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SEMINÁRIO PROVINCIAL SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

Faculdade de Teologia
Escatologia –2013/2
Pe. Lindomar Rocha Mota
Álisson Alves de Almeida
11/09/2013

A escatologia veterotestamentária

A complexidade de compreensão escatológica em Israel se dá, primeiramente, pelo


fato de não se saber claramente, em que período iniciou-se ali esta reflexão, levando-se em
conta a complexidade da tradição. Israel privilegiou um esquema de pensamento que fosse
orientado em sentido temporal-histórico sob a luz da promessa, que constitui a compreensão
da realidade como história. É esta a chave que oferece a possibilidade aos eventos de se abrir
ao que é novo, ao futuro, em constante esperar de algo que virá como dom, por isso, é gerador
de esperança.
Vida e morte são os problemas clássicos da comunidade. O viver é fazer experiência
da guarda responsável de um dom de Deus que criou todas as coisas. A morte, para o AT não
é nada de extraordinário, mas o simples termo da vida, uma sorte comum a todos. Aceitando
esta realidade, rebela-se, contudo, com a morte prematura, que seria um rompimento da
comunhão do homem com Deus. Assim o significado da morte humana é de caráter religioso.
A morte rompe a relação humana e religiosa, todavia, a fé no Deus da Aliança oferece
perspectivas que se fundamentam nas suas promessas e também na esperança. Dessa
esperança, entra o sentido da ressurreição (inspirado em 2Mc 7), que é a afirmaçãode um
decreto de vida por parte daquele que é o Senhor de tudo o que é criado e vive e que
reconhece fidelidade dos que são fiéis e justos.
Na literatura profética, Deus é novidade de futuro, apoio único de Israel. Deus é o
“novo” que provoca mudanças na história (coisas novas) segundo a sua fidelidade, a “Nova
Aliança”. Assim também se diz do “dia de YHWH” como dia de vitória e condenação, dia de
juízo, como exortação à conversão de Israel que estava longe dos compromissos da Aliança.
A ideia de ressurreição nos profetas é o resgate da identidade religiosa que se perde no exílio.
O novo de Deus será incorporado ao fazer o povo “retornar” à vida, e será o soberano do
povo, que fielmente guia a história para a plenitude absoluta.
Os sapienciais tomam o tema do “dia de YHWH” para atribuir à “visita de Deus”. O
futuro do homem é compreendido em termos de imortalidade, associado também a uma
concepção platônica de sobrevivência da alma, mas correspondido aos justos.
A escatologia dos apocalipses judaicos, baseada em textos apócrifos, tem como
elementos constitutivos do seu pensamento a) a espera impaciente pelo fim cósmico, b) este
fim como uma catástrofe, c) o fim ligado totalmente com a história, d) a ligação forte entre a
história terrena e a ultraterrena, e) a salvação dos justos, f) o tempo escatológico do fim, de
perdição para salvação definitiva, g) a figura de um intermediário que rege e julga e h) a
glória como o termo indicativo do estado final. As formas literárias são, basicamente, c
constituídas pelos fatores literários seguintes: a pseudonímia (um ilustre personagem atrás do
qual se esconde o autor) e a visão (sonho que descreve os detalhes da ideia).
A escatologia desses textos não é simples. Caracterizada pela espera impaciente do
fim, demonstra uma profunda descontinuidade entre este mundo e o outro (presente e futuro
como bem e mal). Para eles também, esta vinda futura do Senhor não tardará; Ele abreviará a
espera do fim. Quanto à alma, esta não é imortal por natureza, mas recebe de Deus a
imortalidade, como dom. Muda-se, ainda, o sentido de ressurreição que denota uma
transformação que a todos envolve. O juízo é o acontecimento mais importante e decisivo
para o qual toda a comunidade se dirige, onde prevalecerá Deus e sua vontade sobre toda a
criação, definindo também prêmio e castigo.

A escatologia neotestamentária

Toda a escatologia do Novo Testamento tem como “linha de convergência” uma


cristologia, isto é, o evento Jesus de Nazaré é decisivo em referência aos conteúdos da
esperança escatológica neotestamentária. Jesus é quem proclama a soberania de Deus na
história da humanidade, e completa o tempo da espera, sendo Ele mesmo o evento
escatológico esperado, o futuro qualitativamente novo. Jesus revela o Reino de Deus onde há
uma reviravolta: da infelicidade para a felicidade salvífica. Mas, este Reino só é determinável
pela sua procura e vigilância atenta e produtiva por parte dos homens. O destino final da
história, então, será a volta do “Filho do Homem” (cf. Mc 13) que julgará e porá um fim na
separação escatológica de “proximidade” ou de “distância”. O futuro definitivo do homem se
baseia no seu diálogo com o ladrão, no Calvário, que, diferente da espera judaica de um fim
longínquo, o que é preparado para o ladrão arrependido é uma salvação no “hoje” da sua

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morte que tem seu “lugar” escatológico na pessoa do próprio Jesus: “Ainda hoje estarás
comigo no paraíso” (Lc 23,43).
A escatologia presente no texto de João refere-se aos conceitos de vida eterna, juízo e
ressurreição como elementos que dão corpo à sua mensagem escatológica. A vida eterna e o
juízo dependem da aceitação da realidade do Filho na pessoa do Verbo encarnado. Esta
presença de Jesus, ao ser rejeitada, faz o homem cair na condenação. A decisão de fé a favor
ou contra Jesus antecipam a vida eterna ou o juízo de condenação, mas não o fim, pois poderá
ser submetida a um juízo ulterior no futuro último de Deus. A plenitude da vida futura, porém,
está associada à escuta da palavra e à “manducação sacramental” do corpo e sangue de Cristo.
A escatologia paulina põe como seu eixo principal a ressurreição de Cristo, este é o
momento da irrupção do tempo escatológico na história presente. Assim, a ressurreição de
Cristo está no início de toda ressurreição como modelo e causa para os que creem. A vida
ressuscitada é já real no presente histórico, mas sua plenitude será no momento em que
partilharemos em nosso corpo da condição gloriosa do Ressuscitado. O proceder teológico de
Paulo tem em vista duas formas de existência cristã: a terrena (transitória) e a celeste
(duradoura, perfeita). A morte do crente é quem acaba com esta tensão, pois assim estará ele,
com Cristo, na morte, como uma real antecipação da existência gloriosa na ressurreição final
com o corpo celeste. A parusia é a definitiva libertação de tudo o que é passível de
condenação, onde os cristãos tomam parte na plenitude de vida inaugurada pela ressurreição
de Jesus Cristo.
Os demais escritos do NT orientam a escatologia da vida cristã em relação à
experiência de fé em Jesus Cristo. A procura de uma “cidade futura” é o novo estatuto
escatológico dos que não vivem mais segundo a promessa, mas que já podem gozar, pela, do
cumprimento da obra de Deus. Contudo, o acesso ao Pai só se tornou possível pela obediência
de Seu Filho, Jesus Cristo, no seu perfeito e eficaz sacrifício sacerdotal. As cartas católicas
concentram sua atenção no viver cristão como antecipação da parusia. Neste dia, o juízo
escatológico será revelado universalmente, em todo o seu alcance de decisão e de
discriminação. Os cristãos, porém, são chamados a viver como ressuscitados, na certeza de
que Deus garantirá sua promessa futura. A escatologia do Apocalipse remete-se sempre a
Jesus, “o primogênito dos mortos”, que oferece um sentido à história dos cristãos e determina
seu pleno cumprimento no futuro.
Por fim, a escatologia dos apocalipses cristãos busca a narração de todas aquelas
coisas que acontecerão no futuro do mundo e da humanidade. O apocalipse de são Pedro,

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relevante por ser o texto mais antigo que apresenta as ideias de céu e terra, traz os temas do
juízo, do destino final dos justos e ímpios e o lugar dos mesmos. No dia do juízo, da vinda do
Senhor, haverá a ressurreição dos mortos e, assim, a terra também será restituída e julgada;
um juízo com proporções cósmicas. O lugar será Jerusalém e cada um será julgado conforme
as suas obras. O destino dos ímpios é descrito com detalhes, uma espécie de sofrimento para
cada tipo de pecado, uma punição proporcional ao pecado e em lugares de onde não se pode
mais voltar. O destino final dos justos é “a eterna felicidade”. O lugar do prêmio é o “paraíso
aberto”, lugar provisório, destinado aos pais justos do AT e o “céu” reservado aos fiéis e
justos. O céu é um lugar de alegria, onde todas as almas engrandecem ao Senhor eternamente
ao lado dos anjos.
O apocalipse de Paulo é de caráter mais individual. Os elementos escatológicos
fundamentais deste escrito se dão de forma diversa à maneira do apocalipse de Pedro, não se
referindo a um fim da história, mas ao destino do indivíduo que se segue imediatamente
depois da morte. O destino da alma após a morte é o que dá todo o contorno do escrito. O
juízo de Deus será de misericórdia para a alma que usou de misericórdia e será levada ao céu;
a alma do pecador, porém, é destinada às trevas “onde há choro e estridor de dentes”. O
acento posto numa escatologia de perspectiva individual, marca a característica do juízo
particular e da consequente retribuição depois da morte de cada um. Assim, Paulo relatava,
com pormenores vivos e práticos, o futuro de cada homem. O lugar do prêmio é constituído
de várias regiões, mas o verdadeiro “paraíso” é a “Cidade de Cristo”, a qual tem no seu centro
o rei Davi, de rosto esplendoroso como o sol e dotado de grande poder. Segue-se, enfim, uma
descrição bastante sóbria do paraíso, mas um lugar cheio de delícias, onde abunda a vida.
Enquanto o inferno é bastante explicado, com demasiados pormenores que identifica e
qualifica os condenados.

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