A música faz parte de todos os cultos religiosos, tanto no culto pagão como nos cultos
bíblicos e cristãos. Na Bíblia encontramos não só hinos e cânticos, mas um livro de cânticos: os
salmos.
Também, há muitas menções a instrumentos musicais que acompanham o canto. Cantar é
próprio de quem ama, de quem está alegre, de quem está de bem com a vida!
A liturgia cristã sempre foi marcada pela música. No início foi marcada pelo canto, depois
pelos instrumentos, seja acompanhantes do canto, seja solistas. Hoje é tempo de redescobrir a
música solista como expressão de louvor. Para isto é preciso formar a assembleia para o espírito
litúrgico. O que importa é não transformar a celebração em concerto, num show de instrumentistas,
ou exibição de solistas. O músico também precisa entender de liturgia.
O canto é uma forma de oração, de prestar culto a Deus e de animar as celebrações! Pelos
sons musicais expressamos alegria, tristeza, sentimentos, serenidade, fé. Isto quer dizer que pelo
canto revelamos o estado da alma.
1. Expressão do canto
A força expressiva do canto enriquece e transforma a celebração. Vejamos 4 características:
a) Festa: cantar demonstra alegria. A música contagia os ambientes, transforma a tristeza em
alegria.
b) União dos corações: um mesmo texto, uma mesma melodia, um mesmo ritmo, os mesmos
movimentos, a mesma pausa. Isto gera unanimidade de coração e é sua expressão.
c) Compromisso com a vida: tudo o que é assumido e cantado, manifesta o compromisso
com a luta, com a certeza e esperança, com os outros. Uma coisa é você dizer que ama alguém,
outra coisa é dizer isto cantando.
d) Expressão da emoção: expressa a emoção (sentimento) com o mistério celebrado.
8. Cantar a liturgia
O povo sacerdotal, a comunidade dos batizados-crismados, reúne-se para celebrar o mistério
da Nova Aliança, sempre com a convicção da presença, invisível mas real, do seu Senhor, Jesus
Cristo, que prometeu: “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles”
(Mt 18,20).
A assembleia é o lugar de preferência da presença do Senhor. Não nos esqueçamos das
presenças de Cristo na liturgia: Cristo está presente na Palavra proclamada, na pessoa do presidente,
na assembleia e no Pão e no Vinho. Segundo Paulo VI e o Concílio Vaticano II - lembram-nos esses
autores - Cristo está presente na liturgia em não menos de cinco formas: na assembleia, quando nos
reunimos para a oração; na Palavra de Deus, quando é proclamada; no sacerdote, quando celebra a
missa; nos sacramentos, quando são administrados; e, finalmente, no pão e no vinho.
A assembleia cristã é a que celebra a Eucaristia, sob a presidência do ministro que a completa
visibilizando o verdadeiro presidente, Cristo: “Na Missa ou Ceia do Senhor, o povo de Deus é
convocado e reunido, sob a presidência do sacerdote que atua na pessoa de Cristo, para celebrar o
memorial do Senhor ou sacrifício eucarístico” (IGMR 27). Por isso, ao reformar as celebrações
sacramentais e a Liturgia das Horas, tomou-se como um dos critérios fundamentais, o
favorecimento da participação ativa por parte de toda a assembleia reunida, a oração e o canto nos
momentos oportunos, as ações sacramentais nas quais participa, as aclamações e diálogos, etc.
A assembleia é presença real de Cristo! É o que a liturgia quer expressar na incensação, as
presenças de Cristo são incensadas: as oblatas, o presidente, o Evangelho e a assembleia. Tomemos
consciência da presença real, verdadeira e substancial da presença de Cristo na assembleia reunida
em liturgia.
Vejamos quem canta na liturgia e quem canta a liturgia:
a) QUANDO A ASSEMBLEIA CANTA: Antes de mais nada deve-se levar em consideração,
nas celebrações, a realidade das pessoas, em sua vasta diversidade. O canto litúrgico deve priorizar
a assembleia cantante, não a indivíduos ou grupos. Os agentes ajudam e auxiliam a assembleia
cantar. Para isso o canto deve ter o índole cultural da assembleia ou não algo “enlatado” ou
“robotizado” culturalmente. Há momentos da celebração que compete a toda a assembleia cantar:
Ato penitencial; Glória; Santo; Amém; Respostas; Aclamações; Refrãos.
b) QUANDO O CORAL CANTA: O coral desempenha verdadeiro ministério ora dirigindo o
povo, ora destacando algum momento com arranjos musicais. A sua função é:
. enriquecer o canto do povo;
. criar espaço de descanso;
. animar o canto da assembleia.
Seus critérios sejam o serviço e não a estética pura e exibicionista. Um coral pode executar
peças enquanto a comunidade ouve, acolhe, medita. Pode, também, fazer vozes
num canto que a assembleia canta ou dialogar com a assembleia. Exemplos: canto de comunhão;
salmo Responsorial; ação de graças.
c) QUANDO UM GRUPO/ MINISTÉRIO CANTA: Faz as vezes de um coral, executando
peças que exigem mais ensaio. Certas composições são próprias para poucos cantores, não são para
o povão. Em composição sacra, na polifonia clássica, há partes de uma música que são cantadas por
um grupo dentro do coral.
d) QUANDO O SOLISTA CANTA: O solista é aquele que executa sozinho uma canção,
dentro da liturgia: entoações; admoestações; leituras; proclamações; orações; bênçãos; despedida.
e) QUANDO O PRESIDENTE CANTA: O principal solista de uma celebração é o presidente
e, é triste constatar como a maioria não sabe cantar a liturgia, não é formada para cantar, não
conhece melodias, nem se preocupa em aprender a cantar, desde os ministros, diáconos, padres e
bispos. Precisamos ensinar a cantar nos seminários e casas de formação.
1. O sinal da cruz e a saudação inicial: Compreende a invocação da Trindade e a saudação
apostólica, em geral feitos por quem preside a celebração, dispensando outros comentários, uma vez
que já houve motivação inicial pelo comentarista.
2. Oração da coleta: É uma oração presidencial que recolhe os motivos da celebração e
prepara a assembleia para ouvir a palavra. Não é aconselhável que entre o convite: “Oremos”, feito
pelo presidente e a proclamação da oração, seja lido uma série de “Intenções de missa”. Não se
deve confundir “Motivos da celebração” com as famosas “intenções de missa”.
3. Evangelho: A introdução quase sempre é feita em tom gregoriano. Hoje, existem várias
melodias para proclamação do Evangelho. Lembre-se de que o texto enunciado e cantado é o que
interessa. A música auxilia a compreensão da Palavra.
4. Oração sobre as oferendas: É também esta uma oração presidencial, trata-se de um pedido
de aceitação da vida dos dons apresentados.
5. O diálogo, o prefácio e o santo: Os dois primeiros, em geral, são orações presidenciais. Em
melodias simples e recitativas dão maior expressão a cada parte. O missal romano oferece várias
opções para quem tiver capacidade de cantar. O Santo é aclamação do povo ao seu Senhor.
6. A instituição da Eucaristia: É recomendável que o Presidente cante a instituição. Existem
várias melodias. Sempre com as mesmas palavras propostas pelo Ritual Romano.
7. Aclamação memorial (Eis o mistério da fé...): É uma das aclamações mais importantes da
missa. O presidente introduz e a assembleia responde cantando. A aclamação memorial, não deve
ser substituída por qualquer refrão eucarístico.
8. Doxologia e o grande Amém: É a formula que exprime e, no caso da missa, resume toda a
glória dada ao Pai por meio do Filho, no Espírito Santo. O “amém” final expressa a concordância da
assembleia com tudo o que foi proclamado na oração eucarística, presidente. Para ser mais efetivo o
“Amém” poderia ser repetido e enriquecido com arranjos musicais.
9. Oração do Senhor (Pai-Nosso): O presidente pode introduzir cantando, convidando o povo
a cantar. O Pai-nosso deve ter uma melodia simples e que contemple as palavras bíblicas, ou seja,
na sua forma ordinária, em Latim.
10. Apresentação da comunhão: Seria interessante apresentar o “Cordeiro que tira o pecado
do mundo” cantado. Daí o povo responde cantando “Senhor eu não sou digno”.
11. Oração depois da comunhão: Também esta é uma oração presidencial. Tem a função de
convocar a comunidade para viver aquilo que celebrou. É uma proposta de vida para a semana.
12. A bênção e as fórmulas de despedida: Ambas são uma invocação para que o Senhor da
aliança caminhe conosco no cotidiano da vida. “O Senhor vos abençoe... O Senhor vos
acompanhe...”
9. O silêncio litúrgico
É muito importante garantir momentos de silêncio entre as várias partes da celebração. A sua
natureza depende do momento em que ocorre em cada celebração:
. Ritos Iniciais: no Ato penitencial e após ouvir o convite do presidente “Oremos”, cada fiel
se recolhe;
. Liturgia da Palavra: após as leituras e a homilia, para meditar o que ouviram;
. Liturgia Eucarística: acompanha-se em silêncio todas as orações. O silêncio só é rompido
pelas Aclamações. No Rito da Comunhão: depois da comunhão, para louvar e agradecer a Deus no
íntimo do seu coração.
Para cada momento, nas celebrações nós devemos revalorizar o silêncio numa sociedade
barulhenta, estressante, dispersa e agitada. Viemos para as celebrações “bombardeados” por um
ambiente musical atordoante.
b) Princípios LITÚRGICOS:
1. Em todos os seus elementos (palavra, melodia, ritmo, harmonia) participa da natureza
simbólica e sacramental da liturgia cristã;
2. Sempre traz consigo o selo da participação comunitária;
3. Manifesta o caráter ministerial de toda a Igreja;
4. É música ritual (funcional para cada momento do rito);
5. Está a serviço da Palavra (realçar); expressa o mistério pascal de Cristo de acordo com o
tempo do ano litúrgico e suas festas;
6. Sintonia com o Ano Litúrgico, textos bíblicos, prefácios.
c) Princípios PASTORAIS:
1. Adequar os cantos à diversidade dos ambientes sociais e culturais, à vivências do cotidiano,
às possibilidades e adaptações de cada assembleia;
2. Ter sensibilidade e sensatez na escolha, aprendizado, utilização do repertório, e também
oportunizar formação.
d) Princípios ESTÉTICOS:
1. Estar em sintonia com a cultura musical do povo, de onde provém os participantes da
assembleia celebrante;
2. Privilegiar a linguagem poética pois é a que mais se ajusta ao caráter simbólico da liturgia;
3. Priorizar o texto, a letra, colocando tudo mais a serviço da plena expressão da palavra, de
acordo com os momentos e elementos de cada rito;
4. Realizar a simbiose (combinação vital) entre palavra (texto, letra) e a música que a
interpreta; ao ser executada prima por manter-se fiel à concepção original do (a) autor (a), conforme
esta expressa na partitura, sob pena de perder as riquezas originais da sua inspiração e,
consequentemente, empobrecer-lhe a qualidade estética e densidade espiritual.
Em síntese:
1. Situar-se no Ciclo Litúrgico (“tempo litúrgico”) que estamos vivendo;
2. Ter conhecimento se a Liturgia do dia que sou responsável é Liturgia Dominical ou
Semanal;
3. É uma solenidade, uma festa, uma memória obrigatória ou facultativa, ou um dia comum?
4. Ler os textos bíblicos daquele dia;
5. Ler a Oração do Dia e o Prefácio;
6. Ter clareza que existem cantos rituais e cantos que acompanham o rito;
7. Para os cantos que acompanham o Rito, as Antífonas (Entrada, Comunhão) são um auxílio.