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/2015
ISSN – 2317-5915
1. INTRODUÇÃO
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | e-mail:
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ANAIS DA IX MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCA – NOV./2015
ISSN – 2317-5915
luz da teoria psicanalítica. A paciente foi informada que a sessão seria observada e assinou
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
A depressão é uma doença cujos sintomas podem ser intensos, prolongados e seus
efeitos causam interferência direta na vida do indivíduo, fazendo com que o mesmo mude
hábitos e costumes que possuía antes (RIVERO, 2009). Este momento pode ter relação
com perdas e acontecimentos que não vieram ao consciente para serem solucionados,
causando assim um luto mal elaborado. É válido lembrar que quando o indivíduo não
possui os recursos necessários para lidar com determinadas situações, ou seja, quando a
integridade do ego é colocada em risco ele pode utilizar mecanismos de defesa (ANNA
FREUD, 1946) que lhe dêem recursos para encarar os fatos de uma forma mais suave.
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2. DESCRIÇÃO DA PACIENTE
Chamaremos a paciente de F., ela tem 40 anos, é casada, possui três filhos.
Trabalha em um negócio próprio que envolve atendimento de crianças, a mesma participou
de dois atendimentos psicológicos em uma Clínica Escola.
No primeiro encontro F. relatou não ter vontade de fazer nada, nem ir à igreja,
trabalhar, não enxergava saída para o momento de sua vida, estava triste, desanimada e
chorou bastante ao longo da sessão. Disse que não costumava chorar durante o dia,
somente quando estava sozinha. Tinha alteração no sono, durante o dia sentia vontade de
dormir e a noite só conseguia dormir com a luz ligada. Relatou que tinha alteração no
apetite e já havia adquirido 6 kg em poucos meses, pensou em se matar, mas não queria
fazer os outros sofrerem, principalmente seu filho mais novo. Não sabia explicar o que
estava acontecendo, disse que sempre quis as coisas e agora não queria mais e que iria
passar por um procedimento cirúrgico, pois tinha cólicas fortes, sangramento e na cirurgia
iria retirar o útero.
Em relação a sua infância referiu que foi tranquila, contou que seu pai casou com
sua mãe quando ela já estava grávida dela, foi um pai maravilhoso e que nunca conheceu
seu pai biológico. Tinha dois irmãos e brincava muito na infância, sentia saudade desse
tempo, e lamentava não poder voltar. Seus pais tiveram separações rápidas, mas ainda
estavam casados. Relatou que a mãe tinha alterações de humor, tomava medicação
psiquiátrica e já havia passado por uma internação, mas ela era criança e não recordava
direito.
Engravidou num momento não planejado, se sentiu sem chão, "virada do avesso", o
pai ficou triste, mas não brigou com ela, porém lhe disse que sua mãe não queria ver sua
barriga crescer, então teve que sair de casa. A paciente e seu namorado na época foram
morar na casa de um parente. O relacionamento com o pai do bebê durou até seis meses
após o nascimento do filho. Após contar sua história de abandonos e do quanto ficou só a
terapeuta referiu que: “A impressão que eu tenho é que tu se sente solta no ar”, com o que
a paciente concordou.
F. contou que sua mãe sempre foi superficial, nunca teve uma conversa franca com
ela, quando seu filho tinha um ano e meio, relatou ter começado o relacionamento com o
seu atual marido e que seus pais pararam de falar com ela por não aprovarem a relação.
Com o novo marido teve um filho que faleceu, pois nasceu com problemas cardíacos, foi
operado, mas morreu no dia seguinte, F. perdeu o chão novamente. Referiu que esta
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gravidez havia sido planejada e muito desejada. Nessa fase o seu pai começou a se
relacionar novamente com ela.
Engravidou pela terceira gravidez e durante a gestação teve que tomar fluoxetina,
porque se descontrolava demais, tinha medo que algo acontecesse ao bebê. Quando ainda
bebê, seu filho não queria mamar, mais uma frustração para F., "aquilo era muito ruim".
Quando ele nasceu F. voltou a estudar e fez magistério. Sobre o filho mais velho fala que
ele já havia saído de casa para morar com seu pai, F. se sentia culpada, pois não conseguiu
harmonizar as brigas de seu marido com seu filho.
F. relatou crises de choro durante a semana, que não havia conseguido ir trabalhar
naquele dia, pois não tinha condições, “imagina, chorar na frente das crianças”, afirmou
ela. A terapeuta questionou a possibilidade de alguém substituí-la, F. fala que não
conseguia confiar em ninguém e que recebia cobranças do marido para que voltasse a
trabalhar. Logo acrescentou que sempre teve sonhos, mas nunca tinha se deixado abater,
que existiam momentos de desânimo, mas nunca havia se sentido assim, tinha um
sentimento de como se fosse o último dia de vida. A terapeuta perguntou se F. pensava em
suicídio, ela falou que não pensava como iria fazer, mas que apenas gostaria que
acontecesse, pois só tinha machucado os outros. F. começou a chorar, demonstrou muita
tristeza, parecia carregar um fardo, suas emoções estavam à flor da pele, seu corpo parecia
estar imobilizado, exausto e sem ânimo. Relatou não gostar da própria história, com fala
embargada e lágrimas escorrendo no rosto, demonstrou estar desapontada com o filho mais
velho que estava tendo comportamentos que ela não aprovava.
F. disse que sua vida era uma sequência de coisas erradas, quando olhava pra sua
história não via nada, a terapeuta disse que ela precisava ser ajudada, cuidada, e expõe que
a ansiedade e a depressão estavam ocorrendo juntas e que ela realmente não estava bem,
mas que existia tratamento para depressão e para a ansiedade. A terapeuta perguntou se ela
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conseguiu trabalhar durante a semana, F. contou que foi só pelas manhãs que estava
totalmente desanimada, ansiosa, não conseguia mais atender as crianças, pois se irritava
facilmente. Relatou estar com insônia, disse que dormia com a luz ligada, demonstrou estar
sem perspectivas de futuro e já não se preocupava com questões financeiras.
A terapeuta disse para F. que ela se encontrava em um quadro depressivo, visto que
amadureceu cedo demais e que dentro dela ainda havia uma criança pequenininha,
desamparada, assustada que precisava de colo e atenção e de ser cuidada. F. estava
inconformada, não conseguia se aceitar deprimida, pois sempre havia sido forte, disse que
não se aprovava, não se aceitava. A terapeuta lhe disse que não existia certo ou errado para
o que ela estava vivendo, por que a depressão era maior do que ela. Posteriormente F.
relatou que sempre se agarrou a algo e hoje não tinha mais chão, em seguida a terapeuta
falou que na situação dela era normal não ter esperança, mas que ela iria ser ajudada e
tinha recursos para ficar boa logo. A paciente seguiu em atendimento na Clínica Escola e
foi encaminhada para atendimento psiquiátrico.
4. DISCUSSÃO
A fala da paciente transmitiu a ideia de que ela sofria de um luto mal elaborado,
ocasionado por sucessivas perdas e abandonos (FREUD, 1914), os conflitos com a mãe, o
fato de o seu pai ter a mandado ir embora de casa quando engravidou, o abandono do pai
do seu primeiro filho, a saída de casa do filho mais velho, que foi morar com seu ex
marido, o filho que faleceu ainda bebê e agora a perda da própria saúde. A paciente disse
que era agressiva em casa, esse comportamento poderia ser uma repetição inconsciente do
comportamento da mãe, tal atitude de repetição seria uma forma de colocar o inimigo em
cena, pois de acordo com Freud (1914) não é possível lutar contra um inimigo invisível.
A paciente também disse não querer a ajuda de outras pessoas, como a tia, esta
atitude pode estar demonstrando um desejo de ser independente e não necessitar de mais
ninguém, no entanto, segundo Winnicott (1983), a independência total é uma ilusão,
sempre dependemos emocionalmente de alguém. Também sobre o fato da paciente dizer
que sua mãe sofria de distúrbios psiquiátricos, pode-se pensar que a mãe não desenvolveu
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a preocupação materna primária (WINNICOTT, 1956) e essa falta da unidade dual com a
mãe poderia ter ocasionado na paciente a criação de um falso self (WINNICOTT, 1983),
isto se evidenciou em muitos momentos da sessão, pois a paciente demonstrou ser
totalmente inconsciente das origens de seus conflitos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREUD, Anna. O ego e os mecanismos de defesa. Porto Alegre: Artmed, 2006. (Texto
original publicado em 1946).
FREUD, Sigmund. Recordar, Repetir e elaborar. In: _____. Edição Standart Brasileira das
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1980 (Texto
original publicado em 1914).
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