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“E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação

do Senhor.” (Ef 6.4)

INTRODUÇÃO

Dando continuidade sobre Relacionamento Familiar, na próxima lição estudaremos a história


das famílias de dois sacerdotes: Eli e Samuel. Veremos que, apesar da dedicação desses
homens ao ministério, seus filhos não seguiram pelo caminho da fidelidade ao Senhor. Nosso
propósito é que, a partir dessas duas histórias bíblicas, os pais homens reflitam a respeito de
suas responsabilidades como pais cristãos quanto à paternidade bíblica. Há mandamento do
Senhor para os homens quanto à criação de seus filhos.

I – A PATERNIDADE DENTRO DA FAMÍLIA

1. A primeira família.

É obrigação solene dos pais (gr. pateres) dar aos filhos a instrução e a disciplina condizente
com a formação cristã. Os pais devem ser exemplos de vida e conduta cristãs, e se importar
mais com a salvação dos filhos do que com seu emprego, profissão, trabalho na igreja ou
posição social (cf. Sl 127.3).

(1) Segundo a palavra de Paulo em Ef 6.4 e Cl 3.21, bem como as instruções de Deus em
muitos trechos do AT (ver Gn 18.19 nota; Dt 6.7 nota; Sl 78.5 nota; Pv 4.1-4 nota; 6.20 nota),
é responsabilidade dos pais dar aos filhos criação que os prepare para uma vida do agrado do
Senhor.

É a família, e não a igreja ou a Escola Dominical, que tem a principal responsabilidade do


ensino bíblico e espiritual dos filhos. A igreja e a Escola Dominical apenas ajudam os pais no
ensino dos filhos.

(2) A essência da educação cristã dos filhos consiste nisto: o pai voltar-se para o coração dos
filhos, a fim de levar o coração dos filhos ao coração do Salvador (ver Lc 1.17 nota).

(3) Na criação dos filhos, os pais não devem ter favoritismo; devem ajudar, como também
corrigir e castigar somente faltas intencionais, e dedicar sua vida aos filhos, com amor
compassivo, bondade, humildade, mansidão e paciência (3.12-14, 21). (STAMPIS. Donald C.
(Ed) Bíblia de Estudo Pentecostal: Antigo e Novo testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1995).

2. A falta de autoridade no lar.

Eli é uma figura trágica de quem comparativamente pouco se conhece. Um velho homem
com filhos incrédulos, ele criou Samuel quando criança sendo servo no templo. Eli é
lembrado por seu protesto em vão contra os pecados de seus filhos, Hofni e Finéias.
Por causa desta falha o menino Samuel foi chamado a pronunciar a maldição de Eli e a
remoção de sua família do ofício de sacerdote (1 Sm 3.11-14; cp. ISm 2.27-36). Finalmente
quando o exército em agonia pediu pela Arca de Deus para ser usada como um talismã de
sucesso em batalha, os dois filhos de Eli que seguravam a arca foram mortos e a Arca foi
capturada. Ao ouvir as más notícias, Eli. um homem pesado, caiu de sua cadeira perto do
portão da cidade e morreu com o pescoço quebrado. Ele tinha 98 anos. (MERRILL C.
TENNEY. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 1. pag. 359).

3. Os problemas de uma paternidade ausente.

A palavra “governar” significa uma administração misericordiosa, que traz direção e


orientação (veja I Ts 5.12; 1 Tm 5.17), sem um controle rígido, cruel, tirânico e autoritário.
Este tipo de liderança familiar reflete a correspondência entre a igreja e o lar vista em Efésios
5.28-6.9.

O primeiro rebanho do presbítero é sua família. Se ele fracassa em cuidar de sua casa, está
desqualificado para cuidar da casa de Deus. Se não cria os filhos no temor do Senhor, não é
capaz de exortar os filhos dos demais crentes. Se os próprios filhos não lhe obedecem nem o
respeitam, dificilmente sua igreja lhe obedecerá e respeitará sua liderança.

John Stott diz corretamente que o pastor é chamado a exercer liderança em duas famílias, a
dele e a de Deus, e a primeira é onde ele é treinado para poder atuar na segunda. Hans Bürki
alerta que, se as famílias, mesmo as famílias nucleares de nosso tempo, não forem mais
centros espirituais e locais de treinamento do amor experimentado de Deus, as igrejas se
tornarão desertas, apesar de todo o ativismo. Por isso, cuidar das igrejas significa construir
antes de tudo famílias saudáveis na fé. (LOPES. Hernandes Dias. 1 Timóteo. O Pastor, sua
vida e sua obra. Editora Hagnos. pag. 80-81).

II – TIPOS DE PATERNIDADE EXTREMISTA

1. A paternidade autoritária.

Paulo exorta os pais não a exercer sua autoridade, mas a contê-la. Mediante o Pátria potestas,
o pai podia não só castigar os filhos, mas também vendê-los, escravizá-los, abandoná-los e
até mesmo matá-los. Sobretudo os fracos, doentes e aleijados tinham pouca chance de
sobreviver.

Paulo ensina, entretanto, que o pai cristão deve imitar outro modelo. A paternidade é derivada
de Deus (Ef. 3.14,15; 4.6). Os pais devem cuidar dos filhos como Deus Pai cuida de sua
família. Na verdade, é o Senhor quem cria os filhos por intermédio dos pais.

Paulo enfatiza é uma exortação negativa-. “E vós, pais, não provoqueis a ira dos vossos
filhos” (Ef. 6.4a). A personalidade da criança é frágil, e os pais podem abusar de sua
autoridade usando ironia e ridicularização. O excesso ou ausência de autoridade provoca ira
nos filhos. O excesso ou ausência de autoridade leva os filhos ao desânimo. Cada criança é
uma pessoa peculiar e precisa ser respeitada em sua individualidade.
Os pais podem provocar a ira dos filhos por excesso de proteção ou favoritismo. Quando
Isaque revelou preferência por Esaú, e Rebeca predileção por Jacó, eles jogaram um filho
contra o outro e trouxeram grandes tormentos sobre si mesmos.

Há pais que provocam a ira em seus filhos revelando contínuo descontentamento com o
desempenho deles. Os filhos não conseguem agradar os pais em nada. Semelhantemente, os
pais provocam ira nos filhos por não reconhecer as diferenças entre eles. Cada filho é um
universo distinto.

Outra forma de provocar ira nos filhos é o silêncio gélido, a falta de diálogo. Esse foi o
principal abismo que Davi cavou no relacionamento com seu filho Absalão. Os pais podem
provocar ira nos filhos por meio de palavras ásperas ou de agressão física. Finalmente, os
pais podem provocar ira nos filhos por falta de consistência na vida e na disciplina. Os pais
devem ser espelho dos filhos, e não carrascos deles.

William Hendriksen, nessa mesma linha de pensamento, aborda seis atitudes dos pais que
provocam ira nos filhos:

1) excesso de proteção;

2) favoritismo;

3) desestímulo;

4) não reconhecimento do fato de que o filho está crescendo e, portanto, tem o direito de ter
suas próprias ideias e de que não precisa ser uma cópia exata do pai para ter êxito na vida;

5) negligência; e

6) palavras ásperas e crueldade física.

Paulo ressalta são as exortações positivas (Ef. 6.4). Paulo destaca quatro coisas:

Em primeiro lugar, os pais devem cuidar da vida física e emocional dos filhos. “… mas
criai-os” (Ef. 6.4b). A palavra grega ektrepho, “criar”, quer dizer nutrir, alimentar. E a
mesma palavra que aparece em Ef. 5.29. Calvino traduziu essa expressão por “sejam
acalentados com afeição”. Hendriksen traduziu por “tratai deles com brandura”. As crianças
precisam de segurança, limites, amor e encorajamento. Os filhos não precisam só de roupas,
remédios, teto e educação, mas também de afeto, amor e encorajamento.

Em segundo lugar, os pais precisam treinar os filhos por meio da disciplina. “[…] na
disciplina” (Ef. 6.4c). A palavra grega paideia, “disciplina”, tem o sentido de treinamento por
meio da disciplina. A disciplina se dá por meio de regras e normas, de recompensas e, se
necessário, de castigo (Pv 13.24; 22.15; 23.13,14; 19.15). Só pode disciplinar (fazer
discípulo) quem tem domínio próprio. Que direito tem um pai de disciplinar o filho, se ele
mesmo precisa ser disciplinado? Russell Shedd diz que a palavra paideia, em grego,
representa o treinamento que produz uma reação automática no filho, de modo que, quando o
pai chama, ele vem.

Em terceiro lugar, os pais precisam encorajar os filhos através da palavra. “[…] e instrução”
(Ef. 6.4d). A palavra grega nouthesia, “admoestação”, quer dizer educação verbal. É educar
eficazmente por meio da palavra falada, seja de ensino, seja de advertência, seja de estímulo.
Se houver apenas advertência, os filhos ficam desanimados; se houver apenas estímulo, eles
ficam mimados. Esse equilíbrio entre advertência e estímulo é fundamental para a educação
dos filhos. Russell Shedd diz que essa palavra nouthesia quer dizer que os filhos devem
começar, desde pequeninos, a distinguir entre o que é certo e o que é errado. Devem ser
instruídos acerca do que é certo e errado, segundo o que Deus fala em sua Palavra.

Em quarto lugar, os pais são responsáveis pela educação cristã dos filhos. “[…] do Senhor”
(Ef. 6.4e). A expressão “do Senhor” revela que os responsáveis pela educação crista dos
filhos não são: o Estado, a escola nem mesmo a igreja, mas os próprios pais. Sob a economia
divina, os filhos pertencem, antes e acima de tudo, aos pais. Por detrás dos pais, está o
Senhor. Ele é o Mestre e o administrador da disciplina. A preocupação básica dos pais não é
apenas que seus filhos se submetam a eles, mas que cheguem a conhecer o Senhor a fim de
obedecê-lo de todo o coração (Dt 6.4-8).

Os pais devem se preocupar mais com a lealdade dos filhos a Cristo do que com qualquer
outra coisa; mais até mesmo do que com a saúde, com o vigor e o brilho intelectual deles,
com a prosperidade material, com a posição social ou com que não sofram grandes tristezas e
infortúnios.

Concordo com Wiliam Hendriksen quando diz que toda a atmosfera em que a educação é
transmitida deve ser tal que o Senhor possa pôr sobre ela seu selo de aprovação, uma vez que
o próprio cerne da educação cristã é este: conduzir o coração dos filhos ao coração do seu
Salvador. (LOPES, Hernandes Dias. EFESIOS Igreja, A Noiva Gloriosa de Cristo. Editora
Hagnos. pag. 164-167).

2. A paternidade permissiva.

O segundo tipo de paternidade negativa é a paternidade permissiva. É quando os pais não se


importam com princípios e deixam à mercê dos filhos a liberdade para decidirem sobre o que
quiserem.

É um tipo de tolerância sem freio algum que induz a criança a imaginar que seu pai não a
ama, nem se importa com suas necessidades emocionais e físicas. Ora, os pais permissivos
são aqueles que entendem que os filhos devem ter como exemplo a eles, mas não corrigem os
filhos quando cometem erros, nem são aconselhados quando se decepcionam com
experiências na vida.

O sábio Salomão disse em um dos seus pensamentos: “Visto como se não executa logo o
juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto
para praticar o mal” (Ec 8.11).
Ambos os tipos são negativos e prejudiciais ao bem-estar da família. A falta de uma
paternidade segura, presente e responsável produz uma família infeliz. (Cabral.
Elienai, RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA Superando Desafios e Problemas com
Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pag. 144).

3. Eli criou filhos que se tornaram profanos.

Há um contraste entre Samuel e os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias. Os filhos de


Eli “desprezavam a oferta do Senhor” (1 Sm 2:17), mas “Samuel ministrava perante o
Senhor” (v. 18). Os dois irmãos cometeram atos de perversidade no tabernáculo e suscitaram
o julgamento de Deus, mas Samuel serviu no tabernáculo e cresceu no favor do Senhor (v.
26).

A linhagem sacerdotal chegaria ao fim na família de Eli, mas Samuel seria chamado por Deus
para dar continuidade a um sacerdócio santo (1 Sm 2:34 – 3:1). Do ponto de vista humano, a
impressão era a de que os perversos filhos de Eli escaparam incólumes com sua
desobediência, mas Deus estava preparando o julgamento deles, enquanto capacitava seu
servo Samuel para continuar a obra divina. (WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico
Expositivo. A.T. Vol. II. Editora Central Gospel. pag. 206).

III – O FRACASSO DE DOIS PAIS RELAPSOS COM OS FILHOS

1. Omissos para com os filhos.

Em Eclesiastes 10:10 diz, “Se estiver embotado o ferro, e não se afiar o corte, então se deve
redobrar a força; mas a sabedoria é excelente para dirigir.” Há muitos os casos quando os
pais aprendem o que a Bíblia ensina sobre a educação dos filhos depois que os filhos crescem
além da idade melhor para corrigir.

De certo estes pais têm educado os seus filhos, só não conforme os princípios Bíblicos. Os
hábitos formados só podem ser modelados com paciência, mas há esperança se a sabedoria
Bíblica for usada. Um entendimento claro do erro deve ser entendido pelos pais. Os pais
devem saber exatamente onde e na qual medida foi a omissão de aplicar os princípios
Bíblicos por eles.

Sabendo estes fatos é necessário deixar os filhos a par dos erros que os pais deixaram
acontecer pela ignorância do que é certo. Os filhos podem ser contados os pontos específicos
que os pais erraram e como os filhos foram privados de aspectos positivos nas suas vidas
pelos erros dos pais. A maneira que os filhos podiam ser ajudados se a submissão à
autoridade fosse estipulada como regra quando eles eram crianças deve ser revelado.

A procura de perdão dos filhos pela omissão dos pais deve ser estimulada. “O que encobre as
suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confesse e deixa, alcançará misericórdia.”
Provérbios 28:13 Para não continuar no erro mudanças por necessidade virão acontecer no
lar. Tudo deve ser elaborado:
Quais mudanças devem acontecer, qual comportamento é aceitável e qual que não é
aceitável, quais atitudes devem ser modificadas, etc. Explicações claras e bem objetivas
devem ser feitas. Uma determinação de como o comportamento não aceitável vai ser tratado
no futuro precisa ser decidido junto com os filhos.

Entendimento entre todas as partes é primordial. Consistência na conduta dos pais é


necessária pois são os pais que estão se corrigindo também. Os pais precisam andar segundo
princípios novos tanto quanto os filhos. Se o objetivo é só mudar os filhos, é melhor nem
começar mudar os hábitos deles.

2. A isenção de responsabilidade de Eli e Samuel para com seus filhos.

Desamparar os membros da família é negar a fé e tornar-se pior do que os incrédulos. O amor


aos pais e avós é um sentimento natural, presente em quase todas as culturas. Até mesmo os
pagãos, que não conhecem os mandamentos nem a lei de Cristo, reconhecem e estimam as
obrigações dos filhos para com os pais.9 Cuidar dos pais e avós é uma prática universal. Os
pagãos, que não têm a luz da verdade bíblica, cuidam de seus pais na velhice. Portanto, deixar
de socorrer seus progenitores é um escândalo para o cristão, uma contradição, uma negação
do verdadeiro cristianismo.

Hendriksen tem razão em dizer que a negação neste caso não tem sido necessariamente por
meio de palavras, senão (o que com frequência é pior) por meio de pecaminosa negligência.
A falta de ação positiva, o pecado de omissão, desmente sua profissão de fé (sentido
objetivo). Ainda que professe ser um cristão, carece do mais precioso dos frutos que se dá na
árvore de uma vida e conduta verdadeira cristã. Carece de amor. Onde falta este bom fruto,
não pode haver uma boa árvore.

Paulo utiliza quatro argumentos para destacar que cuidar dos parentes significa aliviar a
igreja de uma carga desnecessária. Tratar adequadamente os membros idosos da família
significa retribuir a nossos pais (5.4), agradar a Deus (5.4), expressar e não negar a fé (5.8), e
não sobrecarregar a igreja (5.16). (LOPES. Hernandes Dias. 1 Timóteo. O Pastor, sua vida e
sua obra. Editora Hagnos. pag. 118-119).

3. Tratamento inadequado.

Este assunto não é o mais desejado para se estudar. Entretanto, inevitavelmente, não podemos
fugir do assunto que envolve as famílias dos líderes da igreja. É lamentável que pais, para
preservar a imagem de seus ministérios, usem seus filhos para correção pública, e muitas
vezes injusta, perante a igreja, para fortalecer sua autoridade pastoral.

Submetem seus filhos a um comportamento diferente das demais crianças e adolescentes do


ministério, porque querem que a igreja os veja como modelos perfeitos de disciplina.

Além de ser uma forma injusta da parte desses pais, ainda os submete a vexames e a culpas
inexistentes. Por essa razão, esses filhos se tornam revoltados, indomáveis, rebeldes,
desobedientes e insubmissos como forma de rejeição a esse tratamento. (Cabral.
Elienai, RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA Superando Desafios e Problemas com
Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pag. 147-148).

CONCLUSÃO

Ao refletir, ensinar e motivar a prática de uma paternidade responsável é um grande desafio


na atualidade. Infelizmente, alguns pais não assumem a responsabilidade paterna. Muitas
famílias clamam pelo cuidado, ensino e disciplina de um pai presente e temente a Deus. Os
pais crente devem cuidar da sua família com dedicação e responsabilidade.

Luciano Subirá

https://www.youtube.com/watch?v=HITNoBrN3G8

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