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UNIP- UNIVERSIDADE PAULISTA

SERVIÇO SOCIAL

EDLEN RICARY CARDOSO PEREIRA- RA: 1616086

A ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL ÀS CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE RISCO


NO CENTRO DE REFERENCIA DE ASSISTENCIA SOCIAL - CRAS

ÁGUAS FORMOSAS - MG

2021
UNIP- UNIVERSIDADE PAULISTA

SERVIÇO SOCIAL

EDLEN RICARY CARDOSO PEREIRA- RA: 1616086

A ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL ÀS CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE RISCO


NO CENTRO DE REFERENCIA DE ASSISTENCIA SOCIAL - CRAS

ÁGUAS FORMOSAS - MG

2021
RESUMO

O presente trabalho de revisão de literatura objetivou identificar a função do Serviço


Social com relação à promoção dos direitos das crianças em situação de
vulnerabilidade social. Por meio do referencial pesquisado em livros, artigos
científicos e da leitura dos textos legais, observou-se que a função do Serviço Social
nas suas diferentes instâncias de atuação no sentido de se promover a efetivação
dos direitos das crianças em situação de vulnerabilidade social é abrangente,
envolvendo o atendimento qualificado, em conjunto com outros profissionais, numa
integração entre as áreas social, de saúde, jurídico, hospitalar e educacional,
relacionando-se ao encaminhamento para as autoridades competentes e à
requisição de medidas protetivas, bem como atendimento às famílias e defesa de
direitos, de modo geral. Verificou-se que as intervenções devem ser voltadas à
proteção contra todas as expressões de vulnerabilidade e violência, bem como no
sentido do acesso à saúde e à educação, ao enfrentamento ao trabalho infantil e a
todos os tipos de abuso ou lesão aos direitos desse público.

Palavras-chave: Serviço Social. Crianças. Vulnerabilidade Social. CRAS.


ABSTRACT

The present literature review work aimed to identify the role of Social Work in
promoting the rights of children in situations of social vulnerability. Through the
framework researched in books, scientific articles and the reading of legal texts, it
was observed that the role of Social Work in its different instances of action in order
to promote the realization of the rights of children in situations of social vulnerability is
comprehensive, involving qualified service, together with other professionals, in an
integration between the social, health, legal, hospital and educational areas, related
to the referral to the competent authorities and the request for protective measures,
as well as assistance to families and advocacy in general. It was found that
interventions should be aimed at protecting against all expressions of vulnerability
and violence, as well as towards access to health and education, to tackling child
labor and to all types of abuse or damage to the rights of this public. .

Keywords: Social Work. Children. Social Vulnerability. CRAS.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Fluxo de encaminhamento para o atendimento na Assistência Social....12


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 6
2 O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DA PROTEÇÃO À CRIANÇA....................8
3 O SERVIÇO SOCIAL NA PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA.....................................14
4 OS OBSTÁCULOS AO TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL NA PROTEÇÃO À
CRIANÇA.................................................................................................................. 22
4.1 ASPECTOS GERAIS: O TRABALHO SOCIAL...................................................................22
4.2 O SERVIÇO SOCIAL E A DEFESA DE DIREITOS...........................................................25
4.3 A ALTERNATIVA DO ENCAMINHAMENTO INSTITUCIONAL: POSSÍVEIS
MELHORIAS..................................................................................................................................35
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 42
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 44
6

1 INTRODUÇÃO

No conjunto das diversas atividades inerentes ao Serviço Social encontram-se


as intervenções junto às crianças em situação de risco ou vulnerabilidade social.
Nesse sentido, observa-se que a partir da promulgação da Constituição Federal, em
1988, ocorreram diversos avanços também infraconstitucionais, como a criação do
Estatuto da Criança e do Adolescente e outras iniciativas legais no sentido dessa
proteção.
Todavia, mesmo com o significativo arcabouço jurídico que compõe a
legislação protetiva em comento, verifica-se que ainda existe um elevado
contingente de crianças em condição de vulnerabilidade, por diversos motivos, onde
torna-se urgente a adoção de práticas voltadas à resolução dessas situações, bem
como do desenvolvimento de políticas públicas que possam favorecer o
cumprimento as lei.
Nesse sentido, o Serviço Social passa a ter função essencial, mormente no
sentido da efetivação dos direitos, na contribuição para a elaboração de tais políticas
e no trabalho diretamente realizado junto às crianças e às famílias, contando com os
recursos proporcionados pelo trabalho qualificado do CRAS – Centro de Referência
de Assistência Social.
Observando o elevado contingente de crianças em situação de
vulnerabilidade social, bem como as múltiplas causas dessa condição, qual a função
do Serviço Social nas suas diferentes instâncias de atuação no sentido de se
promover a efetivação dos direitos desse público?
A função do Serviço Social no contexto das crianças em situação de rua situa-
se na necessidade de intervenção quanto à promoção de direitos nesse sentido,
evidenciando que o trabalho desses profissionais consiste principalmente na
efetivação das políticas públicas criadas e comumente negligenciadas.
O objetivo geral do trabalho foi identificar a função do Serviço Social com
relação à promoção dos direitos das crianças em situação de vulnerabilidade social.
Os objetivos específicos foram caracterizar o cenário de proteção às crianças no
Brasil, indicando a legislação protetiva existente e as instâncias destinadas a essa
finalidade; contextualizar a função institucional do Serviço Social no âmbito da
proteção social básica e especificamente na atenção às crianças em condição de
vulnerabilidade social e indicar as principais dificuldades encontradas pelos
7

assistentes sociais no trabalho de efetivação dos direitos das crianças em condição


de risco social no CRAS.
O trabalho teve como metodologia a revisão de literatura em artigos
científicos e livros prospectados principalmente nas plataformas Scielo e Google
Acadêmico, sendo utilizados os trabalhos publicados nos últimos vinte anos. As
palavras-chave utilizadas na pesquisa são “Estatuto da Criança e do Adolescente”,
“Proteção Social Básica”, “crianças”, ”vulnerabilidade”.
O cumprimento das diversas etapas que compõem o atendimento às crianças
em situação de vulnerabilidade social pode ser obtido por meios previamente
organizados, em atenção aos preceitos legais e normativos e sempre com a
finalidade principal de atender ao melhor interesse da criança, garantindo a proteção
à sua segurança e dignidade. Assim, o trabalho do assistente social no CRAS no
sentido da promoção e efetivação do acesso das crianças aos seus direitos
apresenta-se como importante objeto de pesquisa.
8

2 O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DA PROTEÇÃO À CRIANÇA

O atendimento do Serviço Social no contexto da proteção à criança em risco


social mostra-se de extrema relevância, considerando os impactos causados às
vítimas e os reflexos sociais das diversas situações de violação de direitos. Nesse
sentido, destaca-se a correlação entre os serviços de Proteção Social Básica e
Especial e sua articulação no âmbito do CRAS e CREAS. Observa-se a
heterogeneidade das demandas apresentadas, mas é possível observar situações
onde a intervenção se caracteriza pela maior complexidade, como nos casos de
abuso sexual. No Brasil, dados indicam que grande parte dos abusos sexuais ocorre
em ambiente intrafamiliar, tendo o pai como autor (PLATT, et al., 2018). A
proximidade dos agressores faz com que os casos sejam subnotificados. Verifica-se
a prioridade na implantação de políticas públicas que priorizam aspectos de
segurança em detrimento de ações de conscientização e educação sobre a
necessidade de denúncia, principalmente quando se tratam de familiares ou
pessoas próximas.
Nesse aspecto, observa-se que o trabalho do psicólogo se caracteriza por sua
relevância e imprescindibilidade no contexto do CREAS, verificando o impacto
geralmente causado pelo abuso sexual infantil. Observa-se que, conforme Oliveira e
Monteiro (2015) e Thais e Panceri (2018) as principais intervenções realizadas pelos
psicólogos que atuam em conjunto com os serviços socioassistenciais no
atendimento às crianças vítimas de abuso sexual situam-se no campo do
acolhimento, do fortalecimento de vínculos e da prevenção da autonomia dos
sujeitos, bem como da transformação da realidade dos indivíduos em situação de
risco.
O trabalho da Assistência Social é favorecido pela denúncia no sentido da
ruptura da cadeia de abusos, conforme Baldin e Martins (2012), por meio da quebra
do silêncio das vítimas e dos familiares, sendo relevante a consideração também a
respeito do papel da escola na identificação dos possíveis casos e na
conscientização das vítimas potenciais a respeito da necessidade de denunciar os
casos.
No entanto, verifica-se que tais denúncias são dificultadas, entre outros
motivos, pela invisibilidade dos casos para a sociedade, pela omissão de algumas
famílias ou de pessoas conhecidas que mesmo tendo conhecimentos dos fatos não
9

realizam a denúncia, por motivos diversos. Nesse sentido, Lordello e Costa (2013)
afirmam a importância do cuidado que deve ser dedicado à atuação na realidade de
exclusão, sendo importante a pesquisa no âmbito da saúde pública, que segundo
Lages, Silva e Soares (2017), é escassa, voltando-se a minimizar os efeitos do
abuso que, segundo Garcia e Pacheco (2016), ainda tem seu enfrentamento de
difícil intervenção, dada a invisibilidade apresentada pela questão.
Silva et al. (2012) destacam que deve haver uma maior integração entre as
áreas social, de saúde, jurídico, hospitalar e educacional para se prestar um serviço
de qualidade às vítimas, dando-se atenção também a família.
Florentino (2014), afirma a necessidade dessa atenção à família, indicando
que a demanda pode apresentar-se contraditória, exigindo a atenção multidisciplinar,
também preconizada por Neves (2010), que destaca o fato de que as situações
envolvem famílias fragilizadas, crianças e adolescentes amedrontados, profissionais
por vezes inseguros e com poucos recursos para a intervenção.
Concordam com a incipiência desses recursos os autores Faraj e Siqueira
(2012), que afirmam também que apesar do atendimento do CREAS ser
considerado qualificado, o mesmo não contempla o necessário para que ocorra o
enfrentamento á violência, observando também que a rede de proteção à criança e
ao adolescente se encontra desarticulada.
Destaca-se a necessidade de se promover a articulação por meio de políticas
públicas mais adequadas e da fiscalização quanto o cumprimento das leis
(ANDRADE et al., 2016). No entanto, considera-se também a importância de que
ocorra a capacitação contínua dos profissionais voltados ao atendimento às crianças
e adolescentes em condição de vulnerabilidade social, sendo necessária a
valorização desses profissionais e a oferta de condições adequadas de trabalho.
Essa insegurança se mostra passível de superação a partir da superação das
formas tradicionais do atendimento, que conforme Macedo e Conceição (2017),
deve exigir a capacitação e avaliação dos profissionais envolvidos para o
reordenamento do atendimento previsto na doutrina da proteção integral.
Especificamente abordando a escassez de psicólogos nesse trabalho de
acolhimento, Freire e Alberto (2013) indicam a insuficiência e por vezes a
inexistência da capacitação ofertada pelo Estado para esses profissionais, do
mesmo modo que o suporte às vítimas também não contempla as necessidades das
mesmas.
10

As estatísticas indicaram que entre as vítimas de abuso sexual atendidas pelo


CREAS predominam as do sexo feminino, com idade de até oito anos e que viveram
o abuso por aproximadamente dois anos, sendo que entre a revelação e a
notificação o intervalo médio é de um ano e meio (MACEDO; CONCEIÇÃO, 2017).
Todavia, Costa e Oliveira (2018) afirmam que a diferença entre meninas e
meninos vítimas de violência sexual não é suficientemente grande para justificar a
carência de estudos sobre meninos vitimados, como geralmente ocorre. Nesse
sentido concordam Oliveira et al. (2014), que indicam que apesar da maioria das
vítimas ser do sexo feminino e na adolescência, existe uma alta proporção de abuso
em crianças do sexo masculino.
Entre as dificuldades apresentadas ao atendimento e mesmo à efetivação das
denúncias de violação de direitos e principalmente no que diz respeito ao abuso
sexual infantil, situam-se as mudanças nas práticas maternas e a sobrecarga
emocional das mães ou cuidadoras das vítimas, citadas por Baía, Magalhães e
Veloso (2014), que indicaram a existência da falta de credibilidade inicial das
participantes em relação ao abuso sexual de suas filhas, ainda que essa condição
não tenha afetado a adoção de medidas protetivas.
Ferreira e Nantes (2017) afirmam a relevância do papel dos psicólogos no
acolhimento e escuta da vítima, bem como na elaboração psíquica do
acontecimento no sentido de contribuir para a superação de traumas, sendo que
nesse sentido concordam Oliveira et al. (2019), que destacam a necessidade
também a necessidade de um olhar específico de estudo e tratamento para a figura
do abusador. Essa observação pode ser complementada pela constatação de Brito
et al. (2016), de que o abuso é mais frequente no âmbito intrafamiliar, sendo a maior
parte dos abusadores padrastos e pais.
Nesse sentido, reitera-se a dificuldade de caracterização desse tipo de
violência e, por consequência, um obstáculo relevante ao atendimento por parte
tanto do CRAS quanto do CREAS. A violência em todas as suas expressões,
quando é dirigida às crianças e aos adolescentes, muitas vezes ocorre com a
conivência ou participação de familiares e pessoas próximas, sendo essa uma
condição que dificulta o trabalho dos assistentes sociais. Fávero (2018) traz
importante reflexão sobre a atuação do Serviço Social, considerando que a área de
trabalho desses profissionais tem-se ampliado principalmente no Judiciário, mas que
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ocorre uma retração de investimentos no tocante à efetivação dos direitos sociais


por meio de políticas públicas.
Verifica-se, conforme Fávero (2018), uma banalização e precarização da
formação profissional dos assistentes sociais, bem como das condições para a
realização do trabalho. O autor observa, inclusive, que no cenário atual do Serviço
Social no contexto sociojurídico ocorrem violações às prerrogativas profissionais e
os direitos das crianças e adolescente, trazendo como exemplo o trabalho nas salas
de inquirição, no atendimento a esse público quando vítima ou testemunha de
violência. Essa situação ocorre servindo-se do que se denomina depoimento sem
dano, passível de críticas:

E aqui não se está falando de prerrogativas corporativistas, no sentido


pejorativo, conforme são tratadas pelo senso comum e, algumas vezes, por
defensores de tal metodologia. Mas prerrogativas que têm, dentre seus
princípios, a atuação na perspectiva dos direitos humano-sociais, traduzida,
nesse caso, no dever de atuar na proteção de direitos de crianças e
adolescentes. Desnecessário descrever esse procedimento, considerando
que está disseminado institucional e publicamente como ele já vinha sendo
executado, antes mesmo da aprovação da lei, bem como o desrespeito do
Judiciário aos Conselhos Profissionais de Serviço Social e de Psicologia ao
suspender resoluções que emitiram no sentido de que a atuação em DSD é
incompatível com os referenciais e atribuições pertinentes a essas
profissões (FAVERO, 2018, p. 54).

Observa-se a existência de outras demandas importantes no trabalho do


assistente social no que se refere à defesa de direitos, que também têm obstáculos
relevantes ao seu cumprimento. Um exemplo se refere ao direito à educação, que
por vezes não é atendido porque a criança ou adolescente trabalham para contribuir
com o sustento do grupo familiar, bem como à própria proteção ao menor por meio
da vedação à prática de atividades que possam comprometer sua dignidade. Nesse
caso, a dificuldade nem sempre reside na resistência por parte da família, mas no
próprio contexto de desigualdade social existente no país. Garcia (s/d) afirma os
tipos de trabalho de crianças e adolescentes proibidos pelo direito internacional e
acatados pelo Direito Internacional se classificam, em três categorias, conforme o
Escritório Internacional do Trabalho:

Aquelas intrinsecamente condenáveis, como a escravidão, a servidão por


dívidas e outras formas de trabalho forçado, o recrutamento forçado em um
conflito armado, a prostituição, a pornografia e outras atividades ilícitas; as
tarefas realizadas por uma criança ou adolescente, que não condizem com
sua condição de pessoa em desenvolvimento, conforme definidas pela
12

legislação nacional com base no direito internacional; e as tarefas que


prejudicam o bem-estar físico, mental ou moral da criança ou do
adolescente, seja em razão de sua natureza, seja em razão das condições
em que são exercidas, recebendo a designação de trabalhos perigosos
(GARCIA, s/d, online).

Observa-se a necessidade de que os assistentes sociais contribuam para o


cumprimento das leis no sentido de se erradicar o trabalho ilegal dos menores, mas
faz-se igualmente necessária a efetivação de políticas públicas também no
enfrentamento à desigualdade social, inclusive sendo necessária a identificação e
responsabilização das pessoas e organizações que exploram a atividade de
crianças e adolescentes. O trabalho do menor se encontra disciplinado no Estatuto
da Criança e do Adolescente, na Consolidação das Leis do Trabalho, na
Constituição Federal de 1988 e em normas infraconstitucionais, incluindo as
expedidas pela Organização Internacional do Trabalho – OIT (SILVA; COSTA,
2009). Desse modo, observa-se que essa proteção mostra-se abrangente no campo
jurídico, ainda que, na prática, não se apresente tamanha efetividade.
Destaca-se que a idade mínima para ingresso no mercado de trabalho no
Brasil foi elevada para dezesseis anos, exceto na condição de aprendiz a partir dos
quatorze anos, nos termos da Emenda Constitucional 20/1998, representando uma
superação da orientação da Convenção nº 138 da OIT. A mesma determina que a
idade mínima não deverá ser inferior à idade em que cessa a obrigação escolar, ou
em todo caso, a quinze anos.
Ainda que se possa observar a longevidade dos preceitos normativos
voltados à proteção ao menor, observa-se que ainda há um longo caminho a se
percorrer. Dados apresentados em 2013 na III Conferência Global do Trabalho
Infantil, indicaram uma redução constante dos índices de trabalho infantil nas últimas
décadas, porém destacando o elevado número de crianças que trabalham no
mundo, aproximadamente 168 milhões de crianças, sendo que, cerca de 86 milhões
inseridas nas consideradas piores formas de trabalho infantil (OIT, 2020).
Ainda assim, a quantidade de crianças ocupadas no Brasil representa quase
25% do total de crianças ocupadas na América Latina. Diante dessa realidade, em
2017 o escritório da OIT no Brasil concluiu a elaboração dos Diagnósticos
Intersetoriais Municipais de Trabalho Infantil, com o objetivo de apoiar o
planejamento das estratégias de redução do trabalho infantil, buscando a
reelaboração do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (OIT, 2020).
13

Essa pode ser indicada como outra demanda importante no que se refere à
defesa dos direitos da criança e do adolescente, também comumente negligenciada
e que tem como principal obstáculo a desigualdade social e as iniquidades na
distribuição de renda. Assim, pode-se compreender que a totalidade das demandas
citadas e mesmo as que não integraram o presente trabalho apresentam, em maior
ou menor escala, obstáculos intrínsecos à sua própria motivação, derivada das
dificuldades de acesso aos direitos que caracteriza o país, bem como do
esvaziamento dos debates sobre esses direitos no plano executivo.
14

3 O SERVIÇO SOCIAL NA PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA

A proteção social representa a relação conflituosa existente entre os valores


sociais e a prática capitalista. Este campo é um importante espaço de atuação dos
assistentes sociais, devendo ser discutido de forma crítica, mas principalmente com
sentido de propostas voltadas ao seu constante aprimoramento. A compreensão da
dimensão ética e técnico-operativa do Serviço Social nesse contexto deve ser
precedida de uma análise a respeito de sua relevância no contexto das políticas
públicas.

A proteção social, política pública de forte calibre humano, carrega marca


genética que a torna um tanto distinta de outras políticas sociais. Seu
campo de ação não se refere, propriamente, à provisão de condições de
reprodução social para restauração da força viva de trabalho humano. As
atenções que produz constituem respostas a necessidades de dependência,
fragilidade, vitimização de demanda universal porque próprias da condição
humana (SPOSATI, 2013, p. 654)

A criação dos CRAS - Centros de Referência de Assistência Social,


representou uma importante iniciativa do Poder Público para favorecer o
atendimento às demandas em nível municipal. Notadamente no enfrentamento aos
efeitos da questão social, pode-se compreender que a observação dos componentes
específicos de cada espaço geográfico, destacando a análise da vulnerabilidade da
população e de suas especificidades.
A vulnerabilidade pode ser conceituada como algo dinâmico,
multidimensional, polissêmico, transdisciplinar e qualitativo, sendo um conceito
amplamente utilizado em diferentes áreas do conhecimento. O mesmo incorpora os
diferentes níveis de complexidade, podendo favorecer abordagens integradas e
contribuir para ampliar o diálogo entre diferentes profissionais (PORTO, 2007).
A vulnerabilidade e a capacidade de enfrentamento ao que é vulnerável estão
relacionadas entre si, sendo que a capacidade está relacionada, quase sempre, à
superação que leva o indivíduo à recuperação, potencializando ou reduzindo a sua
vulnerabilidade (TEDESCO, S.; LIBERMAN, F, 2008).

O termo vulnerabilidade carrega em si a ideia de procurar compreender


primeiramente todo um conjunto de elementos que caracterizam as
condições de vida e as possibilidades de uma pessoa ou de um grupo a
rede de serviços disponíveis, como escolas e unidades de saúde, os
programas de cultura, lazer e de formação profissional, ou seja, as ações do
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Estado que promovem justiça e cidadania entre eles e avaliar em que


medida essas pessoas têm acesso a tudo isso. Ele representa, portanto,
não apenas uma nova forma de expressar um velho problema, mas
principalmente uma busca para acabar com velhos preconceitos e permitir a
construção de uma nova mentalidade, uma nova maneira de perceber e
tratar os grupos sociais e avaliar suas condições de vida, de proteção social
e de segurança. É uma busca por mudança no modo de encarar as
populações-alvo dos programas sociais (ADORNO, 2001).

Nesse aspecto, o assistente social que atua no Cras trabalha diretamente


com a ação voltada à minimização das vulnerabilidades provenientes dos reflexos
da questão social, o que no âmbito do atendimento à criança possui diferenciais
importantes a serem considerados. O CRAS “é uma unidade pública estatal de base
territorial, que se localiza em áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco
social” (BRASIL, 2004). Na Figura 1 pode ser observado o fluxo de encaminhamento
no campo da Assistência Social

Figura 1 – Fluxo de encaminhamento para o atendimento na Assistência Social

Fonte: Brasil (2015)


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O acesso ao serviço de Proteção Social Especial pode ocorrer por busca


ativa, por encaminhamento da rede socioassistencial, pelo encaminhamento das
demais políticas e órgãos do sistema de garantia de direitos e por procura
espontânea.
A legislação inerente à proteção social de alta complexidade se encontra
fundamentada na Constituição Federal e em diversos dispositivos legais, como a
Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, Lei nº 10.741/2003 –
Estatuto do Idoso, Lei 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente,
Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes e a
Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, entre outros preceitos (BRASIL,
2019). Nesse sentido, observa-se que:

O acolhimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade é


um campo em plena transformação e reordenamento. Transformações que
se encontram tanto no campo das políticas macro-sociais, como das
práticas cotidianas desenvolvidas pelas equipes multiprofissionais de
técnicos de secretarias municipais, de abrigos ou do Poder Judiciário, ao
atuarem dentro do Sistema de Garantia de Direitos de seus municípios
(COSTA; ROSSETTI-FERREIRA, 2008, p. 2).

De modo geral, o Serviço de Acolhimento Institucional é organizado em


diversos tipos de equipamentos, de acordo com o público a ser atendido, destinados
a indivíduos afastados em caráter temporário do grupo familiar ou comunitário e às
próprias famílias. Já o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil é voltado às
crianças e adolescentes, voltando-se ao enfrentamento ao trabalho nestas faixas
etárias, excetuando-se na condição de aprendiz, que pode ocorrer a partir dos
quatorze anos (BRASIL, 2019).
A guarda é a forma mais simples de colocação em família substituta, sendo
prevista no artigo 33 do Estatuto da Criança e do Adolescente e confere ao guardião
o direito de opor-se aos pais e a terceiros, mas traz como obrigação ao mesmo a
assistência educacional, moral e material. A mesma tem como objetivo a
regularização da posse e pode ser deferida incidentalmente ou liminarmente. A
competência para julgamento das ações de guarda é da Vara da Infância e
Juventude (LACERDA; SANTOS; SAMPAIO, 2014). A adoção difere dos institutos
discutidos anteriormente por ter o caráter permanente.
17

O acolhimento em família substituta ocorre nas residências de famílias


cadastradas, sendo que estas carecem de seleção, capacitação e
acompanhamento. Esse serviço tem como objetivo proporcionar um ambiente que
garanta convivência e atenção individualizada, de modo familiar. Exceto quando se
trata de irmãos, em cada família acolhedora é recebida uma criança ou adolescente
por vez (BRASIL, 2015).
No caso dos irmãos, é permitido e recomendado o acolhimento destes na
família, com a finalidade de não interromper o convívio entre eles, preservando o
vínculo afetivo já existente (ITABIRA, 2017).
No entanto, em alguns casos ocorre a devolução das crianças e
adolescentes, ainda no processo de estágio de convivência, que é voltado à
adaptação. Esta é uma situação na qual não ocorre a violação de preceito legal, mas
que pode trazer sérios comprometimentos à criança e ao adolescente, representada
pela desistência da adoção durante o estágio de convivência. Verifica-se tal estágio
tem como objetivo a verificação a respeito da compatibilidade entre adotante e
adotando, devendo fazer-se acompanhar por estudos psicossociais voltados à
apuração da presença dos requisitos subjetivos para a adoção, que são as reais
vantagens para o adotando, a idoneidade do adotante e os motivos legítimos para a
adoção (ROSSATO, 2013). Observando tal definição do estágio de adaptação,
verifica-se que essa convergência de interesses devem ocorrer considerando as
duas partes, adotando e adotante.
O estágio de convivência tem como objetivo a obtenção do conhecimento
mútuo entre o adotante e o adotado, fazendo com que possam ser estabelecidos
vínculos entre os mesmos. Deve-se compreender que o período é fixado pelo juiz,
com fundamento nos laudos emitidos pela equipe técnica (CUNHA, 2011).
Rossato e Falcke (2017) afirmam que os principais fatores que levam á
ruptura do processo de adoção são a falta de divulgação sobre o histórico da criança
e o sofrimento anterior da mesma em lares temporários, as características dos pais
que fazem com que os mesmos não se identifiquem com a criança, as dificuldades
da família adotante para lidar com a diferença e para suportar frustrações, a
juventude dos pais, entre outros motivos.
Segundo Dias (2009), quando não ocorre a efetivação da adoção, os
sentimentos são de difícil administração, notadamente nos adolescentes e nas
18

crianças, que são a parte que se apresenta fragilizada na relação, levando à maior
condição de abandono.
Entre os danos causados diante da ruptura do processo de adoção, Souza
(2012) cita a estigmatização com a qual essas crianças ou adolescentes passam a
conviver, bem como a perda da esperança em obter uma nova família, o que
também contribui, diante da falta de perspectivas, para a ocorrência de prejuízos de
caráter psicológico, de diferentes dimensões. Mesmo diante da dificuldade de que
ocorra a comprovação dos danos morais ou psicológicos nessa situação, pode-se
constatar que os tribunais não têm se omitido nesse aspecto, considerando que
mesmo estando em um período em que ainda não fora efetivada a adoção, a
desistência pode trazer prejuízos e esses precisam ser suportados pelos
desistentes.
Nesse tipo de situação, verifica-se a necessidade de intervenção efetiva por
parte do assistente social, considerando que o acesso ao direito faz parte do
conjunto de atribuições inerentes à profissão que, inclusive, se insere no campo da
saúde mental.
Um exemplo a ser considerado se refere à decisão do Tribunal de Justiça de
Santa Catarina, que diante da ruptura de adoção de uma criança de sete anos, e
constatada a necessidade de que a mesma passasse a ter acompanhamento
médico e psicológico devido à citada ruptura, determinou que o casal desistente
deveria arcar com os custos do tratamento (IBDFAM, 2015).
Observando a condição de isonomia indicada pelo artigo 227, § 6º da
Constituição Federal, que impede qualquer distinção a favor de filhos biológicos ou
qualquer outra diferenciação nesse aspecto, pode-se afirmar que não cabe a
devolução de criança ou adolescente depois do encerramento do processo de
adoção.
Observa-se, no âmbito das atividades do assistente social, que os avanços
obtidos nas políticas públicas sociais nas últimas décadas, principalmente com a
implantação do Programa Bolsa Família, trouxeram componentes diferenciados à
atividade profissional, voltando-se ao atendimento especializado e caracterizado
pela observação estrita dos elementos técnicos e legais a respeito do acesso aos
programas. A implantação dos Centros de Referência de Assistência Social – CRAS,
trouxe novas perspectivas de acesso à assistência social no Brasil, sendo estes “a
principal porta de entrada para os serviços do Suas” favorecendo o acesso à
19

proteção social a um número maior de famílias (BRASIL, 2009). Um dos


atendimentos mais realizados no campo da proteção social básica se refere ao
Programa Bolsa-Família, de responsabilidade do CRAS.
O Programa Bolsa-Família pode ser considerado como importante iniciativa
no âmbito dos programas de transferência de renda. Estes programas se dividem
em programas de renda mínima garantida e renda básica de cidadania
(VANDERBORGHT; PARIJS, 2006 apud CASTRO et al., 2009).
O programa Bolsa Família surgiu como uma importante iniciativa no âmbito da
política social do Governo, onde se buscou um amparo às famílias carentes por
meio de uma complementação da renda das mesmas, obedecidos os critérios para
concessão do benefício. O mesmo teve como objeto também a atenção aos
aspectos inerentes à dignidade humana. Conforme o Decreto n° 5.209 de 17 de
setembro de 2004, o objetivo principal do Programa Bolsa Família, é “I - promover o
acesso à rede de serviços públicos, em especial, de saúde, educação e assistência
social” (BRASIL, 2004). A implantação do Programa Bolsa Família foi uma
importante iniciativa no âmbito das políticas sociais, sendo necessário o
entendimento a respeito de suas condicionalidades.
As condicionalidades se relacionam à educação, à saúde e à assistência
social, compreendendo a frequência das crianças nas escolas, o acesso a vacinas e
a outras necessidades básicas. Notadamente quanto ao acompanhamento das
famílias e com relação às condicionalidades, quanto à sua atenção e ao seu
descumprimento, pode-se sintetizar o papel do assistente social como a atividade do
profissional que objetiva fomentar a ampliação e a adequação da oferta de serviços
públicos, monitorar as políticas sociais locais e identificar as famílias em situação de
maior vulnerabilidade e risco social (BRASIL, 2014).
As avaliações acerca do atendimento do CRAS confirmam a afirmação de
Amaro et. al. (1997, p. 51), que, de modo geral, sintetiza o grupo de solicitações dos
usuários como parte do conjunto de atividades inerentes ao Serviço Social. Do
mesmo modo, para Cardoso e Maciel (2000, p. 142),

É incontestável a função educativa desempenhada pelos assistentes sociais


nos diferentes espaços ocupacionais. Tal função caracteriza-se pela
incidência dos efeitos das ações profissionais na maneira de pensar e agir
dos sujeitos envolvidos nas referidas ações, interferindo na formação de
subjetividades e normas de condutas, elementos estes constitutivos de um
determinado modo de vida ou cultura.
20

O trabalho do assistente social, portanto, busca apoiar às famílias no tocante


à capacidade de desenvolvimento, preservação e recuperação da capacidade
protetiva das mesmas, em busca de sua autonomia. No entanto, essa atividade
requer a utilização dos indicadores de gestão, sendo que os profissionais devem ser
capacitados para o adequado exercício da função. A gestão deve ser articulada e
integrada entre as áreas da saúde, da educação e da assistência social, se iniciando
com a entrada das famílias e sendo complementada pela administração dos
benefícios, atualização e revisão cadastral e fiscalização (BRASIL, 2015).
Nesse ponto, importa observar a existência de serviços de referência e
contrarreferência, que têm como objeto a articulação entre os níveis, possibilitando o
levantamento de informações e atuando em conformidade com as singularidades de
cada situação concreta (BRASIL, 2009).
O objetivo do CRAS no exercício da contrarreferência é o atendimento aos
encaminhamentos realizados pelo CREAS ou de outros serviços setoriais ao próprio
CRAS (ALAGOAS, 2019).

A contrarreferência é exercida sempre que a equipe do CRAS recebe


encaminhamento do nível de maior complexidade (proteção social especial)
e garante a proteção básica, inserindo o usuário em serviço, benefício,
programa e/ou projeto de proteção básica. (BRASIL, 2009, p.10)

No contexto do atendimento do Serviço Social verifica-se o atendimento nos


serviços de proteção social especial, que são voltados aos indivíduos e às famílias
em condição de risco social e pessoal, incluindo violação de direitos, tendo como
objeto a contribuição à reconstituição de vínculos comunitários e familiares (BRASIL,
2019).
Observando-se a referência e a contra-referência entre os equipamentos
CRAS e CREAS, além da articulação entre os serviços é imprescindível que os
técnicos desses serviços realizem o diálogo acerca dos encaminhamentos a serem
realizados a fim de que o usuário do CRAS, direcionado a participar dos serviços,
seja inserido em um grupo que atenda de modo efetivo às suas necessidades,
diante das vivências que motivaram seu atendimento no SUAS. Nesse aspecto, o
assistente social que atua no CRAS trabalha diretamente com a ação voltada à
minimização das vulnerabilidades provenientes dos reflexos da questão social, o que
21

possui diferenciais importantes a serem considerados. Verifica-se, inclusive, a


existência de dificuldades significativas no que se refere ao atendimento às
demandas específicas, como as violações de direitos de crianças e adolescentes.
22

4 OS OBSTÁCULOS AO TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL NA PROTEÇÃO À


CRIANÇA

4.1 ASPECTOS GERAIS: O TRABALHO SOCIAL

Observa-se que a dimensão política e pedagógica da ação profissional do


assistente social o inscreve no âmbito dos processos de hegemonia, no
estabelecimento de consensos necessários à reprodução do modo de vida próprio à
sociedade do capital, mas a partir de condições objetivas inscritas na dinâmica
institucional sob a forma de serviços sociais. A materialidade da profissão, expressa-
se, portanto, pela sua função social e institucional no âmbito dos processos de
produção e distribuição da riqueza social, mediatizado sempre pela luta de classes e
suas contradições. As tendências construídas na trajetória da profissão de
autorrepresentação de seu lugar nas disputas societárias não eliminam a natureza
contraditória de sua institucionalidade e tampouco produzem práticas e
conhecimentos que também não sejam determinados por essas mesmas disputas
(ALMEIDA; ALENCAR, 2011).
As mudanças ocorridas nos mecanismos de formulação, gestão,
financiamento e execução das políticas sociais a partir desse período configuram
nos espaços sócio-ocupacionais de atuação dos assistentes sociais novos desafios
do ponto de vista teórico e prático. As limitações e impedimentos, expressos no
cotidiano das instituições públicas e privadas, revelam como a crise e as alternativas
forjadas de recomposição do capital ganham contornos cada vez mais visíveis por
meio da reestruturação das formas clássicas de proteção social e das estratégias de
enfrentamento das desigualdades sociais mediadas pelas políticas sociais
(ALMEIDA; ALENCAR, 2011).
As políticas sociais sofrem alterações bastante significativas que determinam
a adoção de processos políticos e institucionais de gestão que se opõem às
diretrizes e princípios legais que as orientam, produzindo um confronto explícito
entre um ordenamento de tipo democrático e universalista e aqueles de caráter
seletivo. A ação do Estado presente nas diferentes instâncias de governo (federal,
estadual e municipal) vem consolidando um tipo de enfrentamento das
desigualdades sociais, balizada pela necessidade de preservar a orientação de
grandes volumes de recursos públicos para dinamizar a expansão do setor privado
23

de serviços e os ganhos do capital financeiro, seja por meio da contenção de


recursos para a geração do superávit primário e da terceirização de serviços
públicos como da transferência de responsabilidades para determinadas instituições
da sociedade civil (ALMEIDA; ALENCAR, 2011).
As políticas públicas, ao mesmo tempo em que fragmentam a realidade
social, estabelecendo recortes por ciclos de vida e categorias sociais (crianças,
adolescentes, jovens, mulher, trabalhador e idosos), ou por áreas (saúde, educação,
habitação, assistência entre outras), apresentam também investimentos que
procuram reconstituir algumas unidades, sobretudo a partir de ações ou instâncias
de coordenação intersetoriais (ALMEIDA; ALENCAR, 2011).
Conforme Almeida e Alencar (2011), a partir da Constituição de 1988, elas
ganham uma nova arquitetura institucional que se estrutura em sistemas unificados
que articulam as ações e responsabilidades entre os distintos entes governamentais
(governos federal, estadual e municipal) e entre o Estado e a sociedade civil. Em
seus diferentes níveis governamentais, assim como nas etapas de planejamento,
execução e avaliação, são demandadas a criação de instâncias e processos de
coordenação dos programas, serviços e ações que as compõem.
Contudo, muitas das políticas, dos entes governamentais e das instâncias
responsáveis pela sua execução na esfera local, como as fundações e secretarias,
não empreenderam, ainda, qualquer esforço neste sentido. Este processo, por si só,
já se coloca como importante desafio aos trabalhadores que atuam no âmbito de
alguma política pública (ALMEIDA; ALENCAR, 2011).

Não se trata mais de pensar serviços específicos para um conjunto amplo e


diversificado de segmentos populacionais, mas pensar o conjunto de ações
de saúde, educação, assistência social, entre outras, que devem ser
mobilizadas para atender as necessidades de idosos, crianças de 0 a 6
anos de idade, adolescentes do sexo feminino e assim por diante. Por esta
nova perspectiva as questões referentes às condições de vida de uma dada
categoria social ganham mais visibilidade, sendo decisivo para se pensar o
conjunto de ações que possam atender as suas reais necessidades
(ALMEIDA; ALENCAR, 2011, p. 47).

A partir da promulgação da Carta Magna de 1988 foram aprovados diversos


estatutos, requerendo do Estado sua parcela de responsabilidade. O Estatuto da
Criança e do Adolescente, lei n. 8.069, foi aprovado em 1990, estabelecendo a
doutrina integral que se articula com a noção de crianças e adolescentes como
sujeitos de direitos, determinando que a família, a sociedade e o Estado assegurem
24

seus direitos com absoluta prioridade. As inúmeras dificuldades para a execução do


Estatuto geraram inovações que foram expressas nas mudanças inseridas na Nova
Lei Nacional da Adoção, a lei n. 12.010, que traz mudanças nas regras de
acolhimento institucional visando a assegurar o direito à convivência familiar, e no
Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, lei federal n. 12.594 de 2012
(SIERRA; REIS, 2018).
Verifica-se, no artigo 201 do Estatuto da Criança e do Adolescente, a previsão
acerca da competência do Ministério Público indicando a obrigatoriedade de
participação do mesmo nos assuntos inerentes à defesa dos direitos de crianças e
adolescentes. Logo, a ausência do Ministério público nestas questões, ainda que
seja nos processos e procedimentos, incorre na nulidade do feito. A garantia do
direito de acesso à justiça destes grupos etários é realizada com a presença do
advogado, também prevista no mesmo diploma legal, porém nos artigos 206 e 207.
No artigo 208 são destacados pontos inerentes ao ensino, de forma
pormenorizada e incluindo o atendimento especial aos portadores de deficiência e o
ensino noturno de acordo com as condições do educando. Importante observar
também que não é excluída a proteção dos direitos individuais difusos ou coletivos,
ainda que estes não estejam expressamente previstos no Estatuto da Criança e do
Adolescente.
A lei busca o enfrentamento aos crimes que surgiram com o desenvolvimento
tecnológico, que trouxe consigo a possibilidade de exploração de crianças e
adolescentes por esses meios. No artigo 241-A, inclusive, existe a previsão de
responsabilização para qualquer ato que envolva registro de sexo explícito ou
pornografia envolvendo criança ou adolescente, incluindo a pessoa que ofereça
meios para armazenamento de material dessa natureza.
Toda essa legislação tem uma estrutura similar ao definir o destinatário das
políticas como sujeito de direitos, determinando a criação dos conselhos de direitos,
admitindo participação da sociedade civil na formulação e execução da política e
sugerindo a criação do “Sistema de Garantia de Direitos”, organizado basicamente
segundo três eixos: promoção (políticas básicas, Organizações Não
Governamentais (ONGS) e outras instituições), controle (conselhos gestores) e
defesa (ONGS, Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS),
Defensorias, Delegacias e Conselhos Tutelares). No entanto, a capacidade de
funcionamento desse sistema ou mesmo sua real existência são questionados
25

(SIERRA; REIS, 2018).


Importa considerarem-se as interseções entre a atividade dos assistentes
sociais e da Psicologia Social. As áreas de intervenção entre os dois campos do
conhecimento são iguais, sendo que os objetivos são igualmente próximos.

4.2 O SERVIÇO SOCIAL E A DEFESA DE DIREITOS

Foi após a Constituição Federal de 1988 que a Assistência Social passou a


ser definida como política pública de direitos, compondo o Sistema de Seguridade
Social, juntamente com as políticas da Saúde e da Previdência Social, sendo
considerada uma “Política de Proteção Social” que articulada a outras políticas
sociais destina-se à promoção e garantia da cidadania:

[...] por meio do qual a sociedade proporcionaria a seus membros uma


série de medidas públicas contra as privações econômicas e sociais. Sejam
decorrentes de riscos sociais – enfermidade, maternidade, acidente de
trabalho, invalidez, velhice morte -, sejam decorrentes das situações
socioeconômicas como desemprego, pobreza ou vulnerabilidade, as
privações econômicas e sociais devem ser enfrentadas, pela via da política
da seguridade social, pela oferta pública de serviços e benefícios que
permitam em um conjunto de circunstâncias a manutenção de renda, assim
como o acesso universal à atenção médica e socioassistencial (JACCOUD,
2009, p. 62).

A Política Pública de Assistência Social, a partir da Constituição Federal de


1988 visa a construção de uma nova trajetória, diferente das propostas
assistencialistas antigas, as quais serviam de subsídio para as políticas construídas
até o momento, oportunizando o acesso aos serviços assistenciais por meio de uma
proposta de direito social.
Esse reconhecimento da Assistência Social como política pública é
considerado um marco muito importante na trajetória da Assistência Social, pois
quebrou paradigmas e as concepções conservadoras de caráter assistencialista.
Após a Constituição Federal de 1988, a assistência social assume diversas
características que antes não lhe eram atribuídas, a superação do assistencialismo,
no qual passa a atuar como um padrão de proteção social respaldado em direitos,
ou seja, ela assume seu papel de política pública no contexto da seguridade social
com a função principal de inclusão social.
Nesse sentido, entende-se que a Assistência Social está diretamente ligada a
garantia de tais direitos:
26

Esta política social opera com serviços, programas, projetos e benefícios,


devendo realizar de forma integrada ás demais políticas públicas setoriais,
garantindo mínimos sociais e provimento de condições para atender
contingências sociais e acesso aos direitos sociais. (BRASIL,2012, p. 01)

É também responsável pela promoção de programas, serviços e benefícios


no âmbito da prevenção, quando há violação de direitos, rompimento dos vínculos
familiares e comunitários, efetivando prioritamente a Proteção Social Básica.
No campo legal, bem como a regulamentação da Política Pública da
Assistência Social no período entre 1993 e 2003 destacam-se três instrumentos
principais: a LOAS, Lei nº 8742 de 07 de dezembro de 1993, a Política Nacional de
Assistência Social (PNAS) de 1988 e as Normas Operacionais Básicas (NOB/1977 e
NOB /1998).
A Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS (Lei nº 8.742/1993)
regulamentou os artigos 203 e 204 da Constituição Federal, na qual determina que é
responsabilidade do Estado na gestão, financiamento execução da política de
Assistência Social. Por sua vez, a Política de Assistência Social traz a adoção de
medidas visando responder questões existentes na sociedade brasileira, com
relação a responsabilização do estado, objetivando tornar aparente quais serão e
por onde passarão suas ações para a efetivação da Assistência social enquanto um
direito de cidadania a cargo do Estado.
A LOAS assegura também o direito da participação direta e/ou representativa
da população na elaboração, controle e avaliação das ações da assistência social
através dos Conselhos de Assistência Social, Conferências, Espaços democráticos
e deliberativos.
Em 2004 é apresentado o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), o
qual utiliza-se de um modelo de gestão descentralizado e participativo. Tem como
objetivo organizar a territorialização das ações sócio assistenciais em todo o país.
(BRASIL,2004)
O SUAS engloba também a oferta de benefícios assistenciais prestados a
públicos específicos de forma articulada aos serviços para contribuir para a
superação de situações de vulnerabilidade. Também o SUAS gerencia a vinculação
de entidades e organizações de assistência social ao Sistema com a manutenção
atualizada do Cadastro Nacional de entidades e Organizações de Assistência Social
27

para concessão de certificação á entidades beneficentes, quando é o caso.


(BRASIL, 2004)
A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) e o Sistema Único da
Assistência Social (SUAS) propuseram que o Estado deve se responsabilizar na
execução dos serviços e nas redes socioassistenciais, onde o CRAS torna-se
referência para a efetivação de tais serviços.
Em 2004, foi então aprovada a Política Nacional de Assistência Social –
PNAS4 , ancorada nos dispositivos da Constituição Federal/88 e da LOAS, resultado
de um longo processo democrático e participativo a nível nacional, o qual envolveu
diversos segmentos da sociedade. Ela determina as particularidades e
especificidades, como também os campos de ação, objetivos, usuários e formas de
operacionalização da Assistência Social como política pública de proteção social.
Com base no PNAS, foi aprovada no ano seguinte a Norma Operacional
Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB/SUAS), que trata da
organização em âmbito nacional do Sistema Único de Assistência Social (SUAS),
sistema descentralizado e participativo, que organiza a oferta de programas,
projetos, serviços e benefícios socioassistenciais em todo o país, respeitando a
diversidades das regiões, bem como a realidade dos municípios e do meio rural.
Destaca-se ainda que o SUAS faz com que se materialize o conteúdo da Lei
Orgânica da Assistência Social (LOAS), cumprindo as exigências para a
concretização dos objetivos, obtendo os resultados esperados efetivando os direitos
dos cidadãos e promovendo a inclusão social. A assistência social está organizada
em dois níveis de complexidade: Proteção Social Básica e a Proteção Social
Especial de média e alta complexidade.
Tais serviços são oferecidos no território de abrangência do CRAS, em
especial os serviços de convivência e Fortalecimento de Vínculos, bem como o
Serviço de Proteção Social Básica no domicílio para pessoas com deficiência e
idosos, vinculados ao Programa de Atendimento Integral ás Famílias (PAIF).
O Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS) é a
unidade pública e estatal da assistência social responsável por prestar serviços
especializados de forma continuada a famílias e indivíduos que de alguma forma
tiveram seus direitos violados. (BRASIL, 2011).
O CREAS deve obrigatoriamente oferecer o Serviço de Proteção e
Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI), além de outros
28

serviços, como Abordagem Social e Serviço para Pessoas com Deficiência, Idosas e
suas famílias, além do serviço de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto. O
programa ainda oferece orientação jurídica, apoio à família, apoio no acesso à
documentação pessoal e estimula a mobilização comunitária, além da orientação e
encaminhamento dos cidadãos para os serviços da assistência social ou demais
serviços públicos existentes no município.
Fazem parte do público alvo do programa famílias e indivíduos em situação
de risco pessoal e social que tiveram seus direitos violados, seja violência física,
psicológica e negligência; violência sexual; aquelas afastadas do convívio familiar
devido à aplicação de medida de proteção; indivíduos em situação de rua;
abandono; trabalho infantil; discriminação por orientação sexual e/ou raça/etnia;
cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto de Liberdade Assistida e
de Prestação de Serviços à Comunidade por adolescentes, etc.(BRASIL, 2011).
O CREAS, unidade de atendimento de média complexidade é um programa
voltado às famílias e indivíduos em situação de risco pessoal ou social, estando
também vinculado à rede SUAS, que tem como atribuição dar proteção a esse
público, afiançando seguranças socioassistenciais, na concepção da proteção
social.
Após o acolhimento no CREAS, estes passam por uma avaliação psicológica,
na qual consiste em uma coleta de dados (sintomatologias apresentadas, dinâmica
da família, etc.), análise e estudo da situação de violência e dinâmica familiar, que é
realizada através de entrevistas com membros da família e a(s) vítima(s), além de
contatos com a rede de atendimento, visando à identificação da violação e à
proteção desse núcleo.
Alguns princípios importantes na atuação do Psicólogo dentro do CREAS são
citados por Fialho (2017), sendo que a autora indica a importância da atuação de
acordo com as diretrizes e objetivos da Política Nacional de Assistência Social e da
Proteção Social Básica, favorecendo a efetivação das políticas públicas de
desenvolvimento social e a construção dos cidadãos, bem como atuar de modo
integrado com destaque para a atuação conjunta entre Psicologia e Serviço Social.
Nesse ponto, essa atuação conjunta possui importância destacada se
considerado sob o prisma do processo de subjetivação política, diante da concepção
de subjetivação que é compreendida como “a produção, mediante uma série de atos
de uma instância e de uma capacidade de enunciação que não eram identificáveis
29

em um campo de experiência dado, cuja identificação, portanto, corre lado a lado


com a nova representação do campo da experiência” (RANCIÉRE, 2006, p. 52 apud
MACHADO, 2015).
Quanto à intervenção de modo integrado com o contexto local, considerando
a realidade municipal e territorial citadas por Fialho (2017) como integrante do
trabalho do psicólogo no CREAS, esta intervenção pode ocorrer considerando que a
subjetividade pode er edificada através dos processos ambientais e políticos, bem
como tecnológicos e socioculturais, sendo notável a importância de estudos e ações
que busquem e garantam os direitos dos indivíduos que se encontram envoltos pelo
contexto da sociedade em que vivem, e que os moldam em suas articulações nesse
processo. Assim, a observação das especificidades locais se afirma como elemento
essencial no desenvolvimento do trabalho do psicólogo junto aos usuários do
CREAS.
Nesse aspecto, faz-se importante a consideração de que a atuação
profissional conjunta deve reafirmar o CREAS como local de manifestação do
pensamento dissidente, ou seja, essa atuação pode representar a expressão de
autonomia do profissional, opondo-se às limitações e reducionismos criados.
Observa-se que a atuação nesses moldes se opõe à tentativa das instituições
presentes na sociedade capitalista de subtrair o pensamento dissidente, citada por
Guattari e Rolnik (2011 apud ARGILES, 2016), objetivando boicotar a singularização
e realizar a produção de subjetividades relacionadas ao próprio capitalismo.
Observa-se que “a comunidade, em sua partilha, define assim os lugares
sociais associados às funções que cada indivíduo ocupa e desempenha”
(MACHADO, 2013, p. 267). A distorção, ou dano produzido pela desigualdade na
distribuição hierárquica das funções e dos lugares proporciona as relações de
identidade e de opressão que se caracterizam pela condição subalterna. Assim, a
política tem sua origem na divisão das partes do que é comum, com a harmonização
conforme a proporção que cabe à comunidade e à sua obtenção para obter o que é
do direito de cada um (MACHADO, 2013).
O cenário de vulnerabilidade no qual se insere um elevado contingente de
crianças no Brasil representa um problema de urgente resolução, onde se destaca a
importância da efetividade da atuação do Serviço Social. Conforme Telles, Suguihiro
e Barros (2011), a vulnerabilidade social representa diversos componentes
interdependentes, onde se inclui a economia, os aspectos culturais e a conjuntura
30

tanto social quanto política, que resultam em obstáculos ou impedimentos do acesso


dos sujeitos aos bens produzidos na vida social.
Segundo Libardi e Castro (2017), à fase inicial da proteção à criança no Brasil
se divide em três etapas. A fase pré-1930 começa com a colonização portuguesa e
se estende até 1874; a segunda fase ocorreu de 1874 até 1899 e a terceira etapa de
1899 até 1930.
A forma como a sociedade e as autoridades observavam o tratamento às
crianças variou entre os períodos. Desse modo, pode-se considerar o exemplo de
Faleiros (2011), que afirma que o convívio entre crianças negras e brancas,
escravizadas e livres, possibilitou que as primeiras não pudessem usufruir de um
modo de ser criança facultado às segundas. Observa-se como exemplo o tratamento
gentil ou carinhoso que os adultos destinavam às crianças, principalmente quando
ainda bebês.
Segundo Gonçalves (2012, p. 70), “a articulação endógena entre as políticas
indica que as ações públicas devem ser diversificadas e integradas para o
enfrentamento das expressões da questão social”. Para a autora, as mudanças
oriundas do capitalismo têm intensificado as expressões da questão social. Estas
afirmações são confirmadas pelo o aumento da violência, do desemprego, do uso de
drogas, da ruptura dos vínculos familiares e comunitários e o sucateamento de
políticas públicas. Estas questões são verificadas com maior intensidade pelos
segmentos socioeconomicamente excluídos, tendo seus resultados expressos nas
necessidades a serem supridas, devendo ser respondidas em redes, não por
setores individualizados.
No bojo das ações que são de competência do Serviço Social encontra-se a
efetivação da proteção aos diretos da criança e do adolescente. As medidas de
proteção à criança e ao adolescente, de modo geral, são norteadas no Brasil pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/1990, sendo que a maioria
destas medidas tem como prioridade o atendimento sem a retirada do assistido do
seio familiar. Assim, somente a partir do afastamento das possibilidades de convívio
saudável, procede-se o encaminhamento para as instituições (BRASIL, 1990).
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, a criança tem idade até
doze anos incompletos, e o adolescente é aquele indivíduo que tem entre doze e
dezoito anos de idade. Porém, observa-se que essa classificação apresenta-se
31

complexa se considera a possibilidade de que as categorias devam ser uma


construção de caráter social (CASTRO; MACEDO, 2019).
Antes da criação da Lei 8.069/90, ocorreram diversas situações que levaram à
mesma, buscando a garantia plena os direitos fundamentais da criança e
adolescente. As políticas públicas relacionadas à criança e ao adolescente no
campo do ato infracional têm sua origem no Brasil a partir de 1824, com a
Constituição do Império, que fixou a imputabilidade penal aos quatorze anos, sendo
que o vetusto códex indicava que dependendo do discernimento, a imputabilidade
poderia ocorrer mais cedo, sendo que o recolhimento, ou privação de liberdade,
poderia durar até os dezessete anos. As normas que diferenciavam as crianças
dos adultos somente foram previstas a partir de 1830, quando por meio do Código
Criminal foram indicadas as normas que diferenciavam as crianças dos adultos,
sendo que nessa ocasião surgiram as primeiras instituições com objetivos
assistencialistas. No entanto, o Código Penal da República de 1890, no artigo 27,
§1º somente considerava inimputáveis as crianças com menos de nove anos
completos (OLIVEIRA, 2015).
Inicialmente, o Decreto nº 1.313 de 1891 estabeleceu que 12 anos seria a
idade mínima para uma pessoa trabalhar. Nesta época, eram poucas crianças que
tinham direito ao estudo, à saúde, excluindo-as dos direitos sociais. Em 1923 foi
criado no Brasil o Código de Menores com objetivo de dar assistência e proteção
para aquele que tivesse menos de 18 anos de idade e que foram abandonados ou
considerados delinquentes de acordo com o código. Em 1927 foi aprovado o 2º
Código de Menores, concebendo a proteção integral da criança e adolescente,
porém, mesmo assim, na época, em termos de cidadania, a lei considerava criança
e adolescente menos importante diante do adulto e eles não tinham a liberdade de
expressar.

A figura central do Código de Menores era o Estado que, por meio do “juiz
de menores”, decidia de modo autoritário e isolado o destino de crianças ou
adolescentes em “situação irregular”, como eram consideradas aquelas
destituídas de vínculos familiares ou cujas famílias não tinham condição de
sustentabilidade econômica. Elas eram vítimas de maus-tratos, autoras de
atos ilícitos ou ainda tidas como “inadaptadas”. Assim, o Código de Menores
era destinado à repressão e tutela de crianças e adolescentes pobres e
negras, advindas das classes populares, geralmente por meio da
institucionalização sem a criação de qualquer obrigação por parte do Estado
de proteção dessas crianças e adolescentes (MAIA et al., 2018, p. 13).
32

O ano de 1942 foi parte de um período autoritário do Estado Novo, foi criado
pelo Ministério da Justiça o Sistema de Assistência ao Menor o Sistema de
Assistência ao Menor, que era um sistema Penitenciário para os que tivessem
menos de 18 anos e previa atendimento diferente para o adolescente autor de ato
infracional e para o menor carente e abandonado, mas na realidade importava na
privação da criança e adolescente do seu direito a liberdade.
O Estatuto da Criança e do Adolescente atua mudando todo o contexto,
trazendo novos conceitos e consagrando a proteção integral da criança e
adolescente imparcialmente, sem distinção de cor, sexo, idioma, religião, já não
podendo mais sofrerem discriminação, crueldade, opressão sendo punido conforme
a lei, qualquer atentado.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabeleceu os direitos de


crianças e adolescentes, seus direitos específicos, a proteção integral e a
absoluta prioridade. A Doutrina da proteção integral, na qual se fundamenta
essa lei, significa que toda criança e adolescente, não importando sua
condição social, possuem os direitos consagrados às pessoas adultas e
direitos próprios considerando seu estágio de desenvolvimento e devem ser
garantidos pela família, pelo Estado, pela comunidade e pela sociedade
(MAIA, 2018, p. 18).

Em 13 de julho de 1990, foi criada à lei 8.069/90 Estatuto da Criança e


Adolescente com base nas diretrizes previstas na Constituição Federal de 1988 e
nas normativas internacionais com objetivo de defender e garantir seus direitos
fundamentais como pessoas humanas e em desenvolvimento. O artigo 4º do ECA
(Estatuto da Criança e Adolescente) também relata de quem são os deveres à
proteção: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária.”
As medidas de natureza preventiva voltadas às crianças e adolescentes se
incorporam ao Estatuto da Criança e do Adolescente, que em seu §4º único,
determina a prioridade absoluta aos mesmos no enfrentamento às situações de
vulnerabilidade.

A solução dos problemas que derivam da criminalidade juvenil não reside


nas fórmulas autoritárias de redução da maioridade penal e nem na
internação habitual dos jovens infratores. É preciso, antes, respeitar-lhes os
33

direitos básicos, assegurando-lhes proteção integral e garantindo-lhes o


direito à vida, à liberdade, à habitação, à saúde, à educação e à busca da
felicidade, transformando condições socialmente injustas em ações
plenamente realizadoras das prerrogativas que os estatutos legais e as
declarações internacionais reconhecem em favor das crianças e dos
adolescentes (MELLO FILHO, 1999, p. 18-19).

Nesse contexto, observa-se que as medidas voltadas à defesa da criança e


do adolescente têm como fundamento a proteção integral, que se refere à citada
prioridade absoluta. Assim, pode-se considerar que os serviços no âmbito da
Assistência Social, voltados à proteção social especial, correspondem à proposta,
que inclui de modo essencial a dignidade humana, enquanto princípio constitucional
basilar.
Acerca da proteção dos interesses coletivos, individuais e difusos das
crianças e dos adolescentes, as hipóteses de infringência aos mesmos são previstas
nos artigos 208 a 224 do Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo que no
primeiro artigo citado são elencadas as situações passíveis de responsabilização por
ofensa aos direitos, onde se destacam a assistência social para a proteção familiar,
a proteção ao direito à convivência familiar e a garantia do direto fundamental à
educação (BRASIL, 1990).
O artigo 232 tem como objetivo defender a integridade psicofísica das
crianças, combatendo os constrangimentos ou maus-tratos voltados às crianças ou
adolescentes. Mais adiante, o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seus
artigos 238 e 239, indica as características que configuram o tráfico de crianças,
considerando que esse tem sido um tema de amplo debate e que suscita diversas
campanhas, inclusive com a intensificação das providências voltadas aos processos
de adoção internacional. Quanto à citada integridade desse público, verifica-se
importante alteração na Lei 11.829, de 25 de novembro de 2008, trazida pelos
artigos 240 e 241-E, onde são abordados os crimes sexuais na internet (BRASIL,
1990).
No contexto das vedações voltadas à prevenção dos atos infracionais por
parte das crianças e adolescentes e à proteção aos mesmos, o ECA proíbe a venda
de armas, munições e explosivos; de bebidas alcoólicas e produtos que possam
causar algum tipo de dependência, de fogos de artifício que possam causar algum
dano físico no caso de indevida utilização, de revistas e publicações específicas, de
34

bilhetes lotéricos e equivalentes, sendo vedada também a hospedagem sem


autorização ou desacompanhada dos pais ou de responsável legal.
Segundo Boesmans e Martins (2016), o acolhimento institucional é uma
medida protetiva contra a violação de direitos de adolescentes e de crianças, sendo
que o Estatuto da Criança e do Adolescente indica que tais medidas devem ser
tomadas nas situações de falta, abuso ou omissão por parte dos pais, por omissão
ou ação por parte do Estado ou mesmo motivada pela conduta. Apesar de que o
Estatuto em comento indica que a falta de recursos para o sustento da família não
deve ensejar a perda ou suspensão do poder familiar, em diversas situações a
principal motivação para o acolhimento são tais carências materiais.
O atendimento institucional pode ser ofertado nas modalidades abrigos
institucionais ou casas-lares. Os abrigos institucionais comportam até vinte crianças
e adolescentes, com profissionais atuando em turnos fixos. As casas-lares podem
abrigar até dez crianças e adolescentes, sob o cuidado de educadores ou
cuidadores residentes no local (ACIOLI et al. 2018).
Considerando que no Brasil existem cerca de quarenta e seis mil crianças e
adolescentes em aproximadamente quatro mil instituições. Entre os motivos para
estas ocorrências, pode-se citar a obtenção de respostas inconsistentes nas
situações em que passam por situações de conflito ou quando choram,
considerando que nem sempre existem pessoas ou profissionais disponíveis para
confortá-las e que a carência de estímulos afetivos e a falta do retorno nesse sentido
fazem com que ocorram menos conexões cerebrais inerentes ao desenvolvimento
(CNJ, 2017).
Essa pode ser indicada como outra demanda importante no que se refere à
defesa dos direitos da criança e do adolescente, também comumente negligenciada
e que tem como principal obstáculo a desigualdade social e as iniquidades na
distribuição de renda. Assim, pode-se compreender que a totalidade das demandas
citadas e mesmo as que não integraram o presente trabalho apresentam, em maior
ou menor escala, obstáculos intrínsecos à sua própria motivação, derivada das
dificuldades de acesso aos direitos que caracteriza o país, bem como do
esvaziamento dos debates sobre esses direitos no plano executivo.
Acerca das instituições voltadas ao acolhimento, dados referentes ao ano de
2013 indicam a ocorrência de violações graves aos direitos das crianças e
adolescentes em diversas das 2.370 entidades que foram fiscalizadas, de um total
35

de 2.754 instituições de acolhimento. A maior parte das irregularidades se refere ao


descumprimento das diretrizes inerentes à composição da equipe de cuidadores e
educadores, material e estrutura física (BOESMANS; MARTINS, 2016).
A proteção aos direitos da criança envolve como um de seus pontos
prioritários a segurança contra abusos sexuais. Segundo Cunha, Silva e Giovanetti
(2008), as consequências do abuso sexual deixam marcas sexuais, físicas,
psíquicas e sociais, entre outras, sendo passíveis de trazerem sérios
comprometimentos à vida das vítimas, sendo imprescindível o trabalho de
intervenção psicológica.
A Política Nacional de Assistência Social segmentou o atendimento em duas
modalidades, que são a Proteção Social Básica e a Proteção Social Especial. A
primeira compreende o atendimento preventivo às situações de risco e violações de
direitos, sendo que a referência de atendimento é o CRAS (Centro de Referência da
Assistência Social). A Proteção Especial diz respeito aos atendimentos às famílias
em situações de risco e violações de direitos, sendo que a referência de
atendimento é o CREAS (Centro de Referência Especializado da Assistência Social)
(MAIA, 2017).
A atenção psicossocial incorpora o acompanhamento e encaminhamento de
modo interdisciplinar, em rede e de modo especializado, contando com o
acolhimento e a escuta. O atendimento realizado pelo profissional envolve a visita
domiciliar e no ambiente do CREAS (SILVA; CEZAR, 2013).
Reiterando a necessidade de pesquisas sobre o tema, Marques, Teles e
Feijão (2013) afirmam a necessidade de que ocorram mais práticas de cunho
preventivo e pesquisas sobre o assunto, além da intensificação do trabalho
desenvolvido com as próprias vítimas, resultando na ampliação dos serviços de
acolhimento e de escuta terapêutica.

4.3 A ALTERNATIVA DO ENCAMINHAMENTO INSTITUCIONAL: POSSÍVEIS


MELHORIAS

O acolhimento temporário representado pela atuação institucional deve ter


esta condição enfatizada, mas importa compreender que é necessário que o período
em que ocorre o atendimento seja objeto de pesquisa e de busca por melhorias,
considerando os obstáculos representados indicados como componentes da
realidade apresentada pelas instituições. Segundo Souza e Brito (2015), existe um
36

número insuficiente de programas voltados à proteção de crianças e adolescentes,


bem como pode ser verificado a quantidade reduzida de políticas de atendimento
que sejam adequadas às especificidades deste público. Pesquisa realizada pelos
autores em Aracaju, no Sergipe, indicou os principais problemas apresentados pelas
instituições voltadas a esse atendimento:

Dentre as problemáticas observadas podemos destacar o desconhecimento


por parte dos funcionários dos abrigos dos procedimentos necessários para
o abrigamento de crianças e adolescentes e das responsabilidades
institucionais, ausência de profissionais para executar certas tarefas nas
unidades. Determinados trabalhos eram realizados pelos adolescentes
abrigados, inexistência de acompanhamento psicossocial à família, bem
como de programação de lazer e de estímulos à convivência familiar.
Também não existia preparo para o desligamento dos internos e para o
acompanhamento de egressos (SOUZA; BRITO, 2015, p. 42).

Observa-se, com base no que foi identificado pelos autores, que a melhoria
no atendimento pode passar pelo essencial conhecimento, por parte dos
colaboradores e demais pessoas ligadas aos abrigos e demais instituições que
atuam nesse contexto, sobre as especificidades dos mesmos, em caráter interno e
externo, compreendendo os componentes legais e estatutos que regem estes
espaços. Um subsídio importante ao funcionamento destas organizações é o Projeto
Político-Pedagógico. Conforme a Secretaria Nacional de Assistência Social, o
Projeto Político Pedagógico deve conter, entre outros pontos:

Para garantir a oferta de atendimento adequado às crianças e adolescentes


acolhidos, os serviços de acolhimento deverão elaborar a proposta de um
projeto político-pedagógico que contemple os aspectos relacionados a
seguir: infraestrutura física que garanta espaços privados e adequados ao
desenvolvimento da criança e do adolescente; ambiente e Cuidados
Facilitadores do Desenvolvimento; atitude receptiva e acolhedora no
momento da chegada da criança/adolescente, durante o processo de
adaptação e permanência, não-desmembramento de grupos de
crianças/adolescentes com vínculos de parentesco; relação afetiva e
individualizada com cuidadores; definição do papel e valorização dos
cuidadores/educadores; organização de registros sobre a história de vida e
desenvolvimento de cada criança / adolescente; preservação e
fortalecimento da convivência comunitária; desligamento gradativo.
(BRASIL, 2008).

Os abrigos possuem como características a ação pedagógica, que ocorre por


meio da interação em forma de diálogo entre as crianças e adolescentes, da relação
compartilhada entre os cuidadores e da atuação multidisciplinar da equipe atuante
na instituição (IZAR, s/d). Os abrigos carecem de criteriosa organização interna,
37

compreendida no campo da estrita observação aos preceitos legais, inclusive


contando com um projeto político-pedagógico. O mesmo, conforme Vasconcellos
(1995), busca contribuir para o enfrentamento dos desafios diários da instituição,
porém de modo essencialmente participativo, orgânico, sistematizado, consciente e
refletido.
O documento pode, inclusive, determinar os limites de atuação da instituição,
definindo, desse modo, que as ações inerentes a outras instâncias, instituições ou
mesmo esferas de poder, não devem ser incorporadas pela mesma. Desse modo,
considera-se que a elaboração do Projeto Político Pedagógico pode ser um
importante meio de se programar até mesmo as ações que não são atribuição da
instituição, o que favorece a cobrança por ações que devem ser executadas por
terceiros.
O projeto político-pedagógico atua na criação da identidade institucional,
sendo diferente do que é utilizado nas escolas por ser de maior abrangência
(GUARÁ, 2006). Assim, o mesmo não se limita à pedagogia, mas inclui ações no
campo do Direito, da Assistência Social e da Psicologia (IZAR, s/d). Tal documento
se faz necessário para o norteamento e fundamentação das atividades da
instituição, sendo que o mesmo tem implicações não apenas na prática
organizacional da instituição, mas inclusive nos aspectos legais.
O processo de planejamento de uma instituição exige uma construção
coletiva, onde os diferentes envolvidos encontram interseções em suas concepções
de necessidade e mesmo de iniciativas que possam ser inovadoras e apresentarem-
se como soluções aos problemas cotidianos. Do mesmo modo, a instituição deve
utilizar-se do documento, no aspecto institucional, como meio de apresentar sua
visão de sociedade, de pessoa e de instituição:

Queremos colaborar na construção de uma sociedade cuja renda seja


melhor distribuída, em que a equidade social seja um valor a ser
conquistado e mantido, em que prevaleça a justiça e a efetividade da lei,
com elevação permanente dos níveis de educação e com redução dos
preconceitos. Desejamos e buscamos uma sociedade pacífica e cuidadora
(LAR PADILHA, 2009).

O exemplo citado, que indica os objetivos de uma instituição acolhedora


específica, pode ser estendido para todas as demais, sendo que tal indicação,
trazida expressamente no Projeto Político Pedagógico, passa a ser legitimada pelo
38

documento, cuja construção é uma atuação conjunta entre instituição e sociedade. O


mesmo, inclusive, se destaca por representar uma instituição que atua no sentido de
formação de cidadãos e promoção de direitos, que pode contribuir de modo decisivo
para a construção de uma sociedade menos injusta e considerando que, no Brasil, o
quadro é de “uma desigual distribuição de riquezas” (LAR PADILHA, 2009).

O Acolhimento Institucional é antes de tudo um momento crucial na vida de


uma criança. Seu universo familiar é substituído pelo programa que o
acolhe. A criança chega na Casa- Lar fragilizada. Por isso a necessidade de
tornar o ambiente o mais acolhedor possível (ACEIAS, s/d).

Esta definição do que representa para o acolhido o momento de sua chegada


à instituição, indica a abrangência do Projeto Político Pedagógico, que atua como
instrumento norteador das políticas da instituição e subsidia o trabalho de todos na
mesma, facilitando o entendimento sobre as práticas cotidianas e proporcionando o
conhecimento a respeito das limitações impostas ao trabalho, bem como das
potencialidades a ele inerentes.
Assim, as iniciativas diversas tomadas pelas instituições devem ser pautadas
pela estrita observação aos preceitos legais e em consonância com os objetivos
específicos institucionais, que devem ser bem definidos por meio do Projeto Político
Pedagógico. Destaca-se que no âmbito legal, as principais observações dizem
respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente, mormente quanto ao
cumprimento das obrigações contidas no artigo 94 do mesmo.
A observação das orientações técnicas indicadas por instituições como o
Ministério da Cidadania e especificamente da Secretaria Especial de
Desenvolvimento Social podem ser situadas no bojo das ações voltadas ao
aprimoramento do atendimento institucional. As publicações trazem como conteúdo
tanto as diretrizes e orientações quanto importantes sugestões que podem ser
aplicadas de acordo com as demandas de cada instituição, contribuindo para seu
melhor funcionamento. Um exemplo pode ser observado a seguir, sobre o início do
estudo psicossocial voltado à elaboração do plano de atendimento:

O planejamento deve envolver de modo participativo a família de origem e,


sempre que possível, a criança e o adolescente, prevendo
encaminhamentos, intervenções e procedimentos que possam contribuir
para o atendimento das demandas identificadas (BRASIL, 2008).
39

Outra forma de se buscar o aprimoramento das atividades das instituições


que atuam no atendimento às crianças e adolescentes é a observação das
deliberações locais, como as que são definidas pelos Conselhos Municipais dos
Direitos da Criança e do Adolescente. Tais documentos trazem importantes
determinações e considerações, inclusive quanto ao funcionamento das instituições,
podendo trazer aspectos inerentes à realidade local e que são pertinentes para a
apreciação das condições de atendimento apresentadas nas mesmas. Em alguns
casos, estas deliberações trazem até mesmo a descrição das atividades a serem
executadas pelos profissionais das instituições, bem como as questões inerentes ao
Projeto Político Pedagógico e ao plano de atendimento individual.

O desenvolvimento das ações do Plano de Atendimento deve ser realizado


de modo articulado com os demais órgãos e serviços, que estejam
acompanhando a família, a criança ou o adolescente (escola, Unidade
Básica de Saúde, CAPS, CREAS, CRAS, programas de inclusão produtiva,
etc.), a fim de que o trabalho conduza, no menor tempo necessário, a uma
resposta definitiva para a criança e o adolescente, que não seja
revitimizadora ou precipitada. (CMDCA PORTO FELIZ, 2019)

De modo geral, pode-se compreender que as melhorias no âmbito dos


serviços prestados pelas instituições de acolhimento não podem ser obtidas por
meio de ações isoladas, mas devem fazer parte da agenda de todas as instâncias
responsáveis pelo atendimento, compreendendo que a ação integrada entre as
mesmas, somada ao apoio da sociedade e dos demais órgãos do Poder Público,
pode contribuir efetivamente para tais aprimoramentos.
Todavia, a atuação deve pautar-se pela estrita observação dos preceitos
legais, considerando a importância do cumprimento dos mesmos e da manutenção
da idoneidade das instituições. Faz-se pertinente a atuação conjunta até mesmo
para se evitarem medidas de caráter judicial, passíveis de utilização nos casos onde
são identificadas incongruências, como as exemplificadas a seguir:

Um dos principais problemas apontados é a falha no quadro de


funcionários, com a necessidade de nomeação de mais um assistente social
e mais um psicólogo, já que os atuais extrapolam o número máximo de 25
crianças em atendimento. A decisão cita, ainda, a necessidade de
contratação de monitores, com base em relatos de situações gravíssimas
como ocasiões em que todas as crianças e adolescentes da casa lar
masculina estavam sob os cuidados de somente um monitor. Os problemas
na estrutura física foram verificados em vistorias pela Vigilância Sanitária e
pelo Corpo de Bombeiros, sendo que o relatório da Vigilância aponta que a
casa lar feminina apresenta situação precária, não estando em condições
40

de acolher a quantidade de crianças e adolescentes atendidas atualmente.


Os relatórios apresentaram diversos pontos a serem corrigidos como
infiltrações, vazamentos, presença de baratas e ratos e inexistência de
sistemas de segurança, como extintores e iluminação de emergência
(MPSC, 2011).

Esse tipo de denúncia, como a citada, de responsabilidade do Ministério


Público de Santa Catarina, indica as observações realizadas em instituição da
cidade de Palhoça, que resultaram na determinação, por parte da 3ª Vara Cível da
Palhoça, da tomada de providências por parte da Prefeitura Municipal. Pode-se
identificar, por meio da observação dos problemas apontados, a ausência de ações
preventivas e corretivas, sendo que estas são imprescindíveis ao funcionamento
institucional. Desse modo, pode-se, a partir do exemplo, compreender que a
minimização da maioria dos problemas apresentados nas instituições de
acolhimento passa necessariamente pela ação integrada dos diferentes agentes,
órgãos e instâncias relacionadas às mesmas de modo direto e indireto.
Observa-se a relevância do trabalho do Serviço Social no contexto da
proteção à criança, compreendendo também que em diversos casos é necessária a
atenção especificamente voltada a situações específicas derivadas das
adversidades e da precariedade das condições de vida.
Um exemplo prático da relevância de instituições voltadas ao atendimento
institucional de crianças e adolescentes é o Lar Marilisa, Rio de Janeiro. A instituição
foi fundada em abril de 2002, tendo sido inaugurada oficialmente em 16 de janeiro
de 2003 e atua no contexto da Proteção Social Especial, cuidando de treze crianças
e adolescentes que se encontram na instituição por diversos motivos, principalmente
abuso sexual e desagregação familiar. A casa atual possui dois andares, tendo
berçário, alojamentos femininos e masculinos, banheiros femininos e masculinos,
salas para atendimento com o psicólogo, sala de assistência social, salas de jantar e
de estar, área de lazer com parque infantil, sala de informática e lavanderia. As
crianças abrigadas frequentam o Centro de Atendimento Integral à Criança e ao
Adolescente, que tem como característica importante a oferta de cursos abertos à
comunidade, de atividades de lazer e esportivas. Esta inserção, que ocorre também
em outras escolas públicas da cidade, proporciona o convívio com outro público
além do espaço institucional, favorecendo a socialização.
Esta socialização possui influência direta na emancipação dos indivíduos,
podendo-se constatar que, sendo a cidadania o objetivo da prática assistencial, a
41

mesma não pode limitar sua prática apenas à sobrevivência dos assistidos, mas ao
desenvolvimento do indivíduo (DEMO, 2000).
Um dos cuidados que fazem parte da prática do Abrigo Lar Marilisa é a
preocupação com o retorno à família de origem, que é o objetivo preconizado pela
instituição, sendo que este é atingido em aproximadamente 80% das situações,
devendo-se observar que mesmo depois desta reinserção a criança continua sendo
atendida. Mensalmente, o Abrigo Lar Marilisa realiza reunião para que sejam
discutidos os temas inerentes ao cotidiano dos abrigados, sendo realizadas
dinâmicas e constante capacitação dos funcionários, por meio de oficinas de
formação e cursos.
Nesse contexto, a dinâmica que envolve o trabalho dos assistentes sociais é
discutida a partir da forma como deve ser executada a prática profissional no
atendimento às crianças em situação de vulnerabilidade. Conforme Guerra (2016),
as discussões que tomam por objeto o como fazer da profissão revestem‐se sempre
de atualidade causando, à primeira vista, a impressão de que há algo de novo sendo
vislumbrado no horizonte do Serviço Social. O impacto que a retomada da questão
inúmeras vezes causa nos profissionais, a nosso ver, tem sido sustentado por dois
tipos de situações.
No momento atual, a exigência de criação de novos instrumentos de ação
profissional, como de recriação dos tradicionalmente utilizados pelo assistente
social, tem se manifestado tanto nos eventos representativos da categoria da
academia. Existe uma razão de ser no Serviço Social, estreitamente vinculada tanto
às condições que gestaram sua institucionalização como àquelas por meio das quais
a profissão é reconhecida e requisitada (GUERRA, 2016).
A análise da instituição Serviço Social aponta para a centralidade do seu
caráter interventivo, uma vez que dele depende a existência, materialidade e
funcionalidade da profissão. Verifica-se a existência de racionalidades inerentes às
formas de intervenção profissional que, mesmo colocadas em segundo plano pela
singularidade das ações individuais e pela legalidade posta no movimento histórico
da realidade, produzem regularidades (GUERRA, 2016).
42

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constatou-se, por meio do referencial pesquisado, que a função do Serviço


Social no que se refere à promoção dos direitos das crianças em situação de
vulnerabilidade social envolve o atendimento qualificado, em conjunto com outros
profissionais, junto às áreas de saúde, jurídico, hospitalar e educacional.
Esse atendimento deve incluir os encaminhamentos necessários às crianças
e aos familiares, sendo que em alguns casos relacionando-se ao encaminhamento
para as autoridades competentes e à requisição de medidas protetivas, bem como
atendimento às famílias e defesa de direitos, de modo geral.
Verificou-se que as intervenções devem ser voltadas à proteção contra todas
as expressões de vulnerabilidade e violência, bem como no sentido do acesso à
saúde e à educação, ao enfrentamento ao trabalho infantil e a todos os tipos de
abuso ou lesão aos direitos desse público. O trabalho, inclusive, pode envolver o
acolhimento institucional, que representa uma medida protetiva contra a violação de
direitos de adolescentes e de crianças, em conformidade com o Estatuto da Criança
e do Adolescente.
Verificou-se que as lesões aos direitos desse público são diversas, como
exploração sexual, trabalho infantil, privações diversas com relação às necessidades
básicas, entre outras, que conduzem ao quadro de vulnerabilidade passível de
enfrentamento por meio do trabalho dos assistentes sociais.
Nesse aspecto, observa-se a relevância do CREAS e sua condição
estratégica de atendimento, mas ao mesmo tempo se observa a escassez de
metodologias voltadas à intervenção qualificada no sentido de atuar de modo efetivo
na minimização dos efeitos da violência representada pelas situações
cotidianamente vividas por alguns estratos sociais, que incluem adolescentes e
crianças, e também em âmbito preventivo.
Observa-se que a importância destas ações tem sua gênese na própria
condição de desigualdade apresentada predominantemente no país, que é
reafirmada a partir de políticas frágeis e metodologias que pouco contribuem para a
autonomia dos sujeitos, principalmente considerando a necessidade de que o
enfrentamento às incidências da questão social e a minimização de seus efeitos
deve ser realizado ainda em tenra idade,
43

Destaca-se a importância do atendimento do CREAS no sentido da ruptura da


cadeia de abusos, bem como a atuação no campo do acolhimento, do fortalecimento
de vínculos, da promoção da autonomia dos sujeitos e da transformação da
realidade dos indivíduos em situação de risco.
44

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