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Unidade I

Fontes e Princípios do Direito Eleitoral

1. Conceito de Direito Eleitoral

O Direito Eleitoral, nas precisas palavras de Fávila


Ribeiro, “dedica-se ao estudo das normas e procedimentos que organizam e
disciplinam o funcionamento do poder de sufrágio popular, de modo a que se
estabeleça a precisa equação entre a vontade do povo e a atividade
governamental”.

Assim, o Direito Eleitoral é o ramo do direito público que


cuida do estudo e sistematização dos princípios e normas que disciplinam o
processo eleitoral, composto pelos seguintes atos: direitos políticos ativos e o
alistamento eleitoral – direito ao sufrágio; criação, fusão, incorporação e
extinção de partidos políticos, filiação e fidelidade partidárias; convenção
partidária para a escolha dos candidatos; direitos políticos passivos, as
condições de elegibilidades e as causas de inelegibilidades; a campanha
eleitoral; a votação e a apuração; proclamação e diplomação dos eleitos.

Via de regra, situações ocorridas ou praticadas pelos


candidatos, notadamente os eleitos, após a eleição não repercutem na seara
eleitoral. Entretanto existem duas exceções: a primeira, trata do Recurso
Contra a Expedição do Diploma – RCED – em que se admite que erros na
apuração e a ocorrência das inelegibilidades supervenientes ao registro de
candidatura, bem como as de cunho constitucional, sejam examinados pela
Justiça Eleitoral, mesmo após a diplomação dos eleitos; a segunda, refere-se à
desfiliação partidária, no curso do mandato para o qual foi eleito, como causa
de cassação do mandato eletivo.

Fácil observar, então, que o conteúdo de direito eleitoral é


muito vasto e, para além disso, possui a nobre missão de cumprir um dos mais
sublimes direitos humanos: a participação do povo na formação da vontade do
Estado.

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2. Fontes do Direito Eleitoral

É próprio de qualquer ramo do direito possuir suas fontes.


Tal vocábulo – fontes – deve ser entendido como o lugar em que surge, brota,
o ramo do direito.

As fontes do Direito Eleitoral podem ser divididas em:


fontes primárias, principais ou diretas ou fontes secundárias, ou indiretas.

2.1 Fontes Primárias

a) Constituição Federal: o constitucionalista Dirley da


Cunha Júnior assim conceitua a Constituição:

“[C]omo um conjunto de normas jurídicas supremas que


estabelecem o fundamentos de organização do Estado e
da Sociedade, dispondo e regulando a forma de Estado, a
forma e sistema de governo, o seu regime político, seus
objetivos fundamentais, o modo de aquisição e
exercício do poder, a composição, as competências e o
funcionamento de seus órgãos, os limites de sua atuação
e a responsabilidade de seus dirigentes, e fixando uma
declaração de direitos e garantias fundamentais e as
principais regras de convivência social”1.

Ora, pelo conceito acima transcrito já é possível


constatarmos que o Direito Eleitoral busca não apenas sua fonte, mas também,
e principalmente, sua razão de existir na Constituição.

Com efeito, o artigo 1º, parágrafo único, da Carta


Constitucional já prediz que “[t]odo poder emana do povo, que o exerce por

1
JÚNIOR, Dirley da Cunha. Curso de Direito Constitucional. Jus Podium, 2011, p.75.

2
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

Avançando um pouco, em seu artigo 12 são estabelecidas


as regras atinentes à aquisição da nacionalidade brasileira, tendo-se como
regra o jus sanguinis e o jus solis.

Já no artigo 14, caput, §§ 1º e 2º são estabelecidos os


direitos políticos ativos – direito de votar; e no § 3º a chamadas condições de
elegibilidade e nos §§ 4º, 5º, 6º, 7º e 8º, as inelegibilidades constitucionais e no
§ 9º uma determinação para que Lei Complementar estabeleça outras causas
de inelegibilidades. Temos nos §§ 10 e 11 a instituição da Ação de Impugnação
de Mandato Eletivo (AIME), destinada a assegurar a realização de eleições
livres do abuso do poder econômico, corrupção e fraude.

No artigo 15 é estabelecida a vedação de cassação dos


direitos políticos, prevendo, porém, hipóteses de perda ou de suspensão de
tais direitos.

O artigo 16 contém um dos mais importantes postulados


do Direito Eleitoral que é o princípio da anterioridade eleitoral, cujo conteúdo e
alcance será tratado a seu devido tempo.

No que se refere aos partidos políticos, cuidou o artigo 17,


estatuindo diretrizes básicas e princípios orientadores do legislador
infraconstitucional.

b) Código Eleitoral: editada em 1965, a Lei 4.737 foi


parcialmente recepcionada2 pela Constituição Federal e, nesta parte, com
dupla natureza: parte como Lei Complementar – organização e competência da
Justiça Eleitoral; e parte como Lei Ordinária – os demais assuntos. Por isso se
diz que o Código Eleitoral possui natureza hibrida.

Interessante notar que o Código Eleitoral foi editado em


plena ditadura militar, daí porque muitas de suas regras possuem caráter
extremamente antidemocrático. Por esse motivo, várias dessas normas não

2
As normas editadas anteriormente à Constituição vigente, nos termos da teoria adotada pelo Supremo
Tribunal Federal, são recepcionadas, quando materialmente compatíveis com a Carta Maior, ou não
recepcionadas, quando materialmente incompatíveis.

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foram recepcionadas pelas Constituição Federal. Cito, a título de ilustração,
apenas um exemplo: o artigo 5º, parágrafo único, que permite o direito ao voto
apenas aos “oficiais, aspirantes a oficiais, guarda-marinha, subtenentes ou
suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de ensino superior para
formação de oficiais”, excluindo mais de 50% do efetivo militar, eis que os
soldados e os cabos não poderiam se alistar como eleitores.

c) Lei das Inelegibilidades – Lei Complementar 64/90:


essa lei veio regulamentar o artigo 14, § 9º, da Constituição Federal:

Art. 14 (...)

§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de


inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de
proteger a probidade administrativa, a moralidade para
exercício de mandato considerada vida pregressa do
candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições
contra a influência do poder econômico ou o abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração
direta ou indireta.

Nos termos do § 9º acima transcrito, somente a espécie


normativa “Lei Complementar” pode criar novas causas de inelegibilidades.
Como se verá no momento oportuno, as inelegibilidades não significam que a
pessoa tenha cometido alguma irregularidade, muito pelo contrário, algumas
delas decorrerem de situações estranhas à própria pessoa, já em outras,
decorrem do exercício de função ou cargo público por determinado período.

A LC 64/90 sofreu drástica alteração pela Lei


Complementar 135/2010 – Lei da Ficha Limpa – que criou novas hipóteses de
inelegibilidades e, o mais importante, aumentou o tempo daquelas já
existentes.

A Lei Complementar 64/90 prevê, ainda, a Ação de


Impugnação do Registro de Candidatura, bem como a Ação de Investigação
Judicial Eleitoral, que serão estudadas atempadamente.

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d) Lei dos Partidos Políticos – Lei 9.096/95: disciplina o
artigo 17 da Constituição Federal e estabelece as regras para a criação, fusão,
incorporação e extinção dos partidos políticos, estatuto e programas
partidários, além da filiação partidária.

Esse mesmo diploma legal ainda dispõe sobre o acesso


ao rádio e à televisão, à participação no processo eleitoral, ao fundo partidário
e sobre a arrecadação e aos gastos advindos com a atividade partidária.

e) Lei das Eleições – Lei 9.504/97: essa lei tem o grande


mérito de trazer perenidade para as eleições. Ao menos quanto à questão da
inovação legislativa, possibilitando, ainda, o aumento exponencial da literatura
eleitoral em nosso país.

Anteriormente à essa Lei, para cada eleição era editada


um Diploma Legal específico, respeitando o princípio da anualidade estampado
no artigo 16 da Constituição Federal. Tal situação era duplamente incômoda,
por um lado, os partidos e candidatos, e o próprio eleitoral não possuíam
segurança jurídica quanto à regra que seria aplicada no pleito eleitoral
vindouro; de outro lado, desmotivava que estudiosos escrevessem sobre o
Direito Eleitoral, exatamente porque não havia garantia de que aquela obra
seria aproveitada no pleito posterior.

A Lei 9.504/97, desde a sua edição, já sofreu várias


alterações. A primeira delas foi com a Lei 9.840/99, introduzindo o artigo 41-A
que prevê a perda do registro ou do diploma para o candidato beneficiado com
a captação ilícita de sufrágio. A seguinte foi a Lei 11.300/2006, que dentre
outras inovações proibiu a distribuição de brindes aos eleitores, bem como a
realização de showmício. As duas seguintes, as Lei 12.043/2009 e 12.891/13
tiveram objetivo muito semelhantes, já que ambas cuidaram de positivar a
jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral ou, ao contrário, legislar de modo a
afastar a incidência da jurisprudência da Justiça Eleitoral na campanha
eleitoral.

Em 2015 foi editada a Lei 13.165, que entrou em vigor em

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29 de setembro de 2015, alterando vários dispositivos do Código Eleitoral, da
Lei 9.096/95 e da Lei 9.504/97. E em 2017 foi promulgada a Lei 13.488, que
alterou o tempo de domicílio eleitoral para a candidatura, dentre outras
inovações trazidas. Neste mesmo ano foi promulgada a Lei 13.487, que criou o
Fundo Especial de Financiamento de Campanha, destinado, como o próprio
nome está a indicar, o financiamento público para as campanhas eleitorais no
Brasil.

Mais recentemente foram editadas as Lei 13.877/2019 e


13.878/2019, criaram novas regras para o financiamento das campanhas
eleitorais.

f) Resoluções do Tribunal Superior Eleitoral: o Código


Eleitoral, em seu artigo 23, IX, prevê a competência do TSE para “expedir as
instruções que julgar convenientes à execução deste Código”. Com isso o TSE
poderia, ou deveria, expedir resoluções com o objetivo de tão somente
regulamentar a legislação eleitoral, não podendo, portanto, inovar criando
obrigações ou restringindo direitos.

Entretanto, o TSE era, e é, prodigioso em inovar no


ordenamento jurídico, criando, por inúmeras vezes, restrições de direitos.

Visando combater essa usurpação de competências, já


que a inovação no ordenamento jurídico é de atribuição do Congresso
Nacional, a Lei 12.034/2009 deu nova redação ao artigo 105, da Lei 9.504/97,
determinando que as Resoluções deverão ser editadas até 05 de março do ano
da eleição e não poderão “restringir diretos ou estabelecer sanções distintas
das previstas”.

Com a novel redação, o Tribunal Superior Eleitoral


deverá, ainda, ouvir previamente, em audiência pública, os delegados ou
representantes dos partidos políticos.

Há, também, outro uso para as resoluções. Nos termos do


artigo 23, XII, do Código Eleitoral, compete ao TSE responder, sobre matéria
eleitoral, às consultas que lhe forem feitas em tese por autoridade pública
federal ou órgão nacional de partido político. Assim, além de regulamentar a

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legislação eleitoral, as Resoluções são o instrumento pelo qual o Tribunal
Superior Eleitoral responde às consultas que lhe forem formuladas.

g) jurisprudência eleitoral: existem dois grandes


sistemas jurídicos, o da commom law e o da civil law. Enquanto no segundo a
fonte principal do direito é a legislação, no segundo tem maior força o
precedente judicial.

O Brasil adota o sistema da civil law, somente com a


reforma do Poder Judiciário – Emenda Constitucional nº 45 – criou-se a
possibilidade de o Supremo Tribunal Federal editar súmulas vinculantes, de
observância obrigatória para a administração pública e para os demais órgãos
do Poder Judiciário.

Em que pese isso, a Justiça Eleitoral é o ramo do Poder Judiciário


brasileiro que mais se aproxima da commom law, e isso decorre da celeridade
empregada aos feitos eleitorais, de modo que os processos transitam em
julgado, em sua maioria, antes do final do ano eleitoral, de modo que os
demais órgãos da Justiça Eleitoral tendem a seguir a orientação do Tribunal
Superior Eleitoral.

2.2 Fontes Secundárias ou indiretas

São consideradas fontes secundárias, ou indiretas, todas


as leis que regulamentam outros ramos do direito, mas que detenham alguma
relação com o direito eleitoral. Desta forma, por exemplo, são fontes
secundárias o código penal, processual penal, civil e processual civil, além do
código tributário.

3. Princípios do Direito Eleitoral

a) princípio da anualidade ou da anterioridade da lei

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eleitoral.

Numa tentativa de se evitar a edição, em pleno processo


eleitoral, de leis casuísticas, assim entendidas aqueles destinadas a beneficiar
ou prejudicar, deliberadamente, determinado candidato, o constituinte fez
constar o artigo 16 da Constituição Federal, alterado pela EC nº 4/93,
passando a ter a seguinte redação:

Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em


vigor na data de sua publicação, não se aplicando à
eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. 

O princípio da anualidade determina que a lei que alterar


o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, porém
somente será aplicada para a eleição que ocorra a mais de um ano daquela
data. Pretende com isso evitar a edição de normas casuísticas, isto é, feitas
apenas para prejudicar ou beneficiar determinada candidatura.

O problema, aqui, reside na interpretação a ser dada à


expressão “processo eleitoral”. A falta de clareza ao determinar o alcance do
processo eleitoral causa grave insegurança jurídica.

Por exemplo, a Lei 11.300/2006, trouxe enormes


inovações à Lei das Eleições, vedando a realização de showmícios, de
distribuição de brindes aos eleitores e, ainda, acrescentou uma sanção à
ilicitude ainda não contemplada na norma – arrecadação e gastos ilícitos de
recursos agora são punidos com a cassação do diploma do candidato.

Nada obstante ela tenha sido publicada no dia 10 de maio


de 2006, foi aplicada nas eleições daquele ano, pois o Tribunal Superior
Eleitoral entendeu que não houve alteração do processo eleitoral.

Também se entendeu que a Lei Complementar 135,


publicada no dia 04 de junho de 2010, que trazia novas hipóteses de
inelegibilidades, além de aumentar o tempo de duração das já existentes, não
alterou o processo eleitoral.

Porém, o julgamento no Supremo Tribunal Federal, sobre

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a aplicação imediata da novel lei ficou empatado em 5X5, eis que contava
apenas com 10 membros. Quando finalmente voltou a julgamento, decidiu-se
que houve alteração no processo eleitoral, por isso a norma somente poderia
valer a partir das eleições de 2010.

Editada a Lei 12.891, publicada em 11 de dezembro de


2013, que apenas cuidou de positivar algumas jurisprudências do Tribunal
Superior Eleitoral, a Suprema Corte Eleitoral entendeu que houve alteração do
processo eleitoral e que ela somente poderia ser aplicada a partir das eleições
de 2016.

Vê-se, assim, que não há um critério específico para a


aplicação do princípio. Melhor seria retirar a expressão “que alterar o processo
eleitoral”, ficando assim a redação do artigo 16:

Art. 16. A lei eleitoral entrará em vigor na data de sua


publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um
ano da data de sua vigência. 

De outro norte, tem-se entendido que o vocábulo lei,


refere-se à todas as espécies normativas, inclusive às emendas
Constitucionais.

b) democracia e democracia partidária

O Direito Eleitoral é fruto da democracia, sendo ilógico


defender a existência de tal ramo do direito em regime autoritário. Pelo
princípio da democracia, se exige que todas as normas sejam interpretadas no
sentido de se garantir a maior participação do cidadão, como protagonista do
prélio eleitoral.

Já o princípio da democracia partidária é fruto do sistema


que temos aqui no Brasil, em que os partidos detém o monopólio da escolha
dos candidatos para somente após serem escolhidos pelo eleitorado.

É que não existe, no Brasil, a chamada candidatura


avulsa, eis que a Constituição Federal estabelece, como condição de
elegibilidade, a filiação partidária.

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Mais, o Tribunal Superior Eleitoral, cumprindo
determinação do Supremo Tribunal Federal ao julgar os Mandados de
Segurança 26.602, 26.603 e 26.604, editou a Resolução TSE 22.610/2007
prevê a perda do mandato eletivo do mandatário que desfiliar do partido político
no curso do mandato.

Deste modo, os partidos políticos no país assumem uma


posição de extrema relevância.

c) Estado Democrático de Direito

O Estado Democrático de Direito é marcado pela atuação


do Estado que elabora as leis, como ato de escolha do próprio povo, se
submetendo à essas mesmas leis. Assim, têm-se a submissão do Estado ao
Direito por ele criado democraticamente, isto é, com a participação do povo,
que poderá ser indireta (através de representantes) ou diretamente
(instrumentos de democracia direta).

Por outras palavras, o Estado cria as leis que irão reger


as atuações dos particulares e, também, do próprio Estado.

d) princípio republicano

O Brasil adota a República como forma de Estado em


contraposição à forma Monárquica.

Podemos apontar as seguintes distinções entre a


República e a Monarquia:

MONARQUIA REPÚBLICA

Forma de aquisição do poder Hereditariedade Eletividade

Duração no poder Vitalício Cumpre mandato com tempo


pré-determinado

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Responsabilidade Não é responsável Tem responsabilidade política
politicamente por seus e jurídica sobre os seus atos
atos

Assim, o governante na República, assume o poder


através do voto popular, por outras palavras, é eleito. Exercerá o poder na
duração de um mandato, por isso temporário, e, o que fizer neste período, será
objeto de responsabilização.

e) sufrágio universal

Sufrágio é o direito público subjetivo que determinado


conjunto de pessoas tem de participar da vida política da sociedade, seja
escolhendo os governantes, seja sendo escolhido para esse mister. Em outros
termos, o sufrágio é o direito de votar e ser votado.

O sufrágio pode se classificar em universal ou restrito: tal


classificação observa a quantidade de pessoas escolhidas para exercer o
direito. De notar que o termo universal não significa que todos terão acesso a
tal direito, mas que esse direito deve ser exercido pela maior parte dos
nacionais.

As restrições, historicamente, variavam de país para país,


de tempos para tempos. Assim, num primeiro momento, apenas o homem livre
poderia exercer tal direito – Athenas –; o homem que tivesse determinado
patrimônio; a pessoa deveria ter determinada cor; determinado gênero era
excluído; e, por fim, o grau de instrução também era fator de restrição ao
direito.

O sufrágio também se classifica em igual ou desigual.


Nessa classificação o que se observa é que a determinado grupo de pessoas
será dado um peso diferencial do voto, em detrimento de outra parcela da
sociedade. Ocorre, atualmente, por exemplo, nas eleições, nas universidades,
para a escolha do magnífico reitor.

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Uma observação deve ser feita: não se confunde o
sufrágio, com o voto. O sufrágio é o direito de votar, já o voto, é o exercício do
direito.

O voto tem as seguintes características: é


personalíssimo, já que apenas o eleitor pode votar; é livre, não pode existir
coação ou impedimento ao exercício do voto; é secreto, apenas o eleitor sabe
em quem ele votou; é direto, eis que o eleitor escolhe diretamente o seu
governante; é periódico, de tempos em tempos o eleitor deverá comparecer
para escolher novos governantes; e, por fim, tem valor igual para todos os
eleitores.

f) legitimidade

Esse princípio exige que o governante seja escolhido pelo


povo de modo a representar a sua vontade, ou pelo menos a vontade da
maioria. Exige, ainda, que a eleição tenha transcorrido sem a intervenção de
abuso, desvio ou uso indevido, do poder econômico e/ou político.

A ocorrência de algum fato que interfira na legitimidade da


eleição impõe a sua anulação.

Outra vertente da legitimidade é a possibilidade de ser


haver 2º turno. Nas eleições para presidente e governador de Estado, sempre
que nenhum dos candidatos obtiver a maioria absoluta dos votos válidos, isto
é, 50%+1voto, será realizada uma nova eleição com os dois candidatos mais
bem votados.

Já para prefeito, somente se utilizará esse sistema nos


municípios com mais de 200 mil eleitores. Nos demais, se resolve no primeiro
turno.

g) moralidade e probidade

Esses dois princípios exigem que a pessoa que almeje


concorrer a algum cargo público eletivo tenha uma vida pública lastrada em
atos morais e honestos. A imoralidade e a improbidade constituem hipóteses

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de inelegibilidade, previstas na Lei Complementar 64/90.

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Unidade II

Justiça Eleitoral

1. Introdução

Os órgãos da Justiça Eleitoral estão previstos no artigo 118 da


Constituição Federal, quais sejam: o Tribunal Superior Eleitoral, os Tribunais
Regionais Eleitorais, os Juízes e Juntas Eleitorais.

No artigo 119 prevê a composição do Tribunal Superior


Eleitoral, e no artigo 120 a dos Tribunais Regionais Eleitorais.

O artigo 121 cuida de apresentar os direitos dos membros


dos tribunais, os juízes de direito e dos integrantes das juntas eleitorais.
Estabeleceu-se, ainda, o prazo do mandato dos membros dos tribunais – 2
anos, prorrogável por no máximo 2 biênios consecutivos –, além de dispor
sobre as hipóteses de recursos das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais
e do Tribunal Superior Eleitoral.

O Código Eleitoral, Lei 4.737/65 também se ocupa de


disciplinar os órgãos da Justiça Eleitoral, em sua composição, competência,
iniciando no artigo 12 e se estendendo até o artigo 41.

Como se verá adiante, uma das principais características


da Justiça Eleitoral é a ausência de membros permanentes. Todos os
integrantes da Justiça Eleitoral são temporários, eis que cumprem mandato
mínimo de 2 anos, prorrogável por, no máximo, mais 1 biênio, totalizando o
limite de 2 biênios consecutivos.

Nos próximos tópicos cuidaremos de cada um dos órgãos


da Justiça Eleitoral.

2. Tribunal Superior Eleitoral

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O Tribunal Superior Eleitoral é o órgão de cúpula da
Justiça Eleitoral. De se observar que é uma Corte Superior, mas não é
Supremo. Assim, de suas decisões é possível a interposição de recurso para a
instância superior, isto é, para o Supremo Tribunal Federal. Porém, apenas nas
hipóteses estabelecidas no artigo 121, § 3º, da Constituição Federal, quais
sejam: as que contrariarem a Constituição, as denegatórias de habeas corpus
ou mandado de segurança. Todas as demais decisões são irrecorríveis.

A composição do Tribunal Superior Eleitoral será de, no


mínimo, sete membros, sendo: 03, dentre os ministros do Supremo Tribunal
Federal; 02, dentre os ministros do Superior Tribunal de Justiça e 2 advogados.

Os ministros oriundos do Supremo Tribunal Federal e do


Superior Tribunal de Justiça serão escolhidos em votação secreta pelo tribunal
de origem. Por outras palavras eles serão eleitos no tribunal a que pertencem.

Já os membros do Tribunal Superior Eleitoral oriundos da


advocacia serão nomeados pela Presidência da República dentre os
integrantes de uma lista com seis nomes elaborada pelo Supremo Tribunal
Federal. Para integrar essa lista, o advogado deve possuir notável saber
jurídico e idoneidade moral.

Assim, temos duas formas de escolhas dos membros do


Tribunal Superior Eleitoral: a eleição – membros oriundos do STF e do STJ –
ou nomeação – membros oriundos da advocacia.

Entre os membros do Tribunal Superior Eleitoral não pode


existir parentesco, ainda que por afinidade, até o 4º, seja o vínculo legítimo ou
ilegítimo. Será excluído o que tiver sido escolhido por último.

Os membros do Tribunal Superior Eleitoral oriundos da


advocacia não podem ocupar cargo público de que seja demissível ad nutum
(cargo em comissão) ou que seja diretor, proprietário ou sócio de empresa
beneficiada com subvenção, privilegio, isenção ou favor em virtude de contrato
com a administração pública; ou que exerça mandato de caráter político,
federal, estadual ou municipal.

Caberá ao Tribunal Superior Eleitoral eleger o seu


presidente e vice-presidente – escolhidos dentre os ministros oriundos do STF

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– e o Corregedor Geral Eleitoral – escolhido dentre os ministros oriundos do
STJ.

Note-se que embora não conste do artigo 12, § 3º, da


Constituição Federal, os cargos de presidente e vice-presidente do Tribunal
Superior Eleitoral são, também, privativos de brasileiros natos.

As atribuições do Corregedor Regional Eleitoral serão


estabelecidas por ato do Tribunal Superior Eleitoral. Os provimentos emanados
da Corregedoria Geral vinculam os Corregedores Regionais, que lhes devem
dar imediato e preciso cumprimento.

No desempenho de suas atribuições o Corregedor Geral


se locomoverá para os Estados: a) por determinação do Tribunal Superior
Eleitoral; b) a pedido dos Tribunais Regionais Eleitorais; c) a requerimento de
Partido deferido pelo Tribunal Superior Eleitoral; d) sempre que entender
necessário.

Em qualquer dessas hipóteses o Procurador Geral


Eleitoral poderá acompanhar o Corregedor Geral, quando for solicitado.

O Tribunal Superior Eleitoral deliberará por maioria de


votos, em sessão pública, com a presença da maioria de seus membros, isto é,
com 4 membros.

As decisões do Tribunal Superior Eleitoral quando se


referirem à interpretação do Código Eleitoral em face da Constituição e
cassação de registro de partidos políticos, bem como sobre quaisquer recursos
que importem anulação geral de eleições ou perda de diplomas, só poderão ser
tomadas com a presença de todos os seus membros. Se ocorrer impedimento
de algum juiz, será convocado o substituto ou o respectivo suplente. Deste
modo, a decisão será tomada pela maioria absoluta de seus membros. Nas
demais matérias, a decisão é tomada pela maioria simples de seus membros.

Perante o Tribunal Superior Eleitoral, qualquer


interessado poderá arguir o impedimento ou a suspeição dos seus membros.
As causas de impedimento estão previstas no artigo 144 e as de suspeição no
artigo 145, ambos do Código de Processo Civil.

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As mesmas causas de impedimento ou de suspeição de
algum dos membros do Tribunal são extensíveis ao Procurador Geral e aos
servidores de sua Secretaria.

O processamento da exceção de impedimento ou de


suspeição será determinado pelo Regimento Interno do Tribunal.

Se o excipiente tiver provocado o impedimento ou a


suspeição, ou, ainda, depois de manifestada a causa, praticar ato que importe
aceitação do arguido, não poderá apresentar a exceção.

2.1 Competência do Tribunal Superior Eleitoral

Nos termos do artigo 121, caput, a competência da


Justiça Eleitoral será definida por Lei Complementar. Por esse motivo, o
Código Eleitoral, na parte em que estabelece a organização e a competência
da Justiça Eleitoral ele foi recepcionado como Lei Complementar.

A competência do Tribunal Superior Eleitoral encontra-se


prevista nos artigos 22 e 23 do Código Eleitoral, in verbis:

Art. 22. Compete ao Tribunal Superior:

I - Processar e julgar originariamente:

a) o registro e a cassação de registro de partidos


políticos, dos seus diretórios nacionais e de candidatos
à Presidência e vice-presidência da República;

b) os conflitos de jurisdição entre Tribunais Regionais e


juízes eleitorais de Estados diferentes;

c) a suspeição ou impedimento aos seus membros, ao


Procurador Geral e aos funcionários da sua Secretaria;

d) os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem


conexos cometidos pelos seus próprios juízes e pelos
juízes dos Tribunais Regionais;

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Essa competência criminal não foi recepcionada pela
Constituição Federal, logo o Tribunal Superior
Eleitoral não pode julgar, originariamente, ação penal.

e) o habeas corpus ou mandado de segurança, em


matéria eleitoral, relativos a atos do Presidente da
República, dos Ministros de Estado e dos Tribunais
Regionais; ou, ainda, o habeas corpus, quando houver
perigo de se consumar a violência antes que o juiz
competente possa prover sobre a impetração; 

f) as reclamações relativas a obrigações impostas por lei


aos partidos políticos, quanto à sua contabilidade e à
apuração da origem dos seus recursos;

g) as impugnações á apuração do resultado geral,


proclamação dos eleitos e expedição de diploma na
eleição de Presidente e Vice-Presidente da República;

h) os pedidos de desaforamento dos feitos não decididos


nos Tribunais Regionais dentro de trinta dias da
conclusão ao relator, formulados por partido, candidato,
Ministério Público ou parte legitimamente interessada. 

i) as reclamações contra os seus próprios juízes que, no


prazo de trinta dias a contar da conclusão, não houverem
julgado os feitos a eles distribuídos.

j) a ação rescisória, nos casos de inelegibilidade,


desde que intentada dentro de cento e vinte dias de
decisão irrecorrível, possibilitando-se o exercício do
mandato eletivo até o seu trânsito em julgado. (a parte
sublinhada foi considerada inconstitucional).

II - julgar os recursos interpostos das decisões dos


Tribunais Regionais nos termos do Art. 276 inclusive os
que versarem matéria administrativa.

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As hipóteses de recursos cabíveis para o Tribunal
Superior Eleitoral estão previstas no artigo 121, § 4º, da Constituição Federal.
Duas são as espécies de recursos: o Ordinário, em que é possível o reexame
de fatos e provas; e o Especial, em que se busca a uniformização da
jurisprudência, a correta aplicação da legislação federal ou da Constituição
Federal.

Caberá o Recurso Ordinário para o TSE: decisão que


versar sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas eleições estaduais
ou federais; anular diplomas ou decretarem a perda de mandatos eletivos
federais ou estaduais; denegarem habeas corpus, mandato de segurança,
habeas data ou mandato de injunção.

Já o Recurso Especial será cabível em face de decisões


de TRE que forem proferidas contra disposição expressa da Constituição ou de
lei; ou ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois ou mais tribunais
eleitorais.

O artigo 23 do Código Eleitoral prevê, ainda, as seguintes


competências, agora de caráter nitidamente administrativo. Veja-se:

Art. 23 - Compete, ainda, privativamente, ao Tribunal


Superior,

I - elaborar o seu regimento interno;

II - organizar a sua Secretaria e a Corregedoria Geral,


propondo ao Congresso Nacional a criação ou extinção
dos cargos administrativos e a fixação dos respectivos
vencimentos, provendo-os na forma da lei;

III - conceder aos seus membros licença e férias assim


como afastamento do exercício dos cargos efetivos;

IV - aprovar o afastamento do exercício dos cargos


efetivos dos juízes dos Tribunais Regionais Eleitorais;

V - propor a criação de Tribunal Regional na sede de


qualquer dos Territórios;

19
VI - propor ao Poder Legislativo o aumento do número
dos juízes de qualquer Tribunal Eleitoral, indicando a
forma desse aumento;

VII - fixar as datas para as eleições de Presidente e


Vice-Presidente da República, senadores e deputados
federais, quando não o tiverem sido por lei:

VIII - aprovar a divisão dos Estados em zonas eleitorais


ou a criação de novas zonas;

IX - expedir as instruções que julgar convenientes à


execução deste Código;

X - fixar a diária do Corregedor Geral, dos Corregedores


Regionais e auxiliares em diligência fora da sede;

XI - enviar ao Presidente da República a lista tríplice


organizada pelos Tribunais de Justiça nos termos do ar.
25;

XII - responder, sobre matéria eleitoral, às consultas


que lhe forem feitas em tese por autoridade com
jurisdição, federal ou órgão nacional de partido
político;

XIII - autorizar a contagem dos votos pelas mesas


receptoras nos Estados em que essa providência for
solicitada pelo Tribunal Regional respectivo;

XIV - requisitar a força federal necessária ao


cumprimento da lei, de suas próprias decisões ou das
decisões dos Tribunais Regionais que o solicitarem, e
para garantir a votação e a apuração;

XV - organizar e divulgar a Súmula de sua jurisprudência;

XVI - requisitar funcionários da União e do Distrito Federal


quando o exigir o acúmulo ocasional do serviço de sua
Secretaria;

20
XVII - publicar um boletim eleitoral;

XVIII - tomar quaisquer outras providências que julgar


convenientes à execução da legislação eleitoral.

Duas observações sobre essa competência


administrativa:

Primeiro, as datas de realização das eleições já são


definidas pela Constituição Federal, quais sejam: primeiro e último domingos,
primeiro e segundo turnos, do mês de outubro do ultimo ano do mandato.

O Tribunal Superior Eleitoral somente deverá determinar a


data de eleições suplementares para o cargo de presidente e vice-presidente
da República, quando houve a cassação deles por algum ilícito eleitoral.

Segundo, algo que é bastante peculiar e específico da


Justiça Eleitoral: responder a questionamentos, em tese, isto é, não se tratará
de caso concreto, feito sobre matéria eleitoral por autoridade pública federal ou
diretório nacional de partido político. Não há outro órgão do Poder Judiciário
com tal atribuição.

3. Tribunais Regionais Eleitorais

Cada Estado e o Distrito Federal terá o seu Tribunal


Regional Eleitoral, sediado na Capital do Estado. É possível a criação de um
Tribunal Regional Eleitoral, por proposta do Tribunal Superior Eleitoral, em
Território Federal. Ocorre, entretanto, que desde a Constituição Federal de
1988 não há mais Territórios Federais.

Nos termos do artigo 120, § 1º, da Constituição Federal,


cada Tribunal Regional Eleitoral será composto por 07 membros:

a) 02 Desembargadores, escolhidos pelo Tribunal de


Justiça do Estado;

b) 02 Juízes de Direito, escolhidos pelo Tribunal de


Justiça do Estado;

c) 01 Juiz do Tribunal Regional Federal, onde houver, se

21
não houve, 01 Juiz Federal, em qualquer dos casos, o TRF respectivo fará a
escolha.

Nessas três classes, a escolha será feita pelo Tribunal de


origem ou que eles estejam vinculados. Será feita uma eleição secreta para a
escolha dos membros.

d) 02 Juízes, dentre advogados nomeados pelo


Presidente da República, em lista sêxtupla elaborada pelo Tribunal de Justiça
do Estado.

Para cada vaga de juiz advindo da advocacia será


elaborada uma lista tríplice, isso porque a lista sêxtupla é para os dois cargos.
Cabe ao Tribunal de Justiça do Estado elaborar a lista e encaminhar para o
Tribunal Superior Eleitoral, que lhe dará publicidade por meio de edital.

Duas observações: se não forem preenchidos os


requisitos constitucionais e legais, o Tribunal Superior Eleitoral poderá rejeitar o
nome de ofício; não poderão integrar essa lista magistrado aposentado ou
membro do Ministério Público.

Entre os membros do Tribunal Regional Eleitoral não


pode existir parentesco, ainda que por afinidade, até o 4º, seja o vínculo
legítimo ou ilegítimo. Será excluído o que tiver sido escolhido por último.

Os membros do Tribunal Regional Eleitoral oriundos da


advocacia não podem ocupar cargo público de que seja demissível ad nutum
(cargo em comissão) ou que seja diretor, proprietário ou sócio de empresa
beneficiada com subvenção, privilegio, isenção ou favor em virtude de contrato
com a administração pública; ou que exerça mandato de caráter político,
federal, estadual ou municipal.

Caberá ao Tribunal Regional Eleitoral eleger o seu


presidente e vice-presidente – escolhidos dentre os desembargadores oriundos
do Tribunal de Justiça. Quanto ao Corregedor Regional Eleitoral, a escolha
será feita nos termos do Regimento Interno de cada Regional.

As atribuições do Corregedor Regional Eleitoral serão


estabelecidas por ato do Tribunal Superior Eleitoral, e, em caráter supletivo ou

22
complementar, por ato do Regional respectivo. Os provimentos emanados da
Corregedoria Regional vinculam os juízes eleitorais do Estado que lhes devem
dar imediato e preciso cumprimento.

No desempenho de suas atribuições o Corregedor


Regional se locomoverá para os Estados: a) por determinação do Tribunal
Regional Eleitoral; b) a pedido dos juízes eleitorais; c) a requerimento de
Partido deferido pelo Tribunal Regional Eleitoral; d) sempre que entender
necessário.

Em qualquer dessas hipóteses o Procurador Regional


Eleitoral poderá acompanhar o Corregedor, quando for solicitado.

O Tribunal Regional Eleitoral deliberará por maioria de


votos, em sessão pública, com a presença da maioria de seus membros, isto é,
com 4 membros. Contudo, quando se tratar de julgamento que pode resultar no
indeferimento de registro de candidatura, cassação do registro de candidatura
ou do diploma, devem se fazer presentes todos os membros da Corte.

No caso de impedimento ou suspeição de algum membro


do TRE, e não havendo quórum, será o membro do Tribunal substituído por
outro da mesma categoria.

3.1 Competência dos Tribunais Regionais Eleitorais

A competência dos Tribunais Regionais Eleitorais


encontra-se prevista nos artigos 29 e 30 do Código Eleitoral.

Art. 29. Compete aos Tribunais Regionais:

I - processar e julgar originariamente:

a) o registro e o cancelamento do registro dos diretórios


estaduais e municipais de partidos políticos, bem como de
candidatos a Governador, Vice-Governadores, e membro
do Congresso Nacional e das Assembleias Legislativas;

23
b) os conflitos de jurisdição entre juízes eleitorais do
respectivo Estado;

c) a suspeição ou impedimentos aos seus membros ao


Procurador Regional e aos funcionários da sua Secretaria
assim como aos juízes e escrivães eleitorais;

d) os crimes eleitorais cometidos pelos juízes eleitorais;

e) o habeas corpus ou mandado de segurança, em


matéria eleitoral, contra ato de autoridades que
respondam perante os Tribunais de Justiça por crime de
responsabilidade e, em grau de recurso, os denegados ou
concedidos pelos juízes eleitorais; ou, ainda, o habeas
corpus quando houver perigo de se consumar a violência
antes que o juiz competente possa prover sobre a
impetração;

f) as reclamações relativas a obrigações impostas por lei


aos partidos políticos, quanto a sua contabilidade e à
apuração da origem dos seus recursos;

g) os pedidos de desaforamento dos feitos não decididos


pelos juízes eleitorais em trinta dias da sua conclusão
para julgamento, formulados por partido candidato
Ministério Público ou parte legitimamente interessada sem
prejuízo das sanções decorrentes do excesso de prazo.

II - julgar os recursos interpostos:

a) dos atos e das decisões proferidas pelos juízes e juntas


eleitorais.

b) das decisões dos juízes eleitorais que concederem ou


denegarem habeas corpus ou mandado de segurança.

Art. 30. Compete, ainda, privativamente, aos Tribunais


Regionais:

24
I - elaborar o seu regimento interno;

II - organizar a sua Secretaria e a Corregedoria Regional


provendo-lhes os cargos na forma da lei, e propor ao
Congresso Nacional, por intermédio do Tribunal Superior
a criação ou supressão de cargos e a fixação dos
respectivos vencimentos;

III - conceder aos seus membros e aos juizes eleitorais


licença e férias, assim como afastamento do exercício dos
cargos efetivos submetendo, quanto aqueles, a decisão à
aprovação do Tribunal Superior Eleitoral;

IV - fixar a data das eleições de Governador e Vice-


Governador, deputados estaduais, prefeitos, vice-prefeitos
, vereadores e juízes de paz, quando não determinada por
disposição constitucional ou legal;

V - constituir as juntas eleitorais e designar a respectiva


sede e jurisdição;

VI - indicar ao tribunal Superior as zonas eleitorais ou


seções em que a contagem dos votos deva ser feita pela
mesa receptora;

VII - apurar com os resultados parciais enviados pelas


juntas eleitorais, os resultados finais das eleições de
Governador e Vice-Governador de membros do
Congresso Nacional e expedir os respectivos diplomas,
remetendo dentro do prazo de 10 (dez) dias após a
diplomação, ao Tribunal Superior, cópia das atas de seus
trabalhos;

VIII - responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que


lhe forem feitas, em tese, por autoridade pública ou
partido político;

25
IX - dividir a respectiva circunscrição em zonas eleitorais,
submetendo essa divisão, assim como a criação de novas
zonas, à aprovação do Tribunal Superior;

X - aprovar a designação do Ofício de Justiça que deva


responder pela escrivania eleitoral durante o biênio;

XII - requisitar a força necessária ao cumprimento de suas


decisões solicitar ao Tribunal Superior a requisição de
força federal;

XIII - autorizar, no Distrito Federal e nas capitais dos


Estados, ao seu presidente e, no interior, aos juizes
eleitorais, a requisição de funcionários federais, estaduais
ou municipais para auxiliarem os escrivães eleitorais,
quando o exigir o acúmulo ocasional do serviço;

XIV - requisitar funcionários da União e, ainda, no Distrito


Federal e em cada Estado ou Território, funcionários dos
respectivos quadros administrativos, no caso de acúmulo
ocasional de serviço de suas Secretarias;

XV - aplicar as penas disciplinares de advertência e de


suspensão até 30 (trinta) dias aos juízes eleitorais;

XVI - cumprir e fazer cumprir as decisões e instruções do


Tribunal Superior;

XVII - determinar, em caso de urgência, providências para


a execução da lei na respectiva circunscrição;

XVIII - organizar o fichário dos eleitores do Estado.

XIX - suprimir os mapas parciais de apuração mandando


utilizar apenas os boletins e os mapas totalizadores,
desde que o menor número de candidatos às eleições
proporcionais justifique a supressão, observadas as
seguintes normas:  

26
a) qualquer candidato ou partido poderá requerer ao
Tribunal Regional que suprima a exigência dos mapas
parciais de apuração;   

b) da decisão do Tribunal Regional qualquer candidato ou


partido poderá, no prazo de três dias, recorrer para o
Tribunal Superior, que decidirá em cinco dias;   

c) a supressão dos mapas parciais de apuração só será


admitida até seis meses antes da data da eleição; 

d) os boletins e mapas de apuração serão impressos


pelos Tribunais Regionais, depois de aprovados pelo
Tribunal Superior;    

e) o Tribunal Regional ouvira os partidos na elaboração


dos modelos dos boletins e mapas de apuração a fim de
que estes atendam às peculiaridade locais,
encaminhando os modelos que aprovar, acompanhados
das sugestões ou impugnações formuladas pelos
partidos, à decisão do Tribunal Superior.  

4. Regras comuns ao Tribunal Superior Eleitoral e aos Tribunais


Regionais Eleitorais.

Cada um dos membros dos Tribunais Eleitorais terá um


substituto, que será escolhido pelo mesmo processo de escolha do titular.
CcVXSAV VN BV VBCBVBNBB X
XZXZBXBGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGG

Nas eleições federais, estaduais e presidenciais, o TSE e


os TREs terão juízes auxiliares, escolhidos dentre os substitutos, com
competência para julgar as representações pela prática de descumprimento da
Lei 9.504/97. Por esse motivo, os juízes auxiliares são chamados de juízes da
propaganda eleitoral.

Os membros dos Tribunais Eleitorais são remunerados

27
por jeton, isto é, receberá gratificação por presença na sessão de julgamento.
Se o membro não comparecer, por qualquer motivo – salvo se estiver
representando o Tribunal em evento ou reunião – não perceberá qualquer
gratificação.

Na eleição presidencial, o Tribunal Superior Eleitoral


nomeará, dentre os membros substitutos, 3 ministros para atuarem como
ministros auxiliares do Tribunal, responsáveis por julgar as Representações
Eleitorais por descumprimento da Lei 9.504/97. A atuação dos Ministros
auxiliares iniciará em janeiro do ano da eleição e terminará com a diplomação
dos eleitos.

Igualmente, os Tribunais Regionais Eleitorais também


nomearão 3 juízes auxiliares, nas eleições estaduais e federais, dentre os
membros substitutos, que terão a competência de julgar as Representações
Eleitorais por descumprimento da Lei 9.504/97. O período de atuação
começará em janeiro do ano da eleição e terminará com a diplomação dos
eleitos.

Por fim, os Tribunais Eleitorais, nos processos que


versam sobre cassação ou indeferimento de registro de candidatura ou de
diploma, devem ter o quórum com todos os seus membros presentes.

5. Juízes Eleitorais

Os juízes eleitorais são responsáveis pelas funções


desempenhadas nas zonas eleitorais. Para cada zona eleitoral, será designado
um juiz de direito para o desempenho das funções eleitorais.

A estrutura de cada zona eleitoral dependerá do


eleitorado local. Quanto maior o número de eleitores, maior a quantidade de
zonas eleitorais no município.

É possível que uma zona eleitoral corresponda ao


território de um município; parcela de território do município; ou, ainda, o
território de vários municípios.

28
Compete ao Tribunal Regional Eleitoral respectivo a
escolha do Juiz de Direito que atuará como Juiz Eleitoral. A escolha deverá
recair em juiz sobre juiz da comarca que tenha as prerrogativas do artigo 95 da
Constituição Federal. Se na comarca não tiver nenhum juiz com essas
características, poderá recair sobre juiz de direito substituto – que ainda não
obteve a vitaliciedade.

Importante destacar que no ano de 2019 foi realizado o


chamado rezoneamento, determinado pelo Tribunal Superior Eleitoral, que
reduziu significativamente o número de zonas eleitorais e, consequentemente,
o número de juízes eleitorais.

5.1 Competência do Juiz Eleitoral

A competência dos Juízes Eleitorais está prevista nos artigos 34 e


35 do Código Eleitoral.

Art. 34. Os juízes despacharão todos os dias na sede da


sua zona eleitoral.

Art. 35. Compete aos juízes:

I - cumprir e fazer cumprir as decisões e determinações


do Tribunal Superior e do Regional;

II - processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns


que lhe forem conexos, ressalvada a competência
originária do Tribunal Superior e dos Tribunais Regionais;

III - decidir habeas corpus e mandado de segurança, em


matéria eleitoral, desde que essa competência não esteja
atribuída privativamente a instância superior.

IV - fazer as diligências que julgar necessárias a ordem e


presteza do serviço eleitoral;

29
V - tomar conhecimento das reclamações que lhe forem
feitas verbalmente ou por escrito, reduzindo-as a termo, e
determinando as providências que cada caso exigir;

VI - indicar, para aprovação do Tribunal Regional, a


serventia de justiça que deve ter o anexo da escrivania
eleitoral;

VII (Revogado pela Lei nº 8.868, de 1994)

VIII - dirigir os processos eleitorais e determinar a


inscrição e a exclusão de eleitores;

IX- expedir títulos eleitorais e conceder transferência de


eleitor;

X - dividir a zona em seções eleitorais;

XI mandar organizar, em ordem alfabética, relação dos


eleitores de cada seção, para remessa a mesa receptora,
juntamente com a pasta das folhas individuais de votação;

XII - ordenar o registro e cassação do registro dos


candidatos aos cargos eletivos municipais e comunicá-los
ao Tribunal Regional;

XIII - designar, até 60 (sessenta) dias antes das eleições


os locais das seções;

XIV - nomear, 60 (sessenta) dias antes da eleição, em


audiência pública anunciada com pelo menos 5 (cinco)
dias de antecedência, os membros das mesas receptoras;

XV - instruir os membros das mesas receptoras sobre as


suas funções;

XVI - providenciar para a solução das ocorrências que se


verificarem nas mesas receptoras;

XVII - tomar todas as providências ao seu alcance para


evitar os atos viciosos das eleições;

30
XVIII -fornecer aos que não votaram por motivo justificado
e aos não alistados, por dispensados do alistamento, um
certificado que os isente das sanções legais;

XIX - comunicar, até às 12 horas do dia seguinte a


realização da eleição, ao Tribunal Regional e aos
delegados de partidos credenciados, o número de
eleitores que votarem em cada uma das seções da zona
sob sua jurisdição, bem como o total de votantes da zona.

6. Observação comum ao TSE, TREs e Juízes Eleitorais

O mandato dos membros da Justiça Eleitoral será


contado de forma ininterrupta, não se suspendendo em razão de férias ou
quaisquer licenças. As ausências, porém, as sessões de julgamento não serão
remuneradas. Está regra, contudo, comporta uma exceção: a escolha de
parente consanguíneo ou afim até o segundo grau, ou cônjuge, de membro da
Justiça Eleitoral, como candidato nas eleições. Neste caso o magistrado ficará
impedido de atuar na Justiça Eleitoral desde a convenção partidária até a
diplomação dos eleitos. Neste período o mandato ficará suspenso. É o que
prevê o artigo 14, §§ 1º e 3º, do Código Eleitoral.

Art. 14. Os juízes dos Tribunais Eleitorais, salvo motivo


justificado, servirão obrigatoriamente por dois anos, e
nunca por mais de dois biênios consecutivos.

§ 1º Os biênios serão contados, ininterruptamente, sem o


desconto de qualquer afastamento nem mesmo o
decorrente de licença, férias, ou licença especial, salvo no
caso do § 3º.

(...)

§ 3º Da homologação da respectiva convenção


partidária até a diplomação e nos feitos decorrentes do

31
processo eleitoral, não poderão servir como juízes nos
Tribunais Eleitorais, ou como juiz eleitoral, o cônjuge ou o
parente consanguíneo ou afim, até o segundo grau, de
candidato a cargo eletivo registrado na circunscrição.

7. Juntas Eleitorais

A Junta Eleitoral é ó último órgão da Justiça Eleitoral e,


juntamente com os Juízes Eleitorais, ocupa o primeiro grau de jurisdição desta
Especializada.

Compõe a Junta Eleitoral: um juiz de direito (o juiz


eleitoral da Zona Eleitoral) mais 2 ou 4 cidadãos de notória idoneidade.

Compete ao Juiz Eleitoral indicar os membros da junta e


encaminhar para o Tribunal Regional Eleitoral respectivo aprovar a indicação.
Aprovada, cabe ao presidente do TRE nomear.

Cada Zona Eleitoral terá uma Junta Eleitoral.

Não podem ser nomeados como membros da Junta


Eleitoral:

a) os candidatos e seus parentes, ainda que por


afinidade, até o segundo grau, inclusive, e bem assim o
cônjuge;

b) os membros de diretorias de partidos políticos


devidamente registrados e cujos nomes tenham sido
oficialmente publicados;

c) as autoridades e agentes policiais, bem como os


funcionários no desempenho de cargos de confiança do
Executivo;

d) os que pertencerem ao serviço eleitoral.

A Junta terá atuação desde a sua nomeação pelo


32
presidente do TRE (60 dias antes da eleição) até a apuração dos votos –
eleições estadual, federal e presidencial – e até a diplomação dos eleitos nas
eleições municipais.

7.1 Competência das Juntas Eleitorais

A competência da Junta Eleitoral está prevista no artigo


40 do Código Eleitoral.

Art. 40. Compete à Junta Eleitoral;

I - apurar, no prazo de 10 (dez) dias, as eleições


realizadas nas zonas eleitorais sob a sua jurisdição.

II - resolver as impugnações e demais incidentes


verificados durante os trabalhos da contagem e da
apuração;

III - expedir os boletins de apuração mencionados no Art.


178;

IV - expedir diploma aos eleitos para cargos municipais.

De se observar que a competência está relacionada com


a apuração dos votos, por isso, hoje, o papel da Junta Eleitoral é secundário.

Para a apuração com celeridade, permite-se que a Junta


Eleitoral divida-se em turmas, até o número de 4 (uma turma para cada
membro da Junta Eleitoral).

Ao presidente da Junta é facultado nomear, dentre


cidadãos de notória idoneidade, escrutinadores e auxiliares em número capaz
de atender a boa marcha dos trabalhos. Tal nomeação será obrigatória quando
houver mais de 10 urnas para se apurar.

Cabe, ainda, ao presidente da Junta Eleitoral, dentre os


membros da Junta, ou escrutinadores, um escrutinador para secretário-geral,
competindo-lhe;
33
a) lavrar as atas;

b) tomar por termo ou protocolar os recursos, neles


funcionando como escrivão;

c) totalizar os votos apurados.

Uma última observação: os membros da Junta Eleitoral


não percebem remuneração, mas terão direito à folga em dobro ao tempo da
efetiva convocação – dias em que houve efetivo trabalho. É o que prevê o
artigo 98 da Lei 9.504/97.

34
Unidade III

Direitos Políticos

1. Introdução

Os direitos políticos representam a forma de participação


do povo para a formação da vontade estatal.

Os direitos políticos se dividem em direitos políticos


positivos: possibilidade de a pessoa se alistar como eleitor e de se candidatar;
e direitos políticos negativos: impedimentos para que o exercício do direito de
ser eleitor e de se candidatar.

2. Direitos políticos positivos

Os direitos políticos positivos podem ser ativos ou


passivos.

Direito político ativo refere-se ao direito de escolher os


representantes ou decidir sobre algum assunto colocado para consulta popular.

No sistema brasileiro, o direito político ativo pode ser


facultativo ou obrigatório.

Será facultativo para os analfabetos, para os maiores de


70 anos e para as pessoas entre 16 a 18 anos.

Para todos os demais, o alistamento e o voto são


obrigatórios.

Já o direito político positivo passivo, refere-se à


possibilidade de a pessoa se candidatar. Para tanto ela precisa, no sistema
brasileiro, preencher as chamadas condições de elegibilidade.

35
Tais condições estão previstas no artigo 14, § 3º, da
Constituição Federal, como regramento mínimo. Porém, as condições de
elegibilidade podem ser encontradas na Lei 9.096/95 – Lei dos Partidos
Políticos – e na Lei 9.504/97 – Lei das Eleições.

Alguns doutrinadores preferem nomear as condições de


elegibilidade previstas na Lei 9.504/97 como condições de registrabilidade, isto
é, condições para proceder o registro como candidatos.

Referidas condições de registrabilidade estão previstas no


artigo 11, § 1º da Lei das Eleições. Senão, vejamos:

Art. 11.  Os partidos e coligações solicitarão à


Justiça Eleitoral o registro de seus candidatos até as
dezenove horas do dia 15 de agosto do ano em que
se realizarem as eleições.

§ 1º O pedido de registro deve ser instruído com os


seguintes documentos:

I - cópia da ata a que se refere o art. 8º;

II - autorização do candidato, por escrito;

III - prova de filiação partidária;

IV - declaração de bens, assinada pelo candidato;

V - cópia do título eleitoral ou certidão, fornecida


pelo cartório eleitoral, de que o candidato é eleitor na
circunscrição ou requereu sua inscrição ou
transferência de domicílio no prazo previsto no art.
9º;

VI - certidão de quitação eleitoral;

VII - certidões criminais fornecidas pelos órgãos de


distribuição da Justiça Eleitoral, Federal e Estadual;

VIII - fotografia do candidato, nas dimensões


estabelecidas em instrução da Justiça Eleitoral, para
efeito do disposto no § 1º do art. 59.

36
IX - propostas defendidas pelo candidato a Prefeito,
a Governador de Estado e a Presidente da
República.

Passamos, portanto, ao exame das condições de


elegibilidade previstas no artigo 14, § 3º, da Constituição Federal.

a) nacionalidade brasileira: somente a pessoa que


tenha nacionalidade brasileira – nato ou naturalizado – poderá se candidatar a
cargo público eletivo.

Porém, há dois cargos eletivos que são privativos de


brasileiro nato, quais sejam, os de presidente e vice-presidente da República.

Pode-se adquirir a nacionalidade nata de três maneiras:

1ª) nascendo no Brasil, desde que os pais, sendo


estrangeiros, não estejam a serviço do país de origem;

2ª) nascendo no estrangeiro, desde que o pai ou mãe seja


brasileiro e esteja a serviço do Brasil;

3ª) nascendo no estrangeiro, de pai ou mãe brasileira,


desde que: seja registrado em repartição brasileira competente ou venha a
residir no Brasil e opte, a qualquer momento, após a maioridade, pela
nacionalidade brasileira.

De se observar que são adotados os seguintes critérios


para a aquisição da nacionalidade brasileira originária: o jus solis (nascidos no
Brasil); o jus sanguinis (filhos de brasileiros).

Já para a aquisição da nacionalidade brasileira derivada –


naturalização – são exigidos os seguintes requisitos:

1º) originários de países de língua portuguesa: residência


por um ano ininterrupto e idoneidade moral;

2º) originários dos demais países: residência de mais de


15 anos ininterruptos e sem condenação criminal.

37
Em qualquer das hipóteses, a nacionalidade brasileira
deverá ser requerida pelos estrangeiros.

Situação peculiar é a dos portugueses, que poderão


exercer os direitos políticos aqui no Brasil, porém sem que adquiram a
nacionalidade brasileira. Basta que haja reciprocidade de tratamento para com
o brasileiro em Portugal.

Não se pode olvidar da Lei de Imigração, que prevê


requisitos específicos para a naturalização ordinária, extraordinária e a
especial.

b) o pleno exercício dos direitos políticos. A


Constituição Federal de 1988 vedou a cassação dos direitos políticos – ato
administrativo editado pelo governo – porém estabeleceu hipóteses em que se
podem ocorrer a perda ou a suspensão dos direitos políticos. Essas hipóteses
estão previstas no artigo 15 da Constituição Federal.

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja


perda ou suspensão só se dará nos casos de:

I - cancelamento da naturalização por sentença transitada


em julgado;

II - incapacidade civil absoluta;

III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto


durarem seus efeitos;

IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou


prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, §


4º.

Para Dirley da Cunha Junior “convencionou a doutrina


apontar como causas de perda dos direitos políticos, por consistirem em
privação definitiva e permanente desses direitos: [1] cancelamento da
naturalização por sentença transitada em julgado; e [2] recusa de cumprir

38
obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º,
VIII.”. e “as demais hipóteses de simples suspensão dos direitos políticos,
exatamente porque causam privação meramente provisória desses direitos”.

c) alistamento eleitoral. Somente os eleitores, que são


cidadãos, juridicamente falando, podem se candidatar.

Sobre o alistamento eleitoral, cuidaremos quando


tratarmos da Resolução TSE 21.538/2003.

d) domicílio eleitoral na circunscrição: somente os


eleitores de determinada circunscrição podem se candidatar para os cargos
representativos dela. Assim, a quiçá de exemplos, somente os eleitores
inscritos no município de Goiânia, podem se candidatar para cargos de
vereador, prefeito e vice-prefeito desta comuna. Somente os eleitores do
Estado de São Paulo podem se candidatar para os cargos de governador vice-
governador, Deputado Estadual ou Federal daquele Estado.

e) filiação partidária: no Brasil não existe a possibilidade


de candidatura avulsa, eis que vivemos numa democracia partidária.

Observação: a Lei 9.504/97, em seu artigo 9º,


estabeleceu os prazos para domicílio eleitoral na circunscrição e para a filiação
partidária, quais sejam: 06 (seis) meses antes da eleição, respectivamente.

Art. 9º Para concorrer às eleições, o candidato deverá


possuir domicílio eleitoral na respectiva circunscrição pelo
prazo de seis meses e estar com a filiação deferida
pelo partido no mesmo prazo.

Parágrafo único. Havendo fusão ou incorporação de


partidos após o prazo estipulado no caput, será

39
considerada, para efeito de filiação partidária, a data de
filiação do candidato ao partido de origem.

f) idade mínima: a Constituição Federal ainda


estabeleceu idades mínimas para que uma pessoa possa se candidatar, e o fez
de forma escalonada, iniciando aos 18 anos e concluindo aos 35 anos, quando
o cidadão poderá se candidatar para os cargos de presidente, vice-presidente e
senador. Veja-se:

18 anos: para os cargos de vereador;

21 anos: para os cargos de prefeito, vice-prefeito,


deputados estaduais e federais;

30 anos: para os cargos de governador e vice-


governador;

35 anos: para os cargos de presidente, vice-presidente e


senador da República.

Essas condições apresenta uma curiosidade: imagine-se


que um cidadão com 18 anos se eleja para o cargo de vereador e, também, se
eleja presidente da Câmara de Vereadores. Havendo impedimento ou vacância
do cargo de prefeito, caberá ao presidente da Câmara de Vereadores assumir
e exercer o cargo, temporariamente.

O mesmo pode acontecer com Deputado Estadual em


substituição ao Governador e Deputado Federal em substituição ao Presidente
da República.

O artigo 11, § 2º, da Lei 9.504/97, estabelece que a “idade


mínima constitucionalmente estabelecida como condição de elegibilidade é
verificada tendo por referência a data da posse, salvo quando fixada em
dezoito anos, hipótese em que será aferida na data-limite para o pedido de
registro”.

Tal diferenciação tem todo o sentido quando se pensa na

40
responsabilidade civil. O menor de 18 anos ainda não goza da plena
capacidade civil, motivo pelo qual deve ser assistido por seus pais. Ademais,
seria penalmente inimputável, situação que, por exemplo, e em tese, livrá-lo-ia
de ser condenado por eventual infração à legislação eleitoral – cassação do
registro ou do diploma, além das sanções penais.

3. Direitos Políticos Negativos

Os direitos políticos negativos são situações que


impedem que uma pessoa possa se alistar como eleitor ou mesmo se
candidatar. Abaixo, trataremos sobre as hipóteses de direitos políticos
negativos.

a) inalistabilidade: a pessoa que não pode se alistar, e,


portanto, ser cidadão juridicamente falando, está impedida de se candidatar.

São inalistáveis: o estrangeiro e o conscrito, durante o


serviço militar obrigatório.

O conscrito é uma espécie de militar. O que o difere dos


demais é a situação de estar prestando o serviço de forma temporária e
mediante convocação obrigatória.

b) inelegibilidades: as inelegibilidades são situações que


impedem que determinado cidadão possa exercer seus direitos políticos
passivos. Elas podem ser constitucionais e infraconstitucionais, absolutas ou
relativas.

b1) analfabeto: o analfabeto é inelegível, absoluto, isto é,


não pode se candidatar a nenhum cargo público eletivo. Esta inelegibilidade
está prevista no artigo 14, § 4º, da Constituição Federal.

b2) inelegibilidade funcional, no caso de reeleição: os


detentores de cargos públicos eleitos do Poder Executivo – Presidente da
República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos – e

41
quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos, somente
poderão ser reeleitos para um único período subsequente. É o que dispõe o
artigo 14, § 5º, da Constituição Federal.

Deve-se destacar que o dispositivo citado não faz


referência aos vice-presidente, vice-governador e vice-prefeito. Nada obstante,
o Tribunal Superior Eleitoral ao Responder à Consulta 327, firmou
jurisprudência no sentido de que a reeleição para um único período
subsequente atinge a situação dos vices.

Desta forma, uma pessoa somente poderá ocupar o cargo


de vice, de forma subsequente, apenas uma vez.

Fixou, o TSE, jurisprudência no sentido de que o titular do


cargo que for reeleito subsequentemente, não poderá se candidatar, a um
terceiro mandato consecutivo, no cargo de vice. É que se o titular vier a se
afastar, haverá a violação do artigo 14, § 5º.

Também entendeu o TSE que o dispositivo proíbe que um


mesmo grupo familiar – até o 2º grau – ocupe a titularidade do Poder Executivo
por três mandatos consecutivos.

Para que os parentes – até o 2º grau – do chefe do Poder


Executivo possam se candidatar, num período subsequente, para o mesmo
cargo, é necessário o atendimento dos seguintes requisitos: 1º) que o chefe do
Poder Executivo seja reelegível; 2º) que se afaste do cargo na forma prevista
no artigo 14, § 7º, da Constituição Federal.

Neste sentido:

RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. VIÚVA. CHEFE DO


PODER EXECUTIVO. FALECIMENTO HÁ MENOS DE
SEIS MESES DAS ELEIÇÕES. INELEGIBILIDADE
REFLEXA. ART. 14, §§ 5º E 7º, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. NÃO PROVIMENTO.

1. O TSE, ao interpretar sistematicamente o art. 14, §§ 5º


e 7º, da CF/88, consignou que os parentes dos Chefes

42
do Poder Executivo são elegíveis para o mesmo
cargo, no período subsequente, desde que os
titulares dos mandatos sejam reelegíveis e tenham
renunciado ao cargo ou falecido até seis meses antes
do pleito, o que não ocorreu na espécie. Precedentes:
REspe 19.442/ES, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ de
7.12.2001; AI 3.043/BA, Rel. Min. Jacy Vieira, DJ de
8.3.2002.

2. No caso, a recorrida, vice-prefeita de São João da


Paraúna/GO eleita em 2008 estava inelegível, nos termos
do art. 14, § § 5º e 7º, da CF/88, pois, não obstante o seu
marido estivesse em condições de concorrer à reeleição
no pleito de 2008, ele faleceu apenas três meses antes do
pleito, sem que tivesse renunciado ao cargo no prazo
legal.

3. Recurso especial eleitoral provido.

(Recurso Especial Eleitoral nº 935627566, Relatora Min.


Fátima Nancy Andrighi, Publicação: DJE Data 23/04/2012,
Página 14/15).

O Tribunal Superior Eleitoral fixou jurisprudência no


sentido de que o artigo 14, § 5º, proíbe a terceira eleição subsequente para o
mesmo cargo do Poder Executivo, ainda que em outro ente federativo. A
intenção foi a de proibir a ocorrência do chamado “prefeito profissional” ou
“prefeito itinerante”, dando aplicação do princípio republicano.

Funcionava assim: um cidadão era eleito e reeleito para o


cargo de prefeito por determinado município, na eleição subsequente, como
estava inelegível ali, se candidatava ao cargo de prefeito em município vizinho.
Sendo eleito, se candidatava à reeleição. Depois, voltava a se candidatar no
município de origem. Isto é, sempre estaria no exercício do mandato de prefeito
em algum município, daí o nome de prefeito profissional ou itinerante.

43
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
RECURSO ESPECIAL. RECURSO CONTRA A
EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA. "PREFEITO ITINERANTE".
EXERCÍCIO CONSECUTIVO DE MAIS DE DOIS
MANDATOS DE CHEFIA DO EXECUTIVO EM
MUNICÍPIOS DIFERENTES. IMPOSSIBILIDADE.
DESPROVIMENTO.

1. Ainda que haja desvinculação política, com a


respectiva renúncia ao mandato exercido no
município, antes de operar-se a transferência de
domicílio eleitoral, não se admite a perpetuação no
poder, somente sendo possível eleger-se para o cargo
de prefeito por duas vezes consecutivas, mesmo que
em localidades diversas, tendo em vista o princípio
constitucional republicano.

2. Ressalva pessoal do ponto de vista do Relator.

3. Agravo regimental desprovido.

(Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº 11539,


Relator Min. Marcelo Henriques Ribeiro de Oliveira,
Publicação DJE 15/12/2010, Página 43-44).

Essa tese foi encampada pelo Supremo Tribunal Federal:

"O instituto da reeleição tem fundamento não somente


no postulado da continuidade administrativa, mas
também no princípio republicano, que impede a
perpetuação de uma mesma pessoa ou grupo no poder.
O princípio republicano condiciona a interpretação e a
aplicação do próprio comando da norma constitucional, de
modo que a reeleição é permitida por apenas uma única
vez. Esse princípio impede a terceira eleição não apenas

44
no mesmo Município, mas em relação a qualquer outro
Município da federação. Entendimento contrário tornaria
possível a figura do denominado ‘prefeito itinerante’ ou do
‘prefeito profissional’, o que claramente é incompatível
com esse princípio, que também traduz um postulado de
temporariedade/alternância do exercício do poder.
Portanto, ambos os princípios – continuidade
administrativa e republicanismo – condicionam a
interpretação e a aplicação teleológicas do art. 14, § 5º,
da Constituição. O cidadão que exerce dois mandatos
consecutivos como prefeito de determinado Município fica
inelegível para o cargo da mesma natureza em qualquer
outro Município da federação." (RE 637.485, rel.
min. Gilmar Mendes, julgamento em 1º-8-2012,
Plenário, DJE de 21-5-2013, com repercussão geral.)

Duas últimas observações: 1º) não há a necessidade de


que os candidatos à reeleição peçam renúncia para tal desiderato; 2º) os
parlamentares não têm limites para reeleição.

b3) inelegibilidade funcional, para exercer outro


cargo:

O chefe do Poder Executivo para se candidatar a outros


cargos públicos eletivos devem se desincompatibilizar, isto é, apresentar
renúncia no prazo previsto no artigo 14, § 6º, da Constituição Federal: 6 meses
antes do pleito eleitoral.

Essa regra atinge apenas a situação do chefe do Poder


Executivo, não impactando a situação do vice. Por outras palavras, o vice
poderá se candidatar a outro cargo eletivo sem a necessidade de renunciar,
desde que nos 06 meses que antecedem o pleito eleitoral não venha a
substituir o titular.

Os parlamentares não precisam renunciar para se


candidatarem a outros cargos, nem mesmo precisam se licenciarem do cargo.

45
b4) inelegibilidade reflexa:

Trata-se de inelegibilidade oriunda de parentesco com o


chefe do Poder Executivo. Nos termos do artigo 14, § 7º, da Constituição
Federal os parentes consanguíneos, ou afins, ainda que por adoção, e o
cônjuge, do Presidente da República, de Governador de Estado ou do DF, de
Prefeito, ou de quem os haja substituído nos 6 meses anteriores ao pleito, são
inelegíveis, para qualquer cargo, no território de jurisdição do titular. Veja-se:

§ 7º. São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o


cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o
segundo grau ou por adoção, do Presidente da República,
de Governador de Estado ou Território, do Distrito
Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído
dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já
titular de mandato eletivo e candidato à reeleição

A primeira observação a ser feita é que o vocábulo


jurisdição foi mal utilizado, pois o correto seria circunscrição.

Segunda, somente os parentes dos chefes do Poder


Executivo são atingidos pela norma, não havendo qualquer impedimento para
os parentes dos vices.

Terceiro, a inelegibilidade se opera no território da


circunscrição eleitoral, ainda que outra seja a circunscrição do exercício do
cargo.

Exemplo: o parente do Governador do Estado de Goiás


não poderá se candidatar ao cargo de Deputado Federal pelo Estado de Goiás,
embora possa se candidatar para o mesmo cargo, mas pelo Distrito Federal.

Também não poderá o parente do Governador, a cargo


de vereador, prefeito ou vice, em qualquer município daquele Estado.

46
O próprio § 7º apresenta uma exceção, se o parente já for
ocupante de cargo público e for candidato à reeleição. Nesta situação, ele não
estará inelegível.

Como já dito no item b2, os parentes do chefe do Poder


Executivo podem se candidatar a esse cargo – chefia do executivo – quando o
titular foi reelegível e renunciar 6 meses antes. Era muito comum que os
parentes do chefe do Poder Executivo – cônjuge ou afim – com a finalidade de
burlar a inelegibilidade simulavam divórcio, no curso do mandato, para
poderem se candidatar. Atento a isso, o Tribunal Superior Eleitoral firmou
jurisprudência no sentido de não aceitar tais manipulações.

Posteriormente, o Supremo Tribunal Federal editou a


súmula vinculante nº 18, com a seguinte redação:

“A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no


curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no
§ 7º do art. 14 da Constituição Federal.”

Firmando o entendimento de que o enunciado da súmula


visava extirpar a ocorrência de fraude, o Supremo Tribunal Federal, ao resolver
caso concreto, asseverou que a ocorrência de morte, anterior aos 6 meses que
antecedem o pleito eleitoral, afasta a inelegibilidade.

Ementa: CONSTITUCIONAL E ELEITORAL. MORTE DE


PREFEITO NO CURSO DO MANDATO, MAIS DE UM
ANO ANTES DO TÉRMINO. INELEGIBILIDADE DO
CÔNJUGE SUPÉRSTITE. CF, ART. 14, § 7º.
INOCORRÊNCIA.

1. O que orientou a edição da Súmula Vinculante 18 e


os recentes precedentes do STF foi a preocupação de
inibir que a dissolução fraudulenta ou simulada de
sociedade conjugal seja utilizada como mecanismo de

47
burla à norma da inelegibilidade reflexa prevista no §
7º do art. 14 da Constituição. Portanto, não atrai a
aplicação do entendimento constante da referida súmula a
extinção do vínculo conjugal pela morte de um dos
cônjuges.

2. Recurso extraordinário a que se dá provimento.

(RE 758461, Relator Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno,


julgado em 22/05/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-213 DIVULG 29-
10-2014 PUBLIC 30-10-2014)

Por fim, o Tribunal Superior Eleitoral entende que os


vínculos socioafetivos e os homoafetiva também geram a inelegibilidade em
questão.

Dois fatos bastante interessantes:

Em 2008, o filho do então presidente Lula – filho da dona


Marisa, adotado pelo presidente – pretendeu se candidatar ao cargo de
vereador, no município de São Bernardo do Campo. Teve seu registro
indeferido por conta da inelegibilidade em questão.

Em 2012, Luciana Genro, filha de Tarso Genro,


Governador do Rio Grande do Sul, pretendeu se candidatar ao cargo de
vereadora do município de Porto Alegre. Sua candidatura foi impugnada e, em
sua defesa, alegou que era candidata por partido de oposição ao seu pai. Seu
registro também foi indeferido.

b5) situação dos militares:

A pessoa que esteja servindo no serviço militar


obrigatório, é inalistável. Sequer pode se alistar como eleitor.

O militar que for alistável, poderá se candidatar atendidos

48
as seguintes condições, consoante dispõe o artigo 14, § 8º, da Constituição
Federal:

1º) se contar com menos de 10 anos de serviço, deverá


afastar-se da atividade. Por “afastar-se da atividade”, entenda-se que deverá
pedir exoneração. Não se trata de licença.

“Diversamente do que sucede ao militar com mais de dez


anos de serviço, deve afastar-se definitivamente da
atividade o servidor militar que, contando menos de dez
anos de serviço, pretenda candidatar-se a cargo eletivo.”
(RE 279.469, Rel. p/ o ac. Min. Cezar Peluso, julgamento
em 16-3-2011, Plenário, DJE de 20-6-2011.)

2º) se contar com mais de 10 anos de serviço, será


agregado pela autoridade superior, isto é, não será colocado na escala de
trabalho – equivale, então, a uma licença. Com o resultado da eleição, duas
situações podem acontecer: Se ele for eleito, no ato da diplomação, passará
automaticamente para a inatividade – aposentadoria; se ele não for eleito, volta
ao serviço normalmente.

Há, porém, uma peculiaridade em relação ao militar.


Como já dito por ocasião das condições de elegibilidades, a filiação partidária é
obrigatória para quem se pretende concorrer a algum cargo público eletivo (art.
14, § 3º, V).

No entanto, a mesma Constituição Federal, no artigo 142,


§ 3º, V, diz que “o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a
partidos políticos”.

Surge assim, antinomia entre o artigo 14, §§ 3º e 8º com o


artigo 142, § 3º, todos da Constituição Federal.

Visando resolver esse problema, o Supremo Tribunal


Federal entendeu que a filiação partidária não é exigida do militar, bastando
que seja escolhido na convenção partidária.

49
“Militar da ativa (sargento) com mais de dez anos de
serviço. Elegibilidade. Filiação partidária. (...) Se o militar
da ativa é alistável, é ele elegível (CF, art. 14, § 8º).
Porque não pode ele filiar-se a partido político (CF, art
42, § 6º), a filiação partidária não lhe é exigível como
condição de elegibilidade, certo que somente a partir do
registro da candidatura é que será agregado (CF, art. 14,
§ 8º, II; Cód. Eleitoral, art. 5º, parágrafo único; Lei 6.880,
de 1980, art. 82, XIV, § 4º).” (AI 135.452, Rel. Min.Carlos
Velloso, julgamento em 20-9-1990, Plenário, DJ de 14-6-
1991.)

50
Unidade IV

Sistemas Eleitorais

1. Introdução

Os sistemas eleitorais refletem a forma como serão colhidos e


convertidos em mandatos. Cada país escolhe o seu sistema eleitoral

a partir de um modelo político que se pretende obter.


Não há necessidade de que um modelo seja utilizado de

forma perpetua, na realidade o sistema eleitoral deve se


amoldar à realidade do país. Assim, se o sistema atende aos anseios do povo,
deve ser mantido. Quando não houver essa correspondência, o sistema deve
ser modificado.

2. Classificação dos sistemas eleitorais

2.1 Sistema Majoritário

No sistema majoritário, são considerados eleitos os candidatos


que obtiveram a maioria dos votos válidos. Por voto válido se deve entender
todos os votos dados a candidatos inscritos, excluídos os votos em branco e os
nulos.

O sistema majoritário comporta duas subdivisões: sistema


majoritário de maioria absoluta e sistema majoritário de maioria relativa.

No sistema majoritário de maioria absoluta existe uma


preocupação maior com a representatividade e a legitimidade do governante.
Por isso, se exige para ser considerado eleito que o candidato obtenha um
percentual mínimo de votos. Não atingido, é realizado um segundo turno entre
os dois candidatos mais bem votados, sagrando-se vencedor, o que obtiver, no
segundo turno, a maioria dos votos.

51
Esse sistema majoritário é aplicado, entre nós, nas eleições de
presidente da República, governador de Estado e para prefeito nos Municípios
com mais de 200 mil eleitores.

Se houver empate entre o segundo e o terceiro colocado, o


candidato mais idoso irá para o segundo turno.

Havendo morte de algum dos candidatos, que disputam o


segundo turno, será convocado, entre os remanescentes, o de maior votação.
Se, por ventura, houver empate no segundo turno, ganha o candidato mais
idoso.

Já́ o sistema majoritário simples é adotado, no Brasil, para os


cargos de senador da República e de prefeito nos Municípios com até 200 mil
eleitores.

Neste sistema, vence que obtiver a maioria dos votos, não


importando a diferença entre o candidato mais bem votado e os demais.

Quanto à eleição de senador, uma observação deve ser feita: o


Senado Federal é órgão de representação das Unidades Federativas. Assim,
cada Estado-membro da Federação tem direito a ter o mesmo número de
representantes que os demais, exatamente por isso é que todos têm 03 (três)
senadores.

Ocorre que a renovação na Câmara Alta não é feita de uma


única vez, mas de maneira escalonada, já que o mandato é de 08 (oito) anos, e
renova-se, a cada 4 (quatro) anos na proporção de 1/3 e 2/3.

Para a votação do Senado Federal, o Brasil adotou o sistema


de votação múltipla, em que o eleitor poderá votar tantas vezes quanto forem
os cargos em disputa.

2.2 Sistema Proporcional

No sistema proporcional, há uma preocupação com a


representação política da minoria. É adotado exclusivamente para o
Parlamento, entre nós com execução do Senado Federal, para se garantir que
todos os seguimentos ideológicos tenham a possibilidade de se fazer

52
representar. Deste modo, são eleitos por tal sistema os vereadores, os
deputados estaduais e os deputados federais.

O sistema proporcional comporta três fases distintas.

A primeira fase, chamada de quociente eleitoral, se determina


a quantidade mínima de votos necessária para se eleger um candidato. Pega-
se a quantidade de votos válidos, dados aos partidos e aos candidatos, e
divide-se pelo número de vagas em disputa. O resultado dessa divisão, é o
quociente eleitoral.

Na segunda fase, chamada de quociente partidário, será


determinado o número de vagas que cada partido/federação obteve. Isto é, a
quantidade inicial de candidatos que cada partido/federação conseguiu eleger.

Obtém-se o quociente partidário dividindo-se a quantidade de


votos recebidos pelo partido/federação (pode-se tanto votar no candidato como
na legenda) pelo quociente eleitoral. Do resultado deve-se desconsiderar toda
e qualquer fração.

Na terceira fase, chamada de resto ou sobras eleitorais, serão


feitos cálculos para ocupação das vagas remanescentes, isto é, das vagas que
não foram ocupadas nas primeira e segunda fases.

As vagas remanescentes serão disputadas por todos os


partidos/federação que participaram do pleito, desde que tenham obtido
votação correspondente a pelo menos 80% do quociente eleitoral e os
candidatos com votação mínima correspondente a 20% desse mesmo
quociente. Os partidos que não obtiverem essa marca, além de não
conseguirem nenhum cargo, não disputam as sobras.

Essas votações mínimas foram introduzidas recentemente na


legislação brasileira e são uma tentativa de evitar que pessoas com votação
inexpressiva possam ocupar cargos no parlamento.

O cálculo é feito da seguinte forma: quantidade de votos do


partido/federação dividido pelo quociente partidário acrescido de uma unidade
(QP + 1). O partido que obtiver a maior média, elegerá a vaga em disputa.

53
Na sequência, será realizado novos cálculos, até que não haja
mais nenhuma vaga.

Poderão participar dessa fase os partidos/federações que


tenha obtido votação mínima correspondente a 80% do quociente eleitoral e
que possuam candidatos não eleitos, desde que estes tenham votação mínima
correspondente a 20% do quociente eleitoral.

Se, contudo, nenhum partido ainda tiver candidato com votação


mínima correspondente a 20% do quociente eleitoral, a distribuição das vagas
remanescentes será feita aos partidos que obtiverem as maiores médias.

Exemplo: Município que tem 9 vereadores e na eleição


foram apurados 10.000 votos válidos. Os partidos obtiveram as seguintes
votações: A: 3.800; B: 3.000; C: 1.500 D: 1.109 E: 591.

Quociente eleitoral: 10.000/9 = 1.111,11

Quociente partidário:

QPA = 3.800/1.111 QPA = 3,42

QPB = 3.000/1.111 QPB = 2,70

QPC = 1.500/1.111 QPC = 1,35

QPD = 1.109/1.111 QPD = 0,99

QPE = 591 1.111 QPD = 0,53

Tem-se, ao final, os seguintes quocientes partidários, já com a


exclusão das frações: A = 3; B = 2; C = 1, tendo sido ocupadas seis vagas,
restando ociosas apenas 03 cadeiras. Como o partido E não atingiu votação
mínima correspondente a 80% do quociente eleitoral, a agremiação não
participará da próxima fase. Vale dizer, então, que não terá eleito nenhum
candidato nessa eleição.

Sobras eleitorais: MA = 3.800/(3+1) MA = 950

MB = 3.000/(2+1) MB = 1.000

MC = 1.500/(1+1) MC = 750

MD = 1.109/(0+1) MD = 1.019

54
Vê̂-se que o partido D obteve média e, por isso, ficará com a 7a
vaga. Como ainda existe vaga ociosa, será realizado um novo cálculo, agora
acrescentado uma unidade ao partido D.

Sobras eleitorais: MA = 3.800/(3+1) MA = 950

MB = 3.000/(2+1) MB = 1.000

MC = 1.500/(1+1) MC = 750

MD = 1.109/(1+1) MD = 554

A 8a vaga, assim, fica com o partido B, que obteve nessa


rodada a maior média, devendo ser feito novo cálculo para definir a 9a e última
vaga.

Sobras eleitorais: MA = 3.800/(3+1) MA = 950

MB = 3.000/(3+1) MB = 750

MC = 1.500/(1+1) MC = 750

MD = 1.109/(1+1) MD = 554

A 9a vaga ficará com o partido A que obteve a maior média na


rodada.

Finalizando, o partido A elegeu 4 candidatos, o partido B 3, o


partido C 1 e o partido D 1.

Por fim, como no Brasil adota-se o sistema de lista aberta,


serão considerados eleitos os candidatos mais bem votados, dentro do número
de vagas obtidas pelos partidos, não importando a votação individual, desde
que o candidato tenha obtido a votação mínima. Assim é possível que um
candidato que tenha obtido menos votos seja eleito em detrimento de um
candidato muito bem votado.

Foi o que ocorreu quando o senhor Enéas Carneiro se


candidatou, pela primeira vez, ao cargo de Deputado Federal. Como obteve
uma votação bastante expressiva, elegeu a si mesmo e a todos os candidatos
de seu partido. O último candidato eleito do partido obteve pouco mais de uma
centena de votos.

55
Visando afastar a possibilidade de uma pessoa pouco votada
ser considerada eleita, a Lei 13.165/2015, estabelece que o candidato para ser
eleito pelo quociente partidário deverá ter obtido, no mínimo, votação de 10%
do quociente eleitoral.

Se o sistema fosse o de lista fechada, o próprio partido


elegeria, previamente à eleição, uma lista com a disposição dos candidatos
pela ordem de preferência. Por outras palavras, o partido colocaria os nomes
na ordem que gostaria de ver eleitos. Por esse sistema, seriam considerados
eleitos os candidatos dispostos em ordem até a quantidade de vagas que o
partido obteve.

Situações inusitadas que podem ocorrer no sistema


proporcional

1a) empate entre os partidos, quando do cálculo das médias,


para fins das sobras eleitorais: o critério de desempate, nesse caso, será o da
maior votação. Se o empate persistir, será considerado o número de votos
nominais recebidos pelos partidos políticos (Resolução TSE 23.399/2013, art.
186, I e II).

2a) no caso de nenhum partido alcançar o quociente eleitoral:


nesta hipótese, serão considerados eleitos os candidatos mais bem votados.
Na verdade, o que se há é a adoção do sistema majoritário.

3a) se apenas um partido alcançar o quociente eleitoral:


apenas ele irá eleger seus candidatos.

4a) se houver vaga ociosa, será realizada nova eleição;

5a) todos os candidatos não eleitos serão considerados


suplentes;

6a) havendo vacância, e não existindo suplentes, será


realizada nova eleição, salvo se a vacância ocorrer dentro 15 meses anteriores
ao término do mandato.

Crítica ao sistema proporcional: não há clareza para o eleitor


de como funciona, além de o eleitor votar num determinado candidato e, por via
indireta, eleger outro.

56
2.3 Sistema Distrital

No sistema distrital, a circunscrição eleitoral é dividida em


distritos e cada distrito elegerá seu representante. Será considerado eleito o
candidato mais bem votado.

Pontos favoráveis: 1º) aproximação do candidato com o seu


eleitorado; 2º) diminuição do custo da campanha eleitoral.

Pontos negativos: 1º) impede a representação classista; 2º)


força a redução da quantidade de partidos políticos.

2.4 Sistema Distrital misto

Parte dos representantes são eleitos pelo sistema proporcional


e parte pelo sistema distrital. A crítica é que haverá́ duas espécies de
representantes do povo, além de não resolver os problemas dos dois sistemas.

2.5 Sistema Distritão

Esse sistema, apresentado pelo hoje vice-presidente da


República, Michel Temer, considera que a circunscrição será um único distrito.
Serão considerados eleitos os candidatos mais bem votados.

Crítica: elevados custos de campanha eleitoral e não resolver o


problema da representatividade.

57
Unidade V

Partidos Políticos

1. Introdução

Os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito privado,


constituindo canais legítimos de atuação política e social.

No Brasil, onde vige a democracia partidária, os partidos políticos


detêm o monopólio para a indicação dos candidatos. Essa é a maior crítica ao
sistema atual.

Até o advento da Constituição Federal de 1988, os partidos políticos


estavam limitados ao número de 02 (dois) além de serem tratados como
repartição pública, hoje são tratados como pessoas jurídicas de direito privado,
sendo vedado que o Estado interfira em seu funcionamento.

Tratou a Constituição Federal das regras básicas para a os partidos


políticos, limitando a estatuir, em seu artigo 17, princípios da atuação partidária,
cabendo à Lei 9.096/95 a sua regulamentação.

A Lei 9.096/95, em seu artigo 1º, diz que o partido político e “pessoa
jurídica de direito privado, destinando-se a assegurar, no interesse do regime
democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos
fundamentais definidos na Constituição Federal”.

2. Liberdade de organização partidária

A Constituição Federal, no caput do artigo 17, prevê a liberdade para


“a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos”, desde que
sejam resguardados “a soberania nacional, o regime democrático, o
pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana”.

58
Desta forma, podem existir partidos de vários matizes ideológicos,
convivendo harmonicamente, desde que se não importem violação aos valores
resguardados pelo caput do artigo 17.

Além desses valores, a Constituição ainda determinou a observância


dos seguintes preceitos:

a) devem ter caráter nacional;

b) proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade


recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a
estes;

c) prestação de contas à Justiça Eleitoral; e

d) funcionamento parlamentar de acordo com a lei.

Deve o partido possuir ação de caráter nacional, exercida de acordo


com o seu estatuto e programa, não podendo haver subordinação a entidades
ou governos estrangeiros.

Veda-se, ainda, ao partido ministrar instrução militar ou paramilitar,


ou de utilizar organização dessa natureza, ou adotar uniforme para os seus
membros.

2.1 Criação de Partido

Existem duas fases para a criação de um partido político.

A primeira fase, refere-se ao registro do partido perante


o Cartório Civil de sua sede nacional, onde adquire a personalidade jurídica.

Para tanto, os fundadores, em número mínimo de 101,


do partido deverão redigir o estatuto e o programa partidário. Feito isso,
requererão o registro no cartório, instruído com os seguintes documentos:

a) cópia autêntica da ata da reunião de fundação do


partido;

59
b) exemplares do Diário Oficial que publicou, no seu
inteiro teor, o programa e o estatuto;

c) relação de todos os fundadores com o nome completo,


naturalidade, número do título eleitoral com a Zona,
Seção, Município e Estado, profissão e endereço da
residência.

Tendo o partido apresentado toda a documentação


exigida, o Oficial do Registro Civil irá efetuar o registro no livro próprio e
expedirá certidão de inteiro teor.

Com isso encerra-se a fase de criação do partido, no que


tange à aquisição de personalidade jurídica.

A segunda fase começa logo após a aquisição da


personalidade jurídica.

Agora o partido precisará provar seu caráter nacional.


Para tanto, terá que obter o apoiamento de eleitores correspondente a, pelo
menos, 0,5% dos votos válidos dados na última eleição para a Câmara dos
Deputados, distribuídos em pelo menos 1/3 dos Estados, com um mínimo de
0,1% do eleitorado que haja votado em cada um deles. Dois requisitos foram
introduzidos pela Lei 13.165/2016: a) os eleitores que assinarem o apoiamento
não podem ser filiados a nenhum partido políticos e b) as assinaturas devem
ser recolhidas no lapso temporal de 2 anos.

Esses dois requisitos visam dificultar a criação de


partidos políticos.

Prova-se o apoiamento dos eleitores por meio de


assinaturas, em listas separadas por Zona Eleitoral, devendo constar o número
do título eleitoral. Recebidas as listas no Cartório Eleitoral, os serventuários
darão recebimento imediato de cada lista que receberem, e, no prazo de 15
dias, atestarão a veracidade das assinaturas, entregando ao interessado.

Ao mesmo tempo, devem os fundadores do partido


realizar todos os atos necessários para a constituição definitiva de seus órgãos
e designação dos dirigentes, tudo isso, na forma do estatuto.

60
Conseguido o apoiamento, será protocolado o
requerimento no Tribunal Superior Eleitoral. No TSE, o requerimento será
distribuído, em 48 horas para um relator. Será dada vista ao Procurador-Geral
Eleitoral, que terá o prazo de 10 dias para análise.

O requerimento encaminhado ao Tribunal Superior


Eleitoral será acompanhado dos seguintes documentos:

a) exemplar autenticado do inteiro teor do programa e do


estatuto partidários, inscritos no Registro Civil;

b) certidão do registro civil da pessoa jurídica;

c) certidões dos cartórios eleitorais que comprovem ter o


partido obtido o apoiamento mínimo de eleitores.

Se houver alguma diligência a ser feita, o partido terá o


prazo de 10 dias.

Cumpridas as diligências, ou não havendo, o Tribunal


Superior Eleitoral, em 30 dias, dará o registro do partido político. Não
cumpridas as exigências legais, o Tribunal negará o registro.

Com o registro deferido, o partido poderá:

a) participar do processo eleitoral;

b) receber cotas do fundo partidário;

c) ter acesso gratuito ao rádio e à televisão.

Além disso, somente o partido com registro no Tribunal


Superior Eleitoral assegura a exclusividade da sua denominação, sigla e
símbolos. É vedada a utilização, por outros partidos políticos, de variações que
possam induzir a erro ou confusão.

Todas as alterações programáticas ou estatutárias


devem ser registradas no Ofício Civil competente e, depois, encaminhadas
para registro perante o Tribunal Superior Eleitoral.

Cabe ao partido criar seus órgãos de direção – nacional,


estadual, municipal ou zonal – comunicando essa criação e os nomes dos
respectivos dirigentes.

61
A comunicação será feita da seguinte forma: ao TSE
relativamente aos integrantes dos órgãos de âmbito nacional; aos TRÊS,
relativo aos integrantes dos demais órgãos.

Cada partido poderá credenciar delegados para atuar


perante os órgãos da Justiça Eleitoral. Os delegados credenciados pela direção
nacional, poderão atuar perante quaisquer Tribunais ou Juízes Eleitorais; os
credenciados pela direção estadual, somente pela o TRE e os Juízes Eleitorais
do respectivo Estado, Distrito Federal ou Território; e os credenciados pelo
órgão municipal, perante o Juiz Eleitoral da respectiva jurisdição.

A Emenda Constitucional 97/2017, alterando a redação


do § 3º do artigo 17, da CF, impôs duas condições para que os partidos
políticos tenham acesso ao Fundo Partidário e ao rádio e televisão, quais
sejam:

i) que os partidos obtenham, nas eleições para a


Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% dos votos
válidos, distribuídos em pelo menos 1/3 das
unidades da Federação, com um mínimo de 2% dos
votos válidos em cada uma delas; ou 

ii) que os partidos tenham eleito pelo menos 15


Deputados Federais distribuídos em pelo menos 1/3
das unidades da Federação. 

Ocorre que, nos termos do artigo 3º da EC 97/2017 prevê


que essa norma somente entrará em vigor no ano de 2.030, prevendo três
regras de transição para que os partidos tenham direito ao fundo partidário e ao
rádio e televisão:

na legislatura seguinte às eleições de 2018:

i) obtiverem, nas eleições para a Câmara dos


Deputados, no mínimo, 1,5% dos votos válidos,
distribuídos em pelo menos 1/3 das unidades da
Federação, com um mínimo de 1% dos votos válidos
em cada uma delas; ou

62
i) tiverem elegido pelo menos 9 Deputados Federais
distribuídos em pelo menos 1/3 das unidades da
Federação;

na legislatura seguinte às eleições de 2022:

i) obtiverem, nas eleições para a Câmara dos


Deputados, no mínimo, 2% dos votos válidos,
distribuídos em pelo menos 1/3 das unidades da
Federação, com um mínimo de 1% dos votos válidos
em cada uma delas; ou

i) tiverem elegido pelo menos 11 Deputados


Federais distribuídos em pelo menos 1/3 das
unidades da Federação;

na legislatura seguinte às eleições de 2026:

i) obtiverem, nas eleições para a Câmara dos


Deputados, no mínimo, 2,5% dos votos válidos,
distribuídos em pelo menos 1/3 das unidades da
Federação, com um mínimo de 1,5% dos votos
válidos em cada uma delas; ou

i) tiverem elegido pelo menos 13 Deputados


Federais distribuídos em pelo menos 1/3 das
unidades da Federação.

2.2 Fusão e Incorporação

Por decisão de seus órgãos nacionais de deliberação, 2


ou mais partidos poderão fundir-se num só ou incorporar-se um ao outro.

Na fusão, dois partidos se unem para formar um terceiro.


São etapas indispensáveis para a fusão:

1º) os órgãos de direção irão elaborar projetos comuns


de estatuto e programa partidários do novo partido;

63
2º) os órgãos nacionais de deliberação dos partidos
votarão em reunião conjunta, por maioria absoluta, os projetos, e elegerão o
órgão de direção nacional que promoverá o registro do novo partido;

3º) registrar, no Registro Civil competente da Capital


Federal, o estatuto e o programa, acompanhados das atas das decisões
tomadas;

4º) o novo estatuto deverá ser registrado no Tribunal


Superior Eleitoral;

Interessante notar que a primeira deliberação, sobre a


fusão, será tomada pela maioria absoluta de que cada órgão partidário. A
segunda deliberação, sobre a direção nacional do novo partido, será tomada
pela maioria absoluta do partido criado.

A incorporação não significa a criação de um novo


partido, mas de um partido maior, eis que digeriu outro. A incorporação deverá
seguir o seguinte:

1º) o órgão nacional de deliberação do partido


incorporando deverá decidir, por maioria absoluta, sobre a adoção do estatuto
e do programa de outra agremiação;

2º) sendo positiva, será realizada uma sessão conjunta


dos órgãos nacionais de deliberação para eleição do novo órgão de direção
nacional.

3º) deverá ser averbado o respectivo instrumento, no


Ofício Civil competente da Capital Federal, que deverá cancelar o registro do
partido incorporado;

4º) o instrumento deverá ser averbado no Tribunal


Superior Eleitoral.

Tanto na fusão quanto na incorporação, os votos obtidos


pelos partidos fundidos ou incorporados na última eleição geral para a Câmara
dos Deputados, serão somados para efeito da distribuição dos recursos do
fundo partidário e do acesso gratuito ao rádio e à televisão.

64
É importante destacar que somente será admitida a fusão
ou incorporação de partidos políticos que hajam obtido o registro definitivo do
Tribunal Superior Eleitoral há, pelo menos, 5 (cinco) anos.

2.3 Extinção de partido político

A extinção de partido político poderá ocorrer por iniciativa


própria da agremiação ou por decisão do Tribunal Superior Eleitoral.

No primeiro caso, deve ser considerado o que dispõe seu


estatuto.

No segundo, deve-se observar o disposto no artigo 28 da


Lei 9.096/95.

São ilícitos que dão ocasião ao cancelamento do registro


e do estatuto de partido político:

a) ter recebido ou estar recebendo recursos financeiros


de procedência estrangeira;

b) estar subordinado a entidade ou governo estrangeiro;

c) não ter prestado as devidas contas à Justiça Eleitoral.

Se essa irregularidade for cometida por órgão regional ou


municipal de partido político, não dará azo ao cancelamento do estatuto e do
registro da agremiação.

d) manter organização paramilitar;

O processo de cancelamento terá inicio mediante


apresentação de denúncia:

 de qualquer eleitor;
 de representante de partido político;
 de representação do Procurador-Geral Eleitoral.

65
O Tribunal Superior Eleitoral, provada algum daqueles
ilícitos, determinará o cancelamento. Essa decisão deverá precedida de
processo regular, assegurada ampla defesa.

3. Do funcionamento parlamentar

No parlamento o partido político funciona por intermédio


de uma bancada, que constituirá suas lideranças de acordo com o estatuto do
partido, as disposições regimentai e as normas da Lei dos Partidos Políticos.

4. Do Programa e do Estatuto

O programa de um partido político é o instrumento em


que ele fixa seus objetivos políticos. Observadas as disposições constitucionais
e da Lei das Eleições, os partidos tem liberdade para a elaboração de seu
programa.

Já o estatuto, é o instrumento através do qual o partido


estabelece a sua estrutura interna organização e funcionamento.

Devem constar dos estatutos partidários normas sobre:

 nome, denominação abreviada e o estabelecimento


da sede na Capital Federal;
 filiação e desligamento de seus membros;
 direitos e deveres dos filiados;
 modo como se organiza e administra, com a
definição de sua estrutura geral e identificação,
composição e competências dos órgãos partidários
nos níveis municipal, estadual e nacional, duração
dos mandatos e processo de eleição dos seus
membros;

66
 fidelidade e disciplina partidárias, processo para
apuração das infrações e aplicação das
penalidades, assegurado amplo direito de defesa;
 condições e forma de escolha de seus candidatos
a cargos e funções eletivas;
 finanças e contabilidade, estabelecendo, inclusive,
normas que os habilitem a apurar as quantias que
os seus candidatos possam despender com a
própria eleição, que fixem os limites das
contribuições dos filiados e definam as diversas
fontes de receita do partido, além daquelas
previstas nesta Lei;
 critérios de distribuição dos recursos do Fundo
Partidário entre os órgãos de nível municipal,
estadual e nacional que compõem o partido;
 procedimento de reforma do programa e do
estatuto.

As esferas partidárias não são responsáveis pelas


irregularidades cometidas pelas demais esferas. Isto é, não existe
responsabilidade solidária entre os órgãos de direção partidária.

Os órgãos partidários respectivos poderão assumir


eventuais dívidas deixadas por seus candidatos majoritários. Se houver acordo
expresso, outra esfera poderá assumir a dívida. Caso não ocorra o pagamento,
somente poderão ser penhorados os bens da esfera partidária que tiver
contraído a dívida.

5. Da filiação partidária

Somente podem se filiar a partidos políticos os eleitores


que estiverem no pleno gozo de seus direitos políticos. Impende destacar que
os militares e os servidores da Justiça Eleitoral não podem se filiar a partidos
políticos. Os primeiros em virtude do disposto no artigo 142, § 3º, V, da

67
Constituição Federal, os segundos em decorrência do disposto no artigo 366
do Código Eleitoral.

Também não podem se filiar a partidos políticos os


conscritos, durante o serviço militar obrigatório.

De igual forma, os magistrados encontram-se proibidos,


pela Constituição Federal, de exercerem atividade político-partidária, assim
como os membros do Ministério Público, desde a EC 45/2004, para aqueles
que ingressaram após 1988.

Por fim, os membros dos Tribunais de Conta e da


Defensoria Pública estão impedidos de se filiarem.

Eventual inelegibilidade não impede que o cidadão venha


a se filiar a partido político.

Requerida a filiação partidária, ela será considerada


deferida caso tenha atendido as regras estatutárias do partido. Deverá a
agremiação partidária entregar ao eleitor o comprovante de sua filiação.

A Lei 13.165/2015 revogou o artigo 18 da Lei 9.096/95 –


que estabelecia um prazo mínimo de filiação partidária para eventual
candidatura. Com isso, agora apenas Lei 9.504/97 estabelece o prazo de
filiação partidária que doravante será de apenas 06 (seis) meses.

Estranhamente, foi mantido o artigo 20, e seu parágrafo


único, que permitem que os partidos políticos estabeleçam em seus estatutos
prazo de filiação superior ao definido na lei 9.096/95, não podendo o prazo
previsto no estatuto ser modificado em ano eleitoral.

Os magistrados e os membros do Ministério Público


poderão se filiar no mesmo prazo para desincompatibilização.

Os partidos políticos, por seus órgãos de direção


municipais, regionais ou nacional, deverá inserir os dados do filiado no sistema
eletrônico da Justiça Eleitoral, que automaticamente enviará aos juízes
eleitorais, para arquivamento, publicação e cumprimento dos prazos de filiação
partidária para efeito de candidatura a cargos eletivos, a relação dos nomes de

68
todos os seus filiados, da qual constará a data de filiação, o número dos títulos
eleitorais e das seções em que estão inscritos.

Se algum filiado for prejudicado por desídia ou má-fé


poderá requerer, diretamente à Justiça Eleitoral, a observância do envio da
relação de filiados. O Provimento nº 04/2005, disciplina o chamado envio de
lista especial – quando o partido não envia a lista de filiados.

Os diretórios nacionais dos partidos terão pleno acesso


às informações de seus filiados constantes do cadastro eleitoral.

Para se desligar do partido, basta que o filiado faça


comunicação escrita à agremiação, via seu órgão municipal e ao juiz eleitoral
de sua Zona Eleitoral. Se não existir órgão municipal, a comunicação deve ser
feita apenas ao Juiz Eleitoral.

Entregue a comunicação, dois dias depois o vínculo se


torna extinto para todos os efeitos.

São hipóteses de cancelamento imediato da filiação


partidária:

a) morte;

b) perda dos direitos políticos;

c) expulsão;

d) outras formas previstas no estatuto, com


comunicação obrigatória ao atingido no prazo de 48
horas da decisão;

e) filiação a outro partido, desde que a pessoa


comunique o fato ao juiz da respectiva zona eleitoral.

Caso haja coexistência de duas filiações partidárias, a


mais recente prevalecerá, devendo a Justiça Eleitoral determinar o
cancelamento das demais.

Anteriormente, em caso de coexistência de filiações


partidárias, todas eram canceladas.

69
6. Da Fidelidade e da disciplina partidárias

Os partidos políticos devem criar órgãos com


competência para apurar e punir as violações dos deveres partidários, sendo
assegurado ao filiado amplo direito de defesa. O filiado somente pode ser
punido caso a conduta por ele praticada esteja tipificada no estatuto partidário.

No parlamento, o integrante da bancada de partido deve


subordinar sua ação parlamentar aos princípios doutrinários e programáticos e
às diretrizes estabelecidas pelos órgãos de direção partidários, na forma do
estatuto.

O parlamentar que desfiliar de seu partido, perderá,


automaticamente, a função ou cargo que exerça, na respectiva Casa
Legislativa, em virtude da proporção partidária. Não se trata, aqui, de perda do
mandato, mas de perda de cargo nas comissões existentes nas Casas
Legislativas.

Dispõe o artigo 25 da Lei 9.096/95 que o estatuto deverá


prever sanções disciplinares aos parlamentares que se opuserem, pela atitude
ou pelo voto, às diretrizes legitimamente estabelecidas pelos órgãos
partidários. São apresentadas a seguintes sugestões de penalidades:

a) desligamento temporário da bancada;

b) suspensão do direito de voto nas reuniões internas;

c) perdas de todas as prerrogativas, cargos ou funções


que exerça em decorrência da representação e da proporção partidária.

O Tribunal Superior Eleitoral, ao responder à Consulta


1398 entendeu que a desfiliação de parlamentar, no curso do mandato, tem o
condão de fazê-lo perder o mandato eletivo, pois esse pertence ao partido pelo
qual foi eleito.

70
Os partidos PSDB, DEM e PPS requereram que o
Presidente da Câmara dos Deputados, à época, declarasse a perda de
mandato de seus ex-filiados. Como o Presidente se negou, ajuizaram três
Mandados de Segurança perante o Supremo Tribunal Federal (MS 26.602,
26.603 e 26.604), encampou a Consulta respondida pelo TSE e determinou
que o Tribunal Eleitoral elaborasse Resolução dispondo sobre o assunto.

Assim, foi editada a Resolução 22.610/2007 que prevê


que a desfiliação partidária, seja de parlamente, seja de chefe do Poder
Executivo, tem o condão de proporcionar a perda do mandato eletivo, desde
que não haja justa causa para a desfiliação.

Considera-se como justa causa para desfiliação:

a) incorporação ou fusão do partido;

b) criação de novo partido;

c) mudança substancial ou desvio reiterado do programa


partidário;

d) grave discriminação pessoal.

Nada obstante a Resolução padeça de sérias


inconstitucionalidades, o Supremo Tribunal Federal sufragou-a, de modo que a
sua observância é medida que se impõe.

O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADI 5081,


declarou que a Resolução TSE 22.610/2007, na parte em que estabelece o
regime de infidelidade para os cargos eleitos pelo sistema majoritário, é
inconstitucional. Desta forma, os Chefes do Poder Executivo, seus vices, e o
Senadores podem desfiliar dos partidos pelos quais foram eleitos e migrarem
para outro, sem o risco de perderem o mandato.

A Lei 13.165/2015 retirou a incorporação ou fusão do


partido, bem como a criação de um novo partido, como situações de justa
causa para a desfiliação.

71
Além disso, criou uma nova hipótese de justa causa: a
desfiliação, no último ano do mandato, realizada no período de 30 dias
anteriores ao prazo final da filiação partidária.

Por outras palavras, o prazo de filiação partidária é de 6


meses antes da eleição. Se o mandatário, no último ano de seu mandato, se
desfiliar dentro do sétimo mês anterior às eleições, não será punido.

Trata-se de medida interessante que mantém a regra de


fidelidade partidária, sem impedir que o mandatário possa transferir para outro
partido sem o risco de perda do mandato.

7. Finanças e contabilidades dos partidos políticos

O partido político se mantém com receitas oriundas do


Fundo Partidário, sobre o qual falaremos mais adiante, e com contribuições de
pessoas físicas e jurídicas. As doações feitas por particulares, em recursos
financeiros devem ser, obrigatoriamente, efetuadas por cheque cruzado em
nome do partido político ou por depósito bancário diretamente na conta do
partido político.

A Lei 9.096/95 apresentava um rol, taxativo, de pessoas


e entidades das quais as agremiações não poderiam receber, direta ou
indiretamente, sob qualquer forma ou pretexto, contribuição ou auxílio
pecuniário ou estimável em dinheiro, inclusive através de publicidade de
qualquer espécie. Essas entidades são:

a) entidade ou governo estrangeiro;

b) autoridade ou órgãos públicos, ressalvado o fundo


partidário;

c) autarquias, empresas públicas ou concessionárias de


serviços públicos, sociedades de economia mista e
fundações instituídas em virtude de lei e para cujos
recursos concorram órgãos ou entidades
governamentais;

72
d) entidade de classe ou sindical.

O Supremo Tribunal Federal ao julgar a ADI 4650,


proposta pelo Conselho Federal da OAB, decidiu por ilustrada maioria, pela
inconstitucionalidade de doações por pessoas jurídicas, quer seja para
campanhas eleitorais de candidatos, quer seja para as atividades partidárias.

Assim, somente podem doar para os partidos políticos as


pessoas físicas. A Lei 13.488/2017, contudo, alterou a Lei 9.096/96, vedando
que pessoas físicas que exerçam função ou cargo público de livre nomeação e
exoneração, ou cargo ou emprego público temporário possam doar permitindo,
porém, que se forem filiados ao partido político possam doar.

Os partidos políticos deverão prestar contas, anualmente,


à Justiça Eleitoral, até o dia 30 de junho o balanço contábil do mês findo. Os
balanços serão enviados: aos Juízes Eleitorais, no caso de órgãos municipais,
aos Tribunais Regionais Eleitorais, no caso de órgãos regionais; ao Tribunal
Superior Eleitoral, no caso de órgãos nacionais.

Uma observação importante: os diretórios municipais dos


partidos políticos que não tenham movimentado recursos financeiros ou
arrecadado bens estimáveis em dinheiro ficam desobrigados de prestar contas
à Justiça Eleitoral, bastando a apresentação de declaração da ausência de
movimentação de recursos no exercício anterior.

Em ano eleitoral, os partidos devem encaminhar


balancetes mensais à Justiça Eleitoral, durante os quatro meses anteriores e
dois meses posteriores ao pleito.

Para realizar os exames na prestação de contas dos


partidos, a Justiça Eleitoral poderá requisitar técnicos dos Tribunais de Contas
da União e dos Estados.

Os partidos podem fiscalizar as contas uns dos outros.


Caso fique constatada a violação de normas legais ou estatutárias, ficará o
partido sujeito às seguintes sanções:

 no caso de recursos de origem não mencionada


ou esclarecida, fica suspenso o recebimento das

73
quotas do fundo partidário até que o
esclarecimento seja aceito pela Justiça Eleitoral;
 no caso de recebimento de recursos proveniente
de fontes vedadas, fica suspensa a participação
no fundo partidário por um ano;

A não apresentação das contas pelas Justiça Eleitoral


implicará em suspensão do recebimento de novas cotas do fundo partidário,
enquanto perdurar a omissão.

Ao julga a prestação de contas, a Justiça Eleitoral


decidirá:

a) pela aprovação das contas;

b) pela aprovação com ressalvas;

c) pela desaprovação das contas.

A desaprovação das contas poderá ser total ou parcial e


implicará na suspensão do recebimento de novas cotas, pena que deverá ser
aplicada de forma proporcional e razoável pelo período de 1 mês a 12 meses.

Da decisão pela desaprovação das contas, caberá


recurso para os TREs e para o TSE, no prazo de 3 dias. Esse recurso terá
efeito suspensivo.

7.1 Fundo Partidário

O Fundo Partidário é um Fundo Especial de Assistência


Financeira aos Partidos Políticos. Tal fundo é constituído pelas seguintes
fontes:

 Multas e penalidades pecuniárias aplicadas nos


termos do Código Eleitoral e leis conexas.
 Recursos financeiros que lhe forem destinados por
lei, em caráter permanente ou eventual;

74
 Doações de pessoa física ou jurídica, efetuadas
por intermédio de depósitos bancários diretamente
na conta do Fundo Partidária;
 Dotações orçamentárias da União em valor nunca
inferior, cada ano, ao número de eleitores inscritos
em 31 de dezembro do ano anterior ao da
proposta orçamentária, multiplicados por R$ 0,35
em valores de agosto de 1995.

A dotação orçamentária do Fundo Partidário constará do


anexo do Poder Judiciário, ao Tribunal Superior Eleitoral. O depósito será feito
mensalmente pelo Tesouro Nacional em conta, no Banco do Brasil, à
disposição do Tribunal Superior Eleitoral.

Nesta mesma conta, serão depositadas as multas e


outras penalidades pecuniárias previstas na Legislação Eleitoral.

Tendo o Tesouro Nacional efetuado o depósito, caberá


ao Tribunal Superior Eleitoral, no prazo de 05 dias, repassar o dinheiro aos
partidos políticos.

A divisão do Fundo Partidário obedecerá aos seguintes


critérios:

a) 5% serão destacados para entrega, em partes


iguais, a todos os partidos que atendam aos
requisitos constitucionais de acesso aos recursos
do Fundo Partidário;
b) 95% serão distribuídos aos partidos na proporção
dos votos obtidos na última eleição geral para a
Câmara dos Deputados.

Para efeito do disposto no item “b”, serão


desconsideradas as mudanças de filiação partidária, em quaisquer hipóteses.

As verbas provenientes do Fundo Partidário devem ser


depositadas e movimentadas em estabelecimentos bancários controlados pelo

75
Poder Público, Federal ou Estadual, e inexistindo, no banco escolhido pelo
órgão diretivo do partido político – no caso de diretórios municipais.

Os recursos provenientes do Fundo Partidário devem


ser aplicados, nos termos da Lei 9.096/95:

 Na manutenção das sedes e serviços do partido,


permitido o pagamento de pessoal, a qualquer
título, observado o limite máximo de 50% para o
órgão nacional e 60% para os órgãos estaduais e
municipais;
 Na propaganda doutrinária e política;
 No alistamento e campanhas eleitorais;
 Na criação e manutenção de instituto ou fundação
de pesquisa e de doutrinação e educação política,
sendo esta aplicação de, no mínimo, 20% do total
recebido;
 Na criação e manutenção de programas de
promoção e difusão da participação política das
mulheres conforme percentual que será fixado
pelo órgão nacional de direção partidária,
observado o mínimo de 5% do total.
 No pagamento de mensalidades, anuidades e
congêneres devidos a organismos partidários
internacionais que se destinem ao apoio à
pesquisa, ao estudo e à doutrinação política, aos
quais seja o partido político regularmente filiado;
 No pagamento de despesas com alimentação,
incluindo restaurantes e lanchonetes.
 Na contratação de serviços de consultoria contábil
e advocatícia e de serviços de atuação
jurisdicional em ações de controle de
constitucionalidade e em demais processos
judiciais e administrativos de interesse partidário,
bem como nos litígios que envolvam candidatos

76
do partido, eleitos ou não, relacionados
exclusivamente ao processo eleitoral;
 Compra ou locação de bens móveis e imóveis,
bem como na edificação ou construção de sedes
e afins;
 No custeio de impulsionamento, para conteúdos
contratados diretamente com provedor de
aplicação de internet com sede e foro no País;

Esse programa de incentivo à participação feminina será


levado a efeito por uma secretaria da mulher ou, a critério da agremiação, por
instituto com personalidade jurídica própria presidido pela Secretária da Mulher,
em nível nacional.

Os partidos políticos não se submetem à Lei das


Licitações, mesmo no que tange às verbas provenientes do Fundo Partidário.

Três observações merecem ser feitas quanto aos gastos


do Fundo Partidário.

Primeiro, nos gastos com pessoal, até 50%, não se


incluem os encargos e tributos de qualquer natureza.

Segundo, o partido político que não aplicar os 5% para a


participação feminina deverá transferir o saldo para conta específica, sendo
vedada sua aplicação para finalidade diversa, de modo que o saldo
remanescente deverá ser aplicado dentro do exercício financeiro subsequente,
sob pena de acréscimo de 12,5% do valor que deveria aplicar.

Terceiro, se a fundação ou instituto não despender a


totalidade dos recursos que lhes forem destinados, a sobra poderá ser
revertida para outras atividades partidárias a que o Fundo Partidário se destina.

8. Acesso ao Rádio e à Televisão: propaganda partidária

77
Os partidos políticos devidamente registrados perante o
Tribunal Superior Eleitoral terão direito a acesso gratuito ao rádio e à televisão.

Como já estudado, a Emenda Constitucional 97/2017


passou a exigir alguns requisitos para que os partidos políticos tenham acesso
ao rádio e à televisão, assim:

i) que os partidos obtenham, nas eleições para a


Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% dos votos
válidos, distribuídos em pelo menos 1/3 das
unidades da Federação, com um mínimo de 2% dos
votos válidos em cada uma delas; ou 

ii) que os partidos tenham eleito pelo menos 15


Deputados Federais distribuídos em pelo menos 1/3
das unidades da Federação. 

Porém, nos termos do artigo 3º da EC 97/2017, essa


norma somente entrará em vigor no ano de 2.030, prevendo três regras de
transição para que os partidos tenham direito ao fundo partidário e ao rádio e
televisão:

na legislatura seguinte às eleições de 2018:

i) obtiverem, nas eleições para a Câmara dos


Deputados, no mínimo, 1,5% dos votos válidos,
distribuídos em pelo menos 1/3 das unidades da
Federação, com um mínimo de 1% dos votos válidos
em cada uma delas; ou

i) tiverem elegido pelo menos 9 Deputados Federais


distribuídos em pelo menos 1/3 das unidades da
Federação;

na legislatura seguinte às eleições de 2022:

i) obtiverem, nas eleições para a Câmara dos


Deputados, no mínimo, 2% dos votos válidos,
distribuídos em pelo menos 1/3 das unidades da

78
Federação, com um mínimo de 1% dos votos válidos
em cada uma delas; ou

i) tiverem elegido pelo menos 11 Deputados


Federais distribuídos em pelo menos 1/3 das
unidades da Federação;

na legislatura seguinte às eleições de 2026:

i) obtiverem, nas eleições para a Câmara dos


Deputados, no mínimo, 2,5% dos votos válidos,
distribuídos em pelo menos 1/3 das unidades da
Federação, com um mínimo de 1,5% dos votos
válidos em cada uma delas; ou

ii) tiverem elegido pelo menos 13 Deputados


Federais distribuídos em pelo menos 1/3 das
unidades da Federação.

Regulamentando o dispositivo constitucional, foi editada a Lei


14.291/2022, que introduziu os artigos 50-A, 50-B, 50-C e 50-D, na Lei
9.096/95.

Pelos dispositivos, os partidos políticos, que tenha cumprido os


requisitos constitucionais, terão direito à veiculação de propaganda partidária
no rádio e na televisão. Essa propaganda será em bloco, com formação de
cadeia, ou mediante inserções de 30 segundos.

A quantidade e a duração das inserções dependerão de


quantos Deputados Federais o partido tenha eleito. Veja-se:

I - o partido que tenha eleito acima de 20 Deputados Federais


terá assegurado o direito à utilização do tempo total de 20
minutos por semestre para inserções de 30 segundos nas
redes nacionais, e de igual tempo nas emissoras estaduais;

II - o partido que tenha eleito entre 10 e 20 Deputados Federais


terá assegurado o direito à utilização do tempo total de 10
minutos por semestre para inserções de 30 segundos nas
redes nacionais, e de igual tempo nas emissoras estaduais;

79
III - o partido que tenha eleito até 9 Deputados Federais terá
assegurado o direito à utilização do tempo total de 5 minutos
por semestre para inserções de 30 segundos nas redes
nacionais, e de igual tempo nas redes estaduais.

A propaganda partidária terá por finalidade:

I - difundir os programas partidários;

II - transmitir mensagens aos filiados sobre a execução do


programa partidário, os eventos com este relacionados e as
atividades congressuais do partido;

III - divulgar a posição do partido em relação a temas políticos


e ações da sociedade civil;

IV - incentivar a filiação partidária e esclarecer o papel dos


partidos na democracia brasileira;

V - promover e difundir a participação política das mulheres,


dos jovens e dos negros.

Lado outro, são vedadas propagandas partidárias que sejam


veiculados os seguintes conteúdos:

I - a participação de pessoas não filiadas ao partido


responsável pelo programa;

II - a divulgação de propaganda de candidatos a cargos


eletivos e a defesa de interesses pessoais ou de outros
partidos, bem como toda forma de propaganda eleitoral;

III - a utilização de imagens ou de cenas incorretas ou


incompletas, de efeitos ou de quaisquer outros recursos que
distorçam ou falseiem os fatos ou a sua comunicação;

IV - a utilização de matérias que possam ser comprovadas


como falsas (fake news);

V - a prática de atos que resultem em qualquer tipo de


preconceito racial, de gênero ou de local de origem;

VI - a prática de atos que incitem a violência.

80
O partido político que descumprir essa regra será punido com a
perda, no semestre seguinte, à perda de 2 (duas) a 5 (cinco) vezes o tempo da
inserção ilícita.

Não haverá propaganda partidária no segundo semestre do


ano em que forem realizadas eleições.

81
Unidade VI

Registro de candidatura

1.Introdução

Esta aula é voltada para o estudo do registro de candidaturas –


englobando as convenções partidárias, requerimentos de registros, as
condições de elegibilidade, as inelegibilidades, as substituições de
candidaturas.

2. Convenção

2.1 Conceito

Não há na legislação o conceito de convenção partidária, mas pode-


se entender como uma reunião solene entre os filiados do partido político –
com direito à voto, e por isso também chamados, nos estatutos partidários, de
delegados – para definição sobre o modo como a agremiação irá participar nas
eleições – se sozinho ou coligado – definindo os seus candidatos, a quantidade
e o número pelo qual cada um concorrerá. É, então, um dos atos do chamado
processo eleitoral.

É a partir das convenções que importantes consequências,


principalmente processuais surgem. De fato, com a realização delas
determinadas matérias passam a orbitar a competência da Justiça Eleitoral,
como as matérias de ordem interna dos partidos políticos, mas que repercutem
diretamente na eleição. Exemplo disso, a) a escolha dos candidatos – expulsão
de filiado ou suspensão de seus direitos partidários; b) a destituição de diretório
ou comissão provisória de partido político; c) anulação das deliberações
tomadas na Convenção partidária.

2.2 Momento

82
As convenções devem ser realizadas entre os dias 20 de julho a
05 de agosto do ano da eleição, consoante dispõe o artigo 8º da Lei
9.504/97, alterado pela Lei 13.165/2015. Via de regra, não poderá ser realizada
após esse prazo. Entretanto, é possível a renovação de uma convenção nas
hipóteses em que ela for anulada judicialmente ante a existência de algum vício
insanável.

Bom lembrar que para a realização das convenções partidárias é


permitido o uso de bens públicos, consoante disposto no artigo 73, I, da Lei
9.504/97.

2.3 Regras

A convenção partidária será realizada conforme disposição


estatutária, devendo observar, ainda, as demais normativas internas da
agremiação partidária.

É o que se depreende do artigo 17, § 1º, da Constituição Federal e,


também, do artigo 7º da Lei 9.504/97.

3. Coligações

3.1 Conceito

As coligações são agrupamentos de partidos políticos que visam


reunir forças para disputar determinado pleito eleitoral. Trata-se de uma junção
de partidos pro tempore, isto é, apenas para as eleições.

3.2 Objetivos

Os objetivos para a formação de coligações basicamente são os


seguintes:

 Aumentar o tempo para propaganda no rádio e na televisão;

 Aumentar, na eleição proporcional, o número de candidatos a


serem lançados;

83
 Reunir forças contra um adversário político comum.

 Compor forças para a gestão política da esfera administrativa


em disputa no pleito eleitoral – divisão de cargos na
Administração futura.

3.3 Regras

As regras para a formação de coligações estão estabelecidas no


artigo 6º da Lei 9.504/97. O dispositivo tem a seguinte redação:

Art. 6º É facultado aos partidos políticos, dentro da mesma


circunscrição, celebrar coligações para eleição majoritária,
proporcional, ou para ambas, podendo, neste último caso,
formar-se mais de uma coligação para a eleição
proporcional dentre os partidos que integram a coligação
para o pleito majoritário.

O Congresso Nacional aprovou a Emenda Constitucional nº 52,


dando nova redação ao § 1º do artigo 17 da Constituição Federal, verbis:

§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia


para definir sua estrutura interna, organização e
funcionamento e para adotar os critérios de escolha e
o regime de suas coligações eleitorais, sem
obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas
em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal,
devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina
e fidelidade partidária.3

Portanto, hodiernamente não há que se falar mais em verticalização


das eleições.

A primeira regra, por conseguinte, é que os partidos políticos gozam


de ampla liberdade para a definição das coligações regionais, sem qualquer
vinculação com a coligação nacional.

3
Foi proposta a ADIN 3685, tendo o Supremo Tribunal Federal decidido que a Emenda Constitucional
somente valeria para as eleições seguintes ante o princípio da anualidade prevista no art. 16 do Texto
Constitucional.

84
Deve-se destacar que a Emenda Constitucional 97/2017 acabou com
as coligações para o pleito proporcional a partir das eleições de 2020.

A segunda regra, ao meu ver, ainda que não expressa na Lei


9.504/97, é de que somente pode haver coligação entre partidos devidamente
registrados no Tribunal Superior Eleitoral. Aliás a Lei 9.096/95 é expressa ao
determinar que somente os partidos políticos devidamente registrados no
Tribunal Superior Eleitoral “pode participar do processo eleitoral”.

Como terceira regra estabelece-se que somente os filiados aos


partidos coligados podem ser lançados como candidatos pela coligação, à
exceção do militar – que basta ser escolhido em convenção partidária.

Feita a coligação, compete aos presidentes dos partidos coligados,


ou a seus delegados, ou a maioria dos membros dos órgãos executivos, de
acordo com o que ficar decidido na convenção que definiu pela formação do
bloco partidário.

3.4 Nome da coligação

Como a coligação é uma entidade própria que não se confunde com


os partidos que a integram, a legislação determina que a ela seja dada uma
denominação própria, podendo corresponder à junção das siglas partidárias
que a componham.

A coligação goza de liberdade para a escolha de seu nome,


entretanto, não poderá coincidir, incluir ou fazer referência a nome ou número
de candidato, consoante dispõe o art. 6º., § 1º, da Lei 9.504/97.

3.5. Escolha dos candidatos

A escolha dos candidatos que irão representar o partido político deve ser
feita segundo critérios estabelecidos no estatuto partidário. É o que dispõe o
artigo 15 da Lei 9.096/95.

85
3.5.1 regras para escolha dos candidatos

A Lei 9.504/97 estabelece alguns requisitos para a escolha dos


candidatos. Em verdade refere-se a Lei das Eleições às condições de
elegibilidade prevista na Constituição Federal acrescidas, em algumas
hipóteses de prazos, como ocorre com o domicílio eleitoral na circunscrição do
pleito e a filiação partidária. Neste sentido:

Art. 9º Para concorrer às eleições, o candidato deverá


possuir domicílio eleitoral na respectiva circunscrição pelo
prazo de seis meses e estar com a filiação deferida pelo
partido no mesmo prazo.

Parágrafo único. Havendo fusão ou incorporação de partidos


após o prazo estipulado no caput, será considerada, para efeito
de filiação partidária, a data de filiação do candidato ao partido
de origem.

3.5.2 quantitativo de candidatos

Em se tratando de eleições majoritárias, cada partido político, ou


coligação, somente poderá/deverá indicar um candidato para cargo em disputa.
Utilizamos as expressões “poderá” “deverá”, pois, as agremiações ao mesmo
tempo em que tem o direito de indicar um candidato para cada cargo, tem o
dever, se for concorrer ao pleito, de indicar um candidato. Exemplificando:
imagine-se que determinado partido queira concorrer à eleição de prefeito,
nesta hipótese poderá indicar o candidato titular e, também, deverá indicar o
candidato a vice, sob pena de ter o registro de candidatura da chapa indeferido.

Quanto aos cargos em eleição proporcional, a regra é um pouco


diferente. É que os partidos poderão indicar candidatos além do número de
cadeiras vagas. De fato, o artigo 10 da Lei 9.504/97, com redação dada pela
Lei 13.165/2015, estabelece que os partidos ou as coligações poderão indicar

86
até 150% do número de vagas, nas eleições proporcionais – vereador,
deputado estadual e deputado federal.

No inciso I do citado artigo, há uma norma bastante interessante,


destinada às eleições de deputados estaduais e federais. Prevê que nos
Estados Federados em que o número de deputados federais for igual ou
inferior a 12, cada partido ou coligação poderá registrar até o dobro do número
de vagas disponíveis – deputados estaduais e federais.

Vê-se, então, a importância de se saber o número de vagas em


disputa para determinar a quantidade de candidatos.

No que tange às eleições municipais, a regra é de que cada partido


ou coligação registre candidatos correspondentes até 150% do número de
vagas. Entretanto, se o município tiver até 100.000 eleitores, cada
coligação poderá registrar candidatos correspondentes a até 200% do
número de vagas.

3.5.2.1 candidatura por gênero

Visando assegurar que os partidos lançassem candidatas nas


eleições, a Lei 9.504/97, em seu artigo 10, § 3º, prevê que os partidos devem
preencher o mínimo de 30% e o máximo de 70% das vagas para cada gênero.
Em verdade essa reserva destinava-se às candidaturas femininas, que
historicamente são desprezadas pelas agremiações partidárias.

O Tribunal Superior Eleitoral ao julgar o Recurso Especial 2.939,


reiterou o entendimento de que a redação do § 3º possui caráter impositivo,
devendo as agremiações, obrigatoriamente, lançarem candidatas. Veja-se:

Registro de candidaturas. Percentuais por sexo.

1. Conforme decidido pelo TSE nas eleições de 2010, o § 3º


do art. 10 da Lei nº 9.504/97, na redação dada pela Lei nº
12.034/2009, estabelece a observância obrigatória dos
percentuais mínimo e máximo de cada sexo, o que é aferido

87
de acordo com o número de candidatos efetivamente
registrados.

2. Não cabe a partido ou coligação pretender o


preenchimento de vagas destinadas a um sexo por
candidatos do outro sexo, a pretexto de ausência de
candidatas do sexo feminino na circunscrição eleitoral, pois se
tornaria inócua a previsão legal de reforço da participação
feminina nas eleições, com reiterado descumprimento da lei.

3. Sendo eventualmente impossível o registro de


candidaturas femininas com o percentual mínimo de 30%, a
única alternativa que o partido ou a coligação dispõe é a de
reduzir o número de candidatos masculinos para adequar
os respectivos percentuais, cuja providência, caso não
atendida, ensejará o indeferimento do demonstrativo de
regularidade dos atos partidários (DRAP).

Recurso especial não provido.

(Recurso Especial Eleitoral nº 2939, Relator Min. Arnaldo


Versiani Leite Soares, publicado em Sessão 06/11/2012).

Visando amenizar o rigor da norma, o próprio Tribunal Superior deu


interessante interpretação ao § 3º em comento, ao dizer que o cálculo dos
percentuais deverá considerar “o número de candidatos efetivamente
lançados”, cabendo sempre a proporcionalidade entre a candidatura feminina
e a masculina. Por outras palavras, o número de candidatas determinará o
número total de candidatos.

Exemplo: o partido pode lançar até 10 candidatos: deverá lançar 3


mulheres para lançar 7 homens. Mas se o partido lançar apenas duas
candidatas? Nesta hipótese poderá lançar 5 candidatos, de modo que a
proporcionalidade estará mantida.

3.5.3 nome dos candidatos

88
Cada candidato concorrerá no pleito eleitoral com um nome e um
número específico de sua candidatura.

Não há vinculação entre o nome de candidato com o nome de


registro, podendo, por consequência, ser utilizado nome pelo qual seja
reconhecido na sociedade.

A legislação eleitoral dá ampla liberdade para que o candidato


escolha o seu nome, “desde que não se estabeleça dúvida quanto à sua
identidade, não atente contra o pudor e não seja ridículo ou irreverente” – art.
12 da Lei 9.504/97.

No registro de candidatura o candidato deve apresentar três opções


de nomes, para, havendo problemas com um o outro seja deferido.

Havendo homonímia a questão se resolverá pela aplicação do § 1º


do artigo 12 da Lei 9.504/97:

§ 1º Verificada a ocorrência de homonímia, a Justiça Eleitoral


procederá atendendo ao seguinte:

I - havendo dúvida, poderá exigir do candidato prova de que é


conhecido por dada opção de nome, indicada no pedido de
registro;

II - ao candidato que, na data máxima prevista para o registro,


esteja exercendo mandato eletivo ou o tenha exercido nos
últimos quatro anos, ou que nesse mesmo prazo se tenha
candidatado com um dos nomes que indicou, será deferido o
seu uso no registro, ficando outros candidatos impedidos de
fazer propaganda com esse mesmo nome;

III - ao candidato que, pela sua vida política, social ou


profissional, seja identificado por um dado nome que tenha
indicado, será deferido o registro com esse nome, observado o
disposto na parte final do inciso anterior;

IV - tratando-se de candidatos cuja homonímia não se resolva


pelas regras dos dois incisos anteriores, a Justiça Eleitoral

89
deverá notificá-los para que, em dois dias, cheguem a acordo
sobre os respectivos nomes a serem usados;

V - não havendo acordo no caso do inciso anterior, a Justiça


Eleitoral registrará cada candidato com o nome e sobrenome
constantes do pedido de registro, observada a ordem de
preferência ali definida.

Importa destacar que a homonímia não pode ocorrer ainda que


sejam candidatos a cargos distintos – majoritário e proporcional. Exemplo:
candidato a vereador e candidato a prefeito com o mesmo nome. É o que
dispõe o artigo 12, § 3º, da Lei 9.504/97, do qual cabem as seguintes
ressalvas:

a) candidato que esteja disputando reeleição;

b) tenha exercido mandato nos últimos quatro anos; c) tenha


concorrido em eleição com o nome coincidente.

Não havendo preferências entre candidatos que pretendam o


registro da mesma variação nominal, nos termos do art. 32, Resolução TSE
23.455/2015, será deferido aquele que primeiro procedeu ao registro de
candidatura.

Quanto ao nome do candidato, a Resolução TSE 23.455/2015, em


seu artigo 31, caput, e § 1º, estabelece duas regras para a composição do
nome do candidato que constará da urna eletrônica:

1º) o nome deverá ter até 30 caracteres, incluindo-se o espaço entre


os nomes;

2º) não poderá compor o nome do candidato expressão ou siglas


pertencentes a qualquer órgão da administração pública direta, indireta federal,
estadual, distrital e municipal.

Veda-se, assim, nomes tais como José da Ambulância; Maria do


Cais; João do HUGO – Hospital de Urgências de Goiânia.

4. Substituição e Vagas Remanescentes

90
Os partidos nem sempre conseguem preencher todas as vagas
disponíveis por ocasião da Convenção partidária.

Também é comum que os candidatos escolhidos pelos partidos, por


vários motivos, abandonem o prélio eleitoral.

Nestas hipóteses, a legislação eleitoral permite que os partidos


preencham as vagas restantes ou apresentem substitutos, conforme o caso,
observadas as regras pertinentes.

4.1 hipóteses que autorizam a substituição de candidato

É comum ocorrer de os candidatos, por inúmeros motivos, não


chegarem à linha final da eleição. Nestes casos poderá a agremiação ou a
coligação indicar substitutos. Como a Lei 9.504/97 estabelece data inicial e
data final para a realização das convenções, impossível a sua realização após
o dia 05 de agosto do ano da eleição, salvo se houver nulidade, via judicial, das
deliberações e a autoridade judicial determinar a realização de uma nova
convenção.

São hipóteses de substituição de candidato:

 Indeferimento ou cancelamento do registro de candidatura:

 Desistência e renúncia da candidatura:

 Falecimento do candidato:

4.1.1 Regras para a substituição

A substituição, seja a hipótese que for, deve respeitar ao que


determina o estatuto do partido a que pertencer o candidato substituído,
cabendo à direção partidária a escolha.

91
Se o candidato for do pleito majoritário, e houver coligação, caberá
aos órgãos de direção dos partidos coligados a escolha do candidato
substituto. A decisão será tomada pela maioria absoluta dos órgãos executivos
de direção dos partidos coligados. A preferência na escolha do substituto será
da agremiação a que pertencer o substituído, podendo a sigla ceder a
preferência para outro partido coligado.

O partido, ou coligação, terá o prazo de 10 dias, contados do fato ou


de sua notificação da decisão judicial que motivar a substituição. A
necessidade de notificação do partido foi inserida na Lei 9.504/97 pela Lei
12.034/2009.

Além disso o candidato, seja em pleito proporcional ou


majoritário, deverá ser substituído até 20 dias antes do pleito. Por outras
palavras, em regra não poderá ocorrer substituição nos 20 dias que antecedem
o pleito eleitoral, seja para o pleito majoritário ou proporcional.

Já se a substituição decorrer de falecimento do candidato, seja pleito


majoritário ou proporcional, o partido, ou coligação, poderá indicar substituto
até a véspera do dia da eleição.

4.2 prazo

O registro deve ser apresentado ao órgão da Justiça Eleitoral


competente até às 19:00 horas do dia 15 de agosto do ano da eleição. A
partir dessa data começa o que chamamos de momento crítico do processo
eleitoral, em que a Justiça Eleitoral funcionará de forma ininterrupta – aos
sábados, domingos e feriados – e os prazos não se interromperão, nem se
suspenderão. Calha lembrar que esse ano houve o encurtamento desse
período.

A Lei 9.504/97, com alteração promovida pela Lei 13.165/2015,


determina que até 20 dias antes do pleito eleitoral todos os processos de
registro de candidatura, inclusive os impugnados e os respectivos
recursos, estejam devidamente julgados pelas instâncias ordinárias.

92
O intento foi o de assegurar o cumprimento da garantia
Constitucional da razoável duração do processo.

4.3 legitimidade

Quem deve promover o registro de candidatura é o partido político,


ou coligação. Isso para todos os cargos.

Se por acaso o partido esquecer-se de fazer o registro, ou mesmo


não o fizer por desídia ou má-fé dos órgãos diretivos, caberá ao próprio
candidato apresentar seu requerimento, instruído com todos os documentos
necessários.

Entretanto, a legitimidade apenas passará ao candidato após a


publicação da lista de candidatos pelo órgão da Justiça Eleitoral responsável
pelo registro de candidatura.

Desta forma, recebidos os requerimentos de registro de candidatura


a Justiça Eleitoral deverá publicar uma lista com os nomes de todas as
pessoas cujo requerimento foi apresentado pelos partidos. Se uma pessoa,
devidamente escolhida em convenção, não teve seu registro requerido pelo
partido, poderá fazê-lo no prazo de 48 horas a contar da publicação da predita
lista.

Se não o fizer, penso que uma solução viável seria o registro nas
vagas remanescentes, reconhecendo que o instituto tem fundamento no fato de
existir vagas não preenchidas na convenção partidária. Entretanto, como o fim
do instituto é o de permitir que o partido complete o seu time para o pleito
eleitoral, pensamos que não haveria qualquer malferimento à mens legis –
vontade da lei – antes o contrário, daria ampla eficácia à norma.

93
Unidade VII

Propaganda Eleitoral

1. Propaganda Eleitoral e Condutas Vedadas

1.1 Conceito de propaganda eleitoral

A Lei 9.504/97 não cuidou de trazer qualquer conceituação do


que seria propaganda eleitoral.

O Tribunal Superior Eleitoral, em voto da lavra do Min.


Fernando Neves (Eduardo Alckmin), por ocasião do julgamento do Ac. 15.372,
formulou o seguinte conceito, verbis:

Entende-se como ato de propaganda eleitoral aquele que leva ao


conhecimento geral, ainda que de forma dissimulada, a candidatura, mesmo
que apenas postulada, a ação política que se pretende desenvolver ou
razões que induzam a concluir que o beneficiário é o mais apto ao
exercício de função pública. Sem tais características, poderá haver mera
promoção pessoal – apta, em determinadas circunstâncias a configurar abuso
de poder econômico – mas não propaganda eleitoral.

Assim, o conceito de propaganda eleitoral é composto por 03


elementos, a saber:

 a divulgação do cargo almejado;

 a ação política que pretende desenvolver;

 as qualidades que tornam o beneficiado apto ao exercício do


cargo.

O ato de propaganda eleitoral deve atingir, ainda que


potencialmente, o eleitorado em geral, caso contrário, não se terá propaganda,
mas, sim, mero ato de promoção pessoal.

1.2 Propaganda Partidária

94
Essa espécie de propaganda política é aquela destinada a fortalecer
as agremiações partidárias. Contudo, ainda não foi regulamentada a Emenda
Constitucional 97/2017.

1.3. Propaganda Intrapartidária

A propaganda intrapartidária é a terceira espécie de


propaganda política, sendo autorizada pelo § 1º do artigo 36 da Lei das
Eleições quando diz que “ao postulante a candidatura a cargo eletivo é
permitida a realização na quinzena anterior à escolha pelo partido, de
propaganda intrapartidária com vista à indicação de seu nome, vedado o uso
de rádio, televisão e outdoor”.

Vê-se, portanto, que a propaganda intrapartidária é aquela em


que o postulante a candidato, o chamado “candidato a candidato”, busca
convencer os delegados de seu partido a indicar o seu nome para concorrer no
pleito eleitoral em representação à agremiação partidária. Difere da
propaganda eleitoral exatamente quanto à abrangência, enquanto a
intrapartidária é voltada para público interno, isto é, delegados de seu partido, a
eleitoral volta-se para o público em geral.

Caso essa propaganda intrapartidária seja, em verdade,


propaganda eleitoral, incide a multa prevista no já mencionado artigo 36, § 3º.

1.4. Propaganda Institucional

A propaganda institucional, que não é espécie de propaganda


política, mas, sim, propaganda de governo, tem seus contornos traçados pela
Constituição Federal de 1.988. Com efeito, o artigo 37, § 1º, estabelece que a
publicidade paga pelo erário deve ter conteúdo estritamente educativo,
informativo ou de orientação social.

95
Caso a publicidade não atenda a esses requisitos poderá influir
na órbita administrativa, civil e eleitoral, sendo que nos importa, no presente
momento, somente esta última.

Se na propaganda institucional houver propaganda eleitoral o


agente responderá de três formas.

Na primeira, se a publicidade for anterior à 15 de agosto do


ano da eleição, responderá o responsável por propaganda eleitoral
extemporânea, nos termos do artigo 36, § 3º, da Lei 9.504/97.

Na segunda, se a publicidade ocorrer nos 03 meses que


antecedem o pleito, o responsável responderá pela prática de conduta
vedada, artigo 73, VI, b, da Lei das Eleições. É que as propagandas
institucionais neste período são proibidas para que não haja a malversação de
recursos públicos para fins meramente eleitorais, quebrando, assim, a isonomia
entre os candidatos.

Na terceira forma, se a má utilização da publicidade institucional


em favor de candidatura poderá ocasionar, também, abuso de poder
econômico, pode o beneficiário ser punido nos termos da Lei Complementar
64/90.

2. PROPAGANDA ELEITORAL

2.1 Princípios

O eleitoralista Joel J. Cândido aponta a existência de seis


princípios aplicáveis à propaganda política. São eles:

 • a) princípio da legalidade. Tal princípio quer dizer duas coisas: 1º


somente lei federal pode regular em matéria de propaganda eleitoral,
consoante disposto no art. 22, I, Constituição Federal.

O segundo aspecto do princípio da legalidade é que a propaganda é,


em regra, livre, devendo toda e qualquer restrição estar estatuída em lei.

96
 b) princípio da liberdade. Em regra a propaganda eleitoral é livre em
sua forma e conteúdo. Como já visto somente a lei pode criar restrições
à propaganda eleitoral.

O eleitoralista Olivar Coneglian examinado o princípio conclui


dizendo que “Vai-se ver, no entanto, que são tantas as vedações e as
limitações que, ao fim e ao cabo, se conclui que a propaganda é restrita. Essa
liberdade tem outras vertentes que se dirigem também aos eleitores que
possuem liberdade para conhecer e se manifestar sobre os candidatos, desde
que respeitem os limites da legislação eleitoral e não ofendam a honra dos
candidatos e partidos.

 • c) princípio da isonomia. Prevê este princípio que os candidatos


devem ter paridade de armas, na medida do possível, para a realização
de sua publicidade eleitoral.

Observa-se que a divisão do tempo para a propaganda realizada em


rádio e televisão não ofende o princípio da isonomia. É que não seria justo
conceder o mesmo tempo para campanhas totalmente distintas, como por
exemplo candidato apoiado por vários partidos coligados, todos com inúmeros
representantes da câmara dos deputados, e outro concorrendo em partido
recém fundado, com poucos representantes naquela Casa Legislativa e sem
nenhum partido coligado. Assim, deve-se dar tratamento desigual aos
desiguais na medida de suas desigualdades.

 • d) princípio da responsabilidade. Os partidos políticos, as


coligações, candidatos, bem assim os seus adeptos, são responsáveis
pelos excessos e abusos cometidos na propaganda eleitoral. O Tribunal
Superior Eleitoral já condenou determinado cidadão por ter fixado, na
porta de sua casa, propaganda eleitoral extemporânea negativa.

 • e) princípio da disponibilidade. O Estado deve dispor aos


candidatos, partidos, coligações, bem como seus adeptos, formas lícitas
para a propaganda eleitoral. Por outras palavras, as pessoas acima
referidas têm, a seu dispor, meios lícitos, garantidos e estimulados pelo
Poder Público.

97
 • f) princípio do controle judicial da propaganda. É regra segundo a
qual todo o controle, bem como fiscalização, da propaganda eleitoral
cabe à Justiça Eleitoral. Nesta esteira, cabe à esta Especializada a
edição de atos normativos relativos à regulamentação das normas legais
que, hoje, estão elencadas na Lei 9.504/97.

Deve-se evitar a censura prévia. Aliás, a Lei 9.504/97 em seu artigo


41, § 2º, acrescido pela Lei 12.034/09, permite o exercício do poder de polícia
pela Justiça Eleitoral, porém limitando-se “às providências necessárias para
inibir práticas ilegais, vedada a censura prévia sobre o teor dos
programas a serem exibidos na televisão, no rádio ou na internet”.

2.2 Promoção pessoal

A Justiça Eleitoral não considera propaganda eleitoral atos de mera


promoção pessoa, não sendo, dessarte, sancionados ou proibidos, “contanto
que a promoção pessoal não resulte em propaganda eleitoral antecipada ou,
sendo realizada no período eleitoral, observe as restrições dos arts. 37 e
seguintes da Lei n° 9.504/97, bem como não se configure abuso do poder
econômico ou conduta vedada aos agentes públicos”.

São considerados atos de promoção:

 • a) divulgação de atuação parlamentar: é muito comum que membros


do parlamento divulguem suas proposições (projetos de lei), bem como
a sua posição em relação à certas questões políticas e sociais.

 • b) entrevistas: é o meio em que a atuação parlamentar pode ser feita.


Mas, não é só o parlamentar que pode fazer uso para se promover, os
detentores de cargos no Poder Executivo também podem expressar
livremente sobre os projetos e obras realizadas, bem como ações de
seu governo.

 c) mensagens em datas comemorativas: a simples mensagem de


congratulação por ocasião de dias festivos e/ou religiosos não é proibida
pela legislação eleitoral. Exemplo: dias das mães, dias de alguma

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profissão, natal, ano novo, aniversário da cidade, etc. Evidente que o
excesso pode e deve ser coibido.

 • d) letreiros em escritório político: placas em escritório político do


candidato informando o nome e o cargo do particular não configura
propaganda eleitoral. Se houver excessos, estes devem ser fiscalizados
e limitados.

 • e) adesivos em automóveis: adesivos em veículos automotores que


conste o nome de pré-candidato não configura propaganda eleitoral,
porém, caso haja excesso, como, por exemplo, adesivos colocados em
vários carros, ou que façam referência às eleições vindouras.

A Lei 9.504/97, em seu artigo 36-A, introduzido pela Reforma de


2009, e ampliado pelas Reformas de 2013 e de 2015, apresenta um rol
bastante claro sobre atos que configuram mera promoção pessoal, dispositivo
que recomendamos a leitura atenta.

3. Propaganda Eleitoral no rádio e na Televisão

A propaganda eleitoral feita no rádio e na televisão é a que mais


surte efeito e exatamente por isso é que cada segundo é disputadíssimo,
principalmente nas grandes cidades.

Assim, as coligações são extremamente importantes, pois quanto


mais amplas, maior o tempo disponível no rádio e na televisão, desde que os
partidos coligados tenham representantes na Câmara dos Deputados.

A propaganda feita nestes meios de comunicação se divide em duas


espécies: a propaganda em rede e as inserções. Fora disso a propaganda
eleitoral é ilícita e ocasiona a punição da emissora, art. 15, III, § 3º, da Lei
9.504/97, à pena de multa no valor previsto no artigo 36, da já citada lei, se
veiculada até o dia 15 de agosto do ano da eleição. Acaso a publicidade ocorra
depois, haverá punição da emissora por conduta vedada, nos termos do artigo
45 do diploma legal em exame. O beneficiário poderá sofrer sanções por

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propaganda eleitoral no primeiro caso e, ainda, em ambos os casos, poderá ser
condenado por abuso dos meios de comunicação social.

É que a propaganda no rádio e na televisão somente é possível nos


períodos autorizados pela Justiça Eleitoral. A propaganda eleitoral nestes
veículos de comunicação somente é possível a título gratuito.

Nos termos do artigo 54, na propaganda eleitoral no rádio e na


televisão apenas poderá aparecer:

a) candidato;

b) caracteres com propostas;

c) fotos;

d) jingles;

e) clipes com músicas ou vinhetas;

f) apoiadores do candidato;

Fica vedada a utilização de montagens, trucagens, computação


gráfica, desenhos animados e efeitos especiais.

O § 2º do citado artigo permite, ainda, a veiculação de entrevistas


com o candidato e de cenas externas nas quais, ele, pessoalmente, exponha:

a) realizações de governo ou da administração pública;

b) falhas administrativas e deficiências verificadas em obras e


serviços públicos em geral;

c) atos parlamentares e debates legislativos.

3.1 Período e Divisão do tempo

A propaganda eleitoral no rádio e na televisão, em bloco com


formação de rede municipal, estadual ou nacional, deve ocorrer nos “trinta e
cinco dias anteriores à antevespéra das eleições”, no primeiro turno e, em
havendo, no segundo turno “a partir de quarenta e oito horas da proclamação

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dos resultados do primeiro turno pelo respectivo tribunal até a antevéspera da
eleição” (art. 49).

Os horários destinados a cada candidatura estão devidamente


previstos no artigo 47 da Lei 9.504/97.

A distribuição do tempo entre os candidatos, partidos políticos e


coligação é feita da seguinte forma:

 • a) 90% proporcionalmente ao número de representantes na Câmara


dos Deputados;

 • b) do tempo restante, 10% igualitariamente.

Importa destacar que no caso das coligações majoritárias, serão


consideradas as representações dos seis maiores partidos que a
integrem. Já no caso das coligações proporcionais, serão somadas as
representações de todos os partidos integrantes.

Desta forma, nas coligações majoritárias, para fins de tempo no rádio


e na televisão, apenas importam as representações das seis maiores siglas.

Nos termos do artigo 47, § 3º, a representação do partido na Câmara


dos Deputados será aquela definida no dia da eleição, não importando as
alterações supervenientes.

Interessante notar que a publicidade feita para o segundo turno


começará a partir de 48 (quarenta e oito) horas após a proclamação dos
resultados do primeiro turno até a antevéspera da eleição, em dois períodos
diários de 20 minutos para cada eleição.

A ordem da veiculação da propaganda eleitoral de cada partido


político, no primeiro dia de propaganda, será definida por sorteio realizado pela
Justiça Eleitoral.

Nos dias seguintes haverá rodízio da seguinte forma: o último partido


a apresentar sua propaganda do dia, será o primeiro a apresentar no dia
seguinte, seguindo os demais a ordem do sorteio. Exemplificando: na eleição
em que estejam concorrendo os partidos A, B, C, D. no 1º dia, na seguinte
ordem: A, B, C, D; no 2º dia: D, A, B, C; no 3º dia: C, D, A, B; e no 4º dia: B, C,
D, A. e dessa forma até a antevéspera do dia da eleição.

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4. Propaganda Eleitoral em Logradouros Públicos

A publicidade em logradouros públicos deve observar as mesmas


regras para a propaganda eleitoral já estudadas.

Na propaganda eleitoral dos cargos majoritários – Poder Executivo e


Senado da Federal – deve constar o nome do vice e dos suplentes,
respectivamente, em tamanho não inferir a 30% do nome do titular, de modo
claro e legível. Vê-se tratar de uma regra que permite ao eleitor tomar
conhecimento da composição da chapa majoritária. É uma norma de
transparência.

4.1 Panfletagem

A distribuição de santinhos, que em verdade são panfletos contendo


propaganda eleitoral do candidato, é livre e, atualmente, num país de
desempregados como o nosso, uma preciosa fonte de renda para famílias
carentes.

Mas tais materiais publicitários devem respeito às regras acima


expostas. Deste modo, se no município houver qualquer norma legal que
restrinja a distribuição de publicidade em vias públicas, tal restrição abarcará,
também, a distribuição de propaganda eleitoral.

Em não havendo qualquer restrição legal, não necessitará de


obtenção de licença municipal ou de autorização da Justiça Eleitoral para a
veiculação de tais materiais publicitários.

A Lei 11.300/2006 acrescentou o § 6º, no artigo 39, da Lei 9.504/97,


vedado a concessão de qualquer brinde ou vantagem ao eleitor, tais como
bonés, camisetas, chaveiros, canetas, etc. Assim, os materiais de publicidade
distribuídos não podem trazer vantagens ao eleitor, sob pena de ser

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propaganda ilícita, e a depender do caso concreto poderá configurar crime
eleitoral.

Uma última questão, os impressos deverão, todos, conter o número


de inscrição do CNPJ ou o CPF de quem os houver confeccionado, bem como
de quem a contratou, além da tiragem do material (art. 38, § 1º, da Lei
9.504/97).

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