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Ano
3 - Nº 16
Dições cn?
O povo viu uma grande luz
(Is 9,2)
12 Edição - 2017
CO Poe Cosa nas ss Ens OA a US An OO nO a O COESO Ana DGE OUT O LCD o Une a cascos 0 du
C748; Conferência Nacional dos Bispos do Brasil/ Roteiros Homiléticos para o tempo do Advento - Natal
— Tempo Comum: O povo viu uma grande luz. Ano B - São Marcos. Brasília, Edições CNBB. 2017.
p:64:14x21 cm
ISSN: 2359-1935
1. Liturgia;
2. Advento — Natal;
3. Tempo Comum.
CDU: 264.941.4
As citações bíblicas dos textos da celebração são do Lecionário Dominical, A, B, €, Paulinas, Paulus 1994,
Somente as citações que são para reforçar o sentido do texto foram retiradas diretamente da tradução bíblica
da CNBB e assim já citadas.
: Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios :
: (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de :
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Sumário
APRESENTAÇÃO...
1º DOMINGO DO ADVENTO
3 de dezembro de 2017 ..........e
eres rear rare
2º DOMINGO DO ADVENTO
10 de dezembro de 2017.............ec
re eerrna
3º DOMINGO DO ADVENTO
17 de dezembro de 2017...............cce rsrsrsr rer sera eeneas
4º DOMINGO DO ADVENTO
24 de dezembro de 2017..............e rsrsrsr
NATAL DO SENHOR
25 de dezembro de 2017 — Missa do dia...............ccccisio
3 de dezembro de 2017
VIGIA! PORQUE NÃO SABEIS QUANDO O DONO DA CASA VEM.
1. Situando-nos
Iniciamos o Tempo do Advento. O termo vem do latim e significa
“chegada, vinda”. Portanto, estamos no tempo da vinda do Senhor.
Duas são as vindas do Senhor: a primeira já aconteceu, a sua vinda
histórica, na carne; a segunda será a sua vinda definitiva, na glória.
Os dois primeiros domingos do Advento se ocuparão da vinda na
glória, portanto, serão domingos escatológicos (escatologia = estudo sobre
nossa realidade última, vida após a morte). Ainda não é hora de falarmos do
presépio, de Jesus criança na manjedoura, mas do Cristo glorioso que virá.
Podemos falar de muitas vindas do Senhor. As situações históricas
são verdadeiros juízos de Deus: as crises advindas das perseguições,
guerras e terrorismos já julgam o mundo com as suas consequências,
condenando o mundo com os seus egoísmos. De algum modo, a crise
política e financeira que assola nosso país é uma antecipação do juízo,
uma crise que provoca um choque de realidade, e também oportuniza
a purificação. Por outro lado, há também sinais mais positivos da vinda
do Senhor: os sinais proféticos provocados pelo testemunho de leigos e
leigas inseridos no mundo, os santos, os reformadores (celebramos 500
anos da Reforma Protestante), os Concílios Ecumênicos, o serviço aos
pobres. Deus bate à porta e vem ao encontro da humanidade constan-
temente, mas espera pelo nosso acolhimento.
Ho. O povo viu uma grande luz (Is 9,2)
2. Recordando a Palavra
Na primeira leitura, o profeta Isaías traduz os sentimentos do
povo desalentado depois do exílio da Babilônia. Diante de sua situação
limite, pede-se uma intervenção divina: em situações de crise, é mais
fácil esperar que Deus faça tudo sozinho, que realize uma intervenção
poderosa. Mas, ao mesmo tempo, o povo reconhece a sua infideli-
dade, bem como a misericórdia divina. Embora seja um povo fraco, é
modelado pelas mãos do oleiro que é o Senhor.
No Salmo Responsorial, Deus se revela o pastor que vem salvar o
seu rebanho, vem cuidar de sua vinha.
Na segunda leitura, São Paulo exorta a comunidade a permanecer
fiel em seu testemunho, fruto da ação divina (dom). À comunidade
deve se conservar irrepreensível, mantendo a comunhão, enquanto
aguarda a vinda do Senhor.
No Evangelho, Jesus propõe a vigilância. O dono da casa partiu,
deixando a sua propriedade sob o cuidado dos seus: cada um tem a sua
tarefa. Enquanto esperamos a vinda gloriosa do Senhor, cada pessoa
deve assumir a sua responsabilidade no cuidado da casa, isso significa
permanecer na vigilância.
3. Atualizando a Palavra
O tema da vinda do Senhor nos leva, neste domingo, a acendermos
a vela da vigilância. O Senhor virá como o dono da casa. Quando
chegar, desejará que seus empregados estejam atentos ao cuidado de
sua residência. Portanto, a nossa história não é um lugar de espera
passiva. À expectativa vigilante não nos coloca como passageiros no
portão de embarque. À vigilância nos leva a perceber a presença do
Senhor na história e a provocar suas vindas.
Há sempre o risco do sono, como conta Jesus na parábola. À vida
pode facilmente se tornar uma rotina, uma mera repetição cansativa.
Em nossas comunidades, não é raro encontrar sinais de uma pastoral
Roteiros Homiléticos para o tempo do Advento — Natal - Tempo Comum 8H
1 BENTO XVI. Carta Encíclica Spe Salvi (SS). Documento Pontifício 2. Brasília: Edições
CNBB, 2007, n. 12.
2º DOMINGO DO ADVENTO
10 de dezembro de 2017
PREPARA! O CAMINHO DO SENHOR.
Leituras: Is 40,1-5.9-11
SI 84,9ab-10.11-12.13-14 (R. 8)
2Pd 3,8-14
Mc 1,1-8
1. Situando-nos
“Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1,1).
Ássim começa o Evangelho de Marcos. Declara-se logo no início que o
texto é um evanguelion, ou seja, uma boa notícia. Quando esta mensagem
chega aos ouvidos de homens e mulheres deve, sim, gerar amor, alegria,
esperança. Ás instituições religiosas, quando não se deixam guiar pelo
Espírito, anunciam uma má notícia, bem diferente do Evangelho de
Jesus Cristo. É preciso que insistamos no aspecto altamente positivo
do Evangelho: sua alegria, sua força transformadora e ilimitada, a
experiência salvífica que nos enche de felicidade e sentido.
2. Recordando a Palavra
O profeta Isaías trouxe uma boa notícia ao povo que estava prestes
a ser libertado do cativeiro babilônico: “Consolai o meu povo, consolai-
-o! — diz o vosso Deus” (Is 40,1). Quando muitos não acreditavam na
libertação, quando tantos estavam aprisionados pelo peso dos pecados
e não encontravam saída, Isaías prepara um tempo novo: que venha a
consolação, que venha a paz, que se prepare o caminho para novos dias.
O Salmo Responsorial pede com suavidade que Deus mostre o
seu amor.
= O povo viu uma grande luz (Is 9,2)
3. Atualizando a Palavra
Hoje, diante de tantas escravidões, não podemos ficar no exílio,
pois o Senhor vem para nos trazer consolação. O que esperar de nosso
país, depois de tantos períodos de instabilidade, diante da corrupção
que se mostra cada vez mais escancarada? O que esperar de nossa vida
particular diante dos medos e das angústias provocados pelos desafios
da existência? Deus não nos deixa faltar sua consolação, não nos quer
escravos do medo ou do pessimismo.
À tônica de Isaías é a mesma do último e mais importante de todos
os profetas — João Batista. Este homem apareceu no deserto vestido de
roupas de animais, alimentando-se de gafanhotos e mel, gritando uma
voz forte de conversão: “Esta é a voz daquele que grita no deserto:
'Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas estradas” (Mc 1,3).
Banhar-se nas águas é sinal de conversão. João Batista insiste
4!
Aquele que vem é mais forte do que tudo. Sua força se manifesta em
sua vitória sobre os inimigos, sobre os adversários, sobre a morte e sobre
o pecado. Por isso, aquele que vem não batiza com água, mas com o
Espírito Santo. À conversão que se almeja, portanto, não é simples obra
humana, pois Deus pode realizar esta graça em nós. É Deus que age na
interioridade de nosso ser, que é tão íntimo em nossa intimidade, que
nos guia e gera a vida nova. Seu convite continua: “Renovai hoje em vós
este Espírito que gera vida. Preparai o caminho do Senhor” (Jo 1,19-28).
17 de dezembro de 2017
FICA! SEMPRE ALEGRES.
Leituras: Is 61,1-2a.10-11
Lc 1,46-48.49-50.53-54 (R. Is 61,10b)
ITs 5,16-24
Jo 1,6-8.19-28
1. Situando-nos
O 3º Domingo do Advento é chamado de gaudete, ou seja, é o
domingo da alegria. Alegrai-vos, o Senhor está perto, ficai sempre
alegres, pois estamos em um tempo especial, está próxima a vinda
do Senhor; o Salvador está próximo de nós: seu nome é Emanuel,
Deus-conosco. Nesta liturgia, Deus nos convida a acolhermos
a verdadeira alegria da proximidade de Deus. “A Alegria do
Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram
com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado,
da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce
sem cessar a alegria”.
Mas, quantas são as tristezas. Não controlamos a história e, portanto,
as dificuldades aparecem sem que possamos antecipá-las. À vida não se
realiza sem enfrentamentos, sem cruzes. Além disso, carregamos um
pântano interior: nosso inconsciente, nossas dores refugiadas na interio-
ridade, nosso mundo de emoções, afetos, dúvidas, medos. À proposta
cristã deste Tempo do Advento é um grande desafio que exige nossa
abertura, fé e esperança: deixar o coração se encher de alegria, alegria
que vem de Deus, serenidade apesar das lágrimas de nossa história.
2. Recordando a Palavra
À primeira leitura traz a situação do povo que já retornou do exílio
babilônico, mas ainda se adaptava à nova forma de vida no pós-exílio.
Embora livre, não se sentia acolhido entre os concidadãos, enfrentava a
falta de moradia e o trabalho duro. O profeta exorta um pequeno resto na
esperança: o Senhor fará surgir a justiça, porém não de modo imediato.
O Salmo é o cântico do Magnificat, o louvor de Maria identifi-
cada com seu povo.
São Paulo, na segunda leitura, convida-nos: “Estai sempre alegres!”
(1Ts 5,16). Para o cultivo da alegria, o apóstolo nos recomenda: rezar
sem cessar; dar graças (não reclamar); não apagar o espírito, mas
examinar tudo, ficando com o que é bom (discernimento); afastar-se
da maldade, conservando a vida para a vinda do Senhor.
O Evangelho nos traz a missão de João Batista. Ele não é a luz,
mas apenas o testemunho da luz, a “voz que clama no deserto”, um
mero servo que aponta para a luz verdadeira.
3. Atualizando a Palavra
O profeta Isaías, na primeira leitura, afirma que a semente demora
germinar e crescer, assim acontece com a justiça prometida por Deus.
Deste modo, aprendemos a deixar o imediatismo, mas esperar no
Senhor. Seu amor é esponsal, não nos abandona, sua aliança de amor é
para sempre: “Exulto de alegria no Senhor e minha'alma regozija-se em
meu Deus; ele me vestiu com as vestes da salvação, envolveu-me com o
manto da justiça e adornou-me como um noivo com sua coroa ou uma
noiva com suas joias” (Is 61,10). Portanto, a alegria depende de uma
visão realista da realidade aliada a fé: seguimos alegres, porque temos a
certeza de que Deus nos ama e não ausenta o seu cuidado.
João Batista parece não nos trazer a alegria, pois evoca a severidade
austera do deserto. É preciso perceber a alegria da ação profética de João,
nas entrelinhas. João veio para dar testemunho da luz: “Ele veio como
testemunha, para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé
6 O povo viu uma grande luz (Is 9,2)
por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz”
(Jo 1,7-8). Cristo é a nossa luz, ou seja, o sentido da vida, a sabedoria
que guia nossos passos. Estar na escuridão é ameaça de tropeço e a falta
de orientação. Nossa alegria apenas será plena se percebermos qual o
caminho que devemos seguir.
De fato, João não era a luz. Quando perguntado sobre sua identi-
dade e autoridade, diz apenas que é uma voz. De fato, João Batista nunca
ocupa o lugar de Deus. Hoje, são muitas vozes que tentam ocupar o lugar
da verdadeira Palavra de vida. Vozes que afirmam com autoridade ter
a solução para os problemas, o sentido da existência: líderes populistas,
gurus da autoajuda, mensagens mágicas do mundo cibernético. Podemos
nos iludir facilmente pelas vozes, sem examinar, ficando com o que é
bom, como nos diz São Paulo (segunda leitura). João Batista aponta para
a verdadeira voz e verdadeira luz, aquelas que não são manifestas pelo
poder ou pela exuberância. É na fragilidade e na pobreza do profeta e
de seu Messias que encontraremos o sentido, a esperança, a alegria
verdadeira. Hoje, podemos perceber que no humilde serviço ao Reino
dos leigos e leigas inseridas no mundo o poder de Deus se manifesta.
24 de dezembro de 2017
ALEGRA-TE, CHEIA DE GRAÇA, O SENHOR ES TÁ CONTIGO!
1. Situando-nos
O anjo disse “Alegra-te”. Nós dizemos “Ave Maria”. Na oração
cotidiana e por vezes irreflexiva, parece uma simples saudação, mas na
verdade é uma palavra que convida à alegria. Tal alegria é a manifes-
tação dos tempos messiânicos (Sf 3,14-17; J1 2,21-27). É uma alegria
que brota da maternidade de Maria, a agraciada. Deus é conosco e
habita em nosso meio, portanto, não cabe mais o medo e a hesitação.
Neste tempo que antecede a vinda do Salvador, somos convidados
à alegria. Não basta a alegria das férias, das festas, dos presentes, das
cores, da emoção da família reunida. Tudo isso é apenas sinal. Nossa
alegria está no fato de que o Senhor é graça e quer estar conosco. Nossa
alegria está na confiança de que o Senhor não só veio, mas continua
vindo em nosso socorro, convidando-nos a viver em seu amor.
Alegra-te, o Senhor está contigo! O Senhor veio trazer a sua graça
transbordante! À resposta fica por conta de cada um de nós. Na boca
de Maria está a resposta de toda a humanidade, mas ao mesmo tempo
um convite para que todos nos unamos à sua resposta afirmativa:
“Faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38).
O povo viu uma grande luz (Is 9,2)
1
2. Recordando a Palavra
“Na primeira leitura vemos que Davi quis construir uma casa
para o Senhor, achando-se o principal ator da obra. Paradoxalmente,
para agradar a Deus, esqueceu-se do próprio Deus. O Senhor, que
dobra os poderosos, mostrou por intermédio do profeta Natã que Ele
mesmo construiria uma casa para o seu povo, e já havia começado, pois
tinha percorrido toda a trajetória do rei, exterminando os inimigos,
vencendo batalhas e tornando-o grande.
No Salmo, prometemos cantar eternamente o amor de Deus, não
por nossos méritos, mas graças à fidelidade de Deus, pois ele jamais
quebra a sua aliança conosco, jamais deixa de lado as suas promessas.
Na segunda leitura, São Paulo nos fala que o Mistério divino, outrora
escondido, agora é manifestado a todos: Deus se revela, tira o véu que
esconde, conhecemos a sua verdade na Carne do Deus que se humanizou.
No Evangelho, temos o diálogo entre Maria e o anjo. Maria recebeu,
de início, um nome novo: “Cheia de graça. Em grego a expressão
Kecharitoméne tem a raiz na palavra cháris (= graça), que significa amor,
simpatia, favor, charme. O tempo verbal empregado denota uma ação já
realizada. Portanto, Maria foi objeto da ação do Espírito Santo, foi-lhe
comunicado o Espírito e agora é para sempre. Ela é antecipadamente
repleta do charis divino, ou seja, Maria já é antecipadamente agraciada,
escolhida e isenta de todo o pecado, pois é plena da graça. Onde a graça
é transbordante, não há espaço para o pecado. Aquela que é repleta da
graça divina disse o seu 'sim' a Deus: é o 'sim' santo da humanidade que
desfaz todos os seus 'nãos' ao desejo santo de Deus”.
3. Atualizando a Palavra
Não raras vezes, Deus fica em segundo plano, mesmo neste tempo
de proximidades natalinas. Os jornais ainda falam de Jesus, mas como
um adendo, um acessório. O que importa para a mídia nestes tempos
Leituras: Is 52,7-10
S197,1.2-3ab.3cd-4.5-6 (R. 3cd)
Hb 1,1-6
Jo 1,1-18
1. Situando-nos
“Encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa
manjedoura” (Lc 2,12). Celebrar o Natal é perceber a ação kenótica, ou
seja, Deus se rebaixa, esvazia-se de si, torna-se vulnerável, mostra agora
sua fraqueza, revela-se na pobreza. Os anjos não glorificam um menino
em seu trono glorioso, mas um menino pobre no meio dos animais. Na
singeleza de Deus, podemos tocá-lo. Como nos diz em tom poético
Fernando Pessoa: “Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.”
Ele é a Eterna Criança, o Deus que faltava. Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca. E por isso é que eu sei com toda a
certeza que Ele é o Menino Jesus Verdadeiro”.
2. Recordando a Palavra
O Verbo existe antes de toda criação. Agora, o Evangelho fala que
o Verbo que se fez carne. No contexto semita se fala Dabar, traduzido
pelo evangelista João por Logos (no português, em geral usamos
“Palavra” ou “Verbo” — Jo 1,1.14). Este termo, em sua origem significa
a pessoa de Deus na totalidade de seu ser. Portanto, quem acolhe a
Dabar (Logos, Verbo, Palavra) acolhe em seu coração o próprio Deus.
3. Atualizando a Palavra
Agora a voz de Deus é uma voz humana, Deus tem carne
humana, rosto humano, jeito humano. Agora sim sabemos quem é
Deus. “A Palavra eterna fez-se pequena; tão pequena que cabe numa
manjedoura. Fez-se criança para que a Palavra possa ser compreendida
por nós. Desde então a Palavra já não é apenas audível, não possui
somente uma voz; agora a Palavra tem um rosto, que por isso mesmo
podemos ver: Jesus de Nazaré”.
Por que Deus veio até nós? Deus se encarna para que nós possamos
chegar até Ele. Quem é Deus? É Jesus de Nazaré, homem como nós.
Ele tem uma palavra que se pode entender, um rosto humano para
contemplar, uma vida humana que partilha da nossa vida. Deus
tornou-se compreensível. A concretude de Deus, sua história humana,
é um convite aos que creem: o Natal, a festa da encarnação, acontece
de verdade quando nós, discípulos do Cristo, procuramos ter o seu
rosto, a sua sensibilidade humana, sigamos os seus passos, seus gestos.
Somos uma espécie de prolongamento da encarnação de Deus no
mundo. Afinal, somos o Corpo de Cristo, somos a continuidade de
1. Situando-nos
A Sagrada Família de Nazaré é um ícone de beleza. Leva-nos
rapidamente aos sentimentos de pureza, obediência e silêncio. Contudo,
a celebração deste dia não nos deve conduzir a uma busca idealizada
de um modelo de família. Este caminho, que procura se nortear por
um ideal alto, corre o risco de ser um horizonte sem significância ao
deixar muito distante o caminho entre os limites humanos próprios de
qualquer história familiar e a meta a ser alcançada. A vida não é um
romantismo colorido, mas o lugar do conflito e dos limites.
É neste horizonte que caminha a Exortação Pós-sinodal do Papa
Francisco sobre a família. Sem defender relativismos e sem deixar de
considerar o ideal pleno da matrimônio,” o pastor da Igreja afirma, já
em suas primeiras páginas, que não deseja apresentar teses abstratas,
mas considerar a família em seus dramas: “Nesta breve resenha,
podemos comprovar que a Palavra de Deus não se apresenta como
uma sequência de teses abstratas, mas como uma companheira de
viagem, mesmo para as famílias que estão em crise ou imersas nalguma
tribulação, mostrando-lhes a meta do caminho, quando Deus 'enxugar
todas as lágrimas dos seus olhos, e não haverá mais morte, nem luto,
» 8
nem pranto, nem dor (Ap 21,4)”.
2. Recordando a Palavra
Os textos bíblicos deste dia nos apontam para as virtudes da vida
em família.
3. Atualizando a Palavra
As leituras de hoje dão importantes indicativos para a vida em família.
Diante do narcisismo egocêntrico da sociedade pós-moderna, é preciso
reconsiderar as relações humanas no contexto familiar. Primeiramente,
8 Ibidem, n. 22.
ao. O povo viu uma grande luz (Is 9,2)
9 Ibidem, n. 309.
10 Ibidem, n. 308.
Roteiros Homiléticos para o tempo do Advento — Natal — Tempo Comum RB
11 TOMÁS DE AQUINO. Summa Theologiae I-II, q. 94, art. 4, citado por Francisco, in AL, n.
304.
12 Cardeal Carlo Maria Martini. Entrevista publicada no jornal italiano Corriere della Sera, 1º
de setembro de 2012.
q O povo viu uma grande luz (Is 9,2)
1º de janeiro de 2018
"DEUS ENVIOU O SEU FILHO, NASCIDO DE UMA MULHER, NASCIDO SUJEITOÀ LEI”
Leituras: Nm 6,22-27
SI 66(67),2-3.5.6.8 (R. 2a)
Gl 4,4-7
Lc 2,16-21
1. Situando-nos
Temos a alegria de iniciar este ano novo com a Solenidade da
Santa Mãe de Deus e com a celebração do Dia Mundial da Paz.
Liturgicamente, neste Tempo de Natal celebramos os mistérios
da infância de Jesus e suas primeiras manifestações. É um tempo em
que a figura de Maria ganha evidência. Podemos imaginá-la na casa
de Nazaré, junto com o seu esposo José, cuidando de seu filho Jesus
e o educando, vendo o menino crescer, tornar-se robusto e encher-se
de sabedoria (Lc 2,40). Pudemos celebrar este mistério da vida em
família na festa da Sagrada Família.
Hoje, a Igreja destaca a maternidade divina de Maria. É o que
celebramos nesta Solenidade da Santa Mãe de Deus. Maria é Mãe do
Salvador, artífice da paz. Podemos contemplar a Virgem Maria que,
na palavras de Santo Agostinho, “recebeu antes na mente do que em
seu seio” o Cristo Jesus!º e aprender dela a também receber o Cristo no
coração e manifestá-lo através de uma vida nova.
13 Co2;Sermo 25,7; PL 46, 937. In: CNBB. Missas de Nossa Senhora. Brasília: Edições CNBB,
2016, p. 47
Mo. O povo viu uma grande luz (ls 9,2)
2. Recordando a Palavra
Comecemos pela segunda leitura, da carta aos Gálatas. Esta é a
carta da liberdade cristã, Cristo veio para nos tornar livres: “É para
sermos verdadeiramente livres que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). Ele
nos faz livres vivendo a nossa humanidade, fazendo-se nosso irmão,
nele temos o Espírito do Pai. O texto ressalta a humanidade e as
circunstâncias concretas em que nasce o Filho de Deus: “nascido de
uma mulher, nascido sujeito à Lei” (Gl 4,4). Afirma-se que Jesus, o
Filho de Deus, é humano como nós, nascido de uma mãe humana.
Diz também que Jesus nasce no meio de um povo com seus costumes
e com as suas leis.
14 CNBB. Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade. Sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-14).
Documento da CNBB 105. Brasília: Edições CNBB, 2016, n. 113.
Roteiros Homiléticos para o tempo do Aclvento — Natal — Tempo Comum
É este povo que recebe a bênção de Deus, que a primeira leitura nos
traz. Trata-se da bênção do ano novo judaico: “O Senhor te abençoe e te
guarde!” (Nm 22,24). Ela lembra que, aos que se colocam diante de sua
bênção, que traz a graça e a paz, Deus faz resplandecer o seu olhar, que é a
sua própria presença: ele “volte para ti o seu rosto e te dê a paz” (Gl 6,26).
Esta bênção é reforçada pelo Salmo 66(67), que pede a bênção de Deus.
Como é oportuno iniciar o ano civil lembrando a bênção de Deus.
Só Deus pode realmente abençoar, benzer, bendizer — o que significa
“dizer bem”, nós abençoamos invocando o nome de Deus. E a bênção
maior é o próprio Jesus, como vemos no Evangelho.
O Evangelho traz os temas da adoração dos pastores, da circuncisão
e do nome de Jesus. Os pastores acorrem a Belém e narram as maravilhas
sobre o menino, que lhe haviam sido reveladas por Deus: aquele menino
“deitado na manjedoura” é o Salvador, o Messias, o Senhor (Lc 2,11). O
contraste não poderia ser maior: o Salvador se apresenta na fragilidade
de um menino, na mais absoluta pobreza e simplicidade, próximo a nós
e cheio de ternura. À atitude de Maria é a da mãe diante do mistério
do filho. Ela “guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu
coração” (Lc 2,19). No oitavo dia do nascimento, continua a narrativa
do Evangelho, Jesus foi acolhido na sociedade judaica, pela circuncisão
e pela imposição do nome Jesus, nome que traz a bênção do Senhor
Deus, pois significa “o Senhor salva”, Este é o nome que doravante será
invocado sobre a humanidade (Nm 6,27).
Celebramos a oitava de Natal. Ora, no oitavo dia após o parto,
segundo as leis judaicas, há a integração do filho à comunidade ao
conferir-lhe a circuncisão, acompanhada da imposição do nome. O
Evangelho nos mostra como Jesus está sujeito aos costumes e às leis de
seu povo (primeira leitura).
3. Atualizando a Palavra
A Solenidade da Santa Mãe de Deus nos leva a adorar o
mistério do Deus que se encarna em nossa humanidade com todas as
Ao O povo viu uma grande luz (Is 9,2)
15 DzH 3041.
16 KONINGS, J. Liturgia Dominical. Mistério de Cristo e formação dos fiéis (Anos À, B, C).
Petrópolis: Vozes, 2003, p. 59.
17 CELAM. Documento de Puebla (DPb), n. 301.
18 Idem.
Roteiros Homiléticos para o tempo do Advento — Natal - Tempo Comum
7 de janeiro de 2018
VIEMOS PARA ADORÁ-LO.
Leituras: Is 60,1-6
Ef 3,2-3a.5-6
Mt 2,1-12
1. Situando-nos
À Epifania, solenidade que celebramos hoje, marca a fase final do ciclo
natalino. Podemos entendê-la como a manifestação de Deus, através do
menino Jesus em Belém, ao mundo, representado pelos magos que vieram
do oriente. Padre Konnings nos esclarece bem sobre esta solenidade:
No dia 6 de janeiro ou no domingo seguinte celebramos a festa
chamada Epifania ou Revelação do Senhor, popularmente, a
festa dos Reis Magos, porque o Evangelho conta a história dos
magos que viram a estrela de Belém. E Herodes, que não a viu.
Na Igreja oriental, 6 de janeiro é Natal. Na Igreja ocidental
romana, é a Epifania, manifestação do Senhor. À Epifania,
que acrescenta ao Natal? À manifestação de Cristo aos que
vêm de longe. Deus avisou os magos do oriente a respeito do
nascimento do Salvador.”
21 J. Konnings. Liturgia dominical, Mistério de Cristo e formação dos fiéis (anos À — B — €).
Petrópolis: Vozes, 2003, p. 63; 65.
q O povo viu uma grande luz (Is 9,2)
2. Recordando a Palavra
Na primeira leitura, temos o início da parte central (Is 60-62) do
chamado terceiro livro de Isaías ou o Trito Isaías (Is 56-66). O tema é
o anúncio de salvação desde Jerusalém que se estende a todas as nações,
sendo convidadas a reconhecer o Senhor. Este anúncio é feito em meio
aos binômios: luz e Jerusalém em contraste às trevas e nações. Jerusalém
deve-se preparar para ser inundada com a luz que vem da glória de Deus,
contrastando com as trevas na qual as nações estão mergulhadas. Mas esta
luz se tornará um farol para as nações, uma vez que os reis para Jerusalém
iluminada caminharão, trazendo suas riquezas como presentes.
Na segunda leitura, Paulo escreve à Igreja de Éfeso a respeito de um
Mistério escondido e que agora foi revelado: “os pagãos são admitidos à
mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma
promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho” (Ef 3,6). Encontramos
nesta afirmação vários elementos importantes para compreender o alcance
da Epifania que solenemente celebramos neste domingo. Primeiro, ele
coloca a questão da “mesma herança”. Trata-se da herança que vem desde
Abraão: as promessas de terra, povo e bênção. O povo grande e numeroso
que iria se constituir, agora se torna maior ainda, afinal, a descendência
de Abraão chega até os pagãos. Segundo, apresenta a pertença ao “mesmo
corpo”. Agora, os pagãos são assumidos no mesmo corpo de Cristo, ou
seja, a Igreja. Terceiro, a “mesma promessa”, portanto, são portadores
da promessa presente no Antigo Testamento. O mistério de Cristo é o
Evangelho para as nações que Paulo lhes transmite através de sua missão.
O Evangelho de Mateus é escrito para uma comunidade composta
de judeus e pagãos convertidos. Ainda que a mensagem do Evangelho
seja universal, ou seja, não passa por uma questão de raça ou etnia,
podemos claramente notar em Mateus, um forte acento sobre a acolhida
da Boa-Nova por parte dos pagãos e ao mesmo tempo um profundo
pesar pelos seus irmãos judeus, que a rejeitam. Dentro desta perspectiva,
podemos então refletir sobre o texto presente no capítulo 2.
O texto nos apresenta alguns referenciais importantes: Belém,
Herodes, magos do oriente e, claro, a Sagrada Família: Maria, José e o
Roteiros Homiléticos para o tempo do Advento — Natal - Tempo Comum BH
sua mãe. Jesus, descendente de Davi, é aqui apresentado também como rei
' Messias. Segundo, ao verem o menino se prostram, atitude que revela um
profundo conhecimento de quem se trata, bem diferente de Herodes e sua
corte que planejava matá-lo. Por fim, oferece os presentes simbolizando,
conforme os Padres da Igreja, a realeza (ouro), a dimensão divina (incenso)
e o sofrimento pelo qual terá de passar (mirra). Entretanto, estes presentes
também revelam a solicitude, a abertura, o serviço, a disposição manifes-
tada por parte dos magos estrangeiros.
3. Atualizando a Palavra
Concluindo o ciclo do Natal, a mesa da Palavra nos traz novamente
o tema da luz. No Natal, os pastores foram envolvidos pela luz da glória
de Deus (Lc 2,9). Agora, na solenidade da Epifania, a luz da estrela
também revela a chegada do Messias. A luz da presença messiânica
brilha para todos os povos. Este é o anúncio universalista presente em
Isaías (primeira leitura) e reforçado por Paulo (segunda leitura).
Se, por um lado, este anúncio vem permeado de grandeza e esplendor,
não podemos perder de vista a sua dimensão bem concreta: o Messias
não vem do centro do poder político e religioso de Jerusalém, muito
menos do círculo dos reis, escribas e sacerdotes, mas sim do interior, de
Judá, do círculo do povo, de leigos e leigas, explorados e curtidos na dor.
À escolha divina não passa por referenciais sociais, étnicos, de sucesso
e grande visibilidade. Ao contrário, basta olharmos para a história e
veremos que homens e mulheres que colocaram a sua vida ao serviço do
Reino fazem parte desta mesma realidade. Sempre vale a gratuidade e
abertura para a presença amorosa de Deus.
Hoje, encontramos na atitude de Herodes um grande ponto de
reflexão. Temos a Escritura ao nosso alcance, mas qual o nível de
entendimento, comprometimento, que temos para com ela? Os magos,
por sua vez, nos mostram a importância de estar atentos aos sinais.
Que sinais, hoje, nos fazem atentos para perceber a necessidade de
uma ação comprometida com a causa do Reino?
Roteiros Homiléticos para o tempo do Aclvento — Natal - Tempo Comum
Neste ano, a Igreja nos leva a refletir sobre o papel dos leigos
dentro e fora da Igreja. O que a Epifania nos fará responder aos
desafios colocados como:
No mundo da política, sendo a missão do leigo direcionada de
modo especial para a participação na construção da sociedade
na condição de sujeitos do Reino, três elementos são fundamen-
tais: formação, espiritualidade e acompanhamento. Para isto, é
urgente que as dioceses busquem:
a. estimular a participação dos leigos e leigas na política. Há
necessidade de romper o preconceito comum de que a política
é coisa suja, e conscientizar os leigos e as leigas de que ela é
essencial para a transformação da sociedade;
b. impulsionar os cristãos a construírem mecanismos de partici-
pação popular que contribuam com a democratização do Estado
e com o fortalecimento do controle social e da gestão participa-
tiva (CNBB, Doc. 91, n. 46ss);
c. incentivar e preparar os cristãos leigos e leigas a participarem de
partidos políticos e serem candidatos para o executivo e o legisla-
tivo, contribuindo, deste modo, para a transformação social;
d. mostrar aos membros das nossas comunidades e à população
em geral, que há outras maneiras de tomar parte na política:
nos Conselhos Paritários de Políticas Públicas, nos movimentos
sociais, nos conselhos de escola, na coleta de assinaturas para
projetos de lei de iniciativa popular, nos comitês da Lei 9840/99
de combate à corrupção eleitoral e da Lei 135/2010, conhecida
como Lei da Ficha Limpa;
e. incentivar e animar a constituição de Cursos e/ou Escolas
de Fé e Política ou Fé e Cidadania, ou com outras denomi-
nações, nas Dioceses e Regionais. Manifestamos nosso
reconhecimento a várias iniciativas, como: Curso do Centro
Nacional de Fé e Política “Dom Helder Câmara” — CEFEP;
da Comissão Nacional de Fé e Política do CNLB; Cursos e
Encontros promovidos por Movimentos Eclesiais, Pastorais de
Fé e Política, Pastorais Sociais e da Juventude, das CEBs, do
Movimento Nacional Fé e Política;
f. acompanhar os cristãos que estão com mandatos políticos
(executivo e legislativo), no judiciário e no ministério público e
O povo viu uma grande luz (Is 9,2)
O
22 CNBB. Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade. Sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-14).
Documentos da CNBB 105. Brasília: Edições CNBB, 2016, n. 263.
2º DOMINGO DO TEMPO COMUM
14 de janeiro de 2018
VINDE E VEDE.
Leituras: 1 Sm 3,3b-10.19
ICor 6,13c-15a.17-20
Jo 1,35-42
1. Situando-nos
Estamos iniciando o tempo litúrgico comum. Celebramos os
momentos iniciais da atividade pública de Jesus. Após a Epifania e
Batismo do Senhor, o 2º Domingo do Tempo Comum nos convida
a refletir sobre o tema da vocação. Embora o Evangelho de Marcos
seja o norteador do ciclo B, ao qual estamos seguiremos neste ano,
no 2º Domingo encontramo-nos diante do Evangelho de João, por
uma especial razão. À vocação dos primeiros discípulos nele apresen-
tada, situa-se no contexto batismal de Jesus, refletido há alguns dias, e
aponta para a sua significação messiânica e salvífica.
2. Recordando a Palavra
Na primeira leitura, Samuel é chamado por Deus. Antes de tudo
é importante colocar esta leitura dentro do seu gênero literário, próprio
dos relatos vocacionais proféticos, como Jeremias (Jr 1), Isaías (Is 6),
Ezequiel (Ez 1), assim também Moisés (Ex 3) e Gedeão (Jz 6). Como
gênero literário, guarda uma semelhança com os demais onde Deus
reserva o seu escolhido para uma determinada missão. Portanto, o
chamado é do próprio Deus (1Sm 3,5.6.8). Aquele que é chamado
sempre ignora a importância da missão e do próprio chamado (1Sm 3,7).
Estas características somam-se ao específico da missão profética: ouvir
a Palavra de Deus e transmiti-la a seu povo. Quando não transmite,
ao. O povo viu uma grande luz (Is 9,2)
3. Atualizando a Palavra
Às leituras de hoje nos levam a refletir sobre o tema da vocação.
Trata-se de um tema de capital importância, colocado bem no início
do Tempo Comum. Às três leituras se entrelaçam formando um
belíssimo “tecido”. O relato da vocação de Samuel nos aponta para o
chamado profético. Deus chama e o profeta responde: “Fala, que teu
servo escuta”. Mas trata-se de uma difícil compreensão deste chamado.
Samuel não tem clareza do que se trata, precisa da ajuda do sacerdote
para compreender o significado do chamado. Porém, uma vez certo,
permanece fiel à sua Palavra. Já o Evangelho nos coloca frente a outro
tipo de chamado. Jesus não chama, ao contrário, são os discípulos
que o procuram. Querem saber, buscam detalhes sobre a sua pessoa.
À resposta a estas inquietações é muito simples: “Vinde e vede”. A
certeza está na experiência que fazem do seguimento de Jesus. Foram
e viram. Da constatação, partiram para a ação. Transmitiram a outros
a descoberta que fizeram.
Estes dois “fios” do tecido formado por estas leituras nos trazem,
por um lado, as dificuldades e incertezas de nossa vocação, mas, por
outro, apontam algumas luzes para que possamos entendê-la melhor.
Não se trata apenas da vocação religiosa, mas da vocação humana,
vocação à vida. Ás duas leituras nos mostram que a vocação nasce
do diálogo com os outros e com o próprio Deus. Samuel precisou da
ajuda de Eli. Os dois discípulos precisaram da ajuda de João. Pedro
precisou da ajuda de André. À nossa vocação, portanto, se abre para os
lados, em dimensão horizontal. Não estamos sozinhos nesta busca de
sentido em nossas vidas. Por outro lado, vamos também encontrar o
diálogo em dimensão vertical. Nosso olhar também se volta para o alto
na busca e fidelidade à Palavra, como Samuel. Mas não só no acolhi-
mento do ouvir, também no acolhimento da prática, do encontro, do
seguimento, do querer permanecer com o Senhor, a exemplo dos dois
discípulos de João.
O terceiro “fio” nos coloca em uma dimensão pessoal. À carta aos
Coríntios nos trouxe a reflexão sobre a importância
Pp e dignidade
8 de
O povo viu uma grande luz (ls 9,2)
A
23 Ibidem, n. 13.
3º DOMINGO DO TEMPO COMUM
21 de janeiro de 2018
O REINO DE DEUS CHEGOU!
Leituras: Jn 3,1-5.10
ICor 7,29-31
Mc 1,14-20
1. Situando-nos
Ão longo deste e dos próximos três domingos, a mesa da Palavra nos
coloca diante do primeiro capítulo do Evangelho de Marcos. De forma
introdutória, ele nos mostra que a prática messiânica de Jesus e da comuni-
dade missionária dos discípulos tem um só objetivo: libertar as pessoas de
todos os mecanismos ameaçadores da vida. Os discípulos, na companhia
de seu Mestre, vão descobrindo progressivamente a identidade de Jesus e
a sua própria identidade como discípulos e missionários do Reino.
À catequese a ser transmitida por estes fatos mostra o dia a dia da
comunidade. Talvez este possa ser o motivo pelo qual todos eles são
colocados em um determinado tempo de um dia. O dia de Jesus em
Cafarnaum deve ser exemplar e catequético para o dia a dia da Igreja.
Estes oito fatos, tão bem escolhidos por Marcos, mostram o rumo e o
objetivo da missão de Jesus: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham
em abundância” (Jo 10,10) Todos estes fatos descritos por Marcos podem
servir como avaliação para as nossas comunidades eclesiais.
Neste 3º Domingo do Tempo Comum, a mesa da Palavra nos coloca
diante de Jonas, mostrando a importância da conversão, e de Paulo que
orienta a Igreja de Corinto viver o desapego, indicações importantes
para entender a dimensão da grande notícia: o Reino de Deus chegou!
O povo viu uma grande luz (Is 9,2)
ao
2. Recordando a Palavra
3. Atualizando a Palavra
O Evangelho nos traz a novidade da chegada do Reino que se faz
presente através de Jesus Cristo. O contexto do Evangelho de Marcos
não é o mesmo de nossa vivência eclesial e cristã. Porém a urgência é
sempre a mesma. “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens!”
(Mc 1,17). Homens e mulheres são chamados a partir de suas vidas, do
seu dia a dia. Somos chamados a testemunhar esta presença do Reino
já atuante no meio de nós. À novidade presente na palavra e ação de
Jesus provoca esta total mudança em nossas vidas.
Esta mudança se faz presente nos mais diversos relacionamentos. Seja
na convivência familiar, no trabalho, na vida social, em tudo e com tudo,
pois somos chamados a viver esta urgência da presença do Reino. Não é
possível compreender esta mudança se não modificarmos também o modo
de ver o mundo. À Jente pela qual podemos perceber esta mudança é de
fato o Cristo Ressuscitado. Somente através desta lente podemos perceber
a urgência colocada por Paulo na carta aos Coríntios.
À presença do Reino não pode ser apenas o anúncio, mas deve ser
vivenciada. Crer é testemunhar. À presença sempre amorosa e miseri-
cordiosa do Pai é o ponto de apoio que Jesus nos apresentou durante
todo o seu ministério. Nossa conduta na vivência e no testemunho
também deve ser guiada por esta certeza. Não podemos reduzir Deus
às nossas expectativas. Ao contrário, somos reduzidos às expectativas
de Deus que sempre foi o seu projeto de amor.
O Evangelho de Marcos nos trouxe um ponto importante para
refletir o nosso papel eclesial: suscitar comunidades em torno de Jesus,
soÊ O povo viu uma grande luz (Is 9,2)
28 de janeiro de 2018
UM ENSINAMENTO NOVO, COM AUTORIDADE!
Leituras: Dt 18,15-20
ICor 7,32-35
Mc 1,21-28
1. Situando-nos
Estamos dando seguimento à caminhada do Tempo Comum
através do ministério de Jesus narrado pelo Evangelho de Marcos.
No 3º Domingo do Iempo Comum, seguimos as pegadas de seus
versículos iniciais: o grande anúncio da chegada do Reino (Mc 1,15);
À convocação urgente para o seguimento de Jesus (Mc 1,16-20). Hoje,
4º Domingo do Tempo Comum, vamos refletir sobre a verdadeira
autoridade que se faz perceber pela verdade anunciada. A mesa da
Palavra nos ajuda a refletir este tema através do livro do Deutero-
nômio, colocando o papel verdadeiro do profeta, bem como da carta
aos Coríntios, apontando para a necessidade em colocar nossa vida
voltada para o que realmente vale a pena.
2. Recordando a Palavra
A primeira leitura deste 4º Domingo do Tempo Comum
(Dt 18,15-20) trata do ofício do profeta em Israel. Este ofício é uma
continuidade do ofício mediador que Moisés realizou no Sinai. Mas o
papel do profeta não será uma imitação de Moisés, ao contrário, não se
limitará a transmitir um recado ou uma lei. Sua função vai muito além
disto: “Porei em sua boca as minhas palavras e ele lhes comunicará tudo o
que eu lhe mandar” (Dt 18,18b). O profeta é aquele que profere a Palavra
de Deus, assim como Jesus que em dia de sábado, na sinagoga em Nazaré,
a O povo viu uma grande luz (Is 9,2)
proferiu a Palavra de Deus através do livro de Isaías (Lc 4,16-17). Jesus não
só profere a Palavra de Deus, mas a interpreta também: “Hoje se cumpriu
esta passagem da Escritura que acabaste de ouvir” (Lc 4,21).
A segunda leitura prossegue com o tema sobre o matrimônio e
celibato, já abordado no 3º Domingo do Tempo Comum. Entretanto,
nem lá nem aqui o foco principal é exatamente este. Em ambos, a questão
principal é o momento escatológico presente na pregação do apóstolo.
Este momento procura colocar certa relatividade em tudo que vivemos.
Nada deve ser vivido intensamente quanto o definitivo que se aproxima
e já vivido por todos que buscam o Cristo Ressuscitado. Mesmo sem a
preocupação cronológica com a brevidade de tempo, podemos tornar
nossos estes conselhos de Paulo. Nesta perspectiva, portanto, devemos
colocar nossa vida e nosso empenho naquilo que realmente vale a pena,
construindo os verdadeiros alicerces que o Evangelho nos apresenta para
uma morada duradoura e definitiva.
A leitura do Evangelho de Marcos dá prosseguimento ao que
foi refletido no 3º Domingo do Tempo Comum. Agora, dentro da
Sinagoga, em um dia de sábado, Jesus se pôs a ensinar. Marcos não
diz o que Jesus ensinava. Mas o que chama atenção é a forma como
Jesus anunciava: “ensinava como quem tem autoridade, não como os
mestres da Lei” (Mc 1,22), isto é, ensinar legitimamente, com liberdade
e franqueza. Por este seu jeito diferente, Jesus cria consciência crítica
no povo em relação às autoridades religiosas da época. O povo percebe,
compara e diz: Ele ensina com autoridade, diferente dos escribas.
Os escribas da época, peritos e intérpretes das prescrições religiosas,
guias reconhecidos do povo, eram habilitados no seu papel pela sua
fidelidade à lei escrita e pelo seu apelo aos grandes mestres do passado.
Ensinavam citando autoridades. Jesus, pelo contrário, apela para outra
legitimação, porque seu ensinamento é novo. Jesus não cita autoridade
nenhuma, mas fala a partir de sua experiência de Deus e da vida. Sua
palavra tem raiz no coração.
No Evangelho de Marcos, o primeiro milagre é a expulsão de um
demônio. À primeira vista, parece que o possesso realmente conhece
Roteiros Homiléticos para o tempo do Advento — Natal - Tempo Comum RB
Jesus: “Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus” (Mc 1,24). Este
era o ensinamento oficial que apresentava o messias como “Santo de
Deus”. Esta designação valia para um Sumo Sacerdote, ou rei, juiz,
doutor, general. Jesus ameaçou o espírito mau: “Cale-se, e saia dele!”
O espírito sacudiu o homem, deu um grande grito e saiu dele.
Os dois primeiros sinais da Boa-Nova que o povo percebe em
Jesus, são estes: o seu jeito diferente de ensinar as coisas de Deus, e
o seu poder sobre os espíritos impuros. Jesus abre um novo caminho
para o povo conseguir a pureza. Naquele tempo, uma pessoa declarada
impura já não podia comparecer diante de Deus para rezar e receber
a bênção prometida por Deus a Abraão. Ela teria que purificar-se
primeiro. Esta e muitas outras leis e normas dificultavam a vida do
povo e marginalizavam muita gente como impura, longe de Deus.
Agora, purificadas pelo contato com Jesus, as pessoas impuras podiam
comparecer novamente na presença de Deus. Era uma grande Boa
Notícia para eles!
3. Atualizando a Palavra
O mal está presente em diversos lugares e diversas situações,
impedindo o avanço da Boa-Nova. Assim, o combate que Jesus trava
contra satanás, espírito impuro, diabo, ou como se queira expressar o
mal presente no mundo, deve ser seguido de perto pelos seus seguidores.
É preciso ter os olhos atentos para detectar este mal que impede o
avanço do Reino. Mas de que forma podemos combater o mal presente
no mundo? Mais uma vez, o exemplo de Jesus é revelador.
Justamente no ambiente da sinagoga e em dia de sábado é que
Jesus vai se revelando como messias capaz de vencer os mecanismos
que ameaçam a vida humana. À prática messiânica de Jesus desperta
no povo essa consciência crítica. O povo percebe que o ensinamento
de Jesus é novo. Por quê? Porque liberta as pessoas dos males que
ameaçam a vida. O ensino de Jesus está sempre acompanhado de uma
ação libertadora. Aqui se verifica a figura do profeta, mas do profeta
que não se limita a repetir a Palavra, ao contrário, interpreta a Palavra,
A O povo viu uma grande luz (ls 9,2)
25 CNBB. Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade. Sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-14),
Documentos da CNBB 105. Brasília: Edições CNBB, 2016, n. 237.
Roteiros Homiléticos para o tempo do Advento — Natal - Tempo Comum RB
4 de fevereiro de 2018
ELE CUROUÀ MUITOS.
Leituras: Jó 7,1-4.6-7
ICor 9,16-19.22-23
Mc 1,29-39
1. Situando-nos
Nos domingos anteriores, percorremos juntos as andanças de Jesus
em Cafarnaum, a catequese preparada pelo evangelista Marcos. Desde
o chamado para viver a Boa-Nova do Reino, até os ensinamentos com
autoridade e o combate ao mal que impede a realização plena do Reino
de Deus. Neste 5º Domingo do Tempo Comum, damos mais um
passo ao seu lado, através das diversas curas de Jesus, bem como de sua
disposição em realizar a sua missão. Diante da mesa da Palavra, vamos
ouvir a queixa amarga de Jó devido ao seu sofrimento e o brado firme e
forte de Paulo: “Ai de mim se eu não pregar o Evangelho!” (1Cor 9,16).
2. Recordando a Palavra
“Se me deito, penso: Quando poderei levantar-me? E, ao amanhecer,
espero novamente a tarde e me encho de sofrimentos até ao anoitecer”
(Jó 7,4). Quanto sofrimento presente nestas palavras de Jó! Também,
não faltaram motivos. Primeiro a desgraça sobre os seus bens e filhos,
depois a doença sobre seu corpo. Como se não bastasse a incompreensão
de sua mulher e seus amigos. Por último, a impressão do vazio e o
abandono da parte de Deus. À teologia da retribuição que é defendida
pelos amigos de Jó, não resolve o seu problema, afinal, o sofrimento no
seu caso não corresponde a nenhuma forma de pecado. Incompreendido
e sem compreender a razão de seu sofrimento, Jó continua firme em sua
Roteiros Homiléticos para o tempo do Advento — Natal - Tempo Comum BR
3. Atualizando a Palavra
Às três leituras convergem para o tema do sofrimento. São três
atitudes diferentes, que nos deixam importantes pistas para enfrentar
nossas dores e nossos sofrimentos. À primeira leitura nos apresentou a
maneira como Jó encarou o seu sofrimento. Ele tenta compreender, busca
razões, ouve o que os outros têm a dizer, mas em nada encontra alento. À
procura segue e só encontra sentido na presença de Deus. Não se trata de
resignação, aceitação ou como os amigos de Jó, achar que é merecimento
por alguma falta cometida. Em Deus não está a causa do sofrimento, mas
a força possível para enfrentá-lo. Já Paulo nos coloca indiretamente dentro
do tema do sofrimento, quando nos mostra a grandeza de sua missão:
“Com todos, eu me fiz tudo” (1Cor 9,22). Esta é a medida de seu enfren-
tamento junto aos problemas, às dores e aos sofrimentos dos outros. À esta
medida chamamos solidariedade, compaixão, misericórdia que deve ser
vivida em uma dimensão de liberdade como o próprio Evangelho exige.
Se Jó nos mostra que a força para enfrentar o sofrimento deve ser buscada
em Deus, Jesus vai ainda mais longe. Ele assume o sofrimento, curando-o.
Porém, no final de sua vida, assumirá o sofrimento, sofrendo-o. Neste
sentido a sua compaixão se torna universal.
Além dos três pontos catequéticos presentes no primeiro capítulo
do Evangelho de Marcos, apresentados no 3º e 4º Domingos do Tempo
Comum, hoje, tivemos a oportunidade de refletir sobre mais quatro
Roteiros Homiléticos para o tempo do Advento — Natal — Tempo Comum BH
26 Ibidem, n. 243-244.
6º DOMINGO DO TEMPO COMUM
11 de fevereiro de 2018
JESUS ENCHEU-SE DE COMPAIXÃO.
Leituras: Lv 13,1-2.45-46
ICor 10,31-11,1
Mc 1,40-45
1. Situando-nos
Estamos chegando ao final do primeiro ciclo do Tempo Comum
que teve o seu início logo após a Solenidade da Epifania do Senhor
e terminará na Quarta-feira de Cinzas. Ao longo destes domingos,
pudemos percorrer os caminhos de Cafarnaum, ao lado de Jesus e seus
discípulos, segundo uma catequese traçada pelo evangelista Marcos.
Hoje, chegamos ao final desta catequese com a conclusão do primeiro
capítulo, quando Jesus cura o leproso. À mesa da Palavra nos ajuda a
aprofundar o tema de hoje através do livro do Levítico sobre as doenças
da pele e em especial a lepra e a carta aos Coríntios nos apontando
para a imitação de Cristo.
2. Recordando a Palavra
A primeira leitura, presente no livro do Levítico, encontra-
-se na parte relativa à lei da pureza onde são apresentados os vários
impedimentos para que o homem se aproxime do santuário, bem
como os ritos destinados à sua purificação. À relação entre a doença,
o pecado e a pureza, deve ser bem compreendida. À necessidade de
purificação de alguém se voltava para a sua condição de dignidade
para lidar com aquilo que era considerado santo. Seria possível estar
impuro, sem que se estivesse em pecado. Na visão religiosa do povo
bíblico, as recompensas ou os castigos aconteciam de acordo com o
Roteiros Homiléticos para o tempo do Aclvento — Natal — Tempo Comum E
3. Atualizando a Palavra
Às leituras deste 6º Domingo do Tempo Comum se voltam para
os excluídos, ou mais precisamente, para a atitude de Jesus junto aos
excluídos. Já anteriormente, no 5º Domingo do Tempo Comum,
havíamos refletido sobre a atitude de Jesus frente aos marginalizados.
Eram os doentes e possessos que vinham até Jesus para serem curados.
Estes estavam à margem da sociedade. Podiam ir até Jesus e depois
de curados estavam aptos a se reintegrarem junto a seu povo. O texto
de hoje nos apresenta alguém que não pode ir até Jesus porque a lei o
proíbe. Deve viver no isolamento, excluído do convívio de seus irmãos.
Jesus toma uma atitude surpreendente, na medida em que acolhe
o excluído e reintegra-o na convivência comunitária, mesmo que para
isto tenha que enfrentar o autoritarismo e legalismo, sempre contrários
à vida, presentes na primeira leitura no livro do Levítico. É a exemplo,
que deve ser imitado, que Paulo se refere na carta aos Coríntios. Esta
Roteiros Homiléticos para o tempo do Advento — Natal - Tempo Comum RH
27 Ibidem, n. 241-242.