei


é representada por uma árvore cortada. A continuidade do
império é vista na atadura do tronco.
Nabucodonosor sofria de: Orgulho, Vaidade, Impiedade,
Soberba, Altivez e coisas semelhantes (Dn 4:30-31).
Nas Escrituras, uma grande árvore é o símbolo de um
homem com poder e influência na Terra. Por exemplo,
Ezequiel falou da Assíria como um cedro do Líbano (Ez 31:3).
Israel é a videira tirada do Egito (Is 5).
Em Mt 13, lemos do grão de mostarda que se tornou
uma árvore onde todas as aves do céu repousavam,

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


241

tipificando o cristianismo mundano com grande poder e


influência. Juntamente com o crescimento do poder dos
gentios há exaltação de si e soberba. Este foi o grande
pecado de Nabucodonosor (Dn 4:30).
O domínio dos gentios é como esta grande árvore, que
será cortada pelo juízo. Em Romanos 11, lemos que os
gentios são enxertados na boa videira, mas são avisados que
não devem se exaltar em terem sido enxertados. Assim
fazendo, serão cortados.

NABUCODONOSOR FOI HUMILHADO

Passaram-se doze meses e o sonho se cumpriu.


Olhando sua obra de edificação, ele atribui a si mesmo
a glória que só pertence a Deus. Nabucodonosor não havia
terminado de louvar a ele próprio quando Deus, no mesmo
instante, o castigou do alto céu. Sobreveio-lhe uma condição
que o fez comportar-se como um animal. Alguns têm dado
nome a esta enfermidade, como, por exemplo, “loucura
zoantrópica” (considerar-se como um animal).
Nabucodonosor andou sete anos com as bestas,
simbolizando os últimos sete anos do Tempo dos Gentios,
quando os homens andarão com as bestas.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


242

Em vez de olhar para os céus, olharão para a Terra e


para as obras humanas. Loucura e bestialidade marcarão a
sua natureza durante os sete anos dominados pelas bestas.
O juízo cairá, mas o trono brotará tipificando as nações que
entrarão no milênio.
O capítulo termina com o nome Rei do Céu e Altíssimo,
o qual será o nome do Milênio.
Nabucodonosor, ao terminar os sete tempos
(possivelmente anos) de castigo, experimentou um
relacionamento pessoal com o Deus Altíssimo. E lhe foi
acrescentada maior grandeza (Dn 4:34, 36).
Nota: Os capítulos 3 e 4 não falam especialmente do futuro, mas revelam
certas características prevalecentes durante o Tempo dos Gentios. São
acontecimentos durante os reinados de Nabucodonosor, Belsazar e
Dario acontecimentos históricos que têm um sentido profético, embora
não seja uma profecia direta.
Cinco coisas são reveladas:
a. Características morais do tempo dos gentios;
b. O que acontecerá no fim do tempo dos gentios;
c. O restante fiel do povo sofredor de Deus;
d. Sua libertação;
e. Os gentios reconhecem Deus como Rei e Deus
nos céus.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


243

CAP. 5: AS PALAVRAS NA PAREDE IMPIEDADE


PAGÃ JULGADA

Noite de blasfêmia Jeremias havia profetizado que todas


as nações serviriam a Nabucodonosor, a seu filho, e ao filho
de seu filho (Jr 27:6-7; IIRs 25:27; Jr 52:31):
a. A ele Nabucodonosor;
b. A seu filho Evil-Merodaque;
c. Ao filho de seu filho Nabonido.

Belsazar é filho de Nabonido. Historicamente, Belsazar


era só um co-regente. Belsazar estava exercendo o comando
como vice-rei quando Babilônia caiu. Seu pai (o rei legítimo)
Nabonido, talvez estivesse viajando, e Belsazar estava no
comando.
A queda de Babilônia havia sido profetizada por
Jeremias (e outros profetas) quase um século antes.
Jeremias apresenta muitos detalhes do evento em profecia
(Jr 50:2, 3, 24, 26; 51:53-58).
A profanação dos vasos sagrados do templo diante de
todos, por parte de Belsazar (Dn 5:2, 3), foi o que provocou a
ira de Deus. Esta foi a causa da mão aparecer na parede e
Belsazar morrer naquela mesma noite (Dn 5:5, 6, 30).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


244

A expressão teu pai (Dn 5:11) é usada para significar a


idéia de sucessão. Tem a mesma força de alguém que diz
“somos filhos de Abraão”.
A rainha não era a esposa de Belsazar. Ela era a rainha-
mãe. Possivelmente havia sido uma das esposas de
Nabucodonosor. O mais correto é pensar que ela havia
presenciado o que Daniel tinha feito antes e sabia o que ele
poderia fazer (Dn 5:10, 11).
No tempo desses acontecimentos, Daniel tinha em torno
de oitenta e cinco anos de idade, e esse rei blasfemo,
certamente, não tinha nenhuma simpatia por este santo
ancião. E tão pouco valeria ao profeta a simpatia de um rei
que, naquela mesma noite, seria derrotado e morto. Um
homem de Deus nunca deve agir com a finalidade de receber
o que as pessoas lhe oferecem.

A SENTENÇA
A mão havia permanecido na parede até o momento em
que Daniel começou a dar a interpretação. É possível que as
palavras MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM (Dn 5:25) não
fizessem parte de nenhum idioma humano. Por outro lado,
muitos comentaristas apresentam uma lista de significados
desta frase, relacionando-os com alguma linguagem
existente na terra. Diante disso, perguntamos: Por que, na

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


245

presença de tantos sábios não houve nenhum que decifrasse


a mensagem, se sua origem era de linguagem natural? Uma
resposta seria que Deus os cegou para que ninguém desse a
interpretação até que Daniel chegasse.
As três palavras aqui empregadas são interpretadas por
alguns como representando três pesos numa escala
descendente: “uma tonelada, um quilo e uma grama”, ou “mil
reais, um real, um centavo”. A simples leitura destas palavras
com tal sentido teria sido suficiente para advertir o rei de que
ele estava no caminho da degeneração e que aviltara a
totalidade da condição do valor do seu reino, a ponto de ser
rejeitado por Deus.
Tendo lido as palavras, Daniel dá a Belsazar um tríplice
significado:
MENE = Contado, e pronto para a venda.
TEQUEL= Pesado, e achado em falta quanto à substância.
PARSIM = Dividido, isto é, entregue aos medos e aos
persas.
O fato é que, sendo de idioma natural ou celestial, as
palavras significavam o fim da Babilônia como império e a
passagem do poder gentílico aos Medo-Persas. Todos os
“sábios” da Babilônia ali reunidos não puderam entender a
mensagem sem a intervenção do profeta, pois era assunto de
Deus.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


246

O CUMPRIMENTO DA SENTENÇA

O salário do pecado é a morte. Naquela mesma noite


Belsazar morreu. Era o dia 16 do mês de tisri do ano 539 a.C.
quando Babilônia caiu nas mãos dos Medo-Persas,
cumprindo assim a Palavra de Deus.
Com este acontecimento, Daniel teve o privilégio de ver
o cumprimento da profecia que ele mesmo havia feito.
A cidade de Babilônia estava sitiada por um grande
exército dos Medos e dos Persas, mas Belsazar confiando na
altura dos seus muros, fez um banquete para o qual convidou
mil, dos seus grandes, juntamente com suas mulheres e
concubinas, ocasião em que blasfemou o nome de Jeová,
usando os vasos do Templo de Jerusalém e bebendo em
honra dos seus deuses. Com isso completou a medida da sua
iniquidade e terminou a paciência de Deus.
O temor de Belsazar foi bastante para ele estar pronto a
escutar até a um judeu que pudesse explicar o sentido das
palavras. Daniel, já avançado em idade, e cansado com a
impiedade do rei, ao entrar na sua presença, não demonstrou
a simpatia que teve com Nabucodonosor. Antes, recusando
os seus presentes, acusou-o de negligente perante a
experiência de seu avô e o rei ficou calado. Lendo as palavras

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


247

tão visíveis, mas tão incompreensíveis na parede, declarou


ao rei o juízo que havia de cair naquela mesma noite.

O ato de sacrilégio

Que relevância especial tinham estes vasos sagrados, a


ponto de o abuso deles ser considerado um pecado tão sério?
O comentário a seguir é de Ronald S. Wallace: A tradição de
Israel ensinava que Deus escolhia certas pessoas e certos
objetos para seu próprio uso especial. Por causa da escolha
dele, e não devido a qualquer qualidade inerente que
possuíssem, estas pessoas ou coisas deviam ser
consideradas sagradas e eram chamadas santas. Por
exemplo, o povo de Israel como nação é chamado na Bíblia
de povo santo, porque Deus assim o chamou (cf. Dt 7:6-8).
O templo é chamado o lugar santo, porque Deus o
escolheu como sua habitação, onde se encontraria com o seu
povo (cf. Êx 29:43-46; I Rs 8:10; 9:3). Deus estabelecera para
este templo um culto com um ritual esmerado. Havia certas
coisas e pessoas especialmente separadas e consagradas
exclusivamente para serem usadas no culto do templo.
Essas pessoas e coisas – o sacerdócio, as vestes, o
altar, os vasos usados sobre este, os candelabros – eram
considerados como tendo uma santidade especial,
simplesmente porque Deus as escolhera, declarando-as

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


248

separadas e destinando-as para este tipo de serviço (cf. Êx


40:9-11). Quando o templo ficou pronto, com os acessórios
que lhe foram dedicados, o próprio Deus veio numa nuvem e
encheu todo o lugar com a sua glória, como que aceitando
todas estas coisas para o seu culto para sempre (cf. Êx 40:34-
35; I Rs 8:10-11).
Outra maneira de indicar que o altar e os vasos do
templo tinham uma santidade especial era dizer que Deus
colocara o seu nome sobre eles (cf. Dt 12:11), de modo que,
quando fossem usados no culto e o seu nome fosse invocado
na oração e na adoração, Ele honraria e abençoaria o uso
santo para o qual foram separados. Belsazar tinha feito mal
uso daqueles acessórios que tinham sido separados para o
uso exclusivo de Deus, aqueles com os quais Deus ligara o
uso do seu nome de uma maneira tão graciosa. Tratar tais
vasos com desprezo era um desafio contra o terceiro
mandamento: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus
em vão, porque o Senhor não terá por inocente o que
tomar o seu nome em vão”. Este mandamento não é
simplesmente uma proibição do praguejar ou do perjúrio. É
uma proibição a qualquer tipo de uso pervertido ou vão
daquilo que Deus nos deu visando ao propósito de
buscarmos a sua presença e de conclamarmos o seu
nome na oração e na adoração.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


249

Além disso, quando Belsazar ostentou os vasos na sua


mesa e fez do abuso deles o ponto alto da sua orgia, houve
desafio e presunção no seu ato. Era um sinal de que
acreditava que esse Deus, de cujos vasos estava abusando
e cujo nome estava insultando, não tinha agora na Babilônia
qualquer realidade ou poder.
Belsazar contava com a ausência desse Deus. Havia,
portanto, na sua ação, um desafio ao Deus de Israel. Daniel
enfatiza que Belsazar conhecia plenamente as implicações
do que estava fazendo: “Sabias tudo isto. E te levantaste
contra o Senhor do céu” (vs. 22-23).
Seu pecado foi uma escolha absurda e deliberada a
favor das trevas, em contraste com o pleno brilho da luz – o
que faz com que o pecado seja realmente pecado é a decisão
da vontade, à plena luz do conhecimento, no sentido de não
receber a graça de Deus, nem reconhecer a sua luz, nem
guardar a sua lei mas, sim, com ódio dele, preferir as trevas
e a transgressão. Em tal atitude e decisão da vontade contra
o Deus vivo, há sempre o elemento irracional, demoníaco e
absurdo.
Belsazar desprezou as coisas santas porque
desprezava a Deus; e espatifou-se contra a rocha do Deus de
Israel. Agora Belsazar teria de aprender que esse Deus era o
Deus vivo, sempre vigilante quanto aos seus próprios

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


250

interesses, bem como aos interesses do seu povo e da


humanidade, nunca descartando aquilo que reservara para a
sua propriedade exclusiva, e que, portanto, dotara de
santidade e separara para o seu uso especial ao aproximar-
se dos homens e das mulheres.
Sua história adverte-nos de que todos nós podemos
facilmente deslizar para o hábito de não levar Deus a sério, o
que pode levar paulatinamente, através do contínuo descuido
e de um endurecimento silencioso e inflexível da mente e das
atitudes, a formas mais profundas e sérias de resistência, até
cessarmos de nos importar com o que anteriormente nos teria
comovido, e de ter vergonha ou de
Enrubescer diante do que antes nos teria chocado.
Podemos chegar cedo demais a este ponto de desastre,
a não ser que conheçamos a nossa fraqueza, precavendo-
nos contra ela, “atentando diligentemente por que ninguém
seja faltoso separando-se da graça de Deus” (Hb 12:15).

Lições:
Os últimos dias de Belsazar foram dias de
concupiscência, impiedade e blasfêmia.
Babilônia representa o sistema religioso mundial,
especialmente aquele que brotará quando a Igreja for tirada.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


251

A última Babilônia será aquele sistema centralizado em


Roma que existirá no Tempo do Fim, mas não chegará até o
fim; conforme Ap 17:16-17, os dez reis o vencerão antes do
fim dos sete anos.
Embora nós não vejamos esses últimos dias, porque a
hora ainda não chegou, estamos já vendo o material de que
será feito. Hoje ouvimos por todo o lado da grandeza de
nossa civilização; entretanto, permeia sobre ela o espírito de
impiedade e de blasfêmia, de incredulidade e nominalismo
religioso. Juntamente com a degeneração espiritual, permeia
a degeneração moral, com seus luxos e vícios. Sobre a
civilização de hoje está escrito: Mene, Mene.
Como Daniel e seu testemunho estavam esquecidos,
também hoje está esquecida a Palavra de Deus. Esta será
lembrada, mas, como para Belsazar, será tarde demais. A
degeneração moral dos dias de Belsazar, quase no fim do
cativeiro, tipifica a degeneração dos gentios quando estiver
perto da hora de cortar os ramos bravos e enxertar de novo
os judeus, na sua oliveira (Rm 11:23-24). Escutemos a
chamada de Deus para nos separar dos males deste dia e
honrar a Cristo em nossas vidas, a fim de nos ocuparmos com
a sua Palavra e com a sua vontade e não tomarmos parte nos
pecados da nossa geração.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


252

Baldwin aplica:
“Este capítulo ilustra a junção de rei e
reino em um destino. O descarado
desrespeito de Belsazar diante do
Altíssimo estava de conformidade com o
caráter nacional, e, eu diria, com a
condição humana de todos nós, tal
como é pintada no Salmo 90.
Embora os dias dos homens estejam contados (v. 10),
poucos os contam para si mesmos, “alcançando um coração
sábio” (v.12). Belsazar, neste capítulo, apresenta uma vívida
descrição do insensato, do ateu praticante, que no fim só
consegue ainda sustentar a sua posição com a ajuda do
álcool, que mascara a dura realidade.”
Olhado de um outro ponto-de-vista, o capítulo contém
um comentário muito perspicaz a respeito da política do
poder. “O capítulo todo é uma instrutiva avaliação simbólica
dos perigos e limites, das fontes e responsabilidades do
poder nas questões humanas”.
Faltava liderança, e uma mudança de governo já se fazia
premente.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


253

CAP. 6: DANIEL NA COVA DOS LEÕES —


PERSEGUIDORES PAGÃOS JULGADOS

No capítulo 6, a soberania do poder gentílico já foi


transferida ao segundo reino, o dos Medos e dos Persas,
representado no sonho de Nabucodonosor pelo peito e
braços de prata.
Os governadores tinham inveja de Daniel. Parece que
entre os principais motivos para destruí-lo estavam a inveja e
o preconceito. Não aceitavam que um “judeu” fosse tão
respeitado. Procuraram arruinar a Daniel atravês de sua vida
pública ou privada. Porém, não conseguindo encontrar nada
de mal nele, criaram, então, situação para poder acusá-lo (Dn
6:5).
Dario, rei dos Medos e dos Persas, caiu na tentação de
ser considerado como um deus (Dn 6:7-9). Isto abriu caminho
para que os inimigos de Daniel pudessem acusá-lo de falta
de respeito ao rei (Dn 6:13). Nada mais distante da verdade.
O rei Dario chamou Daniel de: “servo do Deus vivo...”
(Dn 6:20). A ação de Daniel é citada como um exemplo de fé.
Dario mandou que aqueles que denunciaram a Daniel
fossem lançados na cova dos leões, lugar que acreditavam
ser o sepulcro do varão de Deus. “Os leões se apoderaram
deles, e lhes esmigalharam todos os ossos” (Dn 6:24).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


254

Deus deu um sinal, pois o leão, por natureza, só mata


sua presa para comer. Destaca-se que foram quebrados
todos os seus ossos. Isto foi para aquelas pessoas perversas
uma morte de angústia e tormento. Ficou claramente
demarcada a intervenção de Deus.
Como resultado, Dario fez uma declaração parecida a
que Nabucodonosor havia feito em reconhecimento ao Deus
de Daniel (Dn 6:25-27).
Daniel agora com 80 anos ou mais, com a mesma
paciência e fé, sabendo que o decreto estava assinado, como
de costume entrou em casa e orou ao seu Deus. Este que na
mocidade foi fiel, também na velhice não se desviou da
devoção a Deus. No capítulo 3 foi levantada uma imagem de
ouro para ser adorada: a deificação do homem. No capítulo
6, o homem está posto no lugar de Deus, para receber honra.
Essa é uma característica de todo o tempo dos gentios, nas
figuras de Nabucodonosor, Dario ou Ciro, Alexandre,
Imperadores Romanos, Herodes, Roma Papal e, finalmente,
o Anticristo (Dn 11:36-37; IITs 2:4).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


255

CAP. 7: A VISÃO DOS QUATRO ANIMAIS

O capítulo 7 de Daniel volta ao estudo dos quatro


impérios gentios, representados nesta seção na forma de
quatro animais. Este capítulo termina com a destruição do
pequeno chifre, que será o personagem que terá todo o poder
do último império gentio nos dias da presente dispensação.
O profeta viu os quatro ventos do céu perturbando as
águas do grande mar — o Mediterrâneo, e tipifica as nações
que o rodeiam (Ap 17:15; Is 17:12). Estes animais saindo do
mar foram homens e nações saindo do meio das nações do
mundo. A areia do mar representa as multidões.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


256

EXPOSIÇÃO DOS CAPÍTULOS 8 AO 12 (ILUSTRATIVO)

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


257

ANOTAÇÃO______________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD
258

__________________

LIVROS: 12 LIVROS
GRUPO: OSÉIAS, JOEL, AMÓS, OBADIAS, JONAS, MIQUÉIAS,
NAUM, HABACUQUE, SOFONIAS, AGEU, ZACARIAS, MALAQUIAS

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


259

Os 12 livros dos profetas menores foram escritos


durante um período muito extenso - do século VIII ao III a.C.
- e por isso constituem fonte inestimável para o conhecimento
da antiga civilização judaica, em seus aspectos sociais,
religiosos e políticos.
A ordem em que aparecem não é a mesma nas versões
cristãs da Bíblia a Vulgata e a Setenta que por sua vez
diferem da adotada pelo texto Massorético. Em nenhuma das
três a ordem observada é a cronológica. Na tradição
hebraica, são conhecidos pelo nome de tereasar, que na
língua aramaica significa 12, e estão colocados logo depois
do livro de Ezequiel.
Oséias viveu no século VIII a.C., no reinado de Jeroboão
II, que retomou os territórios anexados pela Assíria. No plano
interno, apesar da prosperidade econômica, seu governo foi
marcado pela corrupção e pela busca desenfreada de prazer
e lucro. É nesse ambiente que Oséias como também Amós
vai exercer sua atividade profética e anunciar o processo que
Javé vai abrir "contra os habitantes do país, porque não há
fidedignidade, nem amor, nem conhecimento de Deus (...)
aumentam o perjúrio, a mentira, o assassínio, o roubo e o
adultério; sangue derramado soma-se a sangue derramado".
O segundo dos profetas menores é Joel, que faz uma
descrição da praga de gafanhotos que se abaterá primeiro

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


260

sobre os campos e depois sobre a cidade, como castigo de


Javé. O país, que antes da praga era "como um jardim do
Éden, depois dele será um deserto desolado". Mas depois do
flagelo, Javé terá zelo e piedade: "Eis que vos envio trigo,
vinho e óleo. Saciar-vos-ei deles. Não mais farei de vós um
opróbrio entre as nações." Em seguida, Javé derramará seu
espírito sobre todo o povo: "Vossos filhos e filhas
profetizarão, vossos anciãos terão sonhos, vossos jovens
terão visões." E conclui com a promessa de que "Javé
habitará em Sião".
Pastor e podador de sicômoros, a vida profissional de
Amós, terceiro dos profetas menores, se revela em seu estilo,
cheio de imagens retiradas da natureza e da vida campestre.
Consciente da corrupção interna do reino de Jeroboão
II, e de que a moralidade social é um fator determinante da
vida de um povo, repreende as classes ricas, que exploram
os trabalhadores. Em consequência desses pecados,
"porque oprimis o fraco e tomais dele um imposto de trigo",
para proveito próprio, muitos castigos sobrevirão.
O penúltimo capítulo do livro relata as visões de pragas
de gafanhotos, seca, fome e luto; no último, vêm as
perspectivas de recuperação e de fecundidade paradisíaca,
em que as cidades serão restauradas, os habitantes

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


261

"plantarão vinhas e beberão o seu vinho, cultivarão pomares


e comerão os seus frutos".
O livro que contém as profecias de Abdias, quarto dos
profetas menores, consiste em um único capítulo, e é o menor
da Bíblia. Sua profecia se apresenta em duas partes: o
castigo de Edom, anunciado em pequenos oráculos
dispersos pelo livro; e o dia de Javé, em que Israel se vingará
de Edom.
O plano histórico em que desenvolvem essas profecias
é o da invasão do sul da Judéia pelos edomitas, após a ruína
de Jerusalém. Constitui na verdade um clamor de vingança,
de espírito nacionalista, embora exalte a justiça e o poder de
Javé, a quem pertencerá finalmente o reino.
O livro de Jonas é atípico em relação aos outros profetas
menores, por dois motivos: seu título não se refere ao autor,
mas ao personagem principal; não apresenta fatos históricos,
mas uma parábola. Jonas, encarregado por Javé de pregar a
penitência em Nínive, capital da Assíria, toma outro destino e
embarca para Társis. Uma tempestade surpreende o navio, e
os marinheiros suspeitam de que alguém atrai uma maldição
divina. Jonas acusa-se, pede para ser lançado ao mar, é
engolido por um grande peixe e cuspido na praia.
Vai para Nínive, onde prega nas ruas, obtém o
arrependimento do rei e do povo e assim evita o castigo. O

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


262

livro é tido como uma preparação à revelação evangélica do


amor de Deus, pela piedade demonstrada em relação a
Jonas, salvo da morte, e a Nínive, salva da destruição.
Contemporâneo de Isaías, Miquéias é um homem do
campo, conhece as agruras do trabalho na terra e as injustas
relações de dominação que os donos impõem aos
empregados. Por isso, investe contra "os que comeram a
carne do meu povo, arrancaram-lhe a pele e quebraram-lhe
os ossos". Ameaça os usurários, que roubam os campos,
tomam as casas, oprimem "o homem e sua herança". O livro
apresenta, em duas sequências, as profecias de castigos e
as promessas de salvação, e conclui por um apelo ao perdão
divino, ao Deus que "tira a culpa e perdoa o crime, que
calcará aos pés as nossas faltas e lançará ao fundo do mar
todos os nossos pecados".
Diferentemente dos profetas menores já citados, Naum
dirige suas críticas apenas aos estrangeiros, contra quem
roga a vingança de Iavé. Em atividade no século VII a.C.,
entre a queda de Tebas e a de Nínive, por ele prevista, o
profeta é um apaixonado cantor da liberdade. Seu livro, de
apenas dois capítulos, começa por um canto de glorificação
a Iavé, como o deus vingador; seguem-se um poema satírico
contra Judá e Nínive, ameaças e palavras de consolação a
Israel; no final, um canto de lamentação fúnebre aos assírios,

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


263

com o comentário de que todos os povos aplaudem sua


desgraça, pois sobre todos se abatera continuamente sua
maldade.
O oitavo profeta menor é Habacuque, cuja mensagem é
uma profecia de salvação.
O livro não traz nenhuma informação sobre sua pessoa
nem sobre a época em que viveu. Compreende três capítulos:
o primeiro é um protesto à vitória dos caldeus sobre Nínive e
ao domínio da iniquidade no mundo; o segundo, também
sobre Nínive, apresenta-se na forma de um diálogo entre
Deus e o seu profeta, e traz uma série de maldições contra o
opressor, em forma de duras críticas aos arrogantes, aos que
acumulam o que não lhes pertence, aos que ajuntam ganhos
ilegítimos e "constroem uma cidade com sangue e injustiça";
o terceiro é um apelo à intervenção de Javé: "Espero tranquilo
o dia da angústia que se levantará contra o povo que nos
ataca."
Contemporâneo de Naum e dos primeiros anos de
Jeremias, Sofonias profetizou em Judá, ao tempo do rei
Josias. Seu livro segue a maior parte dos escritos proféticos,
com antevisões de calamidades, oráculos contra povos
estrangeiros e profecias de salvação. Em quatro capítulos,
começa por uma longa série de anunciações do dia de Javé

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


264

em Judá, quando se levantarão urros e gritos, e os homens


serão castigados.
O segundo capítulo dirige-se contra as nações dos
filisteus, moabitas, no ocidente, amonitas no oriente, etíopes
no sul e assírios no norte. O terceiro concentra suas
imprecações contra Jerusalém e o templo; a terceira prediz
que o esplendor do segundo templo será maior que o do
primeiro; a quarta é uma consulta aos sacerdotes sobre as
impurezas que ameaçam o templo; a última, uma profecia da
escolha de Zorobabel como eleito de Javé.
As exortações à reconstrução do templo, proferidas por
Ageu, encontram eco em seu contemporâneo Zacarias,
sacerdote e penúltimo dos profetas menores. Seu livro
contém três profecias: uma conclamação à conversão,
quando então Javé se voltará para seu povo; uma narração
de visões noturnas; um apelo à continuação do jejum do
quinto mês, comemorativo do incêndio do templo.
Os oráculos, também em número de três, apresentam-
se nessa ordem: a vinda do reino de Javé, com a aniquilação
dos poderes terrestres e o recolhimento dos israelitas
dispersos; uma alegoria, que descreve o bom pastor,
desprezado pelo rebanho, e o mau pastor, cuja morte iniciará
um processo doloroso de purificação; e dois ataques contra
Jerusalém.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


265

O último dos profetas menores, Malaquias, viveu por


volta do século V a.C. Há dúvidas se esse era mesmo seu
nome, ou um designativo da função de mensageiro. O livro é
um longo diálogo, iniciado com a palavra de Javé, ou de seu
profeta, que é contraditado pelo povo, ou pelos sacerdotes, e
volta a afirmar o que dissera, de modo mais categórico.
O diálogo se desenrola ao longo de seis alocuções, na
seguinte ordem: Javé assegura seu amor por Israel; censura
os sacerdotes por seu desleixo nos sacrifícios; censura os
judeus por seus matrimônios mistos, com "filhas de um deus
estrangeiro", e os divórcios; avisa que só virá como juiz
depois que seu mensageiro purificar o sacerdócio e o templo;
promete que tão logo os dízimos sejam pagos, pontual e
integralmente, cessarão as pragas de gafanhotos e a perda
de colheitas; promete também que no dia do juízo os justos
serão recompensados e os pecadores castigados; finaliza
com uma exortação à observância da lei de Moisés e com a
previsão da vinda de Elias, o profeta, "antes que chegue o dia
de Javé, grande e terrível".

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


ESBOÇO
OSÉIAS 266

I. O Casamento de Oséias Ilustra a Infidelidade de Israel,


e a Rejeição e Restauração da Nação (1.2—3.5)
II. A Mensagem de Oséias Descreve a Infidelidade,
Rejeição e Restauração de Israel (4.1—14.9)
I. Deus Promete Restaurar Israel (14.1-9)

Autor

Oséias, cujo livro se encontra no início do rolo dos doze


profetas, marca um novo estágio na profecia hebraica, pois
ele é o primeiro ou um dos primeiros profetas a pôr em forma
escrita as suas profecias. E a profecia escrita não poderia
desejar para seu início um livro mais nobre.
Parece que o profeta era nativo do reino do norte. De
qualquer modo, parece que ele era bem versado com sua
geografia e os detalhes de sua vida política, religiosa e social.
A parte principal e mais volumosa do livro é notável por seu
interesse no reino de Israel; as referências à nação irmã do
sul são escassas. Seu ministério como profeta foi prolongado;
e sobre isso, a lista de reis que aparece no começo do livro é
evidência suficiente. Por qual razão o profeta deu início à sua
lista dando primeiramente os nomes dos reis de Judá, é algo
difícil de dizer. Talvez ele assim tenha feito a fim de

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


267

demonstrar seu respeito à linha legítima e davídica de reis,


que governavam em Jerusalém (cf. 8.4).
Com toda a probabilidade seu ministério principal se
estendeu desde os últimos dias do reinado de Jeroboão II
(782-741 a.C.) até à queda de Samaria (722 a.C.).
Conteúdo
O conteúdo do livro serve de espelho para as condições
políticas, sociais e religiosas que prevaleciam em Israel nos
dias do profeta. As últimas décadas da vida do reino do norte
foram marcadas por uma frenética e insensata alteração na
orientação -agora cortejando o favor da Assíria, em seguida
tentando subornar o Egito.
Em lugar de depositarem sua confiança em seu Deus,
os líderes da nação tentaram salvar o país por meio de
esquemas políticos que, pela própria natureza das coisas,
estavam destinados a conduzir ao desastre.
Os líderes religiosos do povo mostraram ser igualmente
indignos. A forma de religião que prevalecia nos dias de
Oséias era um amálgama de adoração a Jeová com a religião
idólatra de Canaã. Nessa mistura, de Jeová era retido apenas
o nome; o ritual era tirado inteiramente das práticas corruptas
da adoração a Baal.
Essa adoração exercia um efeito corruptor sobre o povo,
visto que estava intimamente ligado a atos de grosseira

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


268

imoralidade. A situação se agravava ainda mais pelos


sacerdotes, cuja única preocupação era promover seus
próprios interesses materiais, o que não hesitavam em fazer
encorajando o povo a permitir-se cair em seus pecados,
assim aumentando as rendas dos sacerdotes mediante as
ofertas pelo pecado.
Sob tais condições, não é de estranhar que os padrões
morais, e religiosos do povo estivessem tão baixos. Um
quadro vívido, embora patético, sobre esse estado de coisas,
é dado na parábola transmitida pela tragédia da vida em
família de Oséias.
O profeta se casara com uma Jovem que, com a
passagem do tempo, mostrou-se infiel. Os nomes que o
profeta deu aos filhos de sua esposa são sinais da agonia
crescentemente aguda pela qual ele passava. A despeito de
toda a sua perversidade, entretanto, e embora seu pecado a
tivesse levado a ser a concubina-escrava de outro homem, o
profeta a reclamou como sua legítima esposa, e sua atitude
para com ela, depois disso, é um belo equilíbrio de amorosa
ternura e severo julgamento.
Tal é o conteúdo de seu livro. Passagens de ternura sem
paralelo e de duro julgamento estão mescladas mutuamente
a fim de demonstrar os sentimentos de Deus para com Seu
povo em desobediência.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


269

O tema em redor do qual gira a mensagem inteira da


profecia é a queixa de Deus de que Seu povo é falto de
conhecimento; e por esse termo devemos entender não
simplesmente algum conhecimento teórico, mas um contato
íntimo e caloroso do coração do povo com o amoroso coração
de Deus.

A teologia de Oséias

Oséias concentra sua atenção na relação de Deus com


Israel. Enquanto Amós está preocupado com a soberania
divina com o interesse de Jeová por outras nações, a
abordagem de Oséias é uma preocupação exclusiva com a
relação de Israel com Deus pertinente ao concerto. "A nação
abandonou seu marido Yahweh, e desempenhou o papel de
meretriz quando colocou sua confiança nos baalins. [...] O
pecado não é definido de forma legalista; [...] para ele, a
essência do pecado de Israel é confiar em qualquer ser ou
coisa que exclua Deus na busca de direção e sustento de
vida". (DENTON, 1956, p. 1.119). Por isso, o profeta censura
severamente toda forma de idolatria.
A interpretação que Oséias faz da história de Israel
prende-se em torno da ideia do amor divino e do
conhecimento de Deus. Por trás da figura da paternidade e

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


270

do casamento estão duas palavras hebraicas usadas por


Oséias: 'ahab e chesed.
A primeira é o equivalente hebraico do termo amor,
usado para referir-se ao amor humano, quer puro ou impuro.
A segunda (chesed) é a palavra traduzida em 2.19 por
"benignidade" (RC; ECA; ARA), "amor" (BV; NTLH; NVI) e
"amor firme" (RSV). Também significa "amor de concerto",
"amor-concerto", ou seja, o amor ligado ao concerto. Quando
usada em relação a Deus é o equivalente hebraico de
"fidelidade" e quando usada em relação ao homem desdobra-
se no sentido de "devoção, religiosidade, lealdade".
A palavra 'ahab é considerada a mais restrita das duas,
ao passo que chesed é a mais nobre. Entretanto, há ocasiões
em que 'ahab tem seus termos de elevada nobreza e
dignidade. A palavra 'ahab é empregada para denotar o
"amor-eleição" de Deus e forma a base do concerto. Indica a
ação redentora do Senhor na história e na escolha de Israel
como seu povo.
Havia duas questões que a lei não podia responder
acerca de si mesma. A primeira dizia respeito à razão para
seu próprio estabelecimento. A única resposta achava-se no
amor ('ahab) de Deus. O "amor-eleição" de Jeová por Israel
era a base e a causa única da existência do concerto entre
Deus e Israel.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


271

De fato, se não fosse pelo "amor-eleição" de Jeová


nunca teria havido concerto e, por conseguinte, Israel.
Também de acordo com o concerto, era a contínua
obediência de Israel a Deus que tornava possível sua
existência.
Mas, e se Israel fosse desobediente? A lei não tinha
resposta! Só o amor fiel de Deus poderia oferecer uma
solução. Isto nos proporciona a segunda síntese entre a lei e
o amor no livro de Oséias. Esta vinculação está ilustrada
graficamente pela relação dele com sua esposa adúltera.
O amor de Deus atinge o ápice da expressão quando
Jeová brada: "Como te deixaria, ó Efraim? Como te
entregaria, ó Israel?" (11.8). Oséias usa constantemente a
palavra chesed (amor) para denotar a atitude de Jeová
pertinente ao concerto.
Portanto, 'ahab é a causa do concerto e chesed é o meio
de sua continuação. Assim, chesed seria a atitude expressa
para com o concerto da parte de Deus e de Israel.
(ADAMSON, 1956, p. 764).
Na progressão da ideia de amor em Oséias há três
pontos importantes a destacar. Primeiro, o amor é a base do
concerto.
Segundo ele é a resposta ao concerto quebrado e à
existência continuada de Israel. Terceiro, a "firmeza" ou a

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


272

"fidelidade" é o elemento central no amor. Portanto, a base


do concerto é o amor e não a lei.
Mas a santidade de Deus ainda exige que a lei -a
essência do seu amor e concerto -seja guardada e que o
transgressor seja excluído da comunhão divina.
Mesmo que haja o amor (chesed) de Deus por Israel,
tem de haver um chesed ao Senhor proveniente de Israel. É
uma relação recíproca. Deus inicia esse amor e Israel,
agradecidamente, retribui. Este é o sentido no qual o amor
(‘ahab) é usado de uma forma inferior para uma superior, o
sentido de amor humilde e obediente.
O amor do homem por Deus no Antigo Testamento está
baseado no amor do Senhor pelo homem.
A relação não está elaborada de forma sistematizada,
mas ela existe. Se Israel precisava ser grato a Deus por sua
eleição, muito mais agradecido precisava ser pelo amor firme
e pela fidelidade do Senhor depois de ter quebrado o concerto
com Ele.
Assim, vemos que o pano de fundo do concerto entre
Jeová e Israel é a graça, não a lei. Poderíamos dizer que a
lei, como expressão da santidade de Deus, forneceu a
essência do seu amor (chesed) e, portanto, do concerto com
seu povo.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


273

O problema do chesed de Deus e do concerto quebrado


concentra-se na tensão entre a santidade e o amor divinos.
Qual é o equilíbrio entre a misericórdia e a justiça?
O livro de Oséias é excelente exemplo desta tensão
entre a mensagem de destruição proclamada por Deus e sua
misericórdia. Jeová foi constantemente fiel na sua parte do
concerto, e é este elemento do amor de Deus que, no final
das contas, ocasiona a solução da tensão entre seu amor e
sua santidade. Deus mesmo ocasionaria esse
arrependimento requerido por ele (12.6) e forneceria a
expiação que sua santidade e justiça exigiam (Is 53). É a ideia
de amor (chesed) na relação de concerto, ainda que
quebrado, que se desdobra no propósito da graça no Novo
Testamento.
É também este elemento que proporciona o pano de
fundo para a profecia do novo concerto em Jeremias e o
fundamento da esperança messiânica.
O segundo elemento no livro de Oséias é o
conhecimento de Deus. Esta característica surge da
"comunhão" que é o resultado do "amor de concerto". Esta
comunhão no pensamento hebraico torna-se o método de
conhecer Deus. Wriezen comenta: "Este conhecimento de
Deus é essencialmente uma comunhão com Deus, e é
também fé religiosa.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


274

É algo completamente diferente de conhecimento


intelectual: trata-se de conhecimento do coração e demanda
o amor do homem (Dt 6); sua demanda vital é andar
humildemente nos caminhos do Senhor (Mq 6.8); é o
reconhecimento de Deus como Deus, a rendição total a Deus
como Senhor". (WRIEZEN, 1961, p. 105).
Com isto em mente, podemos entender por que era tão
sério o clamor de Oséias de que não havia "conhecimento"
de Deus em Israel. Indica que não havia fidelidade a Deus,
amor a Ele e comunhão com Ele.
O profeta não se refere a um conhecimento intelectual,
mas a uma relação espiritual. Wriezen demonstra esta
dedução quando escreve que, no Antigo Testamento, "o
conhecimento de Deus não implica numa teoria sobre a
natureza de Deus; não é ontológica, mas existencial: é uma
vida na verdadeira relação com Deus". (WRIEZEN, 1961, p.
105).
A análise descrita acima destaca dois fatores sobre o
"conhecimento" no Antigo Testamento. Primeiramente, é
espiritual e relacional e não intelectual.
Em segundo lugar, tem implicações éticas. Snaith ilustra
este segundo ponto quando, ao comentar sobre 4.2, diz que
"o verdadeiro chesed (amor) de Israel por Jeová implica [...]
fundamentalmente em conhecimento de Deus e, resultante

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


275

disso, lealdade na adoração verdadeira e apropriada, junto


com o procedimento adequado a respeito das virtudes
humanitárias". (SNAITH, 1946, p. 156).
O fato que conhecimento é essencialmente comunhão,
e que isto está baseado necessariamente na relação de
concerto com Jeová, acarreta implicações éticas. Pois se o
amor é o elemento básico no concerto, não pode estar
separado da lei que fornece sua essência. Portanto, o
conhecimento de Deus proporciona a transição entre a
religião e a ética; assim se justifica o clamor profético pela
justiça social e a insistência que a verdadeira religião é muito
mais que a observância ritual.
É evidente que a "ética" de Israel era profundamente
pessoal e estava baseada na ideia-concerto de chesed
(amor), o qual está muito bem apresentado nos escritos de
Oséias. Visto que seu tema principal é as relações entre
pessoas e seu alvo é a união ou conhecimento no mais pleno
sentido da palavra hebraica, chesed é o meio de vencer o
afastamento e a desavença. Isto ocorre porque a mente
hebraica via o homem, em si, como algo incompleto, alguma
coisa menos que ser humano, quando fica separado da
relação de concerto. Torna-se verdadeiramente autêntico
apenas quando descobre sua relação com Deus e com o
homem.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


276

A reconciliação ocorre pelo amor de Jeová ao homem e


pela resposta humilde do ser humano em amor. É pelo amor
que o homem percebe a verdadeira essência do seu ser.
Oséias com sua teologia de amor prepara o pano de
fundo para a ideia do Novo Testamento de que a existência
só é percebida num relacionamento com Deus, e a vida mais
completa é percebida na koinonia (comunhão de amor). O
ápice é atingido nos escritos de João e, sobretudo, em 1Jo
4.16,17: "Deus é amor, e aquele que permanece no amor
permanece em Deus, e Deus, nele. Nisto é em nós
aperfeiçoado o amor" (ARA).
Nos dias de Oséias, Israel parecia incapaz de
arrepender-se e a santidade do Senhor não podia tolerar o
pecado. De alguma forma, o amor firme de Deus acharia um
meio de trazer as pessoas de volta para Ele. Embora o
Senhor tivesse pronunciado certa destruição sobre o
pecador, prometeu que nunca abandonaria Israel.
O povo israelita tem de ser julgado, mas Deus, em seu
amor (chesed), não pode destruí-lo. Esta tensão criativa
alcança sua maior expressão em 11.8,9 (ARC), onde, depois
de predizer o exílio na Assíria, Jeová brada: Como te deixaria,
ó Efraim? Como te entregaria, ó Israel? Como te faria como
Admá? Pôr-te-iam como Zeboim? Está mudado em mim o
meu coração, todos os meus pesares juntamente estão

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


277

acesos. Não executarei o furor da minha ira; não voltarei para


destruir Efraim, porque eu sou Deus e não homem, o Santo
no meio de ti; eu não entrarei na cidade.

Contribuições singulares
O livro enfatiza o amor matrimonial de Deus

Oséias revela uma das imagens mais profundas do amor


divino encontrado no Antigo Testamento. Embora forçado a
divorciar-se de Israel e julgá-lo devido à sua prostituição (2.2-
5), o Senhor ainda confirmou o seu amor pela nação e sua
intenção de cortejá-Ia e trazê-la de volta em justiça (2.14-
16,20). Ele comparou o relacionamento da sua aliança com
Israel a uma união conjugal profunda e íntima.

O poder secreto do amor Divino (14.9)

Este versículo final é um desafio aos mais sábios e


perspicazes para que esquadrinhem o singular poder do amor
de Deus. Embora o amor divino por Israel parecesse fútil e
infrutífero no tempo de Oséias, assim não aconteceria em
longo prazo, pois "os caminhos do Senhor são retos" (14.9).
Seu amor por Israel continuaria apesar da obstinação do povo
e, no final, se justificaria numa colheita de justiça. Deus não
faz maus investimentos (2.19).

O Profeta e seu casamento falido (1.2; 3.1-3)

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


278

A ordem que Oséias, o profeta, recebeu do Senhor para


casar-se com uma prostituta é chocante e cria um dilema
(1.2). De conformidade com a Lei de Moisés, Gômer deveria
ser apedrejada como prostituta (Lv 20.10; Dt 22.21¬24). Não
se sabe se ela já era prostituta ao casar-se ou tornou-se
depois. Qualquer que seja o caso, os tempos de Oséias não
eram normais, pois a terra estava cheia de prostituição e os
sacerdotes tinham-se tornado um bando de assassinos (4.12-
14; 6.9).
O adultério de Gômer, entretanto, alcançara tamanho
grau de baixeza que ela se tornara uma prostituta escrava
(3.1-2). Todavia, a atitude de Oséias ao reivindicá-la e
comprá-Ia tirando-a do mercado da prostituição não violou a
Lei, pois foi ordenada por Deus e realizada sob a dispensação
especial da graça divina (semelhante à graça demonstrada a
Davi quando este caiu em adultério). O Senhor suspendeu o
julgamento sobre Israel a fim de revelar aos judeus sua
magnânima graça. Eles mereciam ser totalmente destruídos
por prostituírem-se, deixando o Senhor pelos deuses pagãos
(3.1-4).
A analogia divina com o casamento humano aqui
apresentada foi planejada e expressa divinamente, e não
deve ser posta de lado. A grande lição que se tira desse fato

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


279

é que aquela infidelidade sexual é devastadora para um


casamento, provoca o julgamento de Deus e exige
arrependimento verdadeiro, bem como renovação genuína
dos votos matrimoniais para que haja restauração.
Apesar de a Lei proibir que a mulher fosse aceita pelo
seu primeiro marido, após haver sido repudiada por este,
casado outra vez e seu segundo marido haver falecido (Dt
24.1-4; Mt 19.8-9), faz parte da graça oferecer misericórdia
para a reconciliação numa genuína união renovada. A
mensagem prática de Oséias são os dividendos que tal graça
retribui (14.4¬7), conforme demonstrado profeticamente no
livro.

Oséias em relação a Jeremias (11.7-9; Jr 9.1-2)

O que Jeremias foi para Judá, Oséias foi para Israel 140
anos antes. Ambos instaram com o seu povo, implorando o
amor de Deus, enquanto o povo lançava-se à destruição.
Ambos ministraram depois de uma época de prosperidade
em toda a nação, seguida de indiferença espiritual e
corrupção moral. Ambos expressaram a tristeza de Deus por
ser forçado a divorciar-se do seu povo por adultério e a
permitir sua destruição por um império do oriente (Jr 3.8; Os
2.2-7).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


280

Ambos também falaram de uma renovada aliança entre


o Senhor e o seu povo na futura era messiânica (Jr 31.31 e
ss.; Os 1.11; 14.1 e ss.).

Religião depravada de Israel (6.6-10; 9.15-10.2)

Oséias descreve um dos períodos mais indignos da


história religiosa de Israel.
Apesar de guardarem religiosamente os rituais, os
judeus praticavam a idolatria.
Banditismo era comum entre o povo e até mesmo os
sacerdotes reuniam-se para atacar e assassinar peregrinos
no caminho para Siquém (4.11-13,18; 6.9). Toda a terra
mergulhara na prostituição (4.11-14,18; 6.10). Sua hipocrisia
era clamorosa. Por esse motivo, o Senhor prometeu vir como
um leão, leopardo, urso e fera selvagem para despedaçá-los
e devorá-Ios (5.14; 13.7-8). O reino do norte desfez-se e
estava com Judá cento e cinquenta anos mais tarde, na
época de Daniel, quando o Senhor descreveu o seu plano de
disciplinar a nação por meio dos quatro "animais" (Daniel 7).
Amós, o profeta do sul, já estivera em Samaria para
repreender os líderes do norte pelo seu arrogante orgulho e
ausência de misericórdia e justiça. Do mesmo modo que
Amós denunciou o sistema depravado dos seus
compatriotas, Oséias insistiu com eles mostrando o amor

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


281

divino da aliança. Tendo rejeitado a correção, estavam sendo


destruídos pela "falta de conhecimento" (4.6) e fadados a ser
extintos como nação quase vinte anos mais tarde.

Cristologia em Oséias

Em Oséias, as referências ao Messias são raras e um


tantas indiretas.

(a) O amor divino por Israel, enfatizado pelo profeta,


subentende o amor de Cristo tanto por Israel quanto pela
Igreja (Jo 13.1). O Senhor do Antigo Testamento (YHWH) é a
própria Trindade, e o relacionamento "marido-mulher"
representa o relacionamento entre o Senhor da aliança e o
povo da aliança. O amor do Novo Testamento entre Cristo e
sua Igreja é outra expressão daquele amor divino, mesmo
para os que estão fora daquela união da aliança (Ef 2.11-14).
(b) A referência de 3.5 que "tornarão os filhos de Israel,
e buscarão ao Senhor seu Deus, e a Davi, seu rei" é
provavelmente messiânica. Pode referir-se ao Próprio
Messias como "Filho de Davi" (Mc 12.35). "Nos últimos dias"
os filhos de Israel "tremendo se aproximarão do Senhor"
(3.5).
(c) "Do Egito chamei o meu filho" (11.1) é citado em
Mateus (2.15) como uma profecia do Antigo Testamento de
que Jesus seria levado ao Egito e chamado pelo anjo do

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


282

Senhor. Evidentemente Mateus usa esse texto como uma


"profecia" de Cristo, mostrando o relacionamento íntimo entre
o Messias e Israel, até mesmo tendo experiências
semelhantes à aflição vinda dos gentios e ao livramento de
monarcas assassinos.
(d) A vitória de Cristo sobre a morte (13.14; 1Co 15.55).
(e) Deus deseja a misericórdia, e não o sacrifício (6.6;
Mt 9.13; 12.7).
(f) E os gentios que não eram o povo de Deus, passam
a ser seu povo (1.6, 9-10; 2.23; Rm 9.25,26; 1Pe 1.10).
Além dos trechos específicos, o Novo Testamento
expande o tema do livro.
— Deus como o marido do seu povo — e diz que Cristo
é o marido de sua noiva redimida, a igreja (1Co 11.2; Ef 5.22-
32; Ap 19.6-9; 21.1-2, 9-10). Oséias enfatiza a mensagem do
Novo Testamento a respeito de se conhecer a Deus para se
entrar na vida (Os 2.20; 4.6; 5.15; 6.3-6; Jo 17.1-3).
Juntamente com esta mensagem, Oséias demonstra
claramente o relacionamento entre o pecado persistente e o
juízo inexorável de Deus. Ambas as ênfases são resumidas
por Paulo em Rm 6.23: “Porque o salário do pecado é a
morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo
Jesus, nosso Senhor”.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


JOEL 283

ESBOÇO

I. A Calamidade Atual de Judá (1.2-20)


II. A Iminência de um Juízo Ainda Maior (2.1-17)
III. O Futuro Dia do Senhor (2.18—3.21)
Estilo

O livro de Joel é uma das gemas literárias do Antigo


Testamento. É edificado com cuidado e efeito dramático e
aqui e acolá, pelo livro inteiro, há belezas que brilham
intensamente e até deslumbram a imaginação. W. G. Elmslie
tem chamado atenção para o fato em The Expositor, Fourth
Series, Vol. 3, p. 162: "Se existe na Bíblia um livro que é uma
obra prima de arte literária, é o livro de Joel. Há outros
profetas que escreveram com maior paixão e maior poder,
que se elevam as mais sublimes altitudes da revelação divina;
mas dificilmente há um escritor do Antigo Testamento que
tenha demonstrado empenho mais cuidadoso, detalhado e
primoroso para dar polimento, remate e beleza à sua obra
literária".
"O estilo de Joel é preeminentemente puro. Caracteriza-
se pela fluência e regularidade nos ritmos, nas sentenças
completas e na simetria dos paralelismos. Com o poder de

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


284

Miquéias ele combina a ternura de Jeremias, a vivacidade de


Naum e a sublimidade de Isaias" (A. R. Fausset).

Data

O livro apresenta ao estudioso muitos problemas e


talvez o primeiro e mais importante deles é determinar onde
colocá-lo entre os outros profetas do Antigo Testamento.
Essa dificuldade pode ser mais bem percebida quando se
sabe que já foi colocado em quase todos os períodos da
dispensação profética. Pelo simples fato que menção
nenhuma é feita sobre a Assíria ou a Babilônia, é admitido
que Joel tenha exercido seu ministério antes do levantamento
da primeira ou depois do declínio da última.
Por conseguinte, há concordância quase universal que
o livro deva ser posto ou entre os primeiros livros dos profetas
ou entre os últimos. É verdade que muitos eruditos modernos
favorecem a data mais recente, mas isso de forma alguma é
universalmente reconhecido e diversos fatores parecem
sugerir que a data mais antiga está bem dentro dos limites da
possibilidade. Entre esses fatores temos primeiramente o
quadro do reino. Toda a menção ao rei é abafada quase ao
máximo, o que confirmaria o ponto de vista que o período do
livro foi o de Joás o qual, embora rei, ainda era menor de
idade, quando Joiada agia como regente (2Rs 12.1 e segs.).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


285

Paralelamente a isso, no livro de Joel o sacerdócio é


considerado com a maior honra e respeito. A adoração no
templo era diligentemente mantida e o aspecto mais negro do
desastre causado pela seca e pelos gafanhotos era o fato que
as ofertas diárias não podiam ser continuadas (1.9). A religião
deve ter sido geralmente praticada quando nenhuma outra
coisa parecia pior que isso. Esses fatos, para dizer a verdade,
se adaptariam aos tempos da minoridade de Joás.
Em segundo lugar, além disso, não há qualquer
referência ao reino do norte, tão próximo geograficamente e
tão inter-relacionado com Judá em período posterior. Se
preferirmos a data mais antiga parece natural que, em vista
de tudo quanto Judá havia sofrido às mãos de Atalia, a infame
filha de Acabe (2Rs 11.1 e segs.), haveria apenas raras
referências a Israel, nos apelos do profeta ao reino do sul.
Uma terceira característica que dá apoio à data mais
antiga do livro é que as passagens condenatórias parecem
ser uma relíquia dos dias mais combativos de Israel e não dos
dias de seu período mais enfraquecido, quando declinava,
condição que seria refletida no livro se a profecia pertencesse
a data mais recente como querem alguns críticos.
Outro argumento em favor da data mais antiga é o que
se encontra nas referências cruzadas que podem ser
observadas entre as profecias de Joel e de Amós.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


286

Naturalmente que alguns têm argumentado que Joel


emprestou dados de Amós; mas, devido ao caráter dessas
várias referências é de arguir-se, se não conclusiva,
provavelmente, que se deu justamente o oposto, ou seja, que
Amós iniciou sua profecia onde Joel deixou a sua (cf. Am 4.6
com Jl 2.12; Am 9.13 com Jl 3.18).
Esse ponto é plenamente desenvolvido na obra de
Kirkpatrick, Doctrine of the Prophets, p. 63-65. A tudo isso
pode ser adicionado o fato que, no tempo de Amós a ideia do
"dia de Jeová" era comum e que, de conformidade com a
aparente íntima conexão entre Amós e Joel, é evidente que
isso só era familiar porque Joel assim o tinha feito, em seu
ministério, anterior ao de Amós.
Concluindo, há certo número de alusões a eventos
históricos que, se corretamente interpretadas, parecem exigir
a data mais antiga. Jl 3.17,19, que falam de estrangeiros "a
passar" pela terra e que acusam o Egito e Edom de derramar
"sangue inocente", bem podem referir-se à invasão de Judá
por Sisaque (1Rs 14.25) e à revolta dos edomitas durante o
reinado de Jorão (2Rs 8.20-22). Novamente, a acusação de
Joel contra os fenícios e filisteus (Jl 3.4,6) pode ser
comparada com o relato do escritor das Crônicas a respeito
dos assaltos dos filisteus durante o reinado de Jorão em Judá

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


287

(2Cr 21.16), e aos oráculos de Amós contra ambas essas


nações (Am 1).
Igualmente, na menção ao "vale de Josafá" (Jl 3.2), há
uma possível referência ao fato desse rei haver derrotado
Moabe, Amom e Edom, no vale de Beraca (2Cr 20.26). Tudo
isso seria coerente com a posição tradicional que coloca o
livro de Joel entre os primeiros profetas no "cânon", posição
essa que não pode ser voluvelmente abandonada como se
fosse inteiramente fortuita, visto que é inegável que o
presente arranjo dos livros foi, naquele tempo, tencionado
como cronológico.
Tudo quanto dissemos não deve ser entendido como
inferência que não existem argumentos a favor da colocação
do livro de Joel entre os escritos após o retorno do cativeiro.
As principais razões apresentadas em defesa dessa posição
podem ser arranjadas como segue. Segundo dizem, a
natureza geral da linguagem e do estilo, particularmente o
fraseado de 3.1,17, parece exigir que o livro tenha sido
composto após a destruição de Jerusalém em 586 a.C. A
ausência de qualquer referência ao reino do norte sugere que
este, de fato, não mais existia como entidade política
separada.
A ausência de qualquer repreensão aos pecados
nacionais e, especialmente, à idolatria, é incoerente com o

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


288

estado de coisas que dominava antes do exílio. A atitude


hostil, adotada para com outras nações pagãs, é mais
característica de um período posterior, quando o
nacionalismo judaico se tornou mais estritamente
exclusivista.
A predominância do sacerdócio nas atividades diárias e
a ardente devoção pelos sacrifícios no templo não eram tão
típicas no período Pré-exílico, mas, em realidade, pertencem
a dias mais recentes, na comunidade menor e mais
intimamente ligada dos exilados que voltaram.
O argumento que se baseia no estilo e na linguagem é,
quando muito, extremamente falho, pois, no caso dos
profetas, existem outros fatores, além dos puramente
pessoais, a complicar a questão inteira. "Os remanescentes
da literatura hebraica são muito parcos para por eles
decidirmos com certeza o que era e o que não era possível
em um período particular.
A uniformidade da pontuação massoréticas obliterou
muitas distinções de pronúncia, que teriam servido como
indicações” (KIRKPATRICK, 1998, p. 72). A referência, em
3.1, a "renovarei o cativeiro" não tem de significar
necessariamente que essas palavras tenham sido proferidas
durante ou após o exílio; também foram empregadas por
Amós (Am 9.14) e por Oséias (Os 6.11), e são perfeitamente

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


289

consistentes quando usadas pelos profetas que viram


claramente no futuro os desastres que profetizaram que
sobreviriam.
A ausência de qualquer referência ao reino do norte
também não pode ser considerada conclusiva; pois enquanto
que esperanças de reunião foram mantidas por outros dos
profetas anteriores, nenhum deles esteve tão próximo,
quanto ao tempo, do amargo e cruel despotismo de Atalia,
como Joel; e seria de esperar que quaisquer referências a
essa parte da terra, da qual tinha vindo uma governante tão
cruel e perversa, deveriam desaparecer em segundo plano.
Além disso, em conexão com a ausência de reprovação
contra as transgressões nacionais, não podemos assumir
que os dias que se seguiram à volta do exílio foram livres de
pecados dignos de ser acusados, tanto políticos como
eclesiásticos. Esdras, Neemias e Malaquias encontraram
muito contra o que falar. Tentar encaixar Joel nessa situação
levanta tantas dificuldades quantas se propõe solucionar.
O mesmo também pode ser dito a respeito do argumento
de que a atitude inteira do livro é caracterizada por um
nacionalismo fanático, que se manifestou mais tarde. Nada
conclusivo pode ser derivado daí. De fato, esse argumento
pode disparar pela culatra. Os profetas mais antigos ou fazem
silêncio (Oséias) sobre a questão dos pagãos, ou se mostram

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


290

interessados apenas em sua destruição final (Amós),


enquanto os mais recentes podem ver um remanescente
sendo salvo, dentre cada nação debaixo do sol.
Quanto à predominância sacerdotal e a tendência
ritualista que se afirma ser característica dos tempos pós-
exílios, é necessário dizer apenas que tal característica pode
aparecer em toda época quando fenece a religião vital.
Que isso não era fenômeno desconhecido nos dias dos
primeiros profetas pode ser visto por Is 1.11-15. Portanto, há
sólidas razões para apoiarmos a data antiga,
tradicionalmente aceita, para a profecia de Joel. Por mais
imponentes e impressionantes que sejam os argumentos
contra essa posição, parecem envolver-nos cada vez mais,
obrigando-nos a ajustar os fatos que possuímos à teoria
sobre uma data mais recente, o que cria mais e maiores
dificuldades do que aquelas que ficam resolvidas.

O Autor

No tocante ao próprio Joel, pouco sabemos além do fato


que ele era filho do Petuel (1.1) e que, com toda a
probabilidade, ele vivia em Jerusalém. As muitas referências
à cidade revelam um grande amor a ela e íntimo
conhecimento de sua história e adoração (1.14; 2.1,15,32;

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


291

3.1-2,6,16-17,20¬21). "Joel", que significa "Jeová é Deus",


era um nome favorito (1Sm 8.2; 1Cr 6.36; 7.3; 11.38; 15.7;
27.20).
Pelas passagens de 1.13-14 e 2.17 pode-se deduzir que
ele não era sacerdote.
Ele viveu e profetizou numa época quando o povo de
Judá ainda não havia caído naquela extrema depravação
que, em tempos posteriores, atraiu contra eles tão pesados
castigos. Isso parece situá-lo ou no início do reino de Joás ou
entre o reino de Joás e o de Uzias (2Rs 11.17-18; 12.2-16;
2Cr 24.4-14). Provavelmente ele também era contemporâneo
de Oséias e Amós e, assim eles se dirigiam a Israel, ele se
dirigia a Judá. Se esse foi o caso, provavelmente foi logo após
o reino idólatra de Atalia, a infame filha de um iníquo casal,
Acabe e Jezabel (2Rs 11), quando, sob a influência de Joiada
(2Cr 23.16-21; 24.14,18), estava tendo lugar algo da natureza
de um reavivamento religioso.

Circunstâncias

Aconteceu de tal modo que, na providência de Deus, a


terra ficou literalmente desolada por uma praga de
gafanhotos, havendo tal escassez de alimentos que provocou
a descontinuação das ofertas de alimentos e das libações na
casa de Deus (1.13). "Mas, embora tal praga possa ter, a

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


292

princípio, despertado extrema apreensão no profeta e


impulsionado sua alma até às mais baixas profundezas,
depois de examinar suas palavras ficamos convencidos que
elas se referem a uma ansiedade vindoura ainda maior, uma
incursão de adversários que infligiria terríveis assolações à
terra, deixando-a desolada e nua atrás de si, segundo haviam
feito aqueles gafanhotos". (WARREN, 1999 p. 437).
Joel apareceu em Jerusalém para declarar que aquela
invasão de gafanhotos era um quadro de uma visita de Deus,
em ira e julgamento. Ele apelava em prol de um ato de
arrependimento nacional, uma festa solene (2.12), e exortava
os líderes religiosos a mostrar bom exemplo (2.15-17). Então
profetizou o retorno do favor de Deus e da prosperidade da
terra (2.18-20), bem como a remoção de seus inimigos (2.21-
27).
Depois disso, de um modo que não tem significação fora
da inspiração divina, ele passou a descrever o derramamento
do Espírito Santo que se seguiria (2.28-32). No dia de
Pentecoste, o veredicto de Pedro foi: "isto é o que foi dito pelo
profeta Joel" (At 2.16). Adiante, Joel é levado a profetizar
sobre a destruição final de todos os inimigos de Deus e de
Seu povo (3.1-21).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


293

Interpretação

A descrição acima, sobre o conteúdo do livro de Joel,


pressupõe uma resposta a uma pergunta que não é
universalmente admitida. Joel estava descrevendo uma real
praga de gafanhotos, que então afligia a nação? Ou estava
ele predizendo alguma praga semelhante que se verificaria
no futuro? Ou estava antes predizendo que nações
circunvizinhas invadiriam a terra do mesmo modo que a praga
dos gafanhotos? Mesmo todas essas perguntas não exaurem
as linhas possíveis de interpretação. Resta a última pergunta
a respeito dos gafanhotos, se eles seriam ou não "gafanhotos
escatológicos" e não históricos. Aqueles que afirmam ser
esse o caso, declaram que em Joel não temos o caso de uma
histórica invasão de gafanhotos; mas que tudo é ideal, místico
e apocalíptico.
Pareceria, até mesmo para um leitor casual, que o
primeiro capítulo, por exemplo, tem a clara intenção de ser
histórico. G. A. Smith declara que "seus simbolismos são por
demais vívidos, por demais reais, para terem natureza
preditiva e mística. E a inteira interpretação apocalíptica se
esbarra no mesmo versículo que a interpretação alegórica, a
saber, 1.16, no qual Joel claramente fala de si mesmo como
quem sofreu, juntamente com os ouvintes, por causa da

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


294

praga que descreve" (The Twelve Prophets, Vol. 2, p. 395).


Por outro lado, "a linguagem do livro é muito agravada e
ignominiosa para ser limitada à praga natural... sob o
simbolismo dos gafanhotos ele devia estar descrevendo
alguma mais fatal agência da ira Deus contra Israel" (ibid., p.
390).
Por conseguinte, parece óbvio que, na visitação real dos
gafanhotos, o profeta viu a aproximação de uma invasão de
exércitos circunvizinhos. Os gafanhotos tinham vindo; as
invasões ainda viriam. Além disso, parece evidente que, por
essas coisas sobre as quais o profeta é impelido a falar, ele
foi conduzido a referir-se aos juízos do "dia do Senhor", muito
mais perscrutadores que qualquer praga física. O livro,
portanto, é parcialmente histórico e parcialmente profético.

O Livro de Joel ante o Novo Testamento

Há dimensões tanto presentes quanto futuras em todas


as aplicações de Joel no Novo Testamento. Os dons do
Espírito que começaram a fluir através do povo de Deus, no
Pentecostes, ainda se acham à disposição dos crentes (1Co
12.1—14.40). Além disso, os versículos que precedem a
profecia a respeito do Espírito Santo (isto é, a analogia da
colheita com as chuvas temporãs e serôdias, Jl 2.23-27) e os

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


295

versículos que se seguem (isto é, os sinais que se darão nos


céus no final dos tempos, Jl 2.30-32) indicam que a profecia
sobre o derramamento do Espírito Santo (Jl 2.28,29) inclui
não somente a chuva inicial no Pentecostes, como também
um derramamento final e culminante sobre toda a raça
humana no final dos tempos.
Vários versículos de Joel contribuem poderosamente à
mensagem do Novo Testamento. A profecia a respeito da
descida do Espírito Santo (Jl 2.28-32) é citada
especificamente por Pedro em seu sermão no dia de
Pentecostes (At 2.16-21), depois de o Espírito Santo ter sido
enviado do céu sobre os 120 membros fundadores da igreja
primitiva, com as manifestações do falar noutras línguas, da
profecia e do louvor a Deus (At 2.4,6-8,11,17,18).
Além disso, o convite de Pedro às multidões, naquela
festa judaica, a respeito da necessidade de se invocar o nome
do Senhor para ser salvo, foi inspirado (parcialmente) em Joel
(Jl 2.32a; 3.14; ver At 2.2, 37-41). Paulo também cita o
mesmo versículo (ver Rm 10.13). Os sinais apocalípticos nos
céus que, segundo Joel, ocorreria no final dos tempos (Jl
2.30,31), não somente foram lembrados por Pedro (At
2.19,20), mas também referidos por Jesus (e.g., Mt 24.29) e
por João em Patmos (Ap 6.12-14). Finalmente, a profecia de
Joel a respeito do julgamento divino das nações, no vale de

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


296

Josafá (Jl 3.2, 12-14), é desenvolvida ainda mais no último


livro da Bíblia (Ap 14.18-20; 16.12-16; 19.19-21; 20.7-9).

Contribuições singulares
Ênfase do Dia do Senhor

Joel é conhecido como o profeta do dia do Senhor, por


ter supostamente cunhado a frase para o grande dia do
julgamento das nações pelo Senhor. Entretanto, ele pode ter
tomado a expressão de Obadias que a usou vinte anos antes
com referência ao futuro julgamento de Edom.

Profeta do derramamento do Espírito no pentecoste


(2.28-32)

Tanto Pedro quanto Paulo usaram esse texto como uma


profecia da dispensação cristã (At 2.16-21; Rm 10.13). Pedro
usou-o para confirmar a validade do dom de línguas no
Pentecoste; Paulo usou-o para confirmar a validade da oferta
de salvação pela fé a todo o mundo. Nenhum deles afirmou
que a profecia tinha sido totalmente "cumprida" no
Pentecoste, mas que o derramamento do Espírito fazia parte
dela. A primeira parte foi evidentemente cumprida no
Pentecoste, isto é, o Espírito Santo foi derramado para a

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


297

proclamação mundial da salvação simplesmente pela


invocação do nome do Senhor.
A última parte, referente aos sinais divinos de
perturbações físicas no sol, lua e céu, não ocorreu naquela
ocasião, mas acontecerá um pouco antes do "grande dia da
sua ira" (Ap 6.12-17). É claro que Pedro citou integralmente a
profecia no Pentecoste a fim de incluir a oferta universal de
salvação no final (Jl 2.32). Tal como a profecia da vinda do
Messias em Isaías 9.6-7, essa profecia da obra de graça do
Espírito Santo e da obra do terrível julgamento tem duas
fases, largamente distanciadas.

Promessa de prosperidade material devida ao


arrependimento (2.18.27)
Joel dá uma ênfase especial aos benefícios físicos e
materiais advindos do arrependimento e obediência. Tal
arrependimento, disse ele, removeria as pragas dos
gafanhotos e da estiagem e restauraria as bênçãos da chuva,
boas colheitas e proteção contra os inimigos (2.19-20). Essas
promessas foram para Israel, não necessariamente para a
Igreja do Novo Testamento. Os judeus achavam-se sob a
aliança do Senhor e aqueles benefícios lhes tinham sido
prometidos como frutos da obediência (Lv 26.14-20; Dt 11.13-
17).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


298

O objetivo do Senhor nessa promessa a Israel era


demonstrar sua soberania sobre toda a natureza como um
testemunho tanto para Israel como para as nações. Nenhuma
aliança de "benefícios materiais" foi estabelecida com a
igreja. Tendo demonstrado cabalmente sua soberania em
épocas anteriores, o Senhor apela para a fé na sua Palavra
estabelecida, independente de benefícios materiais (Mt
19.21; Lc 14.33). O princípio universal de esplêndida colheita
pela generosa semeadura é, certamente, sempre aplicável.
Mas a colheita pode ser reservada para o céu com as suas
recompensas eternas (Pv 11.24; Lc 6.38; Gl 6.7-9).

Fazer do Senhor um aliado (2.16-18)

O versículo 17 é o ponto crucial do livro. Contém a


oração de arrependimento recomendada pelo Senhor para o
povo, oração que muda a perspectiva do livro da adversidade
para a bênção. O versículo seguinte principia com "Então o
Senhor..." e enumera as diversas bênçãos que ele poderá
dar-Ihes após o arrependimento. Deixaria de ser adversário
para tornar-se um aliado. Transformaria o seu infortúnio em
prosperidade. O arrependimento verdadeiro faz de Deus um
defensor do penitente e torna-o capaz de receber as bênçãos
divinas.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


299

Cristologia em Joel

Joel, o "profeta do Espírito Santo", não faz muitas


referências diretas ao Messias. Em muitas declarações do
Senhor como "Jeová" (YHWH), entretanto, ele fala como o
Messias que virá libertar e governar o seu povo na era
messiânica: "Sabereis que estou no meio de Israel" (2.27),
"derramarei o meu Espírito sobre toda a carne" (2.28),
"congregarei todas as nações (...) entrarei em juízo contra
elas" (3.2), "Levantem-se as nações, e sigam para o vale de
Josafá; porque ali me assentarei, para julgar" (3.12) e "Eu
expiarei o sangue dos que não foram expiados" (3.21;
comparar com Jo 5.22).
Apesar de indiretas, essas referências podem ser
consideradas messiânicas através das lentes dos textos
posteriores.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


AMÓS 300

ESBOÇO

I. Oito Oráculos de Julgamentos às Nações (1.3—2.16)


II. Três Mensagens Proféticas a Israel (3.1—6.14)
III. Cinco Visões da Retribuição Vindoura pelo Pecado
(7.1—9.10

O fundo histórico

Amós, um dos maiores dos chamados profetas


"menores" (Cornill o chama de uma das mais maravilhosas
aparições na história do espírito humano), profetizou durante
os dias de Uzias, rei de Judá e de Jeroboão II, rei de Israel. É
impossível determinar o ano exato de sua profecia, mas
provavelmente foi cerca de 760 a.C. A referência ao
terremoto (1.1), que evidentemente tinha sido memorável (cf.
a alusão de Zacarias ao mesmo, em Zc 14.5, muito tempo
depois), não nos ajuda muito a fixar uma data absolutamente
certa.
Em 803 A. C., Adade-Nirari III, da Assíria, infligiu uma
esmagadora derrota sobre a confederação síria. Esse
enfraquecimento do vizinho nortista de Israel e subsequente
preocupação da Assíria com outros locais, deu a Jeoás e a
seu filho, Jeroboão II, uma supremacia na parte norte da
Palestina e na Síria provavelmente desconhecida por

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


301

qualquer de seus predecessores. Israel estava novamente


livre para apropriar-se de novos territórios e isso fez com o
maior zelo, particularmente, às expensas da Síria. Todas as
principais estradas estavam em suas mãos e Samaria, a
capital, se tornou ponto de encontro dos mercadores que
viajavam entre a Mesopotâmia e o Egito.
Ali se juntavam as caravanas vindas de várias partes do
mundo oriental e Samaria se tornou o empório de
mercadorias de toda espécie. As crescentes atividades
comerciais trouxeram a Israel enormes lucros e uma
poderosa classe comerciante se desenvolveu, o que teve
largas repercussões sobre o resto dos habitantes.
Essa prosperidade comercial deu origem a um grande
programa de edificação de "casa de inverno" e "casa de
verão" (3.15), bem como "casa de marfim". Samaria contava
com muitos palácios (3.10) que pertenciam não só ao próprio
rei, mas aos ricos príncipes-comerciantes que se tinham
enriquecido no comércio. Essas grandes casas se tornaram,
antes de muito tempo, depósitos de toda espécie de luxos
(3.12; 6.4).
A oportunidade de enriquecer tornou os comerciantes
ansiosos para aumentar seus lucros, tanto por meios
honestos como por artifícios desonestos. Mostravam-se
impacientes para com os sábados e as luas novas (8.5).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


302

Nesse tráfico mundano eram impelidos por suas


mulheres, que exigiam luxos cada vez maiores (4.1).
O ditado que "o dinheiro corrompe" foi verdadeiramente
exemplificado no reino do norte durante os dias de Jeroboão
II. O desejo de riquezas teve resultados desastrosos, tanto
para o comerciante como para o pobre aldeão. Os ricos
príncipes-comerciantes se tornaram desmoralizados,
corruptos e injustos; os pobres eram oprimidos, roubados e
maltratados. Amós pertencia à classe pobre dos aldeões e
provavelmente sabia, por amarga experiência própria, a que
indignidades haviam sido sujeitados os pobres e oprimidos.
Os ricos ficavam cada vez mais ricos e os pobres
tornavam-se cada vez mais empobrecidos. Qualquer
propriedade possuída pelo pequeno proprietário tinha de ser
vendida, devido à força bruta de circunstâncias adversas.
Para Amós, pois, não havia justiça na terra. Os que
emprestavam dinheiro tomavam as próprias roupas das
pessoas para servirem de garantia pela dívida. Os juízes
eram influenciados pelo suborno e isso significava vitória para
a injustiça e derrota para a verdade (8.6). Nenhuma
testemunha honesta podia ser encontrada nos tribunais.
O homem honesto perdia o direito da verdade, da
propriedade e da vida.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


303

A piedade tornou-se uma qualidade rara e os pobres


eram mantidos com as costas na parede (2.6). O pequeno
proprietário independente e o proprietário aldeão lutavam
numa batalha perdida. As áreas menores de terreno eram
absorvidas nas propriedades mais vastas.
No que dizia respeito à religião, os santuários de Betel e
de Gilgal, especialmente o de Betel, estavam apinhados de
adoradores. A adoração a Baal certamente havia sido
suprimida por Jeú, o sucessor de Acabe, mas o espírito, se
não a forma, havia permanecido nos santuários autorizados,
onde supostamente Jeová era adorado. Ali o opressor do
pobre, o rico a regalar-se em seus luxos, adorava com uma
consciência embotada ou morta.
Externamente tudo era feito de conformidade com a
regra, mas não havia verdadeira adoração segundo a
compreendemos hoje. Israel tinha cessado de viver perante
Deus, tal como havia acontecido no deserto, sob Moisés, e
agora estava meramente existindo para Deus. Os santuários
talvez estivessem apinhados de adoradores, mas Deus não
se achava presente. A superstição e a imoralidade tinham
tomado o lugar da piedade e da sinceridade. A religião estava
totalmente divorciada da conduta e passou-se algum tempo
antes que Israel pudesse entender que essas duas coisas
devem seguir paralelas.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


304

O reino de Jeroboão, portanto, era uma terra de


extremos contrastantes: os ricos eram muito ricos e os pobres
eram muito pobres. Sob tais condições era inevitável que
crescessem a insatisfação e o desassossego. Conforme ficou
demonstrado pelos acontecimentos subsequentes, o país
estava maduro para a guerra civil.
Após a morte de Jeroboão houve três reis no espaço de
um ano. Revolução seguia-se a revolução e no período de
alguns poucos anos uma parte do reino de Israel havia
desaparecido, enquanto o restante se mantinha numa
independência precária, dependendo da boa vontade da
Assíria.
Tais condições sociais não podiam prolongar-se
indefinidamente; de fato, tinham em si mesmas a sentença de
morte. Amós foi um daqueles homens que perceberam o fato.
Ele percebeu a negra nuvem de julgamento surgir no
horizonte. Havia forças sociais, morais e políticas em
operação que realizariam a vontade de Deus e executariam
o juízo que já tinha sido decretado. Israel, efetivamente, "um
cesto de frutos de verão" e seu fim não podia ser adiado (8.2).

O Profeta
Amós era nativo de Tecoa, uma pequena cidade cerca
de dez quilômetros de Belém. Não era cortesão como Isaías,

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


305

nem sacerdote como Jeremias, mas pastor e cultivador de


sicômoros. Por meio das comparações que ele
frequentemente empregou, fica claro que ele estava plena e
pessoalmente familiarizado com as dificuldades e perigos da
vida de boieiro.
A vida lhe era difícil e havia pouco luxo. Por outro lado,
seu negócio o levava certamente a cidades e mercados
importantes onde, sem dúvida, se encontrava com caravanas
de muitas terras. Um homem de seu calibre sempre mantém
os ouvidos abertos para as notícias sobre homens e seus
feitos em outros lugares. Isso explica seu surpreendente
conhecimento sobre outras terras e outros povos.
Conforme mostram os capítulos iniciais de seu livro, ele
sabia muita coisa sobre a história, as origens e feitos das
nações circunvizinhas. Devido a tais experiências e moldado
por sua observação pessoal e condições na terra
desenvolveu-se ele como homem duro e severo, grande
combatente, legítimo campeão dos pobres.
Embora não pertencesse à linha de profetas, nem à
escola de profetas, foi chamado, à semelhança de Eliseu, das
atividades diárias de seus deveres para a dignidade do
ministério profético. Não havia dúvidas em sua mente, nem
deixava ele qualquer dúvida na mente de outros homens, que

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


306

havia sido chamado por Deus, assim como Moisés tinha sido
chamado, quando ocupado em tarefa semelhante à sua.
Para Amós seu caso não foi que se tornou profeta a fim
de ganhar a vida; mas se tratava de abandonar suas
atividades para tornar-se profeta. Ele não fazia tentativa para
esconder sua vida passada ou emprego e não se
envergonhava de tornar conhecido seu nascimento humilde.
O fogo de Deus queimava em sua alma e, à semelhança do
apóstolo Paulo, séculos mais tarde, bem poderia ele ter dito
"Ai de mim se eu não falar".
Ele via a corrupção, o pecado e a vergonha do povo a
quem Deus havia tirado do Egito e não podia fazer silêncio.
A vereda para a qual foi chamado a palmilhar não era de
sua escolha. O Deus das extremidades da terra, com Quem
ele tinha comungado frequente e longamente na solidão do
deserto de Tecoa, tinha uma mensagem a Seu povo rebelde
do norte e era por intermédio de Amós que essa mensagem
de justiça e julgamento devia ser anunciada.

A mensagem do profeta

A mensagem de Amós era de julgamento e punição


quase sem alívio.
Embora nos últimos poucos versículos do livro
relampejem algumas notas de otimismo, revelando a

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


307

largueza da misericórdia de Deus através do trono davídico


restaurado, a mensagem inteira, todavia, desse intrépido
mensageiro de Deus, precisa ser incrustada no contexto de
desastre iminente. Certamente que ele não agradava aos
ouvidos populares, mas mantinha os olhos na mensagem
divina que lhe cumpria proclamar. Pecado nacional conduz a
julgamento nacional e quanto maiores o privilégio e a
oportunidade de uma nação, maior também deve ser seu
julgamento.
Tanto quanto dizia respeito ao Israel de Jeroboão,
externamente tudo parecia estar em ordem, mas a
condenação estava prestes a cair sobre todos. Assim como
um leão se prepara para saltar sobre a presa, igualmente
Jeová estava pronto para visitar Seu povo com julgamento.
A terra inteira sentiria o impacto desse julgamento.
Por muitas e muitas vezes Israel havia sido advertida,
mas sem o menor proveito. Quando o povo continua a desviar
os ouvidos da vontade de Deus, então tem de arcar com as
consequências.
Em adição à corrupção moral que havia resultado em
opressão social e em injustiça legal, havia a questão dos
falsos santuários de Betel e Gilgal. Pois Deus abomina tão
asquerosos rituais. Ele não tolerava suas festas, seus

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


308

festivais e suas ricas ofertas. Pois tudo não passava de


zombaria; tudo era estranho para Ele.
No deserto, nos dias passados, nada disso havia. Qual
a dose de influência era exercida sobre Amós, para ele ser
contrário à adoração em Betel e Gilgal, pelo fato de ser ele
do sul, não precisamos interrogar agora. Pouca dúvida pode
haver, contudo, que tais santuários, estabelecidos pouco
depois da divisão do reino salomônico, eram considerados,
por todos verdadeiros "ortodoxos" do reino do sul, como
abominações contra o Senhor. Tais santuários, anuncia o
profeta, serão totalmente destruídos. Jeová já se encontrava
ao pé do altar (9.1-4) e arruinaria totalmente o local.
Para esses pecados -expressos para com o homem por
meio da opressão social e da injustiça, e para com Deus por
meio das abomináveis práticas de Betel e Gilgal -só podia
haver um resultado -Israel ser completamente rejeitada. Se o
privilégio é a medida da responsabilidade, então a rebelião de
Israel era imperdoável.
Deus havia tirado Israel do Egito, tinha-o guiado pelo
deserto e havia-lhe dado possessão de uma terra boa, além
de ter posto profetas em seu meio. O castigo para sua
transgressão devia ser proporcional à sua gravidade;
portanto, Israel seria totalmente rejeitado. O fato que Jeová
tinha tirado Israel do Egito agora não significaria mais que os

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


309

outros fatos que retirara os filisteus de Creta e os sírios de


Quir.
A sentença já havia sido decretada e o julgamento seria
executado prontamente. Como o carro de uma eira, assim Ele
esmagaria a nação inteira (2.13-16).
A mensagem de Amós se fundamenta na firme
convicção que Jeová é Deus de justiça. Essa justiça está em
conflito com a injustiça do homem e havia-lhe declarado
guerra. O resultado desse conflito seria o juízo mais severo
possível contra o homem.
O ensino de Amós é de caráter ético, mas, tal como os
outros profetas do oitavo século antes de Cristo, ele não
baseava seu ensino sobre o que havia de bom e reto no
homem, mas sobre o que sabia sobre a natureza de Deus.
Para Amós, portanto, o "pecado" é mais que a mera
transgressão, mais que o mero lapso moral em vista de algum
código estabelecido; é rebelião contra Deus. Israel estava em
relação de aliança com Jeová. Essa relação impunha-lhe
deveres e seu pecado consistia em haver repudiado os
deveres inerentes a essa relação divino-humana. Israel se
havia rebelado contra Jeová.
Embora cidadão do reino do sul, a mensagem de Amós
era dirigida para e contra o reino do norte. De fato, ele foi o
último profeta enviado ao reino do norte. No todo, bem pouco

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


310

ele diz sobre seu próprio povo. Esse silêncio, contudo, não
deve ser entendido como a querer ensinar que o reino do sul
estava livre daqueles pecados que o profeta via no Norte e
que tão veementemente denunciava. Ele fora chamado para
falar a Israel, que estava maduro para o juízo e se confinou
quase exclusivamente a essa parte da nação.
Mas Amós também tinha algo a dizer sobre as nações
circunvizinhas.
Se condenava Israel por pecar contra uma lei que Deus
lhe tinha tornado conhecida, por outro lado aplicava um
padrão bem diferente para as nações que não estavam em
relação de aliança com Deus. O que Amós via nas nações
circunvizinhas era o espetáculo, capaz de partir o coração, de
uma crueldade que ignorava todos os direitos humanos, que
negava toda compaixão e que tornava as relações entre as
nações semelhantes às lutas entre as feras.
Para qualquer lado para onde o profeta olhasse, havia
sempre algo ausente, a piedade natural do homem para com
seu semelhante. E o que tornava pior a situação era a
vantagem trivial que tal conduta proporcionava. Gaza vendeu
uma vila inteira à escravidão para ganhar algum dinheiro.
O rei de Moabe queima os ossos de um inimigo para
satisfazer seus desejos de vingança. E assim continua a
história. O senso de amizade do homem com o homem havia

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


311

desaparecido. Tal mundo não podia continuar, pois a própria


base de sua continuação já não existia.
Embora Amós não tivesse treinamento acadêmico, não
foi ultrapassado por nenhum de seus sucessores no que diz
respeito a vivacidade, vigor e simplicidade de linguagem. Seu
estilo é simples, mas cheio de energia e elegância. O
professor Robertson Smith defende Amós como mestre de
puro estilo hebraico. Os termos que empregou eram todos
familiares para seus contemporâneos, pois suas observações
são todas derivadas da vida diária. Nenhum outro profeta nos
forneceu tais metáforas tiradas da natureza com uma
variedade tão fresca, vívida e variada.
Ele se refere aos trilhos de ferro de debulhador (1.3), à
tempestade (1.14); aos cedros e carvalhos com suas
profundas raízes (2.9); ao leão faminto a rugir na floresta
(3.4); à ave apanhada ao laço (3.5); ao pastor que sai em
socorro da ovelha (3.12); aos anzóis e redes do pescador
(4.2); às chuvas parciais (4.7); ao bolor e à ferrugem, às
colinas e ventos ao nascer do sol, às estrelas, aos criadores
lamentosos, aos terremotos, aos eclipses, ao grão peneirado
numa peneira, ao refugo do trigo, às tendas consertadas etc.
Tal foi esse grande profeta "menor". Vivendo perto de
Deus ele conhecida a vontade do Senhor e tinha Sua
mensagem. Embora não gozasse de popularidade, como de

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


312

fato aconteceu a quase todo profeta de Israel, ele proclamava


com zelo imorredouro a mensagem que Jeová lhe tinha
confiado, pois, juntamente com Martinho Lutero, Amós
poderia ter dito: "Não posso fazer outra coisa; portanto, ajuda-
me, ó Deus".

Cumprimento de Amós ante o Novo Testamento

A mensagem de Amós é vista mais claramente nos


ensinos de Jesus e na epístola de Tiago. Ambos aplicaram a
mensagem do profeta, mostrando que a verdadeira adoração
a Deus não é a observância meramente formal da liturgia
religiosa: é o “ouvir” e o “praticar” a vontade de Deus, e o
tratamento justo e reto ao próximo (Mt 7.15-27; 23; Tg 2).
Além disto, tanto Amós quanto Tiago enfatizam o
princípio de que a “religião verdadeira exige comportamento
correto”. Finalmente, Tiago cita Am 9.11,12 no Concilia de
Jerusalém.
Contribuições Singulares de Amós
A ênfase na justiça social

Nenhum profeta clamou contra a injustiça com mais


eloquência do que Amós. O versículo-chave do livro tornou-
se um clássico da justiça: "Corra porém o juízo como as
águas e a justiça como o ribeiro impetuoso" (5.24). Apesar de
sua cruzada ter sido realizada em Betel, santuário da

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


313

adoração do bezerro, Amós praticamente não mencionou


esse pecado da nação ao proclamar a ira de Deus contra a
violação dos direitos humanos e exploração dos pobres (5.6-
20).
Enfatizou a grande preocupação divina pela moral.
Ritual sem justiça não é religião divina, mas um perigoso
desvio do caráter e verdadeiro objetivo dessa religião para
com os homens. Nos seus muitos julgamentos, o profeta
enfatizou que qualquer nação, ao violar os conceitos morais
e sociais divinos e entregar-se à exploração do pobre, está
fadada à prematura destruição (1.5,8,10,12,15; 2.3,5,14-16
etc.).

O Profeta do dia de Juízo (4.12)

"Prepara-te, ó Israel, para te encontrares com o teu


Deus" foi a mensagem clara e franca de Amós. No resplendor
da paz e prosperidade de Israel, ele anunciou um julgamento
prestes a vir. Sua mensagem foi quase implacável ao
enfatizar a condenação divina. Embora oferecesse
misericórdia aos que reagissem favoravelmente (5.4,6,14), o
profeta declarou que a nação em si já não tinha perdão e o
julgamento era agora inevitável.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


314

Esse aviso e a intimação de Deus não foram entregues


por um profeta local (tal como Jonas, que também profetizou
naquela ocasião), mas por um profeta de fora comissionado
especificamente para essa missão. Sem aviso prévio,
apareceu na cidadela religiosa de Israel a fim de despertar os
líderes.
Sua mensagem foi penetrante e clara: Deus os
chamava, para prestação de contas e o dia do juízo estava
estabelecido. O leão destruidor já rugira (3.8; 4.12; 5.27).

O rústico profeta do interior (7.14)

Como Miquéias, que profetizou em Judá 20 anos depois,


Amós foi um rústico profeta oriundo de uma fazenda onde
criava gado. Apesar de o seu estilo ser muito elegante e
vigoroso, sua maneira de falar era na realidade rústica. As
palavras e símbolos por ele empregados eram os de um
homem da lavoura, tais como lavrar, pomar, vinha, ceifa,
gafanhotos etc.
Quanto ao modo de falar, Amós parecia-se com o
primeiro grande profeta de Israel, Elias, oriundo das colinas
de Gileade. Esteve também à frente de uma longa fila de
profetas e pregadores que lidaram com a terra, homens
comissionados por Deus para o serviço profético de despertar
a elite arrogante e comodista para a realidade de um ajuste

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


315

de contas prematuro perante Deus. João Batista foi o último


profeta desse grupo.

Profeta organizado classicamente

Nenhuma profecia é tão bem estruturada como a de


Amós. Sua mensagem desenvolve-se do geral para o
particular, vindo em seguida os detalhes. Primeiro ele
apresenta o julgamento de Deus sobre Israel, e em seguida
chama a atenção do povo para a necessidade desse
julgamento, levando a nação a concordar sobre a
necessidade de o golpe ser desferido.
O livro traça, de muitas maneiras, um esboço do que vai
ser dito a seguir, parte por parte. Os capítulos 1-2 são
entrecortados oito vezes pela expressão "Assim diz o
Senhor", que serve para dividir suas mensagens. Os
capítulos 3-5 usam três vezes a frase introdutória "Ouvi a
palavra", enquanto os capítulos 7-8 apresentam as visões
com a expressão "O Senhor Jeová assim me fez ver". O
profeta lida com Israel como se este fosse "fruto de verão"
(frutos excessivamente maduros, 8.1 e ss.), mas pronúncia
os julgamentos com muito equilíbrio.

Esclarecimento sobre o Dia do Senhor (5.18)


Como Joel fizera 60 anos antes, Amós enfatizou o dia
vindouro do Senhor. Porém, ao contrário de Joel, apresentou-

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


316

o como um "dia de trevas e não de luz" (5.18). O julgamento


destruiria não apenas os pagãos (o que seria aplaudido por
Israel), mas também os pecadores israelitas.
Era esse um esclarecimento essencial para todos eles,
já que interpretavam sua aliança com o Senhor como uma
espécie de imunização contra calamidade ou julgamento Jl
3.12-16). Para a cidadela religiosa do Norte, o profeta Amós
era um intruso a sacudi-los com a revelação de que o Senhor
não é um Deus parcial que se deixa influenciar por pessoas.
Ele julga desumanidade, injustiça social e corrupção
religiosa onde quer que se encontrem. Os religiosos
pecadores, por terem um conhecimento maior, serão
julgados com muito mais severidade do que os de menos luz
ou revelação (5.21-24).

Apresentação das visões simbólicas (1.1)

Amós foi o primeiro profeta a empregar visões


simbólicas nas declarações proféticas. Muitos profetas
posteriores falaram de revelações semelhantes, tais como os
Profetas Maiores e Zacarias. O poder das visões simbólicas
de Amós pode ser ilustrado por sua primeira visão em 1.2. Ela
foi a base do julgamento das nações da Palestina nos
capítulos 1 e 2.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


317

Nela está declarado que o Senhor rugiria sobre Sião e


Jerusalém, e toda a terra, desde os pastos de Tecoa até o
cume do monte Carmelo no Norte, estremeceria e se
lamentaria. O símbolo do rugido do Senhor, como um leão
ruge por uma presa, é apresentado em muitas outras
passagens do livro, e enfatiza a iminência do julgamento
vindouro.
A visão final do Senhor com o grupo de destruição em
Betel junto ao altar completa o ciclo, demonstrando onde
começará a demolição divina, e que não haverá esconderijos
que possam escondê-los, mesmo "no cume do Carmelo" (9.1-
3). Cada símbolo, apresentado de maneira notável, é
suficiente para que qualquer pessoa entenda e fique
atemorizada.

Cristologia de Amós (9.11-15)

As contribuições messiânicas do livro são reservadas


para os últimos quatro versículos, que descrevem a futura
restauração de Israel.
(a) O tabernáculo caído de Davi será levantado (11). É
um reconhecimento prematuro de que a casa de Davi cairia
e seria mais tarde levantada para possuir todas as nações.
O levantamento do "tabernáculo davídico" significava o
novo estabelecimento do trono para que a justiça e a

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


318

benignidade fossem praticadas (Is 16.5), o que sugere o


aparecimento do Messias.
(b) Naquele dia o Senhor (Messias) restaurará Israel
do cativeiro, reconstruirá para sempre as cidades e fará um
plantio, a fim de gozar da colheita. Todo o texto foi escrito
com a ênfase do Senhor na primeira pessoa e no futuro "Eu"
farei. Como o julgamento será orquestrado pelo próprio
Senhor (9.1-8), do mesmo modo ele cuidará pessoalmente da
reconstrução (9.915).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


OBADIAS 319

ESBOÇO
I. O Juízo de Edom (1-14)
II. O Dia do Senhor (15-21)
Autoria

O título desta breve profecia -o livro mais curto do Antigo


Testamento -é: "Visão de Obadias". Quem tenha sido
Obadias, não possuímos meios para saber. Seu nome
significa "servo de Jeová" e diversos personagens têm esse
nome no Antigo Testamento, mas nada existe para ligar este
profeta com quaisquer dos outros Obadias.
Quanto ao emprego do termo "visão", para descrever o
conteúdo da profecia, e que lança luz sobre o modo pelo qual
o profeta recebeu sua mensagem, compare-se com os
versículos iniciais de Isaías, Ezequiel, Amós, Miquéias, Naum
a Habacuque; ver também Nm 12.6.
Esta profecia fala sobre "Edom". Edom é denunciada por
seu orgulho, especialmente por sua falta de bondade fraternal
para com Judá, e seu julgamento, no dia de Jeová, é predito
juntamente com o de todas as outras nações.

Considerações preliminares

No livro do profeta Obadias não é mencionada a sua


genealogia, nem outro pormenor a seu respeito. Obadias é

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


320

um nome bastante comum, e significa “servo do Senhor”.


Doze ou treze pessoas com tal nome são mencionadas na
Bíblia (1Rs 18.3-16; 2Cr 17.7; 34.12,13).
Dependemos da data desta profecia para sabermos se
o Obadias que escreveu este livro é citado noutra parte do
Antigo Testamento. Como nenhum rei é mencionado, não
sabemos com certeza a data em que foi escrito. A única
alusão histórica diz respeito a uma ocasião em que os
edomitas regozijaram-se com a invasão de Jerusalém, e até
mesmo tomaram parte na divisão dos despojos (vv. 11-14).
Não fica claro, porém, qual invasão Obadias tinha em mente.
Houve cinco invasões de monta contra a cidade santa
durante os tempos do Antigo Testamento: de Sisaque, rei do
Egito, em 926 a.C., durante o reinado de Roboão (1Rs
14.25,26); dos filisteus e árabes no reinado de Jorão, entre
848 e 841 a.C. (2Cr 21.16,17); do rei Jeoás de Israel no
reinado de Amazias, em 790 a.C. (2Rs 14.13,14); de
Senaqueribe, rei da Assíria, no reinado de Ezequias, em 701
a.C. (2Rs 18.13); dos babilônios entre 605 e 586 a.C. (2Rs
24;25).
Acredita-se que Obadias tenha profetizado em conexão
com a segunda.
A destruição de Jerusalém por Nabucodonosor parece a
menos provável, porque não há nenhum indício, no livro, da

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


321

destruição completa de Jerusalém ou da deportação de seus


habitantes. Os profetas que se referem à destruição de
Jerusalém identificam sempre o inimigo como sendo
Nabucodonosor, e não simplesmente “forasteiros” e
“estranhos” (v. 11).
Sendo assim, a ocasião da profecia de Obadias é mais
provavelmente a segunda das cinco invasões, quando
filisteus e árabes se reuniram para pilhar a cidade. Por essa
época, os edomitas, que se achavam sob o controle de
Jerusalém, já haviam consolidado sua liberdade (2Cr 21.8-
10). Seu júbilo, motivado pela queda de Jerusalém, fica bem
patente e compreensível.
Levando-se em conta que o período do reinado de Jorão
vai de 848 a 841 a.C., e que a pilhagem de Jerusalém já era
realidade, considera-se 840 a.C. uma data provável à
composição da profecia. Parte do contexto da profecia
relembra Gn 25.19-34; 27.1—28.9, isto é, a longa rivalidade
entre Esaú (pai dos edomitas) e Jacó (pai dos israelitas).
Embora leiamos em Gênesis a respeito da reconciliação
entre ambos os irmãos (Gn 33), o ódio entre seus
descendentes irrompia frequentemente em guerras no
decurso da história bíblica (cf. Nm 20.14-21; 1Sm 14.47; 2Sm
8.14; 1Rs 11.14-22).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


322

Em consonância com suas hostilidades, os edomitas


regozijaram-se com as adversidades de Jerusalém.

Edom e Judá

O ancestral epônimo dos edomitas foi Esaú (Gn 36.1,8-


9). Suas relações com seu irmão gêmeo, Jacó, pai da Judá,
são descritas em Gn 25-36. Desde quando as crianças
lutavam no ventre de sua mãe, foi-lhe dito pelo Senhor que
"Duas nações há no ventre... e o maior servirá ao menor" (Gn
25.22 e segs.).
Subsequentemente, Esaú é pintado como alguém que
"por um manjar vendeu o seu direito de primogenitura" (Hb
12.16), mostrando-se insensível para os valores espirituais.
Nasceu dentro da aliança, mas falhou em apreciar o privilégio
que lhe pertencia por direito de nascimento, deixando
igualmente de receber as bênçãos acompanhantes. A estima
em que Deus tinha Jacó e Esaú, respectivamente, é
sucintamente expressa na declaração: "Amei a Jacó, e
aborreci a Esaú" (Ml 1.2 e segs.; cf. Rm 9.13).
Os Herodes, do Novo Testamento, eram edomitas, e
eram fiéis ao seu caráter. Note-se como se mostravam
insensíveis para a verdade espiritual, especialmente quando
ela se mostrou corporificada em Jesus Cristo, a perfeita
representação do Jacó e Judá (Ver. esp., Mt 2; Lc 13.31 e

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


323

segs.; 23.8 e segs.; At 12.21 e segs.). Gn 36.8 nos relata que


"Esaú habitou na montanha de Seir". O monte Seir é
frequentemente usado como sinônimo para a nação inteira de
Edom, a qual se tornou a terra dos descendentes de Esaú.
Edom é a área diretamente ao sul do mar Morto,
especialmente a região montanhosa ao leste da Arabá (isto
é, a depressão que liga o mar Morto ao Golfo de Acaba). A
porção sul de Edom é a região de Temã, a qual, algumas
vezes, também é usada, no Antigo Testamento, como
sinônimo para toda Edom; e as duas principais cidades de
Edom são Bozra e Sela (Petra); esta última significa "rocha",
tanto no hebraico como no grego.
De Eziom-Geber, no golfo de Acaba, saía o "caminho do
rei", que atravessava Edom até o norte. Era ao longo desse
caminho que Moisés queria levar os filhos de Israel. O relato
sobre a recusa de Edom, não dando a necessária permissão
para tal, se encontra em Nm 20.14-21 (cf. Dt 2.1-18). O
antagonismo continuou mesmo depois dos israelitas se terem
estabelecido em Canaã (ver, por exemplo, 2Sm 8.14; 2Rs
14.7; 2Cr 28.17), e encontramos os profetas a denunciar
Edom constantemente.
Quanto às principais profecias contra Edom, ver Is 34.5;
Jr 49.7-22; Lm 4.21 e segs.; Ez 25.12-14; 35; Jl 3.19; Am 1.11
e segs. Um vívido quadro de julgamento a visitar Edom, nos

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


324

é dado em Is 63.1-6, e algum tempo mais tarde encontramos


uma olhada para a passada destruição de Edom em Ml 1.2-
5. Houve recrudescências do poder e da influência de Edom
após o encerramento do período do Antigo Testamento, mas,
hoje em dia, as notáveis ruínas de Petra são tudo quanto
resta da grandeza de Edom.
Quanto à participação de Edom no saque de Jerusalém,
em 586 a.C., ver especialmente Ez 35.5,12,15 e Sl 137.7.
Essa participação de Edom não é mencionada nos livros
históricos, embora facilmente possa ser encaixada ali, como,
por exemplo, nos assaltos saqueadores descritos em 2Rs
24.2.
Esaú e Edom ocupam um lugar de profunda significação
na revelação divina da verdade. Essa significação é
focalizada agudamente nesta breve profecia de Obadias. "O
pano de fundo do quadro que nos é exposto por Obadias é
Jacó; o primeiro plano é Esaú.
Jacó e os que dele descenderam são vistos a passar
pelos sofrimentos, da natureza de castigo, mas daí seguem
para a restauração final. Esaú é contemplado como um
orgulhoso, um rebelde, um desafiador, encaminhando-se
para a destruição final" (G. C. Morgan).
Podemo-nos regozijar que, no dia do Senhor, "o reino
será do Senhor", mas não devemos deixar de acatar o

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


325

exemplo de Esaú, pois, afinal de contas, "Não foi Esaú irmão


de Jacó?" (Ml 1.2). Em o Novo Testamento, o escritor do livro
de Hebreus nos exorta a "Tendo cuidado de que ninguém se
prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura,
brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem...
profano, como Esaú... Porque bem sabeis que, querendo ele
ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou
lugar do arrependimento..." (Hb 12.15 e segs.).

O Livro de Obadias ante o Novo Testamento

Embora o Novo Testamento não se refira diretamente a


Obadias, a inimizade tradicional entre Esaú e Jacó, que
subjaz a este livro, também é mencionada no Novo
Testamento. Paulo refere-se à inimizade entre Esaú e Jacó
em Rm 9.10-13, mas passa a lembrar da mensagem de
esperança que Deus nos dá: todos os que se arrependerem
de seus pecados, tanto judeus quanto gentios, e invocarem o
nome do Senhor, serão salvos (Rm 10.9-13; 15.7-12).
Contribuições singulares de Obadias
O triste destino do filho favorito de Isaque

O livro refere-se ao destino final dos filhos gêmeos de


Isaque e Rebeca, cujo casamento foi um dos mais célebres
da Bíblia (Gn 24.) Todavia, a ênfase do livro está em Esaú,
por intermédio de quem Isaque insistia que a bênção

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


326

continuasse, apesar de Deus já ter selecionado Jacó (Gn


25.23.)
A preferência de Isaque por Esaú parecia ser a melhor
escolha, de conformidade com as atividades de ambos em
Gênesis. Mas a história decorrente de independência,
vingança e violência dos descendentes de Esaú demonstram
o perigo das escolhas humanas em oposição às divinas.

Uma lição sobre o perigo de rancor na família (10-


12.)

Apesar de descenderem de dois irmãos gêmeos, as


nações de Edom e Israel tornaram-se inimigas rancorosas e
implacáveis. Essa inimizade começou muito antes com uma
"raiz de amargura" que se tornou uma inimizade mútua,
nacional, jamais reconciliada (Hb 12.15-17.)
Ironicamente, começou num lar piedoso, onde o
favoritismo foi demonstrado pelos pais, e provocou intensa
rivalidade entre os rapazes e amarga contenda entre os seus
descendentes (Gn 25.28 e ss.; 27.41.)
Aquela inimizade no seio de uma família ainda produz
manchetes internacionais no Oriente Médio, lembrando-nos
do princípio afirmado por Tiago: "Vede como uma fagulha põe
em brasas tão grande selva" (Tg 3.5).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


327

Livro pequeno com grande prólogo (Gn 25.23; Is


63.1; Ml 1.4.)

A mensagem do livro não pode ser apreciada


adequadamente sem o pleno conhecimento do passado.
Obadias não é apenas o menor livro do Antigo Testamento,
mas provavelmente também o de mais longa introdução. A
seguir, alguns pontos culminantes da história de Edom:

(a) A história começa com a disputa entre os irmãos


gêmeos, na qual Jacó e sua mãe planejam arrancar de Esaú
o seu direito de primogenitura e bênção (Gn 25, 27).
(b) A inimizade e amargura de vinte anos diminuiu um
pouco quando Jacó teve um encontro com Deus, ao voltar de
Padã-Arã (Gn 32, 33).
(c) Sua inimizade tornou-se nacional quando Israel
voltou do Egito, apesar de o Senhor ter ordenado a Israel que
não se vingasse (Nm 20.14-21; Dt 2.5).
(d) Essa inimizade entre Israel e Edom continuou por
1000 anos, de Moisés a Malaquias, envolvendo muitas
escaramuças de menor importância.
(e) Os edomitas foram condenados por muitos profetas:
Nm 24.18-19; Is 11.14; Jr 49.7-22; Ez 25.12-14; Jl 3.19; Am
1.11-12; Ml 1.3-4.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


328

(f) Mateus apresenta a história de Jesus em Mateus 1-2


com o registro da intensa inimizade de Herodes, o edomita,
que se tinha tornado rei de Israel. Aquela inimizade pode ser
notada em diversas gerações da dinastia herodiana:
Herodes, o Grande, procurou assassinar a Jesus (Mt 2.16);
Herodes Antipas tinha assassinado a João Batista,
procu¬rado matar a Jesus, e humilhou-o cruelmente no
julgamento da sua morte (Mt 14.10; Lc 13.31; 23.11); Herodes
Agripa I matou a Tiago e tentou matar a Pedro (At 12.1 e ss.).
(g) A nação de Edom (Iduméia), como Israel, extinguiu-
se depois da invasão e expurgo romanos em 70 d.C., sendo
que os romanos a incorporaram à Arábia Pétrea.
(h) Os edomitas são evidentemente muito criticados
pelos profetas devido à sua renovada preeminência nos
últimos dias, pois serão eles os inimigos que o Messias
destruirá quando vier em julgamento (Is 34.1¬8; 63.1-4; Ml
1.4).
(i) Essa destruição final será completa e perpétua,
embora outros antigos vizinhos de Israel sejam restaurados
(Is 19.23-25; Jr 49.13; Ez 35.9; Ob 9; Ml 1.4).
Obadias é a síntese do último capítulo da história,
como se fosse à conclusão dos livros sobre Edom. Foi um
povo que podia ter se tornado grande, tendo sido dotado de
rara sabedoria e força, mas "vendeu o seu direito de

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


329

primogenitura" por desprezar a Palavra de Deus e o povo


escolhido por Deus.
Os edomitas permitiram que um antigo ciúme se
transformasse em amargura e vingança, incorrendo no eterno
julgamento divino. São extremamente raros os edomitas de
renome, tais como Doegue, que matou os sacerdotes de
Nobe, Hadade, inimigo de Davi, e Herodes, que tentou matar
o Messias (1Sm 22.18; 1Rs 11.14 e ss.; Mt 2.16).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


JONAS 330

ESBOÇO
I. Primeira Chamada de Deus a Jonas (1.1—2.10)
II. Segunda Chamada de Deus a Jonas (3.1—4.11)

INTRODUÇÃO

O livro de Jonas gira inteiramente em torno das relações


pessoais entre Jeová e Seu servo, Jonas, filho de Amitai.
Essas relações se originam numa comissão profética, da qual
Jonas procurou evadir-se. Jonas descobriu que os
pensamentos de Deus não eram os seus pensamentos e que
seus caminhos não eram os caminhos de Deus.
Mas Deus não deixou Jonas sozinho.
Na primeira metade da história, Deus permite que Jonas
chegue ao extremo de quase perder a própria vida, somente
para em seguida restaurá-lo à posição onde ele se
encontrava antes dele tentar, por meios físicos, evitar o
mandado de Jeová.
Na segunda metade da história o Senhor permite que
Jonas chegue ao extremo da depressão mental e espiritual,
somente para revelar a ele a correção essencial de Seus
misericordiosos propósitos.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


331

A mensagem e sua forma


A forma deste livro é a de uma peça de narrativa
biográfica, semelhante (quanto ao estilo, linguagem,
atmosfera e elementos miraculosos) a diversos incidentes de
1 e 2 Reis, concernentes, a Elias e Eliseu, os quais,
realmente, foram predecessores imediatos de Jonas como
profetas no reino do norte, Israel; e eles, à semelhança de
Jonas, realizaram parte de seu trabalho em relação a povos
pagãos Elias à Sidônia, e Eliseu à Síria, enquanto que Jonas
em relação a Nínive. A história de Jonas, entretanto, não é
simplesmente um incidente isolado na história profética de
Israel que facilmente poderia ser encaixada nos livros de
Reis, onde o ministério de Jonas é mencionado (2Rs 14.25).
Mas sua mensagem é distinta e cada porção da história
é relatada de forma a exibir essa mensagem. Por essa razão,
o livro, encontra posição apropriada entre os profetas; diz
respeito a uma revelação particular da verdade de Deus e
essa revelação está intimamente relacionada com a
experiência profética.
A revelação particular com a qual o livro de Jonas se
ocupa pode ser expressa nas palavras que formam a
conclusão da história de Pedro e dos gentios, em At 11.18:
"Na verdade até aos gentios deu Deus o arrependimento para
a vida". Essa revelação, no livro de Jonas, foi transmitida de

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


332

tal modo que salienta, por um lado, a soberana misericórdia


e justiça de Deus, ao conceder a Nínive o "arrependimento
para a vida", enquanto que, por outro lado, fica destacado o
pecaminoso particularismo do servo de Deus, Jonas, ao
resistir contra essa manifestação da vontade divina.

Base histórica

Visto que o livro de Jonas transmite uma mensagem


distintiva, muitas pessoas, em anos recentes, têm imaginado
que a narrativa não é histórica, mas antes, imaginada, e que,
à semelhança da história do Bom Samaritano, por exemplo,
deveria ser classificada como uma parábola.
Porém, apesar de que este último ponto de vista não é
inteiramente impossível, sem dúvida não é necessário
imaginar que em vista de um livro ter um propósito didático
(ou, conforme preferiríamos dizer, revelatório), não pode, ao
mesmo tempo, ser uma narrativa histórica. At 10.1-11.18, sob
certos aspectos é o paralelo neotestamentário de Jonas, tem
um motivo didático semelhante. Porém, ninguém apresenta a
sugestão que Lucas pensava estar escrevendo uma parábola
ou uma ficção homilética.
Por semelhante modo, naturalmente, a presença de
elemento miraculoso em um relato não é evidência que não

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


333

foi registrado como narrativa histórica e que seu autor não


tenha tencionado que fosse aceito como tal.
Um grupo mais reduzido de pessoas tem apresentado a
suposição que Jonas é uma alegoria do exílio e da missão de
Israel. Jr 51.34 é exibido como possível base para essa
história. Esse ponto de vista, em parte, é uma tentativa de
explicar as ocorrências na história que, de outro modo, teriam
de ser consideradas miraculosas, e envolve a teoria, que o
livro é produto do período pós-exílio. Uma vez mais, todavia,
apesar de que podemos ter, legitimamente, um paralelo
iluminador entre a experiência de Jonas e a que deveria
sobrevir à nação israelita, de modo algum se segue que a
história seja de data mais recente e não-histórica. Os livros
da Bíblia não são produções fortuitas.
O fato de Jonas haver sido engolido pelo grande peixe
pode muito bem prefigurar o exílio, como certamente
prefigura o sepultamento de Cristo.
Qualquer avaliação do caráter histórico do livro de Jonas
precisa levar em consideração os fatos seguintes:
Primeiro; o próprio Jonas, sem dúvida alguma, foi um
personagem histórico, um profeta de Jeová em Israel (2Rs
14.25).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


334

Segundo; o livro foi lavrado na forma de narrativa


histórica direta, não havendo indicação positiva que o livro
deva ser interpretado doutra forma que não a literal.
Terceiro; se esse livro é uma parábola ou alegoria,
então é único e sem analogia entre os livros do Antigo
Testamento.
Quart; nem os judeus nem os cristãos, até
recentemente, jamais consideraram que o livro de Jonas
registra outra coisa além de fatos reais, quaisquer que sejam
as interpretações que tenham emprestado à sua mensagem.
Finalmente, nosso Senhor Jesus Cristo claramente
acreditava e sabia que o arrependimento dos homens de
Nínive foi uma ocorrência real e é muito natural considerar
Sua alusão aos "três dias e três noites no ventre do grande
peixe", da experiência de Jonas (Mt 12.40-41), do mesmo
modo. Em adição, pode-se argumentar que a força total da
autovindicação de Jeová perante Jonas exige uma missão
real a uma cidade pagã, um arrependimento verdadeiro de
sua parte, e haverem seus habitantes sido realmente
"poupados" pelo Senhor. Não é fácil acreditar que o desafio
que diz: "E não hei de eu ter compaixão da grande cidade de
Nínive...?" tenha sido apresentado ao povo de Israel, por
intermédio do escritor inspirado, mediante uma consideração
puramente hipotética.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


335

Data e autoria

Não se pode chegar à certeza alguma no que diz


respeito à data em que o livro foi escrito. Alguns têm
argumentado que a história inteira não teria significado depois
que Nínive foi realmente destruída (em 612 a.C.). Há alguma
força nesse argumento.
Então "Não hei de eu ter compaixão... de Nínive...?" não
seria apenas uma consideração hipotética, mas uma
consideração bastante mal escolhida. Diversos eruditos
proeminentes, em realidade, têm atribuído o livro a qualquer
século, entre o oitavo e o segundo a.C. Porém, deve ser
frisado que o principal motivo pelo qual muitos eruditos
mantêm que esse livro seja produto do período pós-exílio é
que "o pensamento geral e o teor do livro... pressupõe o
ensino dos grandes profetas", incluindo Jeremias (S. R.
Driver). Porém, não vemos razão que nos incline a
acompanhar esse julgamento altamente subjetivo.
“A presença de aramaísmos no livro não pode ser
critério para determinar a data, visto que os aramaísmos
ocorrem nos livros do Antigo Testamento desde os mais
recuadas até os mais recentes períodos" (E. J. Young).
Juntamente com a evidência linguística, deve ser levado em
consideração o fato que "não existe neles (Jonas, Joel, etc.)

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


336

uma só palavra grega" e "nem uma palavra babilônica que já


não tenha sido encontrada na literatura mais antiga" (R. D.
Wilson).
Essa evidência não dá apoio à teoria que Jonas
pertence ao período pós-exílio. S. R. Driver, que defendia o
ponto de vista pós-exílio, admitiu como possibilidade que
"algumas das características linguísticas podem ser
consistentes com a origem pré-exílio, ao norte de Israel"
(Introduction, p. 301).
Jonas exerceu seu ministério no reinado de Jeroboão II
(793-753 a.C.), e parece muito natural supor que a história
tenha sido originalmente posta em forma escrita algum tempo
antes da queda do reino do norte, em 721 a.C., embora
facilmente possa ter havido circunstâncias que ocorreram
entre 721 a.C. e 612 a.C., quando Israel era governada por
Nínive, que tenham possibilitado uma publicação mais lata do
livro naquele período.
Nada é dito no livro de Jonas acerca do seu autor.
Embora o próprio Jonas, obviamente, deva ter sido a principal
fonte final de informação para a história não há motivo pelo
qual ele deva ter sido o autor. Sem dúvida a história logo se
tornou conhecida em Israel e podemos presumir que os
marinheiros tiveram sua contribuição para propagar o relato.
O capítulo primeiro tem certo número dá sinais de que o relato

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


337

se derivou de outra fonte que não o próprio Jonas (como Atos


27).
O versículo 5a, por exemplo, descreve o que teve lugar
enquanto Jonas estava dormindo no porão do navio e o
versículo 16 relata o que fizeram os marinheiros depois que
Jonas foi lançado ao mar. Presumivelmente a embarcação
regressou ao porto quando a tempestade amainou, visto que
aparentemente ainda não se haviam afastado muito da terra
(1.13) e, de qualquer modo, a carga havia sido atirada borda
fora (1.5).
Se Jonas, igualmente, retornou a Jope, talvez foi à base
da informação prestada pelos marinheiros que ele foi capaz
de calcular por quanto tempo estivera debaixo da água.

Jonas e Jesus

Certo número de importantes passagens bíblicas


deveriam ser estudadas paralelamente com o livro de Jonas.
No Antigo Testamento, por exemplo, Jr 1.4-10 (quanto à
comissão profética), Jr 18.7-10 (quanto ao efeito do
arrependimento sobre a proclamação de Deus), Sl 139
(quanto à experiência do profeta).
Em o Novo Testamento, At 10.1-11.18 e Rm 9-11,
ilustram a mensagem missionária de Jonas, e vice-versa.
Porém, em particular, as passagens nos evangelhos que se

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


338

referem a Jonas, deveriam ser comparadas e estudadas (Mt


12.38-41 e Lc 11.29-32). Alguns pontos serão abordados no
comentário.
Aqui, entretanto, podemos notar que Jonas é o único
profeta do Antigo Testamento com o qual Jesus se comparou
diretamente, obviamente Jesus considerava a experiência e
a missão de Jonas como de grande significação.
É extremamente interessante, portanto, relembrar que
tanto Jesus como Jonas foram "profetas da Galileia". A
cidade de Jonas, Gate-Hefer, ficava a apenas alguns poucos
quilômetros ao norte de Nazaré, a cidade de Jesus. Era
menos que uma viagem de uma hora a pé. Jesus deve ter ido
lá frequentemente.
Talvez até em Seus dias o túmulo de Jonas fosse
conhecido ali, como mais tarde, na época de Jerônimo. Foi ali
que, nos dias de Sua obscuridade, Jesus começara a meditar
sobre a significação de Jonas e de Sua própria missão?
Os fariseus aparentemente se esqueceram de Jonas
quando atacaram Nicodemos dizendo-lhe que "da Galileia
nenhum profeta surgiu" (Jo 7.52). Tivesse ele pesquisado as
Escrituras com mais cuidado, não teriam errado tanto, ao
deixar também de perceber que "está aqui quem é mais do
que Jonas" (Mt 12.41).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


339

Contribuições singulares
Comparação entre Jonas e Obadias

Obadias descreve a ira de Deus sobre os inimigos de


Israel. Por sua vez, o Livro de Jonas contrabalança tal atitude
com uma ilustração clássica da mi¬sericórdia divina
demonstrada a um dos antigos inimigos dos israelitas. Em
Obadias, o julgamento divino é pronunciado contra os pagãos
que rejeitam a oportunidade de arrependimento e persistem
em sua arrogância vingativa.
Em Jonas, a misericórdia divina é oferecida aos pagãos,
que se arrependem e reagem favoravelmente ao Deus de
Israel. Isso é ilustrado por dois casos extremos: Os edomitas
eram muito chegados a Israel (parentesco e proxi¬midade),
mas foram alvo da ira divina devido à sua arrogância.
Em contrapartida, os ninivitas estavam longe e eram
depravados, povo belicoso, mas foram alvo da misericórdia
divina devido ao seu arrependimento (Ob 3; Jn 3.5-10).

Laconismo de Jonas (3.4)

Nenhum outro profeta foi tão conciso em sua


mensagem. Sua profecia continha apenas sete palavras
(cinco no hebraico): "Ainda quarenta dias, e Nínive será
subvertida." Ao contrário de outros profetas da escrita, a
mensagem de Jonas era mais de experiência do que de

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


340

exposição. Até mesmo sua curta profecia deixou de realizar-


se (o que muito o aborreceu). Todavia, sua experiência foi
uma importante mensagem para Nínive, Israel e até mesmo
para a Igreja hoje (Mt 12.39-40).

Milagres de Jonas (1.15,17; 2.10; 3.5-10; 4.6)

Enquanto outros Profetas Menores não registram


milagres históricos, Jonas registra diversos, sobre os quais
se apóia sua mensagem (aquietando o mar, preservação de
Jonas dentro do peixe, arrependimento de Nínive, o rápido
crescimento da planta e o aparecimento do verme). Jonas
tem isso em comum com Isaías e Daniel, pois todos eles
registraram diversos milagres históricos e são contestados
pelos críticos quanto à sua autenticidade e autoria (Is 37.36;
38.8; Dn 3.25; 6.22). Como o objetivo dos milagres era quase
sempre autenticar a revelação (Êx 4.5; 1Rs 18.36-39), a
mensagem do julgamento de Deus e sua misericórdia, trazida
por Jonas a Nínive e não compreendida por Israel, era
realmente crucial para o profeta e aquela cidade pagã.
A importância adicional da mensagem como um antítipo
profético da ressurreição de Cristo dificilmente pode ser
superestimada.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


341

Arrependimento de Nínive (3.5-9)

O Livro de Jonas contém o relato do maior reavivamento


registrado na Bíblia: toda a cidade de Nínive abandonou os
seus caminhos iníquos e voltou-se para Deus. Jonas foi
também usado como instrumento de arrependimento para os
marinheiros, fazendo com que eles se voltassem para o
Senhor depois de o profeta ter sido jogado ao mar,
aquietando-o.
Parece que ele obteve mais resultados "por acaso" do
que a maioria dos profetas obtiveram intencionalmente
(Isaías, Jeremias e Ezequiel alcançaram poucos resultados
imediatos; Is 6.9-11; Jr 14.1 e ss.; 15.1 e ss.; Ez 3.7).
Questiona-se às vezes se o arrependimento de Nínive
foi sincero. A resposta do livro de Jonas é que evidentemente
Deus o considerou sincero, pois suspendeu o julgamento que
lhes tinha sido notificado (3.10). Jesus também testificou que
"se arrependeram com a pregação de Jonas" (Mt 12.41), o
que Israel deixou de fazer com a pregação do Messias.

"Arrependimento" de Deus (3.9-10)

O livro registra o fato de que Deus também "se


arrependeu" ou "compadeceu-¬se", conforme a maioria das
versões (Heb. nacham). A mesma palavra é usada para o

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


342

arrependimento humano (Jó 42.6). Outra palavra também é


usada com o sentido de arrependimento e conversão: shub,
conforme está na frase "e se converterão, cada um do seu
mau caminho" (3.8-9). Significa "mudar de ideia". É aqui
empregada como uma expressão antropomórfica a fim de
mostrar o aspecto condicional do julgamento divino, o qual
depende das ações do homem.
Esse princípio é declarado em Jeremias 18.8. A
afirmação de Números 23.19 (1Sm 15.29) de que "Deus não
é homem (...) para que se arrependa" fala da sua veracidade
e do seu caráter imutável.
O julgamento de Deus depende sempre das ações do
homem.

Arrependimento de Jonas (Cps. 2, 4)

Embora o livro registre o arrependimento inesperado de


um dos maiores tiranos da história antiga, sua ênfase maior
está no arrependimento ou mudança de Jonas.
O arrependimento de Nínive ocupa um capítulo, mas a
história da preparação de Jonas e seu subsequente
treinamento são apresentados em três capítulos (1, 2 e 4).
Parece que Deus teve mais dificuldade em aperfeiçoar Jonas
do que todo o povo de Nínive. Quando o profeta foi conduzido
ao ponto de obediência, o reavivamento ocorreu

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


343

naturalmente. A preparação de Jonas foi realizada em


etapas.
A experiência do peixe preparou-o para Nínive, mas ele
precisou de mais treinamento para voltar a Israel. Se o
arrependimento da cidade no capítulo três surpreende a
todos, o profeta desapontado do capítulo quatro causa-nos
um choque.
Ele parece estar mais interessado em que sua profecia
se cumpra, como um crédito à sua profissão, do que a cidade
de Nínive seja poupada do julgamento divino.
É desse modo que termina a história, deixando o leitor
inteiramente desapontado diante da atitude do profeta. Jonas
parece ser irremediavelmente egoísta e fanático, até
lembrarmos que ele escreveu o livro, sem "dourar" a sua
própria imagem no final. Essa imagem foi obvia¬mente
destinada a impressionar e humilhar Israel, pois a atitude do
profeta foi um reflexo da atitude do povo.
Os judeus estavam tão envolvidos com os seus próprios
prazeres e prosperidade do período áureo de Jeroboão lI, que
tinham perdido de vista a sua missão como povo da aliança
divina.

O lugar de Jonas no ritual judaico

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


344

Para os judeus ortodoxos, é tradição usar o Livro de


Jonas como leitura obrigatória para o Culto Vespertino do Dia
da Expiação (A. Cohen, The Twelve Prophets, p. 137).
Nesse dia de jejum nacional, lamentação e perdão
recíprocos dos pecados, eles releem a história dos antigos
habitantes de Nínive, que acharam misericórdia por
convocarem arrependimento e perdão de pecados em toda a
nação.
Apesar de não haver evidência de que os israelitas do
tempo de Jonas tenham reagido dessa forma, judeus
ortodoxos usam o livro no seu maior dia anual de jejum a fim
de lembrar que o Senhor é um Deus de misericórdia para o
povo arrependido, independente da sua raça.
Jonas tem um lugar especial no respeito e no ritual dos
judeus.

O livro da misericórdia universal de Deus (4.11)

Nenhum outro livro do Antigo Testamento ensina de


maneira tão enfática a extensão da misericórdia divina às
nações gentias. Essa perspectiva mundial da missão de
Israel foi observada anteriormente por Josué e Salomão (Js
4.24; 1Rs 8.43,60), mas tem sido muitas e muitas vezes
esquecida pela nação no decurso das suas muitas
apostasias.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


345

Nesse ponto central da história, Jonas foi usado para


conclamar a nação a refletir sobre o programa divino do
julgamento universal dos malfeitores e sua oferta universal de
misericórdia para o arrependimento e fé. Frederick Faber,
Voice of Thanksgiving Hymnal (Hinário de Ação de Graças),
expressou o seguinte: "Pois o amor divino excede a mente
humana, e o coração do Eterno Deus é de uma bondade
surpreendente".

Cristologia de Jonas

A ênfase central de Jonas na misericórdia divina


estendida a todas as raças é exemplificada, de maneira
maravilhosa, no ministério de Jesus. Ele chamou todas as
pessoas ao arrependimento, vindo como "luz para alumiar as
nações, e para glória de teu povo Israel" (Lc 2.32).
Após sua ressurreição, Jesus enviou os Doze para fazer
"discípulos de todas as nações" (Mt 28.19). A relação
Cristológico mais específica do livro, porém, é a experiência
de Jonas no grande peixe como o antítipo de Cristo (Mt
12.40).
Foi Jonas o único profeta indicado por Jesus como
antítipo dele próprio. Do mesmo modo que Jonas esteve no
ventre do peixe (lugar de morte) durante três dias e três

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


346

noites, assim o Filho do Homem esteve no coração da terra.


"Dia e noite" era uma expressão hebraica para qualquer parte
de um dia.
Como um antítipo tem apenas um ponto de analogia
(como uma parábola), do mesmo modo Jonas tipificou Cristo
apenas em um ponto, sua experiência no abismo da morte
por um período de tempo (Jo 11.17,39). Jesus usou a
experiência de Jonas para tipificar a maior verdade bíblica:
sua própria ressurreição dentre os mortos.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


MIQUÉIAS 347

ESBOÇO
I. Juízo contra Israel e Judá (1.1—3.12)
II. Mensagem Profética de Esperança (4.1—5.15)
III. O Litígio de Deus contra Israel e Sua Misericórdia Final
(6.1—7.20).

Data

O versículo inicial fixa o período durante o qual Miquéias


profetizou -entre os anos 751 e 687 a.C. O mesmo versículo
deixa subentendido que Samaria continuava de pé, mas que
sua destruição iminente estava sendo declarada, em 1.5-6;
portanto, pelo menos esta seção é anterior a 721 a.C., o ano
da queda de Samaria e do colapso do reino do norte. O
versículo 9 parece antecipar a investida de Senaqueribe
contra Jerusalém, em 701 a.C. Os sacrifícios humanos foram
uma característica dos dias negros do rei Manassés (696-642
a.C.), mas não é necessário supor que Mq 6.7 se refira a esse
período, visto que tais ritos também foram praticados pelo rei
Acaz (736¬716 a.C.): ver 2Rs 16.3. Portanto, parece que
Miquéias tenha sido contemporâneo mais jovem de Isaías:
alguns chegam mesmo a considerá-lo como discípulo de
Isaías.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


348

É interessante observar que um oráculo semelhante


aparece em ambas as profecias (Mq 4.1 e segs. e Is 2.2 e
segs.).
O cumprimento da profecia de Miquéias, em Mq 3.12, foi
relembrado mais de cem anos mais tarde. Ver Jr 26.18, onde
é dito que "Miquéias... profetizou nos dias de Ezequias, rei de
Judá". Não resta dúvida que seu principal trabalho foi levado
a efeito durante esse reinado (729-687 a.C.) e, assim, ele
teria sido parcialmente responsável, debaixo de Deus, pelo
reavivamento espiritual daquela época (2Cr 30).

O Problema crítico

Neste livro está contida certa variedade de material e os


diversos oráculos não necessitam ter sido proferidos todos ao
mesmo tempo. Excetuando o versículo inicial, não existem
outras indicações claras quanto à data, tais como
encontramos, por exemplo, em Ag 1.1; 2.1,10,20, mas fica
subentendido um ministério que deve ter-se prolongado por
um número considerável de anos. Muitos eruditos, por
conseguinte, mantêm que quaisquer diferenças quanto ao
estilo ou ao assunto abordado, podem ser imediatamente
explicadas pelas necessidades diferentes e pelo próprio
desenvolvimento mental e espiritual de Miquéias, e que,
portanto, é desnecessário imaginar mais que um só autor.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


349

Outros eruditos, porém, não podem acreditar que o


profeta que proferiu as inflexíveis advertências e denúncias
dos três primeiros capítulos, também possa ser
responsabilizado pela brilhante visão do capítulo 4 ou pelas
reconfortantes promessas do capítulo 5. Na opinião desses,
além disso, os capítulos 6 e 7 contemplam uma situação
histórica completamente diferente da que é pressuposta nas
profecias anteriores. Porém, afirmar que o homem que
compôs os capítulos 1 a 3 não poderia também ter composto
os capítulos 4 e 5 seria impor a Miquéias um grande grau de
limitação, que é completamente injustificável. Declarar que a
pessoa que fala nos capítulos 1 a 3 estava por demais
ocupada com problemas sociais para interessar-se nas
especulações visionárias dos capítulos 4 e 5, seria deixar de
perceber que todo reformador social só pode persistir em sua
tremenda tarefa se tiver uma visão de um mundo redimido.
Não há necessidade de esperar uma conexão óbvia
entre os vários blocos de material, pois dentro de um só
capítulo pode ser encontradas diversas declarações que
tratam de assuntos diferentes. Possivelmente, 7.7-20 pode
ser um apêndice posterior ao tempo de Miquéias, mas isso
de modo algum é certo.

O Profeta

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


350

Em 1.1 o profeta é descrito como "morastita", isto é,


habitante de Moresete-Gate (1.14), que, segundo Jerônimo,
até seus dias era "uma pequena aldeia próxima de
Eleuterópolis". Eleuterópolis tem sido identificada como Beit-
Jibrin, e fica em um dos vales que sobem da planície costeira
para as terras altas da Judéia em redor de Jerusalém.
Moresete, portanto, ficaria cerca de quarenta quilômetros ao
sudoeste de Jerusalém, na Sefelá, a meio caminho entre a
cidade de Gate, na Filístia (1.10) a oeste, e Adulão (1.15), a
leste. Sua relação para com Maresa (1.15) não é claramente
conhecida: alguns as julgam idênticas. Em algum tempo ou
outro parecem ter estado sob a suserania de Gate, ou ter tido
alguma conexão com aquela cidade.
Dessa maneira Miquéias não vivia em algum lugar
atrasado, porém, no mais importante dos vales, que oferecia
aproximação à capital para quem vinha da planície marítima.
Desse ponto vantajoso ele contemplava a grande estrada
costeira, ao longo da qual, por centenas de anos, haviam
passado os exércitos dos conquistadores, as caravanas
comerciais e grupos de peregrinos.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


351

Habitando perto da ponte natural entre a Ásia e a África,


com o Mediterrâneo como pano de fundo rebrilhante, 32
quilômetros além, ele se achava em posição de onde podia
contemplar o triste drama de 721-719 a.C., quando, após a
queda de Samaria, Sargom passou a empenhar-se para
dominar as forças egípcias na estrada costeira em Ráfia, em
719 a.C. Poucos anos mais tarde, Judá aliou-se a Edom,
Moabe e os filisteus na tentativa de, com a ajuda egípcia (que
nunca veio), quebrar o poder da Assíria na região; porém, os
aliados foram duramente enfrentados pelo tartã, o oficial de
Sargom, e Asdode e Gate foram saqueadas (Is 20.1).
Mais tarde ainda,
Senaqueribe, que em uma de
suas inscrições se vangloria
de haver capturado quarenta
e seis aldeias judaicas, talvez
tenha conquistado também
Moresete-Gate como uma
delas.
Além disso, não havia
comércio entre o Egito e
Jerusalém que Miquéias não observasse. Ele via Judá pondo
sua confiança no Império decadente do Nilo; via as equipes
de cavalos e carruagens egípcias nas quais Judá, uma região

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


352

montanhosa e imprópria para cavalaria, repousava


falsamente sua confiança; via as influências corruptoras de
uma aliança estrangeira; via o orgulho crescente e a falta de
escrúpulos dos homens da capital.
Na qualidade de homem interiorano, o profeta via na
capital de seu país a fonte e o centro da iniqüidade. "Qual é
a transgressão de Jacó? Não é Samaria? e quais os altos da
Judá? Não é Jerusalém?" (1.5). Ele mesmo pode ter sido um
fazendeiro e ter sido expulso de sua herdade por algum
ganancioso dono de terras. "E cobiçam campos e os
arrebatam e as casas e as tomam: assim fazem violência a
um homem e à sua casa, a uma pessoa e à tua herança"
(2.2). Amarga experiência pessoal e perda, tal vez estejam
por detrás dessas palavras. Miquéias era direto em suas
palavras como os homens do interior e também possuía
profundeza de confissões e inflamada indignação.
Não obstante, ele também era capaz de dizer coisas
sublimes e belas. Ele ultrapassa o próprio Isaías na ternura
de seus apelos, na lúcida simplicidade e na sublimidade
moral que acompanham seu maior oráculo (6.1-8).
Embora Miquéias tenha vindo do interior, enquanto
Isaías pertencia à capital e à corte real, as mensagens
principais de ambos são substancialmente as mesmas.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


353

Isaías, como já seria de esperar, tem mais a dizer acerca


da situação política e acerca das relações com o Egito e a
Assíria; porém, ao abordarem os males sociais e morais,
consequentes da rejeição ao Senhor por parte de Israel,
ambos os profetas falam num único tom. Cf., por exemplo,
Mq 2.1 e segs., com Is 5.8 e segs.; Mq 3.1-4 com Is 10.1-4. A
nação hebreia estava deixando de cumprir sua missão no
mundo, para a qual Deus a tinha chamado (Mq 2.7; Is 1.21)
e, por conseguinte, teria de ser expurgada por meio de
julgamento e preparada para o serviço (Mq 3.12; 4.6-7; Is
1.25-27). As mensagens desafiadoras de ambos os profetas
devem ter influenciado profundamente Ezequias em sua obra
de reforma.
Miquéias era nome comum entre os judeus, e significa
"quem é como Jeová?" (cf. Miguel, "quem é como Deus?"). É
digno de nota que a profecia de Miquéias tem início com as
palavras de um apelo feito anteriormente por um seu
homônimo (1Rs 22.28).
Dessa maneira, Miquéias liga-se deliberadamente com
aquele campeão mais antigo da verdade.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


354

Contribuições singulares
Aterrorizante descida do Senhor a terra (1.3-4)

Miquéias principia apresentando uma das mais


tremendas descrições do Senhor: sua descida à terra com
terrível ira. Do mesmo modo que Jonas, Miquéias proclama o
julgamento de Deus antes de declarar sua misericórdia
perdoadora. Na realidade, os três livros seguintes seguem o
mesmo tema do Senhor vindo como um guerreiro poderoso
que faz "os montes" tremerem (Na 1.2-6), "os outeiros
eternos" se abaterem (Hc 3.6) e toda "a terra" ser consumida
(Sf 1.18). Isaías também apresenta esse terrível quadro nos
capítulos 24 e 63, quando descreve as devastações do Dia
do Senhor.
Os profetas viram o pecado do homem significando nada
menos do que uma redução catastrófica da terra ao caos (Jr
4.23-26). Miquéias apresenta esse quadro do Senhor a fim de
enfatizar a grande ira divina contra aqueles que praticam
violência e injustiça para com os pobres. Tirar proveito dos
pobres, adverte ele, é incorrer na ira do Todo-poderoso (Dt
15.10; Sl 109.31; 140.12; Pv 14.31; 19.17).

Profeta do homem pobre

Miquéias é conhecido como o profeta do homem


comum. Tendo ele mesmo vindo de berço humilde, conhecia

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


355

as más condições dos pobres e tomou para si sua causa


contra os vorazes líderes da nação que visavam a seus
próprios interesses (3.1-3).
Em todo o livro, Miquéias denuncia a opressão do fraco,
o suborno entre os líderes, o ato de expulsar mulheres dos
seus lares e prática de toda espécie de roubo, grande parte
dele em nome da religião (2.1-2, 8¬11; 3.1-3,9-11; 6.10-12;
7.1-6).
Embora não isente o pobre apenas pela sua pobreza,
ele condena intrepidamente as classes superiores por
sangrarem os pobres e indefesos. Ao descrever a esperança
da restauração, Miquéias surpreende a nação com o anúncio
de que o futuro "governador de Israel", o Messias, virá da
pequena e insignificante cidade de Belém, ao invés da
opulenta capital Jerusalém (5.2-4). Apresenta-o na condição
de um "Pastor", como o era Davi.
Todavia, será maior do que Davi, e "engrandecido até
aos confins da terra" (5.4). Miquéias foi o último profeta a
mencionar Belém no Antigo Testamento. Concentrou, porém,
a atenção da nação sobre a pequena cidade por mais de 700
anos.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


356

O Evangelho de justiça social de Miquéias (6.6-8)

No Antigo Testamento, não se encontra um resumo da


Lei mais simples e mais profundo do que o de Miquéias 6.6-
8. Suas exigências são simples e sem rodeios: praticar a
justiça, amar a bondade demonstrando-a, e andar
humildemente com Deus. Do mesmo modo que Jesus
resumiu a Lei como "amor" para os insensíveis líderes do seu
tempo. Miquéias resumiu-a como justiça, misericórdia e
modéstia para um povo completamente desprovido dessas
qualidades, embora muitíssimo ocupado com religião (3.11).
Os "milhares de carneiros" e "dez mil ribeiros de azeite"
(6.7) não podiam subornar Deus a fechar seus olhos à
ausência de justiça e misericórdia entre os homens.

Total depravação de Israel (7.2-6)

À semelhança de lsaías (1.5-6 e 57.1), Miquéias


observou que Israel tinha chegado a uma situação em que se
podia muito bem afirmar: "não há entre os homens um que
seja reto" (7.2). Eram todos iníquos e só cuidavam dos seus
próprios interesses naquela sociedade idólatra.
Tendo-se afastado da verdade divina, estavam colhendo
os efeitos sociais de "os inimigos do homem são os da sua
própria casa", incluindo esposa, filhos e pais (7.5-6). Jesus
citou esse texto de Miquéias em Mateus 10.21,35 para

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


357

mostrar que a rejeição da verdade que ele estava pregando


no seu tempo traria aquela mesma condição de castigo do
tempo de Oséias. Paulo também se refere a isso em
Romanos 1.28-32, mencionando que a depravação social
está sempre ligada à rejeição da verdade.

Cristologia em Miquéias (4.1-8; 5.2-5)

Dois textos de Miquéias falam do reino do Messias e de


sua vinda. Nos "últimos dias", ele reinará no monte Sião, onde
prevalecerão a verdade, a justiça, a prosperidade e a paz. Ali
os coxos, os expulsos e os aflitos estarão reunidos a fim de
formar o núcleo da sua "poderosa nação" (4.1-7).
Em 5.2, entretanto, Miquéias revela que esse reino não
começará ostentando grandeza, pois o próprio Messias
nascerá na pequena vila de Belém, lugar de criação de
carneiros. Ele, que é eterno, virá de Deus como Pastor de
Israel. Mas antes que o Messias se torne grande até os
confins da terra, a nação será abandonada pelo Senhor por
um tempo, no fim do qual ele surgirá para pastorear o seu
povo com grande majestade (5.3-4).
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________
________________________________________________

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


NAUM
358

ESBOÇO

I. A Natureza de Deus e do Seu Juízo (1.2-15)


II. Vaticínio a Respeito da Queda de Nínive (2.1-13)
III. Razões da Queda de Nínive (3.1-19)

Data

A profecia de Naum antecipa a queda de Nínive. O


profeta fala sobre a queda da cidade com uma clareza e uma
intimidade possíveis somente se tal acontecimento estivesse
quase imediato. Isso data a profecia de Naum como pouco
antes da queda daquela cidade, em 612 a.C. O profeta
também menciona o saque de Nó-Amom (3.8), como fato
consumado.
Essa cidade foi pilhada pelo rei Assurbanipal, da Assíria,
cerca de 670 a.C. Esta profecia, por conseguinte, pode ser
datada entre esses dois eventos.
Outra pequena partícula de evidência interna sugere que
a data pode ser fixada com mais precisão como pouco depois
da reforma de Josias, em 621 a.C. Há uma referência (1.15)
que sugere que a importância da observância das cerimônias
religiosas estava bem fresca nas mentes do povo de Judá
quando o livro foi escrito. Portanto, podemos estabelecer,
como tentativa, a data da profecia, como entre 621 e 612 a.C.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


359

O profeta, portanto, teria sido contemporâneo de Sofonias,


Habacuque e Jeremias.

O Homem

O escritor é descrito como "Naum, o elcosita". O nome


Naum quer dizer "consolação", "conforto" ou "alívio". Apesar
de que a mensagem primária de Naum é a iminente
destruição de Nínive, uma das consequências necessárias da
queda do tirano assírio era o alívio da oprimida Judá. Nesse
sentido, a mensagem de Naum justifica o nome do profeta.
Ele não tinha palavra de julgamento ou condenação contra
seu próprio povo, mas apenas de conforto. Ele declara, em
nome do Senhor: "eu te afligi, mas não te afligirei mais. Mas
agora quebrarei o seu jugo de cima de ti, e romperei os teus
laços" (1.12-13).
"Elcosita", a designação suplementar do profeta, indica
que Naum estava intimamente ligado com a localidade
conhecida como Elcós. Quatro localizações são sugeridas
para esse lugar. Jerônimo dizia que Elcache (Het kesai) era
uma pequena aldeia da Galileia e que lhe fora mostrada por
um guia. Outra sugestão é Cafarnaum, na Galileia, nome
esse que é transliteração de duas palavras hebraicas que
significam "vila de Naum". Uma terceira identificação é Alquis,
perto de Mossul, na Assíria, que localmente se considera

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


360

cidade nativa do profeta Naum. Em quarto lugar,


Pseudepifânio mantinha que "Elcesei" era uma vila de Judá.
Dessas quatro tradições, a terceira não recua mais que
o século XVI de nossa era. No concernente às duas
primeiras, não há evidência, dentro do texto, que sugira um
ambiente galileu para Naum. Naturalmente, se aceitarmos a
tradição que Naum era um deportado na própria Nínive, não
se poderia esperar traços de ambiente galileu. Porém, parece
que nos tempos neotestamentários, não havia tradição que
Naum tivesse vindo da Galileia (cf. Jo 7.52, que, entretanto,
se esquece de Jonas). Tal origem para o profeta pode ser
posta em dúvida em outras bases. A quarta sugestão liga
Naum a Elcase, "da tribo de Simeão". Nesse caso, Elcase
pode ser localizada perto de Beit-Jibrin, entre Jerusalém e
Gaza. Pode ser observado que há evidência que aponta para
o fato que Miquéias também veio daquelas
circunvizinhanças. Essa região parece ter produzido a
piedade juntamente com o gênio.

Sua mensagem

A nota primária da mensagem de Naum é: "A mim me


pertence a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor". "O Senhor
é um Deus zeloso e que toma vingança" (1.2). A palavra
“zelosa”, neste passo, significa o intenso sentimento de Deus

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


361

para com Seus inimigos. Naum apreendeu e declarou com


apaixonada insistência essa grande verdade que a ira de
Deus é provocada pela iniquidade. Ele tolera os homens por
longo tempo, mas Sua ira termina por ser despertada. Então
Ele castiga aqueles que o têm provocado. Ele golpeia e leva
a completo final. A ira de Deus é terrível e inescapável.
Aquele que divide os céus escurecidos pela tempestade com
lanças de faíscas e faz rachar as rochas, é um horrível
adversário. O débil homem nada significa perante Ele.
Os homens podem tomar conselho entre si. Podem
dizer: "Somos fortes. Quem nos pode derrubar?" Mas Deus,
tratará do caso deles. Não importa quão poderosos sejam,
não importa quantos ajudadores possam ter, Deus afligir-
lhes-á um golpe mortal. Tem havido outros mais fortes que
eles. E foram derrubados. Assim também os inimigos de
Deus sempre serão vencidos.
Em adição, Naum destaca dois pecados em particular,
para denunciá-los. Primeiramente temos o pecado de
violento poder militar. Em resultado desse mal, o sangue se
derrama em rios, nações são aniquiladas, instituições são
destruídas e a guerra é feita com toda espécie de ferocidade
(2.11-13). Quanto àqueles que assim violam as decências da
existência humana, é declarado: "Eis que estou contra ti, diz
o Senhor dos exércitos".

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


362

O outro pecado, que Naum denuncia, é o comércio sem


escrúpulos. As nações vizinhas eram corrompidas para que
eles pudessem ministrar aos luxos e vícios da cidade
conquistadora.
Os comerciantes, motivados por ambição pelo ouro,
vendiam suas mercadorias numa cidade que desejava coisas
finas. Permitia-se que a moralidade e a honestidade
perecessem, a fim de que pudessem ser adquiridas as
riquezas e desfrutados os prazeres (3.1-4). Contra esse
pecado, semelhantemente, é decretado o mesmo
julgamento, com sombria simplicidade: "Eis que eu estou
contra ti, diz o Senhor dos Exércitos" (3.5). O seu próprio povo
Naum declara que os mensageiros trazendo boas novas já
estavam a caminho. Como expressão de gratidão pela
destruição do opressor, o povo de Judá deveria observar os
períodos religiosos e desincumbir-se escrupulosamente das
obrigações de sua fé (1.15).

Sua significação como profeta

Tal qual Catão, o senador romano, que encerrava cada


um de seus discursos no senado com as palavras Carthago
delenda est, ou seja, "Cartago precisa ser destruída", Naum
estava obcecado por uma ideia: Nínive delenda est.
Seu olhar estava fixado sobre Nínive e seus pecados.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


363

Embora sincero, intenso e eficaz, ele não tinha muito a


dizer sobre os elementos íntimos da religião autêntica. Ele
não exortava por um retorno pessoal e nacional à justiça, mas
antes à observância das festividades religiosas, como
também Amós fazia (Am 4.4-5). Ele não procurava conquistar
seu próprio povo com a ternura de Miquéias (Mq 6.3). Ele não
proclamava misericórdia para com todos os homens, nem
mesmo para Nínive, com a largueza de visão e a diáfana
claridade do livro de Jonas.
Não obstante, por mais limitada que tenha sido a
mensagem de Naum, sua posição entre os profetas é
garantida. A data em que a sua profecia foi composta pode
talvez explicar sua aparente falta de preocupação pelos
pecados de seu próprio povo, bem como suas omissões, não
apontando suas obrigações morais e espirituais, e sua
aparente falta de caridade para com a própria Nínive. Se é
que a sua profecia foi composta pouco antes de 612 a.C. (a
queda de Nínive), então não foi escrita muito tempo depois
da reforma de Josias (621 a.C.).
É verdade que Jeremias percebeu que essa reforma não
era suficiente; mas Naum pode ter sentido que a nação
seguia agora pelo caminho certo.
A desilusão provocada pela morte precoce de Josias,
em 609 a.C., ainda não havia tido lugar, e o alívio sentido

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


364

devido à iminente destruição de Nínive era tão intenso que


fazia Naum esquecer-se de todas as demais considerações.
A profecia de Naum tem sido apropriadamente chamada de
"o clamor de uma consciência ultrajada". É uma apaixonada
assertiva que a justiça prevalecerá em sua inflexível
retribuição. Essa verdade é por ele declarada com insistência.
Ele proclama sua necessidade moral. Ele contempla sua
realização com lucidez sem paralelo. Ele prevê seu
cumprimento completo.
No grande corpo de verdade, ensinado pelos doze
profetas, essa verdade é particularmente propriedade de
Naum e, se sua profecia é a profecia de uma ideia, pelo
menos ele apresenta essa ideia com grande poder e
completa eficácia.

Contribuições singulares
Caráter retribuidor de Deus (1.2,6)

De modo semelhante a Miquéias, Naum principia


enfatizando a grande ira do Senhor contra o pecado e sua
vinda para trazer julgamento aos perversos.
Aqui, entretanto, sua ira dirige-se mais aos inimigos de
Israel do que aos israelitas. Naum descreve o Senhor como
um Deus zeloso e vingativo, que virá com ira abrasadora
contra seus inimigos. Esse caráter zeloso de Deus foi

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


365

apresentado em Êxodo 20.5, e mais tarde com mais


pormenores em Deuteronômio 32.21 e ss. Muitos textos
descrevem o Senhor como "tardio em se irar", mas grande
em poder e ira contra aqueles que rejeitam sua graça (Êx
22.24; 32.12; Nm 14.18; Js 7.1; Ed 9.15; Jó 20.23). No Novo
Testamento, os oito "ais" sobre os líderes hipócritas do tempo
de Jesus apresentam a mesma ira ardente para com os que
rejeitam deliberadamente a Lei e a graça de Deus (Mt 23).
Essa ira chega ao auge na grandiosa e terrível descrição da
vinda do Senhor em Apocalipse: 14.10,19 e 19.15 para julgar
seus inimigos enquanto livra o seu povo.

Livro de julgamento não-aliviado

Nenhum outro livro da Bíblia é tão enfático na


mensagem de julgamento e mi¬sericórdia não aproveitada.
Suas únicas "boas novas" são a profecia sobre a destruição
de Nínive (1.15).
Foi tão grande a preocupação do profeta com os
pecados e o julgamento daquela cidade, que os pecados de
Israel ou Judá não foram nem mesmo aludidos. O Senhor
dedicou um livro inteiro para descrever vivamente sua grande
ira contra um povo que vivia na violência, pilhagem e
derramamento de sangue, e que deixou de permanecer em

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


366

sua misericórdia dispensada através de Jonas, profeta de


Deus.

Nínive, a grande cidade-rainha destruída.

Não há dúvida de que é este o livro que Jonas gostaria


de ter escrito (Jn 4.2), ao não compreender que o Senhor
tinha antes uma colheita a fazer naquela cidade. Sua curta
profecia da destruição de Nínive está aqui amplificada, sem a
data de execução, "quarenta dias". Embora o arrependimento
dos ninivitas tenha adiado o seu julgamento, a retomada da
antiga perversidade e violência apenas intensificou o peso do
seu castigo, sobretudo diante do desrespeito à sua
misericórdia.
A antiga cidade de Nínive era um símbolo clássico do
mundo quanto ao seu poder, violência e rebeldia contra Deus
desde o tempo de Ninrode (Gn 10.9-11). Mas quando Deus
ordenou sua destruição, ela foi aniquilada tão completamente
que a antiga rainha das cidades ficou esquecida durante
muitos séculos, coberta com areia, transformada em um
deserto.

Admoestação internacional de Naum a todas as nações

A notável lição de Naum para as nações é que a "lei da


selva" não é a Lei de Deus. Embora o pecado e a violência

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


367

possam ficar sem punição por algum tempo dentro da


longanimidade divina, todavia não serão esquecidos. Neste
caso não está apenas em jogo o "tempo" de Deus, mas
também a justificação do seu caráter (Êx 34.6-7; Nm 14.18).
Apesar de ele ser "tardio em irar-se" e estar sempre
interessado em mostrar-se misericordioso, não é
absolutamente imune à ira quando sua lei é impugnada e sua
graça desprezada. O Deus vingador descrito por Naum é um
dos quadros mais aterradores da Bíblia. Enquanto o Livro de
Jonas apresenta a misericórdia do Senhor estendida aos
gentios desconhecedores da lei mosaica, Naum retrata a ira
e o julgamento divino das nações, conheçam ou não a lei de
Moisés.

Cristologia em Naum (1.15)

Mesmo sem referências especificas ao Messias no Livro


de Naum, a proclamação das "boas novas" em 1.15 tem uma
referência indireta a Cristo e seu evangelho. É uma referência
a Isaías 52.7, mais tarde aplicada por Paulo em Romanos
10.15 quanto ao aspecto libertador do evangelho.
É um lembrete de que o primeiro objetivo de Naum foi
consolar Israel a respeito da ameaça nacional por parte do
cruel e perverso inimigo do Oriente. Além disso, as boas
novas do evangelho são que Cristo não somente traz o

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


368

livramento dos inimigos, mas também os benefícios reais, da


salvação (Lc 1.71). O Deus prefigurado por Naum não é
diferente do Cristo do Novo Testamento.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


HABACUQUE 369

ESBOÇO
I. As Perguntas de Habacuque (1.2—2.20)
II. O Cântico de Habacuque (3.1-19)

Autor

Nada sabemos a respeito de Habacuque fora das


informações prestadas neste livro, mas mesmo aqui ele não
nos fornece sua genealogia nem nos diz quando profetizou.
O próprio nome é aparentado de um vocábulo assírio,
que significa uma planta ou vegetal. Na Septuaginta, seu
nome aparece como Ambakoum. Jerônimo a derivou de uma
raiz hebraica que significa “segurar”, e disse que: “ele é
chamado ‘Abraço’ ou por causa de seu amor ao Senhor, ou
porque lutava contra Deus”. Lutero, e muitos comentadores
modernos, têm favorecido a mesma derivação.
Certamente não é derivação inapropriada, pois neste
pequeno livro vemos um homem, em ânsia mortal, em luta
com o grande problema da teodiceia a justiça divina -em um
mundo desordenado. Encontramos a mesma espécie de
conflito no mais volumoso livro de Jó.
Habacuque foi o primeiro profeta a impugnar não a
Israel, porém a Deus. O livro contém um solilóquio entre ele
mesmo e o Todo-Poderoso.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


370

O que o deixava perplexo era a aparente discrepância


entre a revelação e a experiência. Ele procurava explicação
para isso. Nenhuma resposta direta é dada à sua
interrogação, mas é-lhe assegurado que a fé paciente
terminará saindo vencedora (2.4). Ele expressa sua fé mui
vividamente, em 3.17-19, onde o sentimento encontra um eco
mais recente, no hino de William Cowper: “Deus é Seu próprio
intérprete, e Ele deixará claro”.
Por causa do arranjo musical do capítulo 3, alguns têm
pensado que Habacuque foi levita. É possível que ele tenha
sido membro de um grupo profissional de profetas,
associados ao templo (1Cr 25.1). Ele é o único dos profetas
canônicos que a si mesmo chama de “profeta” (1.1), e julga-
se que isso indica posição profissional.
Habacuque aparece na história apócrifa de Bel e o
Dragão, como aquele que livrou Daniel da cova dos leões
pela segunda vez; porém, tudo isso não passa da lenda.

Data e ocasião

Em 1.6 somos informados que Deus estava levantando


os caldeus (isto é, os babilônios) como um instrumento de
castigo. Sem dúvida isso se refere ao império babilônico
revivificado, que derrubou o enfraquecido império assírio no
fim do quinto século a.C.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


371

Nínive foi destruída em 612 a.C. e Nabucodonosor, rei


da Babilônia, derrotou Faraó Neco, do Egito, em Carquemis,
em 605 a.C.
Três anos antes dessa batalha, Faraó Neco matou
Josias, rei de Judá, em Megido (2Rs 23.29-30; 2Cr 35.20 e
segs.), e estabeleceu reis títeres sobre o trono de Judá,
porém, nem Faraó Neco nem eles eram adversários para o
crescente poder da Babilônia, e assim, durante os vinte anos
seguintes, Judá ficou à mercê dos caldeus e foi finalmente
levado em cativeiro, em 586 a.C.
As profecias de Habacuque se referem claramente a
esse período e podem ter sido entregues a público, ou antes,
ou depois da batalha de Carquemis. Em ambos os casos,
Habacuque teria sido contemporâneo de Jeremias (627¬586
a.C.).
Em favor da data mais antiga temos a sugestão, em 1.5,
que o levantamento dos caldeus ainda era acontecimento
futuro e, no tempo em que o profeta falou, era ainda algo que
fazia as pessoas se admirarem (E. B. Pusey, por exemplo,
data a profecia tão cedo como o fim do reinado de Manassés,
isto é, tão recuada como a frase em vossos dias, em 1.5,
permite); em favor de uma data depois de 605 a.C. temos a
descrição detalhada dos métodos de guerra dos caldeus,
como algo já bem conhecido (1.7-11).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


372

O reinado do mau rei, Manassés fora “uma época que


provou a fé das almas piedosas” (Kirkpatrick). A reforma sob
o rei Josias (637-608 a.C.) se tinha mostrado ineficaz, pelo
que a iniquidade e a perversidade (1.3) da desviada Judá
deveriam ser castigadas. Por esse motivo Deus estava
levantando os caldeus.
Esse o ponto de vista geral dos eruditos. Alguns,
entretanto, referem 1.2-4 não à desviada Judá, mas a algum
opressor pagão. Esse opressor poderia ser a própria Caldéia;
nesse caso, o texto teria de ser rearranjado para que os
versículos 5-11 precedessem os versículos 2-4 (Giesebrecht)
ou deveriam ser eliminados (Wellhausen).
Ou o opressor poderia ter sido a Assíria: assim pensa
Budde, que coloca os versículos 6-11 após 2.2-4, e data a
profecia logo depois de 625 a.C., quando Nabopolassar, o
caldeu, se tornou independente da Assíria. Mas, nesse caso,
por que a Assíria não é mencionada? Em terceiro lugar, há a
possibilidade de referir-se ao Egito: assim pensa G. Adam
Smith, que compara 1.2-4 com 2Rs 23.33-35.
Porém, a queixa de Habacuque, em 1.12-2.1 não é que
Deus estava usando uma nação pagã para castigar outra,
mas antes, que o Senhor estava usando uma nação pagã
para punir Judá. A despeito de a lei haver sido redescoberta
no templo, em 621 a.C. (2Rs 22.8; cf. Hc 1.4), o povo de Judá

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


373

se inclinava para a violência e para a injustiça. O rearranjo do


texto, para adaptar-se a uma teoria particular, é sempre um
expediente duvidoso. Parece mais seguro aceitar o texto tal
qual está e atribuir 1.2-4 ao povo de Judá.
Um crítico conservador, W. A. Wordsworth, situa a
entrega da profecia um século antes, fazendo Habacuque ser
contemporâneo de Isaías, com cujas profecias encontra ele
muitas afinidades em Habacuque.
A data fixadora é, então, a captura de Babilônia pelo
caldeu Merodaque-Baladã, em 721 a.C. Outros, com certa
base de apoio à sua posição da parte das versões gregas,
omitem inteiramente a palavra “caldeus”, em 1.6, ou então,
juntamente com Duhm, substituem-na pela palavra “Quitim”,
isto é, gregos cipriotas, assim colocando o livro nos dias de
Alexandre, o Grande, cerca de 330 a.C. Tais pontos de vista
exigem considerável manuseio no texto e não são muito
plausíveis. Mas é interessante notar que os Papiros do Mar
Morto, recentemente descobertos, que contêm o comentário
de Habacuque embora lhe falte a primeira metade de 1.6 traz
a seguinte nota a respeito: “interprete-se (isso) como os
Quitim, cujo temor está sobre todas as nações”. Isso,
entretanto, pode ter sido apenas uma “aplicação moderna” de
uma situação mais antiga.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


374

Parece melhor, por conseguinte, situar a data do livro de


Habacuque cerca de 600 a.C., ou um pouco antes.

Texto e Composição

O significado do texto hebraico nem sempre é claro e a


Septuaginta apresenta algumas poucas, mas interessantes
variações, como, por exemplo, a grande afirmativa em 2.4,
que, em um texto da Septuaginta é “totalmente messiânica”
(T. W. Manson).
A incerteza quanto a quem se referem várias passagens
tem levado muitos críticos a rearranjar o texto e, em alguns
casos, até a dividir a autoria do livro. Para alguns, Habacuque
seria o autor dos capítulos 1 e 2; para outros, seria ele o autor
do capítulo 1 e da maior parte do capítulo 2, enquanto o
capítulo 3 seria um poema posterior, do período persa ou dos
macabeus. Mas muitos, à semelhança de Kirkpatrick, de J.
Peterson, e de outros, preferem considerar o livro como um
todo artístico e relacionado.
Parece que a intenção da profecia era de ser lida e não
de ser ouvida (ver 2.2).
Tem mais a natureza de um poema especulatório e
meditativo do que um sermão ou discurso público. O salmo,
no capítulo 3, evidentemente tinha o propósito de encorajar o
povo de Deus em período de adversidade.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


375

Contribuições singulares
Julgamento Divino da Babilônia (3.12)

O Livro de Habacuque segue logicamente o de Naum no


julgamento divino do segundo maior inimigo de Israel, o
destruidor vindo do Oriente. Embora tanto Nínive quanto
Babilônia tenham sido usadas pelo Senhor para destruir
Israel no Norte e Judá no sul (Is 7.18-20; Jr 27.6), ambas
foram também julgadas pela violência. Esses dois livros
registram o castigo dessas duas nações por sua conduta
sanguinária e perversa, não tolerada nem aprovada por Deus.
Ambos os livros revelam a grande ansiedade inspirada pelo
Senhor e sua grande ira ao vir em julgamento para realizar
pessoalmente a destruição.

Santidade de deus (1.12; 2.20; 3.3).

O maior interesse de Habacuque é pela santidade divina


com respeito tanto à perversidade de Israel, quanto à soberba
da Babilônia. Ele se afligiu por Deus permitir que o pecado
continuasse em Judá sem punição, e depois preocupou-se
por Deus usar a Babilônia como instrumento punitivo, nação
ainda mais perversa. Esse problema e a respectiva resposta
estão imortalizados em dois clássicos versículos: “Tu és tão
puro de olhos, que não podes ver o mal” (1.13). “Mas o

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


376

Senhor está no seu santo templo: cale-se diante dele toda a


terra” (2.20).
Se o Senhor é longânimo com os pecadores e até
escolhe “vasos de ira” (Rm 9.22) para executar os seus
objetivos, não faz, todavia, concessões em assuntos onde
está em jogo sua santidade. Permite, com frequência, que o
pecado siga o seu curso normal e se destrua a si próprio
dentro do seu plano, demonstrando assim a soberania e a
grandeza da sua santidade e justiça.

“O justo viverá pela sua fé” (2.4)

Habacuque tem sido denominado de “o livro que


começou a Reforma”. Paulo citou Habacuque 2.4 ao
desenvolver a doutrina da justificação pela fé em Romanos
1.17 e Gálatas 3.11, e esse foi o lema de Lutero e dos
Reformadores. Essa frase é também citada em Hebreus
10.38, e as três citações do Novo Testamento têm uma
progressão interessante, quanto à ênfase: Em Romanos
1.17, a ênfase está em “O justo”; em Gálatas 3.11, em
“viverá”; e em Hebreus 10.38, em “pela fé”. Todos os três
pontos estão enfatizados em Habacuque. Poucos versículos
da Bíblia têm participado com tão profundo efeito no
desenvolvimento da teologia e da proclamação da fé.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


377

Frases citadas com frequência

O pequeno livro de Habacuque é notável pelos seus


muitos textos citados:
(a) “Vós não crereis, quando vos for contada” (1.5).
(b) “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal”
(1.13).
(c) “Mas o justo viverá pela sua fé” (2.4).
(d) “Porque a terra se encherá do conhecimento da
glória do Senhor, como as águas cobrem o mar” (2.14).
(e) “Ai daquele que dá de beber ao seu companheiro”
(2.15).
(f) “Mas o Senhor está no seu santo templo: cale-se
diante dele toda a terra” (2.20).
(g) “Aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos” (3.2).
(h) “Exultarei no Deus da minha salvação” (3.18).
Ousado diálogo de Habacuque com Deus

Ao contrário de outros livros proféticos, Habacuque é


mais uma oração do que uma profecia. O preocupado profeta
ousa dialogar com Deus, enfrentando-o com perguntas que
parecem desafiar tanto a santidade quanto o amor do Senhor.
Essa oração continua em todo o livro, enquanto o profeta faz
a pergunta e espera a resposta de Deus.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


378

Constitui também um sistema de ensino muito eficiente,


propondo perguntas difíceis e elaborando respostas com
autoridade divina. Isso foi denominado posteriormente de
método “rabínico” ou “socrático”, e também usado por Jesus
com muita eficiência (Mt 24.42 e ss.).
A fé divina de Habacuque é tão vigorosa e profunda, que
ele pode expressar honestamente suas dúvidas e ficar
satisfeito quando o Senhor responde com novos apelos à fé.

Cristologia em Habacuque (2.14,20)

Esse livro também não apresenta referências


específicas ao Messias, apenas diversas inferências da era
messiânica. Em 2.14, o profeta declara que o conhecimento
da glória do Senhor será universal.
É uma inegável citação e acréscimo de Isaías 11.9, onde
o antigo profeta descreve certos aspectos dos tempos
messiânicos. Habacuque especifica que o conhecimento
universal será referente à glória do Senhor. O contraste é com
os que labutam inutilmente, até ao derramamento de sangue,
pela breve e passageira glória de reinados temporais.
O conhecimento da glória do Senhor, a qual está
atualmente quase escondida, cobrirá e encherá então a terra.
Uma segunda inferência messiânica é a exortação
“Cale-se diante dele toda a terra”, bem como “O Senhor (...)

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


379

está no seu santo templo” (2.20). Existem afirmações


semelhantes em Sofonias 1.7 e Zacarias 2.13, quando
anunciada a vinda do Senhor no Dia do Senhor. Do mesmo
modo, Apocalipse 8.1 fala de um período de silêncio no céu
antes do desencadeamento da ira de Deus na última metade
do período de tribulação.
Aqueles julgamentos do Apocalipse são vistos
continuamente como procedentes do Senhor no seu santo
templo, enfatizando a santidade de Deus e o despejar de sua
justiça e ira (Apocalipse 8.4; 14.15,17; 15.8; 16.1,17). Parece
que essa é também a ideia de Habacuque quando ele
apresenta o salmo da ira de Deus contra as nações, em sua
descrição da teofania militante e majestosa (3.3-16).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


SOFONIAS 380

ESBOÇO
I. O Julgamento e o Dia do Senhor (1.2—3.8)
II. A Salvação e o Dia do Senhor (3.9-20)

Autor e data

O livro de Sofonias é o nono na coleção da literatura


profética dos hebreus. Em muitos particulares é um dos
típicos “profetas menores”, mas assinala “a primeira
coloração de profecia com apocalipse”. Sofonias era homem
realista, sóbrio e controlado, ainda que não lhe faltassem
poderes impressionantes de imaginação e poderosas e
realísticas figuras de linguagem.
É certo que ele era jovem quando escreveu sua profecia,
mui provavelmente com não mais de vinte e nove anos de
idade, quando começou a profetizar. Foi contemporâneo de
Jeremias entre os profetas, e do bom rei Josias, de Judá.
Alguns eruditos (KIRKPATRICK, Doctrine of the Prophets, p.
237) comprazem-se em dizer que Naum também foi
contemporâneo de Sofonias e que Sofonias surgiu perto do
fim do ministério daquele, o qual, naturalmente, dizia respeito
exclusivamente à cidade de Nínive.
Mas, não podemos concordar com tido isso, pois,
argumenta-se, a destruição de Nínive não teve lugar senão
em 612 a.C. e Naum deve ser considerado como profeta mais

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


381

próximo desse acontecimento do que do período coberto por


640-621 a.C. que foi a época em que Sofonias deve ter
aparecido.
O aparecimento de Jeremias parece ter sido
imediatamente depois das primeiras profecias de Sofonias.
Há aqueles que asseveram que eram os dois profetas
praticamente da mesma idade, porém, não existe prova sobre
qualquer combinação íntima entre os dois.
Efetivamente, em certos pontos, Jeremias percebeu a
fraqueza e o perigo do reavivamento generalizado e súbito de
Sofonias. Indubitavelmente Jeremias se regozijou com as
reformas provocadas pela pregação de Sofonias, realizada
por Josias; mas parece que Jeremias podia ver além -talvez
por já ter vivido mais que o outro profeta -e que considera
uma parte da reforma como mera formalidade externa, um
gesto próprio de um movimento popular, e não uma
purificação sincera e espiritual, dotada de qualidade de
permanência.
Sofonias foi o primeiro profeta no período de duas
gerações. Provavelmente já se tinham passado setenta anos
desde que tinham sido ouvidas as vozes dos profetas do
período da ascendência dos assírios -Isaías e Miquéias.
A sorte que coube a Samaria, em 712 a.C. servia de
solene memória sobre o poder, a majestade e a retidão de

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


382

Deus. É possível que os cinquenta anos anteriores ao reinado


de Josias se tenham caracterizado por uma nova queda na
degeneração e na esterilidade, na história de Judá. Seja
como for, o vigor e o zelo da juventude de Sofonias eram
qualidades necessárias em vista da situação que prevalecia,
e são qualidades facilmente discerníveis em seu livro.
A franqueza e o tom imperdoável dos pronunciamentos
de julgamento são qualidades típicas de um homem jovem
que possui fortes convicções e manifesta um grau incomum
de sensibilidade moral e dedicação.
O zelo reformador do jovem rei Josias (639-609 a.C.)
tinha paralelo apropriado na fervorosa pregação do novo
jovem profeta. Ambos “vieram ao reino para um tempo tal
como aquele” e a juventude de ambos e os anos difíceis que
os moldaram prepararam-nos bem para desempenhar um
digno papel naquela nova era. O Dr. George Adam Smith
sugere que o nome de Sofonias, que significa “Jeová tem
guardado (ou ocultado)”, pode indicar que seu nascimento
teve lugar durante o tempo da matança efetuada por
Manassés.
(The Book of the Twelve Prophets, Vol. 2, p. 47). De
qualquer modo, o que é certo é que quando, na providência
de Deus, Sofonias se apresentou no palco dos
acontecimentos de Judá, ele marcou o início de uma nova

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


383

linha de profetas que deveria incluir Jeremias, Habacuque,


Obadias e Ezequiel (além de Naum, se for aceita a data
posterior para sua profecia), todos os quais procuraram salvar
Judá da sorte que já tinha envolvido o reino do norte.
Por conseguinte, é possível dizer com certeza que o corpo
principal do livro deve ser associado com a reforma ligada
com Josias, que teve lugar em 621 a.C. e é razoável supor
que a pregação de Sofonias foi uma das causas contribuintes
dessa reforma.
Portanto, podemos concluir que a data provável foi cerca
de 630 a.C.

Circunstâncias de sua elocução

Conforme já foi indicado, as circunstâncias dentro das


quais Sofonias foi chamado a profetizar eram, a um e ao
mesmo tempo, perigosas e promissoras. Durante o longo
reinado de Manassés (696-642 a.C.), o perverso filho do bom
rei Ezequias, o estado moral e religioso de Judá se tinha
tristemente deteriorado (2Cr 33.1-11).
Durante todo o seu reinado ele se tinha oposto ao
reavivamento religioso que havia caracterizado o reinado de
seu pai. Manassés edificou novamente os altares que seu pai
havia derrubado e restaurou a aviltante adoração da natureza
associada à adoração de Baal.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


384

Superstição, adoração das estrelas e até mesmo


sacrifícios humanos, se tornaram parte de uma religião de
formalidades e cerimônias externas privada de realidade
interna e sem convicções espirituais ou éticas.
É possível fotografar tudo isso como “o sinal de uma
alma desesperadamente ansiosa a procurar, cegamente,
como propiciar os misteriosos poderes divinos -a volta
fanática à religião de seu avô”, mas, quando muito não
passava de um externalismo e de um sincretismo religioso
que pagava muita deferência aos senhores assírios e, para
os profetas, não passava de uma clara e precipitada
iniquidade.
Aqueles que haviam tentado preservar a pureza da
adoração a Jeová tinham sido recompensados por seus
esforços, com a perseguição e até mesmo com a morte.
“Manassés derramou muitíssimo sangue inocente, até que
encheu a Jerusalém de um ao outro extremo” (2Rs 21.16).
É verdade, naturalmente, que Manassés se arrependeu
dessa atitude antes de sua morte e que “humilhou-se muito
perante o Deus de seus pais” (2Cr 33.12). Também é
evidente que as más tendências de seu reinado não haviam
conquistado inteiramente o apoio do povo. Uma vez mais,
havia um remanescente que não havia dobrado os joelhos;

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


385

havia aqueles que desejavam e trabalhavam para a vinda de


tempos melhores.
Era esse fator que tornava aquele período ao mesmo
tempo promissor e perigoso. Josias tornou-se rei de uma
nação, dentre a qual muitos ansiavam por uma religião mais
pura e estavam prontos tanto para ouvir Sofonias como para
seguir o rei em seu zelo reformador.
Também se deve fazer menção da invasão da Média e
da Assíria pelos citas, em 632 a.C. que transformou seus
campos frutíferos em um deserto, como se uma nuvem de
gafanhotos tivesse passado por eles. “A guerra era sua
principal atividade, e serviram de terrível flagelo para as
nações da Ásia Ocidental. Romperam a barreira do Cáucaso
em 632 a.C. e, avançando através da Mesopotâmia, pilharam
a Síria e estavam prestes a invadir o Egito quando
Psamatique I os comprou com ricos presentes” (PORTER,
I.S.B.E., p. 2.706).
O relato dessa invasão, que é dado por Heródoto, no
Livro IV de sua História, tem recebido alguma confirmação
mediante pesquisas recentes sobre a questão e serve para
explicar o decadente poder da Assíria, o que permitiu Josias
levar a efeito suas reformas e deu à Babilônia a oportunidade
de assumir a ascendência.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


386

Alguns eruditos, por outro lado, duvidam da exatidão do


relato de Heródoto, em vista dos erros demonstráveis ali
contidos e porque ele é nossa única fonte de autoridade para
a história de que os citas chegaram tão ao sul e ao oeste a
ponto de chegarem a fronteira egípcia.
Além disso, é argumentado que, visto que estamos a
tratar de uma “linguagem escatológica tipicamente vaga, em
que tudo é visto através de uma nuvem de poeira”, os
julgamentos aqui anunciados não podem referir-se àquela
invasão. (ELLISON, Men Spake from God, p. 81).
Não é essencial, entretanto, supor que a invasão cita é
aqui retratada, mas é razoável sustentar que, sabendo a
respeito como com certeza sabia, Sofonias teria visto nela um
quadro do que aconteceria se Judá persistisse em seu
presente curso de rebelião contra o Senhor.
Em realidade, a invasão cita parece não ter atingido
Judá de forma alguma; seu opressor, afinal de contas, e o
instrumento do julgamento de Deus, foi a Babilônia.

A mensagem de Sofonias

Sofonias era habitante de Jerusalém. Isso é óbvio em


vista de certas referências a locais específicos da cidade, que
só poderiam ter sido feitas por alguém que estivesse bem
familiarizado com eles (cf. 1.4, “deste lugar”; 1.10,11,12). Na

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


387

cidade, o profeta observava a populaça, que se inclinava a


viver mediante a força e a fraude entre si mesmos,
mostrando-se idólatra e cética para com Deus.
Suas primeiras profecias, por esse motivo, estão
envolvidas numa melancolia sem alívio; o traço negro na face
de Deus é mui claramente perceptível no quadro que temos
em 1.1-3.8. Desse ponto em diante, todavia, soa uma nova
nota -a esperança de salvação universal e a restauração final
para Judá.
A seção de 3.9-20 é tão diferente da que a antecede que
alguns eruditos a separam do resto do livro; porém, não há
razão pela qual isso deva ser feito. É verdade que o grande
peso da pregação profética de Sofonias dizia respeito ao
julgamento, súbito, iminente e desastroso, contra Judá e as
nações circunvizinhas.
Contudo, frequentemente descobrimos que aqueles que
mais claramente discernem os julgamentos de Deus contra o
mundo em geral, são aqueles que também veem o arco-íris
de Seu amor e misericórdia arqueados no horizonte do futuro.
Sofonias, pois, apesar de ter predito os julgamentos que
sobreviriam a Judá, viu-os como um expurgo necessário e
essencial para que Judá se tornasse a nação bendita do
Senhor e Sua criada perante o mundo inteiro.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


388

Objetivo do livro de Sofonias

O objetivo dessa profecia era divulgar um chamado de


undécima hora à nação, condenando sua idolatria e
advertindo o povo sobre o grande dia da ira divina que estava
para vir.
Além desse aviso, Sofonias enfatizou novamente os
resultados do julgamento de Israel, que seria um povo
purificado e humilde, restaurado pelo Senhor, e este passaria
a habitar no meio deles.

Contribuições singulares
“O Grande Dia do Senhor” (1.14)

A grande ênfase de Sofonias é o Dia do Senhor, e o


realce de sua fúria. Três profetas falaram do “grande” dia do
Senhor: Joel 2.31 (835 a.C.), Sofonias 1.14 (630) e Malaquias
4.5 (430) (datas aproximadas), havendo entre essas
profecias um período aproximado de duzentos anos.
Cada um desses profetas falou a Judá em época de
apostasia, admoestando a nação sobre o terrível julgamento
do Senhor, e indicando o Deus de Israel como o lugar de
refúgio para o arrependido.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


389

Sofonias e a sua terrível descrição de Deus (1.18)

Embora Miquéias, Naum e Habacuque também


apresentassem o Senhor como um Deus de severo
julgamento, a descrição da ira divina dada por Sofonias é
provavelmente a mais terrível da Bíblia. O quadro de 1.18 e
3.8 é como o “colapso final do universo”. O Todo-poderoso
consome toda a terra com o fogo da sua indignação em
virtude do pecado e da intransigência dos homens. Jamais
veio de um profeta mensagem mais severa e sombria.
O Rabino Lehrman diz: “A diferença entre Sofonias e os
outros profetas é que ele faz da denúncia e ameaça, e não
do ensinamento moral positivo, o principal tema da sua
pregação” (COHEN, The Twelve Prophets (Soncino), p. 233).
Ele confronta solenemente os homens com a sombria
realidade do seu iminente encontro com um Deus ultrajado
que está prestes a liquidar homens idólatras e rebeldes. Não
é uma apresentação muito popular do cenário da atuação
divina, cenário esse muitas vezes traçado com as tremendas
cores de um imaginário “Inferno de Dante”.
Mas esses últimos profetas descrevem o dia da ira de
Deus em termos altamente específicos. Sofonias também
realçou a disponibilidade da misericórdia divina para os que
o procuram, mas não admite a diminuição da sua ira, que

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


390

dará um terrível fim à terra pela sua rejeição obstinada ao


Senhor.

O resumo mais arrebatador das profecias do Antigo


Testamento

Já se observou que “se alguém quiser ver todos os


oráculos secretos do Antigo Testamento reduzidos a um
pequeno resumo, basta apenas o Livro de Sofonias”. Seu
tema central refere-se ao Dia do Senhor, mostrando sua
relação para com Israel e as nações. Descreve os
julgamentos partindo da natureza divina e da rebelião e
corrupção dos homens.
Como a maioria dos outros profetas, Sofonias conclui
com uma profecia da restauração de Israel após seu
arrependimento. O Senhor vem a ele como um Guerreiro
vitorioso, a fim de levar seu povo para a renovação e o triunfo.
Embora Sofonias não apresente muito conteúdo original,
resume as principais características da profecia ao desferir as
declarações de caráter decisivo. Foi, mais do que os outros,
o profeta da ênfase e conclusão.
Catálogo dos pecados religiosos (1.4-6; 3.1-5)

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


391

O julgamento do Senhor põe em grande destaque todos os


tipos de idolatria e experiências religiosas superficiais. A lista
do profeta inclui:
(a) Adoradores de Baal e de outras divindades cananeias.
(b) Adoradores da natureza, do sol, da lua e das estrelas.
(c) Religiões sincréticas que pressupõem adorar o Senhor,
mas também adoram outros deuses.
(d) Os que abandonam deliberadamente a adoração divina.
(e) Os indiferentes que não se interessam em obedecer às
exigências divinas (1.4-6).
Ainda há os que têm ideias deístas, supondo que o
Senhor vive muito ocupado e indiferente às situações
angustiosas dos homens (1.12). Sofonias reservou também
uma invectiva contra os corruptos líderes de Jerusalém, tanto
religiosos quanto civis, que se tinham tornado impermeáveis
às instruções divinas (3.1-5).
Com rematado desdém pelos orgulhosos, o profeta
apenas viu esperança para os humildes que, embora coxos e
proscritos, confiavam no nome do Senhor (2.3; 3.12).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


392

Cristologia em Sofonias (3.15,17)

Ao descrever o desenrolar do dia do Senhor, Sofonias


declara que o “Rei de Israel”, que estará no meio do povo,
não será nada menos que o próprio Senhor (YHWH) (3.15).
Ele virá como guerreiro vitorioso para livrá-los de todos
os seus últimos inimigos. Sua vinda será alvo de grande
alegria e exultação. Ele restaurará a precária situação dos
judeus, tirando-os do opróbrio para fazer deles “um louvor e
um nome em toda a terra” (3.19). Será para todos um lugar
de refúgio (2.3).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


ESBOÇO
AGEU 393

I. A Primeira Mensagem: Concluir a Construção do


Templo (1.1-15)
II. A Segunda Mensagem: A Promessa de Maior Glória
(2.1-9)
III. A Terceira Mensagem: A Chamada à Santidade com
Bênçãos (2.10-19)
IV. A Quarta Mensagem: Uma Promessa Profética (2.20-
23)

INTRODUÇÃO

Ageu, o primeiro dos profetas da restauração, não tem


história registrada sobre sua pessoa. Ele era "o embaixador
do Senhor" (1.13) e seus testemunhos estão seguramente
entesourados com seu divino Empregador. A mensagem, e
não o mensageiro, era de importância primária. Deus, e não
o seu profeta, domina a cena.

Data

É impossível fixar com exatidão o período coberto pela


vida de Ageu. Tem-se conjecturado que ele vira o templo de
Salomão. Essa conjectura se baseia em 2.3 "Quem há entre
vós que, tendo ficado, viu esta casa na sua primeira glória?"
Isso significaria que o profeta tinha pelo menos oitenta anos

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


394

de idade quando sua mensagem foi transmitida. Porém, a


linguagem do versículo, não apoiada por outras evidências,
dificilmente poderá sustentar tal interpretação.
É muito mais provável que ele nasceu no tempo e na
terra do cativeiro.
O período que apresenta maiores probabilidades, por
conseguinte, seria a primeira metade do sexto século. Sua
mensagem, entretanto, está tão ligada com a história de seu
tempo que ela pode ser definidamente fixada como tendo sido
proferida em 520 a.C. Sua idade, então, pode ser apenas
conjecturada, e só podemos inferir que Deus considerava
isso sem importância.
As datas, tão proeminentes na profecia, se referem,
como as datas sempre se referem, a coisas passadas, porém,
por trás delas obtemos um quadro bem focalizado sobre o
caráter e os requerimentos independentes do tempo de Deus.

Autor

Jerônimo explica o nome Ageu, dizendo que significa


"festivo" (derivado de haj, o "festivo" ou "exuberante"). Isso a
não ser que a suposição de Reinke seja verdadeira, de que
ele nasceu em algum dia festivo, sugeriria tanto que seus pais
foram guiados divinamente, como que, sob as circunstâncias
da época, uma forte fé da parte deles os tenha levado a

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


395

escolher tal nome para seu filho. Parecem ter percebido que,
embora ele semeasse entre lágrimas, haveria de colher com
alegria.
A profecia envolvida em seu nome, seja como for, foi
cumprida, pois Ageu é um dos poucos profetas que teve o
indizível prazer de ver amadurecerem os frutos de sua
mensagem perante seus próprios olhos.
Ficamos limitados inteiramente aos seus próprios
escritos para poder fazer a estimativa do homem. Um par de
referências, em Esdras, meramente se referem a ele como
"Ageu, o profeta". Não há vôos poéticos de fantasia neste
livro. Seu estilo chega a ser considerado por alguns, como
deslustrado e prosaico. Porém, há certa concisão, franqueza
e brevidade naquilo que ele tem para dizer.
Essa brevidade tem levado alguns a considerarem que
talvez tenhamos aqui sua mensagem em forma apenas
condensada. Bem pode ser igualmente a verdade que essa
característica, juntamente com as outras, nos forneça provas
de que o profeta era um mensageiro simples, franco e direto.
O homem, entretanto, estava engolfado em sua obra.
Ele se mostra, caracteristicamente, profeta de Deus,
falando em lugar de Deus e estabelecendo uma espécie de
serviço postal entre Deus e Seu povo.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


396

Os tempos

Ageu tinha uma tarefa claramente definida a realizar.


Sua tarefa divergia e, em alguns aspectos, era mais
estritamente limitada, da tarefa de qualquer dos profetas
anteriores ou de seu contemporâneo, Zacarias.
As circunstâncias eram diferentes daquelas dos dias
anteriores ao cativeiro. Quando os profetas mais antigos
entregavam sua mensagem, a casa do Senhor estava
presente com toda a sua glória exterior, uma honrosa herança
do passado. As observâncias cerimoniais eram rigidamente
cumpridas, tanto quanto diz respeito às formalidades
externas. Tão meticulosamente observadas eram elas,
efetivamente, que afinal o Todo-poderoso ficou "cansado"
daquelas rígidas formalidades mortas.
Quando a religião do povo assim se transformava em
joio, este olhava com auto-satisfação e com ilusório orgulho
para os magnificantes edifícios e diziam: "Templo do Senhor,
templo do Senhor, templo do Senhor é este" (Jr 7.4).
O apelo dos profetas, por conseguinte, era inspirado
pelo Espírito e, algumas vezes, era um grito angustioso para
que o povo apreciasse devidamente os valores espirituais e
agisse de conformidade com sua religião transmitida por
Deus.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


397

Pois o povo dava importância primária às coisas


materiais e formais em suas vidas.
Agora tais edificações estavam em ruínas, e o pêndulo
se tinha inclinado para o outro lado. Nem ao menos havia
interesse suficiente nas coisas externas para impelir o povo a
reconstruir o templo.

A Mensagem

A tarefa especializada e dada por Deus a Ageu era a de


galvanizar o povo em ação, num novo esforço, nessa direção.
Os argumentos derivados do passado ou do futuro, eram
empregados por ele e focalizados sobre essa tarefa.
Contemporânea e complementar da obra de Ageu era a
tarefa de Zacarias. O próprio zelo e entusiasmo de Ageu, pela
reconstrução material da casa de Deus, poderia tender a
fazer o povo desviar seus pensamentos do Deus da casa e
da glória do Messias vindouro.
Certamente havia também espaço para a mensagem de
Zacarias. Entretanto, estaríamos sendo muito injustos para
com Ageu se considerássemos que as coisas materiais eram
as únicas que o preocupavam, como alguns afirmam, de que
ele estava interessado apenas em "tijolos e massa".
O cirurgião que se especializa em doenças dos pés não
e indiferente para com o fato que o coração e o sistema

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


398

circulatório são vitais para a saúde do corpo inteiro e


essenciais para o sucesso de seus próprios esforços para
tratamento de um membro particular. Semelhantemente,
Ageu não se esquecia que a religião vital, em sua inteireza,
estava por detrás da obra especial do momento; e, nas
revelações que lhe foram concedidas por Deus, havia motivos
suficientes para justificá-lo, na companhia de todos os seus
colegas profetas, a buscar "qual a ocasião ou quais as
circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo,
que neles estava".
Ele via o dia de Cristo à distância, e com isso, alegrou-
se. Ele via a restauração do templo como um elo na grande
cadeia dos acontecimentos orientados por Deus. Ele via em
Zorobabel, seu príncipe, uma cadeia viva na corrente humana
da semente de Davi, que continuaria sem interrupções até a
vinda do Messias (Mt 1.12 e segs.).
Ele via a glória de um reino para o qual, um dia, as
nações fluiriam, como "as águas cobrem o mar".
O trabalho para o qual Deus chamou ambos os
governantes e o povo de Judá, por meio de Ageu, era o
reinício de uma tarefa não terminada (ver Ed 4). Os 50.000
exilados, que tinham aproveitado o decreto de Ciro e haviam
retornado da Babilônia para sua pátria de origem, tinham
iniciado a reconstrução do templo.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


399

Essa obra, entretanto, havia sido interrompida, devido,


pelo menos ostensivamente, à feroz oposição e amarga
oposição da parte do "povo que habitava a terra", aqueles
colonos que se haviam estabelecido ali durante o período do
exílio dos judeus, a fim de preencher os vazios de uma
população dizimada.
O verdadeiro motivo dessa interrupção, entretanto, foi a
letargia do povo de Deus.
Por cerca de dezesseis anos a casa do Senhor jazia
"desolada", e a melancolia da cena era intensificada pelos
sinais da tentativa de reconstrução que abortara.
Subitamente àquele povo letárgico, Ageu aparece, como um
mensageiro despachado da sede do comandante supremo e
dramaticamente apresentou sua mensagem.
Incidentalmente, o registro das providências de Deus para
com Seu povo revela para nós a chave para a solução do
problema de alimentação no mundo.
Condensada nas palavras de Cristo, poderíamos ler: "Buscai,
pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas
estas coisas vos serão acrescentadas" (Mt 6.33).

Contribuições singulares
Profeta da construção do templo

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


400

Mais do que qualquer outra pessoa, Ageu foi o


responsável por conseguir que a construção recomeçasse e
fosse terminada. Ele apareceu em cena após uma grande
arrancada e parada brusca na reconstrução do templo. Os
líderes estavam assustados e derrotados. Com a seca de 332
a depressão, não era oportuno o reinício das obras.
A despeito das opiniões em contrário, Ageu insistiu com
os líderes e o povo para atender a essa prioridade, para que
Deus pudesse derramar bênçãos sobre todos os
empreendimentos do povo. Evidentemente, isso foi realizado
antes de surgir qualquer indício de que o novo rei persa, Dario
I, reagiria de maneira favorável, conforme ficou demonstrado
mais tarde (Ed 5.1; 6.1).
O templo que eles reconstruíram resistiu mais tempo do
que qualquer outro dos templos de Israel, tornando-se uma
verdadeira homenagem a Zorobabel, o governador, e a Ageu,
o profeta (Ed 5.1-2).

Ageu relacionado com Sofonias

A profecia de Ageu segue a de Sofonias no cânon como


um cumprimento parcial da era pós-exílio. Em Sofonias 3.18,
Deus tinha prometido reunir os exilados que se lastimavam
pela interrupção das festas, e restaurar suas alegrias e sua

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


401

vida normal. Para que as festas fossem reiniciadas e as


atividades restauradas, era necessário que o templo,
habitação do Senhor, fosse reconstruído. Essa era a
responsabilidade de Ageu naquele momento.
Antes do cumprimento final da profecia de Sofonias,
entretanto, o Senhor ainda irá abalar céu e terra e todas as
nações (2.6-7,22). Isso levou o profeta a lembrar a todos que
a grande prosperidade dos tempos messiânicos ainda estava
no futuro, mas que a mão cheia de bênçãos de Deus viria
após a obediência do povo.
Se Sofonias tinha uma mensagem catastrófica para alertar
todas as nações sobre o iminente julgamento do Senhor,
Ageu tinha uma mensagem encorajadora da presença
imediata do Senhor para abençoar os que construíssem sua
casa e observassem a execução de seus preceitos
imediatamente (Sf 3.8; Ag 2.4-5).
Ageu promete prosperidade econômica (1.6,10)

Três profetas relacionaram a prosperidade econômica


com a obediência espiritual: Joel, Ageu e Malaquias (Jl 2.18
e ss.; Ag 1.6-11; Ml 3.10). Tal fato é verdade como um
princípio geral de causa e efeito (Pv 11.24), mas relaciona-se
especialmente à aliança mosaica de bênçãos para a
obediência (Lv 26. 14-20).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


402

Sua aplicação por Ageu demonstra a continuação


do relacionamento da aliança entre Israel e o Senhor,
mesmo depois do exílio. Porém, observam-se muitas
exceções a esse princípio em ambos os testamentos,
porquanto Deus usa tanto a adversidade quanto a
prosperidade para amadurecer o seu povo.

Laconismo e poder de Ageu

Ageu não somente escreveu um dos livros mais curtos


do Antigo Testamento (perdendo apenas para Obadias),
como proferiu alguns dos sermões mais curtos (1.13, seis
palavras, ou quatro em hebraico). Embora suas mensagens
fossem breves, eram penetrantes e poderosas.
O poder de suas palavras relacionava-se com a
autoridade de quem as proferia, pois Ageu sempre as
reforçava com a expressão "assim diz o Senhor" (26 vezes
em 38 versículos). Obviamente sua ênfase estava na
autoridade divina; não era apenas mera eloquência ou
argumentação.
Ageu foi um dos profetas mais bem-sucedidos em termos de
resultados imediatos. Ele reconheceu o poder da autoridade
do Senhor, mesmo diante de oposição esmagadora.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


403

Cristologia em Ageu (2.7-9)

O livro contém duas referências ao Messias como


Sacerdote e Rei. "Encherei de glória esta casa" é afirmado
num contexto de reinado messiânico, provavelmente
referindo-se à volta da glória na pessoa do Messias, conforme
explicação de Ezequiel 43.4-7. Ao restante do povo que tinha
visto a antiga glória do templo de Salomão e agora chorava
pela insignificância da nova, o Senhor declarou: "A glória
desta última casa será maior que a da primeira" (2.9).
Sua glória verdadeira não seria a prata e o ouro, mas a
presença pessoal do Senhor entre eles. Seria esse o trono do
Messias "onde habitarei no meio dos filhos de Israel para
sempre" (Ez 43.7). Uma segunda referência messiânica é a
escolha de Zorobabel como "um anel de selar", símbolo da
autoridade real do Messias no reino.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


ZACARIAS
ESBOÇO
404

I. Primeira Parte: Palavras Proféticas no Contexto da


Reedificação do Templo (520—518 a.C.) (1.1—8.23)
II. Segunda Parte: A Palavra Profética a Respeito de Israel
e do Messias (sem data) (9.1—14.21)

INTRODUÇÃO

O primeiro versículo identifica o profeta Zacarias, filho de


Baraquias e neto de Ido (1.1), como o autor do livro.
Neemias informa ainda que Zacarias era cabeça da
família sacerdotal de Ido (Ne 12.16). Por esta passagem,
ficamos sabendo que ele era da tribo de Levi, e que passou
a servir em Jerusalém, depois do exílio, tanto como sacerdote
quanto profeta.
Zacarias era um contemporâneo mais jovem do profeta
Ageu. Esdras 5.1 declara que ambos animaram os judeus,
em Judá e Jerusalém, a persistirem na reedificação do templo
nos dias de Zorobabel (o governador) e de Josua (o sumo
sacerdote). O contexto histórico para os capítulos 1—8,
datados entre 520—518 a.C., é idêntico ao de Ageu.
Como resultado do ministério profético de Zacarias e
Ageu, o templo foi completado e dedicado em 516—515 a.C.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


405

Em sua juventude, Zacarias havia trabalhado lado a lado


com Ageu, mas ao escrever os capítulos 9—14 (que a maioria
dos estudiosos data entre 480— 470 a.C.), já se achava
idoso. A totalidade das profecias de Zacarias foi enunciada
em Jerusalém diante dos 50.000 judeus que haviam voltado
a Judá na primeira etapa da restauração.
O Novo Testamento indica que Zacarias, filho de
Baraquias, foi assassinado “entre o santuário e o altar” (i.e.,
no lugar da intercessão) por oficiais do templo (Mt 23.25).
Algo semelhante ocorrera a outro homem de Deus que
tinha o mesmo nome (2Cr 24.20,21).

Contribuições singulares
Livro de "Apocalipse" do Antigo Testamento

Do mesmo modo que o Novo Testamento termina com


uma grande visão apocalíptica dos tempos do fim, o Antigo
Testamento também termina com essa visão, no Livro de
Zacarias. Ambos os livros resumem e esclarecem profecias
já apresentadas em termos de realização.
Em Zacarias, as duas vindas do Messias são
encaixadas com o intuito de apresentar uma vasta pré-estréia
do futuro de Israel. Em Apocalipse, os muitos detalhes da sua
segunda vinda são correlacionados e postos em relevo para

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


406

mostrar o auge do programa divino na terra (Zc 9.9-10; Ap


12.6; 13.5; 14.14 e ss.; 16.18 e ss.; 19.9 e ss.).
O Livro de Zacarias, bem como o de Malaquias, acentua
e quase esboça a obra vindoura do Messias para trazer
salvação espiritual na sua primeira vinda, e livramento
nacional de Israel na sua segunda vinda (12¬14).

Livro "muito misterioso"

Muitos intérpretes, tanto judeus como cristãos,


consideram esse livro "muito obscuro e de difícil explicação"
(Eli Cashdan, The Twelve Prophets, p. 267). Para alguns, à
exceção do fato de que "Jeová deseja ter o templo
reconstruído (...), tudo o mais é obscuro" (Steven Harris,
Understanding the Bibte, p. 123).
No entanto, a profecia não foi escrita para mistificar, e
sim para esclarecer as verdades referentes ao futuro de
Israel. Quando as verdades centrais das visões parabólicas
são observadas, e todas as visões são relacionadas a
profecias anteriores, o motivo messiânico torna-se central
durante as lutas e a marcha dos acontecimentos de Israel.
Essa profecia forneceu alguns esclarecimentos muito
importantes para Israel sobre sua redenção e o futuro
nacional, quando o povo entrou em uma outra fase dos
tempos dos gentios, com os seus anseios ainda não

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


407

cumpridos a respeito da vinda do Messias (8.7-8; 9.9-10;


11.9, 13; 12.10).

Zacarias em relação a Daniel

Embora as profecias de Daniel e Zacarias estejam


ambas cheias de conteúdo profético, suas ênfases são
diferentes:
(a) Daniel associou visões proféticas e predições com
conteúdo histórico. Zacarias apresentou as visões e
predições num contexto exortativo (Dn 2; Zc 2).
(b) Daniel enfatizou o futuro profético dos Tempos dos
Gentios quando estes se relacionavam com Israel. Zacarias
tratou quase exclusivamente do futuro de Israel, apenas
observando algumas relações gentias (Dn 2,7; Zc 12.3).
(c) Daniel focalizou os reis gentios e a vinda do Anticristo,
mencionando o Messias somente uma vez, quase
incidentalmente (Dn 9.26). Zacarias assinala com frequência
a vinda do Messias, mencionando o aparecimento do
Anticristo apenas incidentalmente (11.16).
(d) Daniel foi um estadista da linhagem real de Judá e
desvendou a ascensão dos reinados gentios até o
estabelecimento do reino do Messias na terra (Dn 2.44).
Zacarias foi um sacerdote e, de maneira característica,
insistiu na reconstrução do templo, na purificação da nação e

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


408

na restauração da justiça e santidade da terra (1.4,16; 3.4;


12.10).

O grande dia da batalha do Senhor (14.3)

Zacarias concluiu essa profecia com uma descrição da


culminante batalha da terra, quando o próprio Senhor se
envolverá na peleja. Esse "homem de guerra", característica
do Senhor, foi aludido em Êxodo 15.3, dramatizado em Naum
1.2, Habacuque 2.8-15 e Sofonias 3.8, e é apresentado em
toda a sua pujança nessa visão conclusiva. Quando o Senhor
sair para a peleja, confrontar-se-á com todas as nações
reunidas contra Jerusalém (14.2; Ap 16.14; 19.19).
Suas armas não são reveladas, mas fica-se conhecendo
o resultado da batalha: a seus inimigos sucederá que "a sua
carne será consumida, estando eles de pé, e lhes
apodrecerão os olhos nas suas órbitas, e lhes apodrecerá a
língua na sua boca" (14.12), uma forte sugestão de fissão
nuclear. Terremotos criarão mudanças topográficas na terra,
preparando-a para a era messiânica, na qual "o Senhor será
rei sobre toda a terra" (14.5-10).

O verdadeiro valor do jejum (7-8)

Estes dois capítulos de Zacarias dão dois


esclarecimentos referentes aos jejuns de Israel. Embora os

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


409

judeus não tivessem no seu calendário dias de jejum


ordenados por Deus, a nação tinha imposto a si própria dias
de jejum em memória de diversas calamidades envolvidas na
destruição de Jerusalém em 586 a.C.
Eram os seguintes: (7.5; 8.19)
(a) Décimo mês (10 de janeiro) -Dia em que principiou o
cerco de Jerusalém, em 588 (Jr 52.4).
(b) Quarto mês (9 de julho) -Os babilônios romperam o muro
de Jerusalém, em 586 (Jr 52.6).
(c) Quinto mês (10 de agosto) -Jerusalém foi destruída e
queimada, em 586 (Jr 52.12).
(d) Sétimo mês (1 de outubro) Gedalias, o novo governador,
foi também assassinado em 586 (Jr 41.1).
A questão debatida em Zacarias 7-8 era se aqueles
jejuns deviam ou não continuar, pois o povo já tinha retornado
para reconstruir o templo. A resposta do Senhor trouxe dois
esclarecimentos com referência ao jejum (Is 58.4-8):
(a) Essa prática foi designada para a glória de Deus, e não
para o mérito do homem. Com facilidade, a renúncia torna-se
comiseração própria e um inútil ritual de egolatria (7.5-6).
(b) O jejum não tem valor, a menos que seja acompanhado
de atos de justiça, bondade e compaixão para com o próximo
(7.9-10). A ausência de tais atos em Israel trouxe o
julgamento divino de destruição e desolação (7.11-14).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


410

Cristologia em Zacarias e o Novo Testamento

Este livro é o mais messiânico dos Profetas Menores, e


está no mesmo nível de Salmos e Isaías quanto ao conteúdo
messiânico. O Messias está ou no centro ou na periferia de
cada visão.
A falha ou a recusa dos comentaristas judeus de aceitar
esse messianismo cumprido na primeira e segunda vinda de
Jesus (Mt 21.5) contribui para a confusão no entendimento do
livro (Rashi em H. H. Ben-Sasson, History of The Jewish
People, p. 461).
Por exemplo, ao explicar "olharão para mim, a quem
traspassaram" (12.10), o Talmude identifica essa expressão
como uma referência ao "Messias, o filho de José, que cairá
na batalha" (Eli Cashdan, The Twelve Prophets, p. 322). Eles
o vêem como "alguém dado por Deus à comunidade judaica
restaurada, (...) mas rejeitado por ela e posto à morte". Para
eles, esse "mártir" é desconhecido, e não certamente Jesus.
Há uma aplicação profunda de Zacarias no Novo
Testamento.
A harmonização da vida pessoal de Zacarias, entre os
aspectos sacerdotal e profético pode ter contribuído para o
ensino do Novo Testamento de que Cristo é tanto sacerdote
quanto profeta. Além disso, Zacarias profetizou a respeito da

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


411

morte expiatória de Cristo pelas mãos dos judeus, que, no fim


dos tempos, levá-los-á a prantearem-no, arrependerem-se e
serem salvos (12.10—13.9; Rm 11.25-27).
Mas a contribuição mais importante de Zacarias diz
respeito a suas numerosas profecias concernentes a Cristo.
Os escritores do Novo Testamento citam-nas,
declarando que foram cumpridas em Jesus Cristo. Entre elas
estão:
(a) Ele virá de modo humilde e modesto (9.9; 13.7; Mt 21.5;
26.31, 56).
(b) Ele restaurará Israel pelo sangue do seu concerto (9.11;
Mc 14.24).
(c) Será Pastor das ovelhas de Deus que ficaram dispersas e
desgarradas (10.2; Mt 9.36).
(d) Será traído e rejeitado (11.12,13; Mt 26.15; 27.9,10).
(e) Será traspassado e abatido (12.10; 13.7; Mt 24.30; 26.31,
56).
(f) Voltará em glória para livrar Israel de seus inimigos (14.1-
6; Mt 25.31; Ap 19.15).
(g) Reinará como Rei em paz e retidão (9.9,10; 14.9,16; Rm
14.17; Ap 11.15).
(h) Estabelecerá seu reino glorioso para sempre sobre todas
as nações (14.6-19; Ap 11.15; 21.24-26; 22.1-5).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


MALAQUIAS 412

ESBOÇO
I. A Mensagem do Senhor e as Perguntas Israel (1.2—3.18)
II. O Dia do Senhor (4.1-6)

Data

Não é possível fixar a data da escrita do livro de


Malaquias com qualquer exatidão. Sabemos por suas
referências ao templo e aos sacerdotes, que ele viveu após o
retorno do exílio babilônico e após a reconstrução do templo
(516 a.C.). A referência em 1.3, a um assalto contra Edom,
não nos ajuda a fixar sua data, visto que tais ataques
ocorreram em grande número no quinto e quarto século a.C.
Nem a palavra "príncipe", em 1.8, necessariamente se refere
a algum governante persa. Entretanto, o estado de coisas
durante o ministério do profeta é semelhante ao que é
pressuposto pelas reformas de Esdras e Neemias, e muitos
eruditos são da opinião que o livro foi escrito pouco antes da
chegada de Esdras. Essa data (cerca 460 a.C.) é mui
geralmente aceita.

Pano de fundo

Os judeus tinham retornado do exílio impulsionados por


altas esperanças. Inspirados por Ageu e Zacarias, haviam

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


413

reconstruído o templo. Esse edifício não possuía a glória do


templo original, que havia sido destruído pelos babilônios,
mas servia para seu propósito. Mas, com a passagem dos
anos, os judeus foram ficando desiludidos.
A prosperidade prometida não retornava. A vida era
difícil. Estavam cercados por inimigos, como os samaritanos,
os quais procuravam impedi-los em cada oportunidade.
Sofriam por causa da seca e das más colheitas e da fome.
Começaram a duvidar do amor de Deus. Punham em
dúvida a justiça de Seu governo moral. Diziam que o
praticante do mal era bom aos olhos do Senhor.
Argumentavam que não havia proveito na obediência
aos Seus mandamentos e em andar penitentemente perante
Ele, pois eram os ímpios, que dependiam de si mesmos os
que prosperavam.

A mensagem profética

O profeta, então, começou a responder-lhes,


mostrando-lhes que tal ceticismo se baseava na hipocrisia.
Se lhes cabia a adversidade, esta havia caído sobre eles, não
a despeito de sua piedade, mas antes, por causa de sua
pecaminosidade. Por exemplo, havia a adoração corrompida
em seus deveres no templo.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


414

Mostravam-se maus líderes de um povo que trazia


ofertas inaceitáveis, mesmo depois de haverem prometido
melhores ofertas. Os próprios gentios ofereciam sacrifícios
mais dignos. O povo também vivia transgredindo, pois os
homens se divorciavam das mulheres com quem se tinham
casado na juventude e contraíam casamento com mulheres
estrangeiras. Prevaleciam pecados de todas as espécies:
feitiçaria, adultério, desonestidade, opressão aos fracos e
impiedade generalizada.
Como poderiam esperar a prosperidade quando a nação
estava apodrecida com tais práticas?
Malaquias, em verdadeira nota profética, condenou os
pecados e convocou o povo para que se arrependesse. Caso
purificassem sua adoração, obedecessem à lei e pagassem
seus dízimos na íntegra, então o resultado seria as bênçãos
de Deus.
Ao fazer soar esse apelo, o profeta revelou que possuía
uma alta concepção sobre Deus. Deus era o majestoso
Senhor dos Exércitos; Seus decretos e juízos eram
irresistíveis; Seu amor era santo e imutável.
Malaquias percebia a salvação final para seu povo, não
no arrependimento deles, mas na ação do Senhor. Raiaria o
grande dia do Senhor. Esse dia purificaria e vindicaria os

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


415

piedosos o destruiria os ímpios. Esse dia seria preparado com


a vinda do profeta Elias.

O homem

Tudo quanto sabemos sobre o profeta propriamente dito,


temos de inferir de suas declarações. Ele era um profeta
autêntico. Falava com plena autoridade. Podia realmente
dizer: "Assim diz o Senhor dos Exércitos".
Tinha um amor intenso por Israel e pelos serviços
efetuados no templo e sua concepção sobre a tradição e os
deveres dos sacerdotes era bem alta. Tem sido dito
frequentemente que enquanto outros profetas frisaram a
moralidade e a religião no íntimo, Malaquias punha ênfase
sobre a adoravam e o ritual.
Mas, apesar de que isso seja verdade quanto aos
aspectos gerais, temos de notar que ele não se esquecia
totalmente das obrigações morais de Israel, e que, para ele,
o ritual não era uma finalidade em si mesmo, mas apenas a
expressão da fé do povo no Senhor.
Seu estilo é simples, direto e caracterizado pela
frequente ocorrência das palavras "mas vós dizeis". Talvez
isso signifique mais que um método retórico do escritor; pode
ter tido sua origem nos clamores de protesto e dúvida dos

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


416

perguntadores, quando ele pregou sua primeira mensagem


nas ruas.

Citações em o Novo Testamento

Somente três passagens deste livro são referidas ou


citadas no Novo Testamento, a saber: 1.2 e segs.; 3.1; e 4.5
e segs. A primeira delas: "Amei a Jacó.
E aborreci a Esaú", contém uma idéia que se tem
mostrado um tanto ofensiva para o gosto moderno.

O fim da profecia

Com o livro de Malaquias foi arriada a cortina sobre a


cena profética, até a vinda do Batista. As palavras vívidas e
poderosas dos profetas não mais foram ouvidas. Os escribas
e os sacerdotes se tornaram os principais personagens
religiosos. A era criativa havia cedido lugar à era do
aprendizado.
Os judeus contavam, agora, com grande tesouro literário
e seus exegetas, aqueles que expunham essa literatura,
tornaram-se o novo canal para a voz de Deus.
A respeito dessa situação que se aproximava em que a
religião era principalmente legalística, temos um claro sinal
no livro de Malaquias.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


417

Contribuições singulares
Grandeza de Deus

Nenhum outro profeta enfatizou tanto a grandeza de


Deus como o fez Malaquias nesse livro profético inserido no
final do Antigo Testamento. Três vezes em 1.11-14, o Senhor
chama a atenção para a sua própria "grandeza", e dez vezes
em todo o livro ele chama a atenção para a honra devida ao
seu nome (1.6,11,14; 2.2; 5; 3.16; 4.2).
Quando o pequeno e fragmentado restante de Israel
estava prestes a entrar nos quatrocentos anos de silêncio
profético, com os conquistadores e a cultura gentia
rodopiando ao seu redor, precisava lembrar-se da grandeza
do Deus que os chamara.
Embora parecesse que os seus dias de grandeza
fossem coisas do passado, a reivindicação do profeta ainda
era para a grandeza de Deus, que os tinha chamado para
fazer uma aliança com ele.

Muitas divinas citações de Malaquias

Essa profecia consiste, quase exclusivamente, em


citações do Senhor.
Do mesmo modo que Ageu em sua breve mensagem,
Malaquias usou continuamente a frase: "Assim diz o Senhor
dos Exércitos" ou seu equivalente. Não é de admirar que ele

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


418

tenha pronunciado seu próprio nome apenas uma vez! Ele


era simplesmente o porta-voz ou mensageiro do Senhor.
Aquela geração, mais do que qualquer outra, precisava
de uma palavra forte e autoritária do Senhor, pois havia
muitas irregularidades precisando de correção.
Ao citar o Senhor, o profeta identificou-o como o "Senhor
dos Exércitos" (vinte e quatro vezes). Esse nome-título
enfatizava o seu poder como o Deus dos exércitos, uma
designação apropriada para esse livro de julgamento e
promessa, diante de um Israel virtualmente sem poder
próprio.

Método de perguntas e respostas de Malaquias (1.2 etc.)

O estilo dialético de Malaquias é um tanto singular entre


os profetas, pois a maioria preferiu um estilo de conferência
ou de narrativa. Malaquias registra nove tipos de diálogo do
Senhor com Israel. As perguntas da nação têm sempre um
tom de hostilidade ou rebeldia (1.2,6,7; 2.10,14,17; 3.7,8,13).
Nessa forma provocante (chamada mais tarde de
método "rabínico" ou "socrático"), o profeta apresentou as
mais importantes queixas do Senhor contra os judeus e suas
reações altivas.
O estilo provou ser eficaz por chamar a atenção e chegar
rapidamente ao assunto principal. Jesus também recorreu a

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


419

um tipo semelhante de comunicação ao enfrentar os líderes


hostis da época (Mt 21.25, 31, 40; 22.42).

A religião corrompida de Israel

Conforme indicação de Malaquias, havia fortes sintomas


de degeneração na fé de Israel. Sua visão de Deus era quase
deísta: Questionavam o seu amor (1.2), sua honra e grandeza
(1.14; 2.2), sua justiça (2.17) e seu caráter (3.13-15).
Essa visão deficiente a respeito de Deus produziu uma
atitude arrogante e fez com que as funções do templo fossem
realizadas com enfado, o que insultava o Senhor ao invés de
adorá-lo (1.7-10; 3.14).
O dízimo não era dado de todo o coração, e as ofertas
eram compostas de animais doentes e sem valor. Isto
ofenderia até o mais simples governador que recebesse tal
presente (1.8).
Em reação a isto, o Senhor disse que atiraria lixo ao
rosto dos sacerdotes (2.3) e amaldiçoaria as sementes
plantadas (3.11). O resultado moral dessa religião
desprezível foi o povo voltar-se para a feitiçaria, adultério,
perjúrio, fraude e opressão do pobre (3.5).
A discórdia familiar era frequente, levando-os a se
divorciarem das esposas judias para se casarem com
mulheres pagãs (2.10 e ss.; 4.6).

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


420

As condições eram tão más que se fazia necessária a


atuação de um Elias para restaurar a paz familiar e evitar
outra destruição do Senhor (4.5).

Israel peca roubando a Deus (3.8-10)

Um dos pecados mais persistentes de Israel foi o de


roubar os dízimos e ofertas pertencentes ao Senhor. O
problema apareceu pela primeira vez com Acã, ao entrarem
na Terra Prometida (Js 6.17-19; 7.11), e foi um dos pecados
pelos quais foram exilados para a Babilônia em 586 (2Cr
36.21).
O primeiro erro que muitos reis cometiam ao ser
atacados era entregar os tesouros do templo para tentar
apaziguar o inimigo, o que invariavelmente provocava novos
ataques (2Rs 18.14-16). Diante da sonegação dos dízimos, o
Senhor lembrai-lhes que estavam, na realidade, roubando a
si próprios, pois o resultado de tal atitude era o fracasso das
colheitas. Corriam também o risco de ficarem com a mente
cauterizada de tanto repetirem esse pecado (2.17; 3.15).

Promessa da volta de Elias (4.5-6)

A última promessa do Antigo Testamento é quanto à


volta do profeta Elias antes do "grande e terrível dia do
Senhor". Elias e Enoque foram os dois únicos homens que

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


421

não passaram pela morte: o Senhor os trasladou para o céu


(Gn 5.24; 2Rs 2.11; Hb 11.5).
Embora João Batista tivesse sido semelhante a Elias na
sua obra de preparar Israel para o Messias, não foi realmente
Elias (Mt 11.14; 17.11-12; Jo 1.21). João Batista foi o
precursor profetizado por Isaías 40.3 e Mateus 3.3, e o
mensageiro de Malaquias 3.1.
Na tradição hebraica, Elias é o maior e mais fabuloso
caráter já produzido por Israel (...) É ele quem abre as portas
secretas pelas quais os mártires fogem, quem providencia
dotes para as infelizes filhas dos pobres (...) Há para ele uma
cadeira em todas as circuncisões, e um cálice de vinho em
todas as mesas de Páscoa.
Ele está nas encruzilhadas do paraíso a fim de saudar
todas as pessoas virtuosas. Será o precursor do Messias,
anunciando-o no novo mundo onde já não haverá sofrimento
para Israel e todos os povos. (Abram Leon Sachar, A History
the Jews, p. 50 e ss.).
Em 1Reis 17, Elias parece ter surgido do nada e
desaparece de maneira semelhante em 2Reis 2. Entretanto,
sua austera figura ainda subsiste na memória reverente dos
judeus enquanto esperam encontrar-se com ele, conforme
anunciado por Malaquias.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


422

Últimas palavras de Malaquias (4.4-6)

Esses últimos três versículos são considerados pelos


estudiosos um apêndice aos "Profetas" da Bíblia. Abrangem
a Lei e os Profetas em Moisés e Elias. No entanto, sua
perspectiva não é retrospectiva, mas progressiva, olhando
com antecipação o julgamento de Elias e a alegria da era
messiânica.
Nas Bíblias hebraicas, o versículo 5 é repetido depois do
versículo 6 para que o livro não termine com uma palavra de
condenação (ocorre a mesma coisa nos livros de Isaías,
Lamentações e Eclesiastes). É interessante observar que nas
Bíblias hebraicas não existe o capítulo quatro em Malaquias.
O capítulo três continua até completar vinte e quatro
versículos.
A nota dominante dos últimos seis versículos é
antecipatória, apontando para os 400 anos de silêncio
profético antes que outro "anjo" apareça anunciando a vinda
do precursor e do mui esperado Messias (Lc 1.11,26 e ss.). A
última palavra de Malaquias não foi, na verdade, a última.

Cristologia em Malaquias (1.14; 3.1; 4.2)

Apesar de o Senhor ter assegurado a eles novamente,


na introdução do livro, a continuidade do seu amor imutável,
a ênfase básica do livro é julgamento.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


423

De acordo com esse motivo, podem ser discernidos


diversos títulos do Messias:
(a) Em 1.14, o Senhor declara ser um "grande Rei", muito
maior do que o "governador", a quem não ofenderiam com
uma oferta maculada (1.8). Nessa condição, ele não deixará
de julgar o "impostor", que jura honestidade, mas é avarento.
Zacarias 14.9 viu a majestade do Rei numa luz
messiânica, quando o seu nome será reverenciado entre
todas as nações.
(b) Em 3.1, o Senhor declara ser o "Anjo da aliança", a quem
buscavam.
Mas, ao contrário da orgulhosa maneira de pensar dos
israelitas, sua vinda será com julgamento para os perversos
de Israel, a começar pelos filhos de Levi no templo. Sua
primeira vinda ao templo em João 2.14-16 e Mateus 21.12 foi
uma antecipação daquela futura vinda para purificar o povo e
a terra.
(c) Aos que temem o seu nome, ele surgirá como o "Sol da
Justiça", e trará cura e grande alegria (4.2; Is 60.19). O
mesmo "Sol" que queima os perversos (4.1) curará os que
temem o seu nome.
Com essa promessa de sol celestial para purificar e
curar a nação ao destruir o perverso num dia futuro
desconhecido, a voz profética silenciou. Os sombrios dias do

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


424

período intertestamentário testaram sua fé na palavra


profética dada pela lei e os profetas.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD


425

REFERÊNCIAS

PENTECOSTAL; Bíblia de Estudo. Editora CPAD

WYCLIFFE; Dicionário Bíblico. Editora CPAD

MERRIL; Tenney. Encicloplédia de Cultura Cristã. Editora Cultura

Cristã.

BAXTER;J. Sidlow. Examinai as Escrituras (vol. III). Editora Vida

Nova.

SOARES; Esequias. Visão Panorâmica do Antigo Testamento. Editora

CPAD.

DANIEL; Silas & Alexandre Coelho. Os doze profetas menores.

Editora CPAD.

ZUCK; Roy B. Teologia do Antigo Testamento. Editora CPAD

VAILLATTI; C. Augusto. Introdução, Tradução e Comentário de

Habacuque. Editora Reflexão.

CURSO DE TEOLOGIA - CICLO 1 SEMINAD

Você também pode gostar