Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
HISTÓRICO-
FILOSÓFICAS DA
EDUCAÇÃO FÍSICA E DO
ESPORTE
Wilian Bonete
U N I D A D E 1
A evolução do
pensamento filosófico
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
O pensamento filosófico não é estático. Desde a Antiguidade, inúmeras
mudanças e transformações ocorreram nessa área do saber. Ainda assim,
a filosofia possui alguns pilares básicos. Além disso, ao longo de sua
história, ela contribuiu para o entendimento da ciência e da vida humana
de diferentes formas.
Neste capítulo, você vai estudar as principais disciplinas que bali-
zam as discussões no campo da filosofia, como a metafísica, a lógica, a
epistemologia, a estética, a política e a ética. Além disso, vai conhecer o
pensamento de diferentes filósofos que se destacaram desde a Antigui-
dade, passando pela Idade Média e pela Idade Moderna e chegando às
reflexões dos pensadores contemporâneos.
[...] uma primeira resposta à pergunta “o que é filosofia” poderia ser: “a decisão
de não aceitar como naturais, óbvias e evidentes as coisas, as ideias, os fatos,
as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana;
jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido”.
A palavra “filosofia” possui origem grega. Philo significa “[...] aquele ou aquela que
possuem sentimentos amigáveis”, enquanto sophia significa “sabedoria”. Logo, filosofia
significa “[...] amizade pela sabedoria ou pelo saber”. A invenção dessa palavra é atribuída
ao filósofo grego da Antiguidade Pitágoras de Samos (CHAUÍ, 2012, p. 19).
1. de Tales de Mileto até Sócrates (do séc. VII ao séc. V a.C.) — preocu-
pações de cunho cosmológico;
2. Sócrates, Platão e Aristóteles (séc. V e IV a.C.) — preocupações
psicológicas;
A evolução do pensamento filosófico 3
metafísica;
lógica;
epistemologia;
estética;
política;
ética.
Herwitz (2010) observa que a riqueza da estética consiste nas múltiplas posições
culturais a partir das quais tomou forma a reflexão sobre a arte, sobre o belo, sobre a
sublimidade, sobre a natureza, sobre a intuição e sobre a experiência. Desse modo,
não há como compreender a estética como algo desvinculado da filosofia e também
do campo da arte.
A evolução do pensamento filosófico 5
Por sua vez, a política é o estudo dos direitos, das relações de poder e do
papel dos cidadãos (KLEINMAN, 2014). A palavra “política” vem da expressão
grega ta politika, vinda de polis (cidade enquanto espaço cívico, comunidade
organizada, formada pelos cidadãos). O filósofo Aristóteles compreendia a
política como a habilidade humana de organizar e orientar as relações internas
e externas dos grupos sociais, estabelecendo normas e ações para a superação
das adversidades e em prol do bem comum. Todavia, nas diferentes sociedades,
a política desenvolve-se de maneira diferente. Está associada ao poder do
Estado, ao poder ideológico, ao poder econômico, entre outros.
Por fim, outro campo fundamental da filosofia é a ética, conjunto de
princípios e normas que auxiliam os indivíduos a distinguirem o bem do mal,
o certo do errado, o justo do injusto. O objetivo final da ética é estabelecer a
boa convivência em sociedade. É importante você considerar que não há como
pensar a ética sem outro termo essencial: a moral (CHAUÍ, 2012). A moral
também se refere a um conjunto de normas e princípios, porém ela baliza o
comportamento individual. A ética, enquanto ramo da filosofia, é uma ciência
que estuda o comportamento moral dos seres humanos na sociedade e fornece
suportes à moral (PASSOS, 2004).
Idade Antiga
A Idade Antiga inicia-se aproximadamente 4 mil anos a.C., com o surgimento
das primeiras formas de escrita, e segue até 476 d.C., com a queda do Império
Romano do Ocidente. Nesse recorte temporal, se destacam filósofos como
Sócrates, Platão e Aristóteles.
6 A evolução do pensamento filosófico
Aristóteles contribuiu com reflexões sobre diversos temas, mas uma de suas
contribuições mais significativas para o campo da filosofia e do pensamento
ocidental foi a criação da lógica. Para ele, o aprendizado se estabelece a partir
de três categorias: teoria, prática e produção. A lógica, por sua vez, não pertence
a nenhuma delas. Ela poderia ser utilizada para se obter conhecimento sobre
algo, tornando-se o primeiro passo do aprendizado. Assim, a lógica capacita
o ser humano a descobrir erros e estabelecer verdades (KLEINMAN, 2014).
Idade Média
A Idade Média inicia-se aproximadamente no ano 476 d.C. e estende-se até
1453, com o fim da Guerra dos Cem Anos e a tomada da cidade de Cons-
A evolução do pensamento filosófico 7
De acordo com Marías (2004), Santo Tomás de Aquino foi um homem pu-
ramente espiritual, uma vez que toda a sua vida foi dedicada à teologia e à
filosofia, movidas pela religião. No que tange à filosofia, ele adaptou o pensa-
mento de Aristóteles à escolástica. Um dos pontos importantes de sua filosofia
consiste na demonstração da existência de Deus por cinco vias:
pelo movimento;
pela causa eficiente;
pelo possível e pelo necessário;
pelos graus da perfeição;
pelo governo do mundo.
ele, não há outro sentido na filosofia a não ser explicar a verdade revelada na
escritura sagrada. Roger Bacon reconhece três modos de saber: a autoridade,
a razão e a experiência. A autoridade em si não basta; ela requer raciocínio.
Todavia, esse não é seguro enquanto não for confirmado pela experiência,
que é a principal fonte de certeza (MARÍAS, 2004).
Idade Moderna
A Idade Moderna inicia-se aproximadamente em 1453 e estende-se até a
Revolução Francesa, em 1789. Trata-se de uma época marcada por grandes
transformações sociais, como a ascensão da burguesia, o intenso desenvol-
vimento do comércio, as novas descobertas científicas, o desenvolvimento
de diferentes teorias filosóficas e o rompimento com os valores religiosos
advindos da Idade Média. Essa época marca o surgimento de novas correntes
filosóficas a partir de pensadores como René Descartes, Francis Bacon, John
Locke e Immanuel Kant.
John Locke teve grande influência em sua época. Sua principal obra foi escrita
ao longo de 20 anos e é denominada Ensaio sobre o entendimento humano
(1689). Locke vê a filosofia como uma tarefa crítica e preparatória para a
ciência. Nessa obra, ele desenvolve uma concepção empirista, antiespeculativa
e antimetafísica do conhecimento. Para Locke, todo o conhecimento e todas
as ideias são derivadas de experiências sensíveis, não havendo outras formas
de conhecimento. Portanto, para ele não há conhecimento inato, mas saber
elaborado a partir dos dados obtidos pela experiência concreta da realidade.
É nesse sentido que Locke afirma que a mente humana é como uma tábula
rasa, uma folha em branco na qual a experiência vai deixando as suas marcas
(MARCONDES, 2001).
Você conhece o ensaísta e filósofo Albert Camus? Nascido na Argélia em 1913, ele
abordou as contradições da existência humana. A sua obra O Mito de Sísifo aborda
questões complexas como o suicídio. Segundo Camus, o suicídio é o único problema
filosófico. Afinal, muitos visualizam nesse ato somente uma maneira de conseguir o
que almejam, a saber, acabar com o absurdo da existência.
A morte passaria, então, a ser uma maneira de escapar ao absurdo, importando
apenas a relação estabelecida entre o homem, no silêncio do seu coração, e o suicídio.
No momento em que reflete se a vida merece ou não ser vivida, envolvendo-se com
os devaneios do absurdo, o homem principia o diálogo com o suicídio enquanto
perspectiva de consciência e esperança. Nesse momento, ele se sente invadido por
um sentimento de abandono e esvaziamento, que pode interferir em sua vida.
A complexidade da vida perante um mundo problemático que traz como garantia
apenas a certeza da morte surge à consciência do homem. Na esperança, ele se depara
com outros caminhos. O suicídio parece trazer consigo a ilusão de liberdade. Para
Camus, acreditar que ao morrer se estará livre da rotina, da irracionalidade e do absurdo
é apenas uma possibilidade. De fato, a morte não finda com o absurdo existencial.
14 A evolução do pensamento filosófico
BASÍLIO, R.; PEREIRA, R.; MENEZES, R. A epistemologia científica que subjaz aos estudos
da linguagem no âmbito do Interacionismo sociodicursivo. D.E.L.T.A., v. 2, n. 32, 2016.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0102-
44502016000200405&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 20 ago. 2018.
BONJOUR, L.; BAKER, A. Filosofia: textos fundamentais comentados. 2. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2010.
CASTANON, G. Introdução à epistemologia. São Paulo: EPU, 2007.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 14. ed. São Paulo: Ática, 2012.
HERWITZ, D. Estética: conceitos-chave em Filosofia. Porto Alegre: Artmed, 2010.
KLEINMAN, P. Filosofia. São Paulo: Gente, 2014.
MARCONDES, D. Iniciação à filosofia: dos pré-socráticos à Wittgenstein. 6. ed. Rio de
Janeiro: Zahar, 2001.
MARÍAS, J. História da filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
NASCIMENTO, J. F. A escola de Frankfurt e seus principais teóricos. PIDCC, n. 5, 2014.
Disponível em: <http://www.pidcc.com.br/artigos/052014/11052014.pdf>. Acesso
em: 20 ago. 2018.
PASSOS, E. Ética nas organizações. São Paulo: Atlas, 2004.
STRENGER, I. História da filosofia. São Paulo: LTR, 1998.
Leitura recomendada
BISPO, M.; ROSA, R. O mito de Sísifo: a decisão de viver ou suprimir a vida. Filosofando:
Revista de Filosofia, n. 2, jul./dez., 2013.