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A nova CRM começa por inovar positivamente logo no aspecto formal, dando nova ordemde sequência
aos assuntos tratados e tratando em cada artigo um assunto concreto eantecedido de um título que
facilita a sua localização (o que não acontecia nas Constituiçõesanteriores). Apresenta o seu texto
dividido em 12 títulos, totalizando 306 artigos (a CRM de1990 tinha 7 títulos e 212 artigos no
total).Quanto ao aspecto substancial, verificamos o reforço das directrizes já fixadas para o Estado
moçambicano, como acima se mencionou. De forma meramente exemplificava, pode-se citaralguns
pontos que ajudam a entender tal afirmação, como sejam:
Logo no capítulo I do título primeiro referente aos princípios fundamentais, podemosdestacar para além
do maior ênfase dado a descrição do Estado moçambicano como de justiça social, democrático, entre
outros aspectos de um Estado de Direito, a referênciaconstitucional sobre o reconhecimento do
pluralismo jurídico, o incentivo no uso daslínguas veiculares da nossa sociedade, entre outros;
No âmbito da nacionalidade, destaca-se o facto de o homem estrangeiro poder adquirir nacionalidade
moçambicana pelo casamento (antes só permitido para a mulher estrangeira);
Os direitos e deveres fundamentais dos cidadãos para além de serem reforçados,ganham maior
abrangência. Pode-se citar exemplo de alguns direitos/deveres antes semtratamento constitucional:
direitos dos portadores de deficiência, os deveres para com osemelhante e para com a comunidade, os
direitos da criança, as restrições no uso dainformática, o direito de acção popular, o direito dos
consumidores; Para além do pluralismo jurídico, a importância da autoridade tradicional na
sociedademoçambicana passa a ter reconhecimento constitucional. Pode-se ainda mencionar aterceira
idade, os portadores de deficiência, o ambiente e a qualidade de vida como novos temas tratados pela
constituição;
O capítulo VI do título IV que se dedica ao tratamento do sistema financeiro e fiscal emMoçambique
comporta um tema que antes não tinha tratamento constitucional; É criado um novo órgão político, o
Conselho de Estado e um novo órgão derepresentação democrática, as Assembleias Provinciais. As
garantias dos cidadãos relativamente a actuação da Administração Pública são reforçadas com a criação
do
processo de revisão constitucional é sui generis, pois resultou de um acordo político alcançado entre Sua
Excelência Filipe Jacinto Nyusi, Presi-dente da República, e o Líder da Renamo, Afonso Dhlakama.
Este acordo tinha como objectivo pôr fim o “conflito ar-mado”, que foi desencadeada pela Renamo em
protestos contra os resultados das eleições de 2014.
No processo de diálogo político, que depois evoluiu para uma negociação a Renamo tinha como
principal exigência “governar nas províncias onde teve maioria” ou “indicar Governa-dores para a
províncias onde teve maioria”, uma exigência que não tinha enquadramento legal, pois as eleições de
2014 não visavam a eleição de Governadores provinciais, mas sim a eleiçãodo Presidente da República,
da Assembleia da República e das Assembleias Provinciais, uma previsão constitucional para elei-ção de
Governadores Provinciais. A primeira tentativa de uma iniciativa legislativa para acomodar as exigências
da Renamo foi o projecto de lei para a criação das autarquias provinciais, que foi apresentada pela
Renamo e não foi aprovada por ter sido considerada inconstitucional pela Assembleia da República.
Este projecto de lei foi apresentada pela Renamo apôs dois encontros realizados em dois dias, a 7 de
Fevereiro de 2015, entre o Presidente da República Filipe Nyusi e o Líder da Re-namo na Cidade de
Maputo. Este primeiro encontro permitiu que os Deputados da Re-namo fossem tomar posse na
Assembleia da República, contra aposição inicial que a Renamo havia assumido de não tomar posse, em
protesto contra os resultados eleitorais. O primeiro encontro entre o Presidente da República, Fi-lipe
Nyusi e o Líder da Renamo, Afonso Dhlakama, permitiu ainda reafirmar os princípios estruturantes que
já fazem escola no processo de resolução de conflitos em Moçambique,
designadamente:
A opção pelo diálogo como a melhor via de resolução de conflitos;
O princípio de que o processo de resolução de conflitos deve seguir os trâmites legais;
A necessidade do respeito pelos órgãos legalmente estabe-lecidos;
As negociações não devem partir do paradigma zero, devem decorrer no quadro dos órgãos,
instituições e da ordem jurídica existente.
orge Miranda, Direito Constitucional, Tomo I, 6ª Edição, Coimbra Editora, 1997, pg. 23