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O tema de que nos vamos debruçar a partir desta aula e seguintes é sobre a Constituição da
República de Moçambique de 2004 enquadrado no Título III, do Programa Temático do
Curso de Direito na Faculdade de Direito da UEM, que temos vindo a seguir na disciplina
de Direitos Fundamentais e iremos sucessivamente abordar os seguintes itens:
Introdução
A sede constitucional dos direitos, liberdades e garantias não está limitado a positivação
do Direito e muito menos a sua aprovação ou reconhecimento pelo poder do Estado. Os
Direitos fundamentais são constitucionais, desde que sejam direitos que têm a ver com a
pessoa humana e constam da Lei que é fonte primária de Direito, independentemente de
constar ou não no texto Constitucional, tal como o legislador Constituinte determina no
artigo 42, da CRM.
A não consagração dos direitos ou de um dos direitos no texto constitucional não se deve
entender como sendo inexistência do direito, liberdade ou garantia, mas sim défice do
regime político, pois tais direitos encontram-se na esfera dos direitos fundamentais do
Homem, sob forma de direito natural e assim, em sentido material, cabendo ao legislador
fazer constar da Lei fundamental ou das leis ordinárias.
Nestes casos, os direitos, liberdades e garantias devem ser identificados em sede do direito
civil, através das leis avulsas, da jurisprudência, do costume e dos instrumentos
internacionais e regionais.
O direito de que temos vindo a falar é o Direito interno infra-constitucional, que por ser
nacional, importa rever a matéria sobre os antecedentes jurídico-constitucional do Estado
Moçambicano.
Já nos referimos atrás que o território de Moçambique foi província ultramarina e parte
integrante da Nação Portuguesa, situado na África Oriental, do território do Reino Unido
de Portugal consagrado na Constituição Portuguesa de 23 de Setembro de 1822, conforme
o disposto no artigo 20.º, §III e continuou sendo território sob domínio colonial português
ao abrigo da Constituição Portuguesa de 11 de Abril de 1933 e do respectivo Acto Colonial,
aprovado nos termos do artigo 132.º da Constituição.
1
Publicado no Boletim Oficial de Moçambique, Suplemento, I Série, de 30 de Dezembro de 1972.
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Os objectivos definidos pela FRELIMO na sua luta visavam a conquista do poder político,
a restauração da soberania nacional, a independência total e completa do território de
Moçambique, a liberdade dos moçambicanos e o reconhecimento da dignidade e valor
humano.
O Acordo de Lusaka foi celebrado pelo Estado Português em cumprimento da Lei n.º 7/74,
de 27 de Julho, aprovado pelo Conselho de Estado e assinado pelo Presidente da República
Portuguesa, General António de Spínola, pela qual Portugal reconhece o direito à
autodeterminação, com todas as suas consequências jurídicas, incluindo o reconhecimento
da independência dos territórios ultramarinos e a derrogação da parte correspondente do
artigo 1.º da Constituição Política de 11 de Abril de 1933.
A República de Moçambique de 1975 até a presente data, em sua história, conheceu três
Constituições, sucessivas, designadamente,
2
Publicado no Boletim Oficial n.º 117, de 10 de Outubro de 1974, I Série.
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Publicado no Diário de Governo de 11 de Abril de 1933, nos termos do Decreto-Lei n.º 22.465 desta data.
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na vida social, visando o acesso directo aos bens que satisfaçam as necessidades básicas
– bem-estar da pessoa humana;
A Constituição de 2004, por força da Lei n.˚ 1/2018, de 12 de Junho foi objecto de uma
revisão pontual, por virtude da qual o legislador coinstituente efectuou o reajustamento do
processo de consolidação da reforma democrática do Estado, o aprofundamento da
democracia participativa e a garantia da paz, reiterando-se o respeito aos valores e
princípios da soberania e da unicidade do Estado e desta feita, foi introduzido o regime de
descentralização e a designação dos Governadores de Província e de Administradores de
Distritos por via de sufrágio universal e a designação do Presidente do Conselho Municipal
passou a ser por via do partido político, coligações de partidos políticos ou grupos se
cidadãos que tiver obtido a maioria de votos expressos na urna.
Sobre a Constituição de 2004, que se encontra em vigor desde 20 de Janeiro de 2005, antes
de fazermos qualquer juízo de valor sobre a eficácia da aplicação dos direitos, liberdades e
garantias fundamentais consagrados no texto constitucional, importa referir que a evolução
que os direitos, liberdades e garantias consagradas conheceram tiveram como fonte, a
vontade política do povo moçambicano que com base na sua realidade sócio-político, na
experiência e evolução histórica dos direitos do Homem no plano interno, internacional e
regional, o Direito Constitucional Moçambicano, veio então a conhecer uma evolução
qualitativa no domínio dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dando-nos o actual
figurino destes direitos, liberdades e garantias constitucionais.
Portanto, com estas lições sumárias não pretendemos tecer comentários, críticas ou
qualquer tido de reparo à Constituição da República em vigor que em nosso entender ainda
se encontra numa fase de aplicação e consolidação tendo em conta que apenas tem
rigorosamente poucos anos de vigência, nem tão pouco nos pronunciar sobre a sua
sistemática ou constitucionalidade das suas normas e muito menos discutirmos o
enquadramento constitucional dos factos ocorridos neste lapso de tempo da sua vigência
ou a regulamentação das normas-jurídico constitucional, em forma de lei ordinária.
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Porquanto, tal como nos ensina o Professor Jorge Miranda4 a Constituição adoptou um
princípio de “não tipicidade” dos direitos fundamentais, ou uma “cláusula aberta” de
Direitos Fundamentais, ou seja, a Constituição “...aponta para um sentido material de
direitos fundamentais: estes não são apenas os que as normas formalmente constitucionais
enunciam; são ou podem ser também direitos provenientes de outras fontes, na perspectiva
mais ampla da Constituição material.”
Quanto aos valores prosseguidos pelo Estado Moçambicano, a CRM determina o seguinte
nos seus objectivos fundamentais plasmados no artigo 11:
4
Manual de Direito Constitucional Tomo IV, 3.º edic. Coimbra, 2000, pag. 162 e ss., Vital Moreira e
Gomes Canotilho, “Constituição da República Portuguesa Anotada” cit., pag. 159.
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h) ………….
i) a afirmação da identidade moçambicana, das suas tradições e demais valores sócio-
culturais;
j) ……………”
Prosseguindo, ainda com as lições do Professor Jorge Miranda, “Não se depara, pois, no
texto constitucional um elenco taxativo de direitos fundamentais. Pelo contrário, a
enumeração (embora sem ser, em rigor, exemplificativa) é uma enumeração aberta, sempre
pronta a ser preenchida ou completada através de novas faculdades para lá daquelas que se
encontrem definidas ou especificadas em cada momento.”
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Victor Mendes, Direitos Humanos – Declarações e convenções internacionais, 2002, Vislis,
Editores.
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Para além dos instrumentos acima identificados, outros ainda existem que se dispõem sobre
os direitos do Homem, cujo estudo é efectuado na disciplina de Direitos Humanos,
geralmente, leccionada nas Faculdades de Direito, designadamente:
Nas três Constituições temos em comum um título dedicado aos Direitos, Deveres,
Liberdades e Garantias Fundamentais, logo depois dos Princípios fundamentais da
República, com excepção da Constituição de 2004, onde o Título relativo aos Direitos,
6
Resolução n.º 9/88, de 25 de Agosto, Ratifica a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos
1. Resolução n.º 10/88, de 25 de Agosto, Ratifica a Convenção sobre a entrega de pessoas
Povos, publicado no BR n.º 34, II Supl. de 25 de Agosto de 1988; condenadas a penas
privativas de liberdade a fim de as cumprirem no Estado de que são cidadãos, publicado
no BR n.º 34, II Supl. de 25 de Agosto de 1988;
2. Resolução n.º 11/88, de 25 de Agosto, Ratifica a Convenção da OUA relativa a aspectos
específicos dos problemas dos refugiados em Africa, de 10 de Setembro de 1969,
publicado no BR n.º 34, II Supl. de 25 de Agosto de 1988;
3. Resolução n.º 12/88, de 25 de Agosto, Ratifica o Protocolo Adicional à Convenção de
Genebra sobre o Estatuto do Refugiado, de 31 de Janeiro de 1967, publicado no BR n.º
34, II Supl. de 25 de Agosto de 1988;
4. Resolução n.º 5/91, de 12 de Dezembro, Ratifica o Pacto Internacional sobre Direitos Civis
e Políticos, adoptados pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 16 de Dezembro
de 1966, publicado no BR n.º 50, Supl. de 12 de Dezembro de 1991;
5. Resolução n.º 6/91, de 12 de Dezembro, Ratifica o segundo Protocolo Adicional ao Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos com vista a Abolição da pena de Morte,
publicado no BR n.º 50, Supl. de 12 de Dezembro de 1991;
7
Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic., Coimbra,
1998, pág. 7.
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Com o enquadramento nos domínios que citamos pretendemos mostrar que o que
formalmente vemos consagrado na Constituição instrumental de 2004 constitui uma
continuação e aprofundamento de um processo da evolução na história dos Direitos
Fundamentais em Moçambique, com referência a partir de 1975 e os direitos, liberdades e
garantias devem ser entendidos nesta perspectiva gradualista do nosso legislador
constituinte, tendo como ponto de partida a Constituição Política de 11 de Abril de 1933,
instituído pelo regime colonial Português no território de Moçambique, onde o cidadão
moçambicano não se dispunha de nenhum direito civil, politico, social ou cultural nos
termos previstos nas Convenção Internacionais.
Por razões que se prendem com o fundo do tempo, não iremos retomar o debate e
preencheremos o espaço reservado com a apreciação sumária da sistemática da
Constituição, recorrendo para o efeito a estrutura temática da própria Constituição.
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Capítulo I – República;
Capítulo II – Política Externa e Direito Internacional;
Título II – Nacionalidade;
Título IX – Tribunais
Do tema que temos por dever apreciar nestas lições importa-nos o Titulo sobre os direitos
fundamentais, no qual temos o Capítulo I – Princípios Gerais; Capítulo II – Direitos,
Deveres e Liberdades; Capítulo III – Direitos, Liberdades e Garantias10 Individuais;
Capítulo IV – Direitos, Liberdades e Garantias de Participação Política e finalmente o
Capítulo V – Direitos e Deveres Económicos, Sociais e Culturais.
A Constituição é um todo e, por isso, deve ser considerada na sua globalidade e na íntegra
e procurar-se sempre a sua harmonia onde se acha haver espaços de tensão entre as suas
normas. As normas constitucionais não são isoladas ou dispersas, mas sim integradas num
sistema interno unitário de normas e princípios.
8
Foi introduzida na CRM de 1990. Na CRM de 1975 não havia.
9
É importante notar que os artigos não se apresentam por graus como era na CRM de 1975.
10
As garantias constitucionais se acham presentes no Juramento nos cargos públicos em que o titular do
cargo de Presidente da República, no acto da sua investidura, presta um juramento em público e perante os
deputados da Assembleia da Republica e representantes dos órgãos de soberania, artigo 150, da CRM
Na vedação aos partidos políticos da prática de actos que preconiza ou recorre à violência para alterar a
ordem política e social estabelecida.
Vide artigo 75, n.º 1, 77 e 52 n.º 3, todos da CRM;
Apenas o Estado tem o monopólio do uso da força. Vide artigo 254, 265, 266.
No estado de sítio, de emergência ou de guerra A Constituição Moçambicana, através do artigo 282, 283
e segs, 72, 161, al. a), c), 268, 269, 179, n.º 2, al. g), 164, 166, al. b), fixa os pressupostos necessários para
a declaração.
Na Perda do mandato e dissolução de órgãos de soberania, são mecanismos de carácter repressivo que
têm por finalidade garantir e salvaguardar a vontade do povo manifestamente expresso no acto eleitoral.
Vide artigos 159, alínea e), 188, art. 2, n.º 1 e 2 e 73 todos da CRM.
A institucionalização de mecanismos de garantia da Constituição é um meio que se entrega a uma certa
entidade Estatal para se ocupar da verificação dos comportamentos se estão ou não em conformidade com
a Constituição.
No nosso ordenamento jurídico temos o Tribunal Supremo que se ocupa das funções jurisdicionais, Vide
artigo 212, 213, 214, 215, 217, 218, 225 da CRM de 2004
O Conselho Constitucional que é o órgão de soberania, ao qual compete especialmente administrar a justiça,
em matérias de natureza jurídico-constitucional, Vide o artigo 241, 244, 245, 246 e 248 da Constituição, onde
se acha consagrado o sistema de fiscalização concentrada.
Em regime de vários órgãos ou entidades, temos o Sistema de Fiscalização Difusa, vide o artigo 69, 70 e
80 que contém uma garantia que se reconhece aos cidadãos em relação aos seus direitos e liberdades
consagrados e ainda os artigos 241, 244, 245, 246 e 248 da Constituição.
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1. República de Moçambique;
2. Soberania e Legalidade;
3. Estado de Direito democrático;
4. Pluralismo Jurídico;
5. Nacionalidade;
6. Território;
7. Organização territorial;
8. Estado Unitário;
9. Línguas nacionais;
10. Língua Oficial;
11. Objectivos fundamentais;
12. Estado Laico;
13. Símbolos nacionais;
14. Resistência Secular;
15. Libertação Nacional, defesa da soberania e da democracia;
16. Deficientes de guerra;
17. Relações Internacionais;
18. Direito Internacional;
19. Solidariedade Internacional;
20. Apoio à libertação dos povos e asilo;
21. Laços especiais de amizade e cooperação;
22. Política de paz.
Dos princípios aqui expostos em relação aos quais se deve entender que são transversais,
na mediada em que todos os princípios gerais e disposições normativas que se acham
dispostos no texto constitucional estão directa e imediatamente subordinadas a estes
princípios fundamentais e desde já, importa ainda tecer algumas considerações de ordem
doutrinária e legal sobre os princípios estruturantes do Estado Moçambicano.
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São princípios estruturantes que nos definem e nos caracterizam o Estado, ou seja, a partir
dos princípios estruturantes o interprete ou aplicador da norma fica com a ideia
fundamental do tipo de Estado, do Sistema de Governo assim como da forma de Governo.
1- Princípio republicano
2- Princípio do Estado de direito
3- Princípio democrático
4- Princípio pluralista
5- Princípio do Estado social
6- Princípio do Estado unitário
7- Princípio da autonomia das autarquias locais
8- Princípio da laicidade do Estado
I. PRINCIPIO REPUBLICANO
Com este princípio que se encontra plasmado na Constituição entende-se que o Estado é
um bem público que não pertence aos titulares dos órgãos, nomeadamente os constantes
no artigo 133, 135, n.˚3, 138, 140, 141, 236, n.˚2, 239, 254, n.˚1, 256, 264, n.˚ 2, 289, mas
sim um bem público, pertence a toda a comunidade, artigo, 2, n.˚ 2, 248 e artigo 286.
A expressão republica, “Res Publica”, que vem consagrado no artigo 1, da CRM, provém
do latim e significa coisa pública, coisa comum, diferente de res privata que é coisa
particular), coisa que é de todos os seus habitantes.
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Por conseguinte, ninguém pode-se arrogar proprietário da coisa de todos. Ninguém tem o
direito ou prerrogativa de se afirmar dono, proprietário do que é de todos. Todos os que
sejam nacionais beneficiam-se dos frutos resultantes do uso da fruição da coisa pública,
em pé de igualdade e sem qualquer descriminação, artigo 35, 36, 39.
Este principio tem a sua expressão na Constituição, nos seguintes artigos constitucionais:
Designação do Chefe de Estado por “Presidente da República” (artigo 145, n.º 1).
O cargo que ocupa é coisa pública, dai que o seu titular não pode permanecer no cargo
vitaliciamente. O titular do cargo é um gestor de coisa pública e no termo do mandato deve
cessar o exercício, salvo quando por razões que se prendem com o desempenho especial
do titular, seja reconduzido para o cargo pelas vias normais de reeleição ou nomeação para
o mesmo cargo.
A permanência no cargo durante muito tempo, para além do tempo razoável do mandato,
ofende o princípio republicano.
Consiste em exercer o poder em conformidade com o Direito positivo. Aquele Direito que
esteja plasmado na Constituição e na lei, designadamente, nos termos previstos nos artigos
2, n.ºs 2 e 3, no artigo 4 e 213 e com respeito ao disposto no artigo 143.
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O Estado de Direito pressupõe uma ordem jurídica baseada numa Constituição, artigo 2 n.º
3, que tem por objectivo a estruturação do próprio Estado e a garantia das liberdades
fundamentais, artigo 133 e seguintes e artigo 56 e seguintes.
Um Estado que prossegue fins orientados por princípios e regras do Direito e que busca a
realização da justiça, da segurança e do bem-estar social, económico, e cultural, artigo 11,
96 e seguintes.
Por força deste principio impõe-se uma rigorosa e garantia efectiva, no mínimo, dos
direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos, designadamente o direito à vida e à
integridade física, artigo 40 e a liberdade e segurança física individual da pessoa, artigo
59, o gozo das liberdades de consciência e de religião, artigo 54 (liberdade de
consciência e de religião).
No Estado de Direito todos os actos devem estar conformados com a lei e a Constituição
que se acha numa posição superior ás demais leis, artigo 2, n.˚ 3 e 3 e artigo 38.
DEMOCRACIA
Consiste no exercício do poder pela maioria do povo. O que significa que o poder é
efectivamente exercido pelo povo, tem como fundamento o povo, dirige-se ao povo e é do
Povo, segundo a máxima “Democracia“ governo do povo, pelo povo e para o povo”.
1. Via directa - que consiste em o povo exercer por si próprio o direito de escolher
livremente os seus representantes para o exercício das funções políticas ou
administrativas do Estado, conforme os artigos 73, 135, n.˚ 1, 146 n.˚ 1, 169, n.˚ 1
e 278, n.˚s 1, 279, n.˚ 2, 282, n.˚1 e artigo 289, n.˚ 2.
2. Por via indirecta - quando os representantes do povo escolhidos, através da 1.ª via
praticam os actos públicos em nome do povo. Ex: os deputados que na A.R
apreciam e aprovam as leis. O P.R é que forma o governo, nomeia e confere posse
as altas individualidades do Estado, artigo 142, 159, 160, 161, 162, 163, 165, 168,
178, 179, 182, 194, 196, 197, 202, 203, 204, 205, 211, 212, 221, 224, 229, 235,
243, 253, 255, 258, 261, 264, 270, 300, 303, 304…..
DEMOCRACIA DIRECTA
LEGITIMIDADE POPULAR.
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LEGITIMIDADE LEGAL
O acto foi praticado nos termos da lei. Sendo necessário combinar a legitimidade com a
legalidade, para se respeitar a democracia, artigo 2, n.º 2 e 3.
Ainda no domínio politico, pluralismo significa existência e livre formação dos partidos
políticos, por serem eles a expressão do pluralismo político, nos termos do artigo 74 e 75,
as associações e grupos de pressão e comunicação de diferentes ideologias e correntes
políticas, onde predomina, conforme o disposto nos artigos 3 e 48, “Estado de direito
baseado no pluralismo de expressão” e liberdade de expressão e informação.
No domínio social, na família, conforme os artigos 119 e 120. temos ainda a liberdade de
circulação e de habitação, artigo 55 e 91. temos ainda no domínio social, a liberdade
religiosa, artigo 54, o direito de expressão, artigo 3 e 48, com destaque para o n.º 6 do artigo
48, artigo 56, n.º2, a independência dos órgãos de comunicação social, artigo 50, sem
prejuízo do direito de defesa, artigo 49, 62 e 65.
No domínio cultural, artigo 93, 94, 115, 118 e 11, al. i).
No domínio económico, artigo 84, n.º 1 e 2, 82, 86, 87, 96, 97 e seguintes.
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No domínio económico ao Estado cabe-lhe desempenhar a função prevista nos artigos 101,
n.º 1, 102, 103, n.˚2, 105, n.˚2, 106, 107, 108 e 97, al. g).
Para este efeito, o Estado define uma política fiscal baseada na progressividade dos
impostos, cuja a metodologia consiste em quanto mais rendimento um agente tiver, maior
será o valor do imposto a pagar ao Estado, artigo 45, al. c), artigo 127 e 100.
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A fórmula, permite que os agentes que têm rendimentos baixos, paguem menores valores
de impostos, o que beneficia as camadas mais desprotegidas.
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O objectivo final desta intervenção visa garantir que os cidadãos possuam condições
materiais para gozo efectivo dos seus direitos. Pois reconhece-se que não os cidadãos não
podem estar sob ameaça de fome, doença, nudez, em resumo, pela pobreza absoluta, para
o efectivo gozo dos direitos fundamentais plasmados na Constituição. O cidadão só pode
ser útil para a sua sociedade, quando tiver instrução e formação, habitação, emprego,
transporte, etc. Sem estas condições mínimas, ao seu dispor não é possível garantir-se a
concretização dos seus Direitos Fundamentais.
O poder central do Estado, artigo 138, no quadro da sua aplicação admite a desconcentração
das competências do Estado, artigo 140. Assim, temos na ordem jurídica do Estado
unitário, a figura de Secretário de Estado na província e no distrito que assegura a
realização das funções exclusivas e de soberania do Estado, artigo 141, n.˚ 3 e 5, os órgãos
de governação descentralizada que também se situam na província e no distrito, que ao
nível do território estadual gozam da autonomia administrativa, financeira e patrimonial,
conforme o artigo 269, prosseguem os objectivos fixados no artigo 267, respeitando
contudo os limites determinados no artigo 270, com as atribuições previstas no artigo 276
dentro da sua área de jurisdição.
Com base nestes factores, o processo de criação das autarquias locais vai ser lento e longo.
11
Artigo 7, da Lei n.º 6/2018, de 3 de Agosto.
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A opção por apenas municípios tem a ver com a inexistência ou insuficiência de condições
económicas e sociais necessárias e indispensáveis para a implantação e funcionamento da
administração autárquica.
Nas vilas, onde o poder local ainda não foi estabelecido, o poder é exercido pelos
Administradores de Distritos ou pelos Chefes de Postos administrativos, de nomeação dos
órgãos do Estado.
a) A Assembleia Provincial;
b) O Governador de Província;
c) O Conselho Executivo Provincial.
O Governador de Província;
O Conselho Executivo Provincial.
14
Regulamentada pela Lei n.˚ 6/2019, de 31 de Maio, publicada no I Série do BR n.˚ 105, de 31 de Maio de
2019.
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Lei n.˚ 7/2019, de 31 de Maio.
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Por conseguinte, realiza as tarefas16 do Estado no território em que se situam por delegação
dos órgãos Centrais do Estado, em obediência ao princípio da desconcentração, previsto
no artigo 140 da CRM, que consiste na determinação de transferência originária ou
delegação de poderes dos órgãos superiores da hierarquia da Administração Pública para
os órgãos inferiores do Estado ou para os funcionários ou agentes subordinados, artigo 12
da Lei n.˚ 7/2019, de 31 de Maio.
16
Que são os órgãos de soberania, o conjunto dos órgãos governamentais e as instituições centrais a quem
cabe garantir a prevalência do interesse nacional e a realização da política unitária do Estado, artigo 138 da
CRM.
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As autarquias locais resultam da eleição por sufrágio universal, directo, igual, secreto e
pessoal dos cidadãos eleitores residentes na circunscrição territorial da autarquia, segundo
o sistema de representação proporcional, tratando-se de Assembleia Municipal, artigo 289,
n.˚ 2 e é proclamado Presidente do Conselho Municipal o cabeça de lista do partido
politico, coligação de partidos políticos ou de grupo de cidadãos eleitores que obtiver
maioria de votos nas eleições para Assembleia Autárquica, artigo 289, n.ºs 5 da CRM,
materializado pelas Leis que se indicam em nota de rodapé17.
Por remissão do comando constitucional, dos números 8 e 9, ambos do artigo 289, nos
termos do artigo 20, da Lei n.º 6/2018, de 3 de Agosto, o mandato dos órgãos autárquicos
e dos seus titulares é de cinco anos.
17
Lei n.˚ 8/2014, de 12 de Março, que altera e republica a Lei n.˚ 5/2013, de 22 de Fevereiro, BR n.º 21, I
Série, de 12 de Março, que estabelece o quadro jurídico do recenseamento eleitoral sistemático para a
realização de eleições;
Lei n.˚ 14/2018, de 18 de Dezembro, BR n.º 246, I Série, de 18 de Dezembro – Altera e republica a Lei n.˚
7/2018, de 3 de Agosto, atinente a eleição dos titulares dos órgãos das autarquias locais;
Lei n.˚ 6/2018, de 3 de Agosto, que altera a Lei n.˚ 2/97, de 18 de Fevereiro, BR n.º 152, I Série, de 3 de
Agosto - estabelece o quadro jurídico-legal para a implantação das autarquias locais;
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No quadro do exercício das atribuições18 próprias cabe as autarquias locais, de acordo com
os recursos financeiros ao seu alcance e no respeito aos interesses próprios, comuns e
específicos das populações respectivas, promover o seguinte:
18
Artigo 8, da Lei n.º 6/2018, de 3 de Agosto.
19
Incluindo limpeza.
20
Em água e energia.
144
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A língua, a cultura e os usos são também do país e não de uma certa autarquia.
Por se reconhecer este facto, as áreas comuns são da competência exclusiva dos órgãos
centrais do Estado, nomeadamente: a normação das matérias do âmbito da lei, a definição
das políticas nacionais, a representação do Estado, a definição e organização do território,
a defesa nacional e ordem pública, a fiscalização das fronteiras, a emissão da moeda e as
relações diplomáticas, artigo 139, da CRM.
Os órgãos centrais do Estado têm a sua sede na cidade de Maputo, capital da República de
Moçambique.
21
A área da autarquia local está integrada no território da província cujo representante da autoridade
central da administração do Estado é o Governador da Província ou do Administrador distrital, conforme os
casos.
145
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Uma vez declarado o cabeça de lista do Partido Político, coligação de partidos Políticos ou
grupos de cidadãos eleitores que na eleição da Assembleia Municipal obteve a maioria dos
votos expressos na urna, pelo Conselho Constitucional, os munícipes consideram-no como
o principal responsável pela execução da política de governação municipal, com base nas
competências conferidas pelo artigo 62, da Lei n.º 13/2018, de 17 de Dezembro22 .
2. O Conselho Municipal
3. A Assembleia Municipal
Altera e republica a Lei n.˚ 6/2018, de 3 de Agosto, publicado na I Serie do BR n.˚ 245, de 17 de
22
Dezembro de 2018
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Assim a Igreja católica de então é usada pelo regime colonial português como o meio de
dominação.
É assim parte do sistema colonial, coube a Igreja garantir a instrução e a educação moral
dos indígenas no território de Moçambique.
Os tratamentos cruéis a que o povo foi submetido a humilhação e todo o resto que ofendia
o valor e a dignidade humana foi sempre abençoada pela Igreja católica em nome de Deus.
Assim a luta de libertação de Moçambique definiu o inimigo principal - o colonialismo
português, incluiu também todas as formas de dominação e sua manifestação.
Assim, a Igreja católica perdeu os privilégios que foi usufruiu durante a vigência do
governo colonial no território de Moçambique.
Entre o Estado e a religião há uma separação, sendo assim o Estado Moçambicano laico,
artigo 12 e 54 da CRM 2004.
Laicidade significa que o Estado na prossecução dos seus fins, não se orienta por princípios
religiosos e ainda há separação entre o poder político e o poder religioso.
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1. Provedor de Justiça, artigo 255 e ss., órgão que tem como função a garantia dos
direitos dos cidadãos, a defesa da legalidade e da justiça na actuação da
Administração Pública, é eleito pela Assembleia da República, por maioria de dois
terços dos deputados, pelo tempo que a lei vai determinar.
O Provedor de Justiça irá submeter uma informação anual à Assembleia da República sobre
a sua actividade.
No quadro das suas competências irá apreciar os casos que lhe são submetidos, sem poder
decisório, e produz recomendações aos órgãos competentes para reparar ou prevenir
ilegalidades ou injustiças.
Porém, entre as duas figuras há diferença quanto à natureza, criação e funções que
desempenha na ordem jurídica.
O Provedor de Justiça é mais uma das garantias graciosas23 que o Direito moçambicano
passou a oferecer ao cidadão, tendo em conta que o nosso ordenamento jurídico possui
vários outros mecanismos de garantia dos direitos particulares, previstos na Constituição e
nas leis ordinárias, nomeadamente, as garantias petitórias e as garantias impugnatórias.
A sua eleição na Assembleia da República, por uma maioria de dois terços dos deputados,
tem a ver com as suas qualidades pessoais, de Homem de todos, de prestígio, de respeito,
de grande consideração e, por isso, de pessoa de consenso dos titulares dos órgãos que
detém o poder político e da oposição representada na Assembleia da República.
23
são as garantias que se efectivam através da actuação dos próprios órgãos da Administração activa.
149
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No exercício das suas competências, emite parecer prévio à decisão de licenciamento pelo
Governo de canais privados de televisão e rádio e intervém na nomeação e exoneração dos
directores gerais dos órgãos de Comunicação Social do sector público, nos termos da lei.
Tribunal Supremo, artigo 224, este órgão jurisdicional perdeu a sua supremacia na ordem
jurídica, tendo lhe sido reservado a função de órgão superior da hierarquia dos tribunais
judiciais, nomeadamente a matéria cível e criminal e a uniformização da Lei nesta esfera
de jurisdição.
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Tribunal Administrativo, artigo 227, este tribunal com a revisão constitucional ganhou
uma fatia considerável da esfera jurisdicional ao lhe ser conferido o estatuto de órgão
superior da hierarquia dos Tribunais Administrativos, Fiscais e Aduaneiros, tornando-se
desta forma num Tribunal Supremo administrativo e no mesmo nível que o tradicional
Tribunal Supremo. Com esta modificação constitucional profunda na área judicial, o
Estado Moçambicano passa a contar com dois tribunais supremos, sendo um para a matéria
comum e outro para Administrativo, Fiscal e Aduaneiro.
Tribunais Militares, quando haja sido decretado estado de guerra, o artigo 223 permite a
constituição de tribunais militares para julgar os crimes de natureza estritamente militar.
O Conselho Constitucional, artigo 240 e ss. é o órgão de soberania desde a CRM de 1990,
surge nesta nova lei fundamental com poderes reforçados, porquanto, no novo texto
constitucional é o órgão de soberania, ao qual compete especialmente administrar a justiça,
em matérias de natureza jurídico-constitucional, verifica previamente a constitucionalidade
dos referendos, a morte e a perda de mandato do Presidente da República.
Finalmente, julga as acções que tenham por objecto o contencioso relativo ao mandato dos
Deputados e as acções que tenham por objecto as incompatibilidades previstas na
Constituição e na lei.
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A suspensão temporária das liberdades e garantias individuais, artigo 72, passa a ser
regulada nos termos da Constituição, de acordo com o regime que o próprio texto
constitucional define para estado de sítio e estado de emergência (artº 290), enquanto antes
o seu regime jurídico era estabelecido pela lei ordinária, portanto, do critério da legalidade
ou para um critério da constitucionalidade.
Integridade física e moral, artigo 40, o direito à integridade física foi alargado à
integridade moral, para salvaguardar a dignidade moral do Homem.
Limites das penas e das medidas de segurança, artigo 61, n.° 3. São garantias que estão
a ser contempladas, pela primeira vez, no texto constitucional de 2004 – proibição de
sanções com carácter perpétuo ou de duração ilimitada ou indefinida; a
intransmissibilidade da responsabilidade criminal; a não implicação de perda de direitos
civis, profissionais ou políticos, nem privação do condenado dos seus direitos
fundamentais, salvo os necessários à execução da condenação.
Acesso aos tribunais, artigo 62, n.° 2, o arguido tem o direito de escolher livremente o seu
defensor para assistir em todos os actos do processo e nos casos em que não possa constituir
advogado por razões económicas, será assegurada a adequada assistência jurídica e
patrocínio judicial.
Mandato judicial e advocacia, artigo 63, n.° 2, 3 e 4 o Estado assegura a quem exerce o
mandato judicial, as imunidades necessárias ao seu exercício.
Prisão preventiva, artigo 64, estão consagradas garantias de informação das razões de
prisão ou detenção bem como a necessária comunicação a parente ou pessoa de confiança
do detido, vide artigo 64, n.° 3 e 4.
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As provas obtidas por meio de tortura, coacção, ofensa da integridade física ou moral da
pessoa, abusiva, intromissão na sua vida privada e familiar, no domicilio, na
correspondência ou nas telecomunicações são consideradas inexistentes e não tem valor
jurídico, por serem nulas.
Detenções. O artigo 296 fixa os princípios que devem ser observados as detenções que
ocorrem na vigência do estado de sítio ou de emergência com vista a prevenir situações
irregulares cometidas por motivações políticas, como seja desaparecimento de pessoas
suspeitas de prática de crimes.
Habeas corpus, artigo 66, n.° 2 é constitucionalmente fixado, o prazo máximo de 8 (oito)
dias para a decisão do tribunal.
Extradição, artigo 67, o novo texto constitucional define as condições em que não é
permitido a extradição - proibição absoluta de extradição por crimes, a que corresponda,
segundo o Direito do Estado requisitante, pena de morte, prisão perpétua ou penas cruéis
ou degradantes.
Imunidades, artigo 174 o legislador por via desta disposição oferece garantias da liberdade
de expressão prevista no artigo 48, n.°1, aos deputados.
Particular atenção deve ser dispensada ao n.°2 e 3 desta disposição.
No n.°2, impõe-se que o deputado quando esteja na condição de arguido só pode ser ouvido
em audiência por um Juiz Conselheiro que como sabemos temos esta figura no Tribunal
Supremo, situado geograficamente na cidade de Maputo.
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Nas imunidades temos ainda o artigo 210 aplicável aos membros do Conselho de Ministros.
Porém, a mesma disposição constitucional exclui os Vice-Ministros, pois, na actual
Constituição, nos termos do artigo 200, n.°1, não fazem parte da composição do Conselho
de Ministros, participando apenas nas sessões deste órgão quando convidados, n.° 2 do
artigo 200. Na esteira deste entendimento, os Vice-Ministros não podem
constitucionalmente assistir o Primeiro-Ministro na Assembleia da Republica por
designação deste, nos termos do artigo 205, n.°2 e não estão abrangidos pelo disposto nos
artigos 207 e 208, ambos da CRM.
Nos casos em que este órgão legislativo entender não autorizar, o deputado que terá
assistido, acompanhado ou de qualquer das formas estar em condições de prestar
declarações em instancia judicial a favor ou contra uma das partes, não poderá exercer esse
direito constituindo assim uma limitação ao exercício dos seus direitos constitucionalmente
consagrados ao cidadão moçambicano, quando podia, se não fosse deputado.
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Liberdade de associação, artigo 52, passam a ser proibidas as associações armadas de tipo
militar ou paramilitar bem como as que promovam a violência, o racismo, a xenofobia ou
fins contrários à lei.
Direito de acção popular, artigo 81, é consagrado o Direito de acção popular nos termos
previstos na CRM.
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Direitos dos consumidores, artigo 92, os direitos são incluídos no texto constitucional de
2004 e contemplam: qualidade de bens e serviços, formação e informação, protecção da
saúde, da segurança dos seus interesses económicos, reparação de danos; proíbe a
publicidade indirecta ou enganosa; reconhece legitimidade processual às associações de
consumidores e cooperativas (pressupõem-se “de consumo”).
Família, artigo 119, o texto constitucional de 2004 reconhece a família como base da
sociedade, garante e protege o casamento, consagra o princípio do livre consentimento no
casamento, remete para a lei as formas de valorização do casamento tradicional e religioso.
Juventude, artigo 123, incumbe ao Estado que adopte uma política que vise o
desenvolvimento harmonioso da personalidade dos jovens, a promoção pelo gosto da livre
criação, a solidariedade e a sua integração na vida activa.
157
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Terceira Idade, artigo 124, estabelece o direito de protecção especial dos idosos pela
família, pela sociedade e pelo Estado, nomeadamente nas condições de habitação, no
convívio familiar e comunitário e no atendimento em instituições públicas e privadas; o
Estado é obrigado à criação de uma política de terceira idade que contemple acções de
carácter económico, social e cultural com vista ao seu envolvimento na vida da
comunidade.
Direito à Educação, artigo 88, 113, 114 e 115, o texto constitucional de 2004 alarga o
âmbito do direito de educação à formação profissional contínua e à igualdade de acesso de
todos os cidadãos ao gozo deste direito e de acesso ao ensino superior com base ma
igualdade e equidade de oportunidade e no campo cultural, o Estado é incumbido de
promover o desenvolvimento da cultura e da personalidade nacionais e garante-se a livre
expressão das tradições e valores da sociedade moçambicana.
24
Aquela que ocorre quando uma norma infra-constitucional criada ao abrigo de um preceito constitucional,
torna-se inconstitucional a partir do momento em que uma revisão constitucional atinge o preceito que serviu
de fundamento ou de suporte da norma infra-constitucional e se revela incompatível com o novo texto
constitucional.
158
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Por isso, a Constituição sendo a Lei regulador do político, é considerado tronco da ordem
jurídica do Estado: O tronco donde arrancam os ramos da grande árvore que corresponde
a essa ordem jurídica, tais como Direito Civil, Direito Criminal, Direito Eleitoral, Direito
Administrativo, Financeiro, Direito Fiscal, Direito do Trabalho, Direito Comercial, etc.
É a Constituição que estabelece os pressupostos de criação, vigência e execução das
normas do resto do ordenamento jurídico, determinando, de forma ampla, o conteúdo das
normas do restante ordenamento jurídico.
As matérias que acabamos de enumerar constituem o regime especial do exercício dos
direitos, liberdades fundamentais dos cidadãos e caracteriza-se por possuir regras e
princípios – orgânicos e materiais que oferecem garantias aos cidadãos perante o Estado.
No Capítulo V, do regime Especifico dos direitos, Liberdades e garantias, falaremos com
uma certa profundidade de cada um destes regimes.
Artigo 29.º
1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível
o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade.
25
Manual de Direito Constitucional Tomo IV, Direitos Fundamentais, 2.ª edic. Coimbra, 1998, pag. 264 e
seguintes.
159
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Na cláusula geral constante no artigo 29.˚ da Declaração Universal, não só se afirma que o
individuo tem deveres para com a comunidade, como também, “fora da qual não é possível
o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade”, como se prescreve que no gozo
dos direitos e das liberdades “ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas
pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o espírito dos
direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da
ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática” e se acrescenta que, em
caso algum, os direitos e as liberdades poderão ser exercidos “contra os fins e os
princípios das Nações Unidas “
26
Idem pag. 265.
160
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27
Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 3.ª edição, Almedina, 1999, pag. 411 e seguintes
161
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O artigo 29, n.° 2 da Declaração Universal contempla condições gerais que incidem sobre
todos os direitos e que têm a ver com o seu exercício. Dai que o Prof. Jorge Miranda
entende que não é, pois, nova fonte de restrições de direitos, liberdades e garantias, mas a
manifestação do espírito que presidiu a Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Artigo 12.°, n.° 3, 14.° n.° 1, 18.° n.°3, 19.° n.° 3, al. b), 21.° e 22.° n.° 2, todos do Pacto.
Os artigos 6.°, n.°1, 8.°, n.° 2, 9.° n.° 2, 10.°, n.° 2 e 11.°, n.° 2, todos da Convenção
Europeia.
Finalmente, temos também a limitação consagrada no artigo 2.° do seu 4.° Protocolo
Adicional.
162
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Dissertar sobre:
As regras constantes do artigo 9.° do Código Civil, relativas a interpretação da lei, são as
aplicáveis na interpretação de qualquer norma constitucional, embora não tenham
formalmente valor e dignidade constitucional, mas nenhuma outra norma da ordem jurídica
interna as repugna.
A Constituição é uma Lei Fundamental do Estado que foi emanada pelo poder constituinte
com vista a tornar-se modelo/padrão de conduta dos sujeitos da norma no Estado.
Relativamente as normas que se dispõem sobre os direitos fundamentais, o legislador
constituinte entendeu fixar outras regras a serem aplicadas na sua interpretação que não
sejam apenas as constantes no artigo 9.° do Código Civil.
28
Manual de Direito Constitucional Tomo IV, Direitos Fundamentais, Coimbra, 1998, pag. 146 e seguintes.
163
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Por conseguinte, nos termos do artigo 43, a interpretação das normas relativas a direitos
fundamentais com vista a identificar a “rácio legis” da norma, ou seja, o sentido jurídico
da norma a aplicar, o interprete ou aplicador da norma tem que recorrer ao regime jurídico
estabelecido na Declaração Universal dos Direitos do Homem e na Carta Africana dos
Direitos do Homem e dos Povos e é no quadro, no contexto e/ou espírito destas normas de
direito internacional que deve ser entendida.
Por força do artigo 60.° e 61.° da Carta Africana dos Direitos dos Humanos e dos Povos,
são também direitos fundamentais invocáveis na ordem jurídica moçambicana,
Neste sentido, referimo-nos a título de exemplo, os direitos que se acham consagrados nos
seguintes textos normativos de Direito internacional, sem prejuízo dos demais não
taxativamente elencadas na lista que se segue:
164
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Com este leque de direitos que se determina a partir da interpretação e integração dos
direitos fundamentais de harmonia com a Declaração Universal dos Direitos do Homem e
da Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, o legislador moçambicano adoptou
uma Constituição moderna e aberta quanto aos direitos fundamentais, e, mais, elimina
quaisquer dúvidas de interpretação e aplicação, supera as divergências de localização ou
de formulação dos textos normativos, propicia perspectivas mais ricas do que,
aparentemente, as perspectivas oferecidas pelo direito interno que se limita ao regime
jurídico estabelecido no artigo 9.˚ do Código Civil e no disposto no artigo 4 da CRM.
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Os deveres na Constituição
Já nos referimos atrás de que nenhuma sociedade ou Estado pode sobreviver se os seus
membros não têm dever para com a comunidade em geral e para a família em especial.
Os deveres são uma situação jurídica passiva que coloca o sujeito numa posição de acatar
o que se impõe, quer seja pelo Estado, (dever cívico), pela entidade patronal, (dever
disciplinar ou profissional), quer seja pelo dever social, cultural ou moral, casos de uma
mãe, de um pai, de um irmão, de um chefe tradicional ou de um chefe religioso em relação
aos seus filhos, irmãos, comunidade ou crentes, respectivamente.
A Constituição no seu artigo 44 impõe aos cidadãos os deveres para com os seus
semelhantes, nos seguintes termos: “Todo o cidadão tem o dever de respeitar e considerar
os seus semelhantes, sem discriminação de qualquer espécie e de manter com eles relações
que permitam promover, salvaguardar e reforçar o respeito, a tolerância recíproca e a
solidariedade.”
No artigo 45, temos os deveres para com a comunidade, em que determina o seguinte:
166
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Na família, temos no plano constitucional, o dever dos pais para com os seus filhos, artigo
12, n.º3, da própria família no seu todo, artigo 121.
O dever da família estende-se em relação aos idosos, artigo 124 e em relação aos portadores
de deficiência, artigo 125 n.˚ 1.
O dever de trabalhar artigo 84, n.˚ 1, o dever de promover e defender a saúde pública, artigo
89, o dever de defender o ambiente, artigo 90, n.˚ 1, o dever de escolaridade básica
(educação) artigo 88, n.˚ 1, o dever pagar as contribuições e impostos, artigo 45 alínea c),
o dever.
Sobre os deveres importa que se consulte ainda o Professor Jorge Miranda29 e temos a
referir que no plano dos Direitos Fundamentais, por razões históricas dá-se relevância aos
direitos do que aos deveres, dai que nenhum político na luta pelo poder ousa escrever no
seu manifesto eleitoral que durante o seu mandato irá fazer valer o dever de cumprir com
a lei, o dever de pagar o imposto, o dever de defender a pátria e de prestar serviço militar,
o dever de dar assistência ao Estado gratuitamente, o dever de votar para a reeleição dos
governantes, o dever de consentir sacrifício pelo aumento do custo de vida, o dever de
prescindir dos seus direitos e liberdades em caso de agressão ou ameaça ao país.
29
Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos Fundamentais, 2.ª ediç, Coimbra,
1998, pagina 161.
167
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Trata-se de uma concepção que supera o Estado de Direito liberal que se formou após a
Revolução Burguesa, da qual, houve diversos tipos de interpretação contrários ao seu
sentido e alcance, entre os quais, os regimes totalitários da Itália, Alemanha, Rússia e
África de Sul do Apartheid, na nossa região de África Austral.
Em rigor, todas estas expressões, têm os mesmos conteúdos, exprimem o mesmo sentido e
alcance, variando apenas a forma de conjugação.
A fórmula de Estado de Direito, Democrático e Social tem a sua história, não muito antiga
mas que provém do início do nosso século e foi sendo adoptado pelos diferentes Estados,
incluindo influenciação nas denominações de movimentos e Partidos Políticos.
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Apareceu pela 1.ª vez, com a Constituição Francesa de 1848 que culminou com o
estabelecimento da 2.ª República (Presidencialista, depois da tentativa de república
democrática e socialista), como um conceito operacional de referência à Revolução
francesa que provocou a queda da Monarquia Burguesa de Luís Filipe e a constituição da
2.ª República Francesa, dirigida pelo sobrinho do Imperador Napoleão Bonaparte, o
Príncipe Luís Napoleão Bonaparte, eleito Presidente por sufrágio universal e directo, por
quatro anos, Chefe do Estado e do Governo.
A revolução de 1848 foi desencadeada pelo movimento operário francês em resposta a uma
crise jamais vivida, bastante intensa e que consequentemente criou uma classe operária
explorada e mal paga, que vivia na miséria e em condições piores do que antes de 1789,
além de um desemprego generalizado, provocando assim, uma instabilidade social sem
precedente na história do povo Francês.
Com o culminar da revolução, houve uma espécie de aliança entre a classe operária e a
burguesia que havia patrocinado o movimento reivindicativo de operários, que desta vez
se apresentaram mais forte que nunca, estabelecendo deste modo o pacto entre:
O Governo saído da revolução de 1848, um dos primeiros diplomas legais que aprovou foi
o decreto que introduziu o sufrágio universal e directo: todos os cidadãos com condições
mínimas de idade (21 anos) e instrução tiveram o direito de votar para eleger os deputados
à Assembleia Nacional Constituinte.
Porém, a expressão de Estado de Direito, foi usada principalmente por Robert Owen e
Louis Blanc usou-a como guia de acção nomeadamente para:
Durante muitos anos que se seguiram, estas ideias mantiveram-se sem que produzissem
efeitos práticos no sistema politico francês.
Foi após a 1.ª guerra mundial que o conteúdo das expressões surge com mais força,
concretizado primeiro na Constituição Mexicana de 1917 e depois maior desenvolvimento
na Constituição Alemã de Weimar de 1919.
Weimar é nome de uma cidade Alemã, onde se realizou a sessão onde o poder constituinte
alemão reuniu e aprovou a referida Constituição. O poder constituinte realizou a sessão em
virtude de na cidade capital do pais, Berlim não haver condições nem atmosfera política
para o efeito.
No final da segunda guerra mundial a Alemanha viveu uma situação de crise jamais vista,
em que as instituições políticas estavam completamente destruídas, a situação social em
situação extrema, com as forças da lei e ordem profundamente desmoralizadas e a esquerda
radical a lutar fortemente para a tomada de poder através dos Conselhos de operários e
soldados, com base na experiência dos Soviets ao estilo dos Bolchevique na União das
Repúblicas Soviéticas (URSS), de Lenine.
Direitos e deveres fundamentais dos alemães. A primeira secção desta parte é dedicada ao
indivíduo, a segunda, à vida social, a terceira, à religião e sociedades religiosas, a quarta, à
instrução e estabelecimentos de ensino e a quinta, à vida económica.
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O importante nesta Constituição é o facto de surgir pela prime3ira vez na história um novo
espírito que se traduz na expressão “social” em todas as suas secções incluindo nas
liberdades.
Dos aspectos eminentemente sociais que avultam na Constituição a que nos estamos a
referir podemos destacar as normas sobre o casamento, a juventude, a obrigatoriedade da
instrução escolar, a previsão de estabelecimentos públicos.
A Constituição vai mais além quando na sua última secção destaca o seguinte:
Este novo modelo de Constituição com predominância nos direitos sociais torna-se assim,
num modelo que apaixonou vários países da Europa como é o caso da Constituição
Espanhola de 1931 onde adoptou o mesmo modelo.
À medida que estas experiências foram sendo aplicadas nos diferentes países, as
Constituições do tipo Weimar foram sendo alteradas no seu conteúdo, já que na sua forma
original, confundia-se com a do sistema de Ideologia Socialista, mas que com a evolução
histórica associada a vários factores de natureza política económica, social e cultural, foram
mais tarde absorvidas pela acção e força da economia de mercado.
Assim, a Constituição do “Tipo Socialista” por via de concessões de ambas partes, sofreu
alterações políticas relevantes, ou seja, profundas.
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O movimento operário Europeu optou pela via reformista do sistema político, aceitando:
Porém, a Constituição de Weimar teve uma duração curta e foi abolida pelo regime Nazi,
após a tomada do poder por Adolfo Hitler. Durante a sua vigência, a Alemanha conheceu
momentos de grande crise económica, social e instabilidade, para além da resistência
enorme dos sectores mais conservadores da sociedade alemã.
Do ponto de vista histórico e político, foi uma Constituição muito interessante porque se
situava na fronteira entre as concepções radicais do tipo socialista e as concepções liberais
dos Democráticos que deram origem ao constitucionalismo moderno de caris liberal.
Após a 2.ª guerra mundial, com o desmantelamento do regime Nazi, de novo se retomou o
Conceito de Estado de Direito Democrático e Social e numerosas Constituições elaboradas
na Europa, consagraram os conteúdos do conceito do Estado de Direito Democrático e
Social.
Porém, várias foram as diversas formas de concretização, que resultam dos diferentes tipos
de interpretação do conceito. Alguns países, utilizavam-no para resolver as situações
específicas dos seus Estados.
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Outros utilizam-no numa forma mista, em que conciliavam o sistema político do tipo
socialista com o capitalista, por processos reformistas do sistema.
Isto, quer dizer, que quando não estão separados têm um gosto próprio o mesmo quando
estão separados e independentes uma da outra.
Com o aparecimento das ideias de Estado Social de Direito, esta concepção é posta em
causa, porque o Estado Social de Direito, pressupõe a socialização e estadualização do
Estado em que o Estado deve intervir na sociedade, o que significa que não deve haver
rigidez na separação entre o Estado e a Sociedade, pois entende-se que o Estado está
inserido na Sociedade.
Para a nossa análise, interessa sobretudo a forma como a sociedade se estadualiza, ou seja,
como o Estado intervém na sociedade.
O conceito de Estado Social de Direito não é exclusivamente uma ideia só do século XIX.
A ideia de socialização está também patente nos sistemas de orientação liberal do Estado
de Direito.
Na Alemanha de Bismark, nota-se de uma forma latente a ideia social. Bismark praticava
uma política de concepção social, idêntica a defendida pelo Partido Social Democrático
Alemão da época.
Não obstante a este passado próximo, pode-se dizer contudo que o Estado Social de Direito
só foi praticado depois da 1.ª guerra mundial e verdadeiramente concretizado depois da 2.ª
guerra mundial em que constituições tais como de Weimar consagraram o conceito de
Estado Social de Direito, embora seja ainda no seu estado primitivo não desenvolvido e
por outro lado, não teve um carácter normativo, em que efectivamente praticável e eficaz.
Estamos perante uma Constituição normativa30 quando as suas normas são realmente
respeitadas pelo poder político. Acontece porém, em relação à Constituição de Weimar que
alguns dos direitos consagrados com uma natureza social não eram concretizados, isto é,
ninguém se beneficia delas e assim, a Constituição tornava-se nominal.
A concretização só foi possível depois da 1.ª guerra mundial, em que em vários documentos
constitucionais se consagrou o conceito, pois as condições políticas, económicas e sociais
estavam já suficientemente criadas e capazes de ultrapassar as crises económicas que
assolaram os países europeus após a guerra.
30
As Constituições modernas podem ser normativas, nominais e semânticas.
As normativas, são aquelas cujas normas dominam o processo político, aquelas em que o processo do
poder se adapta ou se conforma às normas constitucionais e se lhes submete.
As Constituições classificadas de normativas limitam efectivamente o poder político.
As nominais, são aquelas que não conseguem adaptar as suas normas à dinâmica do processo político, pelo
que ficam sem realidade existencial, mas com a finalidade de limitar o poder político, embora o não
limitam;
As Semânticas, são aquelas cuja a realidade ontológica não é senão a formalização da situação do poder
político existente em benefício exclusivo dos detentores de facto desse poder.
Trata-se das Constituições que apenas servem para estabilizar e eternizar a intervenção dos
dominadores de facto na comunidade.
174
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A crise económica de mercado, não só tinha a sua justificação na 1.ª guerra mundial
devastadora, como também se fundamentava nas razões internas de gestão, ora vejamos:
Era um capitalismo em que não havia concorrência por haver grandes grupos económicos
que absorviam toda a esfera praticando o monopolismo económico. Cabia a este grupo
definir a oferta e a expansão do mercado.
Assim estava-se numa situação contrária a que foi idealizada pela burguesia liberal no
início do século XIX que preconizava uma mentalidade do Estado, livre concorrência dos
agentes económicos portadores do poder para o desenvolvimento da economia em função
da procura e oferta.
A economia era portanto regida por monopolistas que planificavam em função dos
seus interesses egoístas e individualistas.
O Estado levaria para si esta função como medida correctiva com vista a centralizar
os resultados da economia para fazer face às consequências da guerra.
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A saída desta situação, imponha a tomada de uma alternativa entre as duas seguintes:
Se assim for, o Estado, devia deixar de ser neutral segundo a ideologia liberal que não
permitia a intervenção do Estado na economia e na moral, ou seja, nas relações económicas
nem na consciência dos cidadãos. Devia então, tornar-se num Estado intervencionista,
agindo como polícia, tal como sucedia no Estado Absolutista.
Para este efeito, o Estado define uma política fiscal baseada na progressividade dos
impostos, cuja a metodologia consiste em quanto mais rendimento um agente tiver, maior
será o valor do imposto a pagar.
A fórmula, permite que os agentes que têm rendimentos baixos, paguem menores valores
de impostos, o que beneficia as camadas mais desprotegidas.
Neste Estado a propriedade, adquiriu o valor social embora para o proprietário, represente
limitações dos seus direitos. Contudo o Estado Social, com esta acção, não pretende de
nenhuma forma, proceder a expropriação do bem, o proprietário deve usar o seu bem para
os fins a que se destina e só em situação contrária, o Estado reserva-se o direito de impor
coactivamente sanções que obrigue o proprietário a conferir ao bem, uma função social.
Alguns autores, para se referirem ao Estado Social de Direito, muitas vezes, utilizam
conceitos que não correspondem ao verdadeiro sentido. Confundem o Estado social de
direito com os seguintes conceitos:
- Estado Assistencial
- Estado Previdência
- Estado de Bem Estar
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Entre os conceitos Estado de Direito e Estado Social de Direito, há uma grande polémica
que data a anos. As discussões giram à volta de saber se Estado de Direito é ou não é
compatível com o conceito de Estado Social de Direito.
A Constituição Alemã que temos vindo a fazer referência, designada de lei fundamental de
Bona, consagrou a fórmula Estado Social de Direito, diversos juristas alemãs preocuparam-
se muito com a fórmula, tendo iniciado um processo de investigação com vista a determinar
o significado exacto do conceito.
Para uns, não tinha significado relevante e para outros, tinha, razão pela qual, estava
inserido no documento.
Para este efeito, o Estado Social de Direito, reserva-se o direito de intervir na esfera
patrimonial dos cidadãos de modo a obter os recursos sem os quais não pode garantir a
igualdade.
Para este jurista e seus seguidores, há uma incompatibilidade entre os dois conceitos.
Se se pretender conjugar ambos numa mesma fórmula, terá de haver uma hierarquia em
que nos casos de conflitos, uma deverá sobrepor-se ao outro, permitindo a sua relevância.
Porém, o Estado de Direito não tem só esta finalidade, embora contribua para este fim.
Assim se pode concluir que o Estado Social de Direito e Estado de Direito, ambos têm os
mesmos objectivos, os de garantir e proteger os direitos fundamentais.
Ensina-nos o Professor Jorge Miranda31, que “Estado do Direito é o Estado em que, para
garantia dos direitos dos cidadãos, se estabelece juridicamente a divisão do poder e em
que o respeito pela legalidade (seja a mera legalidade formal, seja – mais tarde – a
conformidade com valores materiais) se eleva a critério de acção dos governantes”.
A questão que se coloca agora, é como agir para atingir esta finalidade. O sentimento
jurídico do sec. XX, sustenta que a garantia dos Direitos dos cidadãos que estão no vulto
do Estado de Direito, tanto exige a proibição da invasão ilegítima da esfera dos cidadãos
como também a promoção positiva das liberdades.
31
Manual de Direito Constitucional Tomo I, 5.ª edic. , Coimbra, 1996, pag. 86.
179
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O Estado do Direito, que não é em simultâneo um Estado Social, não preenche de nenhuma
forma, as finalidades do Estado Social de Direito. Por conseguinte, não garante de certa
maneira os direitos fundamentais dos cidadãos.
Para que isso aconteça, é necessário, que os cidadãos possuam condições materiais para
gozo efectivo dos seus direitos. É necessário que não estejam ameaçados pela fome,
doença, nudez, em resumo, pela pobreza absoluta. O cidadão só pode ser útil para a sua
sociedade, quando tiver instrução e formação, habitação, emprego, transporte, etc. Sem
estas condições mínimas, ao seu dispor não é possível garantir-se a concretização dos seus
Direitos Fundamentais.
A ideia do Estado Social de Direito, quando ligado ao Estado de Direito não deve se
traduzir na ideia de alteração do conceito de Estado de Direito. Deve ser entendido como
um aperfeiçoamento recíproco. Os dois conceitos, quando desligados traduzem uma outra
realidade que nenhuma poderá levar avante e atingir o objectivo final de protecção da
personalidade e dignidade humana, porque o indivíduo em causa, não reúne condições para
o gozo pleno dos seus direitos.
3) Muitos dos direitos que antes eram oponíveis ao Estado ou ao cidadão, passam a
ser invocados perante outros concidadãos. Assim, várias constituições passaram a
consagrar correntes segundo as quais os direitos fundamentais, podem ser usados
contra o próprio Estado ou outros concidadãos.
180
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Esta limitação de poderes, utiliza novas formas de administração que adopta no seu
exercício as chamadas leis medida.
Estas novas formas, surgem pelo facto de o Estado Social de Direito, ser obrigado a
usar leis que não são objectivas mas sim abstractos, é o caso praticado por actos da
administração constitutiva.
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Hans kelsem, foi um autor muito importante na ciência jurídica. Foi um dos defensores
da teoria do controlo e fiscalização dos actos da administração.
Deste modo, conclui-se que o Estado de Direito, só consegue atingir com eficácia os
objectivos pelos quais luta, quando complementar com uma certa preocupação os
objectivos do Estado Social de Direito.
Há correntes que sustentam ideias segundo as quais não é possível haver um Estado de
Direito sem que contemple as características do Estado Democrático de Direito.
A mesma teoria, fundamenta a sua concepção afirmando que o Estado de Direito por
um lado e o Estado Democrático por outro, quando cada um autonomamente concretiza
os seus objectivos e finalidades, as soluções que separadamente obtém, são diferentes
e em certos casos contraditórios.
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Hipótese I
Hipótese II
Suponha que os cidadãos num certo Estado, pluralista decidem por maioria, dar a um
partido político concorrente, cujo o programa contém acções que prevêem um
tratamento discriminatório, as minorias éticas.
Democraticamente o partido foi-lhe conferido poderes de concretizar o seu programa.
Só que a concretização, põe em causa o princípio da igualdade de direito entre os
cidadãos. Como se pode notar, a ideia de democracia com a ideia de Estado de Direito,
contradiz-se mutuamente.
Hipótese III
Suponha que no referendo legalmente convocado nos termos da lei, um sector da população
que é uma minoria, decide através do voto rejeitar o alargamento universal dos direitos
fundamentais, de modo a abranger a maioria da população.
O acto da rejeição por parte de uma minoria, é contrário aos princípios do Estado
democrático de direito, embora legal, nos termos da lei, uma vez detentor do poder político.
Caso típico da Republica da África de Sul, em relação ao voto sim /não ao Apartheid, feito
a minoria branca, se tivesse a minoria optado por não, contraria os princípios do Estado
democrático por um lado e por outro, o princípio da igualdade no Estado de Direito.
Todas estas hipóteses, provam-nos que nos conceitos de Estado de Direito e Estado
Democrático separados têm resultados incompatíveis e quando unificadas, completam-se
mutuamente.
Esta análise, leva-nos também, a crer que quer um Estado como outro devem conjugar as
suas finalidades e actuarem dentro de uma esfera com parâmetros definidos, com
objectivos que visam a protecção de valores da personalidade e dignidade humana.
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a) Emprego
b) Estabilidade no emprego
c) Educação mínima
d) Assistência médica
e) Assistência nos casos de desemprego
f) Assistência à reforma em caso de invalidez
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1. O Estado Social é um Estado injusto, porque defende ideias segundo as quais, para
garantir a igualdade e fazer uma distribuição equitativa dos recursos, o Estado deve
retirar dos ricos os bens acumulados por estes e redistribuí-las pelas camadas
desprotegidas (pobres).
A classe do chamado operariado que está por conta de outrem é a que suporta os
encargos relativos aos impostos.
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Por outro lado, quando o Estado garante que as pessoas tenham estabilidade nos seus
empregos, os empresários reduzem os seus investimentos, deixando de admitir mais
pessoal por temer ficar com os trabalhadores, sem poder despedir quando estiverem em
prejuízo ou quando houver qualquer problema.
5. O Estado social, implica por um lado, uma grande proliferação legislativa. Pois
quase que diariamente se publica uma nova legislação, diferente da anterior,
chegando a ser contraditório no seu espírito. Esta situação, provoca anarquia,
confusão e banalização da lei, porque as pessoas passam a entender que a lei é algo
normal que pode ser alterado no dia seguinte quando não for adequada ao que se
pretende atingir naquele momento. Esta atitude, traduz-se na quebra da disciplina.
Finalizada esta matéria, segue a Parte II do nosso Programa temático com o título I sobre
Regime comum dos direitos fundamentais, capítulo I, da atribuição dos Direitos e iremos
falar sucessivamente:
1. Do princípio da universalidade;
2. Princípio da universalidade e pessoas colectivas;
3. A igualdade em geral;
4. O princípio da igualdade no Direito positivo moçambicano;
5. Sentido da igualdade;
6. Os destinatários do princípio da igualdade.
189
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A matéria de que nos vamos debruçar daqui em diante é relativa ao regime dos direitos
fundamentais que no programa temático que temos vindo a seguir corresponde a Parte II
com o título Regime comum dos Direitos Fundamentais, sendo o primeiro capítulo o
atinente a atribuição dos Direitos.
I. Princípio da universalidade
32
Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional Tomo IV, Direitos Fundamentais, 2.ª edição , Coimbra,
1998, pagina 193.
190
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Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou
internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse pais ou território
independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação
Artigo 7.˚
Todos os cidadãos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção
da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer descriminação que viole a
presente declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Na Carta Africana dos direitos Humanos e dos Povos, o princípio consta dos artigos 2
e 3, tal como se transcreve:
˝Toda a pessoa tem o direito ao gozo dos direitos e liberdades reconhecidos e garantidos
na presente Carta, sem nenhuma distinção, nomeadamente de raça, de etnia, de cor, de
sexo, de língua, de religião, de opinião política ou de qualquer outra opinião, de origem
nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação”.
˝Artigo 3.˚
191
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Artigo 35, 38, 44, 48, 51, 53, 55, 79, 81, 89, 90, 91, 94, 95.
Por vezes, o mesmo legislador usa a expressão “todo o cidadão”, vide artigos: 40, 41, 45,
46.
Outras vezes ainda usa a expressão: os cidadãos ou o cidadão: artigo 52, 54, 69, 70 e 80.
Todas estas expressões têm o mesmo valor e sentido jurídico, salvo os casos em que o
sentido é nos dados pelo contexto ou própria natureza específica do direito em que a
qualificação terá necessariamente um significado diferente quer para o direito, quer para o
dever em causa, como são os casos previstos nos artigos 147, n.˚ 2 al. b), que é
especialmente para pessoa física, o candidato ao cargo de presidente da República, artigo
24, n.˚ 2, que só se refere a cidadãos com nacionalidade originária em virtude de terem
nascido no território moçambicano, o artigo 85 quando se refere ‘todo o trabalhador” ou o
trabalhador, os artigos 86 e 87 com a expressão “ os trabalhadores”. Trata-se de fórmulas
cujo sentido é específico a pessoa humana, o trabalhador, sujeito de direito na ordem
jurídica.
Todos estes artigos dispõem sobre a pessoa humana segundo a sua própria natureza e
categoria na classificação dos direitos fundamentais.
O princípio ora anunciado é um conceito quantitativo, tal como se pode notar na expressão
“todos” o que significa que abrange a totalidade dos cidadãos que integram a comunidade
política de um Estado.
192
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Feitas as considerações prévias sobre o entendimento que temos sobre as expressões usados
pelo legislador neste dispositivo normativo vejamos agora os segmentos que encontramos
no mesmo artigo 35:
Porém, o princípio da igualdade que diz respeito a qualidade do sujeito, levou o legislador
a restringir o sentido e alcance do princípio da universalidade, não se aplicando a todos os
casos de sujeitos de direito com o mesmo sentido e alcance.
193
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A Constituição vai mais longe quando estipula que a lei define as condições do exercício
de funções públicas ou de funções privadas de interesse público por cidadãos
moçambicanos de nacionalidade adquirida.
2. As crianças podem exprimir livremente a sua opinião, nos assuntos que lhes dizem
respeito, em função da sua idade e maturidade.
3. Todos os actos relativos às crianças, quer praticados por entidades públicas, quer por
instituições privadas, têm principalmente em conta o interesse superior da criança.
3. A criança não pode ser discriminada, designadamente, em razão do seu nascimento, nem
sujeita a maus tratos.
194
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2. O Estado promove uma política de terceira idade que integra acções de carácter
económico, social e cultural, com vista à criação de oportunidades de realização pessoal
através do seu envolvimento na vida da comunidade.
A diferenciação a que nos referimos tem a ver com valores sócio-culturais que são
prosseguidos pelas comunidades e reconhecidos pela ordem constitucional, nos termos do
artigo 11, al. i). Descorar ou ignorar esta realidade equivale a protelar a igualdade
igualitária que é contrário ao princípio da igualdade.
Manual de Direito Constitucional, Volume II, Almedina, 1955 – 2005, pagina Manual de Direito
33
Em todos estes casos e outros os respeitantes a idade das pessoas para aquisição ou gozo
de direitos como seja o direito de eleger e ser eleito a cargos públicos, o direito de casar,
de conduzir, de trabalhar, da liberdade religiosa ou de praticar qualquer outra acção no
domínio político ou civil, o princípio da universalidade e de igualdade são válidos e
aplicados.
2. O exercício dos direitos e liberdades pode ser limitado em razão da salvaguarda de outros
direitos ou interesses protegidos pela Constituição.
3……
4…….
A limitação do exercício dos direitos só pode ocorrer nos casos previstos nos artigos 72:
197
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O tempo de duração do estado de sítio ou de emergência não pode ultrapassar os trinta dias,
sendo prorrogável por iguais períodos até três, se persistirem as razões que determinaram
a sua declaração.
198
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A atribuição dos direitos fundamentais as pessoas colectivas não é uma equiparação, mas
sobretudo a uma limitação de Direitos Fundamentais primordialmente destinados a
pessoais singulares.
As lições que temos vindo a ministrar revelam que a ordem jurídica reconhece
expressamente a capacidade de gozo de direitos e submissão a deveres às pessoas
colectivas, conforme o artigo 12, 54, n.˚ 3, 52, 78, 74, 75 todos da CRM e artigo 156 e
seguintes e os artigos 33, 34 e 38, todos do código civil de 1966.
Assim, o que podemos discutir agora é saber se as pessoas colectivas gozam na sua
plenitude dos direitos fundamentais, independentemente da sua natureza específica.
As pessoas colectivas no sentido em que estamos a referir abrangem não só as pessoas com
personalidade jurídica legalmente reconhecida nos termos da lei civil e das Associações,
designadamente Lei n.º 8/91, de 18 de Julho; Lei n.º 10/2005, de 23 de Dezembro; Código
Civil de 1966, Decreto-lei n.º 1/2006, de 3 de Maio e no Diploma Ministerial n.º 68/87 de
3 de Setembro, como também as organizações civis que ainda carecendo de personalidade
jurídica, gozam de protecção jurídica no quadro dos direitos fundamentais, como são as
associações religiosas, artigo 12 e 54, comissões de trabalhadores, associações de
199
Doutor António S. Chipanga, Docente e Regente – Lições Sumárias da disciplina de Direitos
Fundamentais, Faculdade de Direito, Universidade Eduardo Mondlane
Os direitos fundamentais só têm sentido quando tenham sido fixados para o seu gozo pleno
pelos seus destinatários, o que pressupõe que estes tenham a plenitude de gozo do direito
que lhe foi atribuído. Neste sentido, tal como nos ensina o Professor Jorge Miranda34
“…Não faria sentido em Direito constitucional a separação civilística entre capacidade de
gozo e capacidade de exercício ou de agir, porque direitos fundamentais são estabelecidos
em face de certas qualidades prefixadas pelas normas constitucionais e, portanto, atribuídas
a todos que as possuam.
Rematando sobre esta visão o Professor Jorge Bacelar Gouveia35 ˝…, quem comanda o
Direito Civil é o Direito Constitucional e não o contrário, sendo justo falar, mas do que de
autonomia, de supremacia deste em relação à aquele:….˝
Nos direitos fundamentais (sobretudo nos direitos, liberdades e garantias) o gozo dos
direitos consiste na capacidade de exercício. Os direitos de liberdades são pessoalíssimos
e por conseguinte, insusceptíveis tanto de serem transmitidos por qualquer forma como de
ser exercidos por outrem.”
Todas as pessoas colectivas gozam em princípio dos seguintes direitos fundamentais entre
outros, sem qualquer restrição nem imposição de terem ou não personalidade jurídica
própria:
34
Jorge Miranda, idem, pagina195.
35
Manual de Direito Constitucional, Volume II, Almedina, 1955 – 2005, página 1072.
200
Doutor António S. Chipanga, Docente e Regente – Lições Sumárias da disciplina de Direitos
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Por esta listagem fácil é de notar que os direitos fundamentais de que as pessoas colectivas
sejam titulares são todos aqueles que sejam compatíveis com a sua natureza específica e a
identificação exaustiva dos direitos próprios só é possível casuisticamente. As pessoas
colectivas só têm os direitos compatíveis com a sua natureza, ao passo que as pessoas
singulares têm todos os direitos, salvo os especificamente concedidos apenas a pessoas
colectivas ou a instituições36, por exemplo, o direito de antena, artigo 49 e os decorrentes
da própria pessoa colectiva conducente à prossecução dos fins para que exista, os direitos
adequados à sua especialidade, artigo 160 do CC com a limitação imposta pelo artigo 157,
também do CC.
Por este entendimento, não pode ser aplicável a pessoa colectiva, o direito à vida e a
integridade física e moral, artigo 40, o direito à família, artigo 119, o direito a maternidade
e paternidade, artigo 120, o direito a infância, artigo 121, o direito reservado a portadores
de deficiência, artigo 125, o direito a habeas corpus, artigo 66, nem está sujeito a prisão
preventiva, artigo 64 e extradição, artigo 67.
36
Idem, Jorge Miranda, página 197.
37
Idem, página 1073.
201
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Na senda do que temos vindo a tratar e recorrendo às lições do Professor Jorge Miranda38,
a análise da igualdade tem de assentar em três pontos firmes, acolhidos quase
unanimemente pela doutrina e pela jurisprudência.
São eles:
c) Que a igualdade não é uma “ilha”, encontra-se conexa com outros princípios, tem
de ser entendida – também ela – no plano global dos valores, critérios e opções da
Constituição material.
O princípio de direito deve ser assim entendido como sendo aquele que assegura a todos
os tratamentos igual em iguais circunstâncias, o que afasta concessão de privilégios em
razão da qualidade da pessoa jurídica.
Os privilégios são situações de que dão vantagens não fundadas em nenhum elemento de
base material e correspondem à situações de discriminação ou desvantagem em relação a
outra pessoa semelhante, nas mesmas condições e oportunidade.
38
Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos Fundamentais, 4.ª edic. Coimbra,
2008, pagina 253 e seguintes.
202
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Artigo 39
(Actos contrários à unidade nacional)
Todos os actos visando atentar contra a unidade nacional, prejudicar a harmonia social,
criar divisionismo, situações de privilégio ou discriminação com base na cor, raça, sexo,
origem étnica, lugar de nascimento, religião, grau de instrução, posição social, condição
física ou mental, estado civil dos pais, profissão ou opção política, são punidos nos termos
da lei.
Artigo 250
(Acesso e estatuto dos funcionários)
1. O acesso à Função Pública e a progressão nas carreiras profissionais não podem ser
prejudicados em razão da cor, raça, sexo, religião, origem étnica ou social ou opção
político-partidária e obedece estritamente aos requisitos de mérito e capacidade dos
interessados.
Todos estes factores não são os únicos que quando praticados promovem privilégios ou
discriminação. Os factores aqui enumerados são a título de exemplo, tendo em conta que
o artigo 42, da CRM apresenta-nos um leque aberto de Direitos Fundamentais e desta forme
temos que entender que os factores de discriminação são também abertos em face do artigo
42.
O legislador arrolou os factores previstos nos artigos 39 e 251 como sendo os mais gritantes
em relação aos quais a ordem jurídica reagem com maior veemência possível dado ao
impacto que eles podem causar na esfera jurídica dos lesados, mas há muito mais factores
que causam privilégios ou discriminação negativa contra a pessoa nos vários domínios da
vida privada ou publica que constam desta enumeração mas que causam danos
É por consciência de todos estes factores que o legislador cautelosamente fixou o disposto
nos artigos 69, 70, 79, 80, 81, 214 e n.˚ 3 do artigo 252, todos da CRM.
203
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Direitos do Homem de 1948 cujo texto se apresenta: “Todos são iguais perante a lei e, sem
distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos. Todos têm direito a protecção igual
contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração contra qualquer
incitamento a tal discriminação.˝
O que até aqui temos vindo a tratar sobre este princípio da igualdade é na vertente negativa,
ou seja, em sentido negativo que corresponde a proibição.
Vejamos então o sentido positivo do principio da igualdade que nos parece mais complexo,
tal como nos expõe o Professor Jorge Miranda39 que no sentido em que vínhamos
apreciando.
Às regras previstas na lei eleitoral atinentes a igualdade dos partidos políticos, das
coligações de partidos políticos, dos grupos de cidadãos eleitores proponentes e das
candidaturas aplica-se o princípio da igualdade, nos termos em que estamos a estudar
em todas as suas acepções.
39
Idem, pagina 255 e seguintes.
204
Doutor António S. Chipanga, Docente e Regente – Lições Sumárias da disciplina de Direitos
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O Dr. Joaquim Madeira, então Procurador-Geral da República, numa das suas intervenções
públicas perante jornalistas nacionais e estrangeiros a propósito de crimes de corrupção,
abuso de confiança e outros cometidos contra os bens públicos por algumas altas entidades
públicas do Estado e agentes da Administração Pública, a dado tempo, disse: “ninguém
está acima da lei.” Todo aquele que cometer um acto qualificado de crime, previsto e
punido nos termos do Código Penal ou em qualquer outra lei avulsa, será submetido a
julgamento e condenado se se provar a sua culpabilidade na prática do acto.
Por conseguinte, o destinatário número um da lei é o próprio órgão que emanou a lei. Quem
elabora e aprova a lei fica directa e imediatamente vinculado a lei que ele próprio aprovou
devendo por isso, cumpri-la na sua íntegra.
Assim, o princípio da igualdade consagrado na lei impõe-se a todos os órgãos que tem por
missão elaborar, executar e fazer cumprir a lei, pois na sua actuação têm por dever observar
todos os ditames decorrentes do princípio da igualdade em todas as suas dimensões.
Desta feita, o princípio da igualdade exige tratamento igual a todas as funções dos órgãos
do Estado, bem como a aplicação igual da lei, da norma jurídica em todas as circunstâncias
iguais.
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Na esfera privada è importante distinguir pessoas físicas das pessoas colectivas. Nas
pessoas colectivas aplica-se o princípio da igualdade em relação aos membros entre si e
nas relações que se estabelecem na sociedade, na associação, na fundação ou no Partido
Politico.
Terminado este tema segue Parte II, regime dos Direitos Fundamentais, título I do regime
comum dos Direitos Fundamentais, capitulo II da Protecção Jurídica Interna em que
iremos nas aulas seguintes tratar sucessivamente da:
Ora, a impugnação acto de tutela constitucional pelo qual a pessoa jurídica contesta o
comportamento com o qual não se conforma é um direito fundamental cujo exercício
pressupõe que antes de mais o cidadão ofendido conheça o direito de que é legitimo titular
e em que medida e circunstâncias pode ser exercido.
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No caso vertente, quando do direito de que seja titular o cidadão não se tem conhecimento
ou quando se conhece não se sabe em que condições pode ser gozado, nesse caso, o cidadão
não pode de forma alguma identificar a sua obstrução e muito menos determinar em que
circunstâncias foi-lhe denegado ou limitado o gozo do seu direito.
O Professor Jorge Miranda a este propósito afirma: “A primeira forma de defesa dos
direitos é a que consiste no seu conhecimento. Só quem tem consciência dos seus direitos
tem consciência das vantagens e dos bens que pode usufruir com o seu exercício ou com a
sua efectivação, assim como das desvantagens e dos prejuízos que sofre por não os poder
exercer ou efectivar ou por eles serem violados”40.
Não foi por acaso que os regimes colonialistas que dominaram vários povos de África,
Ásia e América Latina, pautaram sempre por uma mesma doutrina de nunca dar acesso ao
conhecimento aos povos dominados, tal como se pode notar do regime jurídico
estabelecido no Acto Colonial, norma constitucional destinado exclusivamente a
população negra das colónias portuguesas.
O direito de que um cidadão é titular só pode ser exercido integralmente quando o seu
titular tenha conhecimento sobre ele e saiba quais os seus contornos.
40
Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos Fundamentais, 2.ª edição, Coimbra
editora, 1998, página 229.
207
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Os cidadãos não só têm o direito à informação como têm o direito de serem informados,
nos termos do n.˚ 1 do artigo 252 e n.˚ 1 do artigo 92 (direito dos consumidores).
A Constituição prevê no artigo 62, o direito de acesso aos tribunais, a defesa e ao direito
de assistência jurídica e patrocínio judiciário e fá-lo por intermédio do Instituto de
Patrocínio e Assistência Jurídica (IPAJ).
O IPAJ tal como muitas das instituições públicas situam-se ao nível da capital do país, da
província, do distrito e não onde o cidadão tem a sua residência habitual, no bairro ou aldeia
ou no seu local de trabalho.
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Porém, a maioria dos cidadãos nacionais falam línguas nacionais consideradas como
património cultural e educacional que promovem o seu desenvolvimento e utilização
crescente como línguas veiculares da nossa identidade, conforme o artigo 9 da CRM.
Pese embora esteja consagrado na lei fundamental a necessidade de uso das línguas
nacionais, a situação com que nos deparamos revela-nos que as leis, os julgamentos, as
mensagens, as comunicações do Estado, da administração pública e todo o relacionamento
do Estado com os cidadãos são ainda em português, bem como os serviços públicos
funcionam em língua portuguesa e não existe instituído no sistema nacional, um serviço
público de tradução para os cidadãos não falantes da língua oficial.
Artigo 63
(Mandato judicial e advocacia)
2. No exercício das suas funções e nos limites da lei, são invioláveis os documentos, a
correspondência e outros objectos que tenham sido confiados ao advogado pelo seu
constituinte, que tenha obtido para defesa deste ou que respeitem à sua profissão.
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Por fim destacar o facto de que a tutela jurisdicional dos direitos fundamentais implica nos
termos do artigo 211 da CRM que aos tribunais compete-lhes garantir e reforçar a
legalidade como factor da estabilidade jurídica, garantir o respeito pelas leis, assegurar os
direitos e liberdades dos cidadãos, assim como os interesses jurídicos dos diferentes órgãos
e entidades com existência legal.
2. A providência de habeas corpus é interposta perante o tribunal, que sobre ela decide no
prazo máximo de oito dias.
O cidadão tem o direito de recorrer aos tribunais contra os actos que violem os seus
direitos e interesses reconhecidos pela Constituição e pela lei.
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Todos os cidadãos têm o direito à assistência médica e sanitária, nos termos da lei, bem
como o dever de promover e defender a saúde pública.
1. Todo o cidadão tem o direito de viver num ambiente equilibrado e o dever de o defender.
Nos feitos submetidos a julgamento os tribunais não podem aplicar leis ou princípios que
ofendam a Constituição.
Além destes dispositivos a Constituição estabelece ainda que o cidadão pode invocar os
artigos 40, 41, 44, 45, 71, 92 e 252, n.˚ 3, 243, n.˚ 1 al. a) e 244, para a defesa dos seus
interesses ou do interesse geral.
De acordo com este raciocínio, deduz-se tratar da defesa de interesses subjectivos dos
cidadãos, pois visa satisfazer interesses dos cidadãos individualmente considerados.
A tutela dos direitos fundamentais tem consagração constitucional contra todos os órgãos
de soberania, incluindo o conjunto dos órgãos governativos e instituições públicas que não
podem quer a título individual, quer conjuntamente decidirem pela suspensão ou obstrução
do exercício pleno dos direitos fundamentais pelos cidadãos.
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O tribunal aprecia e julga os factos que lhe forem presentes segundo os ditames do Direito,
enquanto que as partes entre si gozando da autonomia de vontade podem resolver o conflito
adoptando medidas reconciliatórias em beneficio mutuo das partes com menos custos que
a acção no tribunal.
Os tribunais emitem uma decisão jurídica com força obrigatória para todas as partes, uma
vez transitado em julgado e nem nenhuma das partes pode recuar da decisão decretada,
conforme o artigo 215 da CRM.
A intervenção judicial no caso que põe as partes em conflito só traz desvantagens para
todos, decorrendo dos transtornos impostos pelos procedimentos processuais, contratação
e pagamento de advogado cuja assistência judicial é obrigatória, conforme o tipo de
processo, o tempo que o processo leva para obtenção do resultado e a tramitação demorada
do processo até decisão final, pelo menos em Moçambique, por carência de meios humanos
e outros no sistema judicial.
Assim, em face de todos estes inconvenientes o sistema prevê uma outra modalidade de
resolução dos conflitos, ou seja, outra forma de protecção dos direitos tutelados que é a
tutela graciosa dos Direitos Fundamentais.
Esta modalidade surge por se reconhecer que o sistema judicial no Estado de Direito, por
mais célere, avançado e imensos recursos e meios de actuação tiver nunca pode conseguir
cobrir eficazmente todas as necessidades da sociedade, sendo, por isso, importante a tutela
graciosa por se mostrar mais moldável às circunstâncias do desenvolvimento das relações
pessoais entre os cidadãos.
41
José Carlos Vieira de Andrade, Os Direitos Fundamentais na Constituição da Republica Portuguesa
de 1976, 3.ª edição, Almedina, Coimbra, 2004, pagina 339.
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O Professor Jorge Miranda42 aponta três notas básicas para se recorrer a tutela graciosa:
O Professor Miranda acrescenta ainda que a tutela graciosa pode realizar-se através de
órgãos administrativos como através de órgãos políticos;
Tanto pode traduzir-se numa nova intervenção do órgão que antes se tenha pronunciado
sobre a matéria como a uma espécie de autocontrolo dentro de certo aparelho orgânico,
outras vezes a uma fiscalização por outro ou por outros órgãos; umas vezes visa a prática
de certo acto ou a adopção de certa providência, outras vezes dirige-se contra acto já
praticado, visando a sua reconsideração, revogação ou modificação; tanto pode atender à
correcção de uma inconstitucionalidade ou de uma ilegalidade como atender à aplicação
de uma sanção por comportamento ilícito.
Das garantias graciosas, temos em primeiro plano, o direito de petição que consta do
artigo 79 da CRM, com a epígrafe direito de petição, queixa e reclamação, regulamentada
pela lei n.˚ 2/96, de 4 de Janeiro, publicado no suplemento do Boletim da República n.˚ 1,
de 4 de Janeiro de 1996, conjugado com o Decreto n.˚ 30/2001, de 15 de Outubro,
publicado no suplemento do Boletim da República n.˚ 41, de 15 de Outubro de 2001.
O direito de petição quando dirigido aos órgãos políticos ou análogos visam a intervenção
do respectivo órgão com vista a usar a sua influência no sistema politico administrativo,
sem substituir os órgãos competentes em razão da matéria, na resolução pacifica do conflito
que opõe o cidadão com a instituição publica, exigindo o cumprimento da lei que julga
violada.
O cidadao querenco repor o direito que lhe foi violado ou em defesa de terceiros no
interesse geral pode recorrer aos seguintes instrumentos em pedido inicial feito por escrito
e assiando pelo seu autor ou por quem o representa;
42
Idem, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, página 248 e seguintes.
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A outra figura importante que a ordem jurídica contempla visando a defesa e protecção dos
direitos fundamentais fora dos tribunais é o Provedor de Justiça que no sistema Anglo-
saxónico é designado de Ombudsman.
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Por conseguinte, o Provedor de Justiça não pode anular, revogar ou modificar os actos dos
poderes públicos, quer da Administração Publica, quer da autarquia local. O seu poder
reside na persuasão do titular do órgão que tomou a decisão.
O Provedor de Justiça é o órgão do Estado que tem como função a garantia dos direitos
dos cidadãos, a defesa da legalidade e da justiça na actuação da Administração Pública,
eleito pela Assembleia da República, por maioria de dois terços dos deputados, pelo tempo
que a lei determinar.
A função principal do Provedor de Justiça é a defesa dos direitos e interesses legítimos dos
cidadãos e nesta sua missão os órgãos e agentes da administração pública devem prestar a
devida colaboração e apoio.
A actividade do Provedor de Justiça pode ainda ser exercida por iniciativa própria, nos
casos de violação dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos, desde que
o facto chega ao seu conhecimento e, é independente dos meios graciosos e contenciosos
previstos na Constituição da República e na lei.
43
Publicado no Boletim da República n.˚ 33, de 16 de Agosto de 2006.
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2. O Estado é responsável pelos danos causados por actos ilegais dos seus agentes, no
exercício das suas funções, sem prejuízo do direito de regresso nos termos da lei.
Ocorrendo qualquer um dos casos cabe ao Estado repor a legalidade e indemnizar o cidadão
pelos danos causados.
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A defesa e promoção dos direitos fundamentais não é nem pode ser tarefa
exclusivamente do Estado e demais entidades públicas perante o cidadão. Cada vez
mais, a participação de todos os cidadãos considerados a título individual ou
colectiva è um dever patriótico e de defesa do interesse geral.
É frequente ouvir e praticar o acto de socorrer de imediato o vizinho que tem a sua
casa a arder, para evitar que o fogo propaga-se para a sua. É assim, que em caso de
incêndio ninguém fica de braços cruzado alegando que a casa que está a arder é do
vizinho que se aguarde pelos bombeiros municipais ou do Estado.
Os movimentos sociais que são cada vez mais numerosos e com objecto
diversificado e múltiplo são chamados a intervir na defesa e protecção dos cidadãos
no interesse geral que é a garantia da tutela dos direitos fundamentais, sendo esta
acção um acto cultural devendo caracterizar uma associação moderna. O disposto
no artigo 78 da CRM revela-nos esta tendência ou orientação em relação a finalidade
das organizações sociais, quando dispõe o seguinte:
Antes de prosseguir sobre esta matéria é pertinente fazer alusão ao que entendemos
de organizações sociais.
Considera-se sem fins lucrativos a organização da sociedade civil que não distribui entre
os seus sócios, associados ou membros, as suas quotas ou participações e os eventuais
excedentes operacionais, dividendos, bonificações ou parcelas do seu património e que os
aplica integralmente na prossecução dos fins sociais que presidiram a sua constituição e
são a razão da sua existência e funcionamento.
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b) As instituições religiosas;
Nesta conformidade não são qualificáveis como organizações da sociedade civil, entre
outras, as seguintes instituições:
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Conteúdo:
1. A aplicação imediata
2. A vinculação das entidades públicas
3. A vinculação das entidades privadas
4. A reserva de lei
5. As restrições de direitos, liberdades e garantias
6. O carácter restritivo das restrições
7. O carácter excepcional da suspensão
8. O regime da suspensão
9. A restrição, suspensão ou a privação individual de direitos apenas com as garantias da
Constituição e da lei
10. O problema da renúncia a direitos fundamentais
11. A autotutela mediante o direito de resistência
12. A responsabilidade civil e criminal por violação de direitos, liberdades e garantias
13. O regime reforçado dos direitos, liberdades e garantias dos arts. 72 e 286 da
Constituição
14. Direitos, liberdades e garantias e órgãos independentes da Administração
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Artigo 18
(Direito internacional)
2. As normas de direito internacional têm na ordem jurídica interna o mesmo valor que
assumem os actos normativos infraconstitucionais emanados da Assembleia da República
e do Governo, consoante a sua respectiva forma de recepção.
3. Vigoram na ordem juridica após a sua ratificação e publicação oficial, nos termos
do artigo 178, n.˚ 2, al. t) e u) e 143, al. f), da CRM
O legislador moçambicano, pelo disposto no artigo 42 veio fixar outra regra distinta da
prevista no artigo 18, ao alargar o âmbito e sentido dos direitos fundamentais determinando
que são direitos fundamentais os formalmente consagrados na Constituição e os que
constam da lei ao que nos revela que a regra constante do artigo de que temos vindo a citar
não se aplica directa e imediatamente às matérias relativas aos direitos fundamentais cujo
regime de interpretação é o previsto nos artigos 42 e 43, ambos da CRM.
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Assim, em relação a aplicação dos direitos fundamentais na ordem jurídica nacional estes
não ficam condicionados a celebração do instrumento por uma entidade competente da
República de Moçambique, ratificação pela Assembleia da República seguido de
publicação em Boletim da República.
Exige a Constituição que tais matérias referindo-se a dignidade da pessoa humana e assim
constituindo direitos fundamentais têm aplicação directa e imediata, desde que não
contrarie os valores e principios fundamentais da Constituição, nos termos do artigo 4.
Comecemos a nossa intervenção pelo artigo 29.º da Declaração dos Direitos do Homem.
4. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível
o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade.
44
Manual de Direito Constitucional Tomo IV, Direitos Fundamentais, 2.ª edic. Coimbra, 1998, pag. 264 e
seguintes.
45
Idem pag. 265.
224
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46
Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 3.ª edição, Almedina, 1999, pag. 411 e seguintes
225
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O cidadão só pode gozar plenamente dos direitos que a lei lhe reconhece quando esteja em
plena liberdade.
Porém, na sociedade ocorrem situações que levam o Estado a ordenar a privação dessa
liberdade, quando o titular envolve-se em comportamentos que ofendem a Ordem Jurídica:
a ordem pública, a ética ou moral social, a autoridade do Estado, a segurança das pessoas
e bens, entre outros.
A privação da liberdade tem lugar quando o cidadão seja capturado, isto é, detido por
ordem de quem seja competente à luz da lei.
Portanto, sem a validação a prisão embora seja justa e imprescindível torna-se ilegal
A legalização da prisão está cometida aos órgãos judiciais que apreciam os elementos
indiciários com a serenidade e objectividade e informam ao detido das razões pelas quais
encontra-se detido e dão-lhe a oportunidade de responder o que lhe oferecer em acto de
defesa própria contra a suspeita que sobre si recai.
Na validação judicial da captura há uma apreciação ou avaliação judicial dos motivos legais
que determinaram a detenção, da consistência e fundamento legal da suspeita com relação
ao facto incriminável e da sua imputação directa ao arguido.
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Em conformidade com a norma constitucional, n.º 2 artigo 64, o cidadão sob prisão
preventiva deve ser apresentado ao juiz dentro de um certo prazo para ser ouvido.
A lei ordinária define que é da competência do juiz da instrução criminal, nos termos do
n.º 2 do artigo 1 da Lei n.º 2/93, de 24 de Julho, BR n.º 25, Suplemento:
Se num caso em concreto, por hipótese um cidadão dirige-se ao posto policial mais
próximo e queixa-se de ter sido vítima na praia do Costa de Sol de furto de uma viatura de
marca BMW, de cor vermelha, com 4 portas e pneus com jantas cromadas com a chapa de
inscrição MLI-XY-HP e exibir o livrete e título de propriedade sobre o veículo, o oficial
da PRM em serviço de imediato comunica via rádio os agentes da lei e ordem em serviço
de patrulha. Imaginemos que os agentes da polícia que circulam na Av. da Marginal
encontram uma viatura conduzida por um fulano com as características descritas pelo
cidadão vítima do furto e transmitidas via rádio pelo oficial de serviço, mas sem a chapa
de matrícula.
Os agentes da lei e ordem nada mais podem fazer naquelas circunstâncias, senão interpelar
o cidadão mandando-o parar para exibir a documentação da viatura e a chapa de inscrição
do veículo que conduz que não está na viatura. O cidadão interpelado em reposta diz ao
agente da polícia que a viatura que conduz acaba de recuperá-la de um grupo de indivíduos
desconhecidos que haviam retirado da sua mãe na zona do aeroporto e que naquele
momento ela encontrava-se em casa com a documentação da viatura e a chapa de matrícula
teria ficado ou feito desaparecer pelos indivíduos que furtaram da sua mãe.
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Perante esta resposta os agentes da lei e ordem que poderão fazer? Deixá-lo continuar a
viagem ou suspeitá-lo de ser o autor do furto da viatura que se estava a procura?
Se for considerado suspeito é detido sem culpa formada e levado imediato a esquadra onde
foi apresentado a queixa para averiguação. Se na esquadra o indivíduo suspeito não for
apresentado no prazo fixado na lei junto do tribunal competente perante o juiz da instrução
criminal para a legalização da prisão, estamos perante uma violação de um direito
fundamental.
Em face da violação do direito o cidadão lesado deve conforme os casos procurar junto do
comandante da esquadra, do chefe das operações do agente da polícia de investigação
criminal - SERNIC que se encontra a funcionar na referida esquadra, no distrito, na cidade
ou na província um esclarecimento que justifica a não apresentação dele no Juiz da
instrução dentro do prazo fixado na lei penal.
Se não obter uma resposta satisfatória à luz da lei alegando-se motivos infundados o
cidadão tem o direito de accionar mecanismos legais para o goza dos seus direitos na
situação em que se encontra naquela esquadra ou na cadeia.
A garantia de Habeas Corpus que tem a sua origem na Inglaterra é um meio de protecção
da liberdade individual a qual recorre-se nos casos em que não haja outro meio legal de
eficazmente fazer cessar a ofensa ilegítima da liberdade individual.
Trata-se de um meio de defesa da liberdade cujo efeito cessa quando a causa que lhe deu
origem termina, ou seja, quando o detido esteja perante o juiz da instrução criminal, sem
prejuízo da acção disciplinar, civil ou criminal de quem promoveu ou cometeu a
ilegalidade.
Na Constituição de 1975 não figurou esta providência e surge na nossa ordem jurídica a
partir da Constituição de 1990 nos seguintes termos:
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Artigo 102
1. Em caso de prisão ou detenção ilegal, o cidadão tem direito a recorrer à
Esta garantia foi introduzida na CRM de 1990 por que o legislador reconheceu que se
tratava de um meio importante de defesa da liberdade dos cidadãos.
Em conformidade com a lei penal artigo 312, 315 e seguintes todos do CPP e reunidas as
condições exigidas o cidadão que se vê privado da liberdade por uma acção considerada
ilegal nos termos da lei, pessoalmente ou por intermédio do seu mandatário judicial ou por
terceiros pode interpor um requerimento dirigido ao juiz do Tribunal Provincial onde se
acha ilegalmente detido a solicitar que seja imediatamente ouvido pelo Juiz da Instrução a
fim de ser interrogado, conforme os artigos 253 do CPP, e artigo 1 da Lei n.º 2/93, de 24
de Julho.
a) Estar excedido o prazo fixado no artigo 308 e 311 do CPP para a entrega ao poder
judicial;
b) Manter-se a detenção fora dos locais para este efeito autorizados por lei ou pelo
Governo;
c) Ter sido efectuado o internamento em estabelecimento de detenção por ordem de
autoridade incompetente, vide artigo 6 da Lei n.º 2/93, de 24 de Julho que deu uma
nova redacção ao artigo 293 do CPP.
Artigo 6. O artigo 293 do Código de Processo Penal passa a ter a seguinte redacção:
“Fora dos casos de flagrante delito, a prisão preventiva só poderá ser levada a efeito
mediante a ordem por escrito do Juiz, do Ministério Público ou das demais autoridades de
polícia de investigação criminal”.
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d) Ser a detenção motivada por facto pelo qual a lei não a permite. Vide artigos 286,
287, 288, 291 e 292, todos do CPP.
Com habeas corpus o cidadão não obtém um processo pelo qual se pode reparar os danos
causados aos direitos individuais que tenham sido ofendidos nem constitui o meio de
repressão do autor da infracção cometida.
O Habeas corpus é sim um meio de protecção da liberdade individual em caso de não haver
um outro meio legal que permite eficazmente fazer cessar a ofensa ilegítima da liberdade
cujo exercício se acha obstruída.
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