Você está na página 1de 6

E NSI NO damental para nove anos, mantendo

FUNDAMENTAL a sua obrigatoriedade. Em 2005, a Lei


nº 11.114, estabelece a obrigatorieda-
Ao longo da história da educação de da matrícula das crianças de seis
brasileira, o Ensino Fundamental pas- anos no Ensino Fundamental, manten-
sou por transformações em sua estru- do a duração de oito anos.
tura e organização. Em junho de 2005, o Conselho Na-
A primeira Lei de Diretrizes e Base cional de Educação homologou o Pa-
(LDB nº 4024/61), promulgada em 1961, recer 6/2005, ampliando o Ensino Fun-
estabeleceu diretrizes para o denomi- damental obrigatório para nove anos,
nado ensino primário, com obrigato- a partir dos seis anos de idade, em um
riedade a partir dos sete anos de ida- processo gradativo de implementa-
de e duração mínima de quatro anos, ção até 2010.
podendo ser ampliada para até seis Essa ampliação suscitou discussões
anos. sobre a natureza do primeiro ano do
Nessa legislação, são definidos Ensino Fundamental, culminando na
como objetivos do ensino primário, o elaboração de documentos orienta-
desenvolvimento do raciocínio e das dores por parte do Conselho Nacional
atividades de expressão, e a integra- de Educação (CNE) e do Ministério da

FUNDAMENTAL
ção das crianças ao meio físico e so- Educação (MEC). Define-se a espe-
cial. cificidade desse primeiro ano: não se
Com a LDB nº 5692/71, altera-se a trata de Educação Infantil e nem tam-
denominação “ensino primário” para pouco da primeira série do Ensino Fun-
ensino de primeiro grau, agora com os damental de oito anos.
seguintes objetivos: a formação da As Diretrizes Curriculares Nacionais
criança e/ou adolescente com foco (DCN) para o Ensino Fundamental de
na qualificação para o trabalho e a nove anos, ressaltam que o Ensino

ENSINO
formação para o exercício da cidada- Fundamental é um direito de todo ci-
nia. A duração prevista passa a ser de dadão com vistas à sua formação e
oito anos, mantida a idade mínima de que aos seis anos todas as crianças já
sete anos para o ingresso no ensino de podem usufruir desse direito. Conside-
1º grau. ram também a necessidade de investir
Na LDB 9394/96, a duração mínima em um ambiente educativo com foco
do Ensino Fundamental - obrigatório e na alfabetização e no letramento, na
gratuito na escola pública - passa a ser aquisição de conhecimentos de ou-
de oito anos. Portanto, a educação é tras áreas e no desenvolvimento de
considerada como direito de todo ci- diversas formas de expressão.
dadão, objetivando o desenvolvimen- Com nove anos de duração, essa é
to e a formação para a cidadania, in- a etapa mais longa da Educação Bá-
cluindo a qualificação para o mundo sica, atendendo estudantes entre 6 e
do trabalho. 14 anos que, ao longo desse período,
O Plano Nacional de Educação, Lei experimentam mudanças relaciona-
10.172 (BRASIL, 2001), estabelece, em das a aspectos físicos, cognitivos, afe-
uma de suas metas para o período de tivos, sociais, emocionais, entre outros.
2001-2010, a ampliação do Ensino Fun- Essas mudanças impõem desafios à
elaboração de currículos para essa coletivo, no qual se inserem, resulta em
etapa de escolarização, que favo- formas mais ativas de se relaciona- rem
reçam a superação das rupturas, as com esse coletivo e com as nor- mas
quais ocorrem entre as etapas da Edu- que regem as relações entre as
cação Básica e entre as duas etapas pessoas dentro e fora da escola, pelo
do Ensino Fundamental: Anos Iniciais e reconhecimento de suas potenciali-
Anos Finais. dades e pelo acolhimento e a valori-
Nos fundamentos pedagógicos zação das diferenças.
COLABORATIVA

da Base Nacional Comum Curricular Ampliam-se também as experiên-


(BNCC), um aspecto fundamental está cias para o desenvolvimento da ora-
posto nas competências gerais, enten- lidade e dos processos de percep-
dida como a mobilização de conheci- ção, compreensão e representação,
mentos, habilidades, atitudes e valores fundamentais para a aquisição do
para resolver as demandas complexas sistema de escrita alfabética e dos
da vida cotidiana, do pleno exercício signos matemáticos, dos registros ar-
da cidadania e do mundo do trabalho. tísticos, midiáticos e científicos, bem
Ao tratar do desenvolvimento des- como as formas de representação do
sas competências, é importante a tempo e espaço.
CONSTRUÇÃO

clareza em relação às competências As experiências das crianças em


cognitivas como interpretar, refletir, seu contexto familiar, social e cultural,
raciocinar; ligados aos objetivos de suas memórias, seu pertencimento a
aprendizagem e às competências so- um grupo e sua interação com as mais
cioemocionais, voltadas à maneira de diversas tecnologias de informação e
como o estudante se relacionar consi- comunicação são fontes que estimu-
go mesmo, com o outro e com o entor- lam sua curiosidade e a formulação de
UMA

no, competência que o indivíduo tem perguntas. O estímulo ao pensamento


para lidar com as próprias emoções. criativo, lógico e crítico, por meio da
construção e do fortalecimento da
Anos Iniciais capacidade de fazer perguntas e de
PAULISTA:

avaliar respostas, de argumentar, de


Nos Anos Iniciais, as crianças viven- interagir com diversas produções cul-
ciam mudanças importantes em seu turais, de fazer uso de tecnologias de
processo de desenvolvimento, que informação e comunicação, possibi-
repercutem em suas relações consigo lita aos estudantes ampliar sua com-
mesmas, com os outros e com o mun- preensão de si mesmos, do mundo
do. A maior desenvoltura e a maior natural e social, das relações dos seres
CURRÍCULO

autonomia nos movimentos e desloca- humanos entre si e com a natureza.


mentos ampliam suas interações com As características, dessa faixa
o espaço; a relação com múltiplas etária, demandam um trabalho no
linguagens, incluindo os usos sociais da ambiente escolar, que se organize em
escrita e da matemática, permite a torno dos interesses manifestos pelas
participação no mundo letrado e a crianças, de suas vivências mais
construção de novas aprendizagens, imediatas para que, com base nessas
na escola e para além dela; a afirma- vivências, elas possam, pro-
ção de sua identidade em relação ao gressivamente, ampliar essa com-

58
preensão, o que se dá pela mobiliza- cuidado para esses comportamentos,
ção de operações cognitivas, cada abre espaço para a baixa autoestima.
vez mais complexas, e pela sensibili- Dessa forma, um currículo voltado para
dade para apreender o mundo, ex- o desenvolvimento das competências
pressar-se sobre ele e nele atuar. socioemocionais pode promover ativi-
Nos dois primeiros anos do Ensino dades que oportunizem aos estudan-
Fundamental, a ação pedagógica tes lidar com esses sentimentos e assim
deve ter como foco a alfabetiza- ção, desenvolver as habilidades como a re-
a fim de garantir amplas opor- siliência e a empatia.
tunidades para que os estudantes se É necessário, ainda, estimular a
apropriem do sistema de escrita alfa- curiosidade por meio da interação so-
bética de modo articulado ao desen- cial, cultural e familiar, das vivências,
volvimento de outras habilidades de do pertencimento a um grupo, bem
leitura e de escrita e ao seu envolvi- como a interação com as tecnologias
mento em práticas diversificadas de de informação e comunicação. Esses
letramentos. Como aponta o Parecer estímulos contribuem para aguçar o
CNE/CEB nº 11/2010, “os conteúdos pensamento criativo, lógico e críti- co,
dos diversos componentes curricula- mediante a capacidade de fazer
res [...], ao descortinarem às crianças perguntas e avaliar as respostas, argu-

FUNDAMENTAL
o conhecimento do mundo por meio mentar, interagir com as produções
de novos olhares, lhes oferecem opor- culturais, possibilitando aos estudan-
tunidades de exercitar a leitura e a es- tes a compreensão de si mesmo, do
crita de um modo mais significativo” mundo social e natural, das relações
(BRASIL, 2010). humanas e com a natureza.
No estágio do desenvolvimento cog- Considerando que a aprendizagem
nitivo compreendido dos 6 aos 12 anos, compreende processos de mudança
a criança passa a desenvolver con- e transformação, todas as compe-

ENSINO
ceitos mais elaborados em relação a tências a ser desenvolvidas envolvem
ela mesma, apresentando maior con- sentimentos e ações que se projetam
trole emocional. É nessa fase que os na realidade social, consolidando a
conflitos aparecem, e a escola tem aprendizagem como um ato de
fundamental importância para que a aprender e continuar aprendendo.
criança passe a ampliar esse controle e À luz desse olhar para as competên-
as interações sociais construindo sua cias é que o Currículo Paulista contem-
identidade socialmente, aprendendo a pla a formação integral do estudante
avaliar e a fazer escolhas para sua vida. na sua trajetória de escolarização,
Dessa forma, amplia-se a auto- nomia desde a Educação Infantil até o 9º ano
intelectual, compreensão das normas e do Ensino Fundamental.
interesses pela vida social, promovendo É imprescindível que a escola asse-
a interação com sistemas mais amplos. gure aos estudantes um percurso con-
Nesse estágio há também uma ex- tínuo de aprendizagens entre os Anos
pectativa em relação à produtividade Iniciais e os Anos Finais do Ensino Fun-
do estudante em contraponto com o damental, a fim de promover maior ar-
sentimento de inferioridade; e o não ticulação entre elas, evitando rupturas
no processo de aprendizagem.
de inserção social. Conforme reconhe-
Anos Finais
cem as DCN, é frequente, nessa etapa,
observar forte adesão aos padrões de
Conforme a BNCC, nos Anos Finais,
comportamento dos jovens da mesma
os estudantes se deparam com de-
idade, o que é evidenciado pela forma
safios de maior complexidade, so-
de se vestir e também pela linguagem
bretudo devido à necessidade de se
utilizada por eles. Isso requer dos edu-
apropriarem das diferentes lógicas de
cadores, maior disposição para enten-
organização dos conhecimentos, rela-
COLABORATIVA

der e dialogar com as formas próprias


cionados às áreas de conhecimento.
de expressão das culturas juvenis, cujos
Portanto, é necessário, nos vários com-
traços são mais visíveis, sobretudo, nas
ponentes curriculares, retomar, ampliar
áreas urbanas mais densamente po-
e ressignificar as aprendizagens do En-
voadas (BRASIL, 2010).
sino Fundamental – Anos Iniciais, no
Nos Anos Finais do Ensino Funda-
contexto das diferentes áreas, visando
mental, os estudantes precisam lidar
ao aprofundamento e à ampliação
com mudanças como a quantidade
do repertório dos estudantes, fortale-
de professores que ministram aulas, a
cendo sua autonomia e sua atuação
interação com diferentes professo- res
CONSTRUÇÃO

crítica na sociedade.
especialistas em períodos curtos, a
Os estudantes, dessa fase, inserem-
adaptação aos níveis de exigên- cia
-se em uma faixa etária que corres-
distintos de cada professor, bem como
ponde à transição entre infância e
a organização e didática das aulas,
adolescência, marcada por intensas
entre outras.
mudanças decorrentes de transforma-
Considerando todas essas mudan-
ções biológicas, psicológicas, sociais e
ças, há que se ter o cuidado para que
emocionais.
UMA

o processo de aprendizagem não seja


Nesse período de vida, como bem
fragilizado na transição dos Anos Ini-
aponta o Parecer CNE/CEB no 11/2010,
ciais para os Finais, o que poderia cul-
ampliam-se os vínculos sociais e os la-
minar em obstáculos que comprome-
ços afetivos, as possibilidades intelec-
PAULISTA:

tam a aprendizagem dos estudantes.


tuais e a capacidade de raciocínios
Assim sendo, é necessário que os
mais abstratos. Os estudantes tornam-
professores estabeleçam uma rela-
-se mais capazes de ver e avaliar os
ção sensível e compromissada com os
fatos pelo ponto de vista do outro,
estudantes, a fim de construir um
exercendo a capacidade de descen-
ambiente de confiança e respeito, em
tração, “importante na construção da
que as aulas representem oportu-
autonomia e na aquisição de valores
CURRÍCULO

nidades de desenvolver conhecimen-


morais e éticos” (BRASIL, 2010).
tos, valores e atitudes. Para tanto, é
As mudanças próprias dessa fase da
necessário mediar conflitos, ter aber-
vida implicam a compreensão do
tura para uma escuta ativa, estimular
adolescente como sujeito em desen-
o protagonismo e a autoria, para que
volvimento, com singularidades e for-
os estudantes se percebam como co-
mações identitárias e culturais próprias,
-criadores de suas aprendizagens, e
que demandam práticas escolares di-
reconheçam potencialidades e de-
ferenciadas, capazes de contemplar
safios na sua formação.
suas necessidades e diferentes modos

60
Quando isto acontece, os profes- para realizar abstrações e imaginar
sores conseguem identificar aqueles situações nunca vivenciadas por eles;
estudantes que enfrentam eventuais desenvolvem maior autonomia inte-
dificuldades, aproximando-se de- les lectual, compreendem normas e se
para entender o que se passa e apoiá- interessam pela vida social.
los na superação dessas difi- Torna-se então, importante promo-
culdades. Na prática, esses professo- ver discussões sobre adolescência,
res estão exercendo um importante entendida como uma fase de transi-
papel de tutoria, contribuindo para ção, bem como repensar a função da
que cada escola se constitua como escola no processo de formação inte-
ambiente de aprendizagem e de for- gral dos estudantes: um espaço de so-
mação integral. cialização, de formação de cidadãos
Nesse contexto, é central a organi- e de produção de conhecimento.
zação da escola para acolher, respei- Nesse sentido, também é importan-
tar as singularidades dos estudantes. te fortalecer a autonomia desses ado-
Conforme as Diretrizes Curriculares Na- lescentes, oferecendo-lhes condições
cionais Gerais para a Educação Bási- e ferramentas para acessar e interagir
ca - DCNGEB (2013), em seu artigo 20, criticamente com diferentes conheci-
é princípio orientador de toda ação mentos e fontes de informação.

FUNDAMENTAL
educativa o respeito aos educandos e É desejável investir no desenvolvi-
a seus tempos mentais, socioemo- mento de projetos, que tratem dos
cionais, culturais e identitários, sendo interesses dos estudantes, abrindo-se
de responsabilidade dos sistemas a oportunidades para que possam de-
criação de condições para que crian- bater, argumentar e realizar escolhas,
ças, adolescentes, jovens e adultos, pensando inclusive no futuro. Essa abor-
com sua diversidade, tenham a opor- dagem realizada à luz da perspectiva
tunidade de receber a formação que de resolução de problemas, relativos a

ENSINO
corresponda à idade própria de seu temas da atualidade e da realidade
percurso escolar. em que o estudante está inserido, deve
Nessa perspectiva, para dar conti- promover o seu protagonismo.
nuidade à formação desses estudan- Há que se considerar, ainda, que a
tes, é importante realizar ajustes nas cultura digital tem promovido mudan-
novas rotinas de tempo, de espaços, ças sociais significativas nas socieda-
de demandas e exigências presentes des contemporâneas. Em decorrência
nos diversos componentes curricula- do avanço e da multiplicação das
res e na ação dos professores – o que tecnologias de informação e comuni-
pode favorecer o processo de transi- cação e do crescente acesso a elas
ção e de acompanhamento dos estu- pela maior disponibilidade de com-
dantes em sua trajetória escolar. putadores, telefones celulares, tablets
Nessa fase, os estudantes desen- e afins, os estudantes estão dinami-
volvem conceitos mais elaborados, camente inseridos nessa cultura, não
conseguem organizar e sistematizar somente como consumidores. Os jo-
situações e relacionar aspectos dife- vens têm se engajado cada vez mais
rentes da realidade, mas ainda preci- como protagonistas da cultura digital,
sam se referenciar no mundo concreto envolvendo-se diretamente em novas
formas de interação multimidiática e as novas linguagens e seus modos de
multimodal e de atuação social, em funcionamento, desvendando possibi-
rede, que se realizam de modo cada lidades de comunicação (e também
vez mais ágil. Por sua vez, essa cultura, de manipulação), e que eduque para
também, apresenta forte apelo emo- usos mais democráticos das tecno-
cional e induz ao imediatismo de res- logias e para uma participação mais
postas e à efemeridade das informa- consciente na cultura digital. Ao apro-
ções, privilegiando análises superficiais veitar o potencial de comunicação do
COLABORATIVA

e o uso de imagens e formas de ex- universo digital, a escola pode instituir


pressão mais sintéticas, diferentes dos novos modos de promover a aprendi-
modos de dizer e argumentar carac- zagem, a interação e o compartilha-
terísticos da vida escolar. mento de significados entre professo-
Esse quadro impõe à escola desafios res e estudantes.
ao cumprimento do seu papel em rela- Esse processo de formação exige a
ção à formação das novas gerações. É articulação entre as competências
importante que a instituição escolar cognitivas e as socioemocionais para
preserve seu compromisso de estimu- que, ao final dessa etapa, esses estu-
lar a reflexão e a análise aprofundada dantes possam ser protagonistas do
CONSTRUÇÃO

e contribua para o desenvolvimento, seu conhecimento e suas escolhas es-


no estudante, de uma atitude crítica tejam em acordo com o seu projeto de
em relação ao conteúdo e à multipli- vida, com o seu processo contínuo de
cidade de ofertas midiáticas e digi- desenvolvimento pessoal e social e
tais. Contudo, é imprescindível que a para dar continuidade aos seus estu-
escola compreenda e incorpore mais dos no Ensino Médio.
UMA
PAULISTA:
CURRÍCULO

62

Você também pode gostar