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A ÉTICA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O PROJETO POLÍTICO

PEDAGÓGICO DA FORÇA-TAREFA INFÂNCIA SEGURA - PR

Cineiva Campoli Tono, Professora,


Mestre em Educação, Doutora em
Tecnologia e Sociedade, Assessora
Técnica do Departamento de Justiça da
Secretaria de Estado da Justiça, Família
e Trabalho do Paraná

INTRODUÇÃO

Esse artigo trata de dois grandes tópicos que se entrelaçam: a ética na


administração pública e o projeto político-pedagógico da Força-tarefa Infância
Segura do Paraná.
Em primeira instância, apresenta uma breve reflexão, porém profunda, do
quanto a ética é imprescindível na mentalidade e no comportamento dos
profissionais que atuam na esfera pública, para que se almeje, teoricamente, e
se alcance, praticamente, a justiça social e o bem-estar comum, como fruto do
trabalho sério desempenhado em cada setor, em cada departamento e em cada
repartição pública.
A atuação ética na administração pública para os profissionais cujas
atividades de destino tem como público-alvo, as crianças e os adolescentes,
deve ser ainda mais observada e requerida, e sistematicamente avaliada, dia a
dia. Pois estes profissionais possuem responsabilidade social perante uma
política que urge por competência, discernimento, diálogo, troca, pró-atividade,
sobretudo de ética.
Com base nessas premissas, a história e a estrutura da Força-tarefa
Infância Segura do Paraná é apresentada como prática exitosa, em termos de
política pública de proteção integral à criança e ao adolescente, às vistas na
essência dos elementos que compõem a requerida, “ética na administração
pública”.

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ÉTICA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

O principal desafio em termos de administração pública é executar


projetos e programas efetivos com base na ética pessoal e profissional,
principalmente, no agir coletivo em benefício de toda uma sociedade. Bem como,
traduzir o conhecimento historicamente construído ao longo do tempo pela
humanidade, em produtos e serviços para todos, pautados na educação em
direitos humanos, sem qualquer distinção pessoal ou coletiva.
Eis o círculo virtuoso para nortear a administração pública em que é a
educação em direitos humanos, tendo como essência o amor a si e o amor ao
próximo, o principal motivador para as movimentações, os planejamentos, as
integrações, as articulações e as execuções de produtos, de meios para
produção e da prestação de serviços. E os resultados desses na sociedade,
como dever, subsidiando processos reflexivos, avaliativos e decisórios para uma
modelagem de qualidade nas entregas para a sociedade, como direito.
A ética na administração pública prevalece quando há predominância
dessa essência (amor a si e ao outro) no padrão da mentalidade e do
comportamento de todos os profissionais que atuam na esfera pública, em todas
as dimensões e esferas de atuação: nos processos decisórios, nas operações
de ordem gerenciais, técnicas, pedagógicas, operacionais e nos hábitos e nas
rotinas profissionais. Terreno fértil para alcançar a devida unidade e harmonia
nas interações e implementações, sempre pautado pelo interesse público.
Mas, para essa qualidade de administração pública ser alcançada, há
extrema dependência da postura e da conduta pessoal de cada profissional que
a integra, às quais evidenciam o resultado das vivências, sentimentos e
experiências que esta pessoa teve ao longo da sua vida.
A postura e a conduta de cada profissional na administração pública
impactam severamente os resultados subjetivos e objetivos dos processos que
levam e disseminam socialmente produtos e serviços, tanto para qualificar a
estrutura pública, quanto para desqualificá-la.
Muito se observa, diariamente, nas repartições públicas, profissionais
dotados de um repertório satisfatório ou mesmo de destacado conhecimento
científico e legal sobre o objeto técnico de atuação, mas que carecem de

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diplomacia e de postura e comportamento pautados na ética, na reflexão
coerente sobre a ação humana, porque o que majoritariamente se avista,
infelizmente, são movimentações que possuem como gatilho e motivação: a
maledicência, a falsidade, a prepotência, entre outros atributos distantes da rara,
porém, almejada universalmente, “ética na administração pessoal e pública”.
A administração pública deve garantir a realização e a execução dos atos
normativos e dos acordos explícitos de caráter obrigatório estabelecidos entre
pessoas de um grupo para garantir justiça mínima, ou direitos humanos mínimos.
Assim, as leis devem favorecer o bom senso (TONO, 2009).
Com isso, quando uma atitude de uma pessoa, em plena atividade
profissional ou não, não agride o outro, física e moralmente, tudo bem, é
aceitável, é moral, é legal, no sentido prático dos acordos e costumes, num
determinado período histórico.
Mas, a ética possui um aspecto teórico e racional, pois requer uma atitude
reflexiva para dela extrair o conjunto excelente de ações, seguindo princípios
morais da veracidade, fidelidade, bondade, empatia, respeito, temperança e
confiabilidade: “quando eu me apercebo no outro”.
Com base em todos estes preceitos, primeiro uma autorreflexão e
posteriormente uma reflexão do outro, é que está sendo consolidado o
fortalecimento da política de proteção integral da criança e do adolescente no
Estado do Paraná, por meio da Força-tarefa Infância Segura, com evidente
presença e atuação de profissionais com mentalidade e comportamento voltados
ao senso de justiça e ao bem-estar comum.
Declaro aqui a minha satisfação, como servidora pública há mais de 29
anos, por estar presenciando, desde 2019, a tão esperada revolução na área da
infância e da adolescência no Estado do Paraná, enquanto política pública,
sempre buscando combater o bom combate a favor da garantia dos direitos
desse público indefeso.
Há muito, ainda, o que fazer na caminhada árdua para proteção às
crianças e aos adolescentes, mas temos a esperança de que, se unirmos
esforços, avançaremos dia a dia. Por isso, que o próximo tópico apresenta em
linhas gerais o resgate histórico e a estrutura traçada da REDE FORTIS
PARANÁ.

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PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA FORTIS-PR

A proteção integral à criança e ao adolescente é responsabilidade de


todos, como apregoa a Constituição da República Federativa do Brasil, Título
VIII “Da Ordem Social”, Capítulo VII:

Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão.

No Paraná, tem-se buscado a efetividade da política de proteção integral


à criança e ao adolescente a partir de intervenção sistêmica, sob a coordenação-
geral do Departamento de Justiça da Secretaria de Estado da Justiça, Família e
Trabalho do Paraná - SEJUF, com a implementação da Força-tarefa Infância
Segura - FORTIS, que surgiu da necessidade de se realizar trabalho integrado
de prevenção e combate a crimes e violências contra a população infanto-juvenil.
Tem desenvolvido ações integradas às demais políticas sensíveis a este público,
tais como aquelas voltadas: a crianças e adolescentes com deficiência; a
meninas e adolescentes mulheres; à primeira infância; a imigrantes; a
refugiados; afrodescendentes; adolescentes em cumprimento de medida
socioeducativa; à prevenção de riscos e efeitos nocivos do uso desordenado das
tecnologias digitais; à violência sexual, entre outras.
Por mais que a sua coordenação-geral se encontre na SEJUF – pasta que
na atual estrutura do Estado do Paraná responde pela formulação e
implementação de diretrizes e políticas de proteção da criança e do adolescente
–, a FORTIS possui como base estruturante a articulação com diversas
instituições e órgãos do Estado do Paraná que integram o Sistema de Garantia
de Direitos - SGD, incluindo as suas esferas municipalizadas.

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Destaca-se que várias das 201 (vinte) ações que, atualmente, compõem
o Pacto Infância Segura, possuem Coordenação própria, definidas de acordo
com adequação do órgão ou instituição para a sua instrumentalização. A título
de exemplo, a “Ação 7 – Serviço Integrado de Recebimento e Monitoramento de
Denúncias” está sob a coordenação e participação ativa da Secretaria de Estado
da Segurança Pública (SESP). Ainda, essa Ação vem sendo desenvolvida com
a participação da FORTIS-PR junto ao “Comitê Interinstitucional de Ações
Protetivas Destinadas à população infanto-juvenil em situação de acolhimento e
vítimas de violência, principalmente no período de pandemia da Covid-19”,
instituído pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, como Coordenação do
Grupo de Trabalho voltado às vítimas de violência.
Entre as atividades intersetoriais desenvolvidas pela FORTIS, de forma
inovadora, pode-se mencionar o “Curso da Força-tarefa Infância Segura” cuja
primeira edição foi realizada no biênio 2019-2020 e a segunda está se
desenvolvendo no biênio 2020-2021, na modalidade de Educação à Distância
(EaD), com mais de 150 horas de formação. Tem como público-alvo os
profissionais do SGD do Paraná – da rede estadual e municipal e aborda
variados temas, de forma interdisciplinar, por Juízes de Direito, Promotores de
Justiça, Defensores Públicos, Enfermeiros, Pediatras, Advogados, Conselheiros
Tutelares, Peritos da Polícia Científica, Delegados de Polícia, Professores,
Assistentes Sociais, Policiais Militares, entre outros.
Não se pode deixar de mencionar que desde 2019, a FORTIS vem
formulando e implementando inúmeros programas, projetos e atividades com
caráter intersetorial e interinstitucional como jamais visto nas políticas de
proteção às crianças e aos adolescentes no Paraná, sob a égide da ética da
prevenção de todos os tipos de violências contra crianças e adolescentes,
contando – inclusive – com instituições que foram se agregando na sua
caminhada, entre elas: a Sociedade Brasileira e Paranaense de Pediatria; o
Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos; Instituições de Ensino
Superior, num contexto interdisciplinar, incrementando as áreas da saúde, da
educação, do direito, da justiça, da segurança, da cultura, do esporte, da

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Status outubro de 2021.
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assistência social e do lazer. Como exemplo de reconhecimento do trabalho
desenvolvido, a publicação “#Sem Abuso #Mais Saúde” da Sociedade Brasileira
de Pediatria, em 06 de abril de 2021, aponta a FORTIS (p. 9) como modelo
nacional de estratégia intersetorial de proteção às crianças e aos adolescentes
(SBP, 2021).
Assim, para que os direitos da criança e do adolescente sejam garantidos,
a política de proteção integral deve agregar todas as instâncias que a sustentam,
por meio de intervenções sociais efetivas que levem ao declínio as estatísticas
que envolvem crianças e adolescentes paranaenses nos sistemas de informação
na área da segurança pública.

TECENDO A REDE FORTIS NO PARANÁ

O “Pacto Infância Segura” do Paraná foi assinado em 21 de fevereiro de


2019, pelo Governo do Estado do Paraná, Poder Judiciário, Ministério Público,
Defensoria Pública, Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Paraná,
Associação dos Conselheiros Tutelares do Estado do Paraná e o Conselho
Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente. Seus signatários
comprometeram-se a desenvolver ações conjuntas, integradas e articuladas
destinadas à prevenção e ao combate aos crimes praticados contra crianças e
adolescentes.
O referido Pacto instituiu a “Força Tarefa Infância Segura (FORTIS)”, sob
a coordenação da Secretaria de Estado da Justiça, Família e Trabalho (SEJUF).
É responsável pelo estabelecimento de ações integradas destinadas ao
aprimoramento do Sistema de Garantias dos Direitos da Criança e do
Adolescente (SGD), à estruturação das redes de proteção e ao aperfeiçoamento
do sistema de justiça, destinados ao atendimento e à proteção da criança e do
adolescente vítima ou testemunha de crimes, bem como à prevenção e
repressão dos crimes e violências contra elas praticados.
A FORTIS é composta pelas instâncias do poder público e da sociedade
civil que compõem o (SGD). No que se refere ao poder público, materializa-se
pelas políticas públicas dos sistemas de justiça, segurança pública, assistência

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social, educação, saúde, esporte, cultura, entre outros. Destaca-se que a
FORTIS possui, em sua essência, as ferramentas da gestão do conhecimento,
quais sejam, a valorização do conhecimento tácito e explícito, a inteligência
coletiva, a comunidade de prática e de aprendizagem e a memória
organizacional com vistas ao fortalecimento do SGD – como referido acima –,
inclusive, para o aprimoramento do atendimento e da assistência da criança e
do adolescente com direitos violados.
Também, para que as ações sejam dotadas de efetividade, requer-se o
trabalho articulado da gestão pública estadual com as esferas municipais no
âmbito do Estado do Paraná para o planejamento, a execução e a avaliação
dessa política com base na ética na administração pública, às vistas da
educação em direitos humanos de todos os que compõem o tecido da gestão
em todas as suas dimensões: estratégica, tática e operacional.
Assim, há de se afirmar que o projeto Político-Pedagógico da Força-tarefa
Infância Segura está pautado nos elementos que plenamente contribuem para o
bem-estar comum da rede de proteção às crianças e aos adolescentes,
anunciados por Gadotti (2001): mudança de mentalidade, atitude/ousadia,
comunicação/troca, participação (adesão voluntária) e autonomia.

Eis o principal desafio do nosso tempo: tornar perene a Força-tarefa


Infância Segura, enquanto política pública, no Estado do Paraná, tendo como
alicerce todas as nuances da “ética na administração pública” e na essência que
a define e a constitui: o amor a si e ao próximo, principalmente às crianças e aos
adolescentes, com prioridade absoluta!!

REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05


de out. 1988. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, em
05 de out. de 1988.

GADOTTI, Moacir, Projeto Político-Pedagógico na perspectiva de uma


Educação para a Cidadania. Perspectivas Atuais da Educação. Porto Alegre :
Artes Médicas. 2001.

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PARANÁ. Pacto Infância Segura: assinado em 21 de fev. 2019. Tribunal de
Justiça do Paraná. Acesso em: http://www.infanciasegura.pr.gov.br/sites/crianca-
segura/arquivos_restritos/files/documento/2020-
10/pacto_infancia_segura_15_out_2020_v_final.pdf

PASSOS, Elizabete. Ética nas Organizações. São Paulo: Atlas, 2004.

SBP. Sociedade Brasileira de Pediatria. #Sem Abuso #Mais Saúde”. 2021.


Acesso em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/_22969c-GPA-
_SemAbusos__MaisSaude.pdf

TONO, Cineiva Campoli. Anotações da Aula do Professor Kleber Bez B.


Candiotto: Ética na Administração Pública, Especialização em Formulação e
Gestão de Políticas Públicas, UFPR, 2009.

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