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Música Episódica

por: Rolando de Nassáu

Música episódica é a execução musical que ornamenta incidentes do culto divino. Tem
por objetivo rapidamente criar um ambiente religioso e estimular a devoção particular
dos participantes do culto público da igreja. Essa música, que serve para impressionar
os cultuantes, deve prepará-los para as partes do culto em que deverão expressar o seu
louvor a Deus.

Assim, resumidamente, a música-de-culto usa a impressão como auxílio na criação do


ambiente no qual a expressão usará, como veículo de culto, o louvor, prestado por meio
de vozes e instrumentos musicais (ver: João Wilson Faustini, Música e Adoração. São
Paulo: Imprensa Metodista, 1973, pp. 17-21).

É lamentável que ministros e diretores de música de nossas igrejas não tratem


devidamente as peças da música de impressão, por considerá-las de menor significação
dentro da Ordem de Culto. Talvez porque, por sua própria natureza, sejam de breve
duração, e eles desprezem as coisas pequenas.

O primeiro item da música episódica é a convocação – música que tem a finalidade de


convidar e reunir os crentes no santuário do templo para o culto (ver: Roberto Torres
Hollanda, Culto – Celebração e Devoção. Rio de Janeiro: JUERP, 2007). Jesus
convocou a Sua igreja (Mt 18. 20); a Igreja é convocada pelo próprio Deus; o crente que
não comparece ao templo no Dia do Senhor está diminuindo o Corpo de Cristo, e não
está atendendo à convocação divina (ver: op.cit., pp. 150-152). Pode ser usado um
carrilhão; um sistema sonoro amplifica eletronicamente o repique. No Brasil, são raras
as igrejas que possuem esse instrumento; algumas dispõem de órgãos eletrônicos que
imitam o som do carrilhão. A mutilação de melodias bem conhecidas, como é o caso
dos hinos cantados pela congregação, deve ser evitada. A convocação deve ser
facilmente reconhecida pela congregação espalhada pelas dependências do templo. A
música deve ser criteriosamente escolhida e propositadamente breve, pois há o perigo
de ser o carrilhão usado para executar melodias profanas e como se fosse instrumento de
concerto musical. O uso de sinos caracteriza, desde o século V, a liturgia romana,
enquanto o de carrilhões tem sido aceito em igrejas protestantes e evangélicas.

Processional é a música tocada nos instrumentos para acompanhar e solenizar a entrada


do coro e do dirigente do culto. Só tem razão quando, para um solene cortejo, há espaço
e tempo disponíveis. É um absurdo tocar música processional se o coro e o dirigente
entram displicentemente no santuário.

Prelúdio é a introdução adequada, instrumental ou orquestral, de um culto. Durante


alguns poucos minutos, no início do culto e logo após a música processional, o órgão,
ou o piano, ou outro instrumento com toque suave, deve executar um prelúdio que
favoreça a coesão do auditório, mediante uma atitude religiosa das mentes; nesse
momento pode começar a adoração individual de cada cultuante. Essa adoração será
prejudicada se o prelúdio for pretexto para a exibição dos dotes artísticos de um
instrumentista ou de uma orquestra. Em muitas igrejas o prelúdio é aproveitado pela
congregação para animada conversação.
Interlúdio é uma peça de música instrumental, executada antes do sermão, com a
finalidade de preparar psicológica e espiritualmente o auditório (I Cor. 14. 15). O órgão
é o instrumento melhor indicado para executá-la. Mas pouco adianta uma igreja dispor
de um órgão-de-tubos, e nele ser executada música profana, erudita ou popular, e, por
isso, inconveniente; ou a congregação continuar distraída de sua participação efetiva no
culto. Quanto à execução, os interlúdios devem: 1º) ser tocados suavemente, mesmo que
órgão e piano toquem ao mesmo tempo; 2º) ser breves, pois interlúdio não é recital nem
concerto; 3º) ter melodias de hinos cujas letras são desconhecidas ou pouco conhecidas
pela congregação; quando o crente lembra a letra do hino que está sendo tocado durante
o interlúdio, é possível que interrompa ou não comece a sua meditação ou oração
silenciosa; a letra de um hino, escolhido aleatoriamente pelo instrumentista, talvez não
esteja relacionada com o tema do sermão pastoral, o que será mais prejudicial ao
doutrinamento da congregação; 4º) proscrever melodias de obras profanas (vocais,
corais ou instrumentais), por mais belas e agradáveis que pareçam ao executante ou a
algum membro da congregação. Em algumas igrejas, a única função do interlúdio é dar
oportunidade ao instrumentista para que improvise, enquanto os retardatários procuram
lugares vagos no salão de culto.

Poslúdio é a conclusão adequada, instrumental ou orquestral, de um culto; impõe-se a


observância da natureza do sermão; se foi exortatório, gratulatório ou consagratório, a
melodia correspondente deverá ser meditativa, jubilosa ou pomposa. Se o prelúdio deve
favorecer previamente a coesão do auditório, o poslúdio deve, coerentemente, reforçar a
argumentação do sermão.

Recessional é a música tocada para acompanhar e solenizar a saída do coro e do


dirigente do culto. Se a congregação entrou no templo irreverentemente, ao final do
culto, imitando o bom exemplo do coro e do dirigente, haverá maior possibilidade que
saia do templo reverentemente, com ordem e decência.

Os instrumentistas, ministros e diretores de música de nossas igrejas devem cuidar


desses incidentes, acima comentados, a fim de que a Ordem de Culto não sofra os
acidentes indesejáveis da impontualidade, displicência, irreverência, improvisação,
irrelevância e desordem, que prejudicam a espiritualidade.

Fonte: O presente artigo foi publicado no periódico “O Jornal Batista“, em 02 de


setembro de 2007. Os editores do Música Sacra e Adoração agradecem ao autor pela
contribuição.

Rolando de Nassau é organizador do “Dicionário de Música Evangélica” e tem sido,


por vários anos, colunista de O Jornal Batista, atuando como um perspicaz comentarista
dos rumos que a música evangélica tem tomado. Informações mais detalhadas sobre o
autor poderão ser encontradas em http://www.abordo.com.br/nassau/

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