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GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

RELATÓRIO SEMESTRAL
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM CLÍNICA PSICOLÓGICA
ÊNFASE EM PSICANÁLISE E ESQUIZOANÁLISE

Vitória
2023
DAVI SALEZZE GAMA

RELATÓRIO SEMESTRAL

ESTÁGIO ESPECÍFICO EM CLÍNICA PSICOLÓGICA

Relatório para disciplina de Estágio


Específico em Clínica Psicológica,
apresentado ao curso de Psicologia da
Faculdade Multivix, como requisito para
conclusão da disciplina.

Docente: Thiago de Sousa Freitas Lima

Vitória
2023
SUMÁRIO

1. Introdução 4
2. Desenvolvimento 5
2.1 O atendimento 6
3. Considerações finais 8
4. Referências bibliográficas 9
5. Anexos e apêndices 9
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RELATÓRIO SEMESTRAL – ESTÁGIO ESPECÍFICO EM CLÍNICA PSICOLÓGICA

Davi Salezze Gama1

Resumo
Este relatório apresenta os atendimentos realizados no NPP do Centro Universitário
Multivix em Vitória, pela disciplina de Estágio Específico em Clínica Psicológica na
abordagem psicanalítica e esquizoanalítica. O caso, ainda em andamento, é descrito
de forma sucinta, com algumas observações e hipóteses do analista. O texto de
Freud de 1920, Além do Princípio do Prazer, é utilizado como referencial teórico para
situar a queixa da paciente.

Palavras-chave: caso clínico; psicanálise; princípio do prazer

Abstract
This report presents the consultations carried out at the NPP of the Centro
Universitário Multivix in Vitória, through the discipline of Specific Internship in
Psychological Clinic in the psychoanalytic and schizoanalytic approach. The case, still
in progress, is briefly described, with some observations and hypotheses by the
analyst. Freud's 1920 text, Beyond the Pleasure Principle, is used as a theoretical
framework to situate the patient's complaint.

Keywords: clinical case; psychoanalysis; pleasure principle

1. Introdução
Este relatório descreve parcialmente os atendimentos realizados no Núcleo
de Prática Psicológica – NPP no Centro Universitário Multivix do campus Goiabeiras
em Vitória, pela matéria de Estágio Específico em Clínica Psicológica no corte em
psicanálise e esquizoanálise.
Assim é abordado brevemente o caso, pois o mesmo continua em
desenvolvimento, levantando algumas observações do analista – também no lugar
de analisante – sobre o desenvolvimento e hipóteses ocorridas no atendimento.
No ano de 1920, tem-se a publicação de Além do Princípio do Prazer, um
texto de grande relevância para a história da Psicanálise e para o percurso de
Freud, pois ele passa a introduzir de maneira mais consistente questões e noções
que se tornarão pertinentes em estudos posteriores. Nesse estudo, inicia-se a

1 Graduando em Psicologia pelo Centro Universitário Multivix Vitória. E-mail:


davisalezzeg@gmail.com
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reformulação do que constituirá a nova tópica, ou estrutura, do aparelho mental -


que em 1923 originará o texto O Ego e o Id.
Nele observamos que o aparelho psíquico opera sobre dois princípios: o do
prazer e o da realidade. E que determina que os impulsos pulsionais necessitem
encontrar uma maneira de se realizar ou obter o prazer no mundo exterior; ou não
encontrar sendo eles então recalcados. O modelo Freudiano para explicar o impulso
pulsional e a busca de satisfação, é o modelo da tensão interna, onde encontramos
a pulsão como tensão interna que não encontra plena satisfação.
Tomando o texto de 1920 como referência para o caso clínico, discorreremos
sobre a queixa da paciente assimilando-o com fundamentos estudados previamente.

2. Desenvolvimento
A fim de homenagear a renomada autora e cronista brasileira, Clarice
Lispector, foi atribuído à paciente o nome de Clarice. Essa escolha se justifica pela
lembrança do caso com a emblemática frase da autora: “Liberdade é pouco. O que
desejo ainda não tem nome” em Perto do coração selvagem (Rio de Janeiro: Rocco,
1998).
Clarice é uma mulher de 33 anos que se registrou no sistema do Núcleo de
Práticas Psicológicas (NPP) em psicoterapia com a queixa/motivo de que gostaria
de conversar; ter uma orientação. Dado a mediação do psicólogo estagiário com a
paciente, foi realizado o agendamento para a primeira sessão. A priori a paciente
escolheu ter o atendimento apenas na semana seguinte do agendamento,
demonstrou preferência aos finais de semana e escolheu o horário às 8 horas da
manhã.
Chegado o grande dia, aconteceu o maior medo que toda minha ansiedade e
excitação poderia imaginar: a ausência da paciente. Por regras da instituição, é
necessário esperar pelo menos 30 minutos do horário marcado para ser registrado
como “falta”. Sendo que com duas faltas conseguintes, a paciente volta para a fila de
espera até ser chamada por outro psicólogo(a) estagiário(a).
Por coincidência, acabei resolvendo outras questões acadêmicas e não tinha
ido embora do NPP após os 30 minutos necessários e acabei permanecendo por até
1 hora a mais do tempo exigido. Em um certo momento uma mulher de estatura
média, de pele preta, cabelos médios de cor castanho-claro e utilizando um vestido
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bem estampado, adentra o NPP pedindo informação a respeito do atendimento


agendado, estava confusa se o horário marcado era às 9 horas ou às 10 horas da
manhã – sendo já o horário de chegada dela 9 horas e 32 minutos. Dado as
explicações/apresentações e conferido a disponibilidade de consultórios, foi
permitido a realização do atendimento.
O NPP se desdobra em um corredor reto e extenso, com música ambiente e
paredes altas divididas ao meio por um branco nitidamente claro e um cinza opaco,
sendo distribuído em 12 salas: uma da secretaria, outra de estudo, uma de arquivo-
morto e por fim os consultórios de atendimento. Os consultórios por si só não se
diferem tanto um dos outros, todos possuem a mesma paleta de cores do corredor,
uma mesa, duas cadeiras e duas poltronas, lápis de cores, uma caixa de lenços,
uma prancheta com folhas, um relógio, vedação acústica e um recipiente com álcool
em gel. Alguns possuem uma propriedade material específica a mais, como: um
divã; um espelho; alguns brinquedos e jogos; ou material de pintura.
Seguindo para o consultório 05 ao final do corredor, entramos em uma sala
com uma configuração comum às outras. Clarice sentou-se na poltrona perto da
porta e eu me sento de frente a ela, tomada por uma postura rígida com a coluna
ereta e as pernas unidas apoiando sua bolsa marrom em seu colo. Clarice se
mantém sentada na ponta da poltrona como se a mobília a expelisse, começamos
assim o tão esperado atendimento.

2.1 Atendimento
Dado a expressão firme e o sentimento de espera da paciente, eu acabo por
experimentar perguntando em que poderia ajudá-la, dessa forma, engrenamos o que
seria o início do atendimento. Clarice relata sua queixa dentro das suas interações
sociais, tem a percepção de que os seus amigos íntimos não nutrem afeto genuíno
por ela e suspeita que o seu parceiro afetivo mantém o relacionamento por
compaixão.
Ela acaba, por assim dizer, nomeando seu sofrimento como bloqueios
emocionais. Neste momento, é importante salientar a excitação por respostas e/ou
soluções que muito provavelmente o paciente esperará do analista. É necessário
atenção nessas ocasiões, se tratando de entrevistas preliminares, o interesse está
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na associação livre da analisanda e em o analista relançar o discurso que ela


apresenta, a fim de não interromper o percurso.
Sobre as entrevistas preliminares podemos afirmar, segundo Antonio Quinet
(1991):
Trata-se de um tempo de trabalho prévio, à análise propriamente dita, cuja
entrada é concebida não como continuidade, e sim – como o próprio nome
tratamento de ensaio parece sugerir – como uma descontinuidade um corte
em relação ao que era anterior e preliminar.

Clarice tem um emprego estável, atualmente em um relacionamento, reside


com os seus pais e duas familiares na mesma propriedade. Sendo filha única,
mantém uma relação boa com os pais, que inclusive pede conselhos sobre seus
problemas – curiosamente, percebi que a queixa real não era a mesma em que ela
descreveu na inscrição do NPP. Mais tarde, transpareceria que o que foi escrito na
ficha do sistema seria uma orientação que a mãe dela havia dado – “vai em um
psicólogo só pra conversar, para te orientar”.
Esta obediência aos pais é percebida mais algumas vezes durante o
atendimento, onde a paciente acaba acatando o conselho do pai – que age de forma
mais bruta e decisiva – de que “se a pessoa gosta de você... ela gosta, se não
gosta... você manda ela embora”; sendo essa uma maneira onde a própria paciente
relatou não se adequar.
Comentou que quando criança era totalmente “paparicada”, principalmente
pelos pais e o seu finado padrinho, que cuidava constantemente dela e sempre
atento a todas as necessidades que apresentava.
Durante a adolescência até a vida adulta teve poucos relacionamentos
amorosos e quase todos permearam no limiar da inviabilidade. O primeiro que me
recordo, ainda na época da escola, terminou o relacionamento pelo motivo de que o
contato diário estragaria a relação. E o último, de forma mais abrupta, depois de
diversas discussões o homem teria apenas terminado sem dar muitas explicações –
o que na cultura contemporânea seria chamado de ghosting.
Após o último término, a paciente reporta um longo período abusando de
bebidas alcóolicas, diz ter ciência que naquela época estava tangenciando o
alcoolismo. Ainda sobre o último relacionamento, a frase dita pelo ex-companheiro:
“ninguém é obrigado a gostar de ninguém não”, permaneceu repercutindo na
paciente nos momentos em que se teve a volta dos bloqueios emocionais.
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Penso que neste primeiro quadro podemos analisar a construção dos laços
afetivos que a analisante teve desde a infância, onde a maneira que aprendeu a
expressar o amor, é reproduzido nas suas relações interpessoais atuais. Sendo que
a possibilidade de um embate não recíproco na relação afetuosa, apresentou a
eventualidade volta do trauma.
Ao questionar planos futuros, Clarice relata que além do seu trabalho atual
também busca não só algumas atividades como freelancer aos finais de semana.
Destaca-se a possibilidade da associação com o referencial teórico, onde há o
sofrimento psíquico (aumento da tensão – momento em que ela se sente aflita,
angustiada, confusa, remete as frases do ex-namorado) e como forma de diminuir a
tensão interna ela busca “ocupar a cabeça” com mais tarefas para não conseguir
pensar a respeito.

3. Considerações Finais
Clarice é uma pessoa muito simpática e bem detalhista na sua oratória, o que
facilitou para estabelecer um vínculo e visualizar o contexto que ela apresenta,
porém também vejo que demonstra certa teimosia – permeando até um pouco a
infantilidade quando se trata de conflitos em suas relações.
Como dito durante o relato, acredito que a impossibilidade de sair da casa dos
pais seja um fenômeno de uma certa infantilização que transpareça para suas
relações afetivas, e até mesmo que alimente o desejo pela forma recíproca de amor
que produz.
É notável que a paciente deseja mudanças, mas, ao mesmo tempo diz sofrer
com antecedência quando se depara com experiências-obrigações novas. O medo
de não saber; de não ter experimentado produz ansiedade à analisanda. Também é
visto uma identificação dela quanto sujeito na sociedade, onde ela se vê com um
certo atraso em relação a sua idade, formação, e o que se cobraria já ter alcançado.
Observa-se, a partir dos relatos da paciente, que ela não se projeta em um
cenário onde resida desacompanhada, sobretudo quando indagada diz “nunca ter
pensado nisso” – por mais que seja do interesse dela ter uma relação mais
independente com os pais, onde não seja necessário “dar satisfação” para os
interesses dela.
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Durante os atendimentos, percebo uma certa tensão – que acredito até ser
esperada dentro da análise - onde há frequentemente diversas repetições da mesma
ação; prender e soltar o cabelo e/ou brincar com dois cadarços da bolsa
(entrelaçando-os e fazendo nós). Será essa uma analogia de como se sente...
entrelaçada e presa?
De certo, ainda tivemos poucos atendimentos para elucidar uma função
sintomal. Acredito que será necessário mais desenvolvimento em certos pontos
apresentados durante a análise e com o tempo reaparecer algumas conquistas da
vida adulta. Por fim em nosso último encontro, devido ao tempo considerável de
recesso da faculdade, pedi que ela observar os momentos em que os bloqueios
emocionais aparecessem – com descrições de onde ela estava no momento, o que
fazia, quais memórias apareceram, como se sentiu.

4. Referências

Além do princípio do prazer (1920). In FREUD, S. Escritos sobre a psicologia do


inconsciente. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2006, vol II. p. 123-199.
LISPECTOR, Clarice. Perto do coração selvagem. 4. ed. Rio de Janeiro: Rocco,
1998.
QUINET, Antonio. 4+1 condições da análise. 1º ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1991.

5. Apêndices e Anexos
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