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INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR RAIMUNDO SÁ

CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA - NOITE


DISCIPLINA: PSICANÁLISE II
DOCENTE: ANA RAÍLA DE SOUSA ARRAIS
DISCENTE: DÉBORA DA SILVA ARAÚJO

Freud. S. (2021). Sobre o início do tratamento. In Fundamentos da clínica

psicanalítica. (pp. 112-135). Belo Horizonte, Brasil: Autêntica.

O texto sobre o início do tratamento fala sobre a posição de Freud em relação ao

método que estava construindo e as regras desse método, ele chama essas regras de

recomendações e não reivindica qualquer aceitação incondicional para elas. Posto isso, ele vai

fazer uma correlação entre o jogo de xadrez e a psicoterapia e trazeresse exemplo para

mostrar que não há como estabelecer tratamento analítico e sim recomendações e essas,

recomendações podem ser utilizadas ou não e isso vai depender de quem procura o

tratamento. Freud propõe essas recomendações para o início do tratamento porque qualquer

mecanização da técnica encontraria obstáculos na subjetividade de cada indivíduo

O paciente era aceito provisoriamente e essa condição era demarcada por um período

de uma ou duas semanas, a fim de decidir se o paciente era adequado para a análise, evitando

assim uma descontinuação após certo tempo. Outra questão também importante nessa

demarcação eram as razões diagnósticas. Quando se tem uma neurose com a sintomatologia
de um quadro de histeria ou obsessão, tem-se de levar em consideração a possibilidade de ser

um estádio preliminar da esquizofrenia. Se o paciente estiver sofrendo de esquizofrenia, a

promessa de cura ficaria comprometida e por esse motivo o psicanalista teria motivos fortes

para evitar cometer equívocos no diagnóstico. Debates longos precedentes do início do

tratamento analítico, tratamento prévio por outros meios e conhecimento anterior entre o

paciente e o analista, têm consequências desvantajosas. Surgem dificuldades também quando

o analista e o seu novo paciente, acham-se em posição de amizade, vínculo familiar ou tem

laços sociais um com os outros.

Segundo Freud, ao iniciar o tratamento, as atitudes de confiança ou desconfiança

por parte dos pacientes não tem tanta importância, os acordos em relação ao tempo e dinheiro

são pontos importantes no inicio e sobre o tempo, Freud reserva ao paciente uma hora

específica de seu dia de trabalho, sendo a hora do paciente, ele é responsável por ela, mesmo

que não faça uso da mesma. Freud dá continuidade falando que se o acordo for seguido,

contratempos acidentais não ocorrem e moléstias intervenientes apenas de modo muito raro.

Nos casos onde ocorrem moléstias orgânicas que não podem ser afastadas, o tratamento tem

uma interrupção e quando o paciente melhorar é aceito de volta em outro horário vago. O

trabalho é feito todos os dias, com exceção dos domingos e feriados oficiais, para os casos

leves ou na continuidade de um tratamento bem avançado, três dias por semana é o suficiente.

Ele ainda afirma que no início seria conveniente chamar a atenção do paciente para as

dificuldades e sacrifícios que o tratamento analítico envolve, evitando assim que qualquer um

comente mais tarde que foi enganado por um tratamento extenso e de várias implicações.

Freud faz algumas considerações sobre o livre arbítrio do analisando, ele diz que o paciente

não é obrigado a ficar no tratamento por um longo período de tempo, porém deixa claro que

se o tratamento for interrompido em um curto espaço de tempo, ele não será bem sucedido.

Ele faz uma comparação entre neurose e organismo dizendo que suas manifestações não são
independentes uma das outras e mostra que se o paciente for liberto de um sintoma ele poderá

descobrir que um sintoma suportável, pode se tornar insuportável. Outro ponto bastante

delicado é a questão do dinheiro dos honorários do analista, o pagamento deve ser feito a

intervalos regulares evitando o acumulo de grandes somas de dinheiro. Freud faz uma relação

entre a sexualidade e o dinheiro, mostrando que o analista não deve ter pudor. Outra

recomendação é evitar tratamento gratuito, o analista não pode exercer o papel de filantropo

desinteressado, pois ele pode se sentir explorado no decorrer do tratamento e isso pode lhe

custar.

Freud faz alusão a certo "ritual" referente a posição que o tratamento é realizado e isso

tem haver com o método hipnótico. É a partir desse método que a psicanálise se desenvolveu,

ele diz que o paciente deve se deitar num divã e a posição do analista seria atrás desse divã,

ou seja, fora de vista do paciente, ele deixou claro no texto que por questões pessoais ele fazia

uso do divã. A análise pode ser iniciada pelas lembranças de infância, pelas histórias de vida

ou até mesmo pela história da doença do paciente. Independente da escolha que o analista

fará, é imprescindível deixar que o paciente fale e ele mesmo deve se sentir a vontade para

escolher por onde começar. Freud vai dizer que a única regra permitida é aquela que

fundamenta a técnica psicanalítica: a associação livre. Ele relata que qualquer tipo de

preparação não deve ser recomendado quando se esta em análise e explica que tem pacientes

que preparam com todo cuidado o que vão comunicar, achando que estão fazendo um melhor

uso do tempo disponível ao tratamento, mas na verdade essa preparação impede que

pensamentos desagradáveis se manifestem. Isso é resistência e a resistência também se faz

presente quando os pacientes afirmam que não conseguem pensar no que vai dizer, a

explicação que Freud da, é que uma forte resistência se fez presente com o intuito de defender

a neurose e o analista não deve atender a demanda do paciente. Freud vai dizer que tudo que é

posto representa uma transferência que vem de encontro às primeiras resistências. Para
exemplificar temos algumas situações que o paciente pode estar pensando em relação ao

tratamento em si, pelo fato de se deitar num divã ou até mesmo na aparência da sala de

espera. Por outro lado, diz Freud, cabe ao analista descobrir esta transferência para ter acesso

ao material patogênico do paciente.

Freud faz o questionamento, de quando se deve começar a fazer a comunicação com o

paciente e qual é o momento para revelar o significado oculto das ideias que lhe ocorrem e

para iniciar os procedimentos técnicos da análise. Ele é enfático ao afirmar que somente após

a transferência ter-se estabelecido no paciente. O objetivo do tratamento é ligar o paciente a

ele próprio e a pessoa do analista, porém é necessário tempo para isso acontecer, a forma mais

provável para o paciente fazer essa ligação é assegurar um interesse verdadeiro nas questões

do paciente evitando assim, certos equívocos que poderiam ocorrer, as resistências seriam

dissipadas e o próprio paciente vincularia o analista a imagens das pessoas que o tratam com

afeto. Outro ponto relevante é a linha de conduta que o analista deve ter para não traduzir os

sintomas que o paciente apresenta. Sobre isso Freud diz que mesmo nos estados posteriores da

análise, deve ter cuidado em não fornecer ao paciente a solução de um sintoma ou a tradução

de um desejo até que ele esteja tão próximo delas. Com isso pode-se concluir que Freud faz

distinção entre dois momentos importantes no processo analítico. O primeiro engloba as

entrevistas preliminares, que vai verificar a possibilidade que o paciente tem de entrar em

análise, é o momento para se estabelecer a transferência, porque sem ela é impossível iniciar

qualquer tratamento. O segundo momento se caracteriza, pela entrada em análise, o paciente

já está num processo transferencial com o analista, permitindo assim que intervenções sejam

feitas. É importante ressaltar que com o amadurecimento da técnica, Freud vai abrir mão de

algumas recomendações que ele mesmo deu, e isso mostra a seriedade que a psicanálise trata

das questões teóricas que ele apresenta nos seus escritos.

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