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3 UNIDADE 1 - Introdução
7 UNIDADE 2 - Alfabetização nas séries iniciais
18 UNIDADE 3 - A fala, a leitura e a escrita
21 UNIDADE 4 - A leitura na escola: práticas e competências
29 UNIDADE 5 - Os gêneros literários
38 UNIDADE 6 - Introdução às dificuldades de leitura e escrita
47 REFERÊNCIAS

SUMÁRIO
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UNIDADE 1 - Introdução

A Educação infantil e séries iniciais do en- do cidadão, pois de acordo com a Lei de Dire-
sino fundamental aqui entendido como 0 a 6 trizes e Bases da Educação Nacional, em seu
anos (creche, pré-escola) e 1º ao 5º ano é fun- art. 32, o pleno domínio da leitura, da escrita
damentada no desenvolvimento cognitivo, e do cálculo constituem meios para o desen-
físico, afetivo, ético e estético dos pequenos volvimento da capacidade de aprender e de
discentes que ali se encontram e, igualmente, se relacionar no meio social e político. É prio-
a formação dos docentes que vão trabalhar ridade oferecê-lo a toda população brasileira.
com esses sujeitos precisa ser ampla.
A educação infantil é um direito de toda
Por acreditarmos, assim como vários au- criança e uma obrigação do Estado (art. 208,
tores que serão utilizados ao longo desta IV da Constituição Federal). A criança não está
apostila, que a integração entre a teoria e a obrigada a frequentar uma instituição de
prática é de elevada importância para o su- educação infantil, mas sempre que sua famí-
cesso no cotidiano do seu trabalho, formando lia deseje ou necessite, o Poder Público tem o
no professor uma consciência crítico-social, dever de atendê-la. Em vista daquele direito e
vamos ao longo das apostilas do curso utilizar dos efeitos positivos da educação infantil so-
em abundância das metodologias de ensino, bre o desenvolvimento e a aprendizagem das
não esquecendo é claro, das teorias que em- crianças, já constatado por muitas pesquisas,
basam cada uma delas. o atendimento de qualquer criança num esta-
belecimento de educação infantil é uma das
O planejamento conjunto e interdisciplinar
mais sábias estratégias de desenvolvimento
das aulas, a definição dos objetivos, o modo
humano, de formação da inteligência e da
como caminhar (apresentação dos conteú-
personalidade, com reflexos positivos sobre
dos) de maneira agradável, com alegria, com
todo o processo de aprendizagem posterior.
riqueza e motivar os alunos rumo ao conheci-
Por isso, no mundo inteiro, esse segmento da
mento, considerando o contexto onde estão
educação vem crescendo significativamente
inseridos são pontos que o professor deve le-
e vem sendo recomendado por organismos e
var sempre em consideração.
conferências internacionais.
A Constituição Federal Brasileira de 1988;
A educação infantil é a primeira eta-
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
cional (LDB nº 9394/96), o Plano Nacional de pa da Educação Básica. Ela estabelece
Educação (PNE – Lei nº 10.172/01), as Diretri- as bases da personalidade humana, da
zes Curriculares Nacionais (DCN) do Curso de inteligência, da vida emocional, da socia-
Pedagogia, os Parâmetros Curriculares Na- lização. As primeiras experiências da vida
cionais (PCN) e outros documentos afins se- são as que marcam mais profundamen-
rão os balizadores dos nossos estudos, como te a pessoa. Quando positivas, tendem
podemos constatar nas redações abaixo: a reforçar, ao longo da vida, as atitudes
De acordo com a Constituição Brasileira, o de autoconfiança, de cooperação, soli-
ensino fundamental é obrigatório e gratuito. dariedade, responsabilidade. As ciências
O art. 208 preconiza a garantia de sua oferta, que se debruçaram sobre a criança nos
inclusive para todos os que a ele não tiveram últimos cinquenta anos, investigando
acesso na idade própria. É básico na formação como se processa o seu desenvolvimento,
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coincidem em afirmar a importância dos Educação e cuidados constituem um todo


primeiros anos de vida para o desenvol- indivisível para crianças indivisíveis, num
vimento e aprendizagem posteriores. E processo de desenvolvimento marcado
têm oferecido grande suporte para a edu- por etapas ou estágios em que as ruptu-
cação formular seus propósitos e atuação ras são bases e possibilidades para a se-
a partir do nascimento. A pedagogia mes- quência (PNE/01).
ma vem acumulando considerável experi-
Segundo a Câmara de Educação Básica
ência e reflexão sobre sua prática nesse
(BRASIL, 1998), as Diretrizes Curriculares
campo e definindo os procedimentos mais
Nacionais são o conjunto de definições
adequados para oferecer às crianças in-
doutrinárias sobre princípios, fundamen-
teressantes, desafiantes e enriquecedo-
tos e procedimentos na Educação Básica,
ras oportunidades de desenvolvimento e
expressas pela Câmara de Educação Bási-
aprendizagem. A educação infantil inau-
ca do Conselho Nacional de Educação, que
gura a educação da pessoa (PNE/01).
orientarão as escolas brasileiras dos siste-
A formação dos profissionais da edu- mas de ensino, na organização, na articu-
cação infantil merecerá uma atenção es- lação, no desenvolvimento e na avaliação
pecial, dada a relevância de sua atuação de suas propostas pedagógicas.
como mediadores no processo de desen-
Para orientar as práticas educacionais
volvimento e aprendizagem. A qualifica-
em nosso país, respeitando as variedades
ção específica para atuar na faixa de zero
curriculares já existentes em Estados e
a seis anos inclui o conhecimento das ba-
Municípios, ou em processo de elabora-
ses científicas do desenvolvimento da
ção, a Câmara de Educação Básica do Con-
criança, da produção de aprendizagens e
selho Nacional de Educação estabelece as
a habilidade de reflexão sobre a prática,
seguintes Diretrizes Curriculares para o
de sorte que esta se torne, cada vez mais,
Ensino Fundamental:
fonte de novos conhecimentos e habili-
dades na educação das crianças. Além da I - As escolas deverão estabelecer,
formação acadêmica prévia, requer-se a como norteadores de suas ações pedagó-
formação permanente, inserida no traba- gicas:
lho pedagógico, nutrindo-se dele e reno- a) os Princípios Éticos da Autonomia, da
vando-o constantemente. Responsabilidade, da Solidariedade e do
Para orientar uma prática pedagógi- Respeito ao Bem Comum;
ca condizente com os dados das ciências b) os Princípios Políticos dos Direitos e
e mais respeitosa possível do processo Deveres de Cidadania, do exercício da Cri-
unitário de desenvolvimento da criança, ticidade e do respeito à Ordem Democrá-
constitui diretriz importante a superação tica;
das dicotomias creche/pré-escola, as-
sistência ou assistencialismo/educação, c) os Princípios Estéticos da Sensibili-
atendimento a carentes/educação para dade, da Criatividade, e da Diversidade de
classe média e outras, que orientações Manifestações Artísticas e Culturais.
políticas e práticas sociais equivocadas Estes princípios deverão fundamentar
foram produzindo ao longo da história.
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as práticas pedagógicas das escolas, pois sições de crenças dogmáticas e a petrifi-


será através da Autonomia, da Responsa- cação de valores. Os conteúdos escolares
bilidade, da Solidariedade e do Respeito que são ensinados devem, portanto, estar
ao Bem Comum, que a Ética fará parte da em consonância com as questões sociais
vida cidadã dos alunos. que marcam cada momento histórico.
Da mesma forma os Direitos e Deve- Isso requer que a escola seja um espa-
res de Cidadania e o Respeito à Ordem ço de formação e informação, em que a
Democrática, ao orientarem as práticas aprendizagem de conteúdos deve neces-
pedagógicas, introduzirão cada aluno na sariamente favorecer a inserção do aluno
vida em sociedade, que busca a justiça, a no dia-a-dia das questões sociais mar-
igualdade, a equidade e a felicidade para o cantes e em um universo cultural maior. A
indivíduo e para todos. O exercício da Cri- formação escolar deve propiciar o desen-
ticidade estimulará a dúvida construtiva, volvimento de capacidades, de modo a
a análise de padrões em que direitos e de- favorecer a compreensão e a intervenção
veres devam ser considerados, na formu- nos fenômenos sociais e culturais, assim
lação de julgamentos. como possibilitar aos alunos usufruir das
manifestações culturais nacionais e uni-
Viver na sociedade brasileira é funda-
versais.
mentar as práticas pedagógicas, a partir
dos Princípios Estéticos da Sensibilida- A prática escolar distingue-se de outras
de, que reconhece nuances e variações práticas educativas, como as que aconte-
no comportamento humano. Assim como cem na família, no trabalho, na mídia, no
da Criatividade, que estimula a curiosida- lazer e nas demais formas de convívio so-
de, o espírito inventivo, a disciplina para cial, por constituir-se uma ação intencio-
a pesquisa e o registro de experiências e nal, sistemática, planejada e continuada
descobertas. E, também, da Diversidade para crianças e jovens durante um perío-
de Manifestações Artísticas e Culturais, do contínuo e extenso de tempo. A escola,
reconhecendo a imensa riqueza da nação ao tomar para si o objetivo de formar cida-
brasileira em seus modos próprios de ser, dãos capazes de atuar com competência
agir e expressar-se (PARECER CEB 4/98). e dignidade na sociedade, buscará eleger,
como objeto de ensino, conteúdos que
Os PCNs (BRASIL, 1998) vem corrobo-
estejam em consonância com as questões
rar com as intenções e metas expostas
sociais que marcam cada momento histó-
anteriormente!
rico, cuja aprendizagem e assimilação são
A importância dada aos conteúdos re- as consideradas essenciais para que os
vela um compromisso da instituição es- alunos possam exercer seus direitos e de-
colar em garantir o acesso aos saberes veres. Para tanto, ainda é necessário que
elaborados socialmente, pois estes se a instituição escolar garanta um conjunto
constituem como instrumentos para o de- de práticas planejadas com o propósito
senvolvimento, a socialização, o exercício de contribuir para que os alunos se apro-
da cidadania democrática e a atuação no priem dos conteúdos de maneira crítica e
sentido de refutar ou reformular as de- construtiva. A escola, por ser uma institui-
formações dos conhecimentos, as impo- ção social com propósito explicitamente
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educativo, tem o compromisso de intervir tentes, entregar-se comprometidamente


efetivamente para promover o desenvol- à sua missão de educador e lembrar que a
vimento e a socialização de seus alunos. educação infantil e as séries iniciais são a
base para o sucesso de cada sujeito/cida-
Essa função socializadora remete a
dão, portanto, dentro das suas condições,
dois aspectos: o desenvolvimento indivi-
grande é a responsabilidade de cada um
dual e o contexto social e cultural. É nessa
de vocês!
dupla determinação que os indivíduos se
constroem como pessoas iguais, mas, ao Esperamos que apreciem o material e
mesmo tempo, diferentes de todas as ou- busquem nas referências anotadas ao fi-
tras. Iguais por compartilhar com outras nal da apostila subsídios para sanar possí-
pessoas um conjunto de saberes e formas veis lacunas que venham surgir ao longo
de conhecimento que, por sua vez, só é dos estudos.
possível graças ao que individualmente se
Ressaltamos que, embora a escrita aca-
puder incorporar. Não há desenvolvimen-
dêmica tenha como premissa ser científi-
to individual possível à margem da socie-
ca, baseada em normas e padrões da aca-
dade, da cultura. Os processos de diferen-
demia, fugiremos um pouco às regras para
ciação na construção de uma identidade
nos aproximarmos de vocês e para que os
pessoal e os processos de socialização
temas abordados cheguem de maneira
que conduzem a padrões de identidade
clara e objetiva, mas não menos científi-
coletiva constituem, na verdade, as duas
cos. Em segundo lugar, deixamos claro que
faces de um mesmo processo.
este módulo é uma compilação das ideias
Cabe ao educador, por meio da inter- de vários autores, incluindo aqueles que
venção pedagógica, promover a realiza- consideramos clássicos, não se tratando,
ção de aprendizagens com o maior grau portanto, de uma redação original.
de significado possível, uma vez que esta
nunca é absoluta — sempre é possível es-
tabelecer alguma relação entre o que se
pretende conhecer e as possibilidades de
observação, reflexão e informação que o
sujeito já possui.
Se a aprendizagem for uma experiência
de sucesso, o aluno constrói uma repre-
sentação de si mesmo como alguém ca-
paz. Se, ao contrário, for uma experiência
de fracasso, o ato de aprender tenderá a
se transformar em ameaça, e a ousadia
necessária se transformará em medo,
para o qual a defesa possível é a manifes-
tação de desinteresse (BRASIL, 1997).
Eis nosso convite: adquirir novos co-
nhecimentos, aprofundar aqueles já exis-
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UNIDADE 2 - Alfabetização nas séries


iniciais
Introduções teóricas ao processo ares (2004), na fase 1, início dessa cons-
de alfabetização trução, as tentativas das crianças dão-se
no sentido da reprodução dos traços bá-
A alfabetização é um processo inicial
sicos da escrita com que elas se deparam
de aquisição das capacidades básicas de
no cotidiano. O que vale é a intenção, pois,
leitura e escrita, que busca o domínio da
embora o traçado seja semelhante, cada
linguagem escrita e suas transformações,
um “lê” em seus rabiscos aquilo que quis
essa é a definição básica oferecida por So-
escrever. Dessa maneira, cada um só pode
ares (2004, p. 20). Conta com as seguintes
interpretar a sua própria escrita, e não a
fases:
dos outros. Nesta fase, a criança elabora
Fase da garatuja; a hipótese de que a escrita dos nomes é
proporcional ao tamanho do objeto ou ser
Pré-silábica;
a que está se referindo.
Silábica;
Na fase 2, a hipótese central é de que
Silábica-alfabética; para ler coisas diferentes é preciso usar
Alfabética-ortográfica. formas diferentes. A criança procura com-
binar de várias maneiras as poucas formas
de letras que é capaz de reproduzir. Nesta
A alfabetização não incide na casuali- fase, ao tentar escrever, a criança respeita
dade, pela simples agregação das formas duas exigências básicas: a quantidade de
aos sons e aos símbolos, mas começa pela letras (nunca inferior a três) e a variedade
letramento, ou seja, através dos conheci- entre elas (não podem ser repetidas).
mentos diários, que acontecem muitas ve- Na fase 3, são feitas tentativas de dar
zes por meio de ensaios e erros. Tudo isso um valor sonoro a cada uma das letras que
acontece através da comunicação, onde compõem a palavra. Surge a chamada hi-
existe o emissor – receptor – emissor de pótese silábica, isto é, cada grafia traçada
informações ou de conhecimentos. Por- corresponde a uma sílaba pronunciada,
tanto, a construção do aprendizado pas- podendo ser usadas letras ou outro tipo
sa pela alfabetização, letramento, leitura de grafia. Há, neste momento, um con-
do mundo, pela mídia, pela globalização e flito entre a hipótese silábica e a quanti-
meios tecnológicos de ensino-aprendiza- dade mínima de letras exigidas para que
gem. a escrita possa ser lida. A criança, neste
Numa visão simplista, alfabetizada é a nível, trabalhando com a hipótese silábi-
pessoa que aprende a ler e a escrever. Já ca, precisa usar duas formas gráficas para
o analfabeto, claramente é definido como escrever palavras com duas sílabas, o que
aquele que não sabe ler nem escrever. vai de encontro às suas ideias iniciais de
que são necessários, pelo menos três ca-
De acordo com as considerações de So- racteres. Este conflito a faz caminhar para
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outra fase. podem ser lidas palavras que contenham


letras diferentes. Uma explicação para tal
Na fase 4 ocorre, então, a transição
seria que, em seu dia a dia, observam que
da hipótese silábica para a alfabética. O
o comum é encontrar palavras formadas
conflito que se estabeleceu – entre uma
por uma variedade de letras.
exigência interna da própria criança (o nú-
mero mínimo de grafias) e a realidade das
formas que o meio lhe oferece, faz com
Os métodos de alfabetização
que ela procure soluções. Ela, então, co-
meça a perceber que escrever é represen- Segundo Meireles (2001), os métodos
tar progressivamente as partes sonoras de alfabetização não são a melhor coisa
das palavras, ainda que não o faça corre- do mundo. Mas não há nada melhor para
tamente. alfabetizar um grupo de pessoas, do que
usar-se um método de alfabetização.
Na fase 5, finalmente, é atingido o es-
tágio da escrita alfabética, pela compre- É raro encontrar uma sala de aula onde
ensão de que a cada um dos caracteres se possa ver um método “puro”. Via de re-
da escrita correspondem valores meno- gra, o professor segue um método e lança
res que a sílaba, e que uma palavra, se mão de recursos de outro. Quando esta
tiver duas sílabas, exigindo, portanto, mistura é intencional e sistematizada,
dois movimentos para ser pronunciada, chama-se método misto ou eclético. Este
necessitará mais do que duas letras para método era o mais encontrado há 10 anos
ser escrita e a existência de uma regra atrás.
produtiva que lhe permite, a partir desses
Temos abaixo uma síntese dos métodos
elementos simples, formar a representa-
de alfabetização mais utilizados e suas di-
ção de inúmeras sílabas, mesmo aquelas
ferenças:
sobre as quais não se tenham exercitado
(ZACHARIAS, 2006). Fônico – Enfatiza as relações sím-
bolo-som. Há duas “correntes”. Na sinté-
A criança tem a sua frente uma estrada
tica, o aluno conhece os sons represen-
longa, até chegar à leitura e a escrita da
tados pelas letras e combina esses sons
maneira que nós, adultos, a concebemos,
para pronunciar palavras. Na analítica, o
percebendo que a cada som correspon-
aluno aprende primeiro uma série de pala-
de uma determinada forma; que há gru-
vras e depois parte para a associação en-
pos de letras separadas por espaços em
tre o som e as partes das palavras. Pode
branco, grupos estes que correspondem a
utilizar cartilhas.
cada uma das palavras escritas.
Linguagem total (“whole langua-
Segundo as fases expostas acima, para
ge”) – Defende que os sistemas linguísti-
que alguma coisa sirva para ler é preci-
cos estão interligados, e que a segmenta-
so que contenha certo número de letras,
ção em imagens ou sons deve ser evitada.
variável entre dois e quatro. Afinal, letra
Os estudantes são apresentados a textos
sozinha não representa nada escrito. De
inteiros, já que se acredita que “se apren-
nada servem, também, conjuntos com le-
de lendo”. Em sala de aula, o professor lê
tras repetidas, pois elas entendem que só
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textos para os alunos, que acompanham estudantes memorizassem as palavras,


a leitura com o mesmo texto, assim se sem associá-las a letras e sons. Pode uti-
“familiarizando” com a linguagem escrita. lizar cartilhas.
A partir dessa familiarização, vão apren-
Sintético – Começa a ensinar por
dendo palavras e, depois, as sílabas e as
partes ou elementos das palavras, tais
letras. Não utiliza cartilhas.
como letras, sons ou sílabas, para depois
Orientação dos PCN’s – Diagnóstico combiná-los em palavras. A ênfase é a
prévio do aluno antes de optar por qual- correspondência som-símbolo. Pode utili-
quer método. Algumas crianças entram na zar cartilhas (MENEZES, 2006).
primeira série sabendo ler. O professor lê
textos em voz alta e é acompanhado pela
classe, que tem em mãos os mesmos tex- Algumas considerações de Magda
tos. Os alunos são estimulados a copiar Soares
textos com base em uma situação social
Na ótica de Soares (2005) existem mui-
pré-existente: por exemplo, eles ouvem
tas pesquisas sobre o aprendizado da es-
poesias e compõem, por cópia ou cola-
crita, principalmente se observarmos a
gem, seus cadernos de poemas favoritos.
extensão e diversidade do Brasil, e para
A leitura em voz alta por parte dos estu-
ela, infelizmente, é impossível dizer que
dantes é substituída por encenações de
os melhores métodos e resultados che-
situações que foram lidas, desenhos que
gam a todos.
ilustram os trechos lidos etc. As crianças
aprendem a escrever em letra de forma; Para Soares (2005), até os anos 1980,
a consciência fônica é uma consequência. as pesquisas na área de alfabetização
Não utiliza cartilhas. eram de certa forma, restritas, porque se
voltavam apenas para a questão metodo-
Alfabético – Os alunos primeiro
lógica. A discussão se limitava à eficácia
identificam as letras pelos seus nomes,
ou não do método. Mas a partir dessa dé-
depois soletram as sílabas e, em segui-
cada, sobretudo pela influência de Emília
da, as palavras antes de lerem sentenças
Ferreiro e Ana Teberosky, as pesquisas
curtas e, finalmente, histórias. Quando os
sobre o aprendizado da língua escrita pela
alunos encontram palavras desconheci-
criança, aumentaram. O foco passou mais
das, as soletram até decodificá-las. Pode
para o processo da criança na construção
utilizar cartilhas.
de conceitos sobre a língua escrita. Ele
Analítico – Também conhecido muda do “como ensinar” para o “como a
como método “olhar-e-dizer”, começa criança aprende”. Depois, mais no fim dos
com unidades completas de linguagem e anos 80, surgem as pesquisar linguísticas:
mais tarde as divide em partes. Exemplo: foi o momento em que os linguistas final-
as sentenças são divididas em palavras, mente se deram conta de que alfabetiza-
e as palavras, em sons. O “Orbis Sensua- ção era problema deles também.
lium Pictus” é considerado o primeiro livro
Ainda segundo Soares (2005), falta
escolar importante. Abaixo das gravuras
para fins pedagógicos, uma integração
estavam os nomes impressos para que os
dos resultados das diferentes pesquisas
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que possibilite a tradução deles numa atu- ensino fundamental sem estar alfabeti-
ação didática, docente, capaz de orientar zado.
a criança no seu aprendizado, o que ela
Assim, o argumento de que o método
entende ser a origem das dificuldades que
fônico, usado, sobretudo nos anos 70,
ainda se encontra na alfabetização.
dava certo e, portanto, deva ser retomado,
Analisando o construtivismo, ela o en- não se sustenta. Isso porque havia repro-
cara não como um método, porque se vação e não aprendizagem com o método
afirmou como uma teoria psicológica, e fônico, como havia também com outros
não como teoria pedagógica, mostrando métodos. Não tem sentido uma volta ao
como a criança aprende e não se voltando passado esquecendo ou abandonando as
explicitamente para a questão de como contribuições fundamentais do Constru-
o professor deve ensinar. Os cursos que tivismo e das ciências linguísticas para a
proliferaram no país com o intuito de en- compreensão do processo de aprendiza-
sinar aos professores o Construtivismo, gem da língua escrita. Um exemplo: antes,
ensinava a eles exatamente isso: como a o menino escrevia silabicamente e as pro-
criança aprendia e não como alfabetizar a fessoras diziam: “ele está engolindo letra,
criança. é disléxico, é preciso encaminhar para um
psicólogo;” hoje, a teoria construtivista e
Nossa autora encara que os professo-
os princípios linguísticos evidenciam que
res alfabetizadores, antes do constru-
escrever silabicamente é uma etapa nor-
tivismo tinham um método e nenhuma
mal do processo de descoberta do siste-
teoria, ensinando pelo global, pelo silá-
ma de escrita. Fica claro como o avanço do
bico, pelo fônico, mas as teorias que fun-
conhecimento sobre a aprendizagem da
damentavam esses métodos não eram
língua escrita torna sem sentido propos-
discutidas. Assim, o construtivismo veio
tas de volta ao que se fazia antigamente.
negar esses métodos, mas não propôs
outros que os substituíssem, somente Sobre a criança aprender pelo método
trouxe uma teoria sobre a aprendizagem fônico, Soares (2005) entende como o
da língua escrita, e ela vai além, entende mais adequado, pedagogicamente e até
que para o construtivismo adotar qual- psicologicamente, é que a criança apren-
quer método para alfabetizar se tornou da simultaneamente todas as competên-
um pecado mortal, como se fosse possível cias e habilidades envolvidas na aquisição
ensinar qualquer coisa sem ter método. da língua escrita: aprenda a decodificar e
codificar, isto é, aprenda as relações entre
Em relação aos professores acharem
os “sons” e as letras ou grafemas, ao mes-
que retomar algum método do passado
mo tempo em que aprenda a compreender
seria a solução, Soares (2005) explica que
textos, a construir sentido para os textos,
tanto antigamente quanto hoje, o fra-
e ainda aprenda as funções da escrita, os
casso escolar tem altos índices, mas com
diferentes gêneros de textos.
a grande diferença que os alunos eram
retidos na primeira série enquanto não Se o professor ensina sequencialmen-
fossem alfabetizados e hoje encontra-se te, sistematicamente, as relações fone-
aluno que chega ao final até mesmo do ma/grafema, como faz o método fônico,
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a criança acaba, sim, aprendendo a escre- ta e sua aprendizagem, não se pode fa-
ver e a ler, como codificação e decodifica- lar de um método de alfabetização, mas
ção, mas, a compreensão, a construção de de métodos de alfabetização, no plural.
sentido, o entendimento das funções da Assim: ler histórias ou poemas ou textos
escrita, o envolvimento em práticas so- informativos para as crianças, levá-las a
ciais de leitura e escrita, acabam ficando interpretar esses diferentes textos su-
adiados “para depois”; a criança aprende põe determinados procedimentos didáti-
só a tecnologia da escrita, desligada de cos, enquanto que tomar palavras-chave
seus usos sociais, o que tira todo o senti- de um texto lido e trabalhá-las para, com
do da tecnologia. base nelas, desenvolver a aprendizagem
das relações fonema/grafema supõe ou-
Quando se reconhecem as várias face-
tros procedimentos.
tas da escrita, não se pode aceitar que a
criança aprenda com aquele tipo de tex- São diferentes métodos, diferentes
to “O bebê baba”, “Eva viu a uva”, textos procedimentos, porque são diferentes
que não circulam na sociedade, não fazem objetos de conhecimento e, portanto, di-
o menor sentido, não são um conto, uma ferentes processos de aprendizagem. Por
poesia, uma parlenda, são artificialmente isso, hoje é preciso ter métodos de alfa-
construídos com o único objetivo de ensi- betização, não um único método de alfa-
nar a codificar e decodificar. betização.
Soares (2005) ainda analisa que com O papel do professor como media-
estes textos a criança não construirá o dor da construção do processo de al-
uso de sua língua. A criança deve aprender fabetização
a ler e a escrever interagindo com textos
É evidente que determinadas informa-
reais, com os diversos gêneros e portado-
ções sobre a correspondência letra/som
res de texto que circulam na sociedade.
serão fornecidas pelos adultos aos que se
Assim ela vai aprender não só as relações
iniciam no processo de alfabetização, mas
fonema/grafema, mas, simultaneamen-
o processo em si, de entender como se
te, o sentido e função que tem a escrita.
estrutura a língua escrita, sob aspectos já
Deste modo, considerando que cada vistos, terá sido construído pela criança,
uma das facetas da aprendizagem da lín- a partir das informações e estímulos que
gua escrita supõe um processo cognitivo o meio, o convívio com material escrito e
específico, não se aprendendo uma con- com outras pessoas lhe tiver oferecido.
venção (a relação fonema/grafema) da
Deve-se levar em conta, porém, que tal
mesma forma que se aprende a construir
construção não é uma apropriação pura-
sentido de um texto, a interpretar, a com-
mente individual, mas um compartilhar
preender, aprender os diferentes usos e
social, importando, e muito, as condições
funções da escrita e os diferentes gêne-
sociais em que a criança vive; o modo
ros de texto, também demanda processos
como a palavra é escrita, interpretada e
cognitivos diferenciados.
valorizada em seu meio; as oportunidades
A consequência é que, no estado atual que tem para lidar com ela; o significado
dos conhecimentos sobre a língua escri- que lhe é dado, o que se pensa a respeito
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de como e para que se lê e escreve. os seus pares, nas suas aquisições, visto
que a alfabetização não é simplesmente
É claro que também é importante o
adquirida, mas co-construída no processo
modo como o aluno aprendiz é visto pelo
de escolarização (COOK-GUMPERZ, 1991).
professor; as relações de respeito ou des-
crédito que se estabelecem sobre suas A alfabetização é, pois, uma aquisição
potencialidades. social/individual e, nesse processo, exer-
cem papéis relevantes, tanto o contexto
Neste caso, seria preciso levar em con-
intra como o extraescolar, favorecendo
ta as condições sócio-históricas em que a
ou não as mediações.
atividade de leitura se produz, analisando
não apenas o indivíduo como construtor Segundo Gauthier et al (1998), o bom
autônomo do conhecimento, mas também ensino, entre outras condições, requer
a função de mediação exercida pelo pro- que a formação do professor contemple o
fessor, colocando em evidência, portanto, domínio de saberes diversos, catalogados
a dinâmica das relações interpessoais que numa tipologia constituída pelos saberes
atuam na elaboração do conhecimento da disciplinares, curriculares, das ciências da
leitura/escrita, visto que o modo como se educação, da tradição pedagógica, expe-
estabelece a interação professor/aluno rienciais, da ação pedagógica.
pode facilitar, dificultar e até mesmo blo-
Tardif, Lessar e Lahaye (1991) apon-
quear esta construção.
tam a necessidade de uma sólida forma-
Dependendo das intervenções media- ção do professor, enfatizada na prática
cionais, sobretudo do professor, as ex- e no discurso dos professores da Escola
periências do alfabetizando com a língua e dentre estes saberes que fazem parte
escrita poderá ser o início de um rico pro- de sua formação, é importante ao menos
cesso de aquisições ou o término de uma lembrarmos os saberes disciplinares e a
vida escolar pautada no insucesso, cujas sua inter-relação com os saberes das Ci-
marcas indeléveis passarão a agir como ências da Educação.
um estigma ou um chamariz para outros
Vale lembrar as concepções de Vygot-
sucessivos fracassos.
sky (1991), partindo do princípio que os
Segundo Saviani (1991, p.16), o saber sujeitos se encontram numa rede de re-
é o objeto específico do trabalho escolar. lações com o mundo, que lhes possibilita
Em se tratando da alfabetização, esse adquirir uma forma peculiar de existência,
saber adquire uma especificidade ainda constituindo assim seu campo simbólico
maior, tanto no ensinar como no aprender, de significações. Esta capacidade simbóli-
exigindo que o professor domine e arti- ca do homem, que se expressa através da
cule uma gama de saberes – os saberes linguagem e se materializa no texto oral
docentes – para que possa mediar, com ou escrito, relaciona-se diretamente com
sucesso, tal aquisição. E, principalmente, sua prática social global.
para as crianças das classes populares, a
A linguagem é vista como um processo
escola é o local por excelência para essa
de constituição dos sujeitos, onde cria-
apropriação. Ali é bastante significativa
mos e organizamos nossas experiências.
a interação/cooperação da criança com
13

Assumir a noção de constitutividade do dos selecionados inscrevem-se no eixo do


sujeito pela linguagem (Franchi, 1992) uso e da reflexão, tanto da linguagem oral
significa assumir que não se trata pois de como da escrita. Se se aprende a ler, len-
explicitar um externo ou um interno na do e a escrever, escrevendo, um professor
relação do sujeito com a linguagem, mas que leia regularmente e que tenha inti-
admitir que ambos se constituem à medi- midade com a escrita, seguramente terá
da que interagem. Uma constituição que mais chances de compreender os proces-
se dá pela internalização (Vygotsky,1991) sos vividos pelas crianças, interferindo de
dos signos que circulam nessas intera- modo pertinente. Igualmente importan-
ções. te, é sua conscientização da importância
da leitura propriamente dita e de sua in-
Explicitar esta noção é fundamental,
fluência perante o aluno, no processo de
pois é na sua dependência que se esta-
construção da criança e no seu incentivo
belece uma concepção de língua e de seu
à leitura.
ensino. Desta forma, a língua não é algo
pronto, acabado, onde os sujeitos dela Desse modo, é fundamental que as ati-
primeiro se apropriam para depois usá-la. vidades desenvolvidas em todas as disci-
É durante os processos interativos que os plinas que venham compor o currículo pri-
sujeitos vão construindo e reconstruindo vilegiem a leitura e a produção de textos
a própria língua (GERALDI, 1991). do futuro professor.
Portanto, quando pensamos no ensino Pode-se assim cobrar do educador:
da língua devemos considerar que o sujei-
familiarizar-se com a leitura de uma
to vai construir e reconstruir seu conheci-
grande variedade de gêneros, inserindo-
mento e a si mesmo, nas especificidades
-se na comunidade dos leitores, aprenden-
das interlocuções que se darão na produ-
do a selecionar informações pertinentes
ção de textos, tanto orais quanto escritos.
em diferentes suportes, compreendendo
A partir das concepções de linguagem e a perspectiva enunciativa com que os tex-
língua apresentadas, devemos considerar tos foram produzidos e posicionando-se
que quando entramos para a sala de aula criticamente;
estamos todos – professor e alunos e os
estudar os principais mecanismos de
alunos entre si – em diferentes níveis no
textualização – a coesão nominal respon-
que diz respeito ao nosso objeto de co-
sável pela continuidade temática, a co-
nhecimento, isto é, a escrita.
esão verbal e as conexões temporais ou
Ainda focando o trabalho do professor, lógicas responsáveis por marcar as articu-
para que este vislumbre sucesso precisa lações da progressão temática;
conhecer primeiramente, as contribui-
conhecer algumas das contribuições
ções mais recentes da ciência da lingua-
da psicolinguística para a compreensão do
gem e sua transposição didática.
processo de leitura na construção do sen-
Seguidamente, deve ele próprio, ser um tido;
usuário da linguagem, principalmente, em
envolver-se em uma intensa e variada
sua modalidade escrita, já que os conteú-
prática de produção de textos, produzin-
14

do fichas, resumos ou resenhas de textos O planejamento e a organização do


lidos para as diversas disciplinas, elabo- trabalho em torno da alfabetização
rando relatórios de experimentos ou de
As dimensões e os conteúdos perti-
estudos do meio realizados, produzindo
nentes à alfabetização passaram por
um diário de leitura para registrar impres-
ampliações progressivas, cada vez mais
sões a respeito dos textos que for lendo,
complexas, como se vem enfatizando ao
ao longo do curso, elaborando planos e re-
longo dessas reflexões. Trata-se, hoje, de
gistros de sua prática docente, etc;
um campo que recebe contribuições de
explorar o estudo dos mecanismos diversas ciências e de linhas de pesquisa
de textualização como ferramenta para a cada vez mais valorizadas do ponto de vis-
análise da própria produção textual e da ta político e pedagógico. Por isso mesmo,
produção de textos infantis, estudando a tal processo não pode ser conduzido de
interface entre a gramática e o texto, nos forma aleatória e assistemática, limitado
processos de refazer e de rever textos; a vivências espontâneas dos alunos ou a
conhecer uma série de gêneros que práticas solitárias dos professores.
a prática social projeta como adequados Ferreiro e Teberosky (1985) salientam
à criança, explorando as possibilidades de neste sentido que emerge a importância
tratamento didático desses gêneros na do planejamento da organização das clas-
escola; ses de alfabetização e do trabalho didáti-
conhecer a história da escrita, para co a ser desenvolvido.
compreender melhor a relação com a evo- O planejamento é o instrumento, por
lução conceitual da criança na construção excelência, capaz de assegurar o diag-
da base alfabética; nóstico das capacidades e conhecimentos
conhecer a relação do sistema fo- prévios dos alunos, as metas e meios para
nológico com o sistema gráfico da língua a sistematização de aprendizagens e prá-
para interpretar as soluções que as crian- ticas de ensino, os instrumentos de avalia-
ças apresentam para as convenções orto- ção do processo e a elaboração de novas
gráficas; estratégias para a solução de problemas
detectados. Exige não só esforço docente
estudar o fenômeno da variação lin- individual como também trabalho coletivo
guística, para desfazer o mito da unidade e compartilhado; assim, o planejamento
linguística, desenvolvendo instrumentos estabelece princípios de reciprocidade de
para descrever a variedade falada pelos cada profissional com seus pares, possibi-
alunos e sua influência na escrita, comba- litando a consolidação da autonomia dos
tendo o preconceito linguístico; professores e a progressiva reconstrução
estudar, à luz das recentes contribui- do projeto pedagógico da própria escola.
ções da linguística, a gramática da língua, Alguns requisitos são fundamentais
principalmente em relação a assuntos re- em um planejamento efetivamente volta-
lacionados aos padrões impostos pela es- do para a sistematização do trabalho em
crita nos diversos gêneros em circulação torno da alfabetização:
social.
15

Criar condições e tempos escolares A criação de um ambiente alfabeti-


destinados ao planejamento, ao diagnós- zador, ou de um contexto de cultura escri-
tico, à avaliação e à reelaboração de pro- ta oferecido pelas formas de organização
postas, buscando-se a progressiva insti- da sala e de toda a escola, capaz de dispo-
tucionalização de espaços coletivos, tais nibilizar aos alunos a familiarização com a
como seminários ou semanas de planeja- escrita e a interação com diferentes tipos,
mento, de integração com a comunidade, gêneros, portadores e suportes, nas mais
de escolha de livros didáticos, entre ou- diversas formas de circulação social de
tras possibilidades; textos. A exposição de livros, dicionários,
revistas, rótulos, publicidade, notícias do
Estabelecer e compartilhar metas
ambiente escolar e de periódicos da comu-
e objetivos, envolvendo professores, alu-
nidade ou do município, cartazes, relató-
nos e pais, nos processos de sua avaliação
rios, registros de eleições e muitas outras
e de sua reorientação;
possibilidades permitem a inserção dos
Definir meios para alcançar objeti- alunos em práticas sociais de letramento,
vos, organizar o processo, registrar e so- ultrapassando formas artificiais de eti-
cializar atividades realizadas. quetagem ou de treinamento da escrita
em contextos estritamente escolares.

Além da definição de objetivos e metas, O estabelecimento de rotinas diá-


é necessário investir nos meios para sua rias e semanais, capazes de oferecer ao
imple¬mentação. A organização das ativi- professor um princípio organizador de
dades em torno da alfabetização deverá seu trabalho, desde que atenda a dois
levar em conta: critérios essenciais: a variedade e a sis-
tematização. Uma rotina necessita, em
A progressão de níveis do traba- primeiro lugar, propiciar diversificação de
lho pedagógico, em função dos níveis de experiências e ampliação de contextos de
aprendizagem dos alunos e da natureza aplicação. Em segundo lugar, precisa ofe-
das atividades, envolvendo conceitos e recer um contexto de previsibilidade de
procedimentos pertinentes aos diversos atividades, para que os próprios alunos se
componentes do aprendizado da língua organizem, consolidem aprendizagens e
escrita: a compreensão e a valorização da avancem em seus espaços de autonomia
cultura escrita, a apropriação do sistema (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985).
de escrita, a oralidade, a leitura e a pro-
dução de textos escritos. Dependendo
do nível atingido pela classe, por grupos
ou duplas de alunos, todo o planejamen-
to poderá ser reorientado, em busca de
outras alternativas de métodos, de mate-
riais didáticos e de reagrupamento de alu-
nos, sempre tendo como meta mais ampla
sua progressiva autonomia em relação
aos usos da língua escrita.
16

Nesse sentido, pode ser bastante pro- necessidades. Tanto quanto a alfabetiza-
dutiva a previsão diária e semanal de ati- ção, o letramento é fundamental para a
vidades voltadas para os eixos da leitura, conquista da cidadania.
da escrita, da oralidade, das atividades lú- O ato de ler deve ser considerado como
dicas e especializadas, levando em conta uma prática social e, para que ela possa ser
o melhor momento de sua inserção (início, desenvolvida, é necessário a influência de
meio ou final do turno) e a melhor configu- elementos fundamentais como a família
ração grupal para sua realização (grupos e a escola, onde a relação família – escola
que se familiarizam com determinados – leitura é um combustível insubstituível
conteúdos ou grupos que já se encon- para a possível formação de uma socieda-
tram em patamares mais consolidados de de mais justa e igualitária.
aprendizagem). O processo de aquisição da cultura está
Essa flexibilidade pode conferir maior intimamente ligado ao material escri-
potencial à proposição de rotinas, como to, pois o patrimônio histórico, cultural e
elementos que ajudam o professor a me- científico da humanidade se encontra em
lhor conhecer seus alunos e a monitorar livros. A escola neste âmbito tem o impor-
as modificações necessárias para que o tante papel de desenvolver no educando o
planejamento inicial não se desencaminhe hábito da leitura. Para isso, a escola deve
das metas mais relevantes inicialmente ter seus objetivos bem traçados e dizer
projetadas. não à mecanização da leitura.
No período escolar, é preciso desenvol-
Alfabetização para formar cidadãos crí- ver estratégias que estimulem adequada-
ticos mente a habilidade de ler, atendendo aos
A leitura e a escrita são práticas comple- objetivos e necessidades dos alunos. A
mentares que se modificam mutuamente população apresenta grande dificuldade
no processo do letramento. em dominar a leitura, por isso, a necessi-
Ao se formar, o leitor – competente –, ou dade de compreender o que é ler, qual a
seja, o leitor capaz de selecionar, compre- sua verdadeira importância na sociedade
ender o que se lê e usar adequadamente e como estimular este hábito e gosto nos
estratégias de leitura, é importante co- alunos.
nhecer o significado da alfabetização e le- A aprendizagem da leitura transforma-
tramento, já que os dois processos devem -se em prática social pelo fato de possibili-
ser desenvolvidos simultaneamente. tar à criança a assimilação dos valores que
Quando a alfabetização é sinônimo de fazem parte da sociedade em que está
aprendizagem do código da escrita, é evi- inserida. A criança que lê pode ser levada
denciada apenas uma parte do processo e às ideologias dominantes por ser ingênua
o aluno precisa de mais para poder agir em e estar no início do seu processo de for-
sociedade. O professor alfabetizador tem mação como cidadã. Cabe a leitura levar a
um importantíssimo papel na formação do criança a refletir sobre os valores da socie-
aluno – alfabetizado – leitor. O letramento, dade. Por isso, o professor deve ter cuida-
nesta perspectiva, é um complemento que do ao selecionar os textos que irá apresen-
irá contribuir para o aluno atender às suas tar aos seus alunos.
17

Como nos mostra Ezequiel Theodoro


da Silva (1986) em seu livro “Leitura e
Realidade Brasileira”, a leitura não pode
ser examinada isoladamente e sim no in-
terior de um todo que compõe a socieda-
de.
Enfim, esperamos que até o momento
tenham percebido a necessidade de usar
a seletividade e a criticidade sobre a lei-
tura, para que esta não seja vista como
um ato individualista e passe a ser en-
carada como parte fundamental na for-
mação de cidadãos conscientes dos seus
direitos e deveres, enfim, da sociedade
em si.
18

UNIDADE 3 - A fala, a leitura e a escrita

Cagliari (2008) em seu livro “Alfabeti- redações e não sabe o que está realmente
zação e Linguística” lança alguns questio- fazendo, como deve elaborar um texto es-
namentos que são pertinentes neste mo- crito ou dizer um texto oral em situações
mento. Ele pondera sobre a questão mais diferentes.
fundamental do ensino de português ser a
A criança que se inicia na alfabetização
seguinte: o que é ensinar português para
já é um falante capaz de entender e falar
pessoas que já sabem falar o português?
a língua portuguesa com desembaraço e
Embora seja nossa língua nativa, enquan-
precisão nas circunstâncias de sua vida
to pequenos cidadãos que estão come-
em que precisa usar a linguagem. Mas não
çando seu processo de formação escolar,
sabe escrever nem ler. Esses são usos no-
as crianças das séries iniciais sabem algu-
vos da linguagem para ela e é, sobretudo,
mas coisas dentro da língua portuguesa,
isso o que ela espera da escola. Em mui-
mas não sabe outras. Mas há muita coisa a
tos caos, há ainda o interesse em apren-
se fazer de novo e interessante no ensino
der uma variedade do português de maior
da língua materna e isso não se restringe
prestígio.
à alfabetização, apesar de este período
ser, na verdade, muito especial. Essa criança não só sabe falar o portu-
guês, como sabe também refletir sobre a
O objetivo mais geral do ensino de por-
sua própria língua. De fato, as crianças se
tuguês para todas as séries da escola é
divertem manipulando a linguagem: com-
mostrar como funciona a linguagem hu-
põem palavras novas, a partir da análise
mana e, de modo particular, o português;
dos processos de formação de palavras,
quais os usos que tem, e como os alunos
às vezes criando formas surpreendentes;
devem fazer para estenderem ao máximo,
adoram traduzir a sua própria língua em
ou abrangendo metas específicas, esses
códigos como a língua do P, e falar inver-
usos nas suas modalidades escrita e oral,
tendo sílabas, substituindo certos seg-
em diferentes situações de vida.
mentos por outros, com uma destreza
Em outras palavras, o professor de por- que o adulto dificilmente consegue acom-
tuguês deve ensinar aos alunos o que é panhar.
uma língua, quais as propriedades e usos
As respostas que as crianças dão às
que ela realmente tem, qual é o comporta-
perguntas que lhes são feitas revelam a
mento da sociedade e dos indivíduos com
incrível capacidade que têm de manipular
relação aos usos linguísticos, nas mais va-
fatos semânticos de alta complexidade,
riadas situações de suas vidas.
como a pressuposição, a argumentação
Ao aluno não se ensina adequadamen- lógica, sem contar com a expressão de
te como ele fala, qual o valor funcional dos metáforas e o poder de abstração e ge-
segmentos fônicos de sua língua, como neralização claramente revelados numa
se compõe a morfologia desta, a sintaxe, análise de seu comportamento linguístico
a semântica, etc. O aluno fez centenas de
19

Além disso, elas contam ainda com uma no muitas vezes não resolve problemas de
capacidade enorme de análise da lingua- matemática, não porque não saiba mate-
gem oral que irão perder logo que entra- mática, mas porque não sabe ler o enun-
rem na escola, sufocadas pelo modo como ciado do problema. Ele sabe somar, dividir,
se ensina português, tomando-se a escri- etc., mas ao ler um problema não sabe o
ta ortográfica como base para tudo. Na que fazer com os números e a relação des-
análise de muitos erros encontrados em tes com as realidades a que se referem.
provas e nas avaliações feitas na alfabeti- Não adianta dizer que o aluno não sabe
zação, é fácil observar que, em muitos ca- nem sequer somar ou dividir números que
sos, a criança revela um apego às formas não apresentam dificuldades, que ele não
fonéticas da língua em lugar das formas entende matemática (CAGLIARI, 2008).
ortográficas, não raro deixando o profes-
Porque de fato ele não entende mes-
sor perplexo com sua “burrice” devido sua
mo é o português que lê. Não foi treinado
incapacidade de analisar a fala com a mes-
para ler números, relações quantitativas,
ma competência que a criança apresenta.
problemas de matemática. O professor
Quanto a leitura, a atividade funda- de português não ensina isso porque diz
mental desenvolvida pela escola para a que é obrigação do professor de matemá-
formação dos alunos é ela. É muito mais tica e o professor de matemática ou não
importante saber ler do que saber escre- desconfia do problema ou, quando muito,
ver. O melhor que a escola pode oferecer acha que ler e compreender um texto é
aos alunos deve estar voltado para a leitu- um problema que o professor de portu-
ra. Se um aluno não se sair muito bem nas guês deve resolver na educação das crian-
outras atividades, mas for um bom leitor, ças. Estão todos errados. A alfabetização
podemos pensar que a escola cumpriu em é missão de todos os professores.
grande parte sua tarefa. Se, porém, outro
Ler é uma atividade extremamente
aluno tiver notas excelentes em tudo, mas
complexa e envolve problemas não só
não se tornar um bom leitor, sua formação
semânticos, culturais, ideológicos, filo-
será profundamente defeituosa e ele terá
sóficos, mas até fonéticos. Podemos ler
menos chances no futuro do que aquele
sequências de números de maneiras dife-
que, apesar das reprovações, se tornou
rentes, dependendo daquilo a que eles se
um bom leitor (CAGLIARI, 2008).
referem. Alguns alunos têm dificuldades
A leitura é a extensão da escola na vida na matemática porque não sabem ler os
das pessoas. A maioria do que se deve números corretamente. Os números não
aprender na vida terá de ser conseguido são feitos só de algarismos. A combinação
através da leitura fora da escola. A leitu- de algarismos expressa por si, no todo,
ra é uma herança maior do que qualquer realidades matemáticas que têm pro-
diploma. priedades específicas. Por exemplo, nos
números fracionários (dois quintos), o de-
A grande maioria dos problemas que os
nominador é lido com numerais ordinais,
alunos encontram ao longo dos anos de
mas a ordem característica típica desses
estudo, chegando até a pós-graduação, é
numerais na linguagem comum não tem
decorrente de problemas de leitura. O alu-
nada a ver com a relação fracionária. Não
20

basta ensinar só as relações matemáticas:


é preciso ensinar também o português
que a matemática usa. Tudo o que se en-
sina na escola está diretamente ligado à
leitura e depende dela para se manter e
se desenvolver.
A leitura é a realização do objetivo da
escrita. Quem escreve, escreve para ser
lido. O objetivo da escrita é a leitura. Como
vimos, o mundo da escrita já é complicado
e caótico no seu aspecto gráfico, quanto
mais se juntarmos a isso o mundo dos sig-
nificados carregados pela escrita.
A leitura vai operar justamente nesse
universo. Às vezes, ler é um processo de
descoberta, como a busca do saber cien-
tífico. Outras vezes requer um trabalho
paciente, perseverante, desafiador, se-
melhante à pesquisa laboratorial. A lei-
tura pode também ser superficial, sem
grandes pretensões, uma atividade lúdi-
ca, como um jogo de bola em que os par-
ticipantes jamais se preocupam com a lei
da gravidade, a cinética e a balística, mas
nem por isso deixam de jogar bola com
gosto e perfeição (CAGLIARI, 2008).
21

UNIDADE 4 - A leitura na escola:


práticas e competências
Escrever e ler são duas atividades da O início da construção desse legado não
alfabetização conduzidas mais ou menos deve ser adiado; prática de leitura é uma
paralelamente. Muitas vezes ensina-se atividade devida desde o ingresso do alu-
a ler e escrever letras, famílias silábicas, no à escola.
palavras, frases, textos. Na prática, dá-se
A meta principal do trabalho com leitura
mais ênfase à escrita. Talvez o privilégio
na alfabetização e em todo ensino funda-
da escrita sobre a leitura se deve à maior
mental, é que os alunos leiam e compre-
facilidade de avaliação escolar.
endam textos variados com finalidades
É preciso repensar esses procedimen- diversas, como ressalta Cagliari (2008,
tos em relação à escrita e à leitura na es- p.168): “Um aluno que não lê aprenderá
cola, dando um lugar de maior prestígio à o resto com dificuldades, e pode passar
leitura, desde o início do processo de alfa- a ter uma relação delicada com a escrita,
betização, pois é como diz Vigotsky (1991, não entendendo bem o que esta é e nem
p. 282): “Uma vez que as crianças apren- como funciona”.
dem a usar definitivamente a leitura, seu
A leitura na sala de aula
campo psicológico muda radicalmente”.
A leitura deve ocupar um lugar de des-
Assim, já durante a alfabetização, vá-
taque na sala de aula contribuindo para a
rias situações de leitura precisam ocor-
formação de leitores competentes e, con-
rer na escola, dentro do contexto com o
sequentemente, a formação de escritores
trabalho da escrita. Algumas habilidades
capazes.
cognitivas são fundamentais e devem ser
desenvolvidas: A leitura é a maior herança que uma
escola pode deixar aos seus alunos, uma
Hipóteses sobre o conteúdo do
vez que ela é fonte perene de educação
texto pela análise do título, ilustração e
estando sempre presente na vida das
formato;
pessoas que no seu dia-a-dia leem muito
Reconhecimento da relação grafe- mais do que escrevem. Portanto, vimos
ma/fonema, percepção imediata de pa- neste momento alertar sobre o quanto é
lavras e expressões familiares, coerência necessário que se dê prioridade absoluta
do título com o conteúdo do texto; à leitura no ensino de português.
Depois da leitura, comentários Para que isso aconteça, nós professo-
apreciativos do texto e sua relação com res temos que fazer da sala de aula um
outros textos lidos. espaço onde os alunos possam vivenciar
uma prática textual intensa e múltipla
Aos professores, não é recomendável
para que sejam cidadãos capazes de com-
subestimar a predisposição dos alunos à
preender os diferentes textos com os
leitura e delegar essa competência a ou-
quais se defrontam. É importante e ne-
tras séries subsequentes.
cessária uma prática de leitura que des-
22

perte e cultive o desejo de ler para que se determinada expectativa, um determina-


torne uma prática pedagógica eficiente. do objetivo que procura satisfazer e/ou
alcançar durante a leitura.
Para que se operem transformações na
relação ensino-aprendizagem, é preciso A leitura é um aprendizado, essencial-
que sejam feitas mudanças na forma de mente significativo, ativo, com objetivos
trabalhar a leitura na sala de aula, a qual claros e relacionados ao conhecimento
não pode ser uma atividade secundária anterior e às expectativas do leitor. Não
na escola ou na vida e sim uma atividade há leitura sem um “porquê se lê”. Assim
prioritária no ensino de português porque sendo, ela é antecipatória – o leitor sabe
a leitura está sempre educando e sendo o o que busca. Portanto, não se surpreende
prolongamento da escola na vida das pes- com o que encontra nas páginas que lê;
soas. antecipa palavras, frases inteiras. É ba-
seada na compreensão, e a previsão é a
É necessário fazer da sala de aula um
mola impulsora.
espaço onde os alunos possam vivenciar
e interpretar uma variedade de textos Geraldi (1997) põe em evidência quatro
porque o processo de aquisição da leitura objetivos para a leitura:
tem um objetivo maior que é o de orientar
Aquele em que o leitor faz pergun-
os alunos para o exercício de uma cidada-
tas ao texto – a leitura que busca informa-
nia consciente.
ções;
De acordo com Franco (1997), lê-se
Aquele em que o leitor “escuta” o
para:
“texto” – o estudo de texto;
Sentir o texto, dialogar com seu au-
Aquele em que o leitor pretende
tor ou, simplesmente, para usufruí-lo sem
usar o texto para algum fim – a leitura-
perguntas e sem questionamentos. É a
-pretexto;
leitura – prazer.
Aquele em que o leitor deseja fruir
Buscar informações, coletar dados.
o texto – leitura de fruição.
É a leitura – pesquisa.
Segundo Cagliari (2008), a leitura tem
Ampliação dos conhecimentos
os objetivos de ensinar e treinar a pro-
apossando-se do que já foi construído
núncia dos alunos no dialeto padrão e em
pela humanidade.
outros; de ajudar os alunos a aprender o
Esclarecer dúvidas, buscar respos- que é escrever e qual a forma ortográfica
tas. Pergunta-se ao texto. das palavras. Para conseguir esses objeti-
vos da leitura é preciso planejar as ativi-
Estudar o texto. Saber o quê e
dades de tal modo que se possa realizar o
como o autor pensa e posiciona-se frente
que se pretende.
a determinado assunto.
Como a leitura é uma atividade coope-
Ao se escolher um livro, por exemplo,
rativa, o leitor lê para tirar do texto o que
uma crônica, uma reportagem ou qual-
o texto não diz, mas pressupõe, promete,
quer outro tipo de texto, o leitor tem uma
implica ou implicita, a preencher espaços
23

vazios, a ligar o que existe num texto com tregue, “secamente” ao aluno e que haja
o resto da intertextualidade, de onde ele uma preparação prévia, partindo-se de
nasce e onde irá se fundir (MAINGUENE- experiências já vivenciadas pelo mesmo
AU, 1996). até se chegar ao texto propriamente dito.
De acordo com Evaristo (1997), o obje- Para isso, o conhecimento prévio do
tivo do ato de ler é formar um leitor crítico, aluno, quer seja linguístico – conheci-
capaz de se assumir plenamente enquan- mento dos recursos que a língua oferece
to cidadão. A formação/constituição des- – quer seja extraliguístico – tudo que não
se sujeito-leitor é um trabalho reflexivo se enquadra às exigências gramaticais –
que precisa ser assumido pelo ensino da deve ser ativado pelo professor, para que
língua materna. possa haver um engajamento entre o lei-
tor e o texto a ser estudado.
No dizer de Freire (1988), o leitor lê para
reescrever o que está lendo, para desco- Podemos, portanto, a partir das expe-
brir a conexão entre o texto e o contexto riências reveladas pelo leitor desencadear
do texto, e também para vincular o texto/ uma série de atividade, quais sejam: ob-
contexto com o seu contexto de leitor. servação, discussão, relato, debate sobre
filmes, pesquisa bibliográfica e de campo,
Lê-se para fazer da leitura não uma
etc, que propiciarão enriquecimento e
mera decodificação de uma mensagem,
suscitarão interesse para as etapas pos-
mas sim para fazer dela uma atividade in-
teriores do estudo do texto.
terativa entre leitor-autor-texto-contex-
to (AZAMBUJA E SOUZA,1997). Segundo Orlandi (1984), o primeiro
contato com o texto é muito importante
Kleiman (1989), ao citar Orlandi (1984)
que seja feito individualmente para que o
diz que ao ler, o leitor é levado através da
aluno, de acordo com o seu ritmo próprio
leitura a questionar, a confrontar, a levan-
de leitura, busque o significado global do
tar-testar-hipóteses, a buscar significa-
mesmo, relacionando suas “histórias de
dos e descobrir, enfim, que o texto pode
leituras” com o texto em questão.
oferecer “múltiplos sentidos”.
Esse relacionamento de histórias de
Como motivar o aluno para a leitura?
leituras leva o aluno a criar uma atitude de
Segundo Azambuja e Souza (1997), an- expectativa prévia com relação ao conte-
tes de qualquer estudo de texto, é preci- údo do texto lido e o leva também, a fa-
so preparar o aluno para a leitura porque zer previsão e a utilizar múltiplas fontes
grande parte do sucesso desse estudo de conhecimento na busca de uma maior
está nessa fase de predisposição para a compreensão, pois a leitura é uma ativida-
leitura, na qual o professor motivará o de essencialmente preditiva de formula-
aluno despertando nele o interesse pelo ção de hipóteses, para a qual o leitor pre-
texto a ser estudado. Motivando esse alu- cisa utilizar seu conhecimento linguístico
no ele terá a sua curiosidade aguçada e o conceitual, e sua experiência (KLEIMAN,
seu conhecimento ativado. 1984).
É importante que o texto não seja en- Ainda segundo Kleiman (1989), antes
24

de se fazer um estudo analítico do texto, comentado ou interpretado. Esse é outro


é necessário que o aluno leia-o, pois a ma- erro que se vê eventualmente em livros
terialização da mensagem, por intermédio didáticos. A leitura às vezes é como uma
de recursos linguísticos e/ou gráficos é música que se quer ouvir e não dançar.
eficazmente percebida quando se desen-
A interpretação de um texto nada mais
volvem atividades de leitura. Tais ativida-
é que compreendê-lo, não ter dúvidas ao
des podem ser feitas individual ou coleti-
final da leitura, é falar sobre ele, criticá-lo,
vamente, oral ou silenciosamente.
analisá-lo, apreciá-lo. Por isso é de suma
Que considerações importantes deve- importância a previsão que é a utilização
mos ter com a leitura e a interpretação de de todo conhecimento prévio possuído
textos na sala de aula? pelo sujeito, permitindo-lhe compreen-
der, experimentar e apreciar o que lê. Es-
Segunda Cagliari (1997), uma das pio-
ses conhecimentos trazem significados
res atitudes da escola atual em relação
para os textos, reduzem a ambiguidade e
à leitura é a maneira como faz interpre-
eliminam alternativas irrelevantes.
tação de textos com os alunos apenas à
base de questionários. Sendo a leitura uma atividade que exi-
ge grande interação, o estabelecimento
Quando uma criança ouve histórias,
de relações entre toda a experiência vivi-
assiste à televisão, é perfeitamente ca-
da, entre os conhecimentos já construídos
paz de entender o que ouve. É evidente
e o que o escritor propõe, ela requer um
que sua compreensão não é igual a de um
pensar que se estabelece antes, durante
adulto, mas, quando não entende algo
e após o ato de ler (FRANCO, 1997).
que julga importante saber, a criança per-
gunta. Kleiman (1989) trata da compreensão
de textos escritos destacando a impor-
Esse procedimento de interpretação de
tância do conhecimento prévio do leitor
textos através de perguntas “óbvias” não
na compreensão de textos; a necessidade
só induz o aluno a pensar que interpretar
de estabelecimento de objetivos e formu-
texto é saber o sujeito de uma oração ou
lação de hipóteses na compreensão des-
o objeto direto, etc; como ainda tira todo
tes textos, visando torná-los mais aces-
o sabor da leitura, substituindo-o por um
síveis; o processo inconsciente utilizado
gosto chato de questionários.
pelo leitor para compreender o texto es-
Uma atividade possível com a leitura de crito através de suas marcas formais.
textos é a discussão do assunto com os
O contato com o texto para compre-
alunos, não só do conteúdo mas até mes-
endê-lo pode ocorrer por intermédio de
mo da forma. Pode-se pedir aos alunos
uma leitura ascendente, levando o leitor
que contem a mesma história com as pró-
a partir de unidades menores, de deta-
prias palavras (sem roteiro). Isto é fazer
lhes que o texto oferece, para se chegar
uma interpretação criativa, não – repetiti-
ao significado global do mesmo. Por outro
va, do texto.
lado, a compreensão do texto pode tam-
Às vezes, uma simples leitura basta. bém ocorrer em um processo descenden-
Nem tudo o que se lê precisa ser discutido, te pelo qual parte-se de uma visão global,
25

isto é: o leitor direciona-se das partes Conforme afirmam Azambuja e Souza


maiores para as partes menores, sempre (1997), o aluno não pode fazer uma leitu-
numa tentativa de buscar o significado ra superficial de um texto porque leva a
levantando hipóteses por meio de pistas uma atitude passiva e consequentemen-
oferecidas pelo texto. te, a um desinteresse total pela leitura.
Ainda de acordo com Franco (1997), Ao estudar um texto para compreen-
viver em sociedade exige conhecer e dê-lo pode-se voltar a novas leituras tan-
utilizar-se de diferentes materiais im- tas vezes quantas forem necessárias, de
pressos que circulam ou que atropelam, modo parcelado, facilitando assim a aná-
visualmente, as pessoas como outdoor, lise do mesmo. Essa etapa pode ser feita
propagandas, cartazes, panfletos, jor- oralmente, em grupos menores de alunos
nais, revistas, receituário médico, placas, ou mesmo com todos eles.
anúncios, bilhetes, catálogo telefônico,
A posição do professor, como estimu-
circulares, ofícios, requerimentos, che-
lante, deve ser aquela que direciona, sem
ques e muitos outros.
imposição, por intermédio de atividades
Permitir a exploração destes materiais sugestivas – questionadoras, a fim de que
significa partir da realidade dos educan- os alunos atinjam os objetivos propostos
dos, isto é, do que é cotidiano; significa, para o estudo do texto, chegando a um
ainda, propiciar-lhes oportunidade de am- aprofundamento do mesmo. É exatamen-
pliar e aprimorar a sua competência lin- te nesse momento que a compreensão
guística, de se adaptarem à sociedade. deixa de ser superficial, à medida que o
aluno levanta hipóteses, para testá-las,
A leitura de textos funcionais, científi-
confirmá-las ou refutá-las. Estudar um
cos e literários, a partir do conhecimento
texto é perceber não só o que está explí-
e do domínio das propriedades específi-
cito, mas também descobrir o que se apre-
cas de cada um são alguns pontos a serem
senta de modo mais sutil.
construídos juntamente com os alunos.
Deste modo, o texto técnico/informati- O estudo do texto não pode ser visto
vo exige escritor e leitor interessados em como uma técnica em que se pode ofe-
determinado tema. Permite o crescimen- recer roteiros rígidos: cada texto poderá
to do indivíduo enquanto ser social e de ter um tipo de abordagem; cada turma de
cultura. aluno poderá determinar a abordagem
do texto, finalmente, cada professor, de
Os textos científicos/informativos pos-
acordo com o seu grau de sensibilidade e
sibilitam novas formas de pensamento;
de criatividade criará condições diferen-
trazem novos conhecimentos, permitem
tes para a abordagem do texto.
avanços científicos e a busca de soluções
alternativas. São textos relacionados com Ao se estudar um texto, quando se faz
o conhecimento sistematizado já produ- uma leitura ascendente, a compreensão
zido pelo homem nos diferentes campos de vocabulário é imprescindível pois cola-
da ciência. Permite acrescentar coisas ao bora para o aprofundamento e a amplia-
que se sabe. ção do conhecimento. Por isso, o trabalho
com o vocabulário do texto deve ser feito
26

no início do estudo de texto e que seja mesmo, após tal estudo.


retomado no decorrer do mesmo.
Este tipo de leitura oferece a oportu-
Um outro ponto importante quando se nidade para se formar um bom ouvinte,
trabalha com o vocabulário de um texto isto é, aquele que capta a mensagem pela
é o fato de esse trabalho não se limitar, audição sendo capaz de compreendê-la,
apenas, a uma pesquisa no dicionário, mas recriando-a para que se torne ativo na re-
é imprescindível a volta ao texto para que cepção da referida mensagem.
haja uma compreensão adequada do em-
O objetivo da leitura oral não é somen-
prego da palavra no mesmo.
te o de formar bons leitores, mas também
Citando Marekusehi (1985), Azambuja o de formar bons ouvintes. Não se tra-
e Souza (1997) relatam que um estudo ta portanto de leitura soletrada e sim de
de texto transcende a uma mera leitura uma leitura que assegure o interesse do
linear, sendo, portanto preciso “trabalhar ouvinte num processo de interação leitor-
o aluno leitor numa perspectiva crítica, -texto-ouvinte.
desenvolvendo nele capacidade de racio-
No dizer de Cagliari (1997), há alguns
cínio para além da contextualização cog-
vícios de leitura que se observam na es-
nitiva estrita”.
cola e até mesmo na vida das pessoas
Esse raciocínio se opera quando se des- porque alguns indivíduos só conseguem
monta o texto para um questionamento entender um texto se lerem em voz alta;
maior, buscando-se palavras e/ou expres- outros, ao contrário, só se lerem em silên-
sões consideradas como pistas, que ser- cio; alguns leem silabando ou palavra por
vem para desencadear uma série de supo- palavra; há os que quando leem precisam
sições que levarão o leitor a refletir sobre “mastigar os sons” e ficam mimicando à
elas, a questioná-las para posteriormente medida que leem. Há ainda as pessoas
aceitá-las ou não. Enfim a análise das par- que só conseguem compreender um tex-
tes é importante como instrumento para to respondendo a perguntas sobre ele,
a compreensão do texto. porque foram treinadas pela escola a res-
ponder um questionário de interpretação
A leitura silenciosa – individual – tem
de texto após cada leitura e julgam que
como objetivo a busca de significados e
essa é a única maneira de compreende-
contribui para que o aluno-leitor venha a
rem o que leem.
ter uma visão geral do texto a ser estuda-
do, visão esta que poderá ser enriquecida A leitura deve variar de acordo com o
ou refutada após o estudo feito. texto, pois não se lê uma poesia como se
lê um problema de matemática ou uma
A leitura oral também é de grande im-
narrativa. A reflexão que o primeiro tipo
portância, principalmente no ensino fun-
de leitura exige é diferente do que exigem
damental quando se propõe a leitura oral
o segundo e o terceiro. É preciso ensinar
expressiva, advinda de uma interação lei-
às crianças como proceder em cada caso,
tor-texto. O momento propício para se de-
mostrando-lhes como ler provas, exames,
senvolver tal atividade poderá ser antes
questionários, formulários, instruções,
de um estudo analítico do texto ou, até
jornais, revistas, etc.
27

Alguns tipos de leitura, como instru- para aprender outras coisas, lendo.
ções e problemas de matemática exigem
Para Citelli (1997) é de grande impor-
que o leitor primeiro tome conhecimento
tância as linguagens não escolares (TV,
do texto inteiro, depois releia-o por par-
jornal, rádio, quadrinhos, teatro e jogos
tes e em seguida encadeie essas partes
interativos) que ao serem incorporadas à
segundo resultados ou cálculos anterio-
prática didática, esta se torna mais rica e
res, até chegar ao fim. Uma leitura de tex-
também ajuda a ampliar o diálogo entre a
tos desse tipo só se completa quando se
escola e os meios de comunicação de mas-
conclui o que eles pedem que se faça ou
sa.
calcule. Antes disso, a compreensão de
texto é parcial ou se quiserem, apenas Segundo Freire (1997), a compreensão
“linguístico-literal”, o que não faz muito do texto a ser alcançada por sua leitura
sentido como procedimento matemático crítica implica a percepção das relações
mecânico. entre o texto e o contexto. Enfim, o ato
de ler implica sempre percepção crítica,
É fundamental ensinar os alunos a ler
interpretação e “re-escrita” do lido.
não só histórias, mas também outros tipos
de textos, incluindo problemas de mate- Os textos literários também devem ser
mática, provas e instruções de trabalhos, incluídos nas aulas de leitura?
porque muitos alunos deixam de resolver De acordo com Franco (1997), envol-
problemas de matemática não por não ver-se com a literatura é permitir-se co-
conseguirem efetuar as contas, mas por nhecer outros padrões linguísticos, en-
terem dificuldade em ler seus enunciados. xergar o mundo através de outros olhos
A leitura não pode ser apenas um ins- e de pensamentos os mais diversos. É
trumento para a confirmação do precon- apresentar estilos, o como utilizar-se da
ceito sociolinguístico da comunidade. Os língua escrita, de forma viva, com muito
alunos precisam e devem saber que um movimento e harmonia. Permite viagens
texto pode ser lido de muitas maneiras, no tempo-espaço e futuro, envolvimento
com muitas pronúncias e que não se tor- em ideias e acontecimentos de nossa pró-
na mais rico ou mais artístico ou mais belo pria escolha.
só porque foi lido no dialeto padrão. Mas Buscam-se, em um texto, informações,
a escola deve também mostrar aos alunos reflexões, pretextos, prazer, mas no dizer
que a sociedade tem certas expectativas de Gebara (2002), o tratamento dado ao
com relação à fala de seus membros e, texto poético na escola não desperta no
consequentemente, uma leitura no diale- aluno o gosto pela leitura porque a sua
to padrão, goza de prestígio na sociedade utilização na maioria das vezes é um pre-
e uma leitura com pronúncia estigmatiza- texto para a análise de aspectos metalin-
da, poderá ser objeto de riso, chacota, etc. guísticos.
Portanto, ensinar claramente ao aluno o
que é próprio da linguagem e o que é pró- Conforme afirma Rodari (1982), é de
prio do uso que a sociedade faz da lingua- grande importância que os educadores
gem, é fundamental. Na escola, a leitura contem histórias às crianças ou sugerem
serve não só para se aprender a ler, como às próprias crianças que elas mesmas in-
28

ventem suas histórias.


O contato com o livro literário não deve
ser desprezado porque é através dele que
o aluno pode desenvolver a linguagem, a
lógica, a estética e, principalmente, liberar
a criatividade, a imaginação e a fantasia.
Para Franco (1997), a leitura de textos
literários a partir do conhecimento e do
domínio de suas propriedades específicas
são alguns pontos a serem construídos
juntamente com os alunos.
Enfim, o texto literário inclui um outro
aspecto do letramento que é o prazeroso,
o belo, o estético da língua que é a litera-
tura.
29

UNIDADE 5 - Os gêneros literários

Para chegarmos aos diversos portado- Materiais elaborados pelo profes-


res de textos é preciso considerar primei- sor e produções de alunos
ramente o letramento como o processo de
Textos mimeografados; alfabeto ilus-
aprendizado da língua escrita, a partir da
trado; cartazes; gravuras; cruzadinha; car-
convivência dos indivíduos com materiais
tazes de acordo com sílabas trabalhadas;
escritos disponíveis e com as práticas de
quebra-cabeça de sílabas; fichas; dominó
leitura e de escrita da sociedade em que
de sílabas; caça-palavras; atividades mi-
se inscrevem e, portanto, fruto do grau de
meografadas; nome dos alunos; revistas
familiaridade e convívio do indivíduo com
para recortar; várias cartilhas; bingo; car-
os textos escritos em seu meio.
tazes contendo textos que falam sobre a
A estes materiais que já apresentamos vida dos alunos; textos coletivos; ditado;
ao longo da unidade 4: livros, revistas, autoditado; exercícios; painéis; exposição
cartazes, rótulos de embalagens, bulas de trabalhos dos alunos; brincadeiras com
de remédios, receitas culinárias e outros, frases, palavras; atividades relacionadas
chamamos “portadores de textos”, ou va- a projetos; ditado visual; fichas com difi-
riedade de gêneros de textos escritos que culdades [ortográficas];quadro de pregas;
a criança ou adulto reconhece e faz uso. atividades pesquisadas em vários livros;
O nível de letramento de um indivíduo produção de livros.
será determinado e superior, quando este Atividades com outras linguagens
fizer uso corrente destes portadores de
textos. Jogos diversos; brincadeiras, música;
artes; danças; jogos de memória; teatro;
Pode-se organizar estes portadores de fantoches; vídeos; gravuras; sucatas; dra-
textos em três grupos: matização de contos; slides; corporeidade
Textos que circulam socialmente dos alunos; desenho.

Revistas; encartes; jornais; rótulos; De acordo com análise encontrada na


parlendas; livros; folhetos de supermer- Revista Nova Escola (2006), temos que
cado; bulas de remédio; embalagens; his- as canções, poesias e parlendas são úteis
tória em quadrinho; propagandas; textos para se chegar à incrível mágica de fazer a
variados; livros de literatura; poesia; tra- criança ler sem saber ler. Quando ela de-
va-língua; panfletos; charadas, adivinha- cora uma cantiga, pode acompanhar com
ções, receitas, manual de eletrodomésti- o dedinho as letras que formam as estro-
co, anúncios; notícia de jornal; conversas; fes. Conhecendo o que está escrito, resta
“contação” de histórias; cantigas; repor- descobrir como isso foi feito. Se o aluno
tagens; letreiros; correspondências; ca- sabe que o título é Atirei o Pau no Gato,
tálogo; textos informativos; narrativos; ele tenta ler e verificar o que está escrito
livro paradidáticos. com base no que sabe sobre as letras e as
palavras - sempre acompanhado pelo pro-
30

fessor. sário e positivo, que se converse com os


alunos para saber o que já leram. A partir
O leitor eficiente só inicia a leitura de-
dessa conversa, se terá uma ideia sobre a
pois de observar o texto, sua forma, seu
familiaridade deles com a leitura, se gos-
portador (revista, jornal, livro etc.) e as
tam ou não de ler, o quê e por quê. Com
figuras que o acompanham e imaginar o
esses dados, melhor será a orientação das
tema. Pense que você nunca viu um jornal
atividades de leitura durante o ano.
em alemão. Mesmo sem saber decifrar as
palavras, é possível “ler”. Se há uma foto Entre outras propostas, existe a forma-
de dois carros batidos, por exemplo, de- ção de Clubes de leitura, utilizando os li-
duz-se que a reportagem é sobre um aci- vros da biblioteca da escola, que segundo
dente. Ao mostrar vários gêneros, você Ribeiro (1994, p. 61) “possibilita acesso à
permite à criança conhecer os aspectos literatura e as informações para dar res-
de cada um e as pistas que trazem sobre postas, suscitar perguntas aos educan-
o conteúdo. Assim, ela é capaz de anteci- dos, configurando uma instituição cuja
par o que virá no texto, contribuindo para tarefa centra-se na formação não só do
a qualidade da leitura. educando como também do apoio infor-
macional ao pessoal docente (...)” ou a que
Atividades que estimulem o hábito
tiver sido organizada na sala: os alunos se
de ler
escolhem para formar o clube, combinam
O contato com diferentes tipos de tex- o que vão ler fora do horário de aula e, a
to, desde cedo, é fundamental não só para cada quinzena, reúnem-se para comentar
formar o gosto pela leitura, como para o que leram. Essa reunião será uma boa
transformar os indivíduos em leitores ocasião para convidar os alunos que ainda
competentes. Entretanto, para a maior não tiveram aderido ao clube.
parte de nossos alunos, esse contato só
Outros projetos a serem sugeridos se-
é possível na escola, e mesmo assim, ra-
riam:
ramente é prazeroso; quase sempre, os
momentos de leitura são seguidos de co- Histórias que a Família Conta – des-
branças que impedem a livre fruição do tinado a recuperar as tradições orais da
texto (CENPEC, 2003). família, representadas pelas narrativas
de ficção, passadas de pai para filho, bem
Por outro lado, a escola não pode deixar
como a memória de fatos realmente vi-
a critério do aluno a decisão de ler ou não: é
vidos pelos antepassados. É comum, nas
sua função mostrar que a leitura pode ser
famílias, alguém gostar de contar histó-
uma fonte inesgotável de lazer e novos
rias, que todos gostam de ouvir. Propõe-
conhecimentos. Para isso, é possível criar
-se, neste projeto, que a classe monte um
na escola uma situação que deixe livre a
livro com histórias trazidas pelos alunos.
escolha dos títulos de leitura, bem como
Para incentivá-los, apresenta-se algumas
os comentários dos alunos e, ao mesmo
histórias do tipo de trabalho que se pre-
tempo, incentive-os a empenharem-se na
tende.
busca de qualidade da sua leitura.
Conhecendo Medicamentos, Ervas
Antes de iniciar os projetos, é neces-
Medicinais e Receitas Caseiras – projeto
31

que além de trabalhar o texto numa situ- jogo do humor. Segundo ele, tudo que
ação significativa, alerta os alunos contra transcende a esfera do juízo lógico e deli-
o uso indiscriminado de medicamentos. berativo é lúdico.
Para isso, irão conhecer e analisar bulas
Há basicamente três tipos de poemas:
de remédios, como preparar ervas casei-
ras, quando podem ser usadas, atentando Lírico – ritmo, musicalidade, brevi-
para aspectos como indicações, contrain- dade e intensidade. “Eu lírico” é voz cen-
dicações, posologia, composição, etc, com tral. Ligado à música em sua raiz.
o intuito também de familiarizá-lo com o Drama – baseado em diálogos, mo-
tipo de organização deste discurso. Ele nólogos e conflitos interiores e sociais. Li-
trabalhará com embalagens, bulas, pro- gado ao teatro.
pagandas de rádio, TV, podendo este pro-
jeto ser desenvolvido durante um certo Épico – o narrador apresenta perso-
tempo, que poderá ser maior ou menor, nagens envolvidos em situações de uma
dependendo do interesse dos alunos. Ao história, uma batalha, um evento.
longo do ano, podem ser feitas adapta- Pode-se dizer, assim, que a experiên-
ções consideradas necessárias de acordo cia linguística começa com o nascimento,
com o andamento, aceitação e resultado quando os primeiros sons e acordes são
dos mesmos. Faz-se necessário, antes do ouvidos. O som, primariamente, extrapo-
início de cada projeto, sua leitura, sua ex- la o significado nas parlendas, canções de
plicação, para que comece tendo-se em ninar, poemas. Em seu cotidiano, a crian-
mãos todo o material necessário, as eta- ça vive a poesia através das brincadeiras,
pas bem delimitadas para que não parem da invenção de rimas, dos trava-línguas,
no meio do caminho por falta de planeja- músicas, etc. É na atividade criativa com a
mento. língua que a criança constrói formas origi-
Alfabetizando por meio de poemas nais de ver o mundo.

“Poiesis”, palavra grega, significa “pro- As palavras na poesia têm muitos sen-
duzir, fazer,” criar uma realidade diferente tidos que variam de época, lugar, sua po-
da histórica e factual. A poesia na Antigui- sição no poema, etc. (ex: para Camões a
dade era ritual, entretenimento, enigma, palavra “gentil” é nobre e altiva, hoje ela
profecia, filosofia, competição. O poeta tem outro significado). Enfim, a poesia
era concebido como um sábio e a função tem alto poder de síntese de fala nas en-
do poema era social, educar e guiar uma trelinhas.
prática. Na Índia e Grécia antigas e no Im- Geralmente, o trabalho com a poesia
pério Romano, vários documentos, hinos, em sala de aula está atrelado, entre ou-
contratos e provérbios eram escritos em tros problemas, às atividades e aos exer-
versos, em parte pela facilidade de me- cícios oferecidos pelos livros didáticos
morização (HUIZINGA, 1980). que tratam este gênero discursivo como
Para o mesmo autor, todo poema tem pretexto para levar os alunos a discuti-
origem no jogo: jogo do culto, da corte rem conteúdos gramaticais e ortográfi-
amorosa, jogo marcial da competição, cos, deixando de lado o valor literário que,
32

prioritariamente, tais textos possuem. Os elementos essenciais para uma apro-


ximação com o poético são as emoções e
Hoje não se pode mais tratar o ensino
as associações sonoras. O humor, o belo,
da Língua Portuguesa sem levar em con-
o lúdico, a fantasia, entremeados ao coti-
sideração os usos e as funções sociais do
diano dão um colorido especial à aprendi-
texto. A escola deve, principalmente nas
zagem e cabe ao professor compartilhar
séries iniciais do Ensino Fundamental, va-
desse mundo tão particular, onde sonho e
lorizar o trabalho com textos conforme se
realidade se juntam num universo de sen-
apresenta em nossa sociedade letrada.
sações ingênuas e ricas. A poesia combina
Desse modo, as práticas de leitura e de
com alfabetização porque:
produção de texto poderão ganhar sen-
tidos, sem que o professor as transforme Aflora sensibilidades;
em situações voltadas, única e exclusiva-
Transmite uma visão de mundo;
mente, para avaliação e correção.
Cultiva a observação do ritmo e da
Essas afirmações podem ser fortaleci-
harmonia da natureza;
das se lermos o que dizem os Parâmetros
Curriculares Nacionais: Mantém os sentidos sempre aber-
tos;
A questão do ensino da literatura ou
leitura literária envolve, portanto, esse Auxilia a narrativa por meio da com-
exercício de reconhecimento das singula- paração;
ridades e das propriedades compositivas Auxilia na construção do conheci-
que matizam um tipo particular de escrita. mento de forma mais prazerosa;
Com isso, é possível afastar uma série de
equívocos que costumam estar presentes Vai ao encontro das expectativas
na escola em relação aos textos literários, da criança com relação à escola e à apren-
ou seja, tratá-los como expedientes para dizagem;
servir ao ensino das boas maneiras, dos Estimula a criatividade, assim como
hábitos de higiene, dos deveres do cida- o desenvolvimento da personalidade; fa-
dão, dos tópicos gramaticais, das recei- vorece a liberdade do “fazer” para então
tas desgastadas do “prazer do texto”, etc. “ser” (ALVES, 2006).
postos de forma descontextualizada, tais
procedimentos pouco ou nada contribuem Ainda segundo Alves (2006), a experi-
para a formação de leitores capazes de re- ência em sala de aula tem mostrado que a
conhecer as sutilezas, as particularidades, poesia e o trabalho com poemas facilitam
os sentidos, a extensão e a profundidade a aprendizagem e ajudam nos problemas
das construções literárias (BRASIL, 1997, de comunicação, principalmente nas tro-
p.37-28). cas e omissões de fonemas. Tudo o que
envolve arte e comunicação é poesia. A
Como então, alfabetizar com poesias? conversação, a dramatização, as rimas, as
Para Alves (2006), o ponto inicial é rece- cantigas favorecem o desenvolvimento
ber a criança com toda a poeticidade que da linguagem.
ela traz nos olhos e no coração, no seu jei-
to de ser e de estar com o mundo. Não existe pretensão de formar poetas
33

quando se alfabetiza com poesias, mas a escola e a sociedade e o uso de jornais


sim, proporcionar em sala de aula e fora e revistas é uma possibilidade de levar o
dela um clima de liberdade para criar, para mundo para dentro da escola e da sala de
inventar, para captar a vida, sendo mais aula.
um canal de acesso para que a criança
A jornalista argentina Roxana Murdo-
desperte para a vida, para o aprendiza-
chowicz chama o jornal de “janelas de pa-
do e para o mundo que a cerca, ajudando
pel”, alusão muito feliz, por sinal. Através
também nos problemas de comunicação.
dessas janelas, o aluno pode atravessar
Para Paes (1996), “[...] a poesia tende a as paredes da escola e entrar em contato
chamar a atenção da criança para as sur- com o mundo e com a atualidade. Jornais e
presas que podem estar escondidas na revistas são, portanto, mediadores entre
língua que ela fala todos os dias sem se a escola e o mundo.
dar conta delas”, enfim, na criança, tanto
O jornal é também uma fonte primária
o desenvolvimento da personalidade e da
de informação, espelha muitos valores e
sensibilidade quanto a expansão do real
se torna assim um instrumento importan-
pela poesia, e pela arte em geral, se dão
te para o leitor se situar e se inserir na vida
por meio do fluxo da fantasia, por sua per-
social e profissional. Como apresenta um
cepção particular do mundo.
conjunto dos mais variados conteúdos,
Finalizando e concordando com Mer- preenche plenamente seu papel de objeto
melstein (2006), abrir um livro de poemas de comunicação. Mas não só, pois como os
e começar a ler com frequência para o co- pontos de vista costumam ser diferentes
lega na sala dos professores, para o(a) fi- e mesmo conflitantes, ele leva o aluno a
lho(a), sobrinho(a), namorado(a), marido, conhecer diferentes posturas ideológicas
mãe, etc., pode ser uma forma prazerosa frente a um fato, a tomar posições funda-
de preparar o trabalho com a poesia em mentadas e a aprender a respeitar os di-
sala de aula, com certeza uma porta se ferentes pontos de vista, necessários ao
abrirá e o caminho para chegar no aluno pluralismo numa sociedade democrática
e partilhar com ele da beleza da poesia (FARIA, 2011).
acontecerá.
Como formador do cidadão, se a leitura
O uso do jornal na sala de aula do jornal for bem conduzida, ela prepara
leitores experientes e críticos para de-
Faria (2011) fala que a escola, como
sempenhar bem seu papel na sociedade.
toda instituição, é um estabelecimento
Na formação geral do estudante, a leitura
relativamente fechado e nela os alunos
crítica do jornal aumenta sua cultura e de-
recebem (ou deveriam receber) instru-
senvolve suas capacidades intelectuais.
ção e formação. Dado o anacronismo, em
parte inevitável, de sua estrutura e dos A utilização do jornal possibilita a atu-
programas, os alunos ficam ali isolados da alização do professor, mantendo-o sinto-
sociedade que evolui à sua volta. nizado com o momento atual e ampliando
sua bagagem cultural e seu engajamento
Um dos principais papéis do professor
social. Com o jornal, o professor se liber-
seria, pois, o de estabelecer laços entre
ta da rotinização e suas aulas podem ser
34

mais agradáveis e interessantes. Com diz que, ao vivermos na época da quarta


isto, cresce o professor e o trabalho se onda, do poder da informação, a escola
torna menos árduo e mais motivador. Com tem uma infinidade de possibilidades para
a troca de experiências e a publicação das trabalhar a informação na escola. Com a
mais interessantes, o professor sente seu utilização do jornal, o foco se desloca do
trabalho valorizado e tem mais motivação conteúdo curricular abstrato para a reali-
(RIBEIRO, 2003). dade palpável, ou seja, ele se transforma
numa ponte entre os conteúdos teóricos
Como padrão de língua, os bons jornais
dos programas escolares e a realidade.
oferecem, tanto ao professor como aos
alunos, uma norma padrão escrita que sir- Para os alunos, o jornal é o mediador
va de ponto de referência para a correção entre a escola e o mundo; ajuda a rela-
na produção de textos. cionar seus conhecimentos prévios e sua
experiência pessoal de vida com as notí-
A leitura do jornal oferece, ainda, um
cias; leva-os a formar novos conceitos e a
contato direto com o texto escrito autên-
adquirir novos conhecimentos a partir de
tico (e não com textos preparados apenas
sua leitura; ensina-os a aprender a pensar
para serem usados na escola). Desenvol-
de modo crítico sobre o que leem; esta-
ve e firma a capacidade leitora dos alunos;
belece novos objetivos de leitura. Para os
estimula a expressão escrita dos estudan-
professores, enfim, o jornal é um excelen-
tes, que aprendem com o jornal a lingua-
te material pedagógico (para todas as áre-
gem da comunicação para transmitirem
as) sempre atualizado, desafiando-os a
suas próprias mensagens e informações
encontrar o melhor caminho didático para
(FARIA, 2011).
usar esse material na sala de aula.
Ademais, o jornal é o material de leitura
A quarta onda citada por Ribeiro nos
mais frequente entre os adultos leitores;
leva ao primeiro objetivo da pedagogia da
segundo a Folha de São Paulo de 13 de
informação que é ensinar o aluno a se si-
dezembro de 1992, “de cada 100 paulista-
tuar no caos desse excesso de informação
nos, 43 tinham o hábito de ler jornais”.
(tanto no que diz respeito a fatos históri-
O jornal é também um registro da his- cos importantes como aos fatos miúdos
tória, no seu dia a dia. Mas uma “história do cotidiano).
truncada, um mundo caótico”, como ob-
É ensiná-lo a selecionar os fatos, orga-
serva Nicolau Sevcenko (s.d apud FARIA,
nizando-os, analisando-os, criticando-os.
2011). Isto, entretanto, leva o aluno a ad-
Neste sentido, os efeitos mais gerais do
quirir a competência necessária para or-
trabalho com o jornal na escola levam o
denar e compreender esse caos aparente.
aluno a desenvolver operações e proces-
Para tanto, ele aprenderá a relacionar o
sos mentais que concorrem para a cons-
passado com o presente, buscando as ori-
trução da inteligência, tais como: identifi-
gens dos fatos e a refletir sobre as conse-
car, isolar/relacionar, combinar, comparar,
quências daquilo que ocorre dia após dia,
selecionar, classificar, ordenar; induzir
numa projeção da história para o futuro.
e deduzir; levantar hipóteses e verificá-
Ribeiro (2003) tem toda razão quando -Ias; codificar, esquematizar; reproduzir,
35

transformar, transpor conhecimentos, nos primeiros contatos com o jornal.


criar; conceituar; memorizar, reaplicar co-
Abaixo uma sugestão de atividades
nhecimentos.
com a sequência das fases a serem segui-
Mais diretamente ligadas às ativida- das quando este for o primeiro contato
des de aprendizagem da leitura do jornal com jornais e revistas. Parte-se do primei-
e da produção de textos informativos e ro contato e chega-se ao aprofundamen-
científicos, os alunos aprendem a encon- to de sua leitura e a produção de textos
trar pontos de referências e balizas; pes- jornalísticos.
quisar, decodificar, levantar dados, fazer
a) entrar em contato com o jornal;
escolhas; ordenar ideias, comparar e com-
provar; ligar um fato ao outro, hierarqui- b) conhecer o jornal;
zar, estabelecer relações de causa e efei- c) visitar o jornal;
to; argumentar e contra-argumentar;
d) aprofundar a análise e a prática do
E no seu sentido mais geral: aprender a jornal.
ler; aprender a escrever;aprender a trans-
ferir aprendizagem dos fatos gerais lidos Atividade com jornal para 3º ano
no jornal à sua vida cotidiana; aprender a 1. ONDE ENCONTRAMOS OS JORNAIS
aprender. E AS REVISTAS?
Aqui vão algumas dicas para o profes- -Objetivos
sor que pretende trabalhar o jornal da sala
Tomar conhecimento da variedade de
de aula, as quais poderíamos resumir no
títulos da imprensa escrita.
seu ato de planejar:
Localizar os lugares de venda, de
1. Pense o tempo que se pretende de-
consulta e leitura ou outros, onde jornais
dicar ao jornal, no conjunto de atividades
e revistas ficam à disposição de leitores.
de seu programa anual (ou semestral, ou
bimestral etc.). -Nível dos alunos
2. Escolha as atividades que pretende A partir do 3º ano. Para os menores cen-
desenvolver, atendendo a pontos básicos trar as pesquisas nas publicações infantis.
como:
-Tempo
a) as características específicas das
Muito variável, segundo a idade dos
turmas em que se leciona;
alunos e o maior ou menor aprofunda-
b) idade e nível intelectual dos alunos, mento dos dados a serem levantados.
o que determinará abordagens diferen- Considerando a quantidade do material a
tes, conforme o caso; ser coletado nesta pesquisa, aconselha-
-se que seja feita no início do ano letivo,
c) o momento do ano letivo em que o
para ir aproveitando-a aos poucos nos
assunto será tratado;
meses subsequentes.
d) o interesse dos alunos por determi-
-Material
nados temas, fator essencial, sobretudo,
36

Caderno/bloco para tomar notas, má- escolhem os lugares que gostariam de


quina fotográfica, gravador, filmes, DVD, pesquisar.
fichas, cartolina para cartazes, canetas
6) Em seguida, organiza-se a pesquisa:
hidrográficas, mapa da cidade ou do bair-
o que observar, o que anotar, os roteiros
ro.
de perguntas, os roteiros de entrevistas.
-Desenvolvimento Estabelecer as perguntas básicas a serem
feitas às pessoas: jornaleiros, vendedo-
PRIMEIRA FASE: Preparação da pes-
res, leitores, bibliotecários, recolhedores
quisa
de jornais velhos.
(1) Na sala de aula: orientação inicial
(7) Na banca, pode-se pedir posters de
dos alunos.
propaganda dos jornais e revistas para
(2) O professor prepara a classe para a documentar e ilustrar o trabalho final.
pesquisa, explicando seus objetivos, e dá
(8) Orientar os alunos para as fotos: o
uma ideia geral de sua execução.
que e quem fotografar.
(3) A classe levanta hipóteses sobre
(9) Esta orientação deve contar com a
todos os lugares em que se pode comprar,
ampla participação da classe, que dará su-
ler ou encontrar jornais e revistas. Cada
gestões.
sugestão é escrita no quadro.
(4) As listas são organizadas a partir
dos itens abaixo e os alunos copiam em SEGUNDA FASE: Execução da pesquisa
seus cadernos:
Os alunos saem (pela cidade, bairros ou
Pontos de venda: bancas de jornal, lo- quarteirões) em busca das informações
jas, livrarias, supermercados, etc. e dos dados a serem trabalhados na fase
seguinte.
Pontos de distribuição: representan-
tes de jornais na cidade, correios, pesso-
as encarregadas de entregar o jornal aos
TERCEIRA FASE: Organização e explo-
assinantes, etc. Indagar como e quando
ração dos resultados
esses intermediários recebem o material
das empresas. (1) Na sala de aula ou em casa.
Lugares de leitura: bibliotecas, salas de (2) Dependendo dos objetivos que se
espera variadas (médicos, cabeleireiros, decidiu alcançar, esta parte pode se limi-
etc.), bares, transportes públicos, a casa tar a um levantamento esquemático dos
dos leitores, etc. resultados ou chegar a desdobramentos
complexos do trabalho, como por exem-
Outros lugares: depois de lido, o jornal
plo:
é descartado. Onde vai parar (açougues,
quitandas ...). Quem os recolhe, quem os a) Elaboração de plantas da cidade,
compra. O que se faz com esse papel. Re- do bairro ou do quarteirão e aí localizar
ciclagem do papel. as bancas de jornal etc., assinalando-se
aquela onde foi realizada a pesquisa. É um
(5) O professor organiza os grupos, que
37

trabalho que pode ser feito com a colabo- poderão ser montadas cenas diversas a
ração do professor de geografia e de edu- partir do que se viveu ou observou.
cação artística.
i) Elaboração de quadros com reporta-
b) As equipes que pesquisaram bancas gens fotográficas e suas legendas e tex-
de jornais ou lojas de vendas podem apre- tos.
sentar uma classificação dos títulos das
Observações - É importante que os alu-
publicações à venda, agrupando-os por
nos não sejam sobrecarregados com ex-
gênero. Em seguida, poderão fazer uma
cesso de notas, o que tornaria o trabalho
classificação mais detalhada dos títulos
desinteressante. Assim, seria bom que
que mais interessam a equipe ou aos alu-
cada grupo só fizesse o levantamento de-
nos em geral. Pode-se indicar os títulos
talhado de um único gênero jornalístico e
que os vendedores põem em destaque.
dentre as revistas de um só tema, segun-
Para os pequenos, ficar, por exemplo, só
do os interesses e as idades. Por exemplo:
com a classificação de gibis.
um grupo se ocuparia dos jornais, outro
c) Elaboração de um esquema de loca- das revistas femininas, outro de revistas
lização dos tipos de impressos (cartazes dedicadas a esportes, etc. Não havendo
de propaganda) e seus temas no local de duplicação de trabalho entre os grupos,
venda. cada um ouvirá a exposição do outro com
mais interesse.
d) Numa rápida troca de ideias, oral-
mente portanto, os grupos cotejam as di- Caberá portanto à sensibilidade do pro-
ferenças e semelhanças de apresentação fessor dosar esta atividade, estabelecen-
dos títulos em postos de venda diferen- do os limites da pesquisa em todos os seus
tes. aspectos. No caso de dificuldades em sair
com os alunos pequenos para a rua, a fim
e) As equipes que pesquisaram biblio-
de observar os pontos de venda, o pro-
tecas poderão fazer o mesmo trabalho.
fessor pode montar uma banca dentro da
f) Com as relações de títulos levantados sala de aula. Para isso, terá ele mesmo que
na banca, os alunos podem organizá-Ios. observar primeiro a organização de um
g) A classe organiza um painel final com ponto de venda.
todos os resultados sintetizados em seus Solicitar que os alunos tragam jornais e
aspectos essenciais. revistas os mais variados para a aula. Cada
h) Outras atividades poderão ainda título de jornal deve ter vários exempla-
resultar desse trabalho, como: redações, res. Organiza-se a “banca” com a classe,
quadros, estatísticas (recorrer ao profes- sob a orientação do professor. A partir daí
sor de matemática). De caráter mais lite- pode-se fazer trabalho de observação e
rário, poderão ser feitas descrições rápi- levantamento proposto.
das de tipos, como o leitor, o vendedor, o Esta forma de trabalho não terá a rique-
comprador e ainda narrativas a partir dos za daquele feito numa banca verdadeira,
diferentes acontecimentos ocorridos du- mas será certamente um trabalho lúdico
rante a pesquisa. Do ponto de vista lúdico, que motivará as crianças (FARIA, 2011).
38
UNIDADE 6 - Introdução às dificulda-
des de leitura e escrita
Existem dificuldades de aprendiza- temáticas e de raciocínio, encontramos
gem que necessitam de intervenção a discalculia e acalculia. Estas dificulda-
psicológica ou psicopedagógica, no en- des se revelam na aquisição da noção
tanto, algumas podem ser resolvidas de números, no lidar com quantidades e
dentro da escola, por meio de programas relações espaços-temporais e problemas
individualizados de ensino e/ou práticas de aquisição e utilização de estratégias
pedagógicas diferenciadas, basta que o para aprender, manifestados na falta de
professor tenha noções básicas dessas organização e utilização de funções me-
dificuldades, perceba o aluno portador tacognitivas, comprometendo o sucesso
da mesma e tome as iniciativas devidas. na aprendizagem.
Neste tópico, a nossa intenção é ape-
nas introduzir as dificuldades mais co- DISLEXIA
muns relativas à leitura e escrita. De todo
modo é interessante saber que podem Desordem do aprendizado que afeta a
ser classificadas em grupos. leitura, a ortografia e a linguagem escri-
No grupo dos distúrbios da concen- ta, podendo ser acompanhada de proble-
tração e atenção caracterizado por com- mas com os números, uma memória de
portamentos de hiperatividade e impul- curto prazo pobre e falta de aptidão.
sividade temos o TDAH – transtorno do Embora a dislexia afete principalmen-
déficit de atenção com hiperatividade; te o domínio dos símbolos gráficos, como
DDA – desordem de déficit de atenção; letras, números e notas musicais, ela
Limitrofia; TOC - Transtorno Obsessivo também pode trazer dificuldades para a
Compulsivo; ST – Síndrome de Tourette. linguagem falada.
No grupo dos problemas receptivos e De acordo com a Associação Brasileira
de processamento da informação estão de Dislexia (2011), ao contrário do que
as disgrafias, disortografias, disfasias, muitos pensam, a dislexia não é o resul-
afasia e dislalia. Este grupo diz respeito tado de má alfabetização, desatenção,
à competência linguística, como as ativi- desmotivação, condição socioeconômica
dades de escrita, distinção de sons e de ou baixa inteligência. Ela é uma condição
estímulos visuais, aquisição de léxico, hereditária com alterações genéticas,
compreensão e expressão verbal. apresentando ainda alterações no pa-
No grupo das dificuldades de leitura drão neurológico.
manifestada pela aquisição das compe- Por esses múltiplos fatores é que a
tências básicas relacionadas à fase de dislexia deve ser diagnosticada por uma
decodificação, como sendo a compreen- equipe multidisciplinar. Esse tipo de
são e interpretação de textos, as dificul- avaliação dá condições de um acompa-
dades de escrita e presença de erros or- nhamento mais efetivo das dificuldades
tográficos, em geral, está a dislexia. após o diagnóstico, direcionando-o às
No último grupo, das dificuldades ma- particularidades de cada indivíduo, le-
39

vando a resultados mais concretos. de palavras reais, sugerindo danos ou


Segundo Tomaso, Thomas e Stanley lesões na via de conversão de grafema
(2007 apud CHAMAT, 2008), ela é uma para fonema. Os estudos realizados na
patologia de cunho neurológico, não re- intenção de correlacionar esta dislexia
sultando de audição ou visão pobres ou com substratos neuroanatômicos ainda
de baixa inteligência. não são conclusivos;
Segundo os mesmos autores, uma em Dislexia Profunda – Assemelha-se
cada 20 crianças é disléxica (três vezes à dislexia fonológica, com igual bloqueio
mais meninos que meninas) e, se um dos para leitura de não palavras, mas a dife-
pais foi disléxico, a criança terá 17 vezes rença é que, nesta dislexia, há presença
mais probabilidade de sofrer da doença. de paralexias semânticas e maior facili-
As causas aparentes são os déficits de dade em leitura de palavras concretas e
discriminação visual, coordenação vi- frequentes.
somotora, noção têmporo-espacial. As Nas Dislexias Periféricas, encontra-
causas subjacentes revelam-se com in- mos também três subdivisões:
terferência no desenvolvimento percep- Dislexia Atencional – O indivíduo lê
to-motor. palavras isoladas, mas encontra dificul-
Uma definição neuropsicológica da dade ou barreiras para ler várias palavras
dislexia é de que se encontram alterados simultaneamente;
os processamentos periférico e central. Dislexia por Negligência – caracte-
As Dislexias Periféricas são causadas riza-se por ausência ou dificuldade de
por um comprometimento no sistema de leitura no campo visual contralateral à
análise visuo-perceptiva, enquanto que lesão cerebral;
as centrais são causadas por comprome- Dislexia Literal ou Pura: O indiví-
timento do processamento linguístico duo consegue ler letras individuais, mas
dos estímulos. apresenta dificuldade em ler palavras
Dentro das Dislexias Centrais, encon- (subentendido) (OLIVIER, 2008).
tram-se subdivisões que são:
Dislexia de Superfície – Caracteri- E finalizando esta explanação, Olivier
za-se basicamente pela falha de leitura (2008) chama atenção que é preciso pa-
de palavras irregulares, em um compro- rar, definitivamente de imaginar que a
metimento da via lexical. Segundo estu- dislexia faça trocar letras (p/b, t/d, etc.).
dos de casos únicos e múltiplos e usan- Segundo ele, crianças com perdas auditi-
do-se PET (Tomografia por Emissão de vas leves ou moderadas também costu-
Pósitrons) em indivíduos normais con- mam trocar e confundir fonemas, espe-
vergem para o acordo sobre o papel de cialmente, “t” por “d”, “f” por “v”, “p” por
estruturas localizadas nas regiões tem- “b”, “q” por “g”, quando falam e até quan-
poral média e póstero superior do hemis- do escrevem, principalmente na fase de
fério esquerdo na leitura pela via lexical; alfabetização. Isso acaba sendo confun-
Dislexia Fonológica – Caracteri- dido com dislexia, quando, na verdade, é
za-se pela incapacidade para leitura de apenas uma falha auditiva.
“não palavras” e habilidade para leitura
40

Além desses distúrbios, há outros que frontal e lateral, tendo a parte posterior
também têm sintomas parecidos com inibida.
os da dislexia e isso acaba confundindo Diante desses resultados, constata-
pais, professores e até profissionais mal ram-se evidências neurobiológicas de
informados. É preciso tomar muito cui- que existe uma interrupção subjacente
dado antes de diagnosticar uma dislexia, nos sistemas neuronais associados à lei-
que é bem mais complexa do que a maio- tura em crianças com dislexia. Os dados
ria dos distúrbios relatados. indicaram que isso já é evidente desde
O que acontece com o disléxico é que, muito cedo, concluíram os autores, em
na maioria dos casos, ele não identifica artigo publicado na revista Biological
sinais gráficos, letra ou qualquer código Psychiatry.
que caracterize um texto. Portanto, ele
não troca letras, porque seu cérebro se- DISGRAFIA
quer identifica o que seja uma letra.
Se inverte letras e sílabas, é simples- Desordem de integração visual-mo-
mente porque nem sabe o que são le- tora, ou seja, não há coordenação entre
tras e sílabas e não porque “troca letras”, os dois. É a dificuldade ou a ausência na
como se insiste em divulgar. Existem aquisição da escrita.
muitos distúrbios que fazem realmente O indivíduo fala, lê, mas não consegue
a pessoa trocar letras, um deles é a dis- transmitir informações visuais ao siste-
lalia, que veremos mais adiante, e outros ma motor. Resumindo: lê, mas não escre-
que em momento oportuno serão cita- ve, além de, possivelmente, ter graves
dos. Enfim, a dislexia não causa a troca problemas motores e de equilíbrio (OLI-
de letras, é algo muito mais complexo VIER, 2008).
que isso. Características do sujeito com disgra-
Ainda sobre essa visão, deve-se lem- fia:
brar que a equipe de G. Reid Lyon, do Ins- O indivíduo não possui dificuldades
tituto Nacional de Saúde Infantil Desen- visuais nem motoras, mas não consegue
volvimento Humano dos Estados Unidos, transmitir as informações visuais ao sis-
em Bethesda (Maryland), avaliou exames tema motor. Deficiência de “transmis-
de imagens do cérebro em funcionamen- são”;
to de 144 pessoas, sendo 70 disléxicas e Fala e lê, mas não encontra padrões
74 não disléxicas, todas com idade entre motores para a escrita de letras, núme-
sete a 18 anos. ros e palavras;
Enquanto realizavam várias tarefas de Não possui senso de direção, falta-
leitura e de compreensão de sons, eles -lhe equilíbrio;
foram submetidos a um exame cerebral Pode soletrar oralmente, mas não
chamado ressonância magnética funcio- consegue expressar ideias, por meio de
nal. Foi observado que as pessoas com símbolos visuais, pois não consegue es-
leitura normal, ou seja, sem dislexia, ati- crever.
varam a parte posterior do cérebro, en-
quanto as disléxicas ativaram as regiões Acima de tudo, necessita de avaliação
41

multidisciplinar e acompanhamento psi- que, antes de qualquer teste e exame, é


copedagógico. preciso analisar a classe social e a forma
Usar microespaços e macroespaços como o indivíduo foi ou está sendo edu-
para a aprendizagem (entenda-se macro cado e alfabetizado. Em uma casa onde
= espaço físico qualquer e micro = sulfi- todos pronunciam e escrevem incorreta-
te, caderno, etc.). mente as palavras, é muito difícil a crian-
O Balé desenvolve o equilíbrio e ça aprender de forma correta na escola.
ajuda o desenvolvimento da letra cursiva Se não for esse o problema, então,
(letra pequena, traçada de modo rápido deve-se pensar em falhas no sistema
e corrente). de ensino ou, finalmente, em distúrbio.
O planejamento do tratamento envolve
DISORTOGRAFIA trabalho focal e divisão da sessão, sendo
que na primeira parte deve-se oferecer
Dificuldade na expressão da lingua- atividades mais criativas, mais livres, po-
gem escrita, revelada por fraseologia in- rém dirigidas.
corretamente construída e/ou por pala-
vras escritas de forma errada, associada DISLALIA
geralmente a atrasos na compreensão
e/ou na expressão da linguagem escrita Má pronúncia das palavras, omitindo
(OLIVIER, 2008). ou acrescentando fonemas, trocando
Tem sido definida erroneamente como um fonema por outro ou distorcendo-os,
letra feia ou letra de médico. Na verdade, ou ainda trocando sílabas. Assim sendo,
trata-se de algo mais complexo do que os sintomas da dislalia consiste em omis-
apenas letra feia. são, substituição, acréscimo ou defor-
Para Chamat (2008), a disortografia mação dos fonemas. Exemplo prático é o
caracteriza-se pelos seguintes sintomas: Cebolinha, do escritor Maurício de Souza,
trocas, inversões, omissões. É diferente que é uma típica criança com dislalia, tro-
de erros na escrita que correspondem ou cando o som da letra R pelo da letra L.
não ao som da palavra, podendo ter cau- As causas podem ser desde malforma-
sa endógena, exógena ou as duas oca- ções ou de alterações na boca, na língua
sionadas por alteração emocional afetiva e no palato (malformações congênitas
e cognitiva. ou como consequência de traumatismos
O balé clássico, além de desenvolver o dos órgãos fonadores). Por outro lado,
equilíbrio e ser útil no tratamento de di- certas dislalias são causadas por enfer-
versos distúrbios, desenvolve também a midades do sistema nervoso central ou
letra cursiva, o que pode ser útil para so- pode não haver nenhuma alteração or-
lucionar a letra feia, quando não é fruto gânica, a que chamamos de Dislalia Fun-
de nenhum distúrbio. cional.
A disortografia, por ser mais com- Pode ser causada por hereditariedade,
plexa, necessita de exames e de tes- imitação ou alterações emocionais. Até os
tes específicos para detectar a causa e quatro anos, os erros na linguagem são
os melhores tratamentos. Vale lembrar considerados normais. Depois dessa fase,
42

se a criança continuar falando errado, pre- deficiência causada por anemia ou desnu-
cisará passar por exames específicos para trição, enfim, se a criança estiver bem física
detectar as causas e os possíveis tratamen- e mentalmente, restarão as causas psicoló-
tos. gicas e a deficiência do sistema de ensino
A dislalia, troca de fonemas (sons das le- para justificar o fracasso com os números.
tras), pode afetar também a escrita. As causas psicológicas são muitas e por
demais complexas, por isso não cabe nume-
DISCALCULIA rá-Ias aqui. As dificuldades causadas pela
deficiência do ensino também são muitas e
Este é mais um dos distúrbios que podem sua solução depende de uma nova visão da
ser causados por anoxia perinatal ou por matemática.
outros acidentes, que acabam afetando o Vários estudos apontam que é necessá-
funcionamento normal do cérebro. Alguns rio conhecer melhor a matemática ineren-
profissionais desinformados negam-se a te às atividades da vida diária das crianças
aceitar que a discalculia atinja crianças em e construir, a partir dessa matemática real,
idade escolar, alegam que só é possível “ad- pontes e/ou ligações efetivas para a ma-
quirir” por meio de um Acidente Vascular temática abstrata que a escola pretende
Cerebral (popular derrame) ou traumatismo ensinar. Isso quer dizer que uma criança,
crânio-encefálico. cujo pai é vendedor ambulante ou feiran-
Essa afirmação é segundo Chamat e Oli- te, por exemplo, um vendedor de pastéis,
vier (2008), no mínimo, incompleta. Na geralmente sabe fazer contas, somar, mul-
verdade, qualquer acontecimento anormal tiplicar, dar trocos, “ajudando o pai”. Essa
que desencadeie uma descarga elétrica no mesma criança pode perder-se totalmente
cérebro pode causar um distúrbio, seja ou nas contas e nas equações propostas em
não de aprendizagem. Outros especialistas sala de aula. A explicação é muito simples:
chegam a incluir os sintomas da discalculia ao acompanhar o pai, vendendo pastéis, a
na “lista” de sintomas característicos da dis- criança “vê” o pastel, o dinheiro do freguês,
lexia, o que é, de fato, um imenso equívoco. o troco, tudo é real. Na lousa, os números
Primeiramente, é preciso distinguir a dis- são apenas sinais que a criança vê, mas não
calculia (que é basicamente um distúrbio distingue.
neurológico, com causas diversas) da sim- Exemplo: A adição 4 + 3 = 7, escrita na
ples dificuldade no aprendizado da mate- lousa quer dizer o quê?
mática, que afeta a maioria dos estudantes Para a criança, é apenas um conjunto de
e que, geralmente, é gerada pela deficiên- símbolos numéricos, totalmente abstratos.
cia do próprio sistema de ensino. As causas No fundo, ela não entende o porquê desta
biológicas e psiconeurológicas devem ser conta, não entende “o que” é 4 ou 3 ou 7
diagnosticadas e tratadas por meio de exa- não sabe quantas unidades estão “dentro”
mes específicos feitos por profissionais das dos números 4,3,7... , Uma forma de fazer a
respectivas áreas. criança assimilar as operações é tornar tudo
Após todos os testes e os exames, se fi- o mais real possível. Exemplo: usar palitos,
car comprovado que a criança não tem ne- figurinhas, bolinhas, enfim, qualquer mate-
nhuma disfunção neurológica, nenhuma rial “palpável” e separá-Ios em “montinhos”
43

ou “grupinhos”: 4 palitos + 3 palitos é igual Confunde-se, achando que todos


a ... Após contar os palitos, a criança che- os números são iguais.
gará ao resultado 7, sabendo exatamente Não consegue dizer com exatidão
o que é e, acima de tudo, quanto é 7. Os quantos anos tem, nem mesmo mostran-
números, então, deixarão de ser apenas do nos dedos.
sinais na lousa e terão um significado real. Não sabe distinguir o número de
São muitas as técnicas que podem ser sua residência nem a data de seu aniver-
usadas para solucionar as falhas no ensi- sário.
no da matemática “abstrata” das escolas. Não consegue contar em sequência
Com um pouco de criatividade, o professor lógica.
encontrará inúmeras formas de ensinar e Não consegue fazer contas básicas,
despertar na criança o interesse pelos nú- mesmo usando objetos concretos.
meros, facilitando assim o aprendizado da Não reconhece símbolos matemáti-
matemática. cos.
Não consegue “escrever” os núme-
Principais dificuldades do aluno: ros.
1 - Dificuldade de passar do texto para Demonstra nervosismo, quando
linguagem matemática; exposto às aulas de matemática.
2- Falta de vivências concretas; Ao apresentar esses sintomas, pode-
3- Inadequação dos temas com o de- -se pensar em discalculia, que poderá ser
senvolvimento. comprovada por meio de exames e de tes-
tes.
“Problemas” de matemática vêm sem-
pre carregados de emoção negativa, pois, HIPERLEXIA
sempre que os adultos referem-se aos
problemas, é com um significado de algo A hiperlexia é um dos mais complexos
abstrato, difícil de resolver e que preci- distúrbios, não só pela variação de sinto-
sa ser eliminado. Para crianças que não mas e características como também pela
aprendem matemática por problemas psi- dificuldade no diagnóstico, visto que a
cológicos, basta mudar o nome do “pro- pouca literatura existente tende a gene-
blema” para: “Vamos descobrir o resulta- ralizar o distúrbio em alguns aspectos.
do” ou algo assim. Apesar de simples, Sua definição mais usada é “desordem de
esta estratégia melhora sensivelmente linguagem com preciosa habilidade para a
o aprendizado. Isto, aliado à matemática leitura” (OLIVIER, 2008).
concreta descrita anteriormente, melhora Pode ser definida também como um
em muito o aprendizado da matemática. espelho da dislexia ou como específico do
Como detectar uma possível Discalcu- indivíduo com enorme capacidade para
lia? aprendizado, mas com grandes dificul-
Entre os três e os seis anos, já pode-se dades para linguagem escrita ou falada.
detectar uma possível discalculia, anali- Pode ainda ser classificada como apenas
sando-se os seguintes sintomas: distúrbio de linguagem.
 Parece não reconhecer números Alguns autores chegam a classificar a
nem distingui-los. hiperlexia como integrante do quadro de
44

Transtornos lnvasivos do Desenvolvimen- para prestar atenção a qualquer ensina-


to (TlD) ou como subcategoria da Desor- mento.
dem Profunda do Desenvolvimento, o que Assim como a dislexia, que ainda hoje
acaba, de certa forma, igualando o indiví- é vista de forma generalizada pela maio-
duo com hiperlexia aos autistas e aos por- ria dos profissionais, gerando inúmeros
tadores de síndromes como Rett e Asper- mal-entendidos e até erros de diagnósti-
ger. cos, a hiperlexia também caminha assim.
Tudo isso tem sentido e deve, ob- Por isso, os profissionais das áreas que
viamente, ser aceito, mas o que não se atendem a este distúrbio devem estar
pode fazer é generalizar e deixar de lado atentos aos sintomas e às características
outras características tão importantes principais.
quanto estas e que também sinalizam a As características e os sintomas da
hiperlexia. São elas: hiperlexia basicamente são: (considerar
Crianças com aprendizado acelera- distúrbio a partir de duas ou mais carac-
do de leitura e de escrita podem até se terísticas no mesmo indivíduo)
auto-alfabetizar e tornarem-se autodi- 1 - Aprendizado precoce da leitura e
datas, com excelente memória e capaci- da escrita (antes dos cinco anos e sem
dade para cálculos complicados. Há ca- nenhum estímulo aparente).
sos até de crianças, consideradas como 2 - Alterações em um ou mais proces-
“gênios”, aprendendo vários idiomas sem sos básicos, tais como sociais, motores,
sequer estudá-los, parecendo aprender cognitivos, afetivos ou linguagem.
sozinhas, ingressando em cursos para 3 - Dificuldades em associações (uso
adultos ou faculdades muito antes da indevido de regras pragmáticas, semân-
idade prevista ou formando-se em cur- ticas e sintáticas).
sos considerados complicados demais 4 - Facilidade para receber e armaze-
ou ainda solucionando questões mate- nar quantidades isoladas de informações
máticas consideradas impossíveis de se de maneira mecânica, mas com dificulda-
resolver ou fazendo qualquer outra coi- des em organizar e/ou utilizar a informa-
sa fora do comum, demonstrando uma ção de forma útil.
capacidade extrema para aprendizado 5 - Uso de muitas gírias ou jargões, não
(OLIVIER, 2008). por vício de linguagem, mas por não con-
No entanto, quase sempre são hipe- seguir construir frases perfeitas ou até
rativas, têm dificuldades de relaciona- mesmo para substituir um discurso.
mentos, abandonam a escola tradicional 6 - Ecolalia, que pode, com o passar do
muito cedo e, por não se adaptarem aos tempo, ser espaçada, amenizada ou eli-
métodos usados, seguem por cursos de minada.
“adultos” achando que já aprenderam 7 - Também se consideram caracterís-
tudo, pulando etapas que Ihes farão fal- tica da hiperlexia crianças que aprendem
ta cedo ou tarde. Têm mais facilidade no a ler e a escrever precocemente, mas fa-
aprendizado cinestésico (experimenta- lam tardiamente. A partir do momento
ção) e apresentam impaciência, impul- em que desenvolvem a linguagem falada,
sividade, agressividade, incapacidade passam a ter fluência. Neste caso, a lin-
45

guagem segue as descrições atribuídas à passando por várias etapas do ensino de


Síndrome de Asperger. (A característica forma acelerada, chegando muito cedo à
básica desta síndrome, além da fala tar- faculdade ou parando de estudar logo no
dia, mas fluente, é o monólogo e não um início do aprendizado, por julgar que “já
diálogo, como se espera do indivíduo que aprendeu tudo”, ninguém mais tem algo
desenvolve uma conversa). de útil a lhe ensinar.
8 - Grande habilidade e necessidade 15 - Pode apresentar excelente me-
de ler tudo o que encontra, desde out- mória para idiomas, podendo tornar-se
doors, placas, até revistas e jornais. Mas, facilmente um poliglota.
em muitas vezes, sem entender o signifi- 16 - Extrema capacidade para cálculos
cado do que se lê e/ou se escreve, o que matemáticos inclusive resolvendo solu-
caracteriza um distúrbio de aprendiza- ções complicadas “de cabeça”: sem re-
gem. curso da escrita ou de calculadoras.
9 - Uma característica bastante inte- Se o indivíduo apresentar dez ou mais
ressante e própria de muitos hiperléxi- sintomas acima relatados, é sério candi-
cos é que, se aprendem a ler em jornais, dato a portar a hiperlexia.
somente conseguem ler e escrever em
letras de imprensa, se aprendem a ler ATENÇÃO: Este número (dez) é uma
em letras de forma, somente leem e re- base para detectar-se este distúrbio,
produzem letras maiúsculas e assim por pode haver um hiperléxico com sete ou
diante. Demoram muito para assimilar oito desses sintomas ou com cinco des-
outros tipos de letras. tes, e outros cinco sintomas não relatados
10 - Superioridade da linguagem escri- aqui. Atente-se para o fato de que cada
ta em relação à oral. paciente pode ter características próprias
11 - Fascínio por televisão ou com- e deve ser analisado exaustivamente até
putador ou algum jogo solitário, o que que se confirme um diagnóstico.
acaba colaborando para o isolamento e, Apesar de todas estas e outras carac-
consequentemente, dificuldade em es- terísticas atribuídas à hiperlexia, vale
tabelecer amizades, até porque o indi- lembrar que o aspecto neuromotor cor-
víduo hiperléxico não sabe mesmo lidar responde aos padrões considerados nor-
com as brincadeiras em grupo. Pode até mais de evolução. Não há ou não deve ha-
tornar-se agressivo e machucar colegas ver sinais de alterações neurológicas, mas
e amigos na intenção de apenas brincar, não se afasta a possibilidade de alguns
o que pode ser chamado de comporta- pacientes apresentarem alterações nes-
mento autista. tes aspectos, visto que cada paciente é
12 - Pode apresentar boa memória au- único, desenvolveu o distúrbio por deter-
ditiva para música, artes em geral, alfa- minadas causas e pode, evidentemente,
beto e números. apresentar variações de sintomas, causas
13 - Hipersensibilidade diante de sons e características.
e barulhos específicos ou não, sendo no- Mas, afinal, quais são os principais sin-
tado por volta dos dois anos de idade. tomas e qual é o profissional indicado para
14 - Aprendizado muito acelerado, tratar a hiperlexia?
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Na ânsia de se definir um distúrbio e/ou encaminhado a um fonoaudiólogo (OLI-


rotular um paciente, passa-se por cima de VIER, 2008).
vários fatores que serão descritos a se-
guir.
Primeiramente, nem todos os hiperlé-
xicos apresentam dificuldades de lingua-
gem. Esses indivíduos podem expressar-
-se muito bem tanto na escrita quanto na
leitura e fala e, no entanto, apresentarem
hiperatividade, agressividade no convívio
com outras crianças e com a família, de-
satenção e/ou dispersão em atividades
diversas, instabilidade de sentimentos e
ideias. E, podem tornar-se extremamen-
te magros pelo excesso de atividades que
lhes impedem de alimentarem-se ade-
quadamente ou, ao contrário, obesos,
pois também é comum que determinadas
crianças com hiperlexia passem a alimen-
tar-se em grande quantidade e durante o
dia todo, como uma espécie de compen-
sação para suas frustrações. E, nestes ca-
sos, devem ser encaminhados também a
um psicólogo.
Se, além destes sintomas, o indivíduo
apresenta facilidade para as artes em ge-
ral, será bom que também tenha o acom-
panhamento de um arteterapeuta.
Se o hiperléxico, desde cedo, lê tudo o
que vê, mas não assimila e escreve apenas
como cópia, não tendo consciência do que
escreve, então deve ser encaminhado a
um psicopedagogo que, sem dúvida, é, ou
ao menos deveria ser, o profissional mais
indicado e melhor preparado para tratar
este caso específico de hiperlexia.
Quando o indivíduo hiperléxico apre-
senta distúrbios de fala (aquisição lenta,
tardia de linguagem, se lê, mas não fala
corretamente, expressa-se de forma in-
compreensível, caracterizando incapaci-
dade de expressão etc.), então deve ser
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