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TABOÃO DA SERRA
2022
AGNES RODRIGUES DA SILVA
Taboão da Serra
2022
AGNES RODRIGUES DA SILVA
BANCA EXAMINADORA
Agradeço primeiramente à Jesus, que o tempo todo foi minha fonte de apoio e
perseverança, e que me orientou pelo meu caminho até eu encontrar minha real
vocação e sentido de vida. À minha filha Alanis e esposo Alexandre, com toda a ajuda
e compreensão nesses 5 anos. À minha gatinha Amora, parceira fiel durante todo o
tempo dedicado à produção desse trabalho. Às amigas especiais Sandra e Rosi no
incentivo, parceria e companhia e demais amigos que fazem minha vida mais
completa com todos os momentos que partilhamos. À toda equipe da faculdade
Anhanguera, aos mestres e coordenadores, que fizeram eu me apaixonar a cada dia
mais por essa linda profissão e aos meus queridos amigos feitos na faculdade. À toda
minha família, em especial, ao meu amado pai (in memoriam) que é meu exemplo de
dedicação aos estudos e que com certeza estaria muito orgulhoso agora.
“Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para
aceitar a morte”.
Sigmund Freud
SILVA, Agnes Rodrigues. A depressão causada por luto complicado: tratamento
na terapia psicanalítica. 2022. Vinte e sete folhas. Trabalho de Conclusão de Curso
em Psicologia – Faculdade Anhanguera, Taboão da Serra, 2022.
RESUMO
O presente trabalho foi realizado com a intenção de ampliar a tratativa dos processos
envolvendo o luto, pois, apesar de rotineiro, o assunto não é muito tratado e falado na
sociedade, e, assim, muitas pessoas passam por esse processo sendo pegas de
surpresa, com pouco ou nenhum conhecimento prévio das questões psicológicas que
envolvem as perdas. Entendeu-se que uma maior divulgação e trabalhos voltados à
conscientização e o tratar de forma natural a morte, pode auxiliar e evitar grande
número de casos de lutos complicados evoluindo para a depressão. Assim, a intenção
foi estudar de que forma a terapia psicanalítica pode contribuir na prevenção e
tratamento da depressão causada por luto complicado, levantando a diferenciação
entre luto e depressão e descrevendo as técnicas de tratamento na linha psicanalítica.
O método para elaboração deste trabalho foi a realização de pesquisas de revisão
bibliográfica, em que foram utilizados artigos e livros já publicados sobre o tema. Com
a pesquisa, os assuntos pertinentes ao tema foram discorridos de forma detalhada,
podendo assim, haver mais clareza e divulgação do assunto.
ABSTRACT
The present work was conducted with the intention of expanding the treatment of
processes involving grief, because, despite being routine, the subject is not much
discussed and talked about in society, and, thus, many people go through this process
being taken by surprise, with little or no prior knowledge of the psychological issues
surrounding losses. It was understood that greater dissemination and work aimed at
raising awareness and treating death naturally can help and avoid many complicated
bereavement cases evolving into depression. Thus, the intention was to study how
psychoanalytic therapy can contribute to the prevention and treatment of depression
caused by complicated grief, raising the causes of the evolution of complicated grief to
depression and describing treatment techniques in the psychoanalytic line. The
method for the elaboration of this work was to conduct bibliographic review research,
in which articles and books already published on the subject were used. With the
research, the issues relevant to the topic were discussed in detail, thus allowing for
more clarity and dissemination of the subject.
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
2 DIFERENCIAÇÃO ENTRE LUTO E DEPRESSÃO ............................................... 12
3 PREVENÇÃO NA LINHA PSICANALÍTICA DURANTE O LUTO ......................... 16
4 TRATAMENTO DA DEPRESSÃO NA LINHA PSICANALÍTICA .......................... 19
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 24
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 25
10
1 INTRODUÇÃO
trazidas pelos pacientes podem ocultar uma possível evolução do luto para a
depressão. Quando em processo de dor por luto, o paciente pode estar confuso e
acreditando passar por um período comum a grande maioria dos enlutados, por vezes
resistindo aceitar ou verbalizar fatores que são comuns ao luto complicado.
Considerando-se a prática clínica, é de suma importância a clareza do conceito
do luto patológico ou prolongado e seu diagnóstico, sendo para isso, relevante a
utilização de instrumentos de diagnóstico desta patologia, devidamente validados e
adaptados para a população.
Freud em seu famoso texto “Luto e melancolia”, publicado em 1917 faz uma
comparação entre eles. A diferença fundamental é que, na melancolia, a pessoa tem
uma forte diminuição da autoestima, ou seja, do amor-próprio. E não no luto. Quando
morre uma pessoa querida, pode haver abatimento, perda do interesse pelas
atividades rotineiras, mas não uma autodepreciação. No luto, o mundo pode se tornar
vazio, mas na melancolia, o próprio eu é que se perde (FREUD, 1917).
Segundo Freud (1917), no luto, a pessoa sabe o que que ela perdeu. Ela tem
consciência de que o objeto amado não existe mais. Na melancolia, a pessoa não
sabe qual objeto amado ela perdeu. Para ele, as relações amorosas são
ambivalentes, ou seja, dentro da mesma relação, existe amor e ódio. Quando se perde
o objeto de amor, uma das reações pode ser passar a odiá-lo. E quando há a
identificação, ou seja, se a pessoa se enxerga em um determinado objeto que o odeia,
então ela odeia a si mesma. Desse modo, o “eu” fica dividido em 2 partes, uma que
insulta e outra que é insultada. O melancólico vinga-se do objeto original por meio da
autopunição, porque o que ele diz contra si mesmo, na verdade, se refere a outra
pessoa. A chave então para o quadro clínico do melancólico, é entender que as
recriminações que o paciente faz a si mesmo são recriminações ao objeto amoroso
que se voltaram contra o próprio eu.
De acordo com Carvalho e De Assis (2016, p. 155), “Atualmente, a melancolia
cede espaço para depressão, termo introduzido pela psiquiatria, o qual implica
“diminuição”, “redução”. A expressão aplica-se a um estado de doença,
diferentemente da melancolia, que seria uma forma de marcar a tristeza.”
Para se entender o motivo das pessoas desenvolvem lutos complicados é de
suma importância considerar os pontos que influenciam o tipo, a intensidade e a
14
Por fim, Worden (2018) encerra o tópico com os fatores sociais, que tratam da
forma como a sociedade age diante da perda. Uma delas se refere a perda silenciada,
muito comum em casos de suicídio, em que os familiares e amigos preferem se calar
e as conversas sobre a pessoa e sobre o falecimento são evitadas. Outro fator é a
perda negada, em que as pessoas seguem agindo como se a perda não tivesse
ocorrido. Por fim, um outro exemplo, é a ausência de uma rede de suporte em que as
pessoas que sabem do falecimento poderiam apoiar-se entre si.
Portanto, observa-se que os fatores que podem levar ao luto complicado,
incluindo a resultante depressão, são diversos. O cuidado na identificação, triagem,
acolhimento e acompanhamento dos casos são o diferencial na tratativa dos casos.
Um luto que segue seu fluxo comum e esperado pode precisar de apoio ou não. Já os
casos de luto prolongado e complicado, trazem consigo uma necessidade maior de
apoio e tratamento, pois em alguns casos, a depressão se instala como sequela de
lutos não elaborados, e se não identificada dessa forma, o tratamento e bom
andamento do caso pode se tornar dificultoso e mais lento pela falta dessa
identificação.
16
O apoio ao enlutado que tem que lidar com diversos sentimentos, que envolvem
a raiva, possível revolta, muita tristeza, saudade e falta de perspectiva de futuro são
fundamentais. Esse enfrentamento que é compatível com a resiliência psicológica
pode se beneficiar muito com o auxílio profissional, em que o alívio desse sofrimento
perante essa nova realidade pode ser o ponto chave na evitação de um luto patológico
e suas consequências. Essa reconstrução passa por diversas etapas, e uma delas é
trabalhar o autoconhecimento, que pode ser fundamental na ressignificação da vida
desse enlutado. No processo terapêutico, a identificação de novas visões sobre si e
sobre o seu papel no mundo, redesenhando os cenários sem a presença do falecido
sobre um novo paradigma em que se trabalha esse novo eu, traz ao enlutado novos
significados de vida e possiblidades (ALMEIDA, 2017).
As fontes de ajuda que podem ser buscadas pelos enlutados são diversas, e
em muitas delas, o apoio na linha psicanalítica pode ser encaixado, trazendo a ajuda
na elaboração e bom andamento desse processo, sendo elas, a ajuda médica,
serviços de aconselhamento de luto, psicoterapias, reuniões em grupos de enlutados
e grupos religiosos, que podem ser, além de ponto de apoio espiritual, também um
diferencial no acolhimento e ampliação da interação social, pois haverá comunicação
com identificação, escuta e trocas que se tornam relevantes quando se tem reflexões
envolvendo similaridades (PARKES, 1998).
Por fim, é relevante destacar a necessidade da compreensão do luto, que se
possa reconhecer, fazendo uma revisão geral do que se entende como uma visão de
mundo presumido, das crenças envolvidas, bem como as narrativas de vida. Com
isso, tanto o profissional quanto a pessoa enlutada, necessitam colocar esforços para
melhor compreender o luto e trabalhar na reconstrução de um mundo significativo,
trazendo coerência na nova narrativa de vida. Portanto, cabe reforçar que discursos
sobre a morte e o luto refletem ideologias e valores culturais. Acolhimento, escuta e
apoio terapêutico trabalhados de forma única, exclusiva e empática, de acordo com
cada caso específico, considerando as singularidades e vivências pessoais de cada
caso são premissas para uma boa evolução da terapia que envolve luto, com isso,
tem-se como ganho, além de uma boa elaboração do luto, a prevenção da evolução
para luto complicado (BROMBERG, 1994).
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Freud (1917) publicou Luto e Melancolia a partir das observações feitas durante
a I Guerra Mundial. Citou diferenças e similaridades entre o pesar e a melancolia,
considerando que o luto resultante de depressão tende a aparecer em relações
ambivalentes. Ele utilizou o termo “trabalho de luto”, referenciando que luto necessita
de uma elaboração psicológica.
Anderson (1949) fala sobre luto crônico, definindo ser o distúrbio psiquiátrico
mais frequente. Parkes (1998) observou pacientes psiquiátricos adultos internados
entre 1949 e 1951 e confirmou os padrões de morbidade levantados anteriormente
por Anderson, e verificou que a taxa de morte do parceiro nos seis meses anteriores
à internação era seis vezes maior do que o encontrado na população que não estava
passando por luto. Assim, estes estudos trouxeram uma nova visão a respeito das
consequências do luto em populações específicas.
O cenário atual é visto com a proliferação das psicoterapias e ampliação da
psicofarmacologia pelo mundo. Com isso, a realização de sessões semanais e
regulares por tempo longo e indeterminado, a falta de certeza de resultados, assim
como a ausência de fatores avaliativos objetivos, fez com que a psicanálise perdesse
espaço para outras psicoterapias. A banalização do diagnóstico de depressão, aliada
à ideia de tratamento medicamentoso contribui para a expectativa de resultados
urgentes. Não se pode negar que em casos específicos o tratamento medicamentoso
é necessário e por vezes indispensável, porém, urge se identificar casos de uso de
remédios apenas para tamponamento do desamparo, com resultado de um corpo
controlado quimicamente, sem a elaboração das emoções pertinentes ao caso
(FÉDIDA, 2009).
O processamento para elaborar as perdas se desenvolve no tempo,
considerando a dinâmica individual de cada um, e se choca com as necessidades
atuais, com pessoas cada vez mais imediatistas e com conceitos de evitação da dor.
Com os psicotrópicos, essa urgência se ressalta, em situações que mesmo havendo
a clareza dos riscos, esses medicamentos são solicitados, com objetivo de anestesiar
e não pensar nas emoções que envolvem as perdas (FÉDIDA, 2009).
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angústia, a depressão ocorre nas mais diversas formas, podendo ocorrer em todas as
estruturas tratadas pela psicanálise, como nas neuroses, psicoses e na perversão.
Assis (2009) discorre sobre o tempo de que o sistema psíquico necessita para
elaborar as emoções. Ele traz que o tempo não ocorre com rapidez, tais como os
mecanismos de formação do raciocínio, nas reações de medo, de alerta e de perigo.
No âmbito emocional, referente aos processos que estão inconscientes, as
características de processamento são outras, o que a torna vagarosa, pois supõe
características como “espera, tolerância à incerteza, convivência com o medo, contato
com a dor psíquica, construção de significados, elaboração de fantasias inconscientes
associadas ao estímulo” (ASSIS, 2009, P. 69-70). O autor propõe ainda que o tempo
de processamento das emoções pode se comparar ao estado de luto, pois a
elaboração de perda de um ente querido necessita de certo tempo e de consumo de
energia psíquica. Assim, os processos de elaboração de perdas não se fazem às
pressas, mas requerem que as emoções possam ser vividas no “tempo da alma”
(ASSIS, 2009).
Uma reflexão fundamental ao tratamento é entender que a depressão se trata
de um tempo que o paciente precisa para a reconstrução e reorganização narcísica
do vazio. Precisa, então, de um ambiente próprio, que se trata da primeira condição
ao tratamento. “Caso não seja este suficientemente cavernoso, seguro, o paciente
nessa situação poderá sentir-se ameaçado, inseguro e em estado de desamparo”
(BERLINK, 2008, p. 71).
De acordo com Fédida (2009), o sentimento de vazio, frequentemente relatado
por pacientes deprimidos, se refere a uma espécie de busca de sentido. O autor cita
Winnicott, trazendo o vazio como um tempo passado, que não pode ser recordado,
que se elabora de forma diferente do trauma e corresponde à organização narcísica
primária, completando na afirmação de que o vazio se constitui da necessidade
anterior ao desejo de se refugiar. Assim, Fédida (2009) conclui que o olhar para o
vazio na depressão, durante a terapia, induz acreditar que esse poderia ser o centro
de auxílio da cura. Por isso, o que é trazido através da fala apresenta-se como ponto
importante no tratamento psicoterápico
Portanto, o papel do tratamento psicoterápico é constituir ou reconstituir o
aparelho psíquico, utilizando-se da fala como forma de obter acesso à depressividade
23
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ASSIS, M.B.C. (2009) O tempo da alma. In: Pripas, S. Cronos Ensandecido: sobre a
agitação no mundo contemporâneo. São Carlos: UFSCar. Disponível em:
https://seer.ufu.br/index.php/perspectivasempsicologia/article/view/37222. Acesso
em 08/10/2022
BEUTEL, M. MD; DECKARDT, R. MD; VON RAD, M. MD; WEINER, H. Dr., MD, Med
(HON). Grief and Depression After Miscarriage: Their Separation, Antecedents, and
Course. Psychosomatic Medicine: November/December 1995 - Volume 57 - Issue
6 - p 517-526. Disponível em
https://journals.lww.com/psychosomaticmedicine/Abstract/1995/11000/Grief_and_De
pression_After_Miscarriage__Their.3.aspx - Acesso em 30/08/2022
BOWERS, M.K.; Jackson, E.N.; Knight, J.A. e LeShan, L. (1994). Counselling the
Dying. Jason Aronson Inc, Nova Jersey. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/309601849_Psychoanalytic_Reflections_on
_Limitation_Aging_Dying_Generativity_and_Renewal. Acesso em 12/10/2022
CARONE, M.; FREUD, S. 1917, 1985: Luto e Melancolia. J. psicanal., São Paulo,
v. 49, n. 90, p. 207-224, jun. 2016. Disponível em
26
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
58352016000100016&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 01/09/2022.