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Evolução da CRM (1974-2018)

A revolução dos escravos, e a independência de Moçambique (1974-1975)

Inicialmente faz-se importante referência que o aspecto constitucional no ordenamento jurídico


Moçambicano, não constitui uma novidade pelo que, antes da proclamação da independência
total e completa do Pais no dia 25 de Junho de 1975, já existiam os primeiros iniciais de
actividade jurídica no território nacional.

Observar-se que em 1974 de 25 de Abril, verificou uma revolução dos escravos nas colónias do
governo ultramar português, e Moçambique, antiga colónia ultramar portuguesa antes
denominada Mussa Mbiki, não ficou para atrás, pelo devido a esta situação, o Governo colonial
português, ficou obrigado a conceder independência as mesma por força da Lei n.7/74 de 27 de
Julho, materalizado em um programa do Movimento das Forças Armadas, que concedeu as
colónias portuguesas, independência e capacidade de autodeterminação, estabelecendo assim
uma constituição provisória, com 3 preceitos importantes (GOUVEIA, 2015):

 O princípio da solução política e a rejeição da solução militar: “a solução das guerras


no ultramar é política e não militar;
 O reconhecimento da plenitude do princípio da autodeterminação dos povos: “O
reconhecimento do direito à autodeterminação, com todas as suas consequências, inclui a
aceitação da independência dos territórios ultramarinos;
 – A titularidade da correspondente competência no Presidente da República:
“Compete ao Presidente da República, ouvidos a Junta de Salvação Nacional, o Conselho
de Estado e o Governo Provisório, concluir os acordos relativos ao exercício do direito
reconhecido nos artigos antecedentes (GOUVEIA, 2015).

Mediante este programa Moçambique criou o seu primeiro Governo provisório administrado,
pela FRELIMO, estabelecendo normas e regras para a convivência social do povo e o Estado,
concretizado com o acordo de paz de 1974 de 7 de Setembro, mediante o qual estabeleceu-se a
independência do Pais, delimitada nos seguintes preceitos:
 Reconhecimento por Portugal do direito do povo de Moçambique à independência;
 A definição das estruturas governativas de transição até à independência: um Alto-
Comissário, um Governo de Transição e uma Comissão Militar Mista1.
 A afirmação da soberania de Moçambique independente.

Esta constituição provisória não estabelecia um regime político, estabelecia uma corrida as
nacionalizações do bem público português, estabelecia uma centralização do poder legislativo,
judicial, judiciário, executivo, económico e bens materiais para o governo provisório. Não existia
um estado Moçambicano.

Constituição da República popular de Moçambique (1975-1989)

Esta estabelecia em 25 de Junho de 1975, ao mesmo que foi proclamada a independência do Pais
e estabelecido o Estado Moçambicano, regido por seus próprios princípios, normas, regras e
estruturas de governação. Esta constituição juridicamente caracterizava-se por estabelecer:

 Sistema socialista – regime económico fechado para exploração privada e investimento


internacional privado, a coisa era pública e devia ser repartida, sem propriedade privada;
 Sistema de centralização - o Estado (FRELIMO) tomava todas decisões a nível político,
legislativo, executivo, judicial, económico sem qualquer separação de poder;
 Regime Mono-partidário e sistema político uni-partidário – as políticas eram
estabelecidos pela FRELIMO e este como único partido no poder, fale-se de uma
ditadura militar;
 Sistema de justiça inquisitório – não existia separação de poderes entre o julgado e o
acusador;
 Sistema de reconstrução e desenvolvimento do Estado;
 Políticas e normas inspiradas ao acordo de Lusaka;

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um Alto-Comissário, nomeado pelo Presidente da República Portuguesa; – um Governo de Transição, com
ministros nomeados por acordo entre a FRELIMO e o Estado Português, na proporção de dois terços e um terço,
respectivamente;
– uma Comissão Militar Mista, nomeada por acordo entre o Estado Português e a FRELIMO, em número igual de
membros para ambas as partes
Estabelecia para administração do Estado os seguintes órgãos:

 A Assembleia Popular, “órgão supremo do Estado” e “o mais alto órgão legislativo…”,


com funções legislativo-parlamentares; – o Presidente da República, Chefe de Estado,
por inerência o Presidente da FRELIMO, com funções político-representativas;
 O Conselho de Ministros, presidido pelo Presidente da República e composto por
Ministros e Vice-Ministros, com funções executivas;
 Os Tribunais, com a função jurisdicional, encimados pelo Tribunal Popular Supremo.

Constituição da República de Moçambique (1990-2004)

Devido a manifestações político-militares entre a FRELIMO/RENAMO, que teve o seu fim ao 4


de Outubro de 1992 e reorganização do Estado da nação, faz-se necessária uma alteração
completa e total dos preceitos estabelecidos pela CRPM – 1975, com o objectivo de uniformizar
a mesma a actual situação do Pais. Então para apaziguar os conflitos e reorganizar o pais política,
juridicamente e financeiramente, aprovou-se a nova lei constitucional em 1990 e a posterior o
acordo de paz em 1992.

Esta por sua vez sofreu 4 revisões e alterações constitucionais, respectivamente:

 L nº 11/92, de 8 de Outubro: alteração da norma sobre a iniciativa da revisão


constitucional, aditando-se o nº 3 do art. 204 da CRM1990, permitindo que a mesma
ocorresse depois das eleições multipartidárias previstas no Acordo Geral de Paz;
 – L nº 12/92, de 9 de Outubro: alteração de vários preceitos constitucionais na sequência
da assinatura do Acordo Geral de Paz, designadamente em matéria de direito de sufrágio
para os órgãos do Presidente da República e Assembleia da República143;
 – L nº 9/96, de 22 de Novembro: reformulação da organização territorial do poder
público, esclarecendo a legitimidade e as funções dos órgãos locais do Estado e dos
órgãos do Poder Local a reforma na instalação de uma administração autárquica;
 – L nº 9/98, de 14 de Dezembro: alteração dos arts. 107º e 181º da CRM1990 no sentido
de antecipar alterações efetuadas no plano da legislação ordinária.
Mediante todas estas alterações e revisões pode-se observar que a CRM – 1990, caracteriza-se,
nos seguintes pontos importantes:

 Sistema socialista emigrando para o capitalista - regime económico abria-se aos poucos
para exploração privada e investimento internacional privado (art.41 e 45 todos da CRM-
1990), a coisa era pública e devia ser repartida, sem propriedade privada;
 Sistema de centralização de poderes – porem não se falava de domínio da FRELIMO,
mas o partido no poder podia tomar todas decisões a nível político com maior enfoque
para a posição do presidente da República, com alguma separação de poder, no entanto a
nível legislativo observar-se a introdução da Assembleia de República como único órgão
legislativo (art.133 da CRM-1990), e o executivo a introdução da administração
provincial;
 Regime Multipartidário – abriu-se mais espaço para concorrência e eleições partidárias
(art.31 e art.128 todos da CRM-1990);
 Introdução do sistema de justiça acusatório – Incorporação da política de separação de
poderes entre o julgado e o acusador.
 Introdução do sistema presidencial ou presidencialismo – O Presidente após as eleições é
o chefe do Estado, chefe do governo e lidera o poder executivo (art.117 da CRM 1990);
 Introdução e actuação poder derivado da Constituição para a sua alteração e iniciativa por
parte do chefe do Estado e 1/3 - um terço dos deputados, ( art.198 da CRM de 1990)
 Introdução do Estado de direito democrático.

Constituição da República de Moçambique de 2004

Observar-se que tocante a CRM 2004, este surge como forma de consolidação da preestabelecida
constituição democrática de 1990, pelo que vem reforçar a ideia de um estado uno e indivisível e
Estado de Direito democrático, mas também vem a introduzir novas realidades jurídicas tais
como:

 Sistema misto (socialista e capitalista);


 Sistema de descentralização de poderes – diminuição dos poderes e legitimidades dos
órgãos centrais para os órgãos locais (Estado, Província, Distrito, Município e
povoação - art.7, art.8, art.141 e art.145 todos da CRM-2004)), iniciativa de legislativa
(art.143 e art.144 todos do CRM 2004), maior separação de poderes políticos,
executivos e judicial;
 Regime Pluripartidário – possibilidade de eleições com mais partidos (art.73 e art.74
todos do CRM 2004);
 Consolidação do sistema de justiça acusatório integrando o princípio da investigação
(art.212 e art.234 todos do CRM 2004) e criação de novos tribunais (administrativo);
 Introdução dos limites de revisão da CRM, introdução de garantias das Constituição
(art.282 e art.292 todos da CRM de 2004)
 Consolidação do sistema presidencial ou presidencialismo.

Constituição da República de Moçambique de 2018 (TPC)

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