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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Angélica Ilacqua CRB-8/7057

Cartilha fortalecer as paternidades responsáveis e participativas a partir


do programa primeira infância no Sistema Único de Assistência Social (SUAS)
: Programa Criança Feliz (PCF) / Promundo ; [SDSCJ, SEASS, SDSDHJPD, SEAS,
CDC]. – Brasília, DF : Instituto Promundo, 2021.

65 p.

ISBN:

978-65-995731-1-8

1. Paternidade 2. Pai e filhos 3. Criança e adolescentes - Proteção social I. Institu-


to PROMUNDO II. Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude
(SDSCJ) III. Secretaria Executiva de Assistência Social (SEASS) do Estado de Per-
nambuco IV. Secretaria de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos, Juven-
tude e Política sobre Drogas (SDSDHJPD) V. Secretaria Executiva de Assistência
Social (SEAS) da Prefeitura da Cidade do Recife VI. Centro de Desenvolvimento
e Cidadania (CDC)

21-3344 CDD 346.017

Índices para catálogo sistemático:


1. Paternidade
CRÉDITOS

ELABORAÇÃO

por José Fernando da Silva (Consultor Técnico / Projeção -


Consultoria, Formação e Políticas Públicas)
Luciano Ramos (Consultor Senior de Programas do Instituto
Promundo)
Mirella Cavalcante Vilar Lima (Consultora Técnico / Projeção
- Consultoria, Formação e Políticas Públicas)

COLABORAÇÃO E REVISÃO

Bernardeth Gondim (Coordenadora do Programa Primeira


Infância no SUAS/Criança Feliz / Centro de Desenvolvimento
e Cidadania(CDC)
Denise Paiva (Consultora em Direitos Humanos)
Ivânia Ghesti (Analista Judiciária / Secretaria Especial de Pro-
gramas, Pesquisa e Gestão Estratégica / Conselho Nacional
de Justiça)
Miguel Fontes (PhD, Diretor Executivo do Promundo)
Nerivaldo Bezerra (Gerente da Proteção Social Básica / Se-
cretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude de
Pernambuco (SDSCJ) / Secretaria Executiva de Assistência
Social do Governo do Estado de Pernambuco)
Renata Aparecida Ferreira (Consultora em Proteção Social)
Rosangela Fontes (Gerente da Proteção Social Básica / Se-
cretaria de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos, Ju-
ventude e Políticas sobre Drogas / Secretaria Executiva de
Assistência Social da Prefeitura do Recife)

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO


Gabriel Felipe Moreira Medeiros

EDITORAÇÃO
Bruna de Oliveira Martins
SUMÁRIO
Apresentação
05
Quem somos?
06
07
Proteção Integral às Primeiras Infâncias:
1ª Parte: o que sabemos, reconhecemos e o que
devemos garantir?

Paternidades e o Programa Primeira In-


2ª Parte: fância no SUAS/Programa Criança Feliz
(PCF): contribuições e potencialidades 17
31
Masculinidades, paternidades e respon-
3ª Parte: sabilidades compartilhadas e participati-
vas

Sugestões de materiais de apoio para for-


4ª Parte: talecimento das paternidades responsá-
veis e participativas nas primeiras infân-
cias
34
5ª Parte: Glossário
37
Referências
39
42
Anexo 01 – Relatório de Sistematização
do Webinário Internacional Todos pela
Primeira Infância (27 e 28 de abril de 2021)
Apresentação
Integral às Primeiras Infâncias: o que sa-
bemos, reconhecemos e o que devemos
promover e garantir? Na segunda, o foco
A proteção e promoção do desenvol- são as Paternidades e o Programa Primeira
vimento integral das crianças e aos ado- Infância no SUAS / PCF: contribuições e po-
lescentes, inclusive, nos seis (06) primeiros tencialidades. Em seguida, a terceira parte
anos de vida, é parte de uma construção dedica-se a trazer contribuições quanto às
histórica e social no plano internacional, Paternidades, Masculinidades e Responsa-
que no Brasil tem ocupado importante e bilidades Participativas. A quarta parte traz
necessária agenda social, política e jurídica um conjunto de sugestões de materiais
com repercussões que exigem uma atua- de apoio para fortalecimento das pater-
ção sistêmica e integrada nas três esferas nidades responsáveis e participativas nas
da Federação, sobretudo, a partir do indis- primeiras infâncias. São dicas de cartilhas,
pensável envolvimento e participação do guias, planos, publicações, filmes, víde-
Estado, da Sociedade e das Famílias. os, canais no Youtube, Podcast e referên-
cias que certamente subsidiarão melho-
Registra-se que o advento da Lei Fede- res aprofundamentos quanto à proteção
ral nº 13.257/2016, denominada como Mar- e promoção do desenvolvimento integral
co Legal da Primeira Infância, é um divisor nas primeiras infâncias. Ao final, a quinta
fundante por introduzir a coparticipação parte, apresenta um glossário com concei-
das paternidades nos cuidados com as pri- tos e termos para apoiar na leitura do ma-
meiras infâncias, definida na faixa etária terial.
até os seis (06) anos de vida. Interessa des-
tacar que passos indispensáveis foram tri- As instituições e órgãos parceiros rea-
lhados. Com efeito, é imprescindível ir além firmam que o objetivo central da Cartilha
para que a participação corresponsável das é de ser um instrumental político e peda-
paternidades seja ampliada para todos os gógico que contribua para potencializar a
intervalos etários definidos no Estatuto da atenção e o atendimento das paternida-
Criança e do Adolescente. É relevante des- des nos cuidados com as crianças nas pri-
tacar que o Pacto Nacional pela Primeira meiras infâncias, notadamente, a partir da
Infância, coordenado pelo Conselho Nacio- atuação das equipes do SUAS, que é uma
nal de Justiça, atualmente com quase 200 política social que tem como premissa a
signatários, representa uma importante centralidade nas famílias, nos territórios
estratégia para efetiva implementação dos e traz na sua gênese um amplo leque de
direitos já previstos na legislação, ao qual possibilidades para as interfaces com as
buscamos contribuir com a presente pro- demais políticas sociais.
posta.
É com enorme prazer, motivação e Instituto Promundo
Centro de Desenvolvimento e Cida-
com os ventos da corresponsabilização,
dania (CDC)
que o Instituto Promundo e parceiros apre-
Pacto Nacional pela Primeira Infân-
sentam a Cartilha “Fortalecer as paternida- cia/Conselho Nacional de Justiça
des responsáveis e participativas a partir (CNJ)
do Programa primeira infância no Sistema Secretaria de Desenvolvimento So-
Único de Assistência Social (SUAS) / Pro- cial, Criança e Juventude de Per-
grama Criança Feliz (PCF)”. É fruto dos di- nambuco (SDSCJ)
álogos e reflexões ocorridos no Webinário Secretaria de Desenvolvimento So-
Internacional Todos pela Primeira Infância, cial, Direitos Humanos, Juventude e
que se encontram sistematizadas no rela- Políticas sobre Drogas da Prefeitura
tório anexado a este documento (Anexo 01). da Cidade do Recife (SDSDHJPD)

A Cartilha está estruturada em cinco


Boa leitura!
partes. A primeira é dedicada a buscar res-
ponder às inquietações quanto à Proteção

5
Quem somos nós?
Instituto PROMUNDO: O Promundo é uma organização brasileira, sem vínculos institucionais
com outras organizações estrangeiras, e trabalha para promover a igualdade de gênero e pre-
venir violência envolvendo homens e meninos em parceria com mulheres e meninas. Para isso,
desenvolvemos no Brasil e em vários países programas, campanhas e esforços de advocacy em
todos os temas abaixo, baseados em pesquisas rigorosas.
Website: https://promundo.org.br/

Centro de Desenvolvimento e Cidadania (CDC): O Centro de Desenvolvimento e Cidadania (CDC)


é uma organização não-governamental, sem fins lucrativo, com sede em Recife/PE, que atua há
20 anos no apoio e desenvolvimento de iniciativas de inclusão social e, principalmente, inclusão
digital. Nesta trajetória, vem desenvolvendo projetos de apoio à pesquisa, legislação, educação e
políticas públicas, e atualmente, é responsável pela execução do Programa Primeira Infância no
SUAS / Criança Feliz em Pernambuco.
Website: https://www.cdc.org.br/

Pacto Nacional pela Primeira Infância/Conselho Nacional de Justiça (CNJ): A fim de promover
a efetiva implementação do Marco Legal da Primeira Infância e da legislação que o fundamenta,
em 25 de junho de 2019, foi firmado o Pacto Nacional pela Primeira Infância, assinado pelo três
poderes – executivo, judiciário e legislativo, organizações da sociedade civil, empresas e organis-
mos internacionais. O Pacto tem como ponto de partida o projeto “Justiça começa na Infância:
fortalecendo a atuação do Sistema de Justiça na promoção de direitos para o desenvolvimento
humano integral”, que envolve ações de sensibilização por meio de seminários em todas as regi-
ões do País, diagnóstico nacional, capacitação e divulgação de boas práticas que tornem o siste-
ma de justiça e o sistema de garantia de direitos mais amigável e efetivo à proteção e promoção
do desenvolvimento dos cidadãos de 0 a 6 anos. No próximo dia 19 de agosto, serão firmadas as
adesões pelas instituições da Região Sul, completando o ciclo de seminários regionais, a partir
do qual busca-se o alinhamento necessário para que as instituições fortaleçam sua atuação em
direitos positivos, como a da promoção da paternidade participativa, entre outras.
Webiste: https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pacto-nacional-pela-primeira-infancia/

Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude de Pernambuco (SDSCJ): tem por


responsabilidade planejar, executar, coordenar e controlar políticas públicas voltadas para as áre-
as da Assistência Social, do Sistema Socioeducativo, da articulação social, da criança e juventude
e das pessoas com deficiência. A atuação é voltada para o enfrentamento das expressões da
questão social, principalmente, de violações de direitos, prevenindo e protegendo pessoas e gru-
pos em situação de vulnerabilidade social.
Website: http://www.sdscj.pe.gov.br/

Secretaria de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos, Juventude e Políticas sobre Drogas


da Prefeitura da Cidade do Recife (SDSDHJPD): é um órgão da administração direta municipal
responsável pelo planejamento, articulação, execução e controle das políticas públicas, represen-
tadas pelas Secretarias Executivas de Assistência Social, de Direitos Humanos, de Juventude e de
Políticas sobre Drogas.
Website: http://www2.recife.pe.gov.br/pagina/secretaria-de-desenvolvimento-social-juventude-
-politicas-sobre-drogas-e-direitos-humanos

6
1. Proteção
uma hierarquização para a
garantia de direitos?

Integral às
• Existe uma única infância ou
são diversas?

Primeiras • Qual o recorte etário para de-


finição das primeiras infân-

Infâncias: o •
cias?
Maternidades e paternidades,

que sabemos, quais as corresponsabilida-


des?
reconhecemos • Quais os planos de políticas
públicas contemplam os di-
e o que •
reitos das primeiras infâncias?
Quais as atribuições dos con-
devemos selhos (políticas públicas,
direitos e tutelares) para a
garantir? garantia de direitos das pri-
meiras infâncias?
Para apontar possíveis respostas as • Quais as principais dificulda-
três indagações contidas no título é des identificadas na promo-
necessário apresentar outros questio- ção, defesa e o controle para
namentos e, em seguida, conteúdo a efetivação dos direitos das
que possa ser fonte de inspiração para crianças nas primeiras infân-
a ampliação de conhecimentos, com- cias?
preensões e, sobretudo, a realização • Quais os principais fatores
de ações em prol do pleno desenvolvi- culturais (preconceitos, mitos,
mento das infâncias. Nesta perspecti- estereótipos) que prejudicam
va, cabe questionar: o desenvolvimento infantil?

• As atenções, os olhares e os As respostas as distintas questões,


cuidados com as infâncias certamente, exigiriam a elaboração de
só precisam ter início após o um texto abrangente. Talvez a elabora-
nascimento do bebê? ção de um longo artigo. Quem sabe a
• As famílias são as únicas res- escrita de um livro ou a publicação de
ponsáveis pela efetivação de uma revista. Mas, o propósito do pre-
direitos das infâncias? sente capítulo é relembrar e referenciar
• Quais as corresponsabilida- aspectos que estão contidos em do-
des da Família, da Sociedade cumentos internacionais e nacionais,
e do Estado com as infâncias? especialmente, no campo dos Direitos
• Qual o conjunto de direitos Humanos.
deve ser garantido às crian-
Importa assinalar que as socieda-
ças nas primeiras infâncias?
des e os estados nacionais têm desen-
• É aceitável se estabelecer
volvido esforços para a estruturação de

7
um Sistema Internacional que viabilize tar para as definições expressas na
a efetivação dos Direitos Humanos e Constituição Federal (CF, 1988), que
nele sejam contempladas as infâncias. demarcam as corresponsabilidades
Nesta direção, a Declaração Universal para a proteção integral das crianças
dos Direitos Humanos (ONU, 1948) afir- e adolescentes no âmbito nacional. A
ma que: Tabela 01 transcreve e comenta quatro
(04) artigos da CF/1988 que são essen-
ciais na constitucionalização dos direi-
a maternidade e a infância têm di-
reito a cuidados e assistência es- tos à proteção desde à maternidade,
peciais. Todas as crianças nascidas especialmente nos direitos sociais, as
dentro ou fora do matrimônio, go- competências da Assistência Social, as
zarão da mesma proteção social
corresponsabilidades dos entes federa-
tivos e um primeiro conjunto de direi-
Percebem que a proteção é am- tos fundamentais das infâncias, adoles-
pla e deve ser assegurada desde a cências e juventudes.
maternidade e não apenas depois do Frente aos breves apontamentos
nascimento? E é extensiva a todas as quanto ao fixado na Declaração Univer-
crianças, sem distinção. No caminhar sal dos Direitos Humanos (ONU, 1948),
internacional, a Conferência Mundial na Conferência Mundial sobre Direitos
sobre Direitos Humanos (Viena, 1993), Humanos (Viena, 1993) e na CF/1988, é
consagra que todos os Estados – partes o momento de priorizar a abordagem
devem primar pela: para as primeiras infâncias, com duas
referências primordiais: o Estatuto
não-discriminação e o interesse su- da Criança e do Adolescente (Lei Fe-
perior das crianças devem ser con- deral nº 8.069/1990) e a Lei Federal nº
siderados fundamentais em todas 13.257/2016, que se constitui no Marco
as atividades dirigidas à infância,
levando em devida conta a opinião Legal da Primeira Infância.
dos próprios interessados O Estatuto da Criança e do Adoles-
Uma síntese das normativas e de- cente é instituidor da Doutrina da Pro-
clarações internacionais assegura que teção Integral e para sua intepretação
os Estados – partes do Sistema Interna- e aplicação é primordial que sempre
cional de Direitos Humanos são corres- sejam considerados
ponsáveis pela atenção, olhar e cuidar
das infâncias desde a gestação, sendo os fins sociais a que ela se dirige, as
indispensável a elaboração de planos exigências do bem comum, os direi-
tos e deveres individuais e coletivos,
nacionais de ação, com prioridade para
e a condição peculiar da criança e
evitar a mortalidade materno-infantil, à do adolescente como pessoas em
redução das taxas de desnutrição me- desenvolvimento (Art. 6º).
diante a garantia de alimentação de Três comentários são pertinentes
qualidade e o enfrentamento de todas quanto a importância do contido no Art.
as formas de violências. 6º: (i) as exigências do bem comum; (ii)
Após situar brevemente as defini- que é uma Lei que contempla direitos
ções internacionais, é pertinente aten- e deveres (muitas vezes não referencia-

8
Tabela 01: Corresponsabilidades e direitos
à maternidade e às infâncias na CF/1988

Artigos da CF/1988 Comentários

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a


alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte,
o lazer, a segurança, a previdência social, a prote- A proteção à maternidade e à infân-
ção à maternidade e à infância, a assistência aos cia são partes essenciais dos direi-
desamparados, na forma desta Constituição. tos sociais, inclusive à saúde e ali-
mentação.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº
90, de 2015)

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distri-


A União, Estados e o Distrito Federal
to Federal legislar concorrentemente sobre:
devem legislar sobre a proteção às
XV - proteção à infância e à juventude; infâncias.
Art. 30. Compete aos Municípios: Importa assinalar que o Art. 30 da
I - legislar sobre assuntos de interesse local; CF/1988 confere aos municípios a
capacidade para suplementar a le-
II - suplementar a legislação federal e a estadual
gislação federal e estadual.
no que couber; (Vide ADPF 672)

Art. 203. A assistência social será prestada a quem


dela necessitar, independentemente de contri- A atenção à família, à maternidade,
buição à seguridade social, e tem por objetivos: e às infâncias na Assistência Social
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, estão asseguradas desde a CF 1988.
à adolescência e à velhice;

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Es-


tado assegurar à criança, ao adolescente e ao jo-
vem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à pro- A corresponsabilização é essencial
fissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, para efetivação dos direitos huma-
à liberdade e à convivência familiar e comunitá- nos, convivência familiar e comuni-
ria, além de colocá-los a salvo de toda forma de tária, dignidade, respeito e livre de
negligência, discriminação, exploração, violência, qualquer forma de violações de di-
crueldade e opressão. reitos.

(Redação dada Pela Emenda Constitucional nº


65, de 2010)

Fonte: elaboração própria (2021).

9
dos) tanto os individuais quanto os co- diferencie as pessoas, as famílias
ou a comunidade em que vivem.
letivos; (iii) que crianças e adolescentes
(incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
são pessoas em desenvolvimento. (BRASIL, 1990)
O Marco da Primeira Infância preci-
sa ser compreendido como parte ine-
Agora é o momento de adentrar na
rente da absoluta prioridade, integran-
ampliação do conjunto de direitos ine-
te da CF/1988 (Art. 227) e do Estatuto
rentes às pessoas com até seis anos de
da Criança e do Adolescente (Art. 4º) e
idade ou 72 (setenta e dois) meses de
deve se materializar, conforme se apre-
vida, conforme definido na Lei Fede-
senta no parágrafo único desse artigo
ral nº 13.257/2016, o Marco da Primeira
no tocante ao PPPD, constituindo-se
Infância. Para tanto, a próxima tabela
na bussola para as políticas de atendi-
contém dois (02) artigos presentes no
mento na primeira infância. Mas, o que
Estatuto da Criança e do Adolescen-
significa cada letra para garantia dos
te e Marco Legal da Primeira infância,
direitos de meninos e meninas?
respectivamente, que são importantes
por acrescentar direitos àqueles esta-
• P de primazia para receber belecidos no Art. 227 da CF/1988.
a proteção e o socorro em O conteúdo das Tabelas 01 e 02 evi-
quaisquer circunstâncias; denciam:
• P de precedência para o aten-
• as corresponsabilidades e a
dimento nos serviços públi-
centralidade das políticas pú-
cos ou de relevância pública;
blicas para a efetivação de to-
• P que determina a preferên-
dos os direitos das primeiras
cia na formulação e na execu-
infâncias;
ção das políticas sociais públi-
• define um amplo conjunto de
cas;
direitos humanos, composto
• D de destinação privilegiada
por direito sociais, convivên-
de recursos públicos nas áre-
cia familiar e comunitária,
as relacionadas com a prote-
de respeito e dignidade, não
ção à infância e à juventude.
sofrer qualquer tipo negli-
gência, discriminação, explo-
O Estatuto da Criança e do Adoles- ração, violência, crueldade e
cente não admite, parágrafo único do opressão;
Art. 3º, em hipótese alguma a discrimi- • e que o Marco Legal da Pri-
nação desde o: meira Infância avança para
outros direitos fundamentais,
nascimento, situação familiar, ida- ampliando e aprimorando o
de, sexo, raça, etnia ou cor, religião Estatuto da Criança e do Ado-
ou crença, deficiência, condição
pessoal de desenvolvimento e
lescente.
aprendizagem, condição econômi-
ca, ambiente social, região e local O Marco Legal da Primeira Infância,
de moradia ou outra condição que
em seu Art. 4º, apresenta e reforça a ne-

10
Tabela 02: Direitos Humanos das Primeiras Infâncias no Brasil

Artigos e as referências jurídicas Comentários

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da so-


ciedade em geral e do poder público assegurar,
com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
Além da não aplicação do direito à
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à edu-
profissionalização importa ter pre-
cação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à
sente o direito ao esporte.
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária. (Estatuto da
Criança e do Adolescente).

Art. 5º. Constituem áreas prioritárias para as po-


líticas públicas da primeira infância a saúde, a
alimentação e a nutrição, a educação infantil, a
convivência familiar e comunitária, a assistência
Inova ao incorporar novos direitos
social à família da criança, a cultura, o brincar e
destinados às crianças de 0 a 6 anos
o lazer, o espaço e o meio ambiente, bem como
com foco no pleno desenvolvimen-
a proteção contra toda forma de violência e de
to infantil.
pressão consumista, a prevenção de acidentes
e a adoção de medidas que evitem a exposição
precoce à comunicação mercadológica. (Marco
Legal da Primeira Infância).

Fonte: elaboração própria (2021).

cessidade de garantir o direito à partici- sistência social, bem como dos progra-
pação das crianças na formulação das mas, serviços, escolas e organizações
políticas públicas e nas ações que lhes não governamentais. Nesta direção, se
dizem respeito e, para tanto, tem por torna importante conhecer, favorecer e/
objetivo: ou desenvolver metodologias, conteú-
promover sua inclusão social como dos e linguagens que favoreçam a par-
cidadã e dar-se-á de acordo com a ticipação das crianças e adolescentes,
especificidade de sua idade, deven-
contemplando as primeiras infâncias
do ser realizada por profissionais
qualificados em processos de escu- nas suas diversidades culturais, regio-
ta adequados às diferentes formas nais e sociais. Para buscar sinergia com
de expressão infantil. (BRASIL, 2016).
possíveis respostas aos desafios da par-
ticipação é pertinente indagar-se:
Os desafios da participação de • Quais os mecanismos e es-
crianças e adolescentes, e nela inclu- paços de escuta existente no
sa, as primeiras infâncias, certamente, âmbito da Assistência Social e
merecem uma atenção dos diversos na Educação?
conselhos de direitos da criança e do • O que os conselhos dos direi-
adolescente, educação, saúde e da as- tos da criança e adolescente,

11
educação, saúde e assistência ra Infância (2010), que tem validade até
e as organizações da socieda- 2030 e guarda consonância com refe-
de civil estão desenvolvendo rências internacionais (Convenção dos
para garantir a participação Direitos da Criança, o Plano de Educa-
qualificada? ção de Dacar, os Objetivos do Milênio,
• Como qualificar a participa- a Convenção sobre os Direitos das Pes-
ção nos distintos mecanis- soas com Deficiência) e com Plano Na-
mos e espaços? cional de Educação, Plano Nacional de
Saúde, Plano Nacional de Assistência
Frente ao apresentado até o mo- Social, Plano Nacional de Cultura, Plano
mento é indispensável apontar que o Nacional de Combate à Violência con-
referido Marco, em seu Art. 3º, avança e tra a Criança, Plano Nacional de Pro-
determina moção, Proteção e Defesa do Direito de
Crianças e Adolescentes à Convivência
Familiar e Comunitária.
o dever do Estado para estabelecer
políticas, planos, programas e ser- Com relação a efetivação das dire-
viços para a primeira infância que trizes, objetivos e metas definidos nos
atendam às especificidades dessa
faixa etária, visando garantir seu planos, é primordial que os conselhos
desenvolvimento integral. (BRASIL, dos direitos da criança e do adolescen-
2016) te, educação, assistência social, saúde
E que os 03 (três) âmbitos da fede- e tutelares, os comitês intersetoriais da
ração poderão criar Primeira Infância e os órgãos da gestão
pública participem, concretamente, do
comitê intersetorial de políticas pú- ciclo orçamentário brasileiro existente
blicas para a primeira infância com nas três esferas da Federação, compos-
a finalidade de assegurar a articula- to por três (03) leis.
ção das ações voltadas à proteção
e à promoção dos direitos da crian- A primeira, é o Plano Plurianual
ça, garantida a participação social
(PPA) elaborado pelo Poder Executivo
por meio dos conselhos de direitos.
(BRASIL, 2016) (Federal, Estadual, Distrito Federal e
Municipal) e aprovado no primeiro ano
da gestão da Presidência da República,
Importa referenciar que os conse- Governos Estaduais/Distrito Federal e
lhos (Nacional, Distrito Federal, Estadu- Prefeituras, com validade para os qua-
ais e Municipais) dos Direitos da Crian- tro (04) anos subsequentes. Após o PPA
ça e do Adolescente, Educação, Saúde é a vez da Lei de Diretrizes Orçamentá-
e Assistência Social são fundamentais rias (LDO) e do Lei Orçamentária Anual
para a efetivação dos direitos das crian- serem elaborados para tornar possível
ças nas primeiras infâncias, bem como o definido no PPA. Informa-se que a
os Conselhos Tutelares existentes nos aprovação do PPA, LDO e LOA é uma
municípios brasileiros. atribuição do Poder Legislativo (Con-
Da mesma forma, destaca-se a gresso Nacional, Assembleia Legisla-
existência do Plano Nacional da Primei- tiva/Distrital e Câmara de Vereadores).

12
Os conselhos e os comitês intersetoriais vergência. (Expressão substituída
pela Lei nº 12.010, de 2009) (BRASIL,
da primeira infância necessitam ter
2016, grifo nosso)
atenção para os prazos de elaboração
e aprovação de cada lei do ciclo orça- A modificação introduzida no men-
mentário. cionado Estatuto não é tão somente
uma mudança de expressão, mas repre-
É essencial que os distintos conse-
senta, sobretudo, um avanço nas con-
lhos, comitês e órgãos da gestão públi-
cepções legais e culturais, reconhecen-
ca atuem em sintonia para a superação
do relações de equilíbrio entre homens
das divergências, isolamento e da frag-
e mulheres no cuidado com crianças e
mentação na incidência política e na
adolescentes. O termo pátrio poder re-
atenção para a plena realização dos di-
fletia os aspectos da família patriarcal,
reitos humanos de meninos e meninas.
onde predominava a autoridade mas-
Em outras palavras, é a partir da atua-
culina em relação à mulher e aos filhos.
ção integrada e articulada, focalizando
É importante considerar ainda que o
as diretrizes, objetivos e metas contidas
texto da lei trata de “pai e mãe”, mas
nos diferentes planos anteriormente
a sua interpretação deve contemplar
apontados que a efetivação dos direitos
as famílias homoafetivas com crianças
humanos precisa ter plena realização
e adolescentes. Em relação as famílias
nos orçamentos públicos.
homoafetivas é crucial que os direitos
Observam que até o momento as de paternidade e maternidade sejam,
responsabilidades são compartilhadas precipuamente, considerados e respei-
entre a Família, a Sociedade e o Estado, tados, como parte da condição huma-
e os direitos das infâncias devem ser as- na à plena realização de direitos.
segurados desde a gestação, inclusive,
Com esses propósitos é, extrema-
às mães. Mas, uma pergunta se apre-
mente, imperativo que se considere,
senta:
problematize e avance na superação
• Onde estão as paternidades nas das concepções e práticas referencia-
atenções, nos olhares e cuidados com das no modelo patriarcal, machista,
as crianças na primeira infância? racista, adultocentrista e homofóbica
Aqui cabe registar que a primeira que marcam o Estado, a Sociedade e as
redação do Art. 21 do Estatuto da Crian- Famílias.
ça e do Adolescente trazia a expressão Tal reconhecimento na legislação
pátrio poder, que foi, posteriormen- brasileira, absorvida pelo Marco Legal
te, atualizada para poder familiar que da Primeira Infância, afirma a impres-
deve ser cindibilidade das corresponsabilidades
do pai (paternidade) em todas as fases
exercido, em igualdade de condi- do desenvolvimento infantil, que se ini-
ções, pelo pai e pela mãe, na for- cia ainda na gestação. Nesta direção,
ma do que dispuser a legislação
o Marco Legal da Primeira Infância, em
civil, assegurado a qualquer deles
o direito de, em caso de discordân- seu Art. 14, estabelece:
cia, recorrer à autoridade judiciária As políticas e programas governa-
competente para a solução da di- mentais de apoio às famílias, in-

13
cluindo as visitas domiciliares e próxima tabela traz as inovações que
os programas de promoção da pa-
precisam ter atenção das famílias, das
ternidade e maternidade respon-
sáveis, buscarão a articulação das organizações sociais, do Poder Público
áreas de saúde, nutrição, educação, (Executivo, Legislativo, Judiciário, Minis-
assistência social, cultura, trabalho,
tério Público e Defensoria Pública) e do
habitação, meio ambiente e direi-
tos humanos, entre outras, com vis- sistema de conselhos, notadamente, os
tas ao desenvolvimento integral da dos Direitos da Criança e do Adolescen-
criança. (BRASIL, 2016, grifo nosso).
te, Assistência Social e Tutelares.
Portanto, a garantia de todos os
E avança para que as gestantes e direitos para o conjunto das pessoas,
as famílias com crianças até seis anos contemplando as infâncias, desde o
recebam orientação e formação sobre momento da gestação, são exigências
maternidade e paternidade responsá- e corresponsabilidades políticas, jurídi-
veis. cas e éticas das Famílias, Sociedade e
É no conteúdo do Art. 14, acima Estado, que necessitam total respeito
transcrito, que as visitas domiciliares são às diversidades das identidades de gê-
apontadas como parte das políticas e nero, diversidade sexual, composição e
programas governamentais, articulan- situação familiar, idade, sexo, raça, etnia
do e integrando paternidade e mater- ou cor, religião ou crença, deficiência,
nidade responsáveis para o acesso aos condição pessoal de desenvolvimento
direitos no sentido do desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica,
integral das crianças, sendo a combina- classes sociais, ambiente social, região
ção dos Arts. 227 da CF/1988, 4º do Es- e local de moradia ou outra condição
tatuto da Criança e do Adolescente e 5º que diferencie as pessoas, as famílias
do Marco da Primeira Infância, não se ou a comunidade em que vivem.
admitindo uma hierarquização dos di- É adequado reconhecer os avanços
reitos humanos. Aliás essa é construção advindos do Marco Legal da Primeira
e o imperativo internacional sintetiza- Infância no tocante a CLT e ao disposto
do na Declaração e Programa de Ação no Programa Empresa Cidadã. Contu-
de Viena (1993) quando determina que do, se faz oportuno colocar em evidên-
“Todos os direitos humanos são uni- cia que ainda há um longo caminho a
versais, indivisíveis, interdependentes percorrer. A título de exemplo, pode-
e inter-relacionado”. mos citar 03(três) direções para ir além:
O Marco Legal da Primeira Infân- (i) ampliar os dias para acompanhar fi-
cia introduz importantes modificações lho e filha em consultas médicas, exa-
na Consolidação das Leis do Trabalho mes durante a gestação; (ii) estender
(CLT), instituída pelo Decreto-Lei Nº a idade para além dos seis (06) anos e
5.452, de 1º de maio de 1943 e na Lei quantidade de dias/ano quando das
Federal Nº 11.770, de 9 de setembro de consultas médicas; (iii) e que o defini-
2008, que dispõe sobre o Programa do para o Programa Empresa Criança
Empresa Cidadã quanto aos direitos da seja amplamente difundido e pratica-
paternidade nos cuidados com filhos e do em distintos setores de emprega-
filhas. Para facilitar a compreensão, a dores. Neste caminhar é uma exigência

14
Tabela 03: direitos das paternidades na Consolidação
das Leis Trabalhistas e no Programa Empresa Cidadã
Artigos e as referências jurídicas Comentários

Art. 37. O art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no Direito das
5.452, de 1o de maio de 1943, passa a vigorar acrescido dos seguintes incisos X e XI: paternidades
nos cuidados
X - até 2 (dois) dias para acompanhar consultas médicas e exames complementares durante o
período de gravidez de sua esposa ou companheira; com a saúde
desde à gra-
XI - por 1 (um) dia por ano para acompanhar filho de até 6 (seis) anos em consulta médica.” (NR)
videz.

Art. 38. Os arts. 1o, 3o, 4o e 5o da Lei no 11.770, de 9 de setembro de 2008, passam a vigorar com
as seguintes alterações: (Produção de efeito)
“Art. 1o É instituído o Programa Empresa Cidadã, destinado a prorrogar:
I - por 60 (sessenta) dias a duração da licença-maternidade prevista no inciso
XVIII do caput do art. 7º da Constituição Federal;
II - por 15 (quinze) dias a duração da licença-paternidade, nos termos desta Lei,
além dos 5 (cinco) dias estabelecidos no § 1o do art. 10 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias. Tempo para
§ 1 A prorrogação de que trata este artigo:
o gozo da li-
cença ma-
I - será garantida à empregada da pessoa jurídica que aderir ao Programa, des- ternidade e
de que a empregada a requeira até o final do primeiro mês após o parto, e será
concedida imediatamente após a fruição da licença-maternidade de que trata o
paternidade
inciso XVIII do caput do art. 7º da Constituição Federal;
II - será garantida ao empregado da pessoa jurídica que aderir ao Programa, des-
de que o empregado a requeira no prazo de 2 (dois) dias úteis após o parto e
comprove participação em programa ou atividade de orientação sobre paterni-
dade responsável.
§ 2o A prorrogação será garantida, na mesma proporção, à empregada e ao empregado que
adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança.” (NR)

“Art. 3o Durante o período de prorrogação da licença-maternidade e da licença-paternidade: Direito a


prorrogação
I - a empregada terá direito à remuneração integral, nos mesmos moldes devi-
das licenças
dos no período de percepção do salário-maternidade pago pelo Regime Geral de
Previdência Social (RGPS); maternidade
e paternida-
II - o empregado terá direito à remuneração integral.” (NR)
de Fonte: elaboração própria (2021).

Possibilida-
Art. 4o No período de prorrogação da licença-maternidade e da licença-paternidade de que
de de pror-
trata esta Lei, a empregada e o empregado não poderão exercer nenhuma atividade remune-
rada, e a criança deverá ser mantida sob seus cuidados. rogação das
licenças ma-
Parágrafo único. Em caso de descumprimento do disposto no caput deste artigo, a empregada
e o empregado perderão o direito à prorrogação.” (NR)
ternidade e
paternidade,

Benef ício
Art. 5o A pessoa jurídica tributada com base no lucro real poderá deduzir do imposto devido, da pessoa
em cada período de apuração, o total da remuneração integral da empregada e do empregado jurídica que
pago nos dias de prorrogação de sua licença-maternidade e de sua licença-paternidade, veda- garante a li-
da a dedução como despesa operacional cença pater-
nidade.

15
humanitária e ética que as diferentes
organizações familiares, incluindo as
homoafetivas, não sejam impedidas de
usufruir dos direitos consagrados na le-
gislação brasileira.
Por fim, uma consideração subs-
tancial é de que o conjunto das refe-
rências nacionais (Constituição Federal,
Estatuto da Criança e do Adolescente e
o Marco da Primeira Infância) associado
a Declaração Universal dos Direitos Hu-
manos e a Declaração de Viena consti-
tuem-se num robusto e indispensável
arcabouço normativo, político e ético
que deve balizar as políticas sociais e
econômicas em prol da proteção inte-
gral das primeiras infâncias na impres-
cindível coparticipação das paternida-
des e masculinidades no contexto das
políticas de garantia de direitos huma-
nos.

16
2. Paternidades que comprometam a capacidade pro-
tetiva dessas famílias.

e o Programa Nesta direção, a Assistência Social,


conforme estabelecido na CF/1988 e
Primeira Infância na Lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS/1993), se estabelece enquanto
no SUAS / um dever do Estado e direito de todas
as cidadãs e cidadãos que dela neces-
Programa Criança sitarem, em decorrência de situações

Feliz (PCF):
de vulnerabilidade e risco social. E, en-
quanto política pública, deve “prover

contribuições e proteção à vida, reduzir danos, prevenir


a incidência de riscos sociais, indepen-

potencialidades dente de contribuição prévia, e deve


ser financiada com recursos previstos
no orçamento da Seguridade Social.”.
O Sistema Único de Assistência So- (Art. 1º - NOB/SUAS-2012).
cial (SUAS) tem papel essencial para de- Com base nestes marcos estrutu-
senvolvimento das crianças nas primei- rantes, a atenção às crianças nas pri-
ras infâncias e, em sua trajetória, tem meiras infâncias no SUAS permeia tan-
se pautado na perspectiva da proteção to as ofertas da proteção social básica,
integral, preconizada pelo Estatuto da que atua no âmbito da prevenção das
Criança e do Adolescente. A atuação do situações de vulnerabilidade e risco
SUAS se materializa a partir da oferta, social, através do fortalecimento dos
em todo território nacional, de serviços, vínculos familiares e comunitários, e
programas, projetos e benefícios socio- da proteção social especial, com foco
assistenciais, no âmbito da proteção na proteção das famílias e indivíduos
social básica e proteção social especial, com direitos violados, e que tenham
com centralidade na família. seus vínculos familiares fragilizados e/
A atenção às crianças pequenas no ou rompidos. Todas essas ofertas se or-
SUAS se baseia num conjunto de leis, ganizam a partir da integralidade, da
normas e planos que fundamentam a matricialidade familiar e da territoriali-
sua consolidação nas esferas Federal, zação, com objetivo de apoiar a função
Estaduais e Municipais. As responsa- protetiva das famílias.
bilidades da Assistência Social relacio- Os serviços, programas e projetos
nadas às crianças e suas famílias estão socioassistenciais, conforme estabele-
demarcadas desde a CF/1988, que insti- cido na Política Nacional de Assistência
tuiu, em seu Art. 203, como objetivo da Social (PNAS,2004), devem atuar com
Assistência Social a proteção à família, vistas a afiançar aos seus usuários e
à maternidade, à infância, à adolescên- usuárias as seguintes seguranças: 1) Se-
cia e à velhice, quando vivenciadas situ- gurança de acolhida; 2) Segurança de
ações de vulnerabilidade e risco social renda; 3) Segurança de convívio ou vi-

17
vência familiar, comunitária e social; 4) II crianças de até setenta e dois
Segurança de desenvolvimento de au- meses e suas famílias benefi-
tonomia; 5) Segurança de apoio e au- ciárias do Beneficio de Pres-
xílio. Tais seguranças materializam as tação Continuada;
responsabilidades do SUAS no campo III crianças de até setenta e dois
da proteção social e, no que diz respei- meses afastadas do convívio
to às crianças nas primeiras infâncias e familiar em razão da aplica-
suas famílias, “adquirem status de prio- ção de medida de proteção
ridade absoluta” (BRASIL, 2018). prevista no art. 101, caput, in-
Reconhecendo a essencialidade, a cisos VII e VIII, da Lei nº 8.069,
organização e o acúmulo do SUAS, o de 13 de julho de 1990, e suas
Marco Legal da Primeira Infância, em famílias;
seu art. 5º, coloca entre as áreas prio- IV gestantes e crianças de até 36
ritárias, a assistência social à família meses inseridas no Cadastro
da criança e a convivência familiar e Único para Programas Sociais
comunitária. Tal reconhecimento con- do Governo Federal – CadÚni-
tribuiu para avançar na consolidação co.
das responsabilidades do SUAS para o
desenvolvimento das crianças nas pri- Para melhor definir as responsabi-
meiras infâncias, através do acesso aos lidades e compromissos da Assistência
serviços, programas, projetos e benefí- Social no âmbito do Programa Feliz, foi
cios socioassistenciais. instituído em 2016, através das Resolu-
Com base nos compromissos po- ções nº 19 e 20, do Conselho Nacional
sitivados no Marco Legal da Primeira da Assistência Social (CNAS), o Progra-
Infância foi criado, através do Decreto ma Primeira Infância no SUAS, que cor-
Federal nº 8.869/2016 (alterado pelo De- responde à participação da política de
creto nº 9.579/2018), o Programa Crian- assistência social, em consonância com
ça Feliz (PCF), tendo como premissa a as legislações e normativas vigentes. As
intersetorialidade entre as políticas pú- principais ações a serem realizadas são
blicas, com a finalidade de promover o as visitas domiciliares, a qualificação da
desenvolvimento integral das crianças oferta dos serviços socioassistenciais,
nas primeiras infâncias, considerando a fortalecimento da articulação da rede
realidade das famílias acompanhadas socioassistencial e intersetorial, e a mo-
nos territórios. Conforme o art. 2º da bilização, educação permanente, capa-
Portaria nº 956/2018 (alterada pela Por- citação e apoio técnico.
taria nº 1.217/2019) o Programa Criança O acompanhamento das famílias
Feliz atenderá a gestantes e crianças no cotidiano do SUAS e do Programa
de até 72 (setenta e dois) meses e suas Criança Feliz, tem colocado em evidên-
famílias, e priorizará: cia uma demanda histórica e urgente:
I gestantes, crianças de até a participação e responsabilidade dos
trinta e seis meses e suas fa- pais nos cuidados com as crianças pe-
mílias beneficiárias do Pro- quenas.
grama Bolsa Família;

18
Ainda persiste em nossa sociedade pação das mulheres no mercado de tra-
uma visão que atribui, exclusivamente, balho. As mulheres de 25 a 49 anos nes-
às mulheres as funções de cuidado com ta situação tinham o nível de ocupação
filhas e filhos, enquanto os homens se de 54,6%, diferente dos 67,2% daquelas
responsabilizariam pela provisão finan- que não possuem crianças nessa faixa
ceira. Dados do Estudo do Instituto Bra- etária no domicílio. Quando diz respei-
sileiro de Geografia e Estatística (IBGE, to às mulheres pretas ou pardas com
2021) revelam como essa visão tem se crianças de até 03 anos o percentual de
materializado. Em 2019, as mulheres ocupação é ainda menor (menor que
brasileiras dedicaram aos cuidados de 50% em 2019). O nível de ocupação dos
pessoas ou afazeres domésticos quase homens é superior das mulheres em
o dobro de tempo que os homens (21,4 ambas as situações (89,2% com crian-
horas contra 11,0 horas), média ainda ças no domicílio e 83,4 sem a presença
maior entre as mulheres pretas ou par- de crianças).
das (22,0 horas em relação a 20,7 horas Os gráficos abaixo espelham essa
das mulheres brancas). problemática:
Outro indicador deste estudo de- A pandemia da Covid-19 agudizou
monstra que a presença de crianças essa realidade. Para se ter uma ideia,
com até 03 (três) aos de idade (que pesquisa realizada pelas organizações
compreende a primeiríssima infância) Gênero e Número e Sempreviva Orga-
vivendo no domicílio influencia na ocu-

nização Feminista (SOF)1 revelou que quais 80,6% dedicaram-se a um fami-


50% das mulheres passaram a cuidar liar, 24% a um amigo e 11% uma pessoa
de alguém durante a pandemia, das vizinha. Entre as mulheres responsáveis

1 Para conhecer a pesquisa na íntegra: http://mulheresnapandemia.sof.org.br/ (Acesso em 06 jul. 2021).

19
pelo cuidado de outra pessoa, 57% são diano das visitas domiciliares às famí-
responsáveis por filhos de até 12 anos, e lias, em geral:
6,4% afirmaram ser responsável por ou-
tras crianças. Os números apresenta-
dos reforçam a imprescindibilidade de • A figura paterna é parte inte-
ampliar e ressignificar as paternidades grante da composição fami-
na atenção, olhares e cuidados com as liar?
crianças nas primeiras infâncias. • Se sim, é comum participar
das atividades propostas?
Além da ampliação das atividades • Geralmente, quem está em
de cuidado, dentre os inúmeros desa- casa e recebe o(a) visitador(a)?
fios trazidos pela pandemia da Covid-19 • O pai é convidado a participar
destaca-se a reconfiguração das famí- das atividades?
lias em decorrência de mortes. Esta é • As atividades são atrativas
uma realidade ainda em movimento, para as paternidades?
que requer estudos específicos, e que • Há o envolvimento de outras
se apresenta no acompanhamento às figuras paternas, a exemplo
famílias com crianças nas primeiras in- de tios, primos e avôs?
fâncias, principalmente, quando do fa- • As ações planejadas, no âm-
lecimento da mãe, do pai, ou de ambos, bito do trabalho com famílias,
o que levanta questões relacionadas contemplam as figuras pater-
sobre reorganização do cuidado (em nas?
algumas situações, com a figura pater- • As competências de cuidado
na tendo que assumir todas as deman- paterno são consideradas nas
das), luto paterno e materno, demanda atividades com as famílias?
por acolhimento familiar e institucional. • Os profissionais que acom-
Considerando os desafios postos, panham as famílias e desen-
compreende-se que o Programa Pri- volvem atividades com elas
meira Infância no SUAS tem grande po- são formados para estimular
tencial para contribuir com a mudança o cuidado e as competências
de paradigmas no caminho da cons- das figuras paternas?
trução e fortalecimento de paternida- • Como tem se dado a intera-
des responsáveis e participativas, na ção entre o Programa Primei-
perspectiva da equidade de gênero. E é ra Infância no SUAS com as
sobre isso que vamos tratar agora, bus- demais políticas setoriais com
cando responder algumas questões e relação às masculinidades e
apontar elementos para a reflexão! paternidades?
Porque incluir as paternidades
na rotina do Programa Primeira Estudos científicos têm compro-
Infância no SUAS? vado a importância da parentalidade
para o desenvolvimento infantil. Viven-
Vamos refletir a partir de algumas ciar experiências positivas no período
questões! Quando pensamos no coti- que compreende a gestação e os 06

20
(seis) primeiros anos de vida é essencial tituições e profissionais, que refletem
para o desenvolvimento cognitivo e so- um processo de socialização e educa-
cioemocional das crianças. Essas expe- ção machista ao qual, em geral, somos
riências se expressam, principalmente, submetidos durante a vida. Portanto,
na interação entre a criança e cuidado- incluir a agenda sobre paternidades no
res, nas rotinas de cuidado (dar banho, Programa Primeira Infância no SUAS /
trocar fraldas, alimentar, colocar para PCF, não significa, necessariamente,
dormir acompanhar atividades esco- um investimento em estrutura (con-
lares etc.) e nas brincadeiras, que são tratação de profissionais, aquisição de
estimuladas durante as visitas domici- materiais etc.), mas, sobretudo, em pro-
liares do Programa Primeira Infância no cessos de capacitação e educação per-
SUAS. manente, com reflexões que incidam
A participação da figura paterna na desconstrução dos padrões sociais e
nessa fase da vida da criança é essen- culturais estabelecidos.
cial e traz benefícios para toda a família. Nesse sentido, o Programa Primei-
O envolvimento do pai, desde a gesta- ra Infância no SUAS / PCF, por meio
ção, cria e fortalece os vínculos com a das visitas domiciliares e da atuação
criança, contribui para o equilíbrio na intersetorial, enquanto política pública
organização do cuidado com mãe, di- destinada ao desenvolvimento infantil,
minuindo a sobrecarga das mulheres, através do acesso aos direitos ineren-
além de conferir experiências e aquisi- tes à todas as crianças, tem importan-
ções socioafetivas para os próprios ho- te contribuição a dar no caminho da
mens. construção de novas paternidades, res-
Ainda existe uma ideia de que o ponsáveis e participativas para o pleno
cuidado é característica natural das desenvolvimento infantil.
mulheres. Na verdade, o cuidado é ina-
to. As tarefas que envolvem o cuidar
Fortalecendo as paternidades
são ensinadas, e podem ser aprendi-
das tanto por mulheres quanto por ho-
responsáveis e participativas a
mens no curso da vida. Desmistificar partir Programa Primeira Infân-
essas questões, incentivando o cuidado cia no SUAS / PCF
como responsabilidade compartilhada Neste item será apontado um con-
entre homens e mulheres é um dever junto de iniciativas que precisam ser
de todas as pessoas, da sociedade e do levadas em conta pela gestão e equipe
Estado, buscando estabelecer relações do Programa Primeira Infância no SUAS
sociais baseadas na equidade de gêne- /PCF para a inclusão da agenda sobre
ro. paternidades no cotidiano do acompa-
Os principais desafios para a in- nhamento às famílias com crianças nas
clusão das paternidades nos cuidados primeiras infâncias. Os passos indica-
com as crianças pequenas (e nas de- dos não se esgotam, pois as vivências
mais faixas etárias) tem relação com re- e experiências criativas no âmbito dos
sistências atitudinais e culturais de ins- Estados e municípios são valiosas para
essa caminhada.

21
Equipes fortalecidas em prol da diadora da relação entre a família e os
agenda sobre paternidades res- serviços, o que contribui para reforçar
ponsáveis e participativas os padrões tradicionais das relações de
gênero, em que a mulher assume as ta-
Para a inclusão e a promoção de refas do cuidado (CARLOTO; MARIANO,
uma agenda sobre paternidades res- 2010). Essa é a uma realidade evidente
ponsáveis e participativas no Programa no SUAS e tem se reproduzido em ser-
Primeira Infância no SUAS / PCF é es- viços e programas que tem como foco
sencial que gestores(as) e profissionais as crianças nas primeiras infâncias. Va-
estejam convencidos de sua importân- mos encarar esse desafio?
cia e abertos a ressignificar conceitos e
práticas. Portanto, caminhar na construção
de uma nova realidade perpassa, ne-
As discussões sobre as novas pater- cessariamente, pela oferta de capaci-
nidades são recentes no Brasil. Portan- tação e educação permanente as equi-
to, ainda é comum que surjam desafios pes do Programa Primeira Infância no
a serem enfrentados. Colocar em pauta SUAS. Repensar as concepções, concei-
as paternidades mexe com estruturas tos e práticas, a partir de um novo olhar
culturais, que se relacionam, necessa- sobre as paternidades, requer contato
riamente, com as experiências pessoais permanente com conteúdos formati-
(quais as suas vivências com a paterni- vos que subsidiem as intervenções jun-
dade?), e com conceitos, metodologias to às famílias com crianças pequenas.
e processos de trabalho (as ofertas do
Programa acolhem as paternidades?). Nesse sentido, a seguir estão elen-
cadas algumas estratégias importan-
É sabido que a presença feminina tes:
é prevalente no SUAS, seja entre pro-
fissionais ou usuárias. Para se ter uma
ideia, conforme dados do Ministério da • Realizar levantamento jun-
Cidadania, 90% das responsáveis fami- to aos profissionais sobre as
liares do Programa Bolsa Família são suas principais dúvidas, in-
mulheres e representam 55% daquelas quietações e sugestões rela-
que receberam, durante a pandemia, o cionadas a inclusão da agen-
Auxílio Emergencial via Cadastro Úni- da sobre paternidades;
co .
2
• Incluir, de forma transversal,
Apesar de ter como diretriz a ma- as discussões sobre paterni-
tricialidade sociofamiliar, assumindo a dades na matriz pedagógica
família como núcleo fundamental das dos processos de capacitação
atenções prestadas, a mulher tem sido e educação permanente de
a principal demandada enquanto me- Coordenadores(as), Super-
visores(as) e Visitadores(as).

2 Ver https://www.gov.br/cidadania/pt-br/noticias-e-conteudos/desenvolvimento-social/noticias-desenvolvi-
mento-social/mulheres-sao-protagonistas-em-programas-e-acoes-do-ministerio-da-cidadania-1 (Acesso
em 27 jul. 2021)

22
Além destes, é imprescindível vos pode inspirar novas expe-
realizar atividades formativas riências;
integradas, envolvendo os • Proporcionar as equipes es-
profissionais que compõem a paços de fala e comparti-
rede socioassistencial. lhamento sobre suas experi-
ências e vivências em torno
Entende-se que a oferta das capa- das paternidades, bem como
citações deve estar em consonância dos desafios encontrados no
com a perspectiva político pedagógi- acompanhamento das famí-
ca da educação permanente no SUAS, lias.
compreendida como:
Os espaços para cuidar e ouvir pro-
fissionais são essenciais na identifica-
processo contínuo de atualização
e renovação de conceitos, práticas ção de lacunas e potencialidades para
e atitudes profissionais das equi- avançar na agenda sobre paternidades
pes de trabalho e diferentes agru- e primeiras infâncias. Fortalecer, aco-
pamentos, a partir do movimento
histórico, da afirmação de valores e lher e escutar profissionais impacta di-
princípios e do contato com novos retamente na garantia de direitos das
aportes teóricos, metodológicos, crianças nas primeiras infâncias e suas
científicos e tecnológicos dispo-
níveis. Processo esse mediado pela famílias;
problematização e reflexão quanto
às experiências, saberes, práticas e
valores pré-existentes e que orien- • Articular processos formati-
tam a ação desses sujeitos no con-
texto organizacional ou da própria
vos integrados com a rede so-
vida em sociedade. (PNEP, 2013) cioassistencial e intersetorial.

É imprescindível ter em mente que:


Para tanto, sugerimos alguns ei-
1) a proteção integral das crianças nas
xos temáticos essenciais: relações de
primeiras infâncias é uma responsa-
gênero e políticas públicas; intersec-
bilidade compartilhada entre todas as
cionalidades, masculinidades e pater-
políticas setoriais; 2) e a participação do
nidades; famílias, diversidades e trans-
SUAS no Programa Criança Feliz não se
formações contemporâneas; economia
resume ao Programa específico da Pri-
do cuidado e equidade de gênero; vio-
meira Infância, por exemplo, o trabalho
lências, violação de direitos e primeiras
social com famílias no PAIF e o Serviço
infâncias;
de Convivência e Fortalecimento de
Vínculos com crianças de 0 a 6 anos de-
• Identificar e socializar com as vem integrar o acompanhamento das
equipes experiências exitosas famílias com crianças pequenas.
na inclusão da agenda sobre Logo, o envolvimento de profissio-
paternidades responsáveis e nais dos demais serviços e programas
participativas. Conhecer prá- socioassistenciais e de outras instân-
ticas que deram frutos positi-

23
cias e políticas setoriais, incluindo com- AS/2012. Dentre as diretrizes, destaca-
ponentes do Comitê Intersetorial do remos 02 (duas) – a matricialidade so-
Programa Criança Feliz, e se houver, do ciofamiliar e a territorialização – para
Comitê de Políticas Públicas para Pri- enfatizar a importância de conhecer
meira Infância, nos processos formati- as famílias em suas diversidades e os
vos e tem potencial para integração da territórios em que elas estão inseridas,
rede e construção de conhecimentos e identificando de que forma as paterni-
processos de trabalho coletivos em tor- dades aparecem nesses contextos.
no da agenda sobre paternidades e pri- A matricialidade sociofamiliar visa
meiras infâncias; “assegurar que as ações no âmbito da
Ainda é necessário ter atenção para assistência social tenham centralida-
que os conteúdos e metodologias dos de na família, e que garantam a convi-
processos formativos reflitam sobre as vência familiar e comunitária” (PNAS,
potencialidades e desafios para a inte- 2004). O reconhecimento das organiza-
gração entre as políticas setoriais e de- ções familiares como núcleo social fun-
mais organizações. Dentre os desafios, damental, merecedora da proteção do
destaca-se as atitudes e comporta- Estado, exige em contrapartida a com-
mentos de componentes da rede que preensão de que “para a família preve-
precisam ser trabalhados para facilitar nir, proteger, promover e incluir seus
e impulsionar a atuação intersetorial. membros é necessário, em primeiro
A motivação, engajamento e compro- lugar, garantir condições de sustenta-
missos de gestores e profissionais é es- bilidade para tal. ” (PNAS,2004). Aqui se
sencial para efetivação do trabalho in- materializa a corresponsabilidade en-
tegrado, e os processos formativos tem tre as famílias, a sociedade e o Estado
grande potencial nesse sentido. para proteção integral das crianças de
Com objetivo de apoiar na organi- 0 a 6 anos.
zação dos processos formativos com as Teixeira (2009) aponta a matriciali-
equipes do Programa Primeira Infância dade sociofamiliar como um dos avan-
no SUAS, o último capítulo desta pu- ços apresentados na PNAS/2004, pois
blicação reúne uma série de materiais trata-se de:
sobre os temas relacionados às pater-
nidades.
(...) uma estratégia efetiva contra a
setorialização, segmentação e frag-
mentação dos atendimentos, le-
Conhecendo as famílias e os ter- vando em consideração a família
em sua totalidade, como unidade
ritórios para incluir as paterni- de intervenção; além do caráter
dades preventivo da proteção social, de
modo a fortalecer os laços e víncu-
los sociais de pertencimento entre
seus membros, de modo a romper
A participação do SUAS no Progra- com o caráter de atenção emergen-
ma Criança Feliz está balizada pelos cial e pós-esgotamento das capaci-
princípios e diretrizes preconizados na dades protetivas da família. (TEIXEI-
RA, 2009)
LOAS, na PNAS/2004 e na NOB-SU-

24
A centralidade na família é essencial paternidades. Supera o entendimen-
para que o Programa Primeira Infância to que relaciona as famílias somente
no SUAS / PCF possa contribuir com o a consanguinidade, reconhecendo as
desenvolvimento das crianças nas pri- famílias que adotaram crianças ou que
meiras infâncias. As ações do Programa tem seus vínculos estabelecidos atra-
devem apoiar as funções protetivas da vés das relações de afetividade e soli-
família, buscando, em todo o acompa- dariedade. Tal conceito e sua efetiva-
nhamento, identificar e fortalecer as ção dialogam, principalmente, com 02
potencialidades, e contribuir para a su- (dois) princípios éticos do SUAS:
peração das fragilidades, seja através
das atividades específicas com as ges-
V- Respeito à pluralidade e diversi-
tantes e de estimulação/cuidado com dade cultural, socioeconômica, po-
as crianças pequenas, como também lítica e religiosa;
através da articulação para a inserção VI - Combate às discriminações etá-
em outros serviços, programas, proje- rias, étnicas, de classe social, de gê-
nero, por orientação sexual ou por
tos e benefícios socioassistenciais e das deficiência, dentre outras. (BRASIL,
demais políticas sociais. 2012)

O reconhecimento das diversida-


Ao falarmos sobre o potencial pro- des familiares implica compreender
tetivo das famílias é necessário re- as interseccionalidades, que se mate-
conhecer que ele está diretamente
relacionado aos contextos sociocul- rializam a partir dos entrelaçamentos
turais e econômicos em que essas dos sistemas de opressão (de gênero,
famílias estão inseridas, às redes de raça, classe social, geração, orientação
apoio e pertencimento das quais
elas dispõem, bem como a oferta
sexual, deficiência), que incidem sobre
ou ausência de políticas públicas a vida das pessoas e das famílias de
para esses contextos. São elemen- forma articulada, colocando em maior
tos de análise importantes para
não sobrecarregar e culpabilizar as
exposição às violências, negação de
famílias em maior situação de vul- direitos e desigualdades sociais, deter-
nerabilidade social, pois são as que minados grupos sociais. É sabido que
justamente mais necessitam da
proteção do Estado. (BRASIL, 2018)
a maior parte das famílias acompanha-
das no SUAS vivenciam essas desigual-
dades e opressões, o que reforça a im-
De que famílias estamos falan- portância da perspectiva interseccional
do? na formulação e execução dos serviços
socioassistenciais.
Entende-se, portanto, que esta
A Assistência Social considera fa-
perspectiva se constitui numa ferra-
mília “um conjunto de pessoas que se
menta estratégica para agir e pensar
acham unidas por laços consanguíne-
sobre desenvolvimento infantil e as pa-
os, afetivos e, ou, de solidariedade.”.
ternidades. Caminha no sentido de re-
Essa definição abarca as diversidades
conhecer, respeitar e garantir direitos
das organizações familiares contem-
às famílias e as paternidades homoa-
porâneas, e, consequentemente, das

25
fetivas, pretas, indígenas, quilombolas, significa diminuir a importância das
deficientes etc. mulheres no cuidado com as crianças
pequenas. O vínculo que se estabelece
entre a mãe e a criança, desde a gesta-
Mas a agenda sobre paternida- ção, é essencial para o desenvolvimen-
des responsáveis e participati- to saudável. É necessário envolve-las
vas não distorce ou retira o olhar nas discussões sobre o tema, fazendo
para as famílias em sua totalida- com que percebam e compreendam a
de? necessidade de novas construções em
torno das paternidades.
Juntamente com o olhar focado
É certo que a colocação das famí- nas famílias, conhecer o território é de-
lias como centrais para a organização terminante para compreender e iden-
e oferta dos serviços e programas do tificar as vulnerabilidades e riscos so-
SUAS teve como objetivo superar a frag- ciais, inclusive as presenças e ausências
mentação do atendimento, que olhava das políticas públicas, que atravessam
de forma segmentada para as deman- as famílias com crianças nas primeiras
das do indivíduo apartado do contexto infâncias, bem como as potencialida-
familiar ou comunitário. Porém isso não des e fragilidades que interferem nas
significa olhar para a família como um vivências de paternidades.
todo homogêneo, mas sim considerar
as singularidades de cada pessoa (seja Na perspectiva do SUAS não é pos-
criança, adolescente, pessoa idosa, com sível dissociar o desenvolvimento infan-
deficiência etc.), bem como as especi- til das questões presentes no contexto
ficidades que atravessam as relações territorial, pois considera-se que:
familiares.
O território é muito mais do que a
paisagem física ou o perímetro que
Ao eleger a matricialidade sociofa- delimita uma comunidade, bairro
miliar como eixo do SUAS, a política ou cidade. O território é o espaço
de assistência social enfoca a famí- recheado pelas relações sociais
lia em seu contexto sociocultural e passadas e presentes, a forma es-
em sua integralidade. Assim, para pecífica de apropriação e interação
realizar qualquer trabalho com as com o ambiente físico, as ofertas e
famílias é preciso enfocar todos as ausências de políticas públicas,
seus membros e suas demandas, as relações políticas e econômicas
reconhecer suas próprias dinâmi- que o perpassam, os conflitos e os
cas e as repercussões da realidade laços de solidariedade nele exis-
social, econômica e cultural em tentes. Isto significa dizer que, em
suas vidas. (BRASIL, 2012, grifo nos- grande medida, as potencialidades
so) ou vulnerabilidades de uma famí-
lia ou indivíduo são determinadas
pelo território no qual ela está in-
Incluir a agenda sobre paternida- serida. (BRASIL, 2013, grifos nossos)
des responsáveis e participativas não
O Programa Primeira Infância no
significa desconsiderar a centralidade
SUAS se organiza a partir dessa lógica
na família, ao mesmo tempo que não
e, em articulação com os CRAS, deve

26
buscar compreender as dinâmicas dos • Quantas famílias não tem o
territórios em que as famílias estão in- homem pai ou figura paterna
seridas, como uma atividade essencial em decorrência de separação,
que antecede a realização das visitas morte, encarceramento ou
domiciliares. internação no Sistema Socio-
Uma estratégia para ampliar o co- educativo?
nhecimento sobre as demandas que • Quantas famílias são com-
envolvem as paternidades é incluir este postas por pai e mãe adoles-
tema na elaboração dos diagnósticos centes?
socioassistencial ou elaborar diagnósti- • Quantas famílias contam com
co específico sobre essa questão. Atra- a presença do homem pai
vés dele é possível: ou figura paterna nas visitas
domiciliares do Programa?
• Realizar uma leitura sobre a Quais os principais impedi-
realidade social local; mentos para a participação?
• Identificar as comunidades/ • Em quantas famílias o ho-
localidades que necessitam mem pai ou figura paterna
de maior atenção; assume responsabilidades no
• Identificar as particularidades cuidado com as crianças?
territoriais sobre as quais es- • Em quantas famílias o ho-
tão inseridas as famílias; mem pai ou figura paterna
• Identificar carências, mas brinca com as crianças?
também potencialidades; • Existe algum projeto/progra-
• Mapear a rede de serviços e ma/serviço destinado, especi-
organizações disponíveis no ficamente, a figura paterna?
território;
• Formular estratégias e inter-
venções com maior assertivi- É necessário ainda que o diagnós-
dade. tico busque identificar os perfis na
composição familiar, considerando
marcadores como etnia, raça, gênero,
Com foco no trabalho sobre pater- orientação sexual, deficiência e faixa
nidades e primeiras infâncias, algumas etária. Esses são dados essenciais para
questões são essenciais na composição o enfrentamento às desigualdades so-
do diagnóstico: ciais.
Essas são algumas questões iniciais
• Quantas famílias acompa- que podem contribuir para melhor co-
nhadas tem como cuidadora nhecer a situação das paternidades
principal a mãe da criança ou no acompanhamento às famílias com
outra mulher? crianças pequenas. É importante que
• Quantas famílias acompa- a elaboração do diagnóstico seja feita
nhadas tem a presença na re- em conjunto com o setor responsável
sidência do homem pai ou de pela vigilância socioassistencial, com
outra figura paterna? a Coordenação do Cadastro Único dos

27
Programas Sociais (CadÚnico) e com os numa visão e prática idealista, que não
CRAS, para ampliar o acesso à dados e dialogue com as condições objetivas
informações relevantes. Vale lembrar das famílias acompanhadas.
que os formulários utilizados durante Ao conhecer e se aproximar da re-
as visitas domiciliares fornecem muitos alidade das famílias é fundamental
subsídios para a caracterização das fa- a compreensão da integralidade das
mílias e dos territórios. ofertas no âmbito do SUAS e da inter-
setorialidade entre as políticas sociais.
Envolvendo e fortalecendo as A realização das visitas domiciliares
paternidades a partir das visitas pressupõe um momento anterior de
domiciliares planejamento, que é parte da agenda
de trabalho da equipe do Programa.
Esta etapa deve se debruçar sobre co-
A visita domiciliar é uma das prin- nhecimento do território e das famílias,
cipais ferramentas para o acompanha- a identificação das famílias a serem
mento das famílias no Programa Pri- visitadas, a preparação das atividades
meira Infância no SUAS / PCF, tendo a serem realizadas, a definição de cro-
como foco a promoção do desenvol- nogramas, horários e periodicidade
vimento infantil, através do fortaleci- das visitas etc. E contemplar as discus-
mento dos vínculos familiares e co- sões sobre paternidades desde o pla-
munitários, e da garantia de direitos. nejamento é fundamental para que as
A estimulação da interação entre a ações se efetivem no acompanhamen-
criança e a pessoa cuidadora, utilizada to às famílias.
como método da visita domiciliar, ten- É necessário ainda que haja, nas
do como facilitador(a) o(a) visitador(a), reuniões de equipe, a avaliação das
é um canal genuíno para o incentivo à atividades de visitação, que retroali-
responsabilidade e participação pater- mentam o planejamento no sentido de
na. aprimorar as atividades subsequentes.
É uma estratégia fundamental para Esta etapa torna-se ainda mais relevan-
o estabelecimento de vínculos de con- te na medida em que se está incluindo
fiança entre o(a) visitador(a) e as famí- uma nova perspectiva de trabalho ao
lias, possibilitando conhecer a realidade Programa – com a agenda sobre pater-
em que estão inseridas, identificando nidades responsáveis e participativas.
demandas, potencialidades e fragilida- Partindo desse reconhecimento,
des a serem trabalhadas para melhor como podemos potencializar as visi-
desenvolver os cuidados com as crian- tas domiciliares de modo a ampliar o
ças nas primeiras infâncias. (por exem- envolvimento de homens pais/figuras
plo, quem cuida? quem está ou não paternas? Abaixo serão apontadas al-
está em casa durante a visita? quais os gumas sugestões que podem ser agre-
horários que favorecem a família?). Per- gadas nas visitas domiciliares:
ceber e compreender essas questões é
fundamental para que não se incorra

28
• Incluir o homem pai ou figura • Articular com o CRAS de re-
paterna no momento inicial ferência a inserção de ativi-
do acompanhamento à famí- dades sobre paternidades
lia. Esse é o momento de aco- no âmbito do trabalho social
lhida, onde são socializadas as com famílias e no Serviço de
informações sobre as ativida- Convivência e Fortalecimento
des e a adesão da família ao de Vínculos Familiares e Co-
Programa; munitários (SCFV), a exemplo
• Refletir com a família sobre da realização de oficinas com
os benefícios e a importância homens pais ou figuras pa-
da participação e responsabi- ternas, bem como outras ati-
lidade do homem pai ou figu- vidades informativas;
ra paterna no cuidado, desde
a gestação, com as crianças; Essas são algumas das atividades/
• Utilizar, nos materiais infor- ações que, ao incorporadas no cotidia-
mativos socializados com a no do Programa, podem contribuir para
família, linguagem e imagens a ressignificação dos papéis sociais de-
que contemplem as paterni- siguais atribuídos as mulheres e aos
dades; homens na sociedade contemporânea,
• Realizar a visita domiciliar principalmente, na relação de cuidado
em horários que sejam favo- com filhas e filhos. Sem dúvida, a partir
ráveis para a participação do da capacidade criativa das equipes, vão
homem pai ou figura pater- surgir outras sugestões de atividades.
na. Quando não for possível,
indicar atividades que sejam
realizadas sem a presença do Trabalhando em rede para pro-
visitador(a);
mover paternidades responsá-
• Utilizar as tecnologias de in-
veis e participativas
formação e comunicação
(tics) como ferramentas para
participação dos homens pais Como já foi abordado, a interseto-
ou figuras paternas nas ativi- rialidade é um pilar fundamental para o
dades; desenvolvimento integral das crianças
• Indicar materiais audiovisu- nas primeiras infâncias e estrutura as
ais, de fácil acesso, que dis- ações do Programa Criança Feliz. Des-
seminem conhecimentos e taca-se ainda o papel articulador de-
experiências sobre a ressigni- sempenhado pelo SUAS nos territórios,
ficação das paternidades; especialmente, através dos CRAS, que
• Quando necessário envolver dentre as suas responsabilidades, está
a família extensa no acom- a identificação e articulação da rede
panhamento, ampliar o olhar de serviços e organizações que atuam
tanto para a família materna nas áreas de abrangência. Tal articula-
como para a paterna; ção tem por objetivo buscar a atuação

29
e a solução conjunta das demandas da
população em situação de vulnerabili-
dade e risco social, em sua integralida-
de. Compreende-se, portanto, que as
ações intersetoriais devem convergir
para acolher e atender as demandas
das famílias e seus membros, contem-
plando os olhares sobre as paternida-
des.
O acesso a serviços, direitos, infor-
mações e outros recursos das di-
versas políticas públicas são funda-
mentais para apoiar as famílias no
exercício do cuidado e proteção e
na construção de ambientes e ter-
ritórios onde as crianças possam se
desenvolver de forma saudável e
protegida. Esta perspectiva funda-
menta a intersetorialidade do Pro-
grama Criança Feliz e a conjugação
de esforços das políticas de Assis-
tência Social, Saúde, Educação, Cul-
tura, Direitos Humanos, dentre ou-
tras. (BRASIL, 2017)

Como podemos contribuir para


o trabalho intersetorial em tor-
no das paternidades?

O modelo de governança do Pro-


grama Criança Feliz prevê a criação,
em todos os níveis de governo, do Co-
mitê Gestor Intersetorial, espaço para
articulação, proposição e avaliação das
ações. Este é um dos espaços em que
podemos fortalecer a agenda sobre
as responsabilidades e participação
das paternidades nos cuidados com
as crianças, desde a gestação. Outros
exemplos de espaços importantes para
discussão integrada são as reuniões de
rede promovidas pelo CRAS e os Con-
selhos dos Direitos da Criança e do
Adolescente, da Assistência Social, de
Políticas para Mulheres, de Direitos Hu-
manos, dentre outros.

30
3. Masculinidades, autores preferem chamar de masculi-
nidades tóxicas.) Há uma escolha ins-

paternidades e titucional por não usar o termo “mas-


culinidade tóxica”, mas masculinidades

responsabilidades extremas ou masculinidades rígidas,


entendendo que esses modelos de
compartilhadas e masculinidades são aprendidos e, que
por isso, podem ser desconstruídos
participativas dando espaços ao aprendizado de ou-
tros modelos.
O conceito de masculinidades, en-
O tema das paternidades ocupa
quanto um termo que esteja abarcado
lugar central no Instituto Promundo
na análise de gênero, é muito recente.
desde a sua fundação e, junto a outras
O termo gênero, até a década de 1990,
organizações como o Instituto Papai,
era utilizado somente para dar conta
tem papel fundamental na evidência
do universo feminino. A partir da Con-
do tema das Paternidades no Brasil.
ferência Internacional sobre População
A missão institucional do Promun- e Desenvolvimento (CIPD), ocorrida no
do é promover a igualdade de gênero, Cairo, em 1994 traz para a agenda mun-
através da ressignificação das mascu- dial o estímulo para que homens as-
linidades, e assim, reduzir as violências sumam as responsabilidades pelo seu
baseadas em gênero. O caminho esco- próprio comportamento sexual, por
lhido para o alcance desta missão tem sua fecundidade e pela saúde e bem-
sido o envolvimento de homens e me- -estar de suas companheiras, de suas
ninos para diminuição das desigualda- filhas e de seus filhos. A IV Conferência
des e prevenção de violências. Mundial sobre Mulheres (Beijing, 1995),
Ao longo de 24 anos, o trabalho do do mesmo modo que a CIPD, enfatizou
Instituto vem contribuindo, imedia- a importância de incluir homens nos
tamente, para o questionamento dos esforços para melhorar o status socioe-
modelos dominantes de masculinida- conômico de mulheres e meninas (ARI-
de, incluindo a mudança na dinâmica LHA, 1999).
da divisão do trabalho doméstico, além
da participação dos homens no cuida-
Há alguns riscos que demandam
do com seus filhos e suas filhas. Aqui,
especial atenção ao analisar as
faz-se importante abrir um parêntese e
masculinidades que precisamos
analisar o lugar que as masculinidades
apontar aqui:
ocupam para uma verdadeira intera-
ção com as paternidades. a) As masculinidades são sim es-
paços de privilégios. Como esse é
Homens e mulheres são educados
um tema muito recente, algumas
a partir das normas rígidas de gênero,
pessoas falam sobre ele colocan-
aprendendo a reproduzir modelos ex-
do-o esta masculinidade num lu-
tremos de masculinidades (que alguns
gar de sofrimento e nocividade,

31
somente, sem que provoque os dever de ensiná-los a não serem
homens à autocrítica. Somen- machistas. Como bem diz a jorna-
te por ser um lugar privilegiado, lista e política brasileira Manuela
o machismo enquanto elemen- D’Ávila “O machismo, afinal, é
to importante do patriarcado, como uma piscina. Todas as pes-
sobrevive ao longo da história e soas estão se molhando. Algu-
possui tanta resistência para ser mas apenas a sola dos pés, ou-
dissolvido. Por ser esse tipo de tras quase morrendo afogadas.”.
masculinidade, um espaço vio- É necessário entender que o ma-
lento, homens que não comun- chismo ocupa uma estrutura so-
gam com as perspectivas e não cial, neste sentido, ele organiza as
correspondem as expectativas relações a partir da manutenção
desse modelo vigente, no desejo do patriarcado.
de militar contra esse formato e d) O machismo vulnerabiliza o
no afã de engajar outros homens, homem. Isso é fato. Os homens
em alguns momentos, correm o são as maiores vítimas de aci-
risco de cair na armadilha de uma dentes por armas de fogo; são as
leitura enviesada e não eviden- maiores vítimas das mortes por
ciar a manifestação do machismo armas brancas; são as maiores ví-
como um lugar de prazer e privi- timas dos acidentes de trânsito3
légio. (78,2%), têm menores expecta-
b) A glamourização das atitudes tivas de vidas se comparados às
de cuidado e afazeres domésticos mulheres no Brasil (é de 73 anos
das figuras paternas. É tão rara a para os homens e 80 anos para as
participação dos pais nas ações mulheres)4.
cuidadosas em relação às crian- e) Segundo o IBDFAM5, 5,5 mi-
ças, que quando desenvolvidas lhões de crianças no Brasil não
elas correm o risco de supervalo- possuem o nome do pai no regis-
rização social. tro do nascimento. Em 2020 mais
c) A culpabilização das mulheres de 80 mil crianças foram registra-
na reprodução de atitudes ma- das sem o nome do pai6. Dados
chistas, sob o argumento que elas estes que demonstram as vivên-
são responsáveis pela educação cias (ou ausências delas) em rela-
de meninos, e que por isso, têm o ção às paternidades.

3 Dados disponível em: https://www.portaldotransito.com.br/noticias/homens-de-20-39-anos-sao-as-princi-


pais-vitimas-do-transito-brasileiro-2/ (Acesso em jul. 2021)
4 Dados disponíveis em: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/02/05/expectativa-de-vida-por-
-que-as-mulheres-vivem-mais-do-que-os-homens.ghtml (Acesso em jul. 2021)
5 Dados disponível em: https://ibdfam.org.br/noticias/7024/Paternidade+respons%C3%A1vel:+mais+-
de+5,5+milh%C3%B5es+de+crian%C3%A7as+brasileiras+n%C3%A3o+t%C3%AAm+o+nome+do+pai+na+cer-
tid%C3%A3o+de+nascimento#:~:text=De%20acordo%20com%20o%20%C3%BAltimo,pai%20na%20certid%-
C3%A3o%20de%20nascimento. (Acesso em jul. 2021)
6 Dados disponíveis em: https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2020/08/09/interna_gerais,1174535/
mais-de-80-mil-criancas-foram-registradas-sem-o-nome-do-pai-em-2020.shtml (Acesso em jul. 2021)

32
Atualmente, é possível ver mais ho- de-se dizer que o Programa P contribui
mens se envolvendo na vida dos filhos diretamente para a democratização da
e filhas, dividindo as tarefas domésticas temática, ampliando o olhar para as di-
e os pagamentos das contas. A pande- versas paternidades, inclusive, as que
mia de COVID 19 antecipou uma reali- se encontram em situações de vulnera-
dade que já era discutida por muitos bilidade e risco social.
especialistas no tema das masculini- Contudo, a divisão compartilhada
dades e paternidades: a presença dos de tarefas cotidianas entre pais e mães
pais mais tempo em casa executando ainda é uma promessa bem distante. É
as tarefas de cuidado. Por ter sido an- preciso, pois, criar oportunidades para
tecipada de forma abrupta, esta reali- que os homens possam desenvolver ca-
dade contribuiu também, em muitas pacidades, habilidades e competências
situações, para o aumento da violência nas situações que envolvem o cuidado
doméstica baseada em gênero. Óbvio e os direitos das crianças e adolescen-
que a pandemia não é o disparador tes. A dificuldade na divisão igualitária
desta violência, mas tornou-se uma im- de tarefas é um desafio que encontra
portante “oportunidade” para que ela respaldo nas masculinidades rígidas.
se desenvolvesse.
É necessário ressaltar que as pa-
Neste sentido, muitas ações foram ternidades precisam ser analisadas a
pensadas, por diferentes organizações, partir das Interseccionalidades. É im-
para reduzir as violências baseadas em portante entender que as paternida-
gênero durante este momento pan- des gays, trans, negras, indígenas, com
dêmico. O Promundo desenvolveu o deficiência, não ocupam os lugares das
Programa P Online, em parceria com paternidades hegemônicas (heteros-
órgãos governamentais responsáveis sexuais, brancas e cis), o que demanda
pela Assistência Social no âmbito es- ampliar os olhares com vistas a reco-
tadual e municipal, uma metodologia nhecer, respeitar e incluir as diversas
remota, para trabalhar com as figuras paternidades. Desde a criação do Pro-
paternas o desenvolvimento de com- grama P, o Promundo aborda as pater-
petências de cuidados, tarefas domés- nidades gays e tem realizado pesquisas
ticas, redução de violências e equidade e ações nos âmbitos das paternidades
de gênero. negras e indígenas. Estes temas preci-
A expansão do Programa P para sam encontrar lugar no exercício das
junto aos serviços e programas socioa- Políticas Públicas.
ssistenciais contribui para a democrati-
zação da abordagem de Paternidade e
Cuidado às figuras paternas e famílias Sobre o Programa P
atendidas e acompanhadas no âmbito
do SUAS. É necessário salientar que, ini-
O Programa P, foi criado pelo Pro-
cialmente, na década de 1990, a abor-
mundo, em 2012, com a coautoria e
dagem de paternidade e cuidado era
colaboração de outros parceiros, e é o
direcionada à pais de classe média. Po-
principal instrumento metodológico

33
testado, avaliado e implementado em dade de gênero.
larga escala, utilizado no contexto bra- 4. Avaliação - constatação de
sileiro e mundial para o trabalho com mudanças dos participantes
paternidades. para dar escala ampliando os
A metodologia do Programa é com- números de famílias benefi-
posta por 04 etapas, a saber: ciadas pelo Programa.

1. Sensibilização – capacitação
de profissionais sobre mas- Em 2019, o Programa ganhou o Prê-
culinidades, equidade de gê- mio de Melhor Boa Prática na categoria
nero e paternidades. Como já Sociedade Civil Organizada7 pelo Con-
citado neste capítulo, todas selho Nacional de Justiça (CNJ) no Bra-
as pessoas são socializadas sil. Em 2020, o Promundo avançou no
a partir do machismo. Assim estabelecimento de parcerias para im-
sendo, muitos profissionais plementação do Programa P junto ao
têm crenças baseadas nas SUAS, no âmbito do Programa Criança
normas rígidas de gênero, Feliz, no território brasileiro.
descaracterizando a impor- Há uma década o Programa P com-
tância da figura paterna no provou eficácia junto à Saúde e em par-
desenvolvimento infantil, na ceria com outras organizações em âm-
divisão das tarefas domésti- bito comunitário, no Brasil e noutros
cas, entre outros. A sensibili- países. Milhares de profissionais e figu-
zação consiste na criação de ras paternas foram capacitados, contri-
novos paradigmas acerca do buindo para infâncias mais cuidadas e
olhar diferenciado para as pa- protegidas, maior equidade de gênero
ternidades e masculinidades no âmbito doméstico e novas práticas
destes profissionais. de masculinidades.
2. Engajamento - os profissio-
nais, uma vez capacitados, ca-
pacitam os pontos focais nas
famílias que trabalham para a
mobilização da figura pater-
na.
3. Participação - figuras pater-
nas participam das sessões
do Programa P. Ao passar por
todo o ciclo metodológico
do Programa, as figuras pa-
ternas são convidadas à uma
mudança efetiva no cuidado
à criança, na participação nas
tarefas domésticas e à equi-

7 https://promundo.org.br/o-instituto-promundo-recebe-premiacao-do-cnj/

34
4. Sugestões - https://promundo.org.br/recur-
sos/manual-programa-p-onli-

de materiais ne/
• Enfrentando Racismo e Desi-
de apoio para gualdades de Gênero – Guia de

fortalecimento
Metodologia https://promundo.
org.br/recursos/enf rentando-

das paternidades -racismo-e-desigualdades-de-


-genero-guia- de-metodolo -
responsáveis e gias/?lang=portugues

participativas
• Caderno de Ferramentas: Pro-
moção da equidade de gênero

nas primeiras em ações com adolescentes e


jovens https://promundo.org.br/

infâncias •
recursos/8102/
Caderno de Ferramentas
• A situação da paternidade no
Esta parte é dedicada a relacio-
Brasil – Tempo de Agir (2019) - ht-
nar um conjunto de dicas de cartilhas,
tps://promundo.org.br/wp-con-
guias, planos, publicações, filmes, víde-
tent/uploads/2019/08/relatorio_
os, canais no Youtube, Podcast e refe-
paternidade_promundo_06-3-1.
rências que certamente subsidiarão
pdf
melhores aprofundamentos quanto a
proteção integral nas primeiras infân- • Cartilha “Dividindo cuidados –
cias. A finalidade do Instituto Promun- igualdade entre homens e mu-
do e dos parceiros é oferecer insumos lheres no Programa Bolsa Fa-
que possibilitem as equipes profissio- mília - https://promundo.org.br/
nais, instituições governamentais, so- wp-content/uploads/2016/07/
ciais e privadas que alimentem a cami- cartilha_genero_digital-2.pdf
nhada para uma atenção e cuidados • Repercussões da Pandemia de
essenciais às primeiras infâncias. COVID-19 no Desenvolvimento
Infantil - https://bernardvanleer.
org/pt-br/publications-reports/
Cartilhas, guias, planos e publi- repercussoes-da-pandemia-de-
cações -covid-19-no-desenvolvimento-
-infantil/
• Primeiríssima Infância – Integra-
• Manual do Progra-
ções na pandemia: Comporta-
ma P - https://promun-
mentos de pais e cuidadores de
d o . o r g . b r /r e c u r s o s /m a n u -
crianças de 0 a 3 anos em tem-
al-programa-p-online/?lang=-
pos de Covid-19 - https://www.
portugues
f mcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/
• Manual do Programa P Online primeirissima-infancia-inte-

35
racoes-pandemia-comporta- Sustentável 5 – Igualdade de gê-
mentos-cuidadores-criancas- nero - https://brasil.un.org/pt-br/
-0-3-anos-covid-19/ sdgs/5
• Cartilha para pais: como exercer • Plano Nacional da Primeira In-
uma paternidade ativa. https:// fância - http://avante.org.br/pu-
bvsms.saude.gov.br/bvs/publi- blicacoes/plano-nacional-pela-
cacoes/cartilha_pais_exercer_ -primeira-infancia-2020-2030/
paternidade_ativa.pdf
• Plano Nacional de Promoção e
• Cartilha “Unidade de Saúde Par- Defesa do Direito de Crianças e
ceira do Pai - https://elosdasau- Adolescentes à Convivência Fa-
de.f iles.wordpress.com/2011/01/ miliar e Comunitária - https://
unidade-de-sac3bade-parcei- www.mds.gov.br/webarquivos/
ra-do-pai.pdf publicacao/assistencia_social/
• Cartilha de Boas Práticas So- Cadernos/Plano_Defesa_Crian-
ciedade Civil Organizada - ht- casAdolescentes%20.pdf
tps://www.cnj.jus.br/wp-content/
uploads/2021/04/layout_CARTI-
LHA_1a_Infancia_SOCIEDADE- Filmes e vídeos
-V9_atualizada_em_16-06-2020.
pdf
• Filme “Paternidade” - https://
• Cadernos de Trabalhos e Deba- www.youtube.com/watch?v=1k-
tes – Avanços do Marco Legal 6vmXrR_ jw
da Primeira Infância - https://
www2.camara.leg.br/a-camara/ • Documentário “O começo da
estruturaadm/altosestudos/pdf/ vida” - https://www.youtube.
obra-avancos-do-marco-legal- com/watch?v=K93pR1z9jz0
-da-primeira-infancia • Documentário “Paternidades” -
• Estatísticas de Gênero – Indi- https://www.youtube.com/wat-
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• O pai está! - https://www.youtu- CmDU4BJ ou https://www.dee-
be.com/watch?v=W5J1mEEuuss zer.com/br/show/57255
• Pai não é visita! - https://www.
youtube.com/watch?v=Ods5a-
T9r3Fk&t=0s
• Minha vida de João (episódio 1
e 2) - https://www.youtube.com/
watch?v=LESrHIGGon8 e http://
youtu.be/hQqNUIgaRho
• Vida Maria - https://www.youtu-
be.com/watch?v=yFpoG_htum4

Canais no Youtube / Podcast

• Paternidades pretas - https://


www.youtube.com/watch?v=-
5V6lZx9s-lo
• Pais Pretos Presentes - https://
www.youtube.com/channel/
UCh1RGZCScSh1ptho6aT9EdA
• Paizinho, vírgula - https://www.
y o u t u b e . c o m /c h a n n e l / U C _
nsjAbH0GlhCSDafFxIgVw

37
5. Glossário8 de outras, ensejando em discrimina-
ções de ordens diversas.
Homofobia: é a discriminação, into-
Adultocentrismo: é uma prática so- lerância ou qualquer manifestação de
cial e cultural em que as pessoas adul- ódio ou repúdio a população LGBTQIA+.
tas exercem o poder e o controle sobre Representa uma grave violação dos Di-
crianças e adolescentes, sem conside- reitos Humanos e as garantias estabe-
ra-las enquanto sujeitos de direitos. lecidas pela Constituição de 1988.
Absoluta Prioridade: consiste na Ideologia: consiste num sistema de
primazia das crianças e adolescentes crenças e valores, que explica a socie-
para receber a proteção e o socorro em dade, prescreve o papel do governo e
quaisquer circunstâncias, precedência guia indivíduos, movimentos sociais,
para o atendimento nos serviços públi- instituições, classes ou grupos. Conjun-
cos ou de relevância pública; preferên- to de ideias dominantes na sociedade.
cia na formulação e na execução das
políticas sociais públicas; e destinação Interseccionalidade: perspectiva
privilegiada de recursos públicos nas de análise que leva em consideração
áreas relacionadas com a proteção à in- vários planos ou eixos de vulnerabili-
fância e à juventude. dade — violência, desigualdade, discri-
minação —, como gênero, raça, idade,
Equidade de gênero: Igualdade sexualidade, classe, em que indivíduos
entre homens e mulheres, meninos e e grupos se enquadram de forma si-
meninas, através de medidas que com- multânea. Corresponde, portanto, aos
pensem as desvantagens sociais e his- pontos de cruzamento desses planos,
tóricas, e considerem as diferentes ne- as intersecções desses diferentes fato-
cessidades, para que tenham acesso res, que ao se sobreporem intensificam
aos mesmos direitos. as desigualdades sociais.
Estereótipo: Pensamento ou repre- Masculinidades: diz respeito aos
sentação de indivíduos e/ou grupos, significados atribuídos ao que se en¬-
produto de ideias preconcebidas, ina- tende como masculino. Estão relacio-
dequadas e generalizantes, nutridas nados à configuração de práticas em
pela falta de conhecimento real sobre o torno da posição que os homens ocu-
grupo em questão. pam na sociedade e nas relações de
Hegemônico: refere-se a hegemo- gênero e que são construídas a partir
nia, a supremacia de algo ou alguém de uma estrutura que atribui signifi-
sobre outro. Tem relação com as ide- cados distintos àquilo que se entende
ologias e a cultura, que se estabelece como masculino ou feminino.
como predominante em detrimento

8 Registra-se que parte dos conceitos e definições aqui elencados foram extraídos das publicações “Enfren-
tando racismo e desigualdades de gênero – Guia de Metodologias” e “Caderno de Ferramentas – Promoção
da Equidade de Gênero em Programa de Transferência de Renda”, ambas do Instituto Promundo, que po-
dem ser consultadas nos links disponíveis neste documento.

38
Parentalidade: é o conjunto das representações sobre determinadas
relações estabelecidas entre o adulto pessoas ou grupos sociais racializados.
de referência/família (em suas diver- A discriminação racial remete a ações
sas configurações) e a uma criança, no em que essas representações são apre-
sentido de assegurar o seu desenvolvi- sentadas por meio de práticas sociais e
mento pleno e saudável. cotidianas, gerando situações de des-
Patriarcal: é um sistema político ou vantagem e desigualdades entre os
modelo de sociedade em que se atribui segmentos populacionais envolvidos.
poder aos homens em relação às mu- Manifestam-se de forma intencional ou
lheres, configurando relações de opres- não, seja pela atribuição de rótulos pe-
são e desiguais. No Brasil, o modelo pa- jorativos, seja até mesmo pela negação
triarcal surge sob a influência da Coroa do acesso aos bens públicos e constitu-
Portuguesa no período colonial. cionais, como saúde, educação, justiça,
habitação, participação política etc.
Proteção integral: implica na abso-
luta prioridade para gozar de todos os
direitos humanos, que são universais,
indivisíveis, interdependentes e inter-
-relacionados.
Racismo: é uma ideologia que jus-
tifica a organização desigual da socie-
da¬de ao afirmar que grupos raciais ou
étnicos são inferiores ou superiores, em
vez de considerá-los simplesmente di-
ferentes. Ele opera pela atribuição de
sentidos pejorativos a características
peculiares de determinados padrões
da diversidade humana e de significa-
dos sociais negativos aos grupos que
os detêm. Não se trata de uma opinião
pessoal, porque as ideias precon¬cei-
tuosas e as atitudes racistas e discrimi-
natórias são mantidas por gera¬ções e,
em cada tempo e lugar, elas se mani-
festam de maneira diferente, por meio
de piadas, da apresentação de perso-
nagens negros e índios nos filmes, no-
velas, desenhos, propagandas etc. Ra-
cismo diferencia-se da discriminação
racial, que corresponde à expressão
ativa ou comportamental do racismo e
do preconceito racial. O preconceito e o
racismo são modos de ver concepções,

39
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41
ANEXO 01: RELATÓRIO DE SIS- balhadores e gestores do SUAS, inte-
TEMATIZAÇÃO DO WEBINÁRIO grantes dos Comitês Gestores de Po-
INTERNACIONAL TODOS PELA líticas Públicas pela Primeira Infância,
profissionais do Sistema de Garantia
PRIMEIRA INFÂNCIA
de Direitos de Crianças e Adolescen-
tes e dos Direitos Humanos e repre-
sentantes da sociedade civil.
1. APRESENTAÇÃO Ao total, se inscreveram 1.847 (mil
oitocentas e quarenta e sete) pessoas
A parceria estabelecida entre a Se- de diversas categorias e funções, des-
cretaria de Desenvolvimento Social, tacando-se em quantidade visitadores
Criança e Juventude de Pernambuco sociais (421), assistentes sociais (206) e
(SDSCJ)/Secretaria Executiva de Assis- professores (143). Participaram do We-
tência Social do Governo do Estado de binário representes de 21 (vinte e um)
Pernambuco, a Secretaria de Desen- estados da federação e de outros pa-
volvimento Social, Direitos Humanos, íses. Até o dia de fechamento da pre-
Juventude e Políticas sobre Drogas da sente sistematização alcançou a marca
Prefeitura da Cidade do Recife, o Cen- de 10.437 (dez mil quatrocentos e trinta
tro de Desenvolvimento e Cidadania e sete) acessos no canal da SDSCJ, sen-
(CDC) e Instituto PROMUNDO possibi- do 4.459 visualizações do 1º dia e 5.978
litou a realização, nos dias 27 e 28 de no 2º dia de evento.
abril de 2021, do Webinário Internacio- A programação foi formada por 06
nal Todos pela Primeira Infância. O ob- (seis) mesas expositivas, com 19 (de-
jetivo traçado para o evento foi o de zenove) apresentações proferidas por
qualificar e sensibilizar os gestores, especialistas e pesquisadores (nacio-
trabalhadores do Sistema Único de nais e internacionais), gestores públi-
Assistência Social (SUAS) e parceiros cos (municipais, estaduais e federal).
quanto a importância de investir em Informa-se que este documento apre-
políticas públicas na primeira infância, senta a sistematização dos aspectos
numa atuação integrada e articulada centrais oriundos das exposições e de-
e na valorização da participação dos bates no tocante à conceitos e apren-
homens na paternidade e cuidados. dizados das experiências (pontos exi-
O Webinário ocorreu na modalida- tosos e desafios) das políticas públicas
de virtual, transmitido pelo canal da para a primeira infância, com destaque
SDSCJ no Youtube9, com exposições para novas vivências para a continuida-
orais e interação com os participantes a de da oferta dos serviços, programas e
partir das perguntas e comentários no projetos às famílias e engajamento dos
chat. O Webinário Internacional Todos homens nos cuidados e paternidade
pela Primeira Infância direcionou suas na primeira infância, durante o período
atividades, essencialmente, para tra- pandêmico da Covid – 19.

9 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=GhWTHofog1k

42
Importa assinalar que as apresen-
tações utilizadas durante o Webinário 2. SÍNTESE DAS
estão disponíveis nos sites da Secreta-
ria Estadual de Desenvolvimento So- CONTRIBUIÇÕES
cial, Criança e Juventude e do Instituto
PROMUNDO10 e, ao final do presente 1º DIA – 27/04/2021
relatório, é possível encontrar lista de
sites para maiores informações sobre
cada experiência apresentada. 2.1. Mesa de abertura
A opção metodológica foi a ela-
boração de síntese das contribuições As contribuições apontadas na
de cada uma das mesas, e, ao final, a mesa de abertura reafirmam a essen-
apresentação dos desafios e recomen- cialidade da oferta de políticas públi-
dações para compor uma agenda de cas para primeira infância, tendo por
trabalho com foco na continuidade e fundamento a absoluta prioridade es-
ampliação das parcerias estabelecidas tabelecida na Constituição Federal de
em prol da primeira infância. Os apon- 1988, no Estatuto da Criança e do Ado-
tamentos desta agenda de trabalho lescente e no Marco legal da Primeira
consideraram as discussões, questio- Infância. É necessário considerar que as
namentos, comentários, de palestran- infâncias são passageiras e devem ser
tes e participantes do Webinário. seus direitos garantidos no presente,
Espera-se que o presente relatório excluindo perspectivas futurísticas.
se constitua num instrumento cata- A formulação e oferta de políticas
lizador e iluminador dos esforços das públicas implica olhar e cuidar para as
ações do Estado, das organizações da diversas infâncias de 0 a 6 anos, com-
sociedade civil, do setor empresarial, posta por diversidades de meninas,
dos meios de comunicação, dos opera- meninos, quilombolas, indígenas e po-
dores do sistema de conselhos (crian- pulações em situação de risco e vulne-
ças e adolescentes, saúde, educação, rabilidade social, dentre outros recortes.
assistência social, tutelar etc.) e das Ins- Nesta perspectiva, deve-se ter atenção
tituições de Ensino Superior na direção com o contexto socioeconômico e cul-
indispensável da proteção integral para tural das famílias, compreendendo a
a efetivação dos direitos fundamentais imprescindibilidade da participação do
positivados nos diversos instrumen- homem no cuidado com as crianças na
tos jurídicos nacionais e internacionais, primeira infância, favorecendo vivên-
que continuam a exigir efetividade nas cias de novas masculinidades e pater-
vidas de milhões de pessoas, inclusive, nidades que contribuam para a igual-
na primeira infância. dade de gênero.

10 Disponível em: https://www.sigas.pe.gov.br/pagina/webinrio-internacional-todos-pela-primeira-infncia


https://promundo.org.br/webinario-internacional-todos-pela-primeira-infancia/

43
Considerando o contexto da pan- cortes que se aproximam de 50% dos
demia da Covid-19, foi mencionado o recursos financeiros repassados pelo
acirramento das desigualdades sociais Governo Federal, podendo acarretar o
e das violências (principalmente, a do- fechamento e a descontinuidade da
méstica), acarretando sobrecarga e in- oferta dos serviços estaduais e muni-
tensificação dos desafios postos às fa- cipais. O desfinanciamento agrava-se
mílias em situação de vulnerabilidade pela existência da Emenda Constitu-
para garantia dos direitos de crianças e cional Nº 95/2016.
adolescentes. Outro aspecto que tem potencial
Aos poderes executivo, legislativo para impactar negativamente a formu-
e judiciário, são colocados novos de- lação e oferta de políticas públicas, diz
safios e demandas. No contexto do respeito à não realização do Censo De-
Sistema Único de Assistência Social mográfico pelo Instituto Brasileiro de
(SUAS), o momento pandêmico acen- Geografia e Estatística (IBGE) em 2020
tua os desafios existentes, ao mesmo e 2021. O apagão estatístico dificultará
tempo que apresenta novas situações o conhecimento sobre o perfil e as de-
de vulnerabilidade e risco social. São mandas da população brasileira, o que
exemplos dessa realidade: as crianças terá desdobramento direto nas políti-
e adolescentes que perderam a família cas públicas e na destinação de recur-
em decorrência da Covid-19, ampliando sos orçamentários.
as demandas por acolhimento institu- Apesar dos desafios apresentados,
cional; o aumento das demandas por dentre os serviços e programas para
benefícios eventuais; e a urgência da crianças de 0 a 6 anos, ressalta-se que
vacinação dos trabalhadores do SUAS, o Programa Primeira Infância no SUAS
que ainda não estão contemplados no representou um passo importante na
Plano Nacional de Imunização. perspectiva da assistência social como
Tal cenário tem se desdobrado em direito da primeira infância. O Progra-
impasses quanto ao financiamento das ma nasce como desdobramento do
políticas públicas. O financiamento é Marco legal da Primeira Infância, e os
um pilar indispensável, tendo em vista Estados e municípios do Nordeste tem
que a destinação prioritária de recursos se destacado na adesão ao Programa
financeiros tem impacto na qualidade junto ao Governo Federal.
de vida das crianças na primeira infân- No caminho do aprimoramento
cia e suas famílias. das políticas públicas para primeira in-
A oferta de políticas públicas sem fância, enfatiza-se:
os recursos financeiros equivalentes
tem sido o grande desafio para prefei-
tos e prefeitas, que tem a compreensão • A importância da decisão
e compromisso com a proteção inte- política de gestores públicos
gral da primeira infância. Cabe revelar para estabelecer a primeira
que, no âmbito do SUAS, ocorre um infância enquanto prioridade,
processo de desfinanciamento, com consolidando um conjunto

44
de políticas públicas integra- 2.2. Palestra Magna: Polí-
das e intersetoriais. Tal expe- ticas Integradas pela Primei-
riência, no município do Re- ra Infância
cife, foi impulsionada com a
aprovação do Marco legal da
Primeira Infância local e tem As exposições priorizaram 02 (dois)
apresentados resultados po- eixos centrais: (i) atuação do Conselho
sitivos; Nacional de Justiça (CNJ) para garantia
• A atuação e incidência polí- dos direitos de crianças e adolescentes,
tica integrada e intersetorial, com destaque para a primeira infância,
com participação das enti- e (ii) a importância da integração das
dades governamentais e da políticas públicas pela primeira infân-
sociedade civil, é imperiosa cia.
para garantia dos direitos da Quanto ao primeiro eixo, destaca-
primeira infância, ainda mais ram-se as iniciativas do CNJ para o for-
necessária no cenário de des- talecimento do Sistema de Justiça e
monte das políticas públicas do Sistema de Garantia de Direitos de
e da pandemia da Covid-19; Crianças e Adolescentes (SGDCA), com
• A participação das organiza- vistas à garantia do direito ao desenvol-
ções da sociedade civil tem vimento integral deste público. Dentre
importante papel nas polí- as iniciativas, houve menção ao Pacto
ticas públicas para primei- Nacional pela Primeira Infância; o Pro-
ra infância. Partindo deste tocolo brasileiro de entrevistas forenses
entendimento, é necessário de crianças e adolescentes vítimas ou
contemplar as discussões que testemunha de violência; o acordo de
envolve as parcerias entre as cooperação com o Ministério da Cida-
organizações da sociedade dania para aperfeiçoamento e comuni-
civil e o Estado na implemen- cação entre Sistema Nacional de Ado-
tação de políticas públicas, a ção e Acolhimento (SNA) e o CadSUAS;
exemplo do Marco Regulató- os atos normativos (Recomendações
rio das Organizações da So- 01/2020, 97/2021 e 299/2019); formação
ciedade Civil (MROSC); para operadores do Sistema de Justi-
ça e profissionais do SGDCA; Programa
• A formação continuada para
Pai Presente (registro tardio de paterni-
profissionais das diversas po-
dade), dentre outras ações.
líticas setoriais tem se conso-
lidado como estratégia fun- No âmbito da primeira infância,
damental para sensibilizar e sobressai-se o Pacto Nacional pela Pri-
qualificar profissionais e ges- meira Infância, que por meio do projeto
tores sobre o tema. “Justiça começa na Infância: fortalecen-
do a atuação do Sistema de Justiça na
promoção de direitos para o desenvol-
vimento humano integral” visa fomen-

45
tar a implementação do Marco Legal as crianças tem impacto direto à pro-
pela Primeira infância (Lei Federal nº moção das interações responsivas – es-
13.257/2016) e é financiado pelo Fundo pecialmente dos pais e mães – junto às
de Defesa dos Direitos Difusos do Mi- crianças.
nistério da Justiça e da Segurança Pú- A primeira infância demanda políti-
blica. A experiência protoganizada pelo cas públicas no presente, com absoluta
CNJ convida as várias instituições en- prioridade. O investimento nesta área
volvidas na implementação do Marco tem impactos na atualidade e para as
Legal a unirem esforços, por meio do gerações futuras, com mais eficiência.
Pacto e foi reconhecida como a primei- A primeira infância é uma grande opor-
ra iniciativa no mundo de integração tunidade. Reconhecer e estabelecer
entre o Sistema de Justiça e a primei- esse consenso exige maior responsabi-
ra infância. Atualmente, são 197 (cento lidade e cuidados de todos, tendo em
e noventa e sete) signatários, dentre os vista que é a fase de maior dependên-
quais, representantes dos três poderes, cia e de maior janela de oportunida-
da sociedade civil e da iniciativa priva- des para formação das bases da saúde,
da, além de organismos internacionais). aprendizagem e condições de exercício
O Pacto tem 05 (cinco) linhas de ação, a da cidadania a longo prazo.
saber: diagnóstico nacional, sensibiliza-
ção por meio de seminários em todas Nesse sentido, destacou-se o que
as regiões do Brasil, capacitação para Marco Legal da Primeira Infância tem
23.500 profissionais, seleção e, premia- como um dos fundamentos a interse-
ção e disseminação de boas práticas e torialidade e integração, pois apenas a
divulgação dos resultados. partir da atuação integrada é possível
promover o desenvolvimento integral.
A segunda exposição se debruçou A legislação foi necessária para dar visi-
sobre os conceitos que envolve primei- bilidade à primeira infância, aprimoran-
ra infância, desenvolvimento infantil, do o Estatuto da Criança e do Adoles-
garantia de direitos e políticas públicas, cente, a CLT, o Código de Processo Civil,
como pilares para a integração e a in- entre outros, com a previsão da promo-
tersetorialidade. As principais reflexões ção do cuidado, de forma mais precoce
indicam que a criança deve ser colo- possível.
cada em evidência e na centralidade,
com as políticas públicas sendo o pano Para a garantia dos direitos das
de fundo para garantia dos direitos. crianças de 0 a 06 anos não se deve
Exercitar essa mudança de perspectiva atuar a partir do prisma adultocêntri-
é uma tarefa do poder público e das or- co, devendo ser respeitada a condição
ganizações da sociedade civil. Portan- peculiar das crianças como sujeitos
to, os cuidados com a primeira infância em desenvolvimento. O investimento
são de responsabilidade coletiva, que em primeira infância antecipa o cui-
perpassa todas as políticas públicas, in- dado, não atuando somente quando o
clusive, aquelas que não atuam direta- problema já está instalado. E, em uma
mente com crianças de 0 a 6 anos, pois perspectiva de atenção ao ciclo de vida,
o apoio aos adultos significativos para ao priorizar a primeira infância, não se

46
deve negligenciar as outras faixas etá- políticas setoriais, como estratégia para
rias de crianças e adolescentes, nem contribuir com a integração e a inter-
a atenção à família como um todo, to- setorialidade. O envolvimento do sis-
dos devem ser cuidados e protegidos, tema de justiça com os demais atores
mesmo porque todo contexto familiar da rede de atenção à primeira infância
e comunitário também repercute na pode contribuir para sustentabilidade
primeira infância. das ações e compreensão das políti-
Foi evidenciada a importância de cas públicas como políticas de Estado
olhar e compreender as relações em e não de governo, que requerem con-
rede (primárias e secundárias), com tinuidade para alcançar os objetivos de
destaque para: a competição e concor- desenvolvimento integral.
rência entre as redes x a governança
colaborativa; e a necessidade de apoio
2.3. Mesa - PROMUNDO e da
e fortalecimento da rede primária (fa-
mílias) pela rede secundária (serviços,
Prefeitura da cidade do Reci-
empresas e terceiro setor), pois a função fe: experiências no Programa
da família não pode ser substituída pe- Primeira Infância no SUAS
los serviços e sim ser apoiada por estes,
deste modo, não devem ser disputadas
As 03 (três) primeiras apresenta-
pelas políticas sociais e organizações
ções tiveram como foco a socialização
da sociedade civil. A rede é um espaço
da experiência de aplicação da meto-
de integração, serve para mediar re-
dologia do Programa P, que foi vence-
cursos e o acesso às políticas públicas
dora da edição 2020 do Prêmio Boas
para promover o desenvolvimento das
Práticas do Pacto Nacional pela Primei-
crianças e suas famílias e precisam de-
ra Infância na categoria Sociedade Civil,
senvolver estratégias de governança
na modalidade online, com grupos de
colaborativa.
homens pais de famílias acompanha-
Ao apoiar e acompanhar as famílias, das pelo Programa Primeira Infância
deve-se contemplar o envolvimento da no SUAS/Criança Feliz da Cidade do Re-
figura paterna no cuidado com a pri- cife. Tal experiência foi viabilizada pela
meira infância, sendo uma estratégia parceria firmada entre a Prefeitura da
de prevenção, inclusive, com impactos Cidade do Recife, através da Secreta-
na diminuição da violência contra as ria Executiva de Assistência Social, do
mulheres e das relações desiguais de Governo do Estado de Pernambuco,
gênero e promoção da saúde e bem- através da Secretaria Executiva de As-
-estar do próprio homem. sistência Social e o Centro de Desenvol-
Destacou-se a capacitação dos pro- vimento e Cidadania (CDC) e o Instituto
fissionais da rede como um direito con- PROMUNDO.
templado no Marco Legal da Primeira O Programa P11, desenvolvido pelo
Infância (art. 10º). É imprescindível que PROMUNDO, tem por objetivo impul-
as capacitações ocorram de forma con- sionar o envolvimento de homens pais
junta, envolvendo trabalhadores das nos cuidados com as crianças na pri-

47
meira infância, através do desenvolvi- reu em 02 (duas) etapas, uma anterior
mento da paternidade participativa, (ex ante) e outra posterior (ex post) a
cuidadosa e protetiva. A participação implementação do Programa. Os resul-
da figura paterna no processo de cui- tados identificados a partir do processo
dado com as crianças tem impactos avaliativo apontam para efetividade do
significativos no desenvolvimento in- Programa P na modalidade online, o
fantil, na diminuição das desigualda- que possibilitará a replicação da experi-
des de gênero e na ressignificação das ência em outros estados e municípios,
masculinidades, com benefícios para a bem como os próximos passos junto à
família e a sociedade em geral Prefeitura do Recife e a Secretaria de
A gestão do Programa Criança Fe- Desenvolvimento Social, Criança e Ju-
liz do Recife, percebe a necessidade ventude do Estado de Pernambuco.
de envolver o homem no cuidado com Os profissionais da assistência so-
as crianças a partir da sistemática de cial devem ser capacitados e sensibili-
acompanhamento e visitação às famí- dades sobre a importância da inclusão
lias pela equipe de visitadores e super- do tema das masculinidades, paterni-
visores, demandando estratégia espe- dades e cuidado na primeira infância,
cífica para atuação junto a esse público. principalmente, em programas de visi-
A implementação da experiência ta domiciliar. As ações de famílias estão
piloto do Programa P com as famílias ainda orientadas para um trabalhado
do Programa Criança Feliz em Recife, focado na mulher e na criança, o que
inicialmente planejada na modalidade pode representar um desafio para for-
presencial, sofreu adaptações em de- talecer a igualdade de gênero duran-
corrência do contexto da pandemia da te a implementação de programas de
Covid-19, sendo executada na modali- promoção ao cuidado durante a pri-
dade online, através do aplicativo de meira infância. Um dos passos decisi-
mensagens Whatsapp. Tal mudança vos para o impacto alcançado durante
demandou a adequação dos materiais a implementação do Programa P foi a
pedagógicos tanto para a formação capacitação e ações de sensibilização
dos profissionais como para a aplicação realizadas junto aos profissionais da as-
com os grupos de homens. sistência social e visitadores(as) do Pro-
grama Primeira Infância no SUAS/Pro-
Para identificar os impactos dessa grama Criança Feliz. Esta foi uma etapa
experiência, foi realizado processo ava- fundamental do trabalho para fortale-
liativo, com vistas a orientar e direcio- cer formas de abordagem com as famí-
nar o percurso do Programa. A avalia- lias e o engajamento dos homens (com
ção foi realizada, via telefone, com os o apoio fundamental de suas parceiras).
homens participantes do Programa
P (grupo de intervenção), bem como
com outros homens que não estavam
envolvidos (grupo de controle), e ocor-

11 Para maiores informações ver: https://promundo.org.br/programas/programa-p/ (acesso em 06 maio 2021)

48
2º DIA – 28 DE ABRIL DE 2021 As atividades realizadas buscaram
incentivar a interação entre a criança
e a família, de forma lúdica, utilizando
2.4. Mesa - A importância o recurso da contação de histórias. Foi
da integração das políticas estimulada a interação intergeracional,
públicas para a proteção e envolvendo as pessoas idosas, que es-
promoção do desenvolvi- tavam em isolamento social. Para viabi-
lizar a participação de todas as famílias
mento na primeira infância:
o município realizou acompanhamen-
Programa Primeira Infância
to remoto e, as famílias sem acesso à
no SUAS/ Programa Criança internet, receberam um caderno de
Feliz em Pernambuco. atividades e as orientações para uso. O
apoio do Centro de Referência de Assis-
tência Social e a integração com a rede
As 03 (três) primeiras exposições
de saúde foram essenciais no caminho
tiveram como objetivo apresentar ex-
percorrido.
periências da execução do Programa
Primeira Infância no SUAS / Programa Os pontos fortes dessa experiência
Criança Feliz no contexto da pandemia foram: integração com a rede interse-
da covid-19 nos municípios pernambu- torial; olhar para primeira infância; e o
canos de Iguaracy, Petrolina e Triunfo. vínculo entre família e visitador(a). Já as
Tais experiências foram escolhidas en- fragilidades foram: restrição do contato
tre as 24 (vinte e quatro) que participa- presencial e dificuldade de acesso à in-
ram do processo seletivo realizado pela ternet/celular.
Coordenação Estadual do Programa
Primeira Infância no SUAS/Programa
Criança Feliz, com critérios para a se- Experiência “Ações de Saúde In-
leção das propostas, enviadas através tegral” em Petrolina – Pernam-
formulário eletrônico. Por fim, o Núcleo buco
de Investigação em Neuropsicologia,
Afetividade, Aprendizagem e Primeira
Constituiu num conjunto de ações
Infância (NINAPI), vinculado a Univer-
para promoção da saúde de crianças
sidade Federal Rural de Pernambuco
e gestantes acompanhadas pelo Pro-
(UFRPE) apresentou reflexões sobre os
grama Infância no SUAS / Programa
estudos do desenvolvimento infantil e
Criança Feliz. Foram realizadas ativi-
primeira infância, bem como a experi-
dades com foco na saúde bucal (com
ência de trabalho do Núcleo de pesqui-
atendimento odontológico às famílias
sa.
acompanhadas pelo Programa), saú-
de nutricional (lives educativas sobre
Experiência “Minha infância, mi- o tema) e fortalecimento de vínculos
nha história” em Iguaracy – Per- (com o Delivery do Carinho, que chega-
va até o local de moradia das famílias,
nambuco
levando músicas e mensagens). Dentre

49
os resultados alcançados, destaca-se a crianças pequenas. Durante o mês de
integração e intersetorialidade, princi- agosto, na semana da data comemo-
palmente, com a Secretaria Municipal rativa do Dia dos Pais, foram propostos
de Saúde e com o apoio do Centro de desafios aos homens pais para intera-
Referência da Assistência Social (CRAS), ção e cuidado com os filhos, a exemplo
tendo em vista que as ações foram pla- de contar história, trocar fraldas, assistir
nejadas no Comitê Intersetorial do Pro- filme, compartilhar histórias de vida. As
grama Criança Feliz. atividades foram orientadas por visita-
dores sociais, durante as visitas semi-
presenciais.
Experiência “Criança Feliz pre-
Os principais resultados foram da
sente no zap e no caderno de experiência durante a pandemia foram:
atividades em tempos de pan- o fortalecimento da rede intersetorial
demia” em Triunfo – Pernambu- nos territórios; prevenção da violência
co no ambiente doméstico; incentivo à
participação dos homens pais; fortale-
cimento dos vínculos familiares.
Ao iniciar a pandemia, o município
realizou mapeamento local para iden-
tificar as demandas das famílias em Explanação final - Núcleo de
situação de vulnerabilidade, que foi so- Investigação em Neuropsicolo-
cializado com a rede intersetorial para
gia, Afetividade, Aprendizagem
integração no atendimento.
e Primeira Infância (NINAPI) do
No que tange às famílias acompa- Programa de Pós-Graduação
nhadas pelo Programa Criança Feliz fo-
Educação, Culturas e Identida-
ram ofertadas possibilidades de acom-
des (PPGECI)/Universidade Fe-
panhamento: visitas semipresenciais,
visitas remotas e o caderno de ativida- deral de Pernambuco (UFRPE)
des (principalmente, para as famílias
sem acesso à internet/celular). As ativi- Os conteúdos apresentados evi-
dades foram propostas de forma que denciaram a importância das experi-
as famílias pudessem realizá-las com ências iniciais para o (neuro)desenvol-
itens disponíveis na casa. Destaca-se vimento infantil, os fatores de risco e
que as visitas semipresenciais foram proteção nesta fase da vida, e a atuação
feitas respeitando as orientações das integrada entre políticas públicas. Nes-
autoridades de saúde (em áreas aber- ta perspectiva se faz necessário com-
tas, sem acesso às residências e com preender o bebê e a criança pequena
uso dos equipamentos de proteção in- como sujeito sensível e ativo, afirman-
dividuais). do a importância da interação, do vín-
Como parte das atividades, foi reali- culo e da afetividade nesta fase da vida,
zado o Projeto Pai Presente, estimulan- demandando proteção, acolhimento e
do os pais cuidadores a assumirem pos- experiências positivas.
turas responsivas no cuidado com as

50
Os principais fatores de risco apon- do desenvolvimento na pri-
tados estão associados a desnutrição, meira infância: experiências
ao consumo de álcool e outras drogas intersetoriais de Pernambu-
durante a gestação, exposição a toxi-
co
nas, a institucionalização /qualidade
de cuidados e experiências na unidade
de acolhimento, violência em todas as A mesa voltou-se para o compar-
suas formas, e a privação de oportuni- tilhamento de informações sobre pro-
dades e experiências, com destaque gramas e projetos destinados à primei-
para a privação afetiva. ra infância e suas famílias nas esferas
Já os fatores primordiais para a pro- municipal e estadual. Foram apresen-
teção têm relação com acolhimento e tadas as experiências do Programa
vínculo afetivo, apoio parental, apoio Mãe Coruja Pernambucana, Programa
extrafamiliar (da comunidade e do Es- Olhar para as Diferenças, ambos do Go-
tado). Tais fatores se relacionam ainda verno do Estado de Pernambuco, e o
com: a qualidade dos cuidados, práti- Programa Mãe Coruja Recife e o Proje-
cas educativas positivas e seguras, pro- to Geração Afeto, ofertados pela Prefei-
teção contra a violência e educação in- tura do Recife.
fantil de qualidade e protetora.
Na perspectiva de contribuir com a
Programa Mãe Coruja do Gover-
construção do conhecimento e a quali-
no do Estado de Pernambuco
ficação das políticas públicas para pri-
meira infância, apresentou NINAPI de-
senvolve atividades de pesquisa, ensino O foco do Programa é a atenção
e extensão nas áreas da Psicologia e materno-infantil, tendo por objetivo
Neuropsicologia do Desenvolvimento, prestar atenção integral às gestantes
com ênfase na primeira infância. Tem usuárias do Sistema Único de Saúde
atuado a partir de 03 (três) eixos prin- (SUS) e aos bebês. Foi criado em 2007,
cipais: promoção do desenvolvimento instituído enquanto política pública em
e elaboração de materiais; capacitação 2009, e tem como um dos pilares a in-
profissional e cuidado com cuidadores. tersetorialidade das políticas públicas
Nesse sentido, tem estabelecido parce- para integralidade do atendimento. É
rias com organizações governamentais ofertado através de parceria entre Go-
e não governamentais, buscando con- verno do Estado e 105 (cento e cinco)
tribuir na construção do conhecimento municípios, tendo apresentado melho-
relacionados ao desenvolvimento in- rias significativas nos indicadores so-
fantil. ciais e de saúde relativos à mortalidade
materno-infantil.

2.5. Mesa - Integração e par- Desde a implantação do Programa


cerias das políticas públicas Primeira Infância no SUAS / Criança Fe-
liz em Pernambuco, há uma profícua
para proteção e promoção
integração tanto no âmbito da gestão

51
estadual como nos territórios munici-
Implantado a partir de 2014, como
pais, potencializando a oferta de polí-
estratégia para redução morbimortali-
ticas públicas para primeira infância.
dade materna e infantil, tomando por
No âmbito municipal, destaca-se que
base a experiência do Programa Mãe
o Programa Criança Feliz está presente
Coruja estadual. Desenvolve ações de
em 100(cem) municípios pernambuca-
atenção integral à saúde da mulher du-
nos onde funciona também o Progra-
rante a gestação, parto e puerpério, e à
ma Mãe Coruja. criança até os 05(cinco) anos, com foco
no desenvolvimento infantil. Atual-
mente, são 16 (dezesseis) Espaços Mãe
Programa Olhar para as Dife- Coruja Recife em funcionamento, em
renças do Governo do Estado de 36(trinta e seis) bairros.
Pernambuco O Programa é desenvolvido de for-
O Programa lançado em 2019, tem ma intersetorial, envolvendo as Secre-
como objetivo consolidar e sistemati- tarias Municipais no planejamento e
zar ações intersetoriais que assegurem execução de ações. Dentre as experi-
o acesso das crianças com deficiência ências de integração, destaca-se a com
às redes de assistência social, saúde e o Programa Criança Feliz, que tem se
educação, por meio da articulação en- dado, principalmente, em 04(quatro)
tre Governo do Estado, municípios, fa- territórios onde há cobertura de ambos
mílias envolvidas e instituições de refe- os programas.
rência. O Programa é gerido de forma
intersetorial pelas Secretarias de De-
senvolvimento Social, Educação e Saú- Projeto Geração Afeto da Prefei-
de. Atualmente, é ofertado na Gerência tura da Cidade do Recife – Per-
Regional de Saúde VI, que compreende nambuco
13(treze) municípios do sertão pernam-
bucano.
Criado em 2018, o Projeto Geração
As ações são desenvolvidas a partir Afeto objetiva estimular o engajamento
de eixos estruturantes, que tem relação das relações afetivas entre as famílias e
com a formação profissional, fortaleci- as crianças nos primeiros anos de vida.
mento dos locais de atendimento (atra- O projeto tem como público às gestan-
vés do Kit de desenvolvimento infantil), tes e mulheres mães, e suas famílias,
articulação e integração da rede local, envolvendo também a figura paterna
disseminação de informações e con- no cuidado com as crianças pequenas.
teúdo, e monitoramento das crianças
acompanhadas. É desenvolvido através de oficinas
de acompanhamento às famílias, com
temas relacionados ao desenvolvimen-
Programa Mãe Coruja da Prefei- to infantil e a afetividade familiar. As
tura da Cidade do Recife – Per- ações são desenvolvidas em articula-
nambuco ção intersetorial, principalmente, com
as políticas de saúde, educação e assis-

52
tência social. Os principais temas de- É executado pelo pela organização
senvolvidos nas oficinas são: cuidados da sociedade civil Centro de Desenvol-
com os bebês; construção das materni- vimento e Cidadania (CDC), através de
dades, paternidades e o afeto familiar; termo de colaboração firmado com a
direito ao brincar; e primeiros socorros, Secretaria Estadual de Desenvolvimen-
evitando acidentes. to Social. Atualmente, são acompa-
nhados 174 (cento e setenta e quatro)
2.6. Um olhar para as experi-
municípios que estão com adesão ativa
ências estaduais no contexto junto ao Ministério da Cidadania, atra-
da pandemia: Programa Pri- vés da oferta de apoio técnico e forma-
meira Infância no SUAS tivo. Desde sua implantação, o Progra-
ma estabelece parcerias com foco na
intersetorialidade e integração, a exem-
A mesa reuniu apresentações so-
plo daquelas firmadas no âmbito esta-
bre a execução do Programa Primei-
dual com os Programas Mãe Coruja e
ra Infância no SUAS / Criança Feliz no
Olhar para as Diferenças.
âmbito nacional e nos Estados de Per-
nambuco e Ceará, com destaque para Em relação ao contexto pandêmi-
as potencialidade e desafios colocados co, aponta-se os seguintes elementos
a partir da pandemia da Covid-19, que como desafios conjunturais: o agrava-
demandou a reinvenção de procedi- mento das situações de risco e vulne-
mentos de gestão e acompanhamento rabilidade social, os desligamentos de
do Programa em todos os níveis. beneficiários do Programa Bolsa Famí-
lia e o desfinanciamento das políticas
Além das experiências do Progra-
sociais, a exemplo da Assistência Social.
ma Criança Feliz, houve explanação so-
bre o Comitê Intersetorial de Políticas No âmbito da gestão/execução do
Públicas para a Primeira Infância de Programa, a pandemia implicou a re-
Pernambuco (CIPPPI/PE). E, ao final, a adequação e adaptação das formas e
explanação de especialista internacio- práticas de trabalho. Os principais desa-
nal sobre primeira infância apontando fios e aprendizados foram: 01) a impor-
desafios e caminhos em tempos de cri- tância do planejamento e necessidade
se, como forma de iluminar e motivar de readequá-lo, com a flexibilidade exi-
a busca criativa por aprendizados solu- gida pela crise sanitária; 02) o uso das
ções duradouras. plataformas digitais como realidade
nova, demandando novos aprendiza-
dos; 03) a intensificação das atividades
Programa Primeira Infância no virtuais proporcionou maior aproxima-
SUAS / Programa Criança Fe- ção com os municípios; 04) o processo
liz, executado pelo Centro de de escuta e acolhida com os municípios
Desenvolvimento e Cidadania foi essencial para reorganizar as ações;
05) organização de plano de capacita-
(CDC), em parceria com o Gover-
ção local, atendendo as demandas dos
no do Estado de Pernambuco municípios acompanhados.

53
A Secretaria Estadual de Desenvol- famílias sem acesso à internet/celular;
vimento Social, Criança e Juventude, 06) oficinas de capacitação e apoio téc-
através da Secretaria Executiva de As- nico aos municípios.
sistência Social, firmou parceria com A gestão estadual evidencia a atu-
o Instituto PROMUNDO e a Prefeitura ação dos municípios neste momento
do Recife (Secretaria Executiva de As- pandêmico, tendo em vista que foram
sistência Social) para aplicação da me- protagonistas na reorganização das
todologia do Programa P, envolvendo atividades, com criatividade e compro-
os homens pais e figuras paternas, das misso com o atendimento das crianças
famílias acompanhadas pelo Programa na primeira infância e suas famílias.
Feliz no bairro do Ibura. Está em discus-
são a ampliação da parceria, para envol- Ressalta-se ainda que a Secretaria
ver outros municípios pernambucanos. da Proteção Social, Justiça, Cidadania,
Mulheres e Direitos Humanos do Ceará
tem parceria firmada com o PROMUN-
Programa Primeira Infância no DO para capacitar profissionais do Pro-
SUAS / Criança Feliz do Governo grama Primeira Infância no SUAS / Pro-
grama Criança Feliz (equipe estadual
do Estado do Ceará
e do município de Fortaleza) na apli-
cação da metodologia do Programa
Implantado em 2017, e compõem P. Há perspectivas de expansão dessa
o Programa Mais Infância Ceará, que parceria, contemplando os demais mu-
articula as ações das diversas políticas nicípios cearenses.
públicas estaduais, com foco no desen-
volvimento integral das crianças. Atu-
almente, 184 (cento e oitenta e quatro) Comitê Intersetorial de Políticas
municípios cearenses executam o Pro- Públicas para a Primeira Infân-
grama e são acompanhados pela equi- cia de Pernambuco (CIPPPI/PE)
pe estadual.
No contexto da pandemia, a gestão
Instituído em 2017, pelo Decreto Es-
estadual do Programa lançou mão de
tadual nº 44.592/2017, o CIPPPI/PE tem
estratégias para dar continuidade as
ações junto aos municípios em acom- o objetivo de articular ações e políticas
panhamento. Dentre elas, destaca-se: estratégicas, voltadas à proteção e pro-
01) a elaboração de plano de contingên- moção dos direitos da criança na pri-
cia para as equipes de referência; 02) a meira infância. O Comitê representa um
elaboração de cartilha de atividades a avanço na articulação e fortalecimento
serem desenvolvidas na modalidade das políticas públicas para primeira in-
remota; 03) adequação das visitas do- fância no âmbito estadual, abarcando
miciliares para a modalidade remota; os programas que necessitam desta
04) disseminação de informações atra- instância como parte da sua execução,
vés das redes sociais e rádios comuni- a exemplo do Programa Criança Feliz.
tárias; 05) atividades itinerantes, com Conta em sua composição com
apoio de carros de som, atendendo as 09(nove) Secretarias Estaduais e o Con-

54
selho Estadual dos Direitos da Criança online, lives e videoconferências com as
e do Adolescente (CEDCA/PE), o que coordenações estaduais; 05) utilização
revela a sua dimensão de estratégia fo- do site institucional e de redes sociais
mentadora da intersetorialidade. Tem para divulgar conteúdos e iniciativas do
por metodologia de trabalho as reuni- Programa.
ões integradas e grupos de trabalho.
Desenvolve também processos forma-
tivos e disseminação de informações, 2.7. Reflexões de expertos in-
contribuindo com a construção de co- ternacionais
nhecimentos sobre desenvolvimento
infantil e primeira infância.
O Webinário contou com as valiosas
contribuições de 02 (dois) palestrantes
Programa Primeira Infância no internacionais, especialistas e pesqui-
SUAS / Programa Criança Feliz sadores na área do desenvolvimento
infantil e primeira infância, a saber:
do Governo Federal

• Dra. Mary Young – pediatra,


Ao apresentar o Programa Primei-
especialista em saúde global
ra Infância no SUAS/ Programa Crian-
e desenvolvimento da crian-
ça Feliz retoma os aspectos de sua
ça, com reconhecida expe-
implantação a nível nacional, eviden-
riência internacional como
ciando o panorama atual das regiões,
pesquisadora e consultora.
estados e municípios em relação a ade-
É diretora do Centro de De-
são e execução. Atualmente, são 2.898
senvolvimento infantil da
municípios ativos e a região nordeste
Fundação de Pesquisa de
se destaca pelo número de adesões. No
Desenvolvimento da China,
que diz respeito às estratégias meto-
Conselheira Sênior do Cen-
dológicas, reforça-se a visita domiciliar
tro de Desenvolvimento da
e da intersetorialidade como pilares do
Criança da Universidade de
Programa.
Havard e Professora-adjunta
No sentido de se adequar as exi- de Pediatria da Univerdae do
gências colocadas pela pandemia, a Hawaii Medical Center.
Secretaria Nacional da Primeira Infân-
• Dr. Leonardo Yanez - psicó-
cia, tomou as seguintes iniciativas: 01)
logo, mestre em desenvolvi-
publicou atos normativos com orien-
mento infantil, atuou como
tações para adequação do programa
consultor sênior da Fundação
no contexto pandêmico; 02) desenvol-
Bernard Van Leer na América
ve conteúdo para socialização junto
Latina, e atualmente, é con-
as famílias, através de mídias digitais;
sultor internacional, especiali-
03) publicação de orientações técnicas
zado em primeira infância.
para apoiar gestores e equipes; 04) re-
alização de reuniões de apoio técnico

55
Abaixo serão elencados as princi- definir os conteúdos e técnicas, tornan-
pais aspectos e reflexões apresentados do-as mais atrativas às famílias.
pelos expertos internacionais, com vis- Em relação à participação dos ho-
tas a contribuir com o aprimoramento mens pais, destacou-se que as pesqui-
das políticas públicas para primeira in- sas com base em evidências têm apon-
fância no território brasileiro. tado os benefícios desse engajamento,
para toda a família. O Programa P é tido
como uma experiência pioneira e ino-
Explanação – Dra. Mary Young
vadora.
Para o desenvolvimento de Progra-
As reflexões apresentadas tiveram mas que articulem e potencializem a
como foco as estratégias para aprimo- participação da figura paterna, é ne-
rar e potencializar os programas para cessário considerar os limites e possibi-
primeira infância que tenham como lidades postos, que tem relação com as
ferramenta a visitar domiciliar, além de desigualdades sociais e econômicas vi-
apontar caminhos para o engajamen- venciadas pelas famílias. Ao identificar
to dos homens pais no cuidado com as tais dificuldades é possível adequar as
crianças na primeira infância. Importa metodologias para maior engajamento
assinalar que as contribuições dialo- dos homens.
gam com aspectos comparativos entre
As iniciativas para o engajamento
experiências nacionais e internacionais,
podem partir de tais eixos: 01) no âm-
a exemplo das iniciativas para primeira
bito do Programa – adequar as lingua-
infância nos Estados Unidos.
gens e métodos de entrega tornando-
Nesse sentido, a visita domiciliar -os atrativos aos homens; respeitar e
é apontada como fator decisivo para partir dos valores e práticas culturais
adesão e permanência das famílias no das famílias; eliminar a expectativa de
Programa, que deve identificar e con- que a mãe é a cuidadora principal; 02)
siderar as especificidades de cada uma no âmbito das políticas públicas – am-
delas, em seus territórios, com ativida- pliar investimentos em Programas que
des flexíveis e adaptáveis. O processo tenham como foco as paternidades,
de visitação deve buscar estabelecer baseando-se em pesquisas científicas;
parcerias responsivas com as famílias, possibilitar revisão dos sistemas que
que devem ser conhecidas, escutadas impedem ou dificultam o exercício da
e respeitadas em todo o acompanha- paternidade, a exemplo da violência,
mento. encarceramento, moradia etc.; 03) no
No contexto pandêmico, com a ne- âmbito da Pesquisa - investir em pes-
cessidade de realização de visitas virtu- quisa de desenvolvimento e avaliação
ais, é imprescindível mapear as famí- dos resultados.
lias que tem condições de acesso aos
insumos tecnológicos, buscando es-
tratégias para incluir aquelas que não Explanação final – Dr. Leonardo
possuem. Além disso, é necessário re- Yanez

56
A explanação teve como tema “Cri- As crianças e suas famílias devem
se e oportunidades: como aproveitar a ser o padrão de medida para todas as
crise atual para superar alguns males políticas públicas. A primeira infância
crônicos que afetam a primeira infân- deve permear todos os setores das ges-
cia? ”. Para responder a indagação, fo- tões governamentais, impulsionando
ram apresentadas reflexões sobre a im- a intersetorialidade com mecanismos
portância de ressignificar as práticas e mais eficientes. E cuidar da primeira
intervenções no trabalho com famílias infância requer a otimização dos orça-
no contexto da crise global provocado mentos, mas significa intervir em re-
pela pandemia da Covid-19. lação à qualidade de vida no sentido
A título de contribuições desta- mais amplo - qualidade do ar, da água
cou-se a necessidade de ressignificar e do saneamento, na geração e utiliza-
os olhares sobre a pandemia. Mesmo ção de energia verde, espaços públicos
considerando perdas e privações acen- e mobilidade saudável, segura e inte-
tuadas neste contexto, é possível en- ressante.
xergá-lo como um momento de inova- Por fim, alertou-se para a pertinên-
ção e de criar soluções diferentes, que cia da sistematização, monitoramento
atinjam os problemas gerados pela e avaliação das iniciativas voltadas para
pandemia e aqueles desafios crônicos primeira infância como instrumento
presentes nas políticas públicas para necessário para o aprimoramento das
primeira infância. políticas públicas, gerando evidências
Que os problemas crônicos têm que podem contribuir com outras re-
relação com as desigualdades sociais, giões e países. E ter atenção para as
que afetam as populações a depender oportunidades advindas dos avanços
da sua renda, local de moradia, cor da tecnológicos, sem perder de vistas as
pele, sotaque, dentre outros recortes. desigualdades digitais que atingem
As desigualdades sociais, materializa- parte da população.
das em situação de violência, de injus-
tiça e privações, limitam as oportuni-
dades de crianças e famílias para o seu 3. Desafios e
pleno desenvolvimento.
Continua sendo fundamental in- recomendações:
vestir e cuidar das famílias e as diversas
organizações familiares são essenciais por uma agenda
no cuidado com a primeira infância.
Demandam o apoio do Estado e da so- de trabalho
ciedade para cumprir seu papel de pro-
teção e cuidado com as crianças, não O conjunto das experiências (mu-
devendo ser substituída. nicipais, estaduais e nacionais), contri-

12 Disponível em: https://direitosvalemmais.org.br/documento_stf_maio_2020/ Acesso 13 mai. 2021

57
buições de especialistas e pesquisado- moramento das políticas públicas para
res e os diálogos estabelecidos durante crianças de 0 a 6 anos e suas famílias
o Webinário Internacional Todos pela perpassa, necessariamente, pela ga-
Primeira Infância deixaram marcas ex- rantia de recursos financeiros, advin-
tremamente positivas e apontam di- dos das 03(três) esferas de governo. É
versos desafios para consolidação das necessário ter presente que tais recur-
políticas públicas para crianças de 0 a 6 sos precisam contemplar as diversas
anos e suas famílias. políticas setoriais, contribuindo para
Tais desafios tem potencial para o atendimento integral das crianças e
serem transformados em recomen- suas famílias, sem a hierarquização dos
dações que iluminem uma agenda de direitos fundamentais. Não há proteção
trabalho, que encontre amplo respaldo integral sem acesso à saúde, assistên-
junto ao Estado (Executivo, Legislativo, cia social, educação, esporte, cultura,
Ministério Público, Judiciário e Defen- emprego e renda, com vistas a suprir
soria Pública) nos três (03) âmbitos da as demandas e necessidades inerentes
federação, organizações da sociedade ao cuidado com as crianças na primeira
civil, setor empresarial, meios de comu- infância e suas famílias.
nicação, sistema de conselhos (crianças Nesse sentido, faz-se necessária
e adolescentes, saúde, educação, assis- a articulação e incidência política de
tência social, tutelar etc.), organizaçõestodos os órgãos comprometidos na ga-
da cooperação nacional e internacional rantia de direitos humanos, para rever-
e das Instituições de Ensino Superior. ter o quadro de desfinanciamento das
Espera-se que a agenda apresen- políticas sociais, agravado pela Emen-
tada possa ter ressonância em todos da Constitucional 95/2016, que congela
os órgãos e instituições envolvidas no os investimentos sociais por vinte (20)
Webinário Internacional Todos pela anos. Para se ter uma ideia da gravi-
Primeira Infância, bem como junto aos dade, o documento DIREITOS VALEM
participantes e, sobretudo, numa atua- MAIS - Coalizão pelo fim da Emenda
ção nacional permanente, com a troca Constitucional 95 demostra que 19,8%
de informações, conhecimentos e in- do PIB foram investidos em 2015, de-
tercâmbio de experiências, inclusive, as vendo diminuir para 15,5% em 2026 (o
internacionais. mesmo patamar de 1997) e ficará 12,5%
do PIB em 2036.12
Para tanto, os 03 (três) blocos a se-
guir apresentam apontamentos nesta A superação do desfinanciamen-
direção, sem haver uma hierarquia de to das políticas sociais, entre as quais,
prioridade entre eles, considerando-os saúde, assistência social e educação
para além do período pandêmico. constitui-se na possibilidade de enfren-
tamento e superação das situações de
vulnerabilidades sociais e negação de
a) Financiamento das políticas pú- direitos na primeira infância e em todas
blicas para primeira infância as fases do desenvolvimento humano,
agravados pelo período pandêmico.
A manutenção, ampliação e o apri-

58
b) Consolidação da Política Munici- para possibilitar a incidência no ciclo
pal e Estadual para Primeira Infância orçamentário, composto pelo Plano
São perceptíveis os avanços e resul- Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Or-
tados positivos das discussões e imple- çamentárias (LDO) e Lei Orçamentária
mentação de políticas públicas, em di- Anual (LOA).
versas áreas, para primeira infância no c) Produção de dados, informa-
âmbito dos Estados e Municípios brasi- ções, conhecimento e processos de
leiros. Um dos principais desafios que formação permanente
se coloca é a intersetorialidade como A interlocução com as Instituições
pilar para garantia dos direitos das de Ensino Superior (IES), pesquisado-
crianças e suas famílias. ras e pesquisadores deve receber uma
O modelo de governança propos- atenção de todos envolvidos com a pri-
to pelo Programa Primeira Infância no meira infância, sendo imprescindível
SUAS / Programa Criança Feliz tem po- que as produções acadêmicas possam
tencial para impulsionar e solidificar a ter repercussão para melhor conheci-
intersetorialidade na oferta das políti- mento das potencialidades e desafios
cas públicas para primeira infância. O do atendimento aos direitos inerentes
Comitê Intersetorial do Programa se ao desenvolvimento infantil. Portanto,
constitui como um espaço de articula- o estabelecimento de parcerias com
ção e planejamento, com contribuições as IES, nas diversas unidades da fede-
das Secretarias e Programas implica- ração, é um caminho a ser percorrido,
dos no atendimento à primeira infân- inclusive, para a realização de novos se-
cia. Mas é necessário ir além, alcançan- minários, atividades formativas, diag-
do o nível das decisões estratégias em nósticos, pesquisas e o compartilha-
colocar a primeira infância como priori- mento das produções acadêmicas na
dade das ações. área da primeira infância.
Entende-se que, considerando ex-
periências exitosas como a da Prefeitu- d) Disseminação do Programa P
ra do Recife, Governo de Pernambuco no SUAS
e do Ceará, instituir juridicamente uma
política estadual ou municipal para pri- A inclusão das discussões sobre as
meira infância, através, principalmen- masculinidades e paternidades nos
te, mas não só, de instrumentos como serviços do SUAS necessita considerar
o Marco legal da Primeira Infância e o 02 (dois) aspectos fundamentais:
Plano Municipal ou Estadual (com me- • As orientações técnicas e nor-
tas, prazos, previsão orçamentária e mativas do SUAS tem como
monitoramento) é um passo sólido no premissa o trabalho com fa-
caminho da intersetorialidade. mílias, relacionado à diretri-
Destaca-se ainda que os planos da zes estruturantes da centrali-
primeira infância (Nacional, Estadu- dade na família. Dessa forma,
ais, do Distrito Federal e Municipais) se as discussões sobre paterni-
constituem em ferramentas poderosas dades e masculinidades não

59
aparecem de forma direta; salientar a escassez de docu-
• Historicamente, as equipes mentos técnicos do SUAS que
da assistência social são, em abordem especificamente a
sua maioria, compostas por temática;
pessoas do gênero feminino. • Busca de opções alternativas
Este fato tem relação com para a aplicação da metodo-
o reforço dos papéis sociais logia do Programa P quando
estabelecidos na sociedade, da inexistência de profissio-
que colocam a mulher como nais do gênero masculino vin-
responsável natural pelas culados aos serviços;
funções do cuidado e repro- • Incluir o homem ou figu-
dução. ra paterna no processo de
Para disseminação do Programa acompanhamento familiar,
P nos serviços do SUAS, especialmen- com desdobramentos para a
te, no Programa Primeira Infância no inclusão dos homens nos de-
SUAS, identifica-se as seguintes possi- mais serviços socioassisten-
bilidades: ciais, a exemplo do Serviço de
• Articulação para apresenta- Convivência e Fortalecimento
ção da proposta do Programa de Vínculos e de Programas
P nos Colegiados Nacional e de qualificação profissional e
Estaduais de Gestores da As- acesso ao mundo do trabalho;
sistência Social (CONGEMAS • Ampliação do olhar para 02
E COEGEMAS), para estabe- (dois) serviços, em especial,
lecimento de parcerias entre que tem potencial e necessi-
PROMUNDO, Estados e Mu- dade para inclusão da temá-
nicípios; tica: o Serviço de Convivência
• Inclusão das temáticas que e Fortalecimento de Vínculos
envolvem as paternidades e (principalmente, nos grupos
masculinidades no Capaci- com adolescentes) e o Serviço
taSUAS e nas formações do de proteção especial aos ado-
Programa Criança Feliz, avan- lescentes em cumprimento
çando nos diálogos quanto às de medidas socioeducativas
matrizes de conteúdo, calen- de liberdade assistida e pres-
dário e metodologias de ensi- tação de serviço à comunida-
no (presencial e remota); de (estatísticas afirmam que,
• Produção de materiais espe- em sua maioria, são adoles-
cíficos (notas técnicas, bole- centes do gênero masculino,
tins informativos, apostilas com incidência de paternida-
etc.) que permitam o acesso de na adolescência);
de gestores e trabalhadores • Conhecer e divulgar boas
à conteúdos sobre masculini- práticas municipais/estaduais
dades e paternidades numa que tenham como foco as pa-
perspectiva de gênero. Vale ternidades e masculinidades;

60
• Realização de Seminário es- em decorrência de separação,
pecífico sobre masculini- morte, encarceramento ou
dades e paternidades com internação no Sistema Socio-
profissionais do Programa educativo?
Criança Feliz. • Qual tem sido a receptividade
Por fim, verifica-se a potencialida- do homem pai ou figura pa-
de, em parceria com o Programa Pri- terna nas famílias atendidas?
meira Infância no SUAS / Programa • Quantas famílias contam
Criança Feliz, para produção de diag- com a presença do homem
nóstico e/ou pesquisas, que avancem pai ou figura paterna nas vi-
no conhecimento sobre a diversidade sitas domiciliares do Progra-
das organizações familiares e suas de- ma? Quais os principais impe-
mandas. Nesse sentido, algumas ques- dimentos para participação?
tões são indispensáveis:
• Quantos municípios/estados
• Quantas famílias acompa- desenvolvem ações especi-
nhadas tem a presença na re- ficas sobre paternidades e
sidência do homem pai ou de masculinidades?
outra figura paterna? • Qual a composição das equi-
• Quantas famílias não tem o pes do PCF por cor/raça, ida-
homem pai ou figura paterna de e gênero?

ANEXO 01: Programação e composição das mesas.

1º DIA – 27 DE ABRIL DE 2021

Composição:
• Ana Nery dos Santos – Diretora Presidente do Centro
de Desenvolvimento e Cidadania (CDC);
• Miguel Fontes – Diretor Executivo do Instituto PRO-
MUNDO;
Mesa de Abertura • Joelson Rodrigues – Presidente do Conselho Estadu-
al de Assistência Social de Pernambuco (CEAS/PE);
• Geruza Felizardo – Secretária Executiva de Assistên-
cia Social do Recife;
• Soledade Menezes Cordeiro – Secretária Executiva da
Rede Primeira Infância de Pernambuco (REPI/PE);

61
• Simone Santana – Deputada Es-
tadual e Coordenadora da Fren-
te Parlamentar pela Primeira In-
fância na Assembleia Legislativa
de Pernambuco;
• Luciana Siqueira Lira de Mi-
randa – Secretária Nacional de
Atenção à Primeira Infância;
• Stênio José de Souza Neiva Co-
elho – Desembargador e Juiz
Coordenador da Infância e Ju-
ventude do Juizado da Infância
e Juventude de Pernambuco
(TJ-PE);
• Ana Célia Cabral de Freitas – Vi-
Mesa de Abertura ce-presidente da Associação
Municipalista de Pernambuco
(AMUPE) e Prefeita de Surubim;
• Luiz Guilherme da Fonseca La-
penda – Promotor de Justiça
e Coordenador do Centro de
Apoio Operacional às Promoto-
rias de Justiça da Infância e Ju-
ventude (CAOP-IJ);
• Mallon Aragão – Vice-presiden-
te do Colegiado Estadual de
Gestores Municipais da Assis-
tência Social (COEGEMAS);
• Sileno Guedes – Secretário Esta-
dual de Desenvolvimento Social,
Criança e Juventude (SDSCJ);

• Moderadora: Cláudia Vidigal


(Representative Brazil em Ber-
nand Van Lee Foundation)
Palestrantes:
• Dra. Trícia Navarro (Juíza auxi-
Palestra Magna: Políticas Integradas pela Pri- liar da Presidência do Conselho
meira Infância Nacional de Justiça e Coordena-
dora do Pacto Nacional pela Pri-
meira Infância)
• Dra. Ivânia Ghesti (Analista Judi-
ciária, da Secretaria Especial de
Programas, Pesquisa e Gestão
Estratégica do CNJ)

62
• Moderador: Miguel Fontes (Di-
retor Executivo do Instituto
PROMUNDO)

Palestrantes:
• Rosangela Fontes (Gerente de
Proteção Social Básica da Pre-
feitura do Recife)
Mesa – PROMUNDO E Prefeitura do Recife:
experiências no Programa Primeira Infância no • Luciano Ramos (Consultor Sê-
SUAS nior de Programas PROMUN-
DO)
• Rodrigo Laro (Consultor de Pes-
quisa e Monitoramento – PRO-
MUNDO)
• Mary Young (Especialista e Pes-
quisadora Interacional sobre
Desenvolvimento Infantil e Pri-
meira Infância)

2º DIA – 28 DE ABRIL DE 2021.

• Moderador: Joelson Rodrigues


(Secretário Executivo de Assis-
tência Social/GOV.PE)
Palestrantes:
• Andresa Góes de Melo Ama-
ral (Supervisora do Programa
Criança Feliz – Município: Igua-
racy/PE)

Mesa – A importância da integração da políti- • Jéssica Richelli Santos – Diretora


cas públicas para proteção e promoção do de- de Programas e Projetos – Muni-
senvolvimento na primeira infância: Programa cípio: Petrolina/PE)
Primeira Infância no SUAS em Pernambuco. • Rosilene Bezerra de Moraes (Su-
pervisora do Programa Criança
Feliz – Município: Triunfo/PE)
• Pompéia Vilacham (Profa. da
Universidade Federal Rural de
Pernambuco e Coordenadora
do Núcleo de Investigação em
Neuropsicologia, Afetividade,
Aprendizagem e Primeira Infân-
cia – NINAPI)

63
• Moderador: Eduardo Paysan (Gerente da Criança e do Ado-
lescente / Prefeitura do Recife)
Mesa – Integração e Palestrantes:
parcerias das polí-
ticas públicas para
proteção e promo- • Flávia Veras (Coordenadora do Programa Olhar para as Dife-
ção do Desenvolvi- renças / Gov. PE)
mento na Primeira
• Ana Sofia Costa (Diretora do Programa Mãe Coruja / Gov. PE)
Infância - Experiên-
cias Intersetoriais • Cláudia Soares (Coordenadora do Programa Mãe Coruja /
de Pernambuco. Prefeitura do Recife)
• Silma Paula Queiroz (Chefe de Divisão da Criança e do Ado-
lescente)

• Moderadora: Francisca Maria de Oliveira (Especialista em


Saúde / UNICEF)
Palestrantes:
• Bernadeth Gondim (Coordenadora Estadual do Programa
Mesa - Um olhar Primeira Infância no SUAS/PCF - CDC / Gov. PE)
para as experiências
• Silvana de Matos (Coordenadora Estadual do Programa Pri-
estaduais no con-
meira Infância no SUAS/PCF - Gov. CE)
texto da pandemia –
Programa Primeira • Maria Cícera Pinheiro (Departamento Nacional de Atenção à
Infância no SUAS. Primeira Infância/SNAPI/MC)
• Macdouglas Oliveira (Presidente do CEDCA/PE e Gerente Es-
tadual de Políticas para Criança)
• Leonardo Yanez (Especialista Internacional em Primeira In-
fância)

Composição:
• Rosangela Fontes (Gerente de Proteção Social Básica da Pre-
feitura do Recife)
Mesa de encerra- • Bernadeth Gondim (Coordenadora Estadual do Programa
mento Primeira Infância no SUAS/PCF - CDC / Gov. PE)
• Joelson Rodrigues (Secretário Executivo de Assistência So-
cial/GOV.PE)
• Miguel Fontes – Diretor Executivo do Instituto PROMUNDO

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ANEXO 02: Lista de sites sobre as experiências apresentadas

Pacto Nacional pela Primeira Infância (Conse- https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pac-


lho Nacional de Justiça) to-nacional-pela-primeira-infancia/
Programa Primeira Infância no SUAS / Pro-
http://www2.recife.pe.gov.br/servico/assisten-
grama Criança Feliz (Prefeitura da Cidade do
cia-social
Recife)
https://promundo.org.br/programas/progra-
Programa P (Instituto PROMUNDO)
ma-p/programp/
Programa Mãe Coruja (Governo do Estado de
https://maecoruja.pe.gov.br/o-programa/
Pernambuco
Programa Olhar para as diferenças (Governo http://www.portais.pe.gov.br/web/sedsdh/
do Estado de Pernambuco) olhar-para-as-diferencas
Programa Mãe Coruja Recife (Prefeitura do http://www2.recife.pe.gov.br/pagina/mae-coru-
Recife) ja-recife
http://www2.recife.pe.gov.br/servico/assisten-
Projeto Geração Afeto (Prefeitura do Recife)
cia-social
https://www.iguaracy.pe.gov.br/secretarias-e-
Programa Primeira Infância no SUAS / Progra-
-orgaos/sec-desenvolvimento-e-assistencia-
ma Criança Feliz em Iguaracy/PE
-social/
Programa Primeira Infância no SUAS / Progra- https://petrolina.pe.gov.br/portal-da-transpa-
ma Criança Feliz Petrolina/PE rencia/carta-de-servicos/
Programa Primeira Infância no SUAS / Progra- https://triunfo.pe.gov.br/carta-servicos/setor/
ma Criança Feliz Triunfo/PE sede-do-programa-crianca-feliz
Núcleo de Investigação em Neuropsicologia,
Afetividade, Aprendizagem e Primeira Infância https://www.instagram.com/ninapi.ufrpe/
– NINAPI / UFRPE
http https://www.sigas.pe.gov.br/pagina/pro-
Programa Primeira Infância no SUAS / Progra-
grama-primeira-infncia-no-suasprograma-
ma Criança Feliz Pernambuco
-criana-feliz
Programa Primeira Infância no SUAS / Progra-
https://www.sps.ce.gov.br/
ma Criança Feliz Ceará
Comitê Intersetorial de Políticas Públicas para
a Primeira Infância de Pernambuco (CIPPPI/ http://www.sdscj.pe.gov.br/
PE)
http://mds.gov.br/assuntos/crianca-feliz/crian-
Programa Criança Feliz Gov. Federal
ca-feliz/conheca-o-programa

65

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