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solidariedade@marista.org.br
1
“Cores em composição na Educação Infantil”
Iniciativa da Rede Marista de Solidariedade
www.solmarista.org.br
2
Índice
Introdução 5
Cores da Educação Infantil no Brasil 8
Cores de um currículo em movimento 22
Cores do cotidiano 32
1. As linguagens 38
Quem comeu meu queijo? 40
2. O brincar 48
Construindo parcerias e significando espaços para brincar 50
3. A participação infantil 56
Ecos da roda: e com a palavra, a criança 58
4. Cuidar e educar 62
Arapitanga 64
Agradecimentos 97
Referências 98
3
Dados Internacionais de Catalogação na
Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
ISBN 978-85-322-7280-5
4
Introdução
Solidariedade Marista
A Rede Marista de Solidariedade atua
na defesa e promoção dos direitos de
crianças e adolescentes em situação de
cerias. Nos Centros Sociais Maristas as
parcerias com o Poder Público, empresas
e instituições contribuem para assegu-
vulnerabilidade, por meio de serviços, rar a proteção integral das crianças, po-
programas e projetos sociais desenvolvi- tencializam o alcance das ações e dina-
dos nos estados do Mato Grosso do Sul, mizam os projetos em desenvolvimento e
Paraná, São Paulo, Santa Catarina e no novas iniciativas.
Distrito Federal. As demandas, cenários, tendências
Para contribuir de forma comprome- e propostas para a educação infantil
tida com a construção de novos cenários são debatidos junto aos diversos atores
para as infâncias e adolescências, a pro- sociais, junto àqueles que atuam direta-
posta social e educativa da Rede contem- mente nos Centros Sociais, e com orga-
pla a formação contínua de educadores e nizações diversas, por meio de espaços
gestores, processos permanentes de qua- como a Rede Nacional Primeira Infância,
lificação das ações desenvolvidas e a par- da qual faz parte a Rede Marista de So-
ticipação na elaboração e controle social lidariedade.
das políticas públicas. A promoção e a defesa dos direitos da
Para garantir o direito à educação criança promovidas pela Rede na educa-
infantil alicerçada em propostas peda- ção infantil têm sido reconhecidas por
gógicas e sociais criteriosas, inclusivas e iniciativas como o Selo Aqui se Brinca
confluentes, setores públicos e privados (realizado pela Unilever e Instituto Si-
são mobilizados para a efetivação de par- darta). O Centro Social Marista Itaquera
5
ficou entre as cinco organizações com as resultando na geração de conhecimentos
melhores práticas do brincar do estado significativos, permeados pela escuta,
de São Paulo em 2009. pelo respeito e pelo afeto. Nesse contexto,
Dessa forma, assim como atua a Ins- a integração da família nos processos so-
tituição Marista em 78 países, a Rede cioeducativos consolida-se como pressu-
consolida sua missão de promover uma posto para o desenvolvimento da criança
sociedade mais justa e solidária, junta- em cinco dimensões: a consciência plane-
mente com a comunidade, organismos tária, a acolhida e relações solidárias, a
dos governos, da sociedade civil e ecle- religiosidade, a criação e a investigação.
sial. Está ainda alinhada às diretrizes Compartilhamos com todos e todas
da União Marista do Brasil – UMBRA- as cores da educação infantil em nossos
SIL e da Fundação Marista para a So- Centros Sociais Maristas, que se mistu-
lidariedade Internacional – FMSI, cujo ram e se complementam. O capítulo Co-
objetivo é fomentar ideias inovadoras e res da Educação Infantil no Brasil traz
articular experiências globais na defesa o panorama histórico, as conquistas e os
das crianças e dos jovens em situação de desafios vividos em nosso país no cená-
vulnerabilidade social. rio da educação das infâncias. Cores de
Nessa perspectiva, a Rede Marista um currículo em movimento apresenta
de Solidariedade sistematizou boas prá- a construção coletiva do Projeto Maris-
ticas realizadas em quatro Centros So- ta para a Educação Infantil, resultado
ciais Maristas que oferecem o Serviço de de estudos e reflexões de profissionais
Educação Infantil a, aproximadamente, da Rede Marista de Colégios e da Rede
720 crianças com até seis anos. Marista de Solidariedade. E por fim, ou
As reflexões e projetos apresentados começo, as Cores do cotidiano pintam as
nessa publicação nasceram de estudos e experiências vividas nos Centros Sociais
experiências vivenciadas por pesquisa- Maristas, a partir de temáticas funda-
dores, educadores, crianças e famílias, mentais como a participação infantil e da
6
família, o brincar, a organização de espa- novas possibilidades possam ser viven-
çotempos1 pedagógicos, a projetualidade, ciadas na educação das infâncias. Que
a formação contínua e a documentação as cores ganhem o cotidiano de outras
pedagógica. crianças e juntos possamos contribuir
Essa publicação é um convite para para um mundo mais solidário.
que outros olhares se somem a esses e Boa leitura.
7
8
9
“Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão.”
Chico Buarque e Milton Nascimento
do há vagas, muitas vezes há a superlo- Felizmente, boas notícias vêm das ex-
tação de crianças nas salas. periências exitosas que estão acontecendo
Além da ampliação do número de va- em várias regiões do Brasil. Propostas di-
gas, outros avanços estão na pauta como ferenciadas que valorizam as culturas in-
elevar o padrão de qualidade do que já fantis, envolvem as famílias e comunida-
existe, adequação dos espaços físicos des nos projetos, oportunizam às crianças
para as diversas necessidades das crian- o acesso a uma diversidade de experiên-
ças, redução de desigualdades regionais cias significativas para a aprendizagem, e
no atendimento e, ainda, efetivação de que trazem as cores da esperança.
Acolhida e
relações solidárias
A Dimensão da Acolhida e Relações
Solidárias traz para a proposta educativa
valores como a ética e a boa convivência.
“Agir pedagogicamente para a solidarie-
dade significa ir além de uma concepção
apenas de generosidade assistencialis-
ta, tuteladora do outro, e avançar pelas
vias seguras de uma solidariedade que
transforme e que modifique as relações
na perspectiva da coletividade, da coope-
3 ibidem p. 63.
Consciência planetária
O espaço educativo tem a relevante
função de formar pessoas cuidadoras de
si, do próximo e do planeta. A dimensão
da Consciência Planetária busca em pe-
4 ibidem p. 74.
Investigação
As crianças são curiosas e se encan-
tam com as descobertas que fazem sobre
o mundo e suas vivências culturais. Uti-
lizando recursos simples, observam ex-
ploram, experimentam, levantam hipó-
teses, projetam ideias e ainda utilizam
inúmeras linguagens para construir sig-
nificados. “Por isso, as crianças necessi-
tam de espaços de diálogo, de trocas de
experiências, de questionamento, de dú-
vidas, ou seja, uma sala de aula transfor-
mada em uma comunidade de investiga-
ção, cuja essência seja o diálogo” 7.
Ao serem convidadas a investigar e
experimentar, as crianças aprendem com
sentido. Precisamos oferecer a elas pos-
sibilidades interessantes de pesquisa e
provocá-las a expressar seus pensamen-
tos e hipóteses em linguagens diversas.
7 ibidem p. 92.
8 ibidem p. 80.
34 Cores do cotidiano
investigando, refletindo, pesquisando, equipe, na apresentação
construindo, discutindo e intervindo”. dos relatos. As imagens
Portanto, selecionamos sete projetos dos complementam e ofere-
Centros Sociais Maristas para contar como cem a possibilidade de
se deu cada percurso, seu nascimento, conhecer um pouco mais de cada Centro
desenvolvimento e resultados, buscando Social Marista e ver os nossos pequenos
trazer o caminho reflexivo feito por cada cientistas, artistas e arteiros em ação.
Cores do cotidiano 35
Índice dos projetos
1. As linguagens 4. Cuidar e
Quem comeu educar
meu queijo? 42
Arapitanga 66
3. A participação
2. O brincar
infantil
Construindo
parcerias e Ecos da roda:
significando e com a palavra,
espaços para a criança 60
brincar 52
36
6. Formação
contínua dos
educadores e
documentação
pedagógica
Formação: entre a
urdidura e a trama 86
5. A organização
do espaçotempo 7. Participação
pedagógico das famílias
Cores e alegria nos Participação:
espaçotempos de criando com
aprendizagem 74 amor 95
37
1. As linguagens
“O meu olhar é nítido como um girassol.
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto (...)
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo.”
Fernando Pessoa
38 Cores do cotidiano
perceber e entender a totalidade e a rela- saudáveis, do autocuidado, da natureza
ção entre as linguagens. e da cultura, dos sabores, aromas, tex-
Entre as possibilidades destacamos o turas, sensações, das brincadeiras, das
universo de descoberta das linguagens: danças, do faz-de-conta, da imaginação,
artística, verbal, corporal, dos hábitos dos jogos, entre outras.
As linguagens 39
Quem comeu meu queijo?9
“Com certeza, a liberdade e a
poesia a gente aprende com as crianças.”
Manoel de Barros
40 Cores do cotidiano
Quem comeu meu queijo? 41
Certo dia, o grupo estava brincando
no parque, quando Luiza, de dois anos,
foi até a biblioteca buscar o livro Cadê11 .
Ela concentrou as crianças à sua volta
para contar a história e todos começa-
ram a ouvi-la atentamente, esquecendo-
se dos brinquedos do parque.
Nesse momento os educadores perce-
beram que ali estava nascendo um proje-
to, já que a curiosidade das crianças pe-
las situações envolvendo animais no livro
provocou no grupo muitos comentários.
Os educadores deixaram fluir a conversa
e a curiosidade, escutaram e anotaram
o que poderia ser interessante para as
crianças. Com as anotações, se reuniram
para planejar o roteiro preliminar do pro-
jeto, com o cuidado de garantir ativida-
des significativas e lúdicas para crianças
daquela faixa etária. Sabiam que o rotei-
ro teria imprevistos, mudanças e outros
elementos trazidos pelas crianças no de-
correr das atividades, mas sabiam tam-
bém que o planejamento daria segurança
e intencionalidade para o trabalho.
O livro Cadê traz um jogo de palavras
42 Cores do cotidiano
com animais e objetos, o que possibilita
brincar com a imaginação.
Para criar clima de mistério, as edu-
cadoras escureceram a sala e contaram a
história com uma lanterna iluminando o
livro. Em seguida, pesquisaram com as
crianças na internet e em outros livros
as características de cada personagem.
A música Rato12 foi a trilha sonora do
projeto. As crianças assistiram ao clipe da
mesma dupla, dramatizaram e cantaram
utilizando instrumentos musicais com su-
catas. A cada animal apresentado na histó-
ria, como o rato, a onça e o gato, as crianças
lembravam outras músicas, imitavam e
dançavam.
O ateliê foi previamente preparado
com materiais reutilizáveis, tintas e pa-
péis e lá, as crianças criaram com os edu-
cadores alguns ratinhos. Ao observar e
ajudar na confecção experimentaram di-
ferentes texturas, cores e cheiros dos ma-
teriais. Algumas crianças não gostaram
de pegar na palha de aço, utilizada para
pintar as embalagens. Preferiram espon-
jas ou a própria mão. As educadoras insis-
44 Cores do cotidiano
Quem comeu meu queijo? 45
A onça despertou muita curiosidade do que se tivesse sido preparado pelo
e surpresa. Com a ajuda das educadoras, adulto.
as crianças olharam na Internet ima- As fotografias e os comentários mais
gens de onças na floresta. As educadoras interessantes foram registrados pelos
imprimiram fotografias de animais e le- educadores no portifólio da turma. Os
varam para a sala para conversar sobre registros escritos, vídeos e fotografias
as imagens e maquiar as crianças inspi- mostram as interações entre as crianças
rando-se nas cores. e dão pistas de temas interessantes para
Era difícil encontrar o grupo em sua
sala de referência, porque as possibilida-
des encontradas nos espaços coletivos para
desenvolver o projeto foram inúmeras.
Desenvolver projetos com crianças
muito pequenas é um desafio, porque
elas exigem mais atenção dos adultos e
os grupos geralmente são numerosos. O
caminho encontrado pelas educadoras foi
dividir as crianças em pequenos grupos,
com atividades diferenciadas em alguns
momentos do dia.
As crianças ajudaram a registrar o
percurso do projeto. Colaram nos painéis
da sala suas próprias fotos de ratinhos e
as figuras do livro. As crianças participa-
ram, portanto, da construção do espaço
da sala, com seus desenhos e suas produ-
ções, muito mais significativas para elas
46 Cores do cotidiano
novos projetos. convidaram a ir até o painel que tem a
Os espaços coletivos também assumi- ilustração da história. Junior, de dois
ram papel educativo. O ateliê, por exem- anos, nos disse: - Esse é o Cadê, do
plo, favoreceu a experimentação e a es- Guto. Perguntamos quem era o Guto e
colha das crianças com a disponibilidade nos disseram que era quem escreveu e
de materiais como pedrinhas, palha de desenhou, mostrando uma foto na con-
aço, tampinhas, tecidos, canudos, papéis tracapa do livro. A pedidos, repetimos
e colas, tudo ao alcance das crianças. a história e, antes mesmo de virarmos
A construção dos espaços contou com as páginas, nos diziam o que acontece-
a participação de alguns familiares na ria. Imitavam os animais e cantavam as
confecção e coleta de materiais. Após a músicas relacionadas ao tema. Ficamos
apresentação do Projeto Quem comeu muito curiosas com os processos educa-
meu queijo? para as famílias, elas ilus- tivos que ali ocorreram e constatamos
traram o trabalho com produção artísti- que a criança pequena é capaz de in-
ca. Gilda, mãe do João Victor, desenhou terpretar e dar sentido à vida por meio
um menino sorrindo, pois percebe que de suas experiências, age sobre sua re-
seu filho é muito feliz no Centro Social alidade, faz escolhas e é protagonista”,
Marista. Alexsandra, mãe do Eduardo, observam Lais, Thayza e Vanessa, as
fez o rato, personagem do projeto. Ali- educadoras do grupo. O projeto acabará
ne, mãe da Emilly, preferiu escrever que quando elas perceberem novos interes-
amava sua filha. Em seguida as imagens ses das crianças.
foram coladas nos vidros da sala, em ex- Com a criatividade, a equipe percebeu
posição aos pais e crianças. que a aprendizagem acontece quando o
“Queremos o Guto” é a frase mais educador seleciona situações interessan-
ouvida na roda de histórias, quando se tes para a criança aprender os conheci-
referem ao autor do livro Cadê: mentos culturalmente construídos para
“Chegamos à sala e as crianças nos compreender e representar a realidade.
48 Cores do cotidiano
e outros materiais não-estrutu-
rados permitem a exploração
aberta e a invenção de novas for-
mas de brincar, além de promo-
ver a integração entre as crian-
ças. A mesma atenção deve ser
dada à seleção de brinquedos,
além de materiais para a crian-
ça confeccionar os próprios brin-
quedos. É importante verificar
se os brinquedos e materiais não
oferecem perigo e são adequados
para cada momento da vida da
criança.
Há de se considerar a preparação de gindo e ampliando as possibilidades de
espaços e materiais para enriquecer as brincar.
atividades. A surpresa está na simplici- Na brincadeira não há limites. A
dade, na improvisação de brincadeiras criança com deficiência também partilha,
em lugares inusitados, como cabanas, aprende, interage e amplia seu repertório
casa de árvore, embaixo de brinquedos de vivências por meio do brincar, desde
do parque, no escuro e até na chuva. que os ritmos individuais sejam respei-
Prestar atenção nas ideias e propostas de tados. São oportunidades para construir
brincadeiras vindas das crianças ajuda a relações afetivas e aprender, desde cedo,
entender como elas gostam de brincar e a não discriminar. Afinal, brincar se
auxiliam que os educadores se envolvam aprende brincando.
nas brincadeiras das crianças, intera-
O brincar 49
Construindo parcerias e significando
espaços para brincar13
“Quando a estrela acende ninguém mais pode apagar
Quando a gente cresce tem um mundo pra ganhar
Brincar, dançar, saltar, correr
Meu Deus do céu onde é que eu vim parar?”
Paulo Tatit
50 Cores do cotidiano
crianças e educadores por meio de ati-
vidades integradas é imprescindí-
vel para transmitir segurança à
criança pequena e à sua fa-
mília. A criança terá que
aprender a conviver
com a ausência física
de seus responsáveis
por um longo período do
dia num espaço, até então,
desconhecido para ela. As pri-
meiras semanas da acolhida são
momentos preciosos para constru-
ções positivas de integração com esses
espaços e os demais sujeitos. implantação do Centro
Oportunizar o exercício da materni- Social Marista, a equipe
dade e paternidade no ambiente coleti- planejou atividades lú-
vo é demonstrar respeito à criança. Para dicas envolvendo as famílias e as
isso, podemos criar momentos de encon- crianças com foco no brincar, com os ob-
tros e partilha de conhecimento sobre a jetivos de:
criança com foco no cuidado e educação » Estabelecer uma relação de con-
compartilhados entre a família e o espa- fiança no que diz respeito ao atendimento
ço educativo. da criança na unidade por meio da vivên-
As famílias também trazem expec- cia da rotina, conhecimento dos espaços
tativas quanto ao atendimento e preci- e diálogo com educadoras;
sam ser ouvidas. Assim, no intuito de » Discutir com a família sobre a im-
estabelecer um ambiente de parceria na portância da interação e do brincar no
52 Cores do cotidiano
que a cerca, a criança brinca. Brinca com
seu corpo, com o corpo da mãe, com ob-
jetos ao seu redor, com o ambiente, com
a natureza... Tudo é brinquedo. Assim,
a semana de acolhida foi planejada para
oferecer momentos de criação de brin-
quedos.
No primeiro momento, a equipe ficou
receosa com a frequência dos responsá-
veis nos encontros, mas a possibilidade
da participação de um membro da fa-
mília, independentemente do grau de
parentesco, possibilitou a frequência de
90% dos responsáveis.
Foram promovidas atividades com
as famílias relacionadas ao brincar utili-
zando materiais recicláveis, contribuin-
do com a construção de memórias afeti-
vas, como:
» Dinâmicas e leituras para a sen-
sibilização relacionadas a cantigas de
roda, brincadeiras tradicionais e regio-
nais, contação de histórias, brincadeiras
com bebês;
» Partilha de experiências entre os
responsáveis e os educadores;
» Confecção de mural, com as men-
54 Cores do cotidiano
lizados em cada sala para as crianças e
familiares apreciarem e reconhecerem
as produções culturais.
Com o projeto, educadores obtiveram
informações sobre o contexto em que as
famílias estão inseridas, aproximando a
proposta educativa da realidade local.
O projeto foi tão bem aceito pela co-
munidade que foi integrado à proposta
socioeducativa do Centro Social Marista
Irmão Justino.
As famílias continuam participan-
do por meio do projeto “Café Pedagógico
- Oficina para Todos” em atividades de
arte e cultura. Nos encontros são as pró-
prias mães que ensinam as técnicas de
artesanato ao grupo, e alguns produtos
são vendidos na Feira de Socioeconomia
Solidária.
A experiência mostrou que o fortale-
cimento de vínculos com as famílias se
constrói no dia a dia. Dessa forma, fa-
mílias, crianças e profissionais, por
meio do protagonismo e da partici-
pação, vêm constituindo o que cha-
mamos de comunidade educativa.
56 Cores do cotidiano
A participação infantil 57
Ecos da roda:
e com a palavra, a criança!14
58 Cores do cotidiano
Ecos da roda: e com a palavra, a criança! 59
dores do Centro Social Marista Robru à
reflexão em relação a concepções adul-
tocêntricas que impedem o exercício do
protagonismo infantil e que aconteciam
no dia a dia.
A princípio a equipe optou por ana-
lisar as diferentes rodas que realizavam
com as crianças. Os educadores obser-
varam, filmaram e escreveram como
conduziam as rodas. Ao avaliar os regis-
tros, a equipe se surpreendeu ao perce-
ber que as crianças pouco participavam.
Por exemplo, nas rodas de planejamen-
to, quando apresentavam as figuras
representando os momentos da rotina
diária, comunicando às crianças o que
seria feito no dia. As crianças eram ape-
nas ouvintes.
Diante da constatação, decidiram dar encontros de formação, complementados
novos contornos a essa atividade, para por pesquisas em sites e livros, e pelo es-
saber cada vez mais a respeito das crian- tudo da Convenção sobre os Direitos da
ças, aprender sobre a participação infan- Criança, fundamental para entender a
til e aprimorar as rodas de escuta. Seria legislação que garante o direito à parti-
preciso mudar o jeito de mediar para le- cipação.
gitimar o protagonismo das crianças. Relatos dos episódios cotidianos,
Metodologias de participação infantil filmagens e fotografias foram utiliza-
e a Pedagogia da Escuta foram temas dos dos para criar estratégias para outras
60 Cores do cotidiano
formas de escutar a criança e também
observar se elas sabem se escutar e se
comunicar.
Depois da formação, os educado-
res perceberam que situações do dia a
dia, como brigas, mordidas e disputas
de brinquedos, são bons assuntos a se-
rem levados para a roda. Quando não
há assunto emergente,
um objeto, uma fotogra-
fia ou uma história tam-
bém disparam conversas
que ensinam a se comunicar.
São exercícios de diálogo que
devem ser aprendidos para viver
em sociedade. Porém, considerando
a pouca idade das crianças, como
qualquer ato educativo, o resultado
é lento e há avanços e retrocessos
na convivência.
Com a experiência, os educado-
res entenderam que a boa media-
ção está no respeito e na escuta
sensível, por meio da conversa,
do desenho, do olhar, do tocar e
de outros sinais não ditos que
estão presentes nas relações.
62 Cores do cotidiano
tativas de explorar movimentos no vimento da autonomia, o autocuidado
mundo”(2009, p.66). do saber cultural das crianças. Cuidar e
educar é desenvolver na criança o senti-
Neste processo, as situações signifi- mento de ser amado e protegido. A cons-
cativas de aprendizagem não separam trução da autonomia passa pela segu-
os aspectos intelectuais dos sentimentos, rança que a criança adquire quando sabe
as necessidades primárias do desenvol- que tem com quem contar.
Cuidar e educar 63
Arapitanga15
Artigo I
“Fica decretado que agora vale a verdade,
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.”
Artigo II
“Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.”
Thiago de Mello
64 Cores do cotidiano
Arapitanga 65
Arapitanga, em tupi-guarani, signifi- centradas nas atividades e estão mais
ca papagaio vermelho e é uma homena- equilibradas emocionalmente.
gem à cultura das crianças indígenas fei- Outra ação do Arapitanga é o Projeto
ta pela equipe que, ao conceber o projeto, Pedagógico Personalizado – PPP, criado
pesquisava sobre as origens indígenas do para aquelas crianças que apresentam
bairro de Itaquera. situações mais complexas de violações
Segunda-feira era o dia mais agitado dos direitos ou necessidades educativas
e complicado no Centro Social Marista especiais. O PPP tem atividades pedagó-
Itaquera. Após dois dias em casa, algu- gicas diferenciadas para cada criança e
mas crianças voltavam agitadas e tristes. inclui sua família, que é orientada e en-
Quando os educadores perceberam que caminhada para serviços da rede de pro-
poderiam substituir lembranças tristes teção, quando a situação é mais grave.
por momentos alegres, criaram a Segun- Pequenas ações, como o exercício de
da Mais, para acolher com brincadeira e planejar o futuro, promovem resiliência.
diversão, após o final de semana agitado. A mudança da faixa-etária do atendi-
O que já acontecia todo dia teria um ca- mento deixou as famílias preocupadas
ráter coletivo e diferenciado com apre- com a organização da vida da criança,
sentações teatrais, culinária, contação de que anteriormente ficaria até os seis
histórias, passeios e criação de ambientes anos no Centro Social Marista e agora,
e personagens. Um momento forte desen- ao completar três anos de idade, irá para
volvido no projeto foi a visita da persona- a Escola Municipal de Educação Infan-
gem Vovó Chiquinha, que passou a fazer til – EMEI, onde passará apenas meio
parte do grupo, ensinando novas brinca- período do dia. O Rito de Passagem nas-
deiras, músicas e contando histórias. ceu com o intuito de preparar a saída da
A equipe comemora observando que, criança e da família. Elas visitam uma
acolhidas e fortalecidas em grupo, as das escolas do bairro, entrevistam pro-
crianças tornaram-se mais alegres, con- fessores e conversam sobre as mudanças
66 Cores do cotidiano
que terão em suas vidas. O grande desa-
fio do projeto é promover a aproximação
das duas instituições, para que a criança
se adapte e sinta-se segura à nova esco-
la. A atuação junto às famílias acontece
por meio de encontros formativos com os
educadores, construção do projeto de vida
e acompanhamento de cada criança.
O calendário de atividades festivas en-
volve as famílias, educadores e crianças.
Atividades como o Dia da Beleza, festas
para os aniversariantes do mês, celebra-
ções de conquistas individuais como, por blicas pelas quais ainda lutamos.
exemplo, quando um bebê começa a andar; Percebemos que algumas crianças em
e coletivas, como, a chegada de um brin- situação de vulnerabilidade superaram
quedo novo para o parque, dão entusias- traumas e aumentaram a autonomia na
mo, bom humor, sentimento de pertença intervenção da realidade.
ao grupo e elevam a autoestima. Algumas Os resultados percebidos na docu-
crianças têm no Centro Social a primeira mentação pedagógica e em depoimentos
festa de aniversário. São caminhos encon- das famílias demonstram que desenvol-
trados para comemorar as pequenas ale- ver resiliência desde a primeira infância
grias que dão sentido à vida. pode ser o início de uma grande transfor-
O grande desafio do Arapitanga é mação social.
ajudar as famílias na causa dos proble- O Centro Social Marista Itaquera
mas, mas, para tanto, é necessário mais atende 164 crianças até três anos de ida-
que intervenções educativas. Ele depen- de, e tem como princípios a proteção inte-
de da articulação de outras políticas pú- gral e a garantia dos direitos da criança.
Arapitanga 67
5. A organização do
espaçotempo pedagógico
“Depois de acordar, mamar
Depois de mamar, sorrir
Depois de sorrir, cantar
Depois de cantar, comer
Depois de comer, brincar
Depois de brincar, (...)
Depois de ninar, dormir
Depois de dormir, sonhar.”
Sandra Peres, Paulo Tatit e Edith Derdyk
68 Cores do cotidiano
Nem sempre podemos contar com »» Promoção da autonomia: brinquedos
muitos recursos para construir espaços à altura das crianças, móbiles inte-
para a educação infantil. Porém há al- rativos, self service para as crianças
ternativas para torná-lo rico, funcional, maiores; espaço amplo para circula-
seguro e aconchegante. ção e exploração dos bebês;
Alguns aspectos merecem destaque
na preparação dos espaços: »» Limpeza e organização;
»» Permitir as intera-
ções, respeitar os tempos
individuais e a criação de
70 Cores do cotidiano
roteiros e rotinas de aprendizagem
com a participação da criança;
72 Cores do cotidiano
organização dos espaços e tempos, por en- as atividades eram construídos apenas
tender que são indissociáveis e permitem pelos adultos e colocados em locais onde
situações de aprendizagem significativas. as próprias crianças não tinham acesso
Nessa análise perceberam, por exem- às suas produções.
plo, que os murais onde ficavam expostas As salas repletas de mesas impediam
74 Cores do cotidiano
transformou-se em mudança das práticas. etária. Um desafio foi entender como os
A formação possibilitou a descoberta bebês poderiam participar e fazer suas
das múltiplas habilidades dos educado- escolhas. Apesar de eles não dominarem
res, ampliou a aceitação do novo e o res- totalmente a linguagem verbal, se comu-
peito aos saberes das crianças. nicam de outras formas e o tempo de in-
Houve muita preocupação em es- teresse deles é mais curto.
tudar as características de cada faixa- A exploração de materiais também
76 Cores do cotidiano
da programação diária do tempo. Nas ro- espaços de aprendizagem, os educadores
das de conversa, logo pela manhã, constro- perceberam que a organização dos tem-
em junto dos educadores o planejamento pos e materiais melhorou a interação
do que farão ao longo do dia, diante das entre as crianças porque aumentou as
opções oferecidas por seus educadores. possibilidades de escolher, criar, experi-
O projeto tem algumas famílias como mentar, partilhar materiais e dialogar.
parceiras na construção de brinquedos, A compreensão sobre as mudanças no
almofadas, pintura de alguns murais e ta- espaço e a retirada de alguns elementos,
petes para os espaços. Nem todas disponi- exigiu abertura para novos arranjos.
bilizam de tempo para participar, mas per- A adesão da equipe de profissionais,
cebemos que aprovaram as mudanças. das crianças e das famílias nas construções
Durante as oficinas de confecção de e cuidado foi essencial para criar espaços
materiais, pais, mães, avós e tias com- funcionais, alinhados à crença de que neles
partilharam suas habilidades e trocaram as crianças produzem cultura e vivem suas
informações sobre a educação dos filhos. infâncias de forma criativa e dinâmica.
Nesses momentos as famílias foram in- A criatividade do grupo na reutiliza-
centivadas a participar dos demais pro- ção de materiais reforçou o cuidado com
jetos desenvolvidos no Centro Social o meio ambiente. Pneus, embalagens,
Marista, como cursos de artesanato, or- garrafas pet e retalhos de papel foram
ganização das festas de aniversário e até utilizados para construção de áreas bo-
mesmo a criação de uma horta. Com a nitas, seguras e aconchegantes.
parceria do Serviço Social do Comércio Os principais desafios do projeto fo-
(SESC), que disponibilizou um agrôno- ram assegurar a participação de todos
mo, as famílias aprenderam a fazer a e garantir tempo para as confecções de
horta e a formação se estendeu às outras materiais. O grande aprendizado foi re-
unidades de educação infantil da região. conhecer a criança como sujeito da pro-
Com o projeto de revitalização dos posta socioeducativa.
78 Cores do cotidiano
o constante diálogo entre a teoria e a de educar e cuidar de crianças peque-
prática. nas. Nesta perspectiva, estratégias de
O grande desafio das instituições tem formação continuada, como oficinas,
sido garantir tempo para a formação e, grupos de estudo, debates on-line, círcu-
quando há, que os encaminhamentos da los de leitura e outras formas de organi-
rotina ou questões burocráticas não ocu- zação que privilegiam o saber construí-
pem o lugar de reflexões e estudos. do a partir da experiência, fortalecem o
A formação inicial recebida na gra- exercício da profissionalidade e o traba-
duação não dá conta da complexidade lho coletivo.
80 Cores do cotidiano
Formação contínua dos educadores e documentação pedagógica 81
A documentação é uma forma de pen- A observação do material coletado e sele-
sar, observar, registrar, discutir, experi- cionado nos auxilia a interpretar, conhe-
mentar e projetar. Ela é um elemento cer, comunicar e avaliar o trabalho.
para criar memória, recuperar episódios O portfólio é um instrumento rico por
e acontecimentos, uma estrada para dar ampliar a visão detalhada da aprendiza-
aos adultos e às crianças historicidade e gem. Permite a avaliação contínua por
singularidade. retratar o percurso construído e o con-
O educador, lidando com a tensão texto educativo. É um modo de pensar,
entre a teoria e a prática, atua como criar memória visível e replanejar. Ain-
pesquisador ao olhar para seus regis- da uma estratégia para democratizar o
tros com distanciamento. Ao socializar conhecimento construído por criar a in-
a documentação com colegas ou com o terlocução com a criança, os profissionais
coordenador pedagógico, confronta suas e a família.
crenças, negocia e ainda assume a res- A documentação pedagógica subsidia
ponsabilidade e a autoria. Para tanto, a avaliação da proposta educativa, enten-
é fundamental o papel do coordenador dida aqui como prática de investigação
pedagógico para mediar o trabalho de que contribui para o diálogo que se esta-
leitura e escrita junto aos educadores e belece entre a teoria e o conhecimento do
a qualidade da documentação. cotidiano. A avaliação nessa perspectiva,
Os diários de bordo ou diários de cam- se realiza para:
po, com as narrativas dos acontecimentos
significativos, assim como as produções »» Conhecer a criança e suas especifici-
das crianças, as filmagens, as entrevis- dades, por meio de uma observação e
tas, os relatórios fotográficos e portfólios, de uma escuta atenta;
são instrumentos que se complementam
e constroem a documentação pedagógica. »» Registrar as experiências vividas pe-
82 Cores do cotidiano
»» Observar e refletir o cotidiano - ges-
tão, práticas educativas, condições
materiais, espaços e tempos;
84 Cores do cotidiano
Infantil?, o que precisa ser considerado acontece a reunião com a equipe de edu-
valorizando o brincar e as culturas in- cadores e coordenação pedagógica para
fantis, sem escolarizar a infância?. Das estudar a pedagogia de projetos, o currí-
indagações vindas dos educadores nasce- culo, a avaliação formativa, a mediação
ram os temas estudados nos encontros e a documentação. Na realização dos
formativos, tendo a prática como encontros, elabora-se um dossiê que
ponto de partida para as refle- serve de referência para a refle-
xões. xão de todas as temáticas
O projeto inicia-se abordadas.
anualmente no mês Ainda acontece
de janeiro, com a acompanhamen-
Semana de For- to pedagógico nos
mação que envolve planejamentos in-
todos os funcioná- dividuais e coleti-
rios para planeja- vos, possibilitando
mento, integração ao educador orien-
e aproximação de tação e avaliação
conceitos. contínua do traba-
Uma vez por lho.
mês todos voltam A formação se
a se reunir para estende às famí-
avaliar o trabalho lias das crianças,
e estudar temá- por meio de reuniões
ticas importan- mensais para dis-
tes relacionadas cutir problemas co-
à prática social. munitários e so-
Semanalmente ciais.
86 Cores do cotidiano
como a observação, a escuta sensível, o Diários
exercício da escrita e interpretação de
textos. São narrativas escritas do que acon-
No dia a dia, são confeccionados os tece em sala, com reflexões sobre o plane-
registros que subsidiam a coleta de da- jamento e as necessidades das crianças.
dos para a documentação: As informações são complementadas
por registros sonoros, vídeos e fotogra-
Notas fias.
Em seguida, os materiais coletados
São anotações curtas feitas pelo são selecionados, analisados e interpre-
educador durante as atividades com a tados para a produção de portfólios.
criança e, ainda, perguntas, dúvidas,
conteúdos a pesquisar, que orientam os Portfólio
próximos planejamentos.
Os acontecimentos vividos com as
Pautas de observação crianças são registrados nesse dossiê
que fica à disposição das crianças, fa-
Direcionam o olhar do observador a mílias e comunidade para leitura, re-
partir de uma lista de “saberes e fazeres” flexão e conhecimento do trabalho de-
para a observação. O coordenador peda- senvolvido.
gógico auxilia os educadores a preparar Para não ser meramente descritivo, é
a pauta para cada turma e a preenchê-la escrito com muita poesia e sensibilidade.
com observações, análises e proposições. Observações referentes às crianças são
As pautas também são utilizadas nas interpretadas, percursos individuais re-
reuniões de formação, para orientar o gistrados e indicadores de aprendizagem
olhar e ampliar os elementos de análise. apontados.
88 Cores do cotidiano
criança deixar o Centro Social Marista, o
Diário material será entregue à sua família. O
“No primeiro dia a experiência com diário das crianças é um trabalho a mais
bexiga cheia d’água despertou muito e a jornada diária dos educadores é curta
interesse. Dirigimo-nos até a torneira para escrever tanto. O receio de perder
que fica em frente a nossa sala para
a qualidade em algum aspecto do tra-
encher as bexigas. Depois de cheias,
tratamos de tirar nossos calçados para balho existe, mas há a vontade coletiva
que isso não interferisse no andamen- de alcançar a superação. Em caráter ex-
to da proposta. perimental este projeto acontecerá com
O espaço que escolhemos foi atrás apenas uma turma de crianças de quatro
do prédio, um espaço propício para
e cinco anos. A educadora da sala está
ser molhado. Lá aconteceu de tudo, jo-
gamos bexiga no chão, bexiga no alto
com o grupo há três anos consecutivos e
e, claro, saímos todos molhados de terá o desafio de resgatar acontecimen-
lá, uma boa experiência para um dia tos passados para iniciar a construção do
de sol e calor do verão paulista. Pen- material de registro.
so que devemos estudar mais sobre
projetos para os pequenos, essa ativi-
dade me mostrou que com materiais
simples as possibilidades das crianças
aprenderem e experimentarem é mui-
to grande.”19
90 Cores do cotidiano
Depoimento Registros individuais
92 Cores do cotidiano
Participação: criando com amor24
94 Cores do cotidiano
A metodologia de trabalho é desen- tações artísticas e na organização dos
volvida de forma participativa, com ro- espaços. Mesmo os familiares que não
das de conversa, confecção de brinque- têm tempo de participar das atividades
dos, organização de eventos e trabalhos programadas, marcam presença nos mo-
voluntários, mediados por educadores e mentos de entrada e de saída das crian-
pela assistente social. ças e são convidados a celebrar nos en-
Atitudes empreendedoras para ge- contros festivos.
ração de renda são estimuladas durante Superar o conceito de tutela trazido
os encontros, com o encaminhamento de por muitos e ter paciência para ver os
alguns familiares para cursos e vagas de resultados ainda são desafios encontra-
empregos. Para esse grupo, foram ofereci- dos pela comunidade educativa, que no
das oportunidades para que realizassem início teve que rever a função do Centro
cursos no Fundo Social de Solidarieda- Social Marista e discutir os preconceitos
de. Com isso algumas mães se tornaram sobre a abertura para a participação da
agentes multiplicadoras, passaram a rea- família.
lizar oficinas de customização de roupas, Atualmente já existem algumas con-
técnicas no tear e artesanato em telhas, quistas quando se encontra um pai lendo
multiplicando o aprendizado no Centro uma história infantil para as crianças e
Social e incentivando outros familiares a outro confeccionando brinquedos com su-
participar. catas. Vivências que aproximam os fami-
O grupo que iniciou com a acolhida liares das singularidades da infância.
no ateliê passou a participar de outros O grande resultado do projeto é ob-
projetos e atualmente se encontra forta- servar algumas famílias participando
lecido e com autonomia. com sentimento de corresponsabilidade
O potencial criativo dos familiares na construção de redes de cuidado, capa-
também é valorizado na programação zes de dar respostas às diversas necessi-
de festas para as crianças, em apresen- dades das crianças.
96
Agradecimentos
Dedicamos esta publicação a todas as crianças, famílias e educadores do Centro
Social Marista Robru, Centro Social Marista Itaquera, Centro Social Marista Irmão
Justino e Centro Social Marista Lar Feliz que, com seus desejos, saberes, culturas e
utopias, constroem o cotidiano da educação infantil com presença, escuta, solidarie-
dade e esperança.
Agradecemos aos Irmãos e colaboradores da Rede Marista de Solidariedade e Rede
Marista de Colégios pelo compromisso com a formação dos profissionais e a constru-
ção de práticas diferenciadas para a educação das infâncias.
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