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J

UCJ
ARDI
M GUANABARA
APOSTILA DO CURSO DE INTRODUÇÃO À TEOLOGIA
SISTEMÁTICA PENTECOSTAL - VOLUME I

CURSO PROMOVIDO PELA JUC CANAÃ JARDIM


GUANABARA

ÍTALO VICTOR
NATANAEL SOUSA
ROBSON ALMEIDA

25 DE MARÇO, 2022
FORTALEZA-CE
PREFÁCIO
Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda,
corrija, exorte com toda a paciência e doutrina.
2 Timóteo 4:2

É com muita alegria que agradecemos ao Senhor por ter nos contemplado a realizar o
Curso de Introdução à Teologia Sistemática Pentecostal (ITSP), ao qual nos dedicamos para
produzir este material de apoio às aulas que serão realizadas. Primeiro, quero agradecer a
toda igreja pela confiança, e depois a cada professor que dedicou seu tempo para apoiar, seja
na produção do conteúdo, ou mesmo dando aulas para este curso.

Queremos salientar que este curso é totalmente voltado para as bases mais ortodoxas
da fé, sendo uma INTRODUÇÃO para aquele que quiser se aprofundar mais no campo
teológico, principalmente a partir dos amplos materiais já produzidos de Teologia
Sistemática, ao qual esta apostila usou de fontes, principalmente voltado para a igreja
pentecostal do Brasil, especificamente aos cristãos da Igreja Canaã do Jardim Guanabara.
Entendemos que este material tem por objetivo despertar a curiosidade teológica dos nossos
queridos alunos, sendo um guia das categorias mais básicas da teologia ortodoxa pentecostal
que não devemos negar, mas antes afirmar com plena convicção pois se tratam de tópicos
basilares do cristianismo e do pentecostalismo.

Ao longo da apostila veremos as doutrinas básicas, explorando a própria formação da


Bíblia, também a Doutrina do Ser de Deus, juntamente com a doutrina sobre Cristo, a
doutrina do Espírito Santo e a própria doutrina da Trindade. Após todas estas doutrinas
explicadas iremos abordar sobre o homem e o pecado, anjos, a doutrina da salvação, a
doutrina da igreja e o estudo das últimas coisas, a famosa escatologia, em uma visão
pentecostal.

Esperamos que estes conteúdos citados possam tecer boas bases cristãs sobre nossa
ortodoxia, por isso meditem com cautela e se dediquem ao curso, pois ele pode escancarar
sua sede por Deus e por conhecer ao Senhor. A dedicação para as bases da fé é o alimento
que produz um crente firmado e o capacita para tomar alimentos ainda mais sólidos, por isso
esperamos que você trate com carinho o material produzido e disponibilizado de maneira
gratuita para seu crescimento espiritual. A honra, a glória e domínio sejam dados ao Senhor,
pois é Soberano e verdadeiramente o único Deus! Amém!
ÍNDICE
BIBLIOLOGIA…………………………………………………… 5

TEONTOLOGIA…………………………………………………. 19

TRINDADE……………………………………………………….. 35

CRISTOLOGIA…………………………………………………... 48

PNEUMATOLOGIA……………………………………………... 64
BIBLIOLOGIA
Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão,
para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja
apto e plenamente preparado para toda boa obra.
2 Timóteo 3:16,17

1. INTRODUÇÃO

As palavras de Deus foram registradas ao longo dos séculos por homens inspirados
pelo Espírito Santo para prover uma revelação especial acerca de Deus para os povos.
Ao conjunto de livros, escritos em variados períodos de tempo, inspirados pelo
divino, damos o nome de Bíblia.

O termo Bíblia provém do grego biblion, que significando “rolos” ou “livros”, a


terminologia foi inicialmente adotada a partir de João Crisóstomo para disseminação e
uso do vocábulo “Bíblia” para designar as Sagradas Escrituras, também temos grande
contribuição de Jerônimo - tradutor da Vulgata - que também lhe chamava de “O
Sagrado Livro de Biblioteca Divina”.

Concordamos com a Declaração de Fé da Assembléia de Deus acerca da Bíblia:

Nossa declaração de fé é esta: cremos, professamos e ensinamos que a


Bíblia Sagrada é a Palavra de Deus, única revelação escrita de Deus dada
pelo Espírito Santo, escrita para a humanidade e que o Senhor Jesus
Cristo chamou as Escrituras Sagradas de a "Palavra de Deus; ‫ ״‬que os
livros da Bíblia foram produzidos sob inspiração divina: "Toda a
Escritura é inspirada por Deus e útil" (2 Tm 3.16 - ARA). 1

Assim, a Bíblia, tem o principal propósito de nos apresentar o Deus que se revela,
seus planos e seus mandamentos, ao qual encontramos personificado através do
testemunho do "Logos", ou seja, Jesus Cristo. A formação da bíblia levou cerca de
1500 anos, aos quais 40 escritores diferentes participaram de sua produção.

2. ESTRUTURA

A estrutura da bíblia é situada na divisão entre Antigo Testamento, com 39 livros e o


Novo Testamento, onde encontramos 27 livros, totalizando assim 66 livros.

1
SILVA, Esequias Soares Da. Cgadb (org.). Declaração de Fé: Jesus salva, cura, batiza no Espírito
Santo e em breve voltará. 6. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p. 25.
Dentro desta divisão, para melhor compreensão da narrativa bíblica, também existem
subdivisões por diferentes categorias.

O Antigo Testamento possui 5 subdivisões em seus escritos, aos quais são:

● PENTATEUCO: Correspondem aos 5 primeiros livros da Bíblia, sendo


também chamados de “Livros das Lei”.
Livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio.
● HISTÓRICOS: Narram a história do povo hebreu e o desenrolar da nação de
Israel.
Livros: Josué, Juízes, Rute, 1 E 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras,
Neemias e Ester.
● POÉTICOS: Correspondem aos 5 livros com caráter mais poético e
sapiencial.
Livros: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares
● PROFETAS MAIORES: Correspondem aos maiores livros proféticos dentro
do Antigo Testamento, também são classificados pelo ministério e tempo de
atuação dos profetas em si.
Livros: Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel e Daniel
● PROFETAS MENORES: Correspondem aos menores livros proféticos
dentro do Antigo Testamento, também são classificados pelo menor tempo de
atuação dos profetas em si.
Livros: Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque,
Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias.

O Novo Testamento também é subdividido em 5 categorias, aos quais são:

● EVANGELHOS: Correspondem às narrativas acerca da vida de Cristo, seus


ensinos e seu ministério terreno.
Livros: Mateus, Marcos, Lucas e João
● HISTÓRICO: Corresponde ao único livro escrito pelo doutor Lucas, sendo
ele a narrativa dos atos da igreja após a ascensão de Cristo aos céus.
Livro: Atos
● CARTAS PAULINAS: Correspondem a 13 cartas escritas pelo apóstolo
Paulo às igrejas.
Livros: Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1
e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito e Filemon
● CARTAS GERAIS: Correspondem a 8 cartas escritas pelos apóstolos e
demais escritores da época, ou seja, cuja autoria não é de Paulo.
Livros: Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1 João, 2 e 3 João e Judas
● PROFÉTICO: Corresponde ao único livro escrito por João, tratando dos
eventos dos últimos tempos, ou seja, um livro escatológico.
Livro: Apocalipse
3. REVELAÇÃO

Revelação está ligada ao ato de "descobrir, desvendar", ou seja, se refere a descoberta


daquilo que se relaciona com Deus. Assim a revelação é o processo pelo qual Deus
apresenta ao homem Seu caráter e eterno propósito, bem como o resultado desse
processo, ou seja, a verdade divina manifesta ao homem. O homem jamais poderia
conhecer o divino caso não houvesse um desvendamento deste Deus. Assim, Deus se
mostra aos homens de duas formas:

● Revelação Geral
● Revelação Especial

A partir dessas duas categorias de revelação iremos compreender como a revelação de


Deus se dá aos homens.

A) REVELAÇÃO GERAL

Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das


suas mãos. Um dia fala disso a outro dia; uma noite o revela a outra
noite.Sem discurso nem palavras, não se ouve a sua voz. Mas a sua voz
ressoa por toda a terra, e as suas palavras, até os confins do mundo. Nos
céus ele armou uma tenda para o sol, que é como um noivo que sai de seu
aposento, e se lança em sua carreira com a alegria de um herói. Sai de
uma extremidade dos céus e faz o seu trajeto até a outra; nada escapa ao
seu calor. Salmos 19:1-6 [NVI]

A revelação geral está diretamente ligada ao conhecimento acerca de Deus oriundo


através do reconhecimento das obras do divino, ou seja, ao exercitamos a razão e
observamos a natureza, cultural, sociedade e o próprio homem conseguimos
compreender que sobre uma potência superior que criou e organizou todas as coisas.
Concordamos com Erickson quando afirma:

Uma definição mais perto da revelação geral demonstra que diz respeito à
auto-revelação de Deus através de exame de natureza, história e no
interior do ser humano. É geralmente de duas maneiras: a sua
disponibilidade universal (é acessível a todas as pessoas em todos os
tempos) e do conteúdo da mensagem (revelação especial menos
particularizada e minuto).2

Dentro da estrutura da revelação geral, passível de conhecimento de todos os seres


humanos, podemos então observar os meios da revelação geral através de três áreas
tradicionais: A natureza, a história e o ser humano

2
ERICKSON, Millard. Teologia Sistemática, 2º edição. Vida Nova. 2008, p. 104
A natureza atesta o seu autor, assim como o retrato apresenta traços do pintor. Vemos
que a primeira área ligada ao reconhecimento da revelação geral implica
necessariamente na natureza, na criação em si existem traços de um Deus onipotente,
onipresente e onisciente. Ao vermos a beleza da lua, ao admiramos o nascer do sol,
quando vislumbramos as ondas salgadas da praia, ou mesmo quando escutamos o
doce som dos pássaros, tudo isto atesta sinais e a grandeza de um Deus criador.
Vemos que o Apóstolo Paulo diz que o poder e divindade de Deus é percebido nos
atributos de sua criação (Romanos 1:20)

A história é o segundo componente desta revelação, afinal Deus é o Senhor de toda a


história, tudo já está escrito, pois tudo por ele foi decretado e ordenado (Daniel 2,
Salmos 47:7-8, Atos 17:24-26). A história naturalmente se encaminha para cumprir os
propósitos divinos, ela demonstra os traços do plano de Deus sendo manifesto aos
homens em determinado tempo e espaço. Millard Erikcson, ao afirmar a proteção ao
povo israelita, demonstra o cuidado de Deus na preservação e continuação da história:

Um exemplo frequentemente citado a revelação de Deus na história é a de


proteger o povo de Israel. Esta pequena nação tem sobrevivido por muitos
séculos em meio a um ambiente basicamente hostil, muitas vezes
enfrentando severa oposição. Qualquer um pesquisando notas históricas
encontrar um padrão impressionante. Algumas pessoas têm encontrado
grande significado em eventos individuais históricos, tais como a
evacuação de Dunquerque e da Batalha de Midway na Segunda Guerra
Mundial, bem como eventos maiores, como a queda do comunismo na
Europa Oriental. No entanto, os eventos individuais são mais sujeitas a
uma interpretação diferente da conservação mais amplo e duradouro
como povo especial de Deus tendências históricas.3

Assim, vemos como Deus é o Senhor da História e suas marcas são ativas, temos
outro exemplo na evidências descobertas pelo Arqueólogo Rodrigo Silva acerca da
Babilônia e a historicidade de Nabucodonosor4 afirmam com maior autoridade tal
providência divina e a revelação de Deus na história.

O terceiro componente se encontra no homem, sendo este a obra-prima da criação


narrada em Gênesis, aquele que teve o sopro inspirado de Deus sobre sua composição
e também a criatura que carrega a imagem e semelhança divina, no quesito de sua
racionalidade, moralidade e atributos cognitivos, temos então a maior marca da
revelação geral de Deus aos homens. Os seres humanos são dotados de moralidade,
portanto também tem vontade e consciência única entre todas as obras da criação,

3
ERICKSON, Millard. Teologia Sistemática, 2º edição. Vida Nova. 2008, p. 104
4
SILVA, R. P. A historicidade de Nabucodonosor: análise paleográfica e interpretativa de uma
inscrição neo-babilônica. Kerygma, [S. l.], v. 1, n. 1, p. 39–44, 2005. Disponível em:
https://revistas.unasp.edu.br/kerygma/article/view/351. Acesso em: 22 fev. 2022.
dádivas de Deus para resplandecer sua glória. Portanto temos um aspecto da
consciência, que também é dito por Paulo aos romanos, ao quais falam de uma lei
escrita nos corações dos homens (Romanos 2:12-16) , que os capacita a compreender
aquilo que é correto e errado, ou seja, fazer julgamentos morais que envolve impulsos
morais naturais do próprio homem, aos quais apontam para um princípio moral
unificador e absoluto em Deus.

A natureza humana também é naturalmente religiosa, ou seja, busca se conectar com o


divino. apesar de jamais conseguir um resultado satisfatório, nisto fala João Calvino:

Mas, assim como a experiência atesta em todos ser a semente da religião


divinamente implantada, assim também dificilmente se encontra um em
cem que faça medrar o que lhe foi gerado no coração, porém nenhum em
quem chegue à maturação, muito menos que fruto apareça a seu tempo
[Sl 1.3]. De fato, seja que uns em suas próprias superstições se perdem,
seja que outros, de propósito firmado, de Deus impiamente se alienam,
afinal todos se degeneram de seu verdadeiro conhecimento. E assim
resulta que no mundo não subsiste nenhuma piedade genuína.5

Salientamos, a partir deste ponto, que a revelação geral tem suas limitações em alguns
aspectos. Apesar desta revelação apontar para Deus, ela não expõe diretamente a
natureza moral de Deus e do homem, portanto não possui um caráter redentor apesar
de revelar o caráter corrompido do homem, a morte é a principal prova do fato. Deste
modo, a revelação geral só tem efeito condenatório sobre o homem, pois não revela
Deus de forma específica ou salvadora.

B) REVELAÇÃO ESPECIAL (ESPECÍFICA)

A revelação geral é comum para todos os homens, entretanto a revelação especial tem
uma natureza única devido não ter sido alcançada por todas as pessoas. Tal revelação
parte diretamente de Deus, portanto, podemos chamá-la também de auto-revelação
divina. Assim, a revelação especial é a auto-revelação da Pessoa, obras e propósitos
de Deus em forma, de maneira propositiva, ou seja, se confirmando ao homem como
Deus, isto é realizado através da história da redenção, da pessoa de Cristo e do
registro das Escrituras Sagradas.

Definido o termo, devemos adentrar ao propósito, pois muitos podem questionar as


motivações de uma revelação especial de Deus para o homem, mas nisto vemos que a
corrupção humana, oriunda do pecado, traz necessário a revelação de Cristo como
redentor do homem e o único que pode conectar o homem a Deus. Turretini afirma:

5
CALVINO, João. As Institutas ou Tratado da Religião Cristã. Livro I. São Paulo. Casa Editora
Presbiteriana, 1985, p. 57
A igreja ortodoxa, porém, sempre creu muito ao contrário disso,
sustentando que a revelação da Palavra de Deus ao homem é absoluta e
simplesmente necessária à salvação. Ela é a “semente” da qual nascemos
de novo (IPe 1.23), a “luz” por meio da qual somos orientados (SI
119.105), o “alimento” com o qual nos nutrimos (Hb 5.13,14) e o
“fundamento” sobre o qual somos edificados (Ef 2.20).6

Em conformidade com a ortodoxia, também cremos que tal revelação é a única que
pode trazer a luz ao homem caído e perdido no pecado. Ao homem é impossível
alcançar tal revelação, mesmo que ele ainda tenha limitadas dádivas divinas em seu
estado de natureza pecadora, pois ele é cego, pobre e nu, mas o Espírito Santo as revela
para quem quer (1 Coríntios 2:9-14).

Turrettini também argumenta que o duplo apetite implantado no homem é uma prova
essencial da necessidade de uma revelação especial, o primeiro apetite seria por uma
busca incessante pela verdade e outro pela imortalidade. Tais apetites estão diretamente
ligados ao estado da inocência do homem antes de sua queda, portanto destes apetites
que não podem ser saciados por uma revelação geral, mas antes apenas encontramos
mentiras e depravações, temos assim a assistência de Deus em se auto-revelar para nós,
a partir deste conhecimento a verdade é esclarecida e a vida eterna é ganha. Citando,
novamente, Turrettini podemos concluir que:

Porém, visto que esses apetites não podem ser vãos, fez-se necessária uma
revelação a fim de exibir a verdade primeira e o bem supremo, bem como
o caminho para cada um desses (o que a natureza não poderia fazer).
Finalmente, a glória de Deus e a salvação dos homens o exigiam, porque
a escola da natureza não era capaz de guiar-nos ao conhecimento do
Deus verdadeiro e a sua legítima adoração, nem de descobrir o plano da
salvação por meio do qual os homens podem escapar da miséria do
pecado para um estado de perfeita felicidade, proveniente da união com
Deus. Portanto, era preciso estabelecer a gloriosa escola da graça, na
qual Deus pudesse ensinar-nos por meio de sua Palavra a verdadeira
religião, instruir-nos em seu conhecimento e adoração, e elevar-nos à
comunhão com ele para o gozo da salvação eterna - onde nem a filosofia
nem a razão jamais poderiam chegar.7

Aqui temos então que a revelação especial é aquela que salva, nisto podemos
vislumbrar que Deus instituiu a Cristo, o verbo vivo, como a revelação central e sua
persona como salvador dos homens, assim também como as Escrituras, ou seja Bíblia

6
TURRETINI, François. Compêndio de Teologia Apologética - Vol. 3. 1 ed. São Paulo: Cultura Cristã.
2011, p. 103.
7
TURRETINI, François. Compêndio de Teologia Apologética - Vol. 3. 1 ed. São Paulo: Cultura Cristã.
2011, p. 104.
Sagrada, que fala de Cristo, sua vida, sua obra, seu propósito e também a consumação
deste século (Isaías 7:14; 9:6; Hebreus 1:3; Mateus 11:27; João 1:18).

4. INSPIRAÇÃO

Inspiração é a ação supervisionadora de Deus sobre os autores humanos da Bíblia de


modo a, usando suas próprias personalidades e estilos, comporem e registrarem sem
erro as palavras de Sua revelação ao homem. A Inspiração se aplica apenas aos
manuscritos originais (chamados de autógrafos).

Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de


particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por
vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram
inspirados pelo Espírito Santo. 2 Pedro 1:20,21 [NVI]

Vemos que Deus move os homens, sendo Deus a causa primária do processo de
inspiração, cuja causa instrumental são os homens de Deus que escrevem as
Escrituras, aos quais são movidos pelo Espírito Santo. Portanto advogando deste
processo nós devemos concluir que as Inspiração nas Escrituras é Verbal e Plenária,
para compreendermos melhor o significado quando dissermos tais termos tente pensar
nos seguintes características

1. Plenária: TODA a escritura


2. Verbal: CADA palavra

Tais características irão nos fazer vislumbrar as questões da inerrância bíblica, mas
antes disso devemos ver algumas teorias da inspiração em relação à bíblia para que
evitemos os perigos de uma doutrina não ortodoxa.

A) TEORIAS DA INSPIRAÇÃO EM RELAÇÃO A BÍBLIA

Ao longo dos séculos os homens têm observado as Sagradas Escrituras com olhares
diferentes, nem todos os homens consideram que a Bíblia é uma revelação divina,
mas antes um produto de homens em determinadas culturas. Também devemos ter em
mente que com o surgimento de seitas novas atitudes e visões acerca da Bíblia
também foram desenvolvidas por estes, enfim, segue a lista das principais atitudes de
visão sobre a inspiração da Bíblia.

RACIONALISMO
Nega qualquer possibilidade de revelação sobrenatural, entretanto com os moldes
atuais existem grupos que admitem a possibilidade moderada de revelação divina,
mas julgar quais partes seriam “sobrenaturais” estaria sob a razão humana.
ROMANISMO
Posição oficial do Catolicismo Romano, ao qual observa a Bíblia como um produto da
igreja ao longo dos séculos, assim sendo, a bíblia não detém a maior autoridade nas
questões fundamentais, mas antes é igualada a tradição dos homens como o definidor
das questões essenciais da fé, assim há um princípio de dupla autoridade.

MISTICISMO
Uma posição antiga, mas que novamente ganha destaque dentro do cristianismo. A
partir desta posição existe um pressuposto que a experiência pessoal de indivíduos
tem o mesmo caráter de autoridade da Bíblia.

SEITAS
Neste caso, a Bíblia é colocada ao lado dos escritos de seus líderes ou fundadores.
Para estes grupos, estes líderes fundadores e seus escritos têm a mesma autoridade
que a Bíblia.

NEO-ORTODOXIA
Baseado principalmente em Karl Barth, a bíblia é uma testemunha falível da
revelação de Deus na Palavra de Cristo, a bíblia contém a palavra de Deus mas não é
em si a Palavra de Deus, pois depende em partes da experiência individual da pessoa
com a revelação de Deus, além de conter escritos puramente humanos e portanto
passíveis de erros e falhas.

ORTODOXIA
Baseado no princípio da reforma prostestante, com o Sola Scriptura, vemos o modelo
adotado por Martinho Lutero sobre a bíblia como a autoridade final e determinante da
fé cristã, sendo a única fonte infalível da revelação de Deus, portanto vemos que
diferentemente da posição da romanista, a ortodoxia preza pela Escritura acima da
tradição, mas isto não quer dizer que a descarte ou rejeite, mas antes que a submete ao
crivo da autoridade bíblica como determinante as tradições da igreja.

B) CONCEITOS ERRÔNEOS ACERCA DO PROCESSO DA INSPIRAÇÃO

Esclarecido o processo de inspiração e também algumas posições não ortodoxas do


funcionamento da inspiração, podemos agora esclarecer acerca de alguns erros deste
processo de inspiração que devemos evitar quando estivermos meditando no processo
da inspiração divina ao mover o homem para escrever as Escrituras.

● INSPIRAÇÃO EXTÁTICA - Escritos em Transe, êxtase, sem domínio próprio,


psicografados. (Lucas 1:1-4)

● INSPIRAÇÃO MECÂNICA - Deus ditando e os autores escrevendo, pois isto exclui


a personalidade dos autores humanos, então jamais poderíamos explicar como a
literatura bíblica expressa tanto estilos literários e culturais humanos diferentes. (1
Coríntios 7:12;25)

● INSPIRAÇÃO DINÂMICA - Deus induziu intensa religiosidade em determinados


homens que os permitiu subjetivamente escrever escritos inspirados, assim tornando o
livro puramente humano. (2 Pedro 1:20-21)

● INSPIRAÇÃO PARCIAL - Só algumas partes da Bíblia são inspiradas, entretanto


quais parte seriam inspiradas? Quem é a autoridade para defini-las? Como confiar nas
Escrituras com tal inspiração? (2 Timóteo 3:16)

● INSPIRAÇÃO CONCEITUAL - As ideias ou conceitos é que são inspirados, indo


contra a inspiração verbal e plenária. (Mateus 5:18)

5. INERRÂNCIA E INFALIBILIDADE

Se Deus inspirou as Escrituras, de maneira plenária e verbal, então logo ela não tem
falhas ou erros, assim os conceitos de revelação e inspiração produzem e condicionam
o conceito de autoridade da Bíblia como Palavra de Deus.

Paul Enns, citando a frase de Charles C. Ryrie, ressalta que:

A inerrância da Bíblia significa simplesmente que a Bíblia diz a verdade.


A verdade inclui aproximações, citações livres, citações daquilo que
aparenta ser algo e relatos diferentes de um mesmo evento, desde que
estas não se contradigam.8

A doutrina da inerrância está fundada na premissa, real e verdadeira, que os escritos


originais não continham qualquer erro, assim segue a doutrina da infalibilidade bíblica
ao qual as Sagradas Escrituras não ensinam e nem induzem ao erro. As maiores
evidências da inerrância bíblica se concentram na própria natureza de Deus, ao qual
não pode habitar o mal e nem tampouco incitar o mal, e na próprio relato das
inspiradas Sagradas Escrituras

Stanley Horton9 elenca uma série de declarações das características da inerrância


bíblica, aos quais são:

1. A verdade de Deus é expressada com exatidão, e sem quaisquer erros,


nas próprias palavras da Escritura ao serem usadas na construção de
frases inteligíveis.

8
ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. 1 ed. São Paulo. Editora Batista Regular. 2016, p.184
9
HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: Uma perspectiva Pentecostal. 1 ed. Rio de Janeiro.
CPAD. 2016, p.65-66
2. A verdade de Deus é expressada com exatidão através de todas as
palavras da totalidade da Escritura, e não meramente através das
palavras de conteúdo religioso ou teológico.
3. A verdade de Deus é expressada de modo inerrante somente nos
autógrafos (escritos originais), e de modo indireto, nos apógrafos (cópias
dos escritos originais).
4. A inerrância dá lugar à "linguagem de aparência", aproximações e
várias descrições não-contraditórias, feitas a partir de perspectivas
diferentes. (Por exemplo, dizer que o sol se levanta não é um erro, mas
uma descrição perceptiva e reconhecida).
5. A inerrância reconhece o uso de linguagem simbólica e figurada, e
uma variedade de formas literárias para se transmitir a verdade.
6. A inerrância entende que as citações no Novo Testamento de
declarações do Antigo Testamento podem ser paráfrases, sem a intenção
de serem traduções literais.
7. A inerrância considera válidos os métodos culturais e históricos de se
relatar coisas tais como genealogias, medidas e estatísticas ao invés de
exigir os métodos de precisão da moderna tecnologia.

Se negarmos a inerrância bíblica teremos que enfrentar problemas graves quanto a


doutrina cristã, a primeira seria a própria negação moral dos atributos divino, pois
estaríamos afirmando que Deus pode mentir de propósito em questões secundárias,
isto levaria a direta consequência de desconfiarmos do Senhor, ao mesmo tempo que
nos constituímos a autoridade de padrão da verdade, algo que não somos. Por fim, ao
abrirmos margens para a falibilidade bíblica também estaremos pondo em cheque as
causas primárias, vide que se há erro naquilo que não é tão essencial, também deverá
ter erros nas causas essenciais.

Concluímos com esta bela citação de Wayne Grudem:

É importante lembrar sempre de que temos na Bíblia as próprias palavras


de Deus, e de que não podemos tentar “melhorá-las” de algum modo,
porque isso não pode ser feito. Em vez disso, devemos procurar
entendê-las e então confiar nelas e obedecê-las de todo o coração. 10

6. CANONICIDADE

Se as Escrituras são inspiradas então devemos fazer um questionamento: "Quais livros


são inspirados?", a partir disto podemos então fazer um reconhecimento daquilo que é
parte do compêndio da revelação especial de Deus ao homem, assim a igreja ao longo

10
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática ao alcance de todos. 1 ed. Rio de Janeiro. Thomas
Nelson Brasil. 2019, p.68.
do tempo reconheceu, a partir de concílios e análises minuciosas, quais livros são
divinamente inspirados e podem ser tornar parte do cânon.

A palavra cânon é usada para descrever a lista de livros inspirados, ela vem do grego
kanon e do hebraico qaneh significando "vara de medir". Assim o termo cânon e
canônico vem a denotar os padrões usados para analisar quais livros eram realmente
inspirados por Deus. É importante notar que os concílios religiosos não tiveram
qualquer poder para causar que os livros fossem inspirados, mas apenas
reconheceram, pelas características oriundas da própria inspiração, aqueles que Deus
houvera inspirado no momento de sua escrita.

A) CANONICIDADE DO ANTIGO TESTAMENTO

O texto do Antigo Testamento pode ter sido reunido desde 5 a.C, sob o comando de
Esdras, também a partir do Texto Massorético (hebraico) do Antigo Testamento já
vemos uma tripla divisão em em trinta e nove livros e era reconhecida pela
comunidade judaica como inspirados, juntamente destes argumentos, também atestam
a confiabilidade desta divisão homens como o Flávio Josefo (35-95 d.C), Bispo
Melito de Sardes (100 d.C a 170 d.C), Tertuliano (160-250 d.C) e outros. O concílio
de Jâmnia em 90 d.C, uma reunião de rabinos fariseus judaicos para reconhecimento
do cânon, é geralmente considerado a ocasião que o Cânon do Antigo Testamento foi
reconhecido publicamente.

Os principais testes para reconhecimento da inspiração do Antigo Testamento estão


nos seguintes termos:

a) O livro indica autoria divina


b) Reflete Deus falando através de um mediador
c) O autor humano foi um arauto de Deus
d) O autor humano foi profeta ou tinha algum dom profético
e) O livro foi historicamente acurado
f) O livro reflete um registro verdadeiro dos fatos
g) Como a comunidade judaica recebeu os livros

Assim, temos que o Antigo Testamento é inspirado, tal inspiração geralmente se deu
após a confirmação das palavras de Deus por meio do seu Arauto divino, ocorrendo
uma definição do cânon pelos judeus.

B) CANONICIDADE DO NOVO TESTAMENTO

O cânon do Novo Testamento também teve um gradual reconhecimento, podemos ver


ao longo do primeiro século que alguns escritos já tinham sido reconhecidos como
inspirados. Paulo, por exemplo, reconheceu os escritos de Lucas no mesmo patamar
do Antigo Testamento (1 Timóteo 5:18 cita Deuteronômio 25:4 e Lucas 10:7 e se
refere a ambos os textos como "Escritura"), Pedro também reconheceu os escritos de
Paulo como Escritura (2 Pedro 3:15-16). As cartas eram lidas nas igrejas e até
circulavam entre as comunidades cristãs (Colossenses 4:16, 1 Tessalonicenses 5:27).

Também temos a era após os apóstolos, cujo os pais da igreja também afirmam o
cânon do Novo Testamento. Clemente de Roma mencionou ao menos oito livros do
Novo Testamento em uma carta, Inácio de Antioquia também reconheceu cerca de
sete livros, Policarpo, discípulo de João, reconheceu quinze cartas. Irineu escreveu
reconhecendo vinte e um livros, Hipólito já tem em seu reconhecimento vinte dois
livros. Devemos ter em mente que o reconhecimento dos livros inspirados aqui
citados estão em conformidade com os escritos destes homens, isto não quer dizer que
eles só reconhecem esta quantidade como inspirado. A principal discussão da
inspiração divina naquela época eram os escritos de Hebreus, Tiago, 2 Pedro e 2 e 3
João.

A partir dos concílios da igreja podemos assim ter um cânon definido dos 27 livros
que correspondem ao nosso atual Novo Testamento, sobre isso Paul Enns ressalta:

No quarto século houve também proeminente reconhecimento de um


cânon do Novo Testamento. Quando Atanásio escreveu em 367 d.C, ele
citou vinte e sete livros do Novo Testamento como sendo os únicos livros
verdadeiros. Em 363 d.C o Concílio de Laodicéia estabeleceu que somente
o Antigo Testamento e os vinte e sete livros do Novo Testamento deveriam
ser lidos nas Igrejas. O Concílio de Hipo (393 d.C) reconheceu os vinte e
sete livros, e o Concílio de Cartago (397 d.C) afirmou que somente estes
livros canônicos deveriam ser lidos nas igrejas. 11

A igreja utilizou os seguintes termos para o reconhecimento dos livros canônicos do


Novo Testamento:

a) Apostolicidade: O autor tinha que ser um apóstolo ou ter conexão com


um apóstolo, como o caso de Marcos que foi sancionado por Pedro, ou
Lucas sancionado por Paulo.
b) Aceitação: O livro tinha que ser aceito pela igreja em geral, o
reconhecimento da igreja quanto a inspiração do livro era importante.
c) Conteúdo: O livro tinha que refletir a doutrina de Cristo e tinha que ter
sido aceito como um ensino ortodoxo.
d) Inspiração: O livro deve refletir a qualidade da inspiração, ou seja,
demonstrar evidências morais e espirituais da obra do Espírito Santo e
não ter contradições com os escritos inspirados já existentes.

11
ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. 1 ed. São Paulo. Editora Batista Regular. 2016, p.191
A partir disso podemos ter a plena convicção da definição do cânon, um processo
gradual que envolve o reconhecimento da igreja dos escritos inspirados a partir de
determinadas características padrões a todos eles. Vemos como a providência divina é
maravilhosa ao guiar e preservar suas palavras para que cheguem até nós nas forma da
Bíblia Sagrada que lemos.

7. ILUMINAÇÃO

A bíblia sendo inspirada por Deus requer uma dimensão diferente para
compreendê-la, o homem só pode entender as Escrituras quando recebe a ajuda de
Deus para tal feito, vide que o homem é carnal (1 Coríntios 2:11), ao feito de iluminar
o homem pecador e caído, regenerando sua natureza, e assim trazendo conhecimento
da verdade e portanto capacitando o homem a compreender a Palavra de Deus damos
o nome de "Iluminação". Paul Enns define Iluminação como:

O ministério do Espírito Santo pelo qual ele ilumina aqueles que estão em
um relacionamento certo com Ele, para compreenderem a Palavra escrita
de Deus.12

Já Stanley Horton denomina desta forma:

A doutrina da iluminação do Espírito envolve a obra do Espírito Santo na


pessoa, levando-a a aceitar, entender e apropriar-se da Palavra de Deus.
Anteriormente, já havíamos considerado várias evidências internas e
externas que confirmam ser a Bíblia a Palavra de Deus. No entanto, mais
poderosa e mais convincente que todas elas é o testemunho interior do
Espírito Santo.13

É importante ressaltar que há uma diferença entre Inspiração, Revelação e


Iluminação. Para esclarecer quero fazer o pequeno diagrama:

REVELAÇÃO INSPIRAÇÃO ILUMINAÇÃO


É o conteúdo ou material O método de registro O entendimento do
escrito daquele material escrito significado daquele
material escrito

Compreender isto evitará o erro da neo-ortodoxia que mescla inspiração com


iluminação como se ambos tivessem o mesmo significado. Salientamos que a
iluminação não é misticismo, mas antes requer disciplina e constância, pois não é um
atalho de Deus para se chegar ao conhecimento bíblico, nem um substituto do estudo
12
ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. 1 ed. São Paulo. Editora Batista Regular. 2016, p.195
13
HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: Uma perspectiva Pentecostal. 1 ed. Rio de Janeiro.
CPAD. 2016, p.70
sincero da Palavra de Deus. Pelo contrário, ele é visto à medida que estudamos as
Escrituras e que o Espírito Santo vai nos dando entendimento espiritual e assim
fortalecendo as bases divinas em nossos corações.

QUESTÕES

1. O que é a Bíblia? Como a bíblia protestante é estruturada?

2. O que é a revelação? Quais categorias ela é dividida? Explique tais


categorias

3. O que é inspiração? O que significa dizer que a inspiração é VERBAL E


PLENÁRIA.

4. Enumere as visões errôneas do conceito de inspiração e as explique


resumidamente

5. O que é a inerrância e a infalibilidade bíblica?

6. Fale acerca das características da inerrância bíblica e por qual motivos


não podemos negá-la.

7. O que é o Cânon Bíblico? Qual sua importância para a igreja?

8. O que é a Iluminação? Qual a diferença entre Revelação, inspiração e


iluminação?
TEONTOLOGIA
Disse Deus a Moisés: "Eu Sou o que Sou. É isto que você dirá aos israelitas: Eu
Sou me enviou a vocês". Disse também Deus a Moisés: "Diga aos israelitas: O
Senhor, o Deus dos seus antepassados, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o
Deus de Jacó, enviou-me a vocês. Esse é o meu nome para sempre, nome pelo
qual serei lembrado de geração em geração.
Êxodo 3:14,15
1. INTRODUÇÃO

A Teontologia é o estudo da teologia propriamente dita, ou seja, é a área que trata do


estudo do próprio Deus, especificamente focando no Pai. Entretanto, devemos
ressaltar que os atributos específicos da deidade são comuns a figura do Pai, Filho e
Espírito Santo. A necessidade de estudar os atributos de Deus está diretamente ligado
à adoração, pois assim podemos adorá-lo em Espírito e em Verdade (João 4:23-24),
nisto concorda A. W. Tozer:

"Uma concepção correta sobre Deus é fundamental não somente para a


teologia sistemática, mas também para a prática da vida cristã. Ela é para
a adoração o que o alicerce é para o templo; se for inadequada ou fora de
prumo, cedo ou tarde toda a estrutura virá a desabar. Creio ser difícil
identificar um erro doutrinário ou uma falha na aplicação da ética cristã
que não tenha origem em pensamentos indignos e imperfeitos sobre
Deus."1

Também devemos ter em mente que ao adorarmos ao Senhor também exaltamos seus
atributos e seu ser. Assim, compreender a Teontologia é necessário para nossa vida
como cristão e também como um passo fundamental para compreender as demais
doutrinas, mas devo avisar que é impossível compreendermos os atributos de Deus
em totalidade, visto que somos criaturas finitas e limitadas, contudo podemos
conhecê-lo, isto é o que chamamos da doutrina da cognoscibilidade de Deus, nisto
afirma Berkhof:

A igreja cristã confessa, por um lado, que Deus é o Incompreensível, mas


também, por outro lado, que Ele pode ser conhecido e que conhecê-lo é
um requisito absoluto para a salvação. Ela reconhece a força da questão
levantada por Zofar, “Porventura desvendarás os arcanos de Deus ou
penetrarás até a perfeição do Todo-Poderoso?” Jó 11.7. E ela percebe que
não tem resposta para a indagação de Isaías. “Com quem comparareis a
Deus? Ou que cousa semelhante confrontareis com ele?” Isaías 40.18.
Mas, ao mesmo tempo, ela também está atenta à afirmação de Jesus: “E a
vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a
1
TOZER, A. W. O conhecimento do Santo. 1 ed. São Paulo. Impacto Publicações, 2021, p. 9.
Jesus Cristo, a quem enviaste” João 17.3. Ela regozija no fato de que “o
Filho de Deus é vindo, e nos tem dado entendimento para reconhecermos
o verdadeiro, e estamos no verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo” 1 João
5.20. As duas idéias refletidas nestas passagens sempre foram sustentadas
lado a lado na igreja cristã.2

Tendo em mente que Deus é infinitamente superior em todos os seus atributos, mesmo
aqueles que foram comunicados a nós, devemos ser humildes e compreender aquilo
que podemos ter acesso pelo nosso limitado intelecto.

2. EXISTÊNCIA DE DEUS

A existência de Deus é algo bastante discutido desde os primórdios da humanidade,


vemos que o homem tem uma inapta reação de procurar a verdade ao longo da sua
vida, e isto envolve o questionamento base da existência de um “Ser” superior. Para a
Teologia a pressuposição básica é que:

1- Deus existe
2- Deus se revelou por meio da sua Palavra Divina.

Assim, partindo desses dois pressupostos devemos compreender a teologia, assim


como o propósito de estudarmos Deus. Mas também existem argumentos lógicos e
racionais, para além da própria teologia, para justificar a existência de Deus, apesar de
tais argumentos serem insuficiente, em sentido teológico, para explicar quem é “esse
Deus”, ou quais seriam seus atributos, mas é válido para demonstrarmos que a fé em
algo divino não é injustificável como alguns adversário pressupõem. Segue a tabela:

ARGUMENTO DEFINIÇÃO

COSMOLÓGICO É baseado no fato que existe um cosmo,


ou seja, um mundo, e se algo não pode
vir do nada então a causa do universo
deve ser Deus, um ser que não pode ser
movido, assim uma causa primária de
todas as coisas.

TELEOLÓGICO Este argumento demonstra que o mundo


tem um propósito, isso é evidenciado na
harmonia e ordem do cosmos, ou seja se
há uma organização deve existir alguém
que ditou esta organização,
propositalmente. Assim, existe um ser
inteligente que criou e ORGANIZOU o
cosmo para um fim determinado.

2
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo. Cultura Cristã, 2001, p.21.
ANTROPOLÓGICO O argumento está centrado na própria
existência do homem, afinal há
características morais, como como
consciência, intelecto, emoção e vontade
que parecem apontar para um Criador

MORAL Este argumento está diretamente ligado


ao antropológico, sendo assim a
consideração do homem como um ser
moral, ou seja, que tem consciência do
certo e errado. Pois, se o homem é
somente uma criatura biológica como
ele pode ter padrões e conceitos morais
que não podem ser atribuídos
simplesmente as causas naturais, ou
seja, a existência da moralidade revela
um Criador que delimitou isto, ou seja,
que seja fonte da pura justiça.

ONTOLÓGICO É o argumento mais filosófico, ele parte


do raciocínio que o homem tem
consciência de Deus e do seu conceito,
assim podendo conceber a ideia quando
se pede para o homem imaginá-lo, pois
neste exercício quanto mais o homem se
aproximar do conceito de Deus, mais
este conceito se fechará em uma ideia .
Portanto, a conclusão dentro do
argumento é que Deus existe por seu
conceito universal. Este argumento
geralmente é o que tem valor mais
limitado dentro das argumentações sobre
a existência de Deus.

Devemos ter em mente que tais argumentos, apesar de favorecerem a lógica racional e
filosófica sobre a existência de Deus, não podem prová-lo, vide que a fé sempre foi
algo essencial dentro do escopo da teologia.

A partir desses argumentos podemos então fazer uma lista dos argumentos contra a
existência de Deus, geralmente adotados por aqueles que são antiteísta, no sentido de
não darem crédito ao Deus revelado na Bíblia. Isto não quer dizer que tais posições
não tenham sua concepção de “deus”, mas que são totalmente contrárias a concepção
teológica ao qual devemos nos deleitas. Segue abaixo alguns exemplos de posições
contrárias a nossa na tabela abaixo:
POSIÇÃO DEFINIÇÃO

ATEÍSTA É a posição que nega a existência de Deus,


ou seja, não crê. Podemos classificar os
ateístas em três categorias: (1) Ateísta
prático que vive como se não houvesse
Deus; (2) O Ateísta dogmático que repudia
Deus abertamente; (3) O Ateísta virtual que
rejeita Deus através de seu conceito de
Deus, geralmente incluem aqueles que
rejeitam um Deus pessoal.

AGNÓSTICA É a posição que defende que não podemos


afirmar a existência de Deus, mas também
não podemos negá-la, assim Deus não pode
ser comprovado nem desaprovado. O
agnosticismo traz à tona a verificação dos
fatos através da ciência, portanto se Deus
não pode ser verificado ele não é cabível de
discussão profunda.

POLITEÍSMO É a posição que defende que há vários


deuses, ou pluralidade de deuses no cosmo.
Vemos que é uma crença bastante comum
desde a antiguidade, principalmente com
adoração aos elementos da natureza.

PANTEÍSMO É a posição de que tudo é Deus e Deus é


tudo. Basicamente defende um Deus não
pessoal e misturado com a sua própria
criação. Há formas variadas de panteísmo:
(1) O Panteísmo materialista crê na
eternidade da matéria e coloca ela como
causa de toda a vida; (2) O Hilozoísmo
defende que toda a matéria tem um
princípio de vida ou propriedades psíquicas;
(3) Neutralismo, que diz que a vida é neutra,
não possuindo mente ou matéria; (4)
Idealismo, que sugere que a realidade é em
última instância realmente mental, quer seja
mente individual ou de uma mente infinita;
(5) Misticismo Filosófico que é um
monismo absoluto, ensina que toda a
realidade é uma unidade.

DEÍSMO É a posição que afirma a existência de um


Deus não pessoal, portanto transcendente
mas sem qualquer vestígio de imanência
(relação pessoal com a criatura), assim é
uma posição que diz que Deus criou o
mundo e após isso deixou este mundo e o
homem criado a suas próprias forças, ou
seja, não se relacionando com a própria
criação.
3. ATRIBUTOS DE DEUS A RELAÇÃO COM O SER DE DEUS

Após o entendimento da existência de Deus devemos compreender os seus atributos e


a relação deles com o ser de Deus, vide que é um Deus pessoal e portanto que se
relaciona com suas criações, mas ao mesmo tempo que não pode ser totalmente
conhecido por ela, devido seus atributos próprios, mas apenas parcialmente naquilo
que Deus se revelou ao homem.

Segundo A.H. Strong os atributos de Deus podem ser definidos como:

Aquelas características distintivas da natureza divina que são


inseparáveis da idéia de Deus e que constituem a base e o campo de suas
várias manifestações às suas criaturas.3

Devemos ter em mente que os atributos de Deus não são suas obras, apesar das suas
obras revelarem sua natureza. Para compreendermos o "Ser" de Deus, devemos
admitir que não temos como fazer uma definição científica, pois ele não pode ser
classificado a partir da observação de conceitos comuns, já que é o único Deus,
portanto somente podemos compreender o ser de Deus na questão analítica e
descritiva, ao qual temos em mente as características mas não buscamos
exaustivamente a explicação do ser essencial. Afinal, já vimos que dentro da
cognoscibilidade de Deus só podemos conhecê-lo parcialmente.

A bíblia descreve Deus como um ser vivente, nunca operando com um conceito
abstrato, mas ao mesmo tempo demonstra vários atributos na relação entre Criador e
criação. Devemos compreender que as escrituras não exaltam qualquer atributo em
detrimento dos demais, mas antes há uma perfeita harmonia no Ser divino, nisto
concorda Berkhof quando diz:

Pode ser verdade que ora um, ora outro atributo receba ênfase, mas a
Escritura evidentemente tenciona dar devida ênfase a cada um deles. O
ser de Deus é caracterizado por profundidade, plenitude, variedade, e
uma glória que excede nossa compreensão, e a Bíblia apresenta isto como
um todo glorioso e harmonioso, sem nenhuma contradição inerente. E
esta plenitude de Deus acha expressão nas perfeições de Deus, e não
doutra maneira.4

Assim, também devemos compreender que Deus é simples, ou seja, ele não é
composto mas antes uma unidade. Portanto não devemos considerar os atributos como
uma composição de Deus, mas antes como uma unidade, Deus e seus atributos são

3
STRONG, A. H. Teologia Sistemática. 3.ed. São Paulo. Hagnos, 2003, p. 364
4
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo. Cultura Cristã, 2001, p.34.
um. Também não devemos considerar os atributos como um acréscimo ao Ser de
Deus, pois ele é eternamente perfeito. Mas devemos salientar, conforme Berkhof, que
há distinções em Deus:

Embora se possa dizer que há uma interpenetração dos atributos de Deus,


e que eles formam um todo harmonioso, estamos partindo em direção ao
panteísmo quando eliminamos todas as distinções em Deus, e dizemos que
a Sua auto-existência é a sua infinidade, que o Seu conhecimento é a Sua
vontade, que o Seu amor é a Sua justiça, e vice-versa.5

Devemos ter em mente o cuidado com tal apontamento, pois não podemos separar a
essência divina de seus atributos, ou perfeições divinas, mas também não podemos
levantar um falso conceito da sua relação mútua a partir da falta de distinção,
diferença, entre as perfeições e qualidades inerentes do Ser divino. Por fim,
concordamos com Berkhof quando diz:

E, devido à estreita relação existente entre a essência e os atributos,


pode-se dizer que o conhecimento dos atributos leva consigo o
conhecimento da essência divina. Seria um erro conceber a essência de
Deus como existente por Si própria e anterior aos atributos, como
também seria um erro conceber os atributos como características aditivas
e acidentais do Ser Divino. São eles qualidades essenciais de Deus,
inerentes ao Seu próprio Ser e com Ele coexistentes. Estas qualidades não
podem ser alteradas sem alterar o Ser essencial de Deus. E desde que são
qualidades essenciais, cada um deles revela-nos algum aspecto do Ser de
Deus6

A partir deste entendimento podemos então classificar os atributos de Deus de duas


formas, utilizando a metodologia de Berkhof e Grudem, aos quais podemos dividir
entre atributos incomunicáveis e comunicáveis. Wayne Grudem assim define a
diferenciação entre ambos:

[...] Que consiste em relação aos atributos incomunicáveis de Deus (i.e.,


os atributos que Deus não partilha conosco ou não nos "comunica") e os
atributos que comunicáveis (aqueles que Deus partilha ou "comunica"
conosco). 7

Berkhof também concorda quando afirma:

5
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo. Cultura Cristã, 2001, p. 37.
6
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo. Cultura Cristã, 2001, p. 38.
7
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática ao alcance de todos. 1 ed. Rio de Janeiro. Thomas
Nelson Brasil. 2019, p. 101.
A distinção mais comum é entre atributos incomunicáveis e
comunicáveis. Os primeiros são aqueles aos quais nada análogo existe na
criatura, como asseidade, simplicidade, imensidade, etc.; os últimos,
aqueles com os quais as propriedades do espírito humano têm alguma
analogia, como poder, bondade, misericórdia, retidão, etc8

Entretanto, devemos salientar que há ressalvas para esta divisão, concordamos que
esta categorização é útil mas ao refletirmos sobre a distinção deve perceber que não
existe nenhum atributo de Deus que seja COMPLETAMENTE COMUNICÁVEL, nem
nenhum atributo de Deus que seja COMPLETAMENTE INCOMUNICÁVEL.
Utilizarei o exemplo de Grudem para orientação quando afirma:

Por exemplo, a sabedoria de Deus, de forma geral, seria chamada de


atributo comunicável porque também podemos ser sábios, mas não temos
a possibilidade de ser infinitamente sábios como Deus. Sua sabedoria só
nos é comunicada até certo ponto, nunca completamente. 9

Quanto aos atributos incomunicáveis, Grudem salienta:

Por outro lado, os atributos que chamamos de "incomunicáveis" são


definidos de forma melhor quando afirmamos que são atributos de Deus
dos quais participamos menos. Nenhum dos atributos incomunicáveis de
Deus deixa de ter, pelo menos, alguma semelhança com o caráter dos
seres humanos. Por exemplo, Deus é imutável, embora nós mudemos,
mas não mudamos completamente, porque existem aspectos do nosso
caráter que continuam em sua maior parte, os mesmos: nossa identidade
individual, várias características de personalidade e alguns dos nossos
propósitos de longo prazo permanecem substancialmente intactos por
muitos anos. 10

Portanto, esclarecida esta categorização, na próxima seção iremos abordar sobre quais
atributos são incomunicáveis e comunicáveis, assim trazendo melhor compreensão da
natureza divina.

4. ATRIBUTOS INCOMUNICÁVEIS

Os atributos incomunicáveis de Deus dizem respeito àqueles atributos absolutos, ou


seja livre de limitação ou restrição. Podemos identificar ao menos quatro atributos
incomunicáveis do ser divino.

8
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo. Cultura Cristã, 2001, p. 48
9
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática ao alcance de todos. 1 ed. Rio de Janeiro. Thomas
Nelson Brasil. 2019, p. 102.
10
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática ao alcance de todos. 1 ed. Rio de Janeiro. Thomas
Nelson Brasil. 2019, p. 102.
A) INDEPENDÊNCIA

A independência de Deus está diretamente ligada a sua auto-existência. Assim,


podemos dizer que Deus tem base em Sua existência Nele mesmo. Portanto ele é
independente de tudo, pois na verdade ele é a causa de tudo. Isto é bastante enfatizado
quando ele diz o "Eu Sou o que Sou", também é salientado a independência de Deus
quando é dito "O Pai tem vida em si mesmo" (João 5:26). Berkhof, afirma:

Deus é auto-existente, isto é, ele tem sem Si mesmo a base da Sua


existência. Às vezes estas idéias são expressas dizendo-se que Ele é a
causa sui (a Sua própria causa), mas não se pode considerar exata esta
expressão, desde que Deus é o não acusado, que existe pela necessidade
do Seu próprio Ser e, portanto, necessariamente. O homem, por outro
lado, não existe necessariamente, e tem a causa da sua existência fora
dele próprio. A idéia da auto-existência de Deus era geralmente expressa
pelo termo aseitas (asseidade), significando auto-originado, mas os
teólogos reformados em geral o substituíram pela palavra indenpendentia
(independência), expressando com ela não somente que Deus é
independente em Seu Ser, mas também que é independente em tudo
mais11

Isto é confirmado pelo apóstolo Paulo, quando diz que Deus não é servido por mãos
de homens, nem que necessitasse de algo, pois é Ele quem dá a todos o fôlego de vida
e as demais coisas (Atos 17:24-25), assim Deus não depende de sua criação, portanto
é independente. Entretanto, quero dizer que apesar da independência de Deus, isto não
lhe faz impessoal, pois Deus escolheu se relacionar com sua criação, não por
necessidade, mas por amor. Concluo com Berkhof:

Encontram-se indicações adicionais disso na afirmação presente em Jo


5.26, “Porque assim como o pai tem vida em si mesmo, também concedeu
ao Filho Ter vida em si mesmo”, na declaração de que Ele é independente
de todas as coisas e que todas as coisas só existem por meio dele, Sl
94.8s.; Is 40.18s. At 7.25; e nas afirmações que implicam que Ele é
independente em Seu pensamento, Rm 11.33, 34, em sua vontade, Dn
4.35; Rm 9.19; Ef 1.5; Ap. 4.11, em Seu poder, Sl 115.3, e em Seu
conselho, Sl 33.11.12

B) IMUTABILIDADE

Expressa-se pela perfeição ao qual Deus é desprovido de mudanças, não somente em


seu Ser, mas também em suas perfeições e propósitos. Assim, a natureza divina é

11
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo. Cultura Cristã, 2001, p. 51
12
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo. Cultura Cristã, 2001, p. 51
imutável pois nela tudo já é perfeito, não é necessário acréscimo ou decréscimo no Ser
de Deus, pois isto tornaria Deus passível de atualização, se algo é passível de
atualização em sua natureza ela não é perfeita e também não é imutável. Vemos que a
doutrina da imutabilidade divina é ressaltada quando é dito "Eu, o Senhor, não mudo"
(Malaquias 3:16), esse atributo também pode ser chamado de inalterabilidade.

Berkhof, acerca da imutabilidade de Deus, diz:

A imutabilidade de Deus é necessariamente concomitante com a Sua


asseidade. É a perfeição pela qual não há mudança nele, não somente em
Seu Ser, mas também em Suas perfeições, em Seus propósitos e em suas
promessas. Em virtude deste atributo, Ele é exaltado acima de tudo
quanto há, e é imune de todo acréscimo ou diminuição e de todo
desenvolvimento ou decadência em Seu Ser e em Suas perfeições. Seu
conhecimento e Seus planos, Seus princípios morais e Suas Volições
permanecem sempre os mesmos.13

Grudem, afirma acerca da imutabilidade dos propósitos divinos:

"Mas os planos do Senhor permanecem para sempre, os propósitos do


seu coração, por todas as gerações" (Salmos 33:11). Essa afirmação
sobre o conselho de Deus é apoiada por vários versículos específicos que
falam sobre planos individuais ou propósitos de Deus desde a eternidade
(Mateus 11:35; 25:34; Efésios 1:4,11; 3:9,11; 2 Timóteo 2:19; 1 Pedro
1:20, Apocalipse 13:8). Quando Deus determina que ele realizará algum
feito, seu propósito é imutável e será alcançado. 14

Entretanto vemos alguns casos bíblicos que "aparentemente" Deus parece mudar, ou
arrepender-se, mas isto toma compreensão errônea, primeiro pois em muitos destes
acontecimentos estamos vendo a relação entre Criador e Criatura, nesta relação Deus
é imutável mas não é imóvel, ou seja, não está em ação. A questão é que as suas
criaturas são mutáveis, e nisto mudam em relação ao próprio Deus, um exemplo disto
é o arrependimento de pecados que nos faz escapar do juízo vindouro divino, que é a
manifestação da justiça, para usufruirmos misericórdia, neste ato o Ser de Deus não
mudou, mas nós que experimentamos uma mudança. Também temos que
compreender quando há o uso do termo "arrepender" referindo-se a Deus é uma
espécie de antropomorfização da linguagem para que entendamos Deus, ao qual não
tem o mesmo significado de "voltar atrás" ou "mudar o propósito original", mas antes
apenas exprime um sentimento em linguagem humana. Portanto a doutrina da
imutabilidade divina é confiável e baluarte do Ser de Deus.

13
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo. Cultura Cristã, 2001, p. 51
14
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática ao alcance de todos. 1 ed. Rio de Janeiro. Thomas
Nelson Brasil. 2019, p. 105.
C) INFINIDADE

A Infinidade é a perfeição de Deus a qual ele não tem qualquer limitação em seu Ser
divino e Seus atributos, nem tampouco ele pode ser limitado pelo tempo ou pelo
espaço. Isto não quer dizer que sua identidade é a soma das coisas que existem, mas
antes que isto revela a relação Dele com as coisas criadas.

Devemos compreender que Deus não tem um corpo, portanto ele não tem extensão
espacial, por isso não é como se Deus estivesse espalhado por todo o universo, mas
antes devemos entender que a presença de Deus abrange toda sua criação. Dentro
destes aspectos de infinidade, abordaremos três aspectos para facilitar nossa
compreensão da infinidade divina na tabela abaixo

ASPECTO DEFINIÇÃO

PERFEIÇÃO ABSOLUTA É a infinidade do Ser divino considerada


em si mesma. Assim, ela deve ser
considerada em sentido qualitativo, ou
seja, ela qualifica os atributos
comunicáveis de Deus. Assim o poder
de Deus é livre e ausente de toda
limitação e defeito, assim sua infinidade
é idêntica a perfeição do Seu divino Ser.

ETERNIDADE É a infinidade de Deus em relação ao


tempo é denominada eternidade. Assim
podemos dizer que Deus é além do
tempo, sendo seu criador, pois Deus não
tem início, nem fim, ELE É. Assim tal
perfeição transcende o próprio tempo e
todas as limitações temporais, em Deus
não há passado, presente ou futuro,
afinal ele é O Eterno, está acima das
noções temporais e as delimita com seu
imenso poder.

IMENSIDADE A infinidade de Deus também pode ser


vista com referência ao espaço, sendo,
então denominada imensidade. Assim,
esta é a perfeição do Ser Divino que
transcende todas as limitações espaciais,
e contudo, está presente em todos os
pontos do espaço com todo o Seu Ser.
Assim tal perfeição nega as limitações
do espaço ao Ser Divino, ao mesmo
tempo que afirma que Deus está acima
do espaço e ocupa todas as partes deste
com todo o Seu ser. Geralmente os
termos "imensidade" e "onipresença"
são aplicados a Deus em mesmo sentido,
porém a diferença básica para eles está
que a imensidade geralmente salienta a
Transcendência de Deus, enquanto o
último a imanência de Deus.

D) UNIDADE

A unidade está diretamente ligada à questão da não "composição de Deus", ou seja,


que Deus não pode ser dividido em partes. Berkhof define duas categorias para
divisão da unidade de Deus, ele diz que existe:

1) UNITAS SINGULARITATIS
2) UNITAS SIMPLICITATIS

Para que possamos elencar ambas faremos novamente uso de uma tabela com
definições para exemplificar.

UNIDADE DEFINIÇÃO

UNITAS SINGULARITATIS Este atributo salienta a unidade e a


unicidade de Deus, o fato de que Ele é
numericamente um e que como tal, Ele é
Único. Assim, isto implica que somente
existe um Ser Divino.

UNITAS SIMPLICITATIS Este atributo salienta a unidade


qualitativa do Ser Divino, visto que só
Deus pode expressar a perfeição em
absoluto, portanto ele não é composto,
algo que não é composto por parte é
algo "simples", isto é não apresenta
divisão.

Sobre a distinção dos atributos divinas, Grudem, afirma:

A unidade de Deus se define da seguinte forma: Deus não está dividido


em partes, porém vemos atributos diferentes de Deus em destaque em
momentos diferentes. 15

15
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática ao alcance de todos. 1 ed. Rio de Janeiro. Thomas
Nelson Brasil. 2019, p. 117.
Devemos compreender que Deus tem sua unicidade preservada apesar da nossa
limitada compreensão do seu Ser, vide que a linguagem bíblica deve ser entendida
pelos homens, portanto é necessária certa distinção dos atributos divinos para
compreendermos a própria essência divina, mas isto não significa que haja um
atributo maior ou menor em Deus, ou que ele seja composto por tais atributos.

5. ATRIBUTOS COMUNICÁVEIS

Os atributos discutidos no capítulo anterior ressaltam o absoluto Ser de Deus, agora


vamos tratar daqueles que acentuam sua natureza pessoal. Berkhof acentua sobre o
assunto:

É nos atributos comunicáveis que Deus se posiciona como Ser moral,


consciente, inteligente e livre, como Ser pessoal no mais elevado sentido
da palavra.16

Isto também denota uma prova da personalidade de Deus, que mesmo sendo absoluto,
pode expressar-se no finito, vide que provas naturais como a própria personalidade
humana requer um Deus pessoal para sua explicação , vide que ele é um ser causado,
e também toda estrutura do mundo demonstra claros sinais de uma organização e uma
inteligência superior infinita para criar todas as coisas. Assim, Deus é um Espírito
pessoal.

Segue uma tabela abaixo da divisão dos atributos comunicáveis de Deus com seus
respectivos subtópicos

ATRIBUTOS COMUNICÁVEIS DEFINIÇÃO E CATEGORIAS

ESPIRITUALIDADE DE DEUS "Deus é Espírito" (João 4:24), tal


declaração visa dizer que o Senhor é
Espírito, assim sendo um Ser substancial
imaterial, invisível, e sem composição,
nem extensão. Sendo auto-consciente e
auto-determinante.

ATRIBUTOS INTELECTUAIS Na Escritura Deus é apresentado como


Luz e, portanto, como perfeito em Sua
vida intelectual. Esta categoria
compreende duas perfeições divinas, a
saber, o Conhecimento e a Sabedoria de
Deus, que juntas expressam a
Veracidade de Deus.

16
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo. Cultura Cristã, 2001, p. 57
ATRIBUTOS MORAIS Os atributos morais de Deus são
geralmente as perfeições divinas mais
gloriosas, no que tange a visão do
homem, pois tais perfeições morais não
são alcançáveis aos seres humanos por
sua própria força. Geralmente elas são:
A bondade de Deus, a Santidade de
Deus e a Justiça de Deus.

ATRIBUTOS DE SOBERANIA A soberania de Deus recebe forte ênfase


nas Escrituras, vide que ele é a fonte
primária de todas as coisas, ele também
é soberano então sobre toda criação,
sobre o espaço, sobre o tempo. Não há
um centímetro sequer deste mundo que
Deus não seja soberano. Assim, Deus
detém autoridade máxima sobre todas as
coisas e determina seus fins. Dois
atributos se destacam aqui, o primeiro é
a Vontade Soberana de Deus e o
segundo é o Poder soberano de Deus.

Assim, temos uma lista de atributos comunicáveis e categorias, segue abaixo outra
tabela contendo a lista das categorias listadas anteriormente com seus conceitos
definidos.

ATRIBUTOS INTELECTUAIS

CATEGORIAS DEFINIÇÃO

CONHECIMENTO DE DEUS A perfeição de Deus pela qual Ele, de


maneira inteiramente única, conhece a
Si próprio e a todas as coisas possíveis e
reais num só ato eterno e simples. A
Bíblia atesta abundantemente o
conhecimento, como, por exemplo, em 1
Sm 2.3; Jó 12.13; Sl 94.9; 147.4; Is
29.15; 40.27, 28. Tal conhecimento é
arquetípico, assim significa que Deus
conhece o universo antes mesmo da
existência dele como uma realidade
finita no tempo e no espaço. A extensão
deste conhecimento também é absoluta.
SABEDORIA DE DEUS Pode-se considerar a sabedoria de Deus
como um aspecto do Seu conhecimento.
Assim a sabedoria está diretamente
ligada nas escolhas divinas e os
objetivos divinos, assim Deus sempre
escolhe os melhores objetivos e os
melhores meios para tais objetivos. H.
B. Smith define a sabedoria divina como
“o atributo de Deus pelo qual Ele produz
os melhores resultados possíveis com os
melhores meios possíveis”

VERACIDADE DE DEUS Isto significa dizer que Deus é a


Verdade, também inclui a ideia de
fidedignidade e fidelidade. Quando se
diz que Deus é a verdade devemos
entender isto no sentido mais
abrangente, envolvendo tanto o sentido
metafísico, pois Ele é tudo que como
Deus deveria ser e, como tal, também é
diferente dos deuses criados por
homens, que são ídolos e mentiras.
Também Deus é a verdade em sentido
ético, portanto é absolutamente
confiável e por fim ele também é a
verdade no sentido lógico, em virtude
disto, conhece as coisas como realmente
são. A verdade de Deus é o alicerce de
todo conhecimento.

ATRIBUTOS MORAIS

BONDADE DE DEUS

É que Ele é, em todos os aspectos e por todos os modos, tudo aquilo que deve ser
como Deus, e, portanto, corresponde perfeitamente ao ideal expresso pela palavra
“Deus”. Ele é bom na acepção metafísica da palavra, é perfeição absoluta e
felicidade perfeita em Si mesmo. É neste sentido que Jesus disse ao homem de
posição: “Ninguém é bom senão um só, que é Deus”, Mc 10.18; Lc 18.18, 19. Tal
bondade é manifestada para as criaturas em geral, aos quais ele trata elas com
generosidade, mas também é exercida para criaturas racionais ao qual
denominamos o amor de Deus, dentro da manifestação da bondade também existe a
graça de Deus que denota o favor de Deus aos homens que não tem nenhum direito
a tal bondade, disto também temos outro aspecto que misericórdia divina ao qual
tem compaixão de suas criaturas e revela sua longanimidade, pois ele tolera os
homens pecadores mesmo com sua prolongada desobediência.
SANTIDADE DE DEUS

A palavra hebraica para “ser santo”, qadash, deriva da raiz qad, que significa cortar
ou separar. É uma das palavras religiosas mais proeminentes do Velho Testamento,
e é aplicada primariamente a Deus. A mesma idéia é comunicada pelas palavras
hagiazo e hagios, no Novo Testamento. Disto já se vê que não é correto pensar na
santidade primariamente como uma qualidade moral ou religiosa, como geralmente
se faz. Sua idéia fundamental é a de uma posição ou relação existente entre Deus e
uma pessoa ou coisa.A idéia escriturística da santidade de Deus é dupla. Em sentido
original denota que Ele é absolutamente distinto de todas as Suas criaturas, e é
exaltado acima delas em majestade infinita. A santidade de Deus é revelada na lei
moral implantada no coração do homem e que fala por meio da consciência e, mais
particularmente, na revelação especial de Deus.

JUSTIÇA DE DEUS

Tal atributo relaciona-se com a santidade de Deus, sendo um modo de sua


santidade. Devemos ter em mente que a justiça está apegada à Lei, apesar de não
haver lei acima de Deus, temos uma noção que há uma lei própria na natureza de
Deus, sendo o padrão mais elevado possível pelo qual todas as outras leis foram
derivadas. Geralmente se faz distinção entre a justiça absoluta de Deus e a relativa.
Aquela é a retidão da natureza divina, em virtude da qual Deus é infinitamente reto
em Si mesmo, enquanto que esta é a perfeição de Deus pela qual Ele se mantém
contra toda violação da Sua santidade e mostra, em tudo e por tudo, que Ele é
Santo. É a esta retidão que o termo “justiça” se aplica mais particularmente.
Devemos ter em mente também que há distinções aplicadas a justiça de Deus,
sendo a primeira a justiça rectoral de Deus ao qual ele exerce como governador do
cosmos, instituindo a moral no mundo e a partir disto temos a justiça distributiva
que se relaciona com a distribuição de recompensas e punições conforme
obediência ou desobediência da lei divina.

ATRIBUTOS DE SOBERANIA

VONTADE DE DEUS A Bíblia emprega várias palavras para


indicar a vontade de Deus, a saber, as
palavras hebraicas chaphets, tsebhu e
raston, e as palavras gregas boule e
thelema. A importância da vontade
divina aparece de várias maneiras na
Escritura. É apresentada como a causa
final de todas as coisas. Tudo é derivado
dela. Daí, a teologia cristã sempre
reconheceu a vontade de Deus como a
causa última de todas as coisas, embora
a filosofia às vezes mostra uma
inclinação para procurar uma causa mais
profunda no próprio Ser do Absoluto.

PODER SOBERANO DE DEUS A soberania de Deus acha expressão,


não somente na vontade divina, mas
também na onipotência de Deus, ou em
Seu poder de executar a Sua vontade.
Pode-se denominar o poder de Deus a
eficaz energia da Sua natureza, ou a
perfeição do Seu Ser pela qual Ele é a
causalidade absoluta e suprema.

A partir destas categorias pudemos compreender a comunicabilidade dos atributos


divinos, assim que possamos adorar a Deus com ainda mais firmeza tendo o firme
propósito que Deus é o Senhor Soberano.

QUESTÕES

1. Destaque a importância do Estudo de Teontologia

2. O que é a doutrina da cognoscibilidade de Deus?

3. Quais são os cinco argumentos lógicos para justificar a existência de


Deus? Cite também os pressupostos da teologia.

4. Fale sobre a importância de entender a relação entre o Ser de Deus e seus


atributos.

5. Qual a diferença entre atributos incomunicáveis e comunicáveis?

6. Cite quais são os atributos incomunicáveis e faça uma pequena definição


de cada um

7. Cite quais são os 4 tipos de atributos comunicáveis de Deus.


TRINDADE
Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome
do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Mateus 28:19

1. INTRODUÇÃO

Devemos ter em mente que a palavra "Trindade" não deve ser procurada na bíblia
como um termo que será passível de ser achado, pois é um termo cunhado
historicamente ao longo do estabelecimento da igreja, ao qual significa que "Deus é
três em um" ou "Deus em três pessoas", a fé cristã resplandece a fé no Deus trino.

O cunho trindade deve ser salientado como um termo que especifica uma doutrina
bíblica, pois apesar do termo "trindade" não ser encontrado a na bíblia a doutrina que
ele significa está expressa seja no Antigo Testamento ou no Novo Testamento, apesar
de sua maior claridade está expressa nos escritos apostólicos. O Credo Assembléias
de Deus afirma:

CREMOS , professamos e ensinamos o monoteísmo bíblico, que Deus é


uno em essência ou substância; indivisível em natureza e que subsiste
eternamente em três pessoas — o Pai; o Filho e o Espírito Santo, iguais
em poder, glória e majestade e distintas em função, manifestação e
aspecto: “Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome
do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19). As Escrituras
Sagradas claramente revelam que a Trindade é real e verdadeira. Uma só
essência, substância, em três pessoas. Cada pessoa da santíssima
Trindade possui todos os atributos divinos — onipotência, onisciência,
onipresença, soberania e eternidade.5 A Bíblia chama textualmente de
Deus cada uma delas;6 as Escrituras Sagradas, no entanto, afirmam que
há um só Deus e que Deus é um: "Todavia para nós há um só Deus" (1
Co 8.6); "mas Deus é um" (Gl 3.20); "um só Deus e Pai de todos, o qual
é sobre todos, e por todos, e em todos" (Ef 4.6).1

Nele seguimos e acreditamos como um aspecto central da ortodoxia da igreja, todo


aquele que negar a trindade está negando a divindade de alguma das três pessoas,
portanto está dividindo a unidade de Deus e cometendo grave heresia, logo todo
aquele que nega esta doutrina não é parte do corpo de Cristo. Portanto devemos
sempre afirmar e defender esta doutrina histórica, preservando sua alegação bíblica
que Deus é uma trindade em unidade.

1
SILVA, Esequias Soares Da. Cgadb (org.). Declaração de Fé: Jesus salva, cura, batiza no Espírito
Santo e em breve voltará. 6. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p. 39.
2. TRINDADE EM UNIDADE

A) HISTORICIDADE E PROVAS BÍBLICAS DA DOUTRINA DA


TRINDADE

Vimos que a doutrina da Trindade é importante para compreendermos a Deus, para


isto quero definir esta doutrina como: "Deus existindo eternamente como três pessoas
distintas: Pai, Filho e Espírito Santo, sendo cada uma delas plenamente Deus. Só
existe um Deus".

Devemos ter em mente que a doutrina da trindade foi sendo desenvolvida ao longo
dos séculos, vemos provas bíblicas de sua existência desde o Antigo Testamento, mas
o termo "Trindade" só surge a partir de Tertuliano, que formula a doutrina, mas de
maneira deficiente. Orígenes foi ainda mais longe ao propor uma trindade com
subordinação em essência do Pai ao Filho, que serviu de base ao arianismo - Doutrina
herética que veremos em outra seção - e também para outras heresias como o
Monarquianismo modalista e o triteísmo. A partir do século IV a igreja começa a
formular uma doutrina da Trindade coerente, vemos que o Concílio de Nicéia (325
d.C) declarou que o Filho é co-essencial com o Pai, enquanto o Concílio de
Constantinopla (381 d.C) afirmou a divindade do Espírito. No Oriente a doutrina da
Trindade encontrou a sua proposição mais completa na obra de João de Damasco, e
no Ocidente, na grande obra de Agostinho, De Trinitate.

Esclarecida as bases histórica da doutrina da Trindade, é importante vermos a questão


da personalidade de Deus e a Trindade, vimos a doutrina da Teontologia como os
atributos comunicáveis de Deus exprimem a Sua personalidade, pois O revelam como
um Ser moral, bem como racional. Berkhof destaca:

[...] é da maior importância sustentar a verdade da personalidade de


Deus, pois, sem ela não pode haver religião no real sentido da palavra:
nem oração, nem comunhão pessoal, nem entrega confiante, nem
confiante esperança. Visto que o homem foi criado à imagem de Deus,
podemos compreender algo da vida pessoal de Deus pela observação da
personalidade como a conhecemos no homem. 2

Contudo, precisamos ter cuidado para não estabelecer a personalidade humana como
padrão pelo qual avaliar a personalidade de Deus, afinal Deus é perfeito e o homem é
imperfeito. Devemos entender que Deus é tripessoal, enquanto o homem é unipessoal.
Berkhof argumenta, ao utilizar Shedd, sobre a necessidade do Ser divino ser tripessoal
quando afirma:

2
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo. Cultura Cristã, 2001, p. 77.
E esta existência tripessoal é uma necessidade do Ser Divino, e em
nenhum sentido resulta de uma escolha feita por Deus, Ele não poderia
existir em nenhuma outra forma que não a forma tripessoal. Esta verdade
tem sido defendida de várias maneiras. Uma argumentação muito comum
em seu favor provém da própria ideia de personalidade. Shedd baseia o
seu argumento na auto consciência geral do Deus triúno, como distinta
da autoconsciência individual e particular de cada uma das Pessoas da
Divindade, pois na autoconsciência o sujeito tem que se conhecer a si
mesmo como objeto, e também percebe que o faz. Isso é possível em Deus
em razão de Sua existência trina. Argumenta Shedd que Deus não
poderia contemplar-se a Si mesmo, conhecer-se e comunicar-se Consigo
mesmo, se não fosse trino em sua constituição.3

Também é salientado que o contato com as criaturas não pode ser explicativo da
personalidade divina, vide que isto colocaria Deus como dependente de sua criação,
portanto em virtude da existência do ser tripessoal em Deus, há uma infinita plenitude
da vida divina Nele.

A doutrina da Trindade, de um Deus tripessoal, pode ser salientado pela Bíblia,


primeiramente no Antigo Testamento, de uma maneira parcial, e no Novo Testamento
de uma maneira completa, verificamos isto pelos seguintes versículos na tabela abaixo

ANTIGO TESTAMENTO NOVO TESTAMENTO

Gênesis 1:26 Mateus 3:16-17

Gênesis 3:22 Mateus 28:19

Gênesis 11:7 1 Coríntios 12:4-6

Salmos 45:6-7 2 Coríntios 13:14

Salmo 110:1 Efésios 4:4-6

Isaías 6:8 1 Pedro 1:2

Isaías 63:10 Judas 1:20-21

Vemos que desde o Antigo Testamento Deus se manifesta a si mesmo em uma


combinação de singular, unidade, e plural, relativo às pessoas. Também vemos
passagens aos quais uma pessoa é chamada de “Deus” ou “o Senhor” e se distingue de
outra pessoa que também se identifica como Deus. Temos a revelação completa desta
doutrina no Novo Testamento, principalmente pelas palavras de Cristo e seus
apóstolos, pois Jesus fala que após sua ascensão viria um “semelhante” a ele, ao qual
traria consolo aos apóstolos e os lembraria de todas as coisas. Vemos que o final do
3
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo. Cultura Cristã, 2001, p.77.
evangelho de Mateus é ordenado que se façam discípulos de todas as nações e os
batizem em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mateus 28:19).

Grudem, também nos oferece um ótimo exemplo da doutrina da Trindade nos escritos
do Novo Testamento quando diz:

Quando percebemos que os escritores do Novo Testamento geralmente


usam o nome de “Deus” (do grego, Theos) para se referir a Deus Pai e o
nome “Senhor” (grego, Kyrios) para se referir a Deus Filho, então fica
claro que existe uma expressão trinitária em 1 Coríntios 12:4-6: “Há
diferentes tipos de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diferentes tipos de
ministério, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes formas de atuação,
mas é o mesmo Deus quem efetua em tudo em todos”. 4

Também vemos que todas as três pessoas da Trindade são mencionadas juntas no
parágrafo que abre a carta de 1 Pedro: “Escolhidos de acordo com o
pré-conhecimento de Deus Pai, pela obra santificadora do Espírito, para a obediência
a Jesus Cristo e aspersão do seu sangue” (1 Pedro 1:2).

B) EXPLANAÇÃO DA DOUTRINA DA TRINDADE

Para compreendemos melhor a doutrina da Trindade, trabalhemos com base em três


afirmações que nos guiarão para um todo desta doutrina, segue abaixo as três
afirmações sobre a Trindade:

1. Há um só Deus
2. Deus é Três Pessoas
3. Cada Pessoa é plenamente Deus

Assim, temos estas três afirmações que baseiam a doutrina ortodoxa da Trindade,
qualquer afirmação que contradiga ou fuja deste três pontos é um erro herético e já
condenado historicamente pelos concílios.

O primeiro ponto que devemos trabalhar é o “Há um só Deus”, ou seja, Deus em


essência é uma unidade. Sobre isto, Grudem afirma:

A bíblia é extremamente clara sobre o fato de que existe um único Deus.


As três pessoas distintas da Trindade são uma não somente em propósito
ou concordância sobre o que pensam, mas são uma em essência, uma em

4
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática ao alcance de todos. 1 ed. Rio de Janeiro. Thomas
Nelson Brasil. 2019, p. 152.
sua natureza essencial. Em outras palavras, Deus é um só ser. Não há
três Deuses, apenas um Deus. 5

Tal afirmação não nega o monoteísmo, entretanto devemos salientar sempre a


unicidade divina firmada em três pessoas, ou seja uma unidade com pluralidade em
pessoas. Relembramos que há no Ser Divino apenas uma essência indivisível (ousia,
essentia). Deus é um em Seu ser essencial, ou seja, em Sua natureza constitucional,
isto é defendido pelos primeiros pais da igreja, apesar de naquele momento histórico
empregarem o termo "substantia" (Substância) como sinônimo de "essentia".
Entretanto, atualmente usamos o termo essência para tal designação, pois
“substância” denota possibilidade latente do ser, já essência denota o ser ativo, sendo
o primeiro um termo material e o segundo um termo espiritual.

Vemos também que a unidade da essência do Ser divino, ou seja, sua natureza é
ressaltada biblicamente quando é dito: "Ouça ó Israel, o Senhor, o nosso Deus, é o
único Senhor. Ame o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas
as suas forças" (Deuteronômio 6:4-5).

O segundo ponto que iremos trabalhar é "Deus é Três Pessoas", ao qual afirmamos
na doutrina da Trindade a existência do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Dentro
desta doutrina alguns defendem o uso da palavra subsistência ou mesmo distinção,
mas iremos usar o termo "pessoas" para facilitação da linguagem teológica.

Devemos compreender que existe distinção em Deus, no caso O Pai não é o Filho,
nem é o Espírito, da mesma forma o Filho não é o Espírito, nem tampouco é o Pai e
o Espírito não é o Filho, nem mesmo o Pai, assim são pessoas distintas dentro da
unidade de Deus. Essa pluralidade na unidade é ressaltada por Rodman Williams ao
afirmar:

No AT, não há referência distinta à existência de Deus em três pessoas.


Indicações disso, porém, podem ser encontradas, primeiramente, no nome
de Deus como Elohim. “No princípio Deus [Elohim] criou” (Gn 1.1).
Elohim é um substantivo plural e, ainda que não contenha nenhuma
declaração específica à Trindade, é bem possível que esteja implícita uma
pluralidade de pessoas. Também o palavreado de Gênesis 1.26: “façamos
o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” insinua, ainda
mais, uma pluralidade em Deus.6

Quando falamos "pessoa" ou mesmo "subsistência" não estamos nos referindo a um


indivíduo distinto e separado, em quem a natureza é individualizada, mas antes

5
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática ao alcance de todos. 1 ed. Rio de Janeiro. Thomas
Nelson Brasil. 2019, p. 159.
6
WILLIAM, J. Rodman. Teologia Sistemática. Uma Perspectiva Pentecostal. 1 ed. São Paulo.
Editora Vida. 2011. p. 72.
estamos falando das auto-distinções pessoais dentro da essência divina, podemos
dizer então três diferentes modos de existência do Ser divino. Nisto concorda
Berkhof:

Geralmente se admite que a palavra “pessoa” é apenas uma expressão


imperfeita da idéia. Na linguagem comum ela designa um indivíduo
racional e moral separado, dotado de consciência própria, e consciente da
sua identidade em meio a todas as mudanças. A experiência ensina que
onde temos uma pessoa, temos também uma essência individual distinta.
Toda pessoa é um indivíduo distinto e separado, em quem a natureza é
individualizada. Mas em Deus não há três indivíduos justapostos e
separados uns dos outros, mas somente auto-distinções pessoais dentro da
essência divina, que é não só genericamente, mas também
numericamente, uma só. Consequentemente, muitos preferiram falar de
três hipóstases em Deus, três diferentes modos, não de manifestação,
como ensinava Sabélio, mas de existência ou de subsistência.7

Enfatizamos que Deus é três com respeito às suas pessoas, isso quer dizer que cada
uma delas tem a mesma essência como Deus e Cada uma delas possui a plenitude de
Deus. Afinal, conforme vimos na citação de Berkhof, existem três auto distinções
individuais junto a essência de Deus.

O terceiro ponto é "Cada Pessoa é plenamente Deus", aqui queremos salientar que
a essência divina é única, não composta, não são três pessoas que compõem um
Deus, mas antes cada pessoa é plenamente divina, ou seja, cada Pessoa é plenamente
Deus.

Primeiramente, a compreensão que o Pai é Deus já é clara desde o Antigo


Testamento, vemos que isto é dito desde o primeiro verso de Gênesis. O fato
seguinte indica que o filho é plenamente Deus, vemos que João é o maior defensor
dessa doutrina quando recita sobre a "Palavra que estava com Deus, e era Deus".
Além disso o Espírito Santo é plenamente Deus, pois vemos que quando Ananias e
Safira cometem o pecado e mentem ao Espírito Santo, Pedro fala que eles mentiram
para Deus em referência ao Espírito Santo (Atos 5:3-4).

Vemos que essa essência una em três pessoas é ressaltada por Berkhof:

A natureza divina distingue-se da natureza humana em que pode subsistir


total e indivisivelmente em mais de uma pessoa. Enquanto que três
pessoas humanas têm apenas unidade de natureza ou essência, isto é,
participam da mesma espécie de natureza ou essência, as pessoas da

7
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo. Cultura Cristã, 2001, p.80.
Divindade têm unidade numérica de essência, isto é, possuem a mesma
essência, essência idêntica.8

Também vemos como a própria Identidade dada a Deus traz à tona a realidade do
relacionamento dentro da Trindade. Afinal o Pai requer necessariamente
paternidade, conforme ressalta Rodman Williams:

[...] é importante observar que “Pai” não é só um nome para Deus. A


palavra indica uma realidade de relacionamento. Ser pai significa ser
alguém que gera outro; caso contrário, não há paternidade. Deus como
Pai, por conseguinte, assume um novíssimo significado no NT em dois
aspectos. Primeiro: diz-se que Deus é Pai de Jesus Cristo num sentido
ímpar: “Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 15.6; 2Co 1.3 e
outros trechos). Isso é compreendido não simplesmente no sentido
temporal, mas como um relacionamento eterno (v., e.g., Jo 17.1-4).
Segundo: ele é também “Deus nosso Pai” (Rm 1.7; ICo 1.3 e outros
trechos), designação indicativa de que em virtude de termos “nascido de
novo” somos seus filhos, fomos adotados em sua família. Repetindo,
“Deus o Pai” não é apenas um nome possível entre outros: é a
designação sem igual que declara seu relacionamento tanto com Jesus
Cristo como com todos os que chegaram à vida nele.9

Portanto, neste relacionamento, Pai, Filho e Espírito Santo são a mesma essência,
mas diferentes pessoas. A inteira essência, indivisa, pertence a cada uma das três
pessoas, assim sendo consubstanciais. Temos aqui uma questão sobre a questão da
geração de Cristo, pois é dito que ele é "gerado", mas devemos entender isto no
sentido de relacionamento e não no sentido de essência divina, ou mesmo de
inferioridade, pois cada pessoa é Deus, portanto tem todas as características do Ser
Divino. Rodman Williams ressalta:

Portanto, seja o que for que se diga sobre o Pai gerando o Filho e o
Espírito procedendo do Pai, não se deve entender como se o Filho e o
Espírito recebessem a sua essência ou o seu ser do Pai. O que é gerado ou
procedente não é a essência, mas a pessoalidade. A geração e a processão
são eternas; desse modo, o relacionamento é inerente à realidade divina
única. Isso é às vezes designado como perichoresis (ou “coinerência”) das
pessoas, e então se diz que as três pessoas estão uma nas outras e se
interpenetram mutuamente. Cada uma das pessoas, por conseguinte,
contém a totalidade da Divindade e é o único e indiviso Deus.10

8
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo. Cultura Cristã, 2001, p. 80-81.
9
WILLIAM, J. Rodman. Teologia Sistemática. Uma Perspectiva Pentecostal. 1 ed. São Paulo.
Editora Vida. 2011. p. 74.
10
WILLIAM, J. Rodman. Teologia Sistemática. Uma Perspectiva Pentecostal. 1 ed. São Paulo.
Editora Vida. 2011. p. 78.
Assim, também devemos entender que as três pessoas são iguais em autoridade, mas
que há uma certa ordem na Trindade Ontológica quanto a existência das suas
pessoas. O Pai é a primeira pessoa, o Filho é a segunda, e o Espírito Santo é a
terceira. Essa ordem não é de questão temporal ou de dignidade essencial, mas
somente a ordem de derivação lógica que vai concorrer na questão da economia da
Trindade, que é relativo aos ofícios dentro do plano divino para cada pessoa da
Trindade, algo que veremos nas próximas seções.

Por fim, queremos concluir essa seção dizendo que a Trindade é um grande mistério
para nós, ela é uma doutrina existente porém que não podemos compreender em
totalidade por se tratar do Ser Divino, portanto devido nosso limitado conhecimento
devemos ser humildes e tentar sempre compreender que esta doutrina é correta, mas
jamais poderemos a expressar em termos humanos da maneira mais apropriada
possível, pois isto é uma questão do relacionamento da Trindade com o Ser essencial
de Deus.

DIAGRAMA DA TRINDADE SANTA 11

11
ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. 1 ed. São Paulo. Editora Batista Regular. 2016, p.225 -
imagem adaptada do diagrama.
3. PERCEPÇÕES ERRADAS SOBRE A TRINDADE

Na seção anterior vimos as três afirmações que traçam a doutrina da Trindade, ao


longo da história da igreja surgiram percepções erradas que geralmente negavam
algum dos pontos anteriormente salientado, então para que evitemos tais erros
heréticos devemos aqui destacar tais percepções erradas sobre a Trindade.

MODALISMO

O modalismo afirma que existe uma única pessoa que se revela a nós em três
modos diferentes. Assim, há a negação de que Deus é três pessoas, mas antes que
Ele é só uma pessoa com três formas de manifestação diferentes. No Antigo
Testamento Deus se apresentou como Pai, no Novo Testamento como o Filho,
depois do Pentecoste como o Espírito Santo.

PROBLEMA

A falha fatal do modalismo ao querer destacar que há um só Deus é a negação das


três pessoas e de seu relacionamento tão diretamente citado pela própria Bíblia. Isso
também tira a distinção dentro da Trindade, assim criando ilusões sobre as pessoas
nas passagens que elas se relacionam. Podemos dizer que a ideia do Filho
intercedendo diante do Pai se perde, assim, de forma final, o modalismo acaba
descartando o âmago da expiação.

ARIANISMO

Este ensinamento nega a divindade plena do Filho e do Espírito Santo. O


termo “arianismo” vem de Ário, bispo de Alexandria cuja idéias foram condenadas
no Concílio de Nicéia em 325 d.C. Seu ensinamento consiste que o Filho em algum
momento foi criado por Deus Pai, antes disso, nem o Filho, nem o Espírito,
existiam, mas somente o Pai. Assim, embora o Filho seja um ser celestial ele não é
igual ao Pai em todos os seus atributos.

PROBLEMA

A falha fatal do arianismo está em tirar a divindade plena do Filho e do Espírito,


assim somente há Deus o Pai, isto afetaria diretamente o relacionamento das
pessoas da Trindade, isso também criaria uma doutrina de subordinacionismo,
portanto o Filho seria inferior ao Pai quanto ao seu “ser”. Tais ideias foram
consideradas heréticas.
TRITEÍSMO

O Triteísmo nega que há um só Deus. Uma maneira final possível de tentar uma
harmonização fácil do ensino bíblico sobre a Trindade seria negar que há um só
Deus. O resultado é a doutrina que Deus é três pessoas e que cada pessoa é
plenamente Deus, mas que Deus não é um só. Assim, teríamos três deuses.

PROBLEMA

A falha fatal do Triteísmo está em tornar o cristianismo politeísta e destruir o senso


de unidade no Ser Divino. Esse pensamento anularia a unidade divina, portanto não
haveria uma adoração unificado ao verdadeiro Deus, mas antes não teríamos um
senso de unidade na nossa lealdade. Também tornaria Deus um ser composto, e
divisível.

4. A FUNÇÃO DAS TRÊS PESSOAS DA TRINDADE

Abordamos sobre o que é a Trindade em Unidade, expusemos algumas heresias e seus


problemas, agora falaremos de cada pessoa individualmente e seus ofícios, ou
funções, dentro da Trindade. Vimos que são três pessoas distintas, mas a distinção
também é atribuída à questão do ofício de cada Pessoa dentro do plano de Deus.

Primeiro trabalharemos o conceito de Trindade econômica, ou economia na


Trindade,ao qual podemos definir como: A Economia da Trindade está diretamente
ligada às maneiras que as três pessoas se relacionam com o mundo dentro do plano
divino e também entre Si. Diferente da Trindade Ontológica, que diz respeito ao Ser
Divino, ao qual dizemos que as três pessoas são iguais em natureza, ou seja,
plenamente Deus, na economia falamos sobre as atividades destas Trindade. De
maneira simplista, a ontologia lida com a natureza do Ser de Deus, ou seja, o que
Deus é, enquanto a economia lida com o ofício da Trindade, ou seja, o que Deus faz.

Por Trindade Econômica, significamos a Trindade tal como se manifesta no mundo,


especialmente na redenção do pecador. Existem três obras adicionais, se assim
podemos descrever, que são atribuídas à Trindade, a saber, a Criação, a Redenção e a
Santificação.Encontramos nas Escrituras que o plano da redenção toma a forma de um
pacto, não só entre Deus e o Seu povo, como também entre as várias Pessoas dentro
da Trindade, de maneira que há, por assim dizer, uma divisão de tarefas, cada Pessoa
tomando, voluntariamente, determinada fase da obra. Berkhof assinala que:

Há uma certa ordem na Trindade ontológica.Quanto à subsistência


pessoal o Pai é a primeira pessoa, o Filho é a segunda, e o Espírito Santo
é a terceira. Mal se precisa dizer que esta ordem não pertence a nenhuma
prioridade de tempo ou de dignidade essencial, mas somente à ordem de
derivação lógica.12

Vemos então que existe uma ordem na Trindade que é compatível com a economia
dela, vemos que cada pessoa tem um papel específico e voluntário dentro do seu
pacto. Wayne Grudem cita um magnífico exemplo da economia da Trindade na
criação quando afirma que:

Nós percebemos essas funções diferentes na obra da criação. O Pai fala


as palavras criativas para gerar o universo, mas foi o Filho, a Palavra
eterna de Deus, que executou esses decretos de criação. "Todas as coisas
foram feitas por intermédio dele, sem ele, nada do que existe teria sido
feito" (João 1:3; cf. tb. 1 Coríntios 8:6; Colossenses 1:16; Hebreus 1:2).
O Espírito Santo também estava agindo de forma diferente,
"movendo-se" ou "pairando" sobre a face das águas (Gênesis 1:2),
aparentemente sustentando e manifestando a presença imediata de Deus
em sua criação (cf. Salmos 33:6, em que, talvez, "sopro" devesse ser
traduzido por "Espírito";cf. tb. Salmos 139:7).13

Também vemos a economia da Trindade na própria obra de redenção do homem,


vemos que o Pai planejou a redenção e enviou o seu Filho ao mundo (João 3:16;
Gálatas 4:4, Efésios 1:9-10). O Filho obedeceu ao Pai e efetuou a redenção por nós
(João 6:38; Hebreus 10:5-7). Deus Pai não veio e morreu por nossos pecados, nem o
Espírito Santo de Deus. Essa foi a obra particular do Filho, apesar de também não
excluirmos o conjunto das três pessoas em cada obra, mas vemos que a ordem
essencial de certa obra está em uma das Pessoas. Então logo depois Jesus ascendeu
aos céus e no dia de Pentecoste o Espírito Santo foi enviado pelo Pai e pelo Filho para
nos ministrar a redenção (João 14:26).

Apesar da proeminência de uma das Pessoas para algum ofício, ou obras da Trindade
que se manifesta exteriormente, sempre são feitas em conjunto mas com destaque
para algum pessoa específica da Trindade em ordem econômica. Berkhof assinala
que:

Ao mesmo tempo, é verdade que, na ordem econômica das obras de Deus,


algumas das obras ad extra são atribuídas mais particularmente a uma
pessoa, algumas mais especialmente a outra, e assim com cada uma das
três pessoas divinas. Conquanto sejam obras das três pessoas
conjuntamente, atribui-se a criação primariamente ao Pai, e redenção ao
Filho e a santificação ao Espírito Santo. Esta ordem das operações

12
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo. Cultura Cristã, 2001, p. 81.
13
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática ao alcance de todos. 1 ed. Rio de Janeiro. Thomas
Nelson Brasil. 2019, p. 167.
divinas indica a ordem essencial de Deus e forma a base daquilo que
geralmente se conhece como Trindade econômica.14

A importância de entender a economia da Trindade também nos faz entender a


distinção das Três Pessoas em seus ofícios quanto ao mundo e sua relação entre Si. A
seguir veremos algumas tabelas ressaltando a diferença entre Pai, Filho e Espírito
Santo para compreendermos melhor a economia da Trindade.

PAI (PRIMEIRA PESSOA DA TRINDADE)

O nome "Pai" é sempre empregado com relação a Deus Triúno, sendo


particularmente referido a primeira pessoa da Trindade, em que a obra da criação é
mais especialmente atribuída na Escritura. Sua propriedade distintiva pessoal
consiste que Ele não é gerado, e que também consiste na geração do Filho e na
espiração do Espírito Santo. A obra peculiar do Pai é a da geração ativa. Vemos
também que o Pai é descrito em primeiro plano, quanto as suas obras externas ao
ser essencial, planejando a redenção ao qual seu Filho era designado a missão,
também vemos o Pai nas obras da criação e da providência em seus estágios iniciais
em maior destaque.

FILHO (SEGUNDA PESSOA DA TRINDADE)

O nome "Filho" tem sua aplicação a segunda pessoa da Trindade, isto indica sua
divindade, assim como o "Filho do Homem" indica também sua humanidade.
Temos que defender a subsistência pessoal do Filho contra os modalistas, que
negam as distinções pessoais da Divindade, sendo a imagem expressa de Deus. A
propriedade característica do Filho consiste que Ele é eternamente gerado do Pai
(resumidamente denominada filiação) e toma parte com o Pai na espiração do
Espírito. A doutrina da geração do Filho é sugerida no contexto de relacionamento
da Trindade, apontando a relação do Pai e o Filho um com o outro, tal geração é um
ato necessário (não livre, pois isto tornaria Jesus um ser criado e contingente da
existência do Pai) e perfeitamente natural de Deus, sendo portanto um ato eterno do
Pai, sendo um ato atemporal. O filho dentro da Trindade ocupa o segundo lugar nas
obras exteriores, pois todas as coisas provêm do Pai mediante o Filho. Aplica-se
também à obra de redenção, realizando mais particularmente em Sua encarnação,
em Seus sofrimentos e em Sua morte.

14
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo. Cultura Cristã, 2001, p. 82.
ESPÍRITO SANTO (TERCEIRA PESSOA DA TRINDADE)

O "Espírito Santo" é o nome aplicado à terceira pessoa da Trindade, tendo


personalidade a partir da sua designação como Consolador, tendo a si atribuídas
características de inteligência, vontade, criação, intercessão e vivificação dos
mortos. A espiração é a propriedade pessoal do Espírito Santo, sendo a
comunicação oriunda do Pai e do Filho e isto faz o Espírito ter a mais estreita
relação possível com ambas as pessoas da Trindade. A obra do Espírito Santo na
economia divina está na tarefa especial em levar a completação da obra divina a
criatura e nela, ou seja, o ministério de convencer o homem do pecado, da justiça e
do juízo. O Espírito também preparou a qualificação de Cristo para obra mediadora,
além do seu corpo, vemos que a inspiração das Escrituras também foi seu ofício,
além da própria formação e aumento da igreja com o devido direcionamento e
ensino presente no corpo místico de Cristo.

Concluímos que a Trindade Ontológica e Econômica são os entendimentos ortodoxos


baseados no credo da igreja apostólica, nos concílios dos pais da igreja e assim
devemos compreender a obra da Trindade gloriosa, sendo Deus um em essência, mas
três pessoas plenamente divinas.

QUESTÕES

1) o termo Trindade é encontrado na bíblia? Justifique a importância desta


doutrina.

2) Fale a importância da igreja no desenvolvimento histórico da doutrina da


Trindade.

3) Traga provas da doutrina da Trindade no Antigo Testamento e no Novo


Testamento.

4) Quais são as três afirmações da doutrina da Trindade? Explique cada uma


delas.

5) O que é o modalismo? Qual o problema desta doutrina?

6) O que é arianismo? Qual o problema desta doutrina?

7) O que é o Triteísmo? Qual o problema desta doutrina?

8) O que é Trindade Ontológica e Trindade econômica.


CRISTOLOGIA
No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. Ela
estava com Deus no princípio.Todas as coisas foram feitas por intermédio
dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito. Nele estava a vida, e esta era
a luz dos homens. A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram.
João 1:1-5

1. INTRODUÇÃO

Cristo é um ser histórico, vemos que a datação histórica moderna dos calendários
ocidentais é dividido em A.C e D.C, tamanha influência na história revela a
importância de Jesus para a humanidade, entretanto os homens modernos atualmente
tendem a negar a divindade de Cristo, classificando-o como um revolucionário, um
hippie, um comunista, um bom homem, mas há um esquecimento sobre a pessoa de
Jesus como Deus-Homem e de seu propósito enquanto encarnado que está
diretamente ligado a redenção do mundo.

Devemos compreender que Cristo é eterno, pois é Deus, portanto devemos ter em
mente que Jesus sempre existiu, Ele É. Vemos algumas manifestações suas ao longo
do Antigo Testamento, geralmente como O ANJO DO SENHOR, ao qual atribuímos
o nome de Teofania. O próprio Jesus afirma o "Eu sou" antes que Abraão existisse
(João 8:58). A Declaração de Fé da Assembléia afirma sua crença ao dizer:

CREMOS, professamos e ensinamos que o Senhor Jesus Cristo é o


Filho de Deus e o único mediador entre Deus e os seres humanos,
enviado pelo Pai para ser o Salvador do mundo, verdadeiro homem e
verdadeiro Deus: "e dos quais é Cristo, segundo a carne, o qual é sobre
todos, Deus bendito eternamente. Amém" (Rm 9.5). Cremos na
concepção e no nascimento virginal de nosso Senhor Jesus Cristo,
conforme as Escrituras Sagradas e anunciado de antemão pelo profeta
Isaías, e que ele foi concebido pelo Espírito Santo no ventre da virgem
Maria. Gerado do Espírito Santo no ventre dela, nasceu e viveu sem
pecado: “como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado" (Hb 4.15);
que foi entregue nas mãos dos pecadores para ser crucificado pelos
nossos pecados, mas ressuscitou corporalmente dentre os mortos ao
terceiro dia e ascendeu ao céu, onde está à direita do Pai, e de onde
intercede por nós e voltará para buscar a sua Igreja. 1

Nisto cremos e afirmamos, assim também devemos defender a natureza de Cristo,


sendo ele Deus-Homem. Professamos e acreditamos em um Cristo que tem poder para

1
SILVA, Esequias Soares Da. Cgadb (org.). Declaração de Fé: Jesus salva, cura, batiza no Espírito
Santo e em breve voltará. 6. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p. 49.
expiar pecados, ao qual mesmo sendo homem não teve qualquer pecado, sendo
condenado a morte de cruz, mas ressuscitou corporalmente glorificado e ascendendo a
destra do Pai e em breve voltará.

2. PROFECIAS ACERCA DE CRISTO

Jesus foi prometido ao longo de uma ampla história, vemos que a primeira profecia
acerca de um redentor ungido se encontra em Gênesis, quando Deus promete que um
da descendência da mulher ferirá a cabeça da serpente (Gênesis 3:15), ao qual
chamamos de proto-evangelho, pois já anunciava o Messias. Vemos que ao longo do
tempo a promessa vai se estendendo e passa por Noé, Abraão, Isaque, Jacó, Moisés,
Davi, Isaías entre outros homens até chegar ao nascimento de Cristo.

A promessa do nascimento de Cristo já é surpreendente, pois ele deveria nascer de


uma virgem, sendo descendente de Sem, de Abraão, de Isaque, de Jacó (Israel), de
Judá da linhagem do Rei Davi, ou seja, vemos que antes mesmo de nascer como
homem Cristo já vinha sendo preparado pela linhagem do povo de Deus, isto é uma
providência divina para que o Messias nascesse conforme todos estes critérios
predefinidos por Deus ao longo da história.

Vemos que Cristo cumpre com perfeição tais profecias do Antigo Testamento, tendo
um precursor que anunciaria seu caminho, vulgo João Batista, realizando com êxito
sua missão de pregar as boas-novas e seu ministério de levar as enfermidades alheias.
Ao longo de sua vida o seu ensino é preservado pelos apóstolos e também repassado
ao longo do seu ministério terreno, ele também cumpre a entrada triunfal em
Jerusalém ao qual é recebido com "Hosanas" pela multidão, após algum tempo é
rejeitado, crucificado e morto, mas a morte não pode tragar o Senhor, por isso o Pai o
ressuscitou em Glória. Assim, Jesus é aquele que é chamado o Filho do Homem, ou o
Filho de Deus.

A primeira doutrina que devemos afirmar dentro da cristologia é o nascimento


virginal de Cristo, ao qual possibilita a união entre a natureza divina e a natureza
humana, entretanto Jesus não herda a natureza pecaminosa do homem, isto
salientamos, Wayne Grudem também concorda conosco quando afirma:

O nascimento virginal de Cristo é uma lembrança incontestável do fato de


que a salvação não tem como surgir do esforço humano, mas surge,
necessariamente, da obra sobrenatural de Deus.2

Portanto, ao termos em mente doutrina do nascimento virginal podemos apresentar


algumas profecias necessárias ao Messias.

2
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática ao alcance de todos. 1 ed. Rio de Janeiro. Thomas
Nelson Brasil. 2019, p. 338.
A tabela a seguir demonstrará as profecias sobre Jesus no Antigo Testamento:

PROFECIAS SOBRE CRISTO NO ANTIGO TESTAMENTO 3

TÓPICO PROFECIA PASSAGEM

LINHAGEM DE Nascimento virginal Gênesis 3:15


CRISTO Descendência de Sem Gênesis 9:26
Descendência de Abraão Gênesis 12:2
Descendência de Isaque Gênesis 17:19
Descendência de Jacó Gênesis 25:23; 28:13
Descendência de Judá Gênesis 49:10
Descendência de Davi 2 Samuel 7:12-16

NASCIMENTO DE Maneira de Nascimento Isaías 7:14


CRISTO Local do Nascimento Miquéias 5:2

VIDA DE CRISTO Seu precursor Isaías 40:3


Sua missão Isaías 61:1
Seu ministério Isaías 53:4
Seu ensino Salmo 78:2
Sua apresentação Zacarias 9:9
Sua rejeição Salmo 118:22

MORTE DE CRISTO Uma morte dolorosa Salmo 22


Uma morte violenta Isaías 52-53

VITÓRIA DE CRISTO Sua ressurreição Salmo 16:10


Sua ascensão Salmo 68:18

REINO DE CRISTO Como Rei Soberano Salmo 2


Da Jerusalém exaltada Salmo 24
Com autoridade governamental Isaías 9:6-7
Em Justiça pacífica Isaías 11
Para uma restauração prazerosa Isaías 35:1-10

Assim, podemos prosseguir também declarando a doutrina de encarnação de Cristo,


pois através do ato de “se tornar carne”, vemos que o Eterno Filho de Deus advoga
para Si mesmo uma natureza adicional, ou seja, humana. Paul Enns afirma:

A palavra encarnação significa “em carne” e denota o ato pelo qual o


Eterno filho de Deus tomou para Si mesmo uma natureza adicional, a
humanidade, através do nascimento virginal. 4

3
Tabela adaptada. ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. 1 ed. São Paulo. Editora Batista
Regular. 2016, p. 253
4
ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. 1 ed. São Paulo. Editora Batista Regular. 2016, p.
256-257.
A encarnação cumpre uma série de profecias, ao qual listamos algumas na tabela a
seguir:

PROFECIAS CUMPRINDAS CONCERNENTES A CRISTO 5

TÓPICO PROFECIA DO AT CUMPRIMENTO NO NT

Descendência de Abraão Gênesis 12:2 Mateus 1:1 Gálatas 3:16

Descendência de Judá Gênesis 49:10 Mateus 1:2

Descendência de Davi 2 Samuel 7:12-16 Mateus 1:1

Nascimento Virginal Isaías 7:14 Mateus 1:23

Local de Nascimento: Miquéias 5:2 Mateus 2:6


Belém

Precursor: João Batista Isaías 40:3; Malaquias Mateus 3:3


3:1

Rei Números 24:17; Salmo Mateus 21:5


2:6

Profeta Deuteronômio Atos 3:22-23


18:15-16

Sacerdote Salmo 110:4 Hebreus 5:6-10

Levar os pecados do Salmo 22:1 Mateus 27:46


mundo

Ridicularizado Salmo 22:7-8 Mateus 27:39,43

Mãos e Pés transpassados Salmo 22:16 João 20:25

Nenhum dos ossos Salmo 22:17 João 19:33-36


quebrados

Zombaria dos soldados Salmo 22:18 João 19:24

Oração de Cristo Salmo 22:24 Mateus 26:39; Hebreus 5:7

Desfigurado Isaías 52:12 João 19:1

5
Tabela adaptada. ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. 1 ed. São Paulo. Editora Batista
Regular. 2016, p. 257
Açoites isaías 53:5 João 19:1,18

Ressurreição Salmo 16:10; 22:22 Mateus 28:6; Atos 2:27-28

Ascensão Salmo 68:18 Lucas 24:50-53; Atos 1:9-11

3. PESSOA DE CRISTO

A) HUMANIDADE DE CRISTO

Aprendida a doutrina da encarnação de Cristo, sendo ele Deus, devemos compreender


outro aspecto fundamental que é a humanidade de Jesus. Afinal quando afirmamos
que Deus se fez carne, estamos afirmando que Deus se fez homem.

Nós, como assembleianos, devemos assinar nosso credo que fala acerca da
humanidade de Cristo quando diz:

As Escrituras Sagradas apresentam diversas características humanas em


Jesus. O relato de sua infância enfoca o seu desenvolvimento físico,
intelectual e espiritual: “E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e
em graça para com Deus e os homens [...].E o menino crescia e se
fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre
ele” (Lc 2.40,52). O profeta Isaías anunciou de antemão sobre Emanuel:
"manteiga e mel comerá, até que ele saiba rejeitar o mal e escolher o
bem" (Is 7.15). Ele tornou -se homem para suprir a necessidade de
salvação da humanidade. O termo "Emanuel", que o próprio escritor
sagrado traduziu por ‫״‬DEUS CONOSCO" (Mt 1.23), mostra que Deus
assumiu a forma humana e veio habitar entre os homens: "E o Verbo se
fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do
Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade" (Jo 1.14).6

Paul Enns ressalta a importância da doutrina da humanidade de Cristo quando fala:

A doutrina da humanidade de Cristo é tão importante quanto a doutrina


da deidade de Cristo. Jesus teria que ser um homem se Ele fosse
representar a humanidade caída. Primeira de João foi escrita para
dissipar o erro doutrinário que nega a real humanidade de Jesus (cf. 1 Jo
4:2).7

6
SILVA, Esequias Soares Da. Cgadb (org.). Declaração de Fé: Jesus salva, cura, batiza no Espírito
Santo e em breve voltará. 6. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p. 50.
7
ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. 1 ed. São Paulo. Editora Batista Regular. 2016, p.258
Vemos que Jesus tinha um corpo humano, isto revela que ele nasceu como todos os
homens, apesar do sua concepção ser virginal, ele também se cansava como nós (João
4:6), ele tinha sede e fome (João 19:28 e Mateus 4:2), e seu auge de limitações quanto
ao seu corpo humano foi visto na cruz quando este perde a vida e parou de funcionar
da mesma forma que qualquer outro homem quando morre. Jesus também tinha uma
mente humana, pois passou por um processo de crescimento e aprendizado como as
demais pessoas (Lucas 2:52). Vemos que o nosso Cristo também tinha uma alma
humana e emoções humanas, vemos que seu espírito se perturba (João 13:21), ou seja,
tem ansiedade frente ao perigo, ele também chorou com a morte de seu amigo Lázaro.
Assim temos que salientar Jesus também como um homem, ao qual Rodman Williams
salienta:

Com isso Jesus expressa sua singularidade, aliás sua solidariedade, com
todas as pessoas. Ele não veio simplesmente para ministrar à
humanidade, mas veio como um ser humano, dando-se totalmente a seus
companheiros humanos. “Ele também participou dessa condição
humana” (Hb 2.14) e, ao participar e ministrar dessa forma, pôde
devotar-se totalmente a toda a humanidade. Com esse entendimento,
algumas palavras de Jesus assumem significado ainda maior, “pois nem
mesmo 0 Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a
sua vida em resgate por muitos” (Mc 10.45). Ele era o Homem em favor
de todos os homens. Podemos concluir esta seção acerca da
autodenominação de Jesus destacando que a expressão “0 Filho do
homem” sublinha a humanidade de Jesus. Aliás, isso poderia ser
considerado seu significado mais profundo.140 Assim como a expressão
“0 Filho de Deus” sublinha a deidade de Jesus, a expressão “0 Filho do
homem” sublinha sua humanidade.8

A humanidade de Jesus jamais deve ser esquecida, pois ele é O Filho do Homem,
aquele que representa toda a humanidade como o segundo Adão que veio trazer
redenção, caso neguemos isto acabaremos em um antiga heresia chamado
"Docetismo", bastante antiga, ao qual afirma que Cristo não foi humano, algo negado
veemente pelos apóstolos, principalmente por João em suas cartas.

B) DIVINDADE DE CRISTO

Tratamos da doutrina da humanidade de Cristo na seção anterior, agora trataremos da


doutrina da divindade (deidade) de Cristo, pois ele não é somente homem, mas Deus.
Temos em mente que a negação da divindade de Cristo constitui a heresia de nome
"ebionismo", e isto acarreta em sérias consequências para doutrina da expiação dos
pecados. Primeira devemos tratar que Cristo é Deus, ele não é como Deus, ou

8
WILLIAM, J. Rodman. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 1 ed. São Paulo.
Editora Vida. 2011. p. 285.
somente semelhante, ou uma das criaturas de Deus Pai, isto é uma heresia que a
ortodoxia já rejeitou em seus concílios.

Paul Enns afirma sobre a importância da Deidade de Cristo:

Um ataque à deidade de Jesus Cristo é um ataque sobre a pedra angular


do Cristianismo. No coração da crença ortodoxa está o reconhecimento
que Cristo morreu uma morte substitutiva para providenciar salvação
para a humanidade perdida. Se Jesus fosse somente um homem Ele não
poderia morrer para salvar o mundo, mas por causa da Sua deidade, Sua
morte tinha valor infinito em que Ele podia morrer pelo mundo inteiro. 9

As Escrituras também afirmam a deidade de Cristo, primeiro através dos seus nomes,
a tabela abaixo fala alguns nomes que são exclusivos da deidade e que são atribuídos
a Cristo:

NOMES DA DEIDADE

DEUS Hebreus 1:8; Salmo 45:6-7; João


20:28; Tito 2:13

SENHOR Mateus 22:44; Romanos 10:9-13;


Hebreus 1:10

FILHO DE DEUS João 5:25; João 5:18

Além dos seus nomes, ao qual são característicos da sua Deidade, temos também
alguns atributos que Cristo manifesta, aos quais são:

ATRIBUTOS DE CRISTO

ETERNIDADE ONIPOTÊNCIA ONISCIÊNCIA SOBERANIA IMUTÁVEL

João 1:1 Mateus 28:18 João 16:30 Marcos 2:5-7 Tiago 1:17

As obras de Cristo também atestam sua deidade, vemos que tudo que foi criado foi
por meio de Cristo (João 1:3), também vemos que ele sustenta todas as coisas
(Colossenses 1:16-17; Hebreus 1:3), além de ter poder de perdoar pecados, algo que
só Deus pode (Marcos 2:1-12), além de operar milagres que atestam sua própria

9
ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. 1 ed. São Paulo. Editora Batista Regular. 2016, p.261
deidade. Uma verdade fundamental também é Cristo como alguém que pode receber
adoração, algo que é propício somente ao Senhor, portanto isto é outro fator que atesta
sua deidade.

C) UNIÃO HIPOSTÁTICA

Vimos a doutrina da humanidade de Cristo e também de sua deidade, agora devemos


compreender com estas duas natureza interagem em Jesus, afinal ele é Deus-Homem,
isto é confirmado e ratificado no Credo de Nicéia, realizado na Bitínia (Atual
Turquia), em 325 d.C, declarando:

Creio em um Deus, Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra, e de


todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um Senhor Jesus Cristo, o
unigênito Filho de Deus, gerado pelo Pai antes de todos os séculos, Deus
de Deus, Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não
feito, de uma só substância com o Pai; pelo qual todas as coisas foram
feitas; o qual por nós homens e por nossa salvação, desceu dos céus, foi
feito carne pelo Espírito Santo da Virgem Maria, e foi feito homem; e foi
crucificado por nós sob o poder de Pôncio Pilatos. Ele padeceu e foi
sepultado; e no terceiro dia ressuscitou conforme as Escrituras; e subiu
ao céu e assentou-se à direita do Pai, e de novo há de vir com glória para
julgar os vivos e os mortos, e seu reino não terá fim. E no Espírito Santo,
Senhor e Vivificador, que procede do Pai e do Filho [2] , que com o Pai e
o Filho conjuntamente é adorado e glorificado, que falou através dos
profetas. Creio na Igreja una, universal e apostólica, reconheço um só
batismo para remissão dos pecados; e aguardo a ressurreição dos mortos
e da vida do mundo vindouro.10

A profissão de fé de Niceia atesta a humanidade e deidade de Cristo, sendo essencial


para entendermos a doutrina da União Hipostática. Essa doutrina condiz com a
afirmação da plena humanidade e deidade de Jesus de maneira combinada em uma
pessoa. Devemos ter em mente que Jesus é Deus, portanto ele tomou para si uma
natureza adicional na sua encarnação, ou seja, a natureza humana, afinal ele não
habitou simplesmente em uma pessoa humana, mas antes ele uniu sua natureza divina
a natureza humana, o resultado da união destas duas naturezas é Pessoa Teantrópica
(O Deus-Homem). Paul Enns explana acerca da união hipostática o seguinte:

As duas naturezas de Cristo são inseparavelmente unidas sem mistura ou


perda das identidades separadas. Ele permanece para sempre o

10
Traduzido de Schaff, Creeds of Christendom , 25-29. citado por A. A. Hodge, Outlines of
Theology , (Edinburgh, & Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, 1991), 116-117 e Epifânio,
Ancoratus c. 374 AD, 118 (citado por Henry Bettenson, Documentos da Igreja Cristã, 56).
Deus-Homem, totalmente Deus e totalmente homem, duas naturezas
distintas em uma Pessoa para sempre. 11

Para melhor esclarecimento desta doutrina, primeiro abordaremos algumas heresias


que surgiram e necessitam refutação ao longo da história da igreja.

CONCEPÇÕES ERRADAS SOBRE A PESSOA DE CRISTO

APOLINARISMO

CONCEPÇÃO

Doutrina formulada por Apolinário, bispo de Laodicéia, perto do ano 361. Seu
ensino consiste que a pessoa única de Cristo tinha um corpo humano, mas não uma
mente ou um espírito humano, pois estes vinham da natureza divina de Deus.

PROBLEMA

Jesus não pode SOMENTE ter um corpo humano, pois não é somente o corpo dos
homens que precisa de salvação, mas a própria mente e espírito humanos
precisavam ser redimidos, Cristo como representante da humanidade deveria então
ter uma mente humana e um espírito humano para salvar o homem. O Apolinarismo
foi rejeitado em vários concílios da igreja, desde o Concílio de Alexandria em 362
d.C até o Concílio de Constantinopla em 381 d.C

NESTORIANISMO

CONCEPÇÃO

Doutrina que defende a existência de duas pessoas separadas em Cristo, uma


humana e outra divina. Essa doutrina surge a partir de Nestório, apesar dele nunca
ter ensinado a doutrina propriamente dita, a partir de 428 d.C, mas devido alguns
conflitos pessoais e políticos acabou afastado da posição de bispo e seus ensinos
foram condenados.

PROBLEMA

Em nenhum lugar da bíblia temos a indicação que Jesus era composto por duas
pessoas distintas. Não temos indícios de uma pessoa humana independente e uma
pessoa divina independente, mas antes temos o retrato de uma unidade íntegra em
Jesus.

11
ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. 1 ed. São Paulo. Editora Batista Regular. 2016, p. 264
MONOFISISMO (EUTIQUIANISMO)

CONCEPÇÃO

Doutrina formulada por Êutico, cerca de 378-454 d.C, traz a visão que Cristo tinha
só uma natureza (do grego. monos, “um” e physis, “natureza). Êutico afirmava que
as duas naturezas eram mudadas de algum modo e surgia um terceiro tipo de
natureza, que era oriunda da mistura das natureza divina e humana ao interagirem
entre si.

PROBLEMA

Esta doutrina causa uma grande preocupação na igreja, pois ao defender um


“terceiro tipo de natureza” ela acabava negando a plena humanidade de Cristo e
também a plena divindade de Cristo, assim Jesus não poderia nem ser
verdadeiramente homem, nem verdadeiramente Deus, portanto, incapaz de
conquistar a nossa salvação.

A solução desta controvérsia veio no grande concílio eclesiástico na cidade de


Calcedônia, perto de Constantinopla (hoje chamada de Istambul), de 8 de outubro a 1º
de novembro de 451 d.C. A declaração de Calcedônia diz:

Todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um


só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à
divindade, perfeito quanto à humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro
homem, constando de alma racional e de corpo; consubstancial
[hommoysios] ao Pai, segundo a divindade, e consubstancial a nós,
segundo a humanidade; “em todas as coisas semelhante a nós,
excetuando o pecado”, gerado segundo a divindade antes dos séculos pelo
Pai e, segundo a humanidade, por nós e para nossa salvação, gerado da
Virgem Maria, mãe de Deus [Theotókos]; Um só e mesmo Cristo, Filho,
Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas,
inconfundíveis e imutáveis, inseparáveis e indivisíveis;[1] a distinção da
naturezas de modo algum é anulada pela união, mas, pelo contrário, as
propriedades de cada natureza permanecem intactas, concorrendo para
formar uma só pessoa e subsistência [hypóstasis]; não dividido ou
separado em duas pessoas. Mas um só e mesmo Filho Unigênito, Deus
Verbo, Jesus Cristo Senhor; conforme os profetas outrora a seu respeito
testemunharam, e o mesmo Jesus Cristo nos ensinou e o credo dos padres
nos transmitiu.12

Isto previne que insistamos nas concepções errôneas anteriormentes citadas, vemos
que contra Apolinária a declaração destaca: “verdadeiro homem, constando de alma
racional e de corpo [...] consubstancial a nós, segundo a humanidade; em todas as

12
BETTENSON, Henry, Documentos da Igreja Cristã (SP: ASTE/Simpósio, 1998), p. 101.
coisas semelhante a nós”. Em oposição a visão do nestorianismo de que Cristo
consistia de duas pessoas unidas em um corpo, nós temos as palavras “inseparáveis e
indivisíveis [...] concorrendo para formar uma pessoa e substância; não dividido ou
separado em duas pessoas”. Contra a ideia monofisista de que Cristo só possuía uma
natureza e que essa natureza humana foi perdida na união com a natureza divina,
temos as palavras: "inconfundíveis e imutáveis ; a distinção das naturezas de modo
algum é anulada pela união, pelo contrário, as propriedades de cada natureza
permanecem intactas”. A natureza humana e divina não foram confundidas nem
alteradas quando Cristo se fez homem, mas a natureza humana continua sendo
humana, e a divina continua sendo divina.

Podemos resumir, conforme Paul Enns13, a questão da união hipostática em três


pontos pontos principais:

1) Cristo tem duas naturezas distintas: Humanidade e Deidade


2) Não há mistura ou mescla das duas naturezas
3) Embora Ele tenha duas naturezas, Cristo é Uma Pessoa.

Assim, também devemos ressaltar a doutrina da impecabilidade de Cristo, pois ele


tendo natureza divina, ou seja, sendo Deus, não pode ser tentado pelo mal, ou seja,
não deseja o mal em si, por isso Jesus não pecou e nem poderia pecar. Salientamos
também a plena divindade de Cristo contra a teoria da Kenosis, uma teoria que
envolve a interpretação de Filipenses 2:7 “(Ele) esvaziou--se [grego ekenosen] a Si
mesmo”. Os teólogos liberais sugerem que Cristo esvaziou-se a Si mesmo de Sua
deidade, ou de atributos dela, entretanto tal teoria fere a plena deidade de Cristo, pois
Cristo não abdicou de seus atributos mas antes essa passagem refere-se a condição de
humildade de Jesus, que adiciona para si uma natureza humana, se tornando servo,
colocando os interesses alheios, ou seja tendo amor ao próximo, ao invés de ser
egoísta e orgulhoso.

Para concluir devemos salientar a questão das naturezas de Cristo, pois cada
propriedade de ambas as naturezas permanecem intactas, logo é preciso distinguir
entre as ações realizadas pela natureza humana e pela natureza divina, um exemplo
disto é a idade de Cristo, podemos dizer que ele tinha cerca de 30 anos, em sua
natureza humana, mas sabemos que ELE É, ou seja, eterno, em sua natureza divina.
Devemos compreender que tudo que uma natureza faz, a pessoa de Cristo o faz.

13
ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. 1 ed. São Paulo. Editora Batista Regular. 2016, p. 264
4. OBRA DE CRISTO

A) OFÍCIOS DE CRISTO

Cristo exerceu o chamado munus triplex “o tríplice ofício” de profeta, sacerdote e rei.
Estes ofícios eram os mais importantes dentro de Israel nos tempos do Antigo
Testamento e isto diz respeito às questões da revelação, reconciliação e domínio.

Deus falou para a humanidade através dos profetas. O ofício de profeta foi
estabelecido no Antigo testamento (Deuteronômio 18:15-18) e também já apontava
para o cumprimento em Cristo, nenhum profeta revelou completamente a vontade do
Pai exceto Jesus Cristo. Assim Cristo mostra o Pai para as pessoas ao revelar sua
vontade. Por isso Cristo é um PROFETA, nisto concorda a declaração de fé da
Assembléia de Deus quando afirma:

O Novo Testamento revela que o próprio Jesus considerava-se profeta,


pois Ele mesmo disse: "Importa, porém, caminhar hoje, amanhã e no dia
seguinte, para que não suceda que morra um profeta fora de Jerusalém"
(Lc 13.33); e, como tal, Ele foi aclamado diversas vezes pelo povo: "E
escandalizavam~se nele. Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta sem
honra, a não ser na sua pátria e na sua casa" (Mt 13.57); “E a multidão
dizia: Este é Jesus, 0 Profeta de Nazaré da Galiléia" (Mt 21.11). Todas as
atividades registradas nos evangelhos revelam que Ele era
verdadeiramente o Profeta.14

Jesus também é um SACERDOTE, pois ao passo que o profeta revela Deus ao


homem, o sacerdote representava o homem perante a Deus. Vemos que o sacerdócio
de Cristo é segundo a ordem de Melquisedeque (Hebreus 5:6-10; 6:20; 7:11,17 e
Salmo 110:4). Como um sacerdote Cristo representa o crente continuamente perante o
Pai, afinal Ele vive, e porque Sua intercessão nunca cessa (Hebreus 7:25). Também
Cristo não tem pecados pessoais que impeçam Sua obra como sacerdote, por isso ele
por meio de uma única oferta (Hebreus 10:12) completou sua obra sacerdotal ao
oferecer a Si mesmo, nisto concorda a declaração de fé da Assembléia de Deus:

O sacerdócio de Cristo é superior ao de Arão: "Mas agora alcançou ele


ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de um melhor
concerto" (Hb 8.6). A santidade de Jesus como homem é única e real,
absoluta e perfeita; não se trata, pois, de uma santidade cerimonial,
imposta pela lei aos sacerdotes levitas: "Porque nos convinha tal sumo
sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e feito
mais sublime do que os céus" (Hb 7.26). O próprio Senhor Jesus Cristo

14
SILVA, Esequias Soares Da. Cgadb (org.). Declaração de Fé: Jesus salva, cura, batiza no Espírito
Santo e em breve voltará. 6. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p. 54.
apresentou-se como sacrifício pelos pecados de toda a humanidade, e,
além disso, esse sacrifício foi único, perfeito e com validade eterna,
resolvendo, assim, para sempre, o problema do pecador: "mas este,
havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, está assentado para
sempre à destra de Deus" (Hb 10.12).15

Por fim, Cristo também é Rei, pois o Messias viria da tribo de Judá, da descendência
do Rei Davi, indicando assim uma dinastia e um povo sobre o qual Ele governaria. Os
salmos também indicam que o Messias subjugaria Seus inimigos e governaria sobre
eles. Nisto concorda, novamente, o credo das Assembléias de Deus quando afirma:

A promessa de Deus sobre o Messias ser da linhagem de Davi era muito


popular em Israel Nesse contexto, Ele foi aclamado pelo povo quando
entrou em Jerusalém, montado num jumento: “Hosana ao Filho de
Davi!" (Mt 21.9). O Senhor Jesus tinha consciência da sua filiação
davídica e, em mais de uma ocasião, Ele aceitou esse título, o qual lhe
confere o direito ao trono de Davi como seu herdeiro legítimo: "Este será
grande e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará 0
trono de Davi, seu pai, e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu
Reino não terá fim” (Lc 1.32,33).16

Assim vemos esse tríplice ofício destinado ao Messias, concluímos a importância do


reconhecimento destes ofícios com a citação de Paul Enns:

Estes três ofícios de Cristo como Profeta, Sacerdote e Rei são a chave
para o propósito da encarnação. Seu ofício profético envolvia o revelar da
mensagem de Deus; o ofício sacerdotal relacionava-se com a obra
salvífica e intercessora; Seu ofício como Rei Lhe dava o direito de reinar
sobre Israel e toda a Terra. A intenção divina destes três ofícios históricos
tiveram seu ápice de forma perfeita no Senhor Jesus Cristo. 17

B) MINISTÉRIO DE CRISTO

Estudar as obras da vida terrena de Cristo é importante para compreendermos como


Jesus é o Messias prometido. Os escritores dos evangelhos demonstram que Jesus
cumpriu as profecias do Antigo Testamento.

15
SILVA, Esequias Soares Da. Cgadb (org.). Declaração de Fé: Jesus salva, cura, batiza no Espírito
Santo e em breve voltará. 6. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p. 54.
16
SILVA, Esequias Soares Da. Cgadb (org.). Declaração de Fé: Jesus salva, cura, batiza no Espírito
Santo e em breve voltará. 6. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p. 55.
17
ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. 1 ed. São Paulo. Editora Batista Regular. 2016, p. 278
O ensino de Cristo é demonstrado ao longo dos quatro evangelhos, cada um tinha
escritores diferentes e uma audiência diferente, mas ainda assim retrataram a respeito
de Cristo e suas reivindicações.

Isaías profetizou acerca das obras do Messias, ao qual ele daria visão aos cegos,
audição aos surdos, fala aos mudos e cura aos paralíticos (Isaías 29:18; 32:3; 35:5-6),
quando os discípulos de João vieram perguntar a Jesus, Ele os lembrou das profecias e
as aplicou a Si mesmo (Mateus 11:4-5). Os milagres de Jesus atestam sua Deidade e
Messianidade. Segue abaixo uma pequena tabela adaptada do material de Paul Enns18:

OBRA DE JESUS OBRA DE DEUS

Apaziguar a tempestade (Mateus 8:23-27) Salmo 107:29


Curar o cego (João 9:1-7) Salmo 146:8
Perdoar pecados (Mateus 9:2) Isaías 43:25; 44:22
Ressuscitar os mortos (Mateus 9:25) Salmo 49:15
Alimentar os 5000 (Mateus 14:15-21) Joel 2:22-24

O testemunho de Cristo consistia em seus ensinamentos aliados as suas obras


milagrosas, ambos atestam Sua deidade e messianidade, concomitantemente também
apontam para a profecia de sua rejeição por parte de Israel, vemos que os líderes
religiosos que deveriam serem os primeiros a reconhecerem Jesus como seu salvador,
foram aqueles que primeiro o rejeitaram e também aqueles que tramaram sua morte.

A morte de Cristo é essencial dentro do cristianismo devido seu papel substitutivo,


Cristo morre em favor de pecadores, sua morte também é chamada de vicária que
significa “um em lugar de outro”. A morte de Cristo também nos traz redenção, pois
os cristãos foram comprados por um alto preço, quando Paulo relata isso em 1
Coríntios 6:20 ele usa o termo em comparação com uma compra de escravos, pois
aquele que peca é escravo do pecado. Assim, o homem pode ser reconciliado com
Deus, pois antes o homem era distante e alienado de Deus devido seus pecados, mas
agora pelo poder de Cristo podemos adentrar o Santo dos Santo com ousadia e termos
comunhão com Deus. A morte de Cristo também produz propiciação, significando
que as demandas justas de Deus foram totalmente satisfeitas com a morte de Cristo,
isto é explicado em Romanos 3:25 quando Paulo fala que Deus propôs, no seu sangue,
como propiciação, mediante a fé. Cristo providenciou um pagamento perfeito e
satisfatório pelo pecado, aplacando a ira divina. Por fim, tal propiciação produz então
justificação do crente pecador, isto é o ato legal ao qual Deus, o Justo Juiz, declara o
pecador que crê como justo. Paulo explica isto ao afirmar que somos justificados

18
ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. 1 ed. São Paulo. Editora Batista Regular. 2016, p. 268
mediante a fé através de Jesus, assim temos paz com Deus (Romanos 5:1). Assim,
Jesus por meio da sua morte removeu nossos pecados, perdoando-os, e assim somos
declarados legalmente justos perante Deus, pois a justiça de Jesus é atribuída a nós.

A ressurreição de Cristo determina a validade da nossa fé Cristã, Paulo exclamou que


se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé (1 Coríntios 15:17). Portanto, a ressurreição
de Cristo é a garantia da aceitação do Pai da obra de Seu Filho. Isto é essencial no
Plano de Deus pois também é por meio de sua ressurreição e ascensão que o Espírito
Santo, o ajudador e consolador, poderia vir à Terra. A ressurreição de Cristo também
cumpre uma série de profecias, Davi profetizou a ressurreição de Cristo (Salmo
16:10); O próprio Cristo predisse sua ressurreição Mateus 16:21; Marcos 14:28). As
provas da ressurreição de Cristo são:

1) Sepulcro Vazio
2) A guarda romana e a impossibilidade de homens comuns roubarem o corpo
3) A forma do seus envoltórios de Linho que ainda mantiveram a forma do
corpo
4) As aparições após a ressurreição
5) A transformação e a fé dos discípulos
6) A observância do primeiro dia da semana
7) A existência da Igreja

Estes fatos são as maiores provas da ressurreição de Cristo, seus adversários, os


fariseus, foram a maior prova para tal fato histórico. Ao selarem o sepulcro de Cristo e
colocarem a guarda romana para fazer uma vigia, vemos assim que os apóstolos
jamais poderiam conseguir roubar o corpo de Jesus ou mesmo nunca poderiam ter
removido uma pedra tão grande sem chamar atenção dos próprios guardas. Vemos que
a forma dos envoltórios de Linho também demonstra um ato miraculoso, afinal João
viu que os envoltórios ainda retinham o formato do corpo e a peça da cabeça. o que
traz somente uma explicação, “Jesus passou através dos envoltórios de linho”. O
próprio Cristo também apareça ressurreto, seja no Caminho de Emaús ou entre os
próprios apóstolos com um corpo glorificado.

Por fim, temos a ascensão de Cristo, ao qual ele vai para destra do Pai e promete a
descida do Espírito Santo, também seu retorno triunfal no dia prometido. A ascensão
de Jesus determina o fim do seu ministério terreno e autolimitação durante os dias de
sua jornada sobre a terra, ela também encerra o período de sua humilhação, pois sua
glória não seria mais velada após a ascensão (João 17:5, Atos 9:3,5). A ascensão de
Cristo marca a primeira entrada da humanidade ressurreta no céu e o começo de uma
nova obra (Hebreus 4:14-16; 6:20), onde um representante da raça humana em um
corpo glorificado e ressuscitado é o intercessor dos Cristãos, também tornando a
descida do Espírito Santo possivel (João 16:7). Concluímos esta seção salientando
como é importante o estudo sobre Cristo, sua pessoa, naturezas, ofícios e obras, mas
lembrando que EM BREVE Cristo voltará para sua amada noiva, a igreja.
QUESTÕES

1- Fale acerca da eternidade de Cristo

2- Fale acerca da doutrina do nascimento virginal e da encarnação e a devida


importância delas para o cumprimento das profecias acerca de Cristo

3- Ressalte a importância da doutrina da humanidade de Cristo

4- Ressalta a importância da doutrina da divindade de Cristo

5- O que é a doutrina da união hipostática

6- Quais os ofícios de Cristo

7- Cite provas da ressurreição de Jesus


PNEUMATOLOGIA
"Quando vier o Conselheiro, que eu enviarei a vocês da parte do Pai, o Espírito
da verdade que provém do Pai, ele testemunhará a meu respeito.
João 15:26

1. INTRODUÇÃO

A Pneumatologia é a doutrina que estuda o ser do Espírito Santo, que é um membro


da Trindade (Triunidade), portanto um ser pessoal e dotado de características comuns
a divindade, mas também de ofício único conforme vimos dentro da economia da
Trindade. Assim, nós, pentecostais, cremos:

[...] professamos e ensinamos que o Espírito Santo é a terceira Pessoa da


Santíssima Trindade, Deus igual ao Pai e ao Filho: "Portanto, ide,
ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo" (Mt 28.19). O Espírito Santo é da mesma substância, da
mesma espécie, de mesmo poder e glória do Pai e do Filho, pois é
chamado de outro Consolador: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro
Consolador, para que fique convosco para sempre" (Jo 14.16). O Espírito
Santo não é uma parte da Divindade, mas, sim, Deus em toda a sua
plenitude e, por isso mesmo, é incriado, autoexistente e absolutamente
autônomo: "o Espírito que provém de Deus" (1 Co 2.12), como havia
declarado o Credo de Atanásio: "Tal como é o Pai, tal é o Filho e tal é o
Espírito Santo. O Pai é incriado, o Filho incriado, e o Espírito Santo
incriado... não há três incriados,... mas um só incriado": Ele é o Espírito
eterno e existe por si mesmo. Ele pertence à mesma essência e substância
indivisível e eterna do Pai e do Filho. Os homens e os anjos foram criados
e dependem do Criador, mas Ele, o Espírito Santo, não depende de nada,
pois Ele é o Senhor: "o Senhor é o Espírito" (2 Co 3.17 - ARA). 1

Assinamos o credo Atanasiano a respeito da divindade e pessoa do Espírito Santo,


portanto é essencial compreender seus atributos, ofício, personalidade, batismo e dons
para que verdadeiramente possamos adorar a Deus e ver a glória do seu plano na
história humana. Devemos assim perceber a ação proeminente do Espírito Santo em
seu ministério atual, pois temos descritivamente e visivelmente seu papel de
convencer do pecado, da justiça e do juízo (João 16:7-8). Portanto, que possamos nos
encher do Espírito Santo, tanto em graça quanto em conhecimento, para render-lhe a
real glória que lhe é digna.

1
SILVA, Esequias Soares Da. Cgadb (org.). Declaração de Fé: Jesus salva, cura, batiza no Espírito
Santo e em breve voltará. 6. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p. 67-68
2. DEIDADE DO ESPÍRITO SANTO

O Espírito Santo é Deus, então devemos compreender que ele é parte da Trindade e
portanto não pode ser mera “energia” impessoal, compreender a deidade do Espírito
Santo é confirmar a deidade da Trindade, e portanto afirma que o Pai é Deus e que
Cristo é Deus. Negar a Trindade é um escape da ortodoxia, aquele que nega que o
Espírito Santo é Deus é um digno de ser chamado de “herege”, portanto não é parte da
Santa Igreja.

Vemos ao longo da história da igreja que o Espírito Santo é imbuído com títulos
únicos que ressaltam sua Deidade, devemos compreender que tais títulos reforçam o
status de divindade, também devemos compreender que ao analisarmos a
pneumatologia ao longo da igreja, perceberemos que as controvérsias que hoje são
levantadas contra tal doutrina já foram refutadas e dadas como heresias ainda no
período dos pais da igreja.

O primeiro século da Igreja teve pouco desenvolvimento da doutrina da Trindade em


si, principalmente pela própria perseguição da Igreja, apesar das Escrituras atestarem
claramente a doutrina da Trindade e consequentemente a própria Deidade do Espírito
Santo. No final do segundo século Clemente de Roma começa a trabalhar a ideia de
Trindade, coordenando os três membros da Trindade, Tertuliano chamou o Espírito
Santo de Deus ao observar que há uma só substância que o Filho e Espírito com o Pai,
já Irineu no século II identifica o Espírito quase como um atributo divino, sendo este a
sabedoria divina. Origens parte do conceito de uma trindade ontológica. Entretanto,
conforme Erickson ressalta, a doutrina do Espírito Santo foi desenvolvida nos séculos
IV e V:

Em certo sentido, o desenvolvimento de um entendimento doutrinário em


todo o Espírito Santo, especialmente em relação com o Pai e do Filho, foi
um acompanhamento e um subproduto do trabalho cristológico feito nos
séculos IV e V. Era natural, uma vez que a questão da divindade do
Espírito de uma forma contida dentro de si a divindade do Filho. Porque
se eu pudesse ter uma segunda pessoa divina, ele poderia ter apenas como
facilmente uma terceira2

Desde Orígenes, a reflexão teológica sobre a natureza do Espírito Santo estava por
trás da prática devocional. Ário falava do Espírito Santo como uma pessoa, mas ainda
assim considerou-a diferente do Filho e do Pai. Eusébio falou do Espírito Santo como
uma terceira força. Atanásio, bastante inspirado, expressou suas ideias respondendo às
ideias de Tropici sobre o Espírito ser uma criatura, insistiu no argumento que o
Espírito é totalmente divino, consubstancial (Mesma essência) do Pai e do Filho.

2
ERICKSON, Millard. Teologia Sistemática, 2º edição. Vida Nova. 2008, p. 527
Assim, através de Santo servo vemos uma brilhante refutação a Tropici e temos
firmados bases para a natureza do Espírito Santo, principalmente na argumentação da
Unidade e da Tríada eterna, indivisível. Também, Atanásio, traz a noção da estreita
relação entre Pai, Filho e Espírito Santo, onde todos são Deus, mas que há três
pessoas "participantes" da mesma essência. Isto é atestado pelos títulos dado ao
Espírito Santo ao longo das Escrituras Sagradas, conforme tabela abaixo.

TÍTULOS DO ESPÍRITO SANTO3

TÍTULO ÊNFASE CITAÇÃO

Um Espírito Sua Unidade Efésios 4:4

Sete Espíritos Sua perfeição, Apocalipse 1:4; 3:1


onipresença e plenitude

O Senhor, O Espírito Sua Soberania 2 Coríntios 3:18

Espírito Eterno Sua Eternidade Hebreus 9:14

Espírito de Santidade Sua Glória 1 Pedro 4:14

Espírito de Vida Sua vitalidade Romanos 8:2

Espírito de Santidade Sua santidade Romanos 1:4


Espírito Santo Mateus 1:20
O Santo 1 João 2:20

Espírito de Sabedoria Sua onisciência, sabedoria Êxodo 28:3


Espírito de Entendimento e conselho Isaías 11:2
Espírito de Conselho
Espírito de Conhecimento

Espírito de Força Sua onipotência Isaías 11:2

Espírito de Temor do Sua reverência Isaías 11:2


Senhor

Espírito da Verdade Sua veracidade João 14:17

Espírito Voluntário Sua liberdade soberana Salmo 51:12

Espírito de Graça Sua graça Hebreus 10:29

Espírito de Graça e de Sua graça e súplicas Zacarias 12:10


Súplicas

3
ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. 1 ed. São Paulo. Editora Batista Regular. 2016, p.289 -
Tabela adaptada deste Manual de teologia.
Vemos que os títulos dados ao Espírito Santo refletem atributos comuns a essência da
divindade, a onisciência, onipotência e onipresença são exemplos claríssimos da
consubstancialidade do Espírito com o Pai e o Filho. A partir daqui focaremos em
alguns atributos divinos do Espírito para que possamos compreender que ele é Deus.

ATRIBUTOS DO DEUS TRIÚNO4

ATRIBUTO PAI FILHO ESPÍRITO SANTO

Vida Josué 3:10 João 1:4 Romanos 8:2

Onisciência Salmo 139:1-6 João 4:17-18 1 Coríntios 2:10-12

Onipotência Gênesis 1:1 João 1:3 Jó 33:4

Onipresença Jeremias 23:23-24 Mateus 28:20 Salmo 139: 7-10

Eternidade Salmo 90:2 João 1:1 Hebreus 9:14

Santidade Levítico 11:44 Atos 3:14 Mateus 12:32

Amor 1 João 4:8 Romanos 8:37-38 Gálatas 5:22

Verdade João 3:33 João 14:6 João 14:17

Tais atributos ressaltam a deidade do Espírito, primeiro ele é Vida, afinal tem vida em
Si mesmo, o Espírito é onisciente pois sabe de tudo sobre Deus e perscruta suas
profundezas, sendo onipotente pois é visto seu poder na criação e dando vida a ela
própria, portanto concluímos também sua onipresença ao qual lhe faz estar presente
em toda extensão da criação, nada pode fugir de sua presença. A Eternidade é outro
atributo da deidade, pois ele está juntamente com o Pai e o Filho, sendo também parte
do nascimento e da própria morte de Cristo, como é Santo a santidade é um dos seus
aspectos fundamentais, tendo tal aspecto transcendente. Ele é amor, afinal sua obra
produz amor nos cristãos, sendo o Espírito da verdade pois é um de seus papéis no
mundo, sendo aquele que guia o povo a Cristo, que é a verdade.

3. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO

O Espírito Santo é uma deidade, conforme concluímos na seção anterior, mas também
é uma pessoa. O Espírito Santo é dotado de personalidade, afinal personalidade é
basicamente a característica que define um ser com intelecto, emoções e vontade,
assim não sendo uma "energia'' ou algo impessoal, Ário foi um dos que negou a

4
ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. 1 ed. São Paulo. Editora Batista Regular. 2016, p.291 -
Tabela adaptada deste Manual de teologia.
personalidade do Espírito Santo, sendo somente uma “influência” do Pai, entretanto
ao longo das Escrituras e também dos debates dentro da igreja primitiva vemos que há
um concílio buscando afirmar a personalidade do Espírito como Deus e hipóstase
(pessoa). Conforme J. Rodman Williams:

Nos discursos finais de Jesus registrados no quarto Evangelho, o Espírito


Santo é referido várias vezes como “0 Paráclito” Mas o termo é traduzido
por: “0 Consolador”, “o Conselheiro”, “0 Ajudador” “o Advogado”; a
referência aqui é feita a uma pessoa. Portanto, tal entidade não pode
significar uma mera influência ou força. Além disso, em João 16.13,
embora os termos para “0 Espirito" sejam neutros, um pronome
masculino aparece: “Quando 0 Espírito da verdade vier, ele os guiará a
toda a verdade”. Assim, “o Espírito da verdade", Paráclito, é
definitivamente uma pessoa.5

Dentro desta citação podemos reconhecer que Cristo atribui aspecto de semelhança ao
Espírito e também de igualdade enquanto uma “Pessoa”. Alguns atributos confirmam
essa personalidade do Espírito:

● CONHECIMENTO: Nenhum ser humano tem uma consciência ou


conhecimento dos pensamentos de Deus, mas o Espírito Santo entende a
mente de Deus (1 Coríntios 2:11)
● MENTE: Da mesma forma que o Espírito Santo conhece o Pai, assim o Pai
conhece a mente do Espírito (Romanos 8:27), a palavra mente, do grego
“phronema”, significa "modo de pensar, mentalidade, anseio, aspiração,
esforço”.
● EMOÇÕES: Emoções ou sensibilidade demonstra que há “sentimentos”,
consciência ou habilidade para responder algo. Vemos que Paulo ordena aos
Efésios para não “entristecer o Espírito Santo”, uma mera energia não pode ter
sentimentos.
● VONTADE: O Espírito tem uma vontade, indicando que Ele tem poder de
escolha e decisão soberana. O Espírito Santo distribui dons espirituais
conforme Ele quer, ou seja, decisões da vontade após deliberação prévia que é
o termo grego “bouletai”. A mesma analogia também é descrita para falar da
Vontade do Pai, vemos que em Paulo é impedido pelo Espírito de ir para Ásia
(Atos 16:6), assim demonstrando uma vontade e um intelecto como parte de
uma personalidade genuína.

Outra confirmação de sua personalidade também está nas suas obras, Ele faz obras
similares ao Pai e ao Filho, conforme tabela abaixo:

5
WILLIAM, J. Rodman. Teologia Sistemática. Uma Perspectiva Pentecostal. 1 ed. São Paulo.
Editora Vida. 2011. p.484
OBRAS DO ESPÍRITO6

OBRAS REFERÊNCIAS

O Espírito Ensina João 14:26

O Espírito Testifica João 15:26

O Espírito Guia João 16:23

O Espírito Convence João 16:18

O Espírito Regenera João 5:21

O Espírito Intercede Romanos 8:26-28

O Espírito Ordena Atos 13:2, Atos 16:6

As obras confirmam seu intelecto e vontade própria, assim temos uma personalidade
que também se posiciona, vide que pode ser entristecido, pode ser blasfemado, pode
ser resistido e também ainda pode se mentir para o Espírito, apesar disto ser uma
tolice sem tamanho pois ele saberia que você está mentindo, mas ele também pode, e
deve, ser obedecido. Tais exemplos evidenciam as designações do Espírito, vemos
também que o pronome “pneuma”, pronome neutro, também é utilizado para designar
o Espírito, entretanto nos escritos da Bíblia os escritores bíblicos geralmente atribuem
um artigos masculinos ou mesmo pronomes masculinos na utilização do termo,
provando sua personalidade.

O Espírito Santo também esteve presente em várias obras da criação divina, vemos
que na Criação ele estava com Trindade (Gênesis 1:2), também vemos que ele estava
na geração de Cristo (Mateus 1:20), envolvendo Maria para que o fruto de seu ventre
fosse proveniente do Espírito. Também é o Espírito Santo responsável pela inspiração
dos autores bíblicos (2 Pedro 2:21), outro serviço importante está na regeneração (Tito
3:5) do homem, o novo nascimento, ao qual Ele é responsável, além da intercessão
(Romanos 8:26) em nossas orações, santificação (2 Tessalonicenses 2:13) e o auxílio
dos santos ao consolar seus corações (João 14:16). Queremos concluir esta seção
apresentando algumas representações do Espírito Santo nas Escrituras, que
apresentam vividamente sua pessoa e obra, os quais são: Revestimento, Pomba,
Penhor, Fogo, Óleo, Selo, Água e Vento.

6
ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. 1 ed. São Paulo. Editora Batista Regular. 2016,
p.285-286 - Tabela adaptada deste Manual de teologia.
4. O ESPÍRITO SANTO QUE BATIZA

O ministério do Espírito Santo está diretamente ligado, atualmente, ao batismo, para


os pentecostais que defendem o batismo em poder com evidências em línguas teremos
que abordar especificamente tal batismo em duas seções, mas antes de adentrar na
própria questão do batismo devemos abordar sobre a diferença entre a atuação do
Espírito Santo dentro do Antigo Testamento para sua atuação no Novo Testamento.

A) O MINISTÉRIO DO ESPÍRITO SANTO NO ANTIGO TESTAMENTO

A atuação do Espírito Santo sempre foi presente na história do mundo, mas devemos
ter em mente que no Antigo Testamento o Espírito ainda não habitava dentro do
homem como morada permanente, vemos que apesar disto o Espírito Santo era
responsável pela inspiração dos autores bíblicos, também pelas próprias revelações
em palavras faladas, sonhos, visões e até mesmo teofanias.

Primeiro devemos falar do poder regenerador do Espírito Santo, ele sempre esteve
presente para tal tarefa, entretanto devemos destacar que o Espírito é maior enfocado
quando se trata de habitação seletiva com propósito de capacitação dos homens, como
por exemplo Josué (Neemias 27:18) e Davi (1 Samuel 16:12-13). Nisto, também
concorda Rodman:

Primeiro: é evidente que 0 Espírito de Deus é largamente descrito como o


Espírito de capacitação. A atividade do Espírito servia para dotar um
artesão, um juiz, um rei, um profeta ou um sacerdote a fim de que
executassem certas funções ou tarefas. Quaisquer que fossem as
habilidades e capacidades naturais do indivíduo, o dom do Espírito
mostra-se como algo adicional, portanto sobrenatural. E, em virtude
desse dom especial, a pessoa em questão era capacitada para cumprir
certa tarefa ou vocação.7

Vemos que o Espírito capacita homens para determinadas vocações dentro do


propósito de Deus, apesar do caráter temporário desta expressão do Espírito vir sobre
como o exemplo de Gideão ao derrotar os Amonitas (Juízes 11:29), ou mesmo Bezalel
para os trabalhos artesanais ao lhe dar sabedoria (Êxodo 31:2-5). Paul Enns, citando
John Walvoord, faz três observações sobre a ação do Espírito Santo:

[...] Ele aponta que primeiro, a habitação do Espírito na vida de uma


pessoa não tinha nenhum relacionamento evidente com a condição
espiritual da pessoa. Segundo, a habitação do Espírito era uma obra
soberana de Deus na pessoa para fazer uma tarefa específica, por

7
WILLIAM, J. Rodman. Teologia Sistemática. Uma Perspectiva Pentecostal. 1 ed. São Paulo.
Editora Vida. 2011. p.492
exemplo, libertar Israel em combate ou construir o tabernáculo. Terceiro,
a habitação do Espírito era temporária. O Espírito do Senhor veio sobre
Saul mas também afastou-se dele (1 Samuel 10:10; 16:14). Davi estava
temeroso que o Espírito Santo pudesse deixá-lo (Salmos 51:11). 8

Concorda também Rodman:

Segundo: a atividade do Espírito é, em geral, mostrada como temporária e


ocasional. E.g., no caso de Sansão declarou-se que o Espírito veio várias
vezes sobre ele para lhe permitir executar ações poderosas. Se ainda em
sua juventude o Espírito “começou a agir nele”, houve, no entanto, ao
longo de sua existência a vinda esporádica do Espírito. Com relação a
Saul, o Espírito “apoderou-se dele” para que 0 rei pudesse incitar seus
compatriotas contra o inimigo, mas, depois, o Espírito do Senhor
retirou-se de Saul. No caso dos profetas, dos anciãos de Moisés em diante,
0 Espírito não era uma posse permanente para ser usada à vontade, mas
vinha sobre as pessoas no momento em que elas iriam profetizar. Era o
dom de Deus para a ocasião de proferir a verdade de sua palavra. Em
resumo, o Espírito era capaz de “possuir”, mas não era possuído; o
Espírito poderia “revestir” alguém, mas, como uma roupa, não era uma
vestimenta permanente. Portanto, o dom do Espírito era em grande
medida transitório: para uma ocasião, para uma tarefa ou uma
declaração. Não se tratava de uma realidade permanente.9

Por fim, a missão do Espírito no Antigo Testamento está diretamente ligada a


restringir o pecado e também se relacionar com o povo de Israel, ou seja a
comunidade de fé, para realizar a ação de capacitar o povo de Deus para servir o seu
reino. Novamente, usamos Rodman para confirmamos isto:

Terceiro: é evidente que essa atividade do Espírito Santo se relaciona de


vários modos à vida da comunidade de fé — o povo de Deus. 0 Espírito
“veio sobre”, “apossou-se”, foi “posto”. Todas essas expressões se
referem a uma ação do Espírito, pela qual alguns entre o povo de Deus
eram capacitados para servir sua causa e seu reino.14 o Espírito, em sua
atividade capacitadora, não tinha nada que ver, como tal, com 0 trabalho
criativo ou redentor de Deus, nem com qualquer ação divina por meio da
qual o povo de Deus foi formado.Antes, toda a investidura do Espírito de
Deus pressupõe o fato da existência de Israel como povo de Deus. Assim,
o Espírito veio para guiar, fortalecer e dar poder para sua vida e missão.10

8
ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. 1 ed. São Paulo. Editora Batista Regular. 2016, p.303.
9
WILLIAM, J. Rodman. Teologia Sistemática. Uma Perspectiva Pentecostal. 1 ed. São Paulo.
Editora Vida. 2011. p.492-493.
10
WILLIAM, J. Rodman. Teologia Sistemática. Uma Perspectiva Pentecostal. 1 ed. São Paulo.
Editora Vida. 2011. p. 493.
O Espírito Santo também é o agente responsável pelo nascimento virginal de Cristo,
estando repousado no Messias, vemos isto salientado ao longo das narrativas dos
evangelhos quando falam que aquele que estava em Maria foi gerado do Espírito
(Mateus 1:20). Também ao longo do seu ministério Jesus sempre enfatizou o poder do
Espírito Santo, na sua morte também estava presente o Espírito e na sua ressurreição
vemos Deus ressuscitando Cristo pelo poder do Espírito.

B) O MINISTÉRIO DO ESPÍRITO SANTO NO NOVO TESTAMENTO

Agora iremos abordar a obra do Espírito Santo a partir de sua vinda no Pentecoste,
pois veremos algumas mudanças significativas que provém da Nova Aliança. Após
Jesus cumprir seu ministério tanto pela palavra quanto pela ação, tendo ascendido aos
céus em corpo glorificado então é chegado a hora do Consolador, ou seja, o Espírito
Santo continuar o ministério do Reino de Deus.

A promessa do Antigo Testamento de derramamento do Espírito é cumprida no


Pentecoste, quanto os apóstolos, discípulos e algumas mulheres estavam reunidas
esperando a vinda do Espírito Santo para batizá-los (Atos 2). A primeira função do
Espírito é ser o outro consolador, dito por Cristo, para que ajude a igreja a prosseguir
e expandir o reino dos céus.

Também devemos ter em mente que o Espírito tem um papel regenerador no homem,
a obra batizadora do Espírito inclui o novo nascimento a partir do convencimento do
pecado, da justiça e do juízo. Devemos compreender que o Espírito Santo é exclusivo
para a igreja dentro do Novo Testamento, ele inclui todos os cristãos dessa era. O
Espírito Santo também continua seu trabalho de inspiração dentro das Escrituras, ao
mesmo tempo que traz comunhão entre a própria igreja e capacita em dons espirituais
os cristãos, mas a principal união que o Espírito promove é com Cristo, não sendo
uma obra meramente experimental mas antes uma união real do homem com Deus,
sendo o único agente disto o Espírito Santo.

Diferentemente do Antigo Testamento, onde o Espírito tinha uma habitação seletiva e


até temporária para um propósito envolvendo seu povo ou algum ofício específico no
reino de Deus, temos aqui uma habitação permanente, sendo um dom de Deus.

C) BATISMO DO ESPÍRITO SANTO X BATISMO COM O ESPÍRITO


SANTO

Para melhor entendermos o batismo no Espírito Santo, ao menos dentro do


Pentecostalismo, devemos compreender como o batismo é abordado dentro de Atos,
pois uma única preposição gramatical pode alterar o sentido do Batismo dentro do
credo assembleiano.
Para entendermos a diferença dentro do Pentecostalismo para este ministério
citaremos o didático Antonio Gilberto:

Já o batismo “do” Espírito, como vemos em I Coríntios 12.13, Gálatas


3.27 e Efésios 4.5, trata-se de um batismo figurado, apesar de ser real.
Todos aqueles que experimentam o novo nascimento, que é também
efetuado pelo Espírito Santo (Jo 3.5), são por Ele imersos, batizados,
feitos participantes do corpo místico de Cristo, que é a sua Igreja, no
sentido universal (Hb 12.23; I Co I2.I2ss).11

Assim, vemos que o Batismo “do” Espírito Santo é aquele que ocorre o novo
nascimento, ou seja, a conversão do cristão em filho de Deus. Todos os crentes são
batizados pelo Espírito Santo, neste sentido, pois isso inclui o ministério de
regeneração do Espírito Santo. Antônio, também, esclarece o que seria o batismo
“com” o Espírito Santo:

O que é o batismo “com” o Espírito. É um revestimento e derramamento


de poder do Alto, com a evidência física inicial de línguas estranhas,
conforme o Espírito Santo concede, pela instrumentalidade do Senhor
Jesus, para o ingresso do crente numa vida de mais profunda adoração e
eficiente serviço para Deus (Lc 24.49; At 1.8; 10.46.1 Co 14.15,26). 12

Portanto, vemos que o batismo dentro do pentecostalismo é, em primeira fase, uma


ação regeneradora do Espírito para habitar o cristão, mas em sua segunda fase, que
não é todos os cristãos que alcançarão, é um derramamento e revestimento de poder
que é inicialmente evidenciado pelo dom de variedade de línguas, que também pode
resultar em dons espirituais. Apesar de haver vertentes dentro do pentecostalismo que
discordam da evidência do batismo com o Espírito Santo ser somente evidenciado
pelo dom de línguas.

Assim, conforme a tabela abaixo, vemos que a diferença entre o Batismo “do”
Espírito Santo e o Batismo “com” o Espírito Santo se evidencia nessas características:

BATISMO “DO” ESPÍRITO SANTO BATISMO “COM” O ESPÍRITO


SANTO

REGENERAÇÃO (NOVO REVESTIMENTO DE PODER


NASCIMENTO)

HABITAR O CRENTE EVIDENCIADO POR DOM DE LÍNGUAS

11
GILBERTO, A. (Ed.), Teologia Sistemática Pentecostal, 2ª Ed. Rio de Janeiro, CPAD, 2008. p.
191
12
GILBERTO, A. (Ed.), Teologia Sistemática Pentecostal, 2ª Ed. Rio de Janeiro, CPAD, 2008. p.
191
5. OS DONS DO ESPÍRITO

Agora que falamos do Batismo, falaremos dos dons espirituais concedidos pelo
Espírito Santo. Antes temos que definir o que é um “dom do Espírito”. Geralmente
dentro da Bíblia são usadas duas palavras para descrever os dons espirituais, a
primeira é “pneumatikos”, significando “coisas espirituais” ou “coisas pertencentes ao
espírito”, esta palavra enfatiza a origem espiritual dos dons, eles não são talentos
naturais, mas ao invés disso, têm sua origem no Espírito Santo (1 Coríntios 12:11). A
outra palavra frequentemente usada para indicar os dons espirituais é “charisma”,
significando “dom da graça”. A palavra “charisma” enfatiza que tais dons são dádivas
do Espírito, ou seja, é conferida a um cristão (1 Coríntios 12:4). Podemos então dizer
que os dons espirituais são:

Uma capacitação divina de uma habilidade especial para o serviço


conferida a um membro do corpo de Cristo.13

Dada a definição podemos diferenciar um dom espiritual de um dom natural, pois o


talento é uma habilidade que nasce com o indivíduo, concedida por Deus, para ser
desenvolvida e aperfeiçoada ao longo da vida, já o dom espiritual provém do Espírito
e executa com sobrenaturalidade seu ofício.

Ao longo dos tempos há uma discussão se tais dons espirituais cessaram, se alguns
deles já concluíram seu objetivo ou se todos estão ativos, aos quais se enfrenta outro
debate sobre sua atuação temporal, ou seja, se eles ativamente estão disponíveis em
abundância, sem variam em tempo conforme ciclos e avivamentos ou se cessaram tais
manifestação em dons com o fim do ofício apostólico e com o estabelecimento do
cristianismo por todo o mundo. Porém, os pentecostais têm como marca a doutrina do
continuísmo, conforme o Credo das Assembléias de Deus:

CREMOS, professamos e ensinamos que os dons do Espírito Santo são


atuais e presentes na vida da Igreja. O batismo no Espírito Santo é um
dom: "e recebereis o dom do Espírito Santo" (At 2.38) e é para todos os
crentes: "Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a
todos os que estão longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar"
(At 2.39); mas os dons do Espírito Santo, ou "espirituais" na linguagem
paulina: "Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais
ignorantes" (1 Co 12.1) são restritos. Esses dons são capacitações
especiais e sobrenaturais concedidas pelo Espírito de Deus ao crente para
serviço especial na execução dos propósitos divinos por meio da
Igreja:"Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for
útil" (1 Co 12.7). São recursos sobrenaturais do Espírito Santo operados

13
MCRAE, William. The Dinaymics of Spiritual Gifts. Grand Rapids:Zodervan. 1976. p. 18. Citado
por ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. 1 ed. São Paulo. Editora Batista Regular. 2016, p.314
por meio dos seres humanos, os crentes em Jesus, enquanto a Igreja
estiver na terra, pois, no Céu, não precisaremos mais deles. É por meio da
Igreja que o Espírito Santo manifesta ao mundo o poder de Deus, usando
os dons espirituais.Eles são dados à Igreja para sua edificação espiritual,
seu conforto e seu crescimento espiritual. Os dons espirituais são vários, e
nenhuma lista deles no Novo Testamento pretende ser exaustiva; e nem
mesmo existe a expressão "estes são os dons espirituais". Em Romanos,
aparece uma lista deles, mas não são os mesmos da lista dos nove dons,
exceto o dom de profecia, que aparece em ambas as listas. Há outra lista
que repete os dons de variedade de línguas e os dons de curar.14

Assim, cremos na continuidade destes dons, com algumas diferenças quanto ao dom
de profecia e uma interpretação pentecostal do dom de línguas. Iremos tratar sobre
cada um dons, de maneira abreviada, dentro desta seção.

PALAVRA DE SABEDORIA

é relacionada primeiramente nos dois dons de falas - "logos" - ou de elocução,


geralmente também está interligada com a palavra de conhecimento". A palavra de
sabedoria é um dom que é necessário no governo da igreja, pastoreio, liderança,
direção de qualquer encargo na igreja e nas suas instituições, também vemos que está
diretamente ligada a pregação do evangelho quando Paulo aborda que suas palavras
não foram de sabedoria humana a igreja de Corinto, mas antes de poder no Espírito,
ou seja de uma sabedoria que provinha do alto.

PALAVRA DE CONHECIMENTO (CIÊNCIA)

É a manifestação sobrenatural do conhecimento dado pelo Espírito Santo. Tal ciência


é manifestada unicamente pelo Espírito, ao qual podemos saber, compreender e assim
conhecer aquilo que pelo entendimento humano, jamais poderíamos alcançar. Este
dom também é parte do dons de "elocução", mas antes de ocorrer qualquer palavra de
conhecimento deve haver sempre o Espírito Santo habitando no cristão, tendo também
o propósito de ensinar e edificar a igreja.

O dom da fé está relacionada ao dom de manifestação do Espírito, ela pode ser


denominada "fé especial", que é diferente da fé salvadora e fé fruto, a primeira se
refere a salvação e a segunda como um fruto do Espírito Santo na vida do cristão.
Entretanto, esse dom da fé é uma concessão especial pelo Espírito para o bem comum,

14
SILVA, Esequias Soares Da. Cgadb (org.). Declaração de Fé: Jesus salva, cura, batiza no Espírito
Santo e em breve voltará. 6. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p. 171-172.
geralmente este dom está ligado a ministério ativos, eles representam a fé que flui
ação.

CURA

São os dons de curas”, literalmente. Isto é, este dom é multiforme na sua constituição
e na sua operação. É uma sublime mensagem para os enfermos, não importando a sua
doença. São dons de manifestação de poder sobrenatural pelo Espírito Santo para a
cura das doenças e enfermidades do corpo, da alma e do espírito, para crentes e
descrentes.

OPERAÇÃO DE MARAVILHAS (MILAGRES)

No original, os dois termos que designam este dom estão no plural: “operações de
maravilhas”. São operações de milagres extraordinários, surpreendentes, pasmosos;
prodígios espantosos pelo poder de Deus, para despertar e converter incrédulos,
céticos, oponentes, crentes duvidosos.

PROFECIA

É um dom de manifestação sobrenatural de mensagem verbal pelo Espírito, para


“edificação, exortação e consolação” do povo de Deus (I Co 14.3). É um dom
necessário a todos os que ministram a Palavra; que trabalham com a Palavra (cf. Lc
1.2b; I Tm 5.7). O grau da profecia na igreja hoje não é o mesmo da “profecia da
Escritura” (2 Pe 1.20), que é infalível — a profecia da Bíblia.

A profecia na igreja deve ser, pois, julgada. De fato, a Bíblia declara: “Em parte
profetizamos” (I Co 13.9). A profecia da igreja está sujeita a falhas por parte do
profeta; daí a recomendação bíblica de I Coríntios 14.29: “E falem dois ou três
profetas, e os outros julguem”. Assim devemos compreender que esta profecia não
está mais ligada ao ministério apóstolico, no sentido da produção de novos livros ao
cânon bíblico, mas antes está diretamente ligada ao que fora produzido e fechado, por
isso é sempre importante analisar a mensagem que é dita nos púlpitos. Não
esqueçamos que a profecia é um dom que traz edificação, exortação e consolação.

DISCERNIMENTO DE ESPÍRITOS

No original, os dois termos que designam este dom estão no plural. É um dom de
conhecimento e de revelações sobrenaturais pelo Espírito Santo. É um dom de
proteção divina para não sermos enganados e prejudicados por Satanás e seus
demônios, e também pelos homens. Uma das principais atividades de Satanás é
enganar (Apocalipse 12.9; 20.8,10; I Timóteo 4.1). Os homens também enganam
(Efésios 4.14; I João 2.26; 2 João v.7). Líderes em geral — inclusive de música —,
pastores, evangelistas, mestres, precisam muito deste dom para não serem enganados
VARIEDADE DE LÍNGUAS

É um dom de expressão plural, como indica o seu título. É um milagre linguístico


sobrenatural. Nem todos os crentes batizados com o Espírito Santo recebem este dom
(I Coríntios 12.30). Já as línguas como evidência física inicial do batismo, todos ao
serem batizados no Espírito Santo as falam. As mensagens em línguas mediante este
dom devem ser interpretadas para que a igreja receba edificação (I Coríntios 14.5,27).
O crente portador deste dom, ao falar em línguas perante a congregação, não havendo
intérprete por Deus suscitado, deve este crente falar somente “consigo e com Deus” (I
Coríntios 14:4,28), isto é, falar em silêncio.

Dentro da perspectiva pentecostal temos duas classes de "falar em línguas", que são as
idiomáticas (idiomas naturais dos homens) e as chamadas estranhas (misteriosas) que
provêm dos céus para edificação do cristão.

INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUAS

É um dom de manifestação de mensagem verbal, sobrenatural, pelo Espírito Santo.


Não se trata de “tradução de línguas”, mas de “interpretação de línguas”. Tradução
tem a ver com palavras em si; interpretação tem a ver com mensagem. As línguas
estranhas como dom espiritual, quando interpretadas, assemelham-se ao dom de
profecia, mas não são a mesma coisa. O dom de interpretação é um dom em si
mesmo, e não uma duplicação do dom de profecia (cf. I Coríntios 12.10,30;
14.5,13,26-28).

Ao longo de todos esses dons espirituais citados, podemos então concluir citando o
conselho do Apóstolo Paulo para buscarmos os melhores dons para edificação da
Igreja (1 Coríntios 14:1).

QUESTÕES

1. O que é a pneumatologia?

2. Qual a importância da igreja no desenvolvimento da doutrina da deidade do


Espírito Santo?

3. Destaque os títulos do Espírito Santo e aborde como eles provam que o Espírito
Santo é Deus

4. Destaque os atributos do Espírito Santo e aborde como eles provam que Ele é
Deus.
5. Qual é a personalidade do Espírito Santo? Destaque as principais características
que provam tal personalidade.

6. Compare e aborde sobre as características do ministério do Espírito Santo no


Antigo Testamento e no Novo Testamento

7. Diga a diferença entre o Batismo no Espírito Santo e o Batismo com o Espírito


Santo na visão pentecostal.

8. Quais são os 9 dons espirituais? Escolha três da lista e explique.

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