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25, nº 2, 563-575
DOI: 10.9788/TP2017.2-10
Resumo
O presente estudo tem por objetivo entender o preconceito contra homossexuais no ambiente de traba-
lho a partir das crenças que os trabalhadores heterossexuais têm sobre a natureza da homossexualidade.
Levantamos a hipótese de que essas crenças estão na base da expressão de atitudes e comportamentos
homofóbicos no ambiente de trabalho. Tomaram parte neste estudo 169 trabalhadores heterossexuais, de
cinco empresas portuguesas de grande porte, de ambos os sexos, com idade média de 32,8 anos (DP =
8,29), sendo a maioria do sexo feminino (68%). Os resultados obtidos mostraram que o preconceito con-
tra homossexuais no ambiente de trabalho se expressa pela maior adesão a crenças ético-morais como
explicação da natureza da homossexualidade. Os homens apresentam maior rejeição à proximidade e
expressão de mais emoções negativas em relação aos homossexuais do que as mulheres. A discussão
aborda a importância de crenças sobre a natureza dos grupos sociais para melhor se compreender os
princípios organizadores do preconceito e da discriminação contra grupos minoritários no contexto de
relações laborais.
Palavras-chaves: Crenças, homossexualidade, preconceito, trabalho.
Abstract
This study aims to understand the prejudice against homosexuals in the workplace analyzing the role
played by individuals’ beliefs about the nature of homosexuality. We hypothesize that beliefs about the
nature of homosexuality underlie the expression of homophobic attitudes and discriminatory behavior
in the workplace. Take part in this study 169 heterosexual workers from five Portuguese companies, of
both genders (mostly part of them are female, 68%) with a mean age of 32.8 years (SD = 8.29). The
results showed that greater individuals’ support for ethical and moral beliefs about the nature of homo-
sexuality predict prejudice against homosexuals in the workplace. Moreover, men expressed a higher
rejection of proximity and expressed more negative emotions towards homosexuals than women parti-
cipants express. The discussion addresses the importance of beliefs about the nature of social groups to
1
Endereço para correspondência: Universidade de Fortaleza, Departamento de Psicologia, Av. Washington
Soares, 1321, Edson Queiroz, Fortaleza, CE, Brasil 60811-905. E-mail: tiago.souzalima@hotmail.com
564 Pereira, A. S. L. S., Dias, S. M. P. S., Lima, T. J. S., Souza, L. E. C.
better understand the organizing principles of prejudice and discrimination against minority groups in
the context of labor relations.
Keywords: Beliefs, homosexuality, prejudice, workplace.
Resumen
Este estudio tiene como objetivo comprender el prejuicio contra los homosexuales en el lugar de trabajo
a partir de las creencias que los empleados heterosexuales tienen sobre la naturaleza de la homosexu-
alidad. La hipótesis testada es que estas creencias son la base de la expresión de actitudes y comporta-
mientos homófobos en el lugar de trabajo. Participaron en este estudio 169 trabajadores heterosexuales,
empleados en cinco grandes empresas portuguesas, de ambos sexos, en su mayoría mujeres (68%),
con una edad media de 32,8 años (SD = 8.29). Los resultados mostraron que los prejuicios contra los
homosexuales en el lugar de trabajo están relacionados con una mayor adhesión a las creencias éticas
y morales como una explicación de la naturaleza de la homosexualidad. Los hombres tienen un mayor
rechazo de la cercanía y mayor expresión de emociones negativas hacia los homosexuales, comparado a
las mujeres. La conclusión discute la importancia de las creencias acerca de la naturaleza de los grupos
sociales para comprender mejor los principios de organización de los prejuicios y de la discriminación
contra los grupos minoritarios en el contexto de relaciones laborales.
Palabras claves: Creencias, homosexualidad, prejuicio, trabajo.
mo no âmbito dos processos descritos por Doise Lacerda et al. (2002) também constataram
(1986) e por Moscovici (1976) na caracterização que o preconceito flagrante em relação aos ho-
que fazem das teorias de senso comum sobre a mossexuais baseava-se na crença em uma supos-
realidade social (Moscovici & Hewstone, 1983). ta natureza ético-moral e religiosa da homosse-
A essencialização é um exemplo prototípico do xualidade, enquanto que o preconceito sutil se
que Moscovici descreveu como objetivação, ex- relacionava com crenças na natureza biológica
plicando como as pessoas naturalizam concei- e psicológica. Apenas as crenças psicossociais
tos e relações científicas, transformando-as em sobre a homossexualidade estavam relacionadas
conhecimento de senso comum. Seguindo essas com atitudes igualitárias face aos heterossexu-
ideias, propõe-se que as crenças essencialistas ais. Por conseguinte, concluíram que as repre-
sobre a homossexualidade são mais bem com- sentações sociais sobre a natureza da homosse-
preendidas quando analisadas como representa- xualidade podem cooperar para a manutenção
ções sociais ou teorias do senso comum sobre a de práticas sociais homofóbicas pelo fato dessas
natureza dos grupos sociais (Pereira et al., 2011). crenças serem bastante irradiadas no pensamen-
O processo psicossocial subjacente a essa con- to de senso comum e serem utilizadas para legi-
cepção baseia-se na hipótese de que as teorias timar as políticas e ações sociais que são orienta-
e práticas científicas, quando transformadas em das para os homossexuais (Lacerda et al., 2002).
conhecimentos de senso comum sobre a homos- As crenças acerca da natureza da homosse-
sexualidade, servem de fundamentação para a xualidade podem contribuir para a manutenção
adoção de comportamentos discriminatórios de uma imagem fixa e imutável dos homossexu-
contra os homossexuais (Camino, 1998; Camino ais, na medida em que salientam uma representa-
& Pereira, 2000; Pereira et al., 2016). ção essencialista do homossexual como portador
Nesta perspectiva, Lacerda et al. (2002) de alguma anormalidade biológica ou psicológi-
identificaram cinco princípios organizadores das ca, ou uma representação do homossexual como
crenças sobre a homossexualidade, a saber: as portador de uma essência, ainda que difusa, que
crenças religiosas, baseadas na ideia de que a o impulsiona para a violação dos valores tradi-
homossexualidade é uma profunda e imutável cionais que sustentam o status quo. Ademais,
predisposição para o pecado e para a desobedi- Pereira et al. (2016) demonstram que diferenças
ência ao que se julga serem as leis de Deus; as individuais em termos de crenças religiosas e
crenças ético-morais, assentes na ideia de que biológicas sobre a natureza da homossexualida-
a natureza da homossexualidade é caracterizada de anulam o efeito da norma antipreconceito. Es-
pela tendência das pessoas para violarem valores ses autores argumentam que quanto mais as pes-
morais, incluindo o que se acredita ser o valor da soas representam a homossexualidade com base
decência, da moralidade e das boas maneiras; as nas crenças religiosas e biológicas, mais resis-
crenças psicológicas, alimentadas por modelos tentes se sentirão em relação à pressão exercida
científicos propondo que a homossexualidade pela norma antipreconceito, uma vez que terão
tem base psicológica e afetiva, relacionada com fundamentos fortes para manterem inalteradas as
alguma situação traumática vivida na infância; suas atitudes em relação aos homossexuais.
as crenças biológicas, também fundamentadas
em modelos que proclamam que os homossexu- O Preconceito contra Homossexuais
ais têm uma essência de natureza genética, que no Ambiente de Trabalho
é transmitida hereditariamente e que se mani- De acordo com Marco, Hoel, Arenas e Mun-
festa em disfunções hormonais ou em qualquer duate (2015), a discriminação baseada na orien-
cariz biológico em geral; e por fim as crenças tação sexual é bastante comum no ambiente de
psicossociais, que são um conjunto de crenças trabalho. Embora as expressões abertas de discri-
não-essencialistas assentes na ideia de que a ho- minação, tais como hostilidade, violência física
mossexualidade tem base cultural e representa e psicológica, que violam abertamente as normas
uma expressão normal da sexualidade humana. sociais, tenham diminuído, formas mais sutis e
As Crenças sobre a Homossexualidade e o Preconceito contra Homossexuais 567
no Ambiente de Trabalho.
ambíguas têm se mantido (Cortina, Kabat-Farr, de Siqueira Saraiva, Carrieri, Lima e Andrade,
Leskinen, Huerta, & Magley, 2013; Einarsdót- (2009), segundo a qual a homofobia é um pro-
tir, Hoel, & Lewis, 2015). Marco et al. (2015) blema presente no ambiente de trabalho.
apontam que o preconceito contra homossexuais De acordo com Ragins e Cornwell (2001),
se revela através de piadas, linguagem deprecia- embora a existência de uma legislação que pro-
tiva, estereótipos negativos e comportamento in- íba a discriminação sexual no trabalho seja im-
trusivos. Irigaray, Saraiva e Carrieri (2010), ao portante na redução da discriminação, o fator
estudarem o uso de expressões emocionais como mais relevante para a diminuição da discrimi-
instrumento de discriminação dos homossexuais nação não é a lei, mas a existência de uma cul-
no ambiente de trabalho, concluíram que o hu- tura organizacional “amigável” em relação aos
mor – por meio de ironia, piadas e anedotas – homossexuais. Em virtude disso, a luta contra a
naturaliza a homofobia e que este é usado como discriminação, o preconceito e a violência dirigi-
um sutil instrumento de controle da sexualidade. da contra homossexuais vem ganhando destaque,
Segundo Garcia e Souza (2010), o preconceito encabeçada principalmente por grupos de defesa
contra os homossexuais também é identificado dos direitos dos homossexuais. No entanto, o
no acesso às vagas de trabalho, quando se nega que se percebe é que as diretrizes de igualdade
a possibilidade de contratação a homossexuais e proteção aos homossexuais constituem mais a
declarados, ou no tratamento, quando os homos- exceção do que a regra, mesmo diante das práti-
sexuais recebem poucas recompensas ou oportu- cas que buscam agregar diversidade na força de
nidades de crescimento no trabalho devido a sua trabalho das organizações (Ferreira, 2007).
orientação sexual. Diante da evidência de discriminação e pre-
Nas empresas, os comportamentos precon- conceito contra homossexuais no ambiente de
ceituosos e discriminatórios podem infligir da- trabalho, o estudo que se apresenta tem por ob-
nos pessoais e profissionais, tais como: a possível jetivo analisar o papel das representações sobre
perda de emprego em virtude da orientação se- a natureza da homossexualidade na expressão do
xual; a menor probabilidade de obtenção de pro- preconceito contra os homossexuais no ambien-
moções e ascensão na carreira profissional (Ei- te de trabalho. Embora se tenha bem documen-
narsdóttir et al., 2015). Ademais, as avaliações tado na literatura em psicologia organizacional
do desempenho são fortemente influenciadas e em administração as consequências práticas
quando o alvo da avaliação é um homossexual do preconceito contra os homossexuais no am-
(Siqueira & Zauli-Fellows, 2006). Perante esse biente de trabalho, que reflete negativamente nas
panorama, os indivíduos homossexuais tendem suas carreiras e também para o desempenho da
a camuflar a sua orientação sexual, na tentativa organização, são escassos os estudos a nível or-
de evitar discriminação e superar as dificuldades ganizacional que buscam compreender os possí-
para a progressão da sua carreira profissional. veis fatores individuais que contribuem para este
Badgett (1997), considerando e analisando fenômeno. É possível que um destes fatores in-
várias pesquisas efetuadas nos Estados Unidos dividuais sejam as crenças acerca da natureza da
com os dados do General Social Survey e do homossexualidade que, como dito anteriormen-
Yankelovich Monitor, verificou que o homosse- te, são conhecimentos de senso comum sobre a
xual, quando comparado ao heterossexual com a homossexualidade que servem de fundamenta-
mesma experiência, educação, profissão, estado ção para a adoção de comportamentos discrimi-
civil e região de residência, recebe remuneração natórios contra homossexuais (Camino, 1998).
inferior, em média de 11% a 27%. Como tam-
bém relatam Mays e Cochran (2001), a probabi- Método
lidade de ser alvo de agressões físicas ou verbais
e até mesmo de ser demitido, é duas vezes maior O presente estudo analisa especificamente o
no caso dos homossexuais (Siqueira & Zauli- papel de crenças sobre a natureza da homossexu-
-Fellows, 2006). Esta informação reforça a ideia alidade no preconceito contra os homossexuais,
568 Pereira, A. S. L. S., Dias, S. M. P. S., Lima, T. J. S., Souza, L. E. C.
sexual”. Uma análise fatorial exploratória (mé- no ambiente de trabalho, e durou em média 15
todo dos eixos principais), indicou a extração minutos.
de um fator (cargas fatoriais variaram de 0,70 a
0,96), que explicou 79,7% da variabilidade nas Procedimentos de Análise de Dados
respostas. A medida apresenta consistência in- A análise dos dados seguiu as indicações
terna elevada (α = 0,97), o que permite a constru- propostas no Modelo da Análise Quantitativa
ção de um índice de preconceito onde os escores das Representações Sociais (Doise, Clémence,
mais elevados indicam maior preconceito contra & Lorenzi-Cioldi, 1993), especialmente pelo
homossexuais. uso de modelos de regressão para analisar como
Escala de Expressão Emocional. Original- essas representações contribuem para o posi-
mente proposta por Dijker (1987), esta escala foi cionamento das pessoas em relação aos temas
adaptada para Portugal por Pereira et al. (2009). socialmente relevantes, como o preconceito e a
É composta por uma lista de 10 emoções, sen- discriminação. Assim, para responder ao proble-
do 5 positivas (aceitação, satisfação, admiração, ma de investigação levantado, foram realizadas
respeito e amor) e 5 negativas (desprezo, raiva, análises de regressão com o intuito de conhecer
tristeza, pena e nojo), onde os participantes in- em que medida as crenças sobre a natureza da
dicam, numa escala variando entre 1 (nunca) e homossexualidade estão relacionadas com os in-
5 (muito frequentemente), a frequência com que dicadores de homofobia nas organizações (rejei-
sentem cada emoção em relação a homossexu- ção à proximidade, expressão de emoções posi-
ais. Os escores obtidos foram submetidos a uma tivas e negativas). Foram realizadas três análises
análise fatorial exploratória (método dos eixos de regressão múltipla, hierárquica, com método
principais), sendo extraídos dois fatores. O pri- Enter, para as variáveis-critério rejeição à pro-
meiro, denominado emoções positivas, explicou ximidade, emoções negativas e emoções positi-
40,6% da variância, com cargas fatoriais varian- vas. Foram calculadas duas regressões por bloco
do entre 0,64 e 0,85, seu índice de consistência de variáveis para cada variável-critério. Na pri-
interna foi de 0,83. O segundo fator, denomina- meira equação incluiu-se o bloco das variáveis
do emoções negativas, explicou 19,8% da vari- sociodemográficas (sexo, idade, antiguidade na
ância, apresentou cargas fatoriais variando entre empresa, nível de escolaridade e identificação
0,64 e 0,78 com índice de consistência interna com a empresa). Na segunda equação acrescen-
de 0,79. tou-se o bloco das crenças sobre a homossexua-
lidade (religiosas, ético-morais, biológicas, psi-
Procedimentos de Coleta de Dados cológicas e culturais).
Inicialmente entrou-se em contato com as
empresas para solicitar o acesso aos funcioná- Procedimentos Éticos
rios para a realização de uma pesquisa sobre o Os participantes foram informados de que a
preconceito contra homossexuais no ambiente participação na pesquisa era voluntária e que as
de trabalho. Com a autorização das empresas, informações coletadas seriam tratadas de forma
pesquisadores devidamente treinados aborda- confidencial, sendo utilizadas apenas para fins
vam os trabalhadores durante seu tempo livre, acadêmicos, mantendo-se assim o anonimato
convidando-os a colaborar num estudo sobre dos participantes. Todas as pesquisas e procedi-
comportamentos sociais. O critério para inclusão mentos propostos neste projeto obedeceram às
na amostra final era o participante estar dispos- determinações éticas e normativas que regem a
to a colaborar com o estudo e ser heterossexual pesquisa com seres humanos, de acordo com o
(avaliado através de um item no questionário, no preconizado pela Declaração de Helsinque de
qual o participante indicava sua orientação se- 2013.
xual). A coleta de dados se deu através de ques-
tionários, em formato papel/lápis, respondidos
570 Pereira, A. S. L. S., Dias, S. M. P. S., Lima, T. J. S., Souza, L. E. C.
Tabela 1
Pesos de Regressão Padronizados (β) dos Preditores do Preconceito
Preconceito
Preditores Rejeição Emoções Emoções
Proximidade Positivas Negativas
escolaridade menor é a expressão de emoções Por sua vez, as crenças religiosas não pre-
positivas em relação aos homossexuais. Ade- disseram o preconceito contra os homossexuais.
mais, a segunda regressão apresenta um incre- Uma possível explicação para esse resultado en-
mento significativo na explicação na explicação contra-se no fato de muitos respondentes terem
das emoções positivas, FChange (5,158) = 8,83, p relatado que não tem ou não acreditam em reli-
< 0,001, embora o efeito das crenças não tenha gião (31,4%). Ademais, entre os que indicaram
sido significativo. ter uma religião, é predominante o número de
Por último, na terceira regressão múltipla, católicos (70%) que, como observado por Perei-
com as emoções negativas como critério, a pri- ra et al. (2011), em um outro estudo sobre a na-
meira equação não tem um coeficiente significa- tureza da homossexualidade, tendem acreditar
tivo, R = 0,23, F (5,163) = 1,84, p = 0,108. Na em menor grau na natureza religiosa da homos-
segunda equação, incluindo as crenças sobre a sexualidade quando comparados com aqueles
homossexualidade, o coeficiente de regressão é de religião evangélica. No entanto, nesse estu-
diferente de zero, R = 0,61, F (10,158) = 9,56, do não avaliamos diferenças entre católicos e
p < 0,001. Novamente, o efeito do sexo é sig- evangélicos. A crença biológica apresentou um
nificativo, os homens expressam mais emoções peso de regressão marginalmente significativo
negativas do que as mulheres. O efeito das cren- com a rejeição à proximidade, indicando uma
ças ético-morais também foi significativo, sendo tendência de maior rejeição à proximidade con-
que maior adesão a essas crenças implica maior soante as pessoas endossam em maior medida
expressão de emoções negativas. Além disso, essa crença. Por outro lado, a crença na nature-
a inclusão das crenças apresenta um incremen- za cultural da homossexualidade não prediz um
to significativo na explicação da expressão de menor preconceito contra homossexuais, não
emoções negativas, FChange (5,158) = 16,41, p < corroborando o que foi hipotetizado. Por fim,
0,001. quanto às variáveis sociodemográficas, vale res-
saltar que o sexo do respondente apresentou um
Discussão padrão de predição consoante com o esperado,
sendo que os homens tendem a apresentar em
O presente estudo teve por objetivo analisar maior grau rejeição à proximidade e maior ex-
o papel das crenças sobre a homossexualidade pressão de emoções negativas do que as mulhe-
no preconceito contra homossexuais no ambien- res, que expressam mais emoções positivas do
te de trabalho, mais especificamente na rejeição que os homens.
à proximidade e na expressão de emoções positi- A relação entre as crenças na natureza éti-
vas e negativas. Os resultados obtidos confirma- co-moral da homossexualidade e o preconceito
ram parcialmente as hipóteses levantadas. Como vêm confirmar os resultados de investigações
proposto, as crenças sobre a homossexualidade anteriores, mostrando que estas crenças estão na
baseadas em conceitos ético-morais (a crença de base de atitudes antigays (Lacerda et al., 2002;
que os homossexuais partilham uma tendência Pereira et al., 2013). As pessoas que acreditam
para o violar os valores tradicionais da decência, em uma causa ética-moral expressam maior re-
da moralidade e das boas maneiras) predizem a jeição às relações de proximidade e sentem mais
rejeição à proximidade com homossexuais e a emoções negativas e menos emoções positivas
maior expressão de emoções negativas. Este re- em relação aos homossexuais, apresentando
sultado é mais uma evidência empírica a reforçar uma expressão mais flagrante do preconceito
o papel desempenhado por esta crença como for- (Pettigrew & Meertens, 1995). Este grupo po-
te preditor do preconceito contra homossexuais deria ser descrito como aqueles que utilizam o
em contextos diversos, tais como o universitário, discurso de que se sentem mal ou pouco a von-
religioso e no futebol (Lacerda et al., 2002; Pe- tade em relação a trabalhar e conviver com ho-
reira et al., 2014; Pereira et al., 2013; Pereira et mossexuais e não concordam com a prática de
al., 2011). relações sexuais com pessoas do mesmo sexo,
572 Pereira, A. S. L. S., Dias, S. M. P. S., Lima, T. J. S., Souza, L. E. C.
enberg & Bystryn, 1982). Assim, estudos futu- Camino, L. (1998). Direitos humanos e psicologia.
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Federal de Psicologia.
conta neste trabalho. Estudos futuros poderão
ainda analisar em que medida os resultados aqui Camino, L., & Pereira, C. (2000). O papel da Psicolo-
obtidos estariam relacionados com uma variável gia na construção dos direitos humanos: Análise
das teorias e práticas psicológicas na discrimina-
comportamental, como, por exemplo, a oposição
ção ao homossexualismo. Perfil, 13(13), 49-69.
a contratação de homossexuais, buscando enten-
der como estes conceitos – crenças, preconceito Cortina, L. M., Kabat-Farr, D., Leskinen, E. A., Huerta,
e discriminação – relacionam-se no âmbito orga- M., & Magley, V. J. (2013). Selective incivility
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Considerações Finais
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Este estudo demonstrou que as crenças so-
Social Psychology, 17, 305-325. doi:10.1002/
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ejsp.2420170306
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