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Resumo: Este artigo retrata a atuação da analista na clínica da toxicomania, tendo como objetivo,
relatar a experiência na clínica de tratamento para álcool e outras drogas, buscando analisar a dinâmica da
transferência na toxicomania e identificando os principais obstáculos encontrados durante a intervenção.
O estudo adotou o método qualitativo, descritivo e com estudo de campo. O local da coleta de dados
ocorreu numa clínica de tratamento para álcool e outras drogas no Norte do país. Desta forma, a coleta de
dados se deu mediante aos atendimentos psicanalíticos da pesquisadora, que relatou sobre a sua
experiência profissional na clínica da toxicomania. Isso possibilitou constatar que a internação do sujeito
por si só, não garante a eliminação dos sintomas e não previne de prováveis recaídas. Portanto, os
resultados confirmam que o modelo de tratamento para toxicomania não se mostra eficaz, por produzir
um apagamento do sujeito, limitando seu tempo de escuta, de fala e reduzindo a subjetividade em lucro
através da internação.
Palavras-chaves: toxicomania; psicanálise; sujeito.
INTRODUÇÃO
(GIANESI, 2005). Por mais que o uso de substâncias envolvam uma questão social que
pode ser analisada por um amplo viés da cultura e da saúde pública, se torna um caso
singular, com uma escuta da particularidade e da história da vida de cada sujeito
(RIBEIRO, 2011).
O tratamento psicanalítico possibilita uma visão do sujeito na sua subjetividade,
onde não se propõe uma prática exclusivamente psicopatológica, assim o analista ocupa
o lugar do não saber, se desfaz daquela prática meramente técnica para ouvir o saber
que o paciente manifesta, compreende o lugar que a droga se encontra na vida dele.
Portanto, o olhar clínico se produz na retificação subjetiva, onde o sujeito deixa de se
queixar da droga, para se queixar de si mesmo, sendo assim, transforma a relação que
mantém com o objeto tóxico (RIBEIRO & FERNANDES, 2013).
Diante disso, o objetivo analítico é possibilitar ao sujeito que ele não fique
alienado e escravo do seu mal-estar e, que busque através de uma ação discursiva
sustentar o seu próprio eu e favorecer outra posição diante do que lhe atormenta, se
implicando na queixa (SILVEIRA, 2013).
A TRANSFERÊNCIA NA PSICANÁLISE
A psicanálise não tem como proposta a rapidez dos resultados, exige paciência,
até porque a mudança ocorre de forma lenta e a longo prazo. E assim o clínico não
poderá fazer nenhuma promessa de cura ou de resultados, pois não se pode prever os
efeitos dessa relação entre analisando e analista. Por isso que é importante mencionar
que não é indicado antecipar interpretações nas quais o paciente não está preparado para
receber, porque pode provocar resistência e ocasionar a interrupção do tratamento. O
desejo de cura por si só não é garantia de melhora (FREUD, 1913/1996).
O trabalho do psicanalista segundo Nasio (1999), perpassa a linguagem do sujeito
para que na própria escuta, ele possa perceber algo novo daquilo que se diz. Onde o
autor também menciona que não é recomendado que o clínico enfatize intensamente o
sintoma, pois isso pode gerar resistência. No caso da toxicomania é importante não ser
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invasivo e só querer analisar apenas o que diz respeito a droga, e quando isso acontece,
pode gerar a própria interrupção do tratamento.
Para que o trabalho do analista possa começar é necessário que o paciente fale
sobre o que quiser, para que o associe livremente, como regra fundamental da
psicanálise, falar o que vier a cabeça, sem censura. A partir desse momento é importante
ressaltar que conforme se fala dos sintomas, isso possibilita o próprio alívio do
sofrimento. A psicanálise enquanto clínica propõe uma criação de novos sentidos e é
preciso inventar uma saída para aquilo que o paciente se queixa. Assim pode-se associar
essa aplicação do método associativo para que o sujeito na toxicomania possa se
implicar na própria desordem psíquica (FORBES, 2014).
Durante a escuta analítica da toxicomania, o sujeito pode se deparar numa
situação, onde ele não sabe o que dizer, ou mesmo não sabe relatar sobre os motivos que
o fizeram se manter na compulsão pela droga, e aí o trabalho do psicanalista é
justamente de convidá-lo para falar do que não sabe, para que assim possa construir
uma fala a partir da falta. O lugar que o paciente está, não é o mesmo do analista e por
isso pode ocorrer a resistência. Um fala de um saber entorpecido e o outro não, por isso
que o paciente não supõe que o psicanalista saiba da sua dor, pois, fantasia que o outro
deveria ter passado pelo mesmo que ele, ou seja, o analista não é colocado no lugar de
sujeito suposto saber (FORBES, 2014).
Segundo Forbes (2014) o sujeito deve se implicar no próprio sofrimento e se
colocar diante daquilo que se queixa. Por isso, é importante salientar o quanto ao
mesmo tempo que a clínica da toxicomania pressupõe uma demanda, também inclui a
própria satisfação no uso da droga. É nesse sentido que o sujeito se torna escravo desse
senhor objeto – desejo. O que ele faz ou deixa de fazer? Ele se droga para quem? Quem
ele anestesia? E com isso, a dor vem como uso, o sintoma está sendo tratado pelo uso da
substância e por isso a família procura ajuda profissional motivados pela dor, pois são
eles que se preocupam e se queixam do familiar.
Na toxicomania o sujeito está apegado ao sintoma compulsivo e assim surge um
conflito entre se curar ou não, ao mesmo tempo, que se esconde através da droga, por
isso que pode existir o desejo de ser analisado e, de desistir do processo analítico,
configurando-se num vínculo transferencial frágil e que pode ser desfeito a qualquer
momento. Como que ele poderia querer encerrar a relação com a droga, se isso faz parte
dele? (NASIO, 1999).
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METODOLOGIA
interessou e entrou em contato com o proprietário do local. Onde ele explicou que o
trabalho consistia em atender (o grupo, a família e individualmente) os pacientes
internados duas vezes por semana. No total eram 90 homens a partir de 18 anos e, a
família ficava responsável pelo pagamento da internação e da análise.
Nove meses de internação era o contrato estabelecido para todos os internados,
onde eles não teriam acesso à internet e não poderiam socializar, estavam privados de
liberdade e não podendo ter contato com a família. A interação ocorria apenas entre
eles, exemplo disso eram nas refeições, reuniões, dormitório e horário do culto
religioso. Nessa circunstância a internação se associava a um ambiente carcerário com
muitas regras e limitações. Tudo era cronometrado, tempo de deslocamento ao banheiro,
realização das refeições, as conversas entre eles eram restritas e sempre monitorados.
Não se tinha autonomia para circular por todo local, precisavam ficar numa determinada
área sem fugir do campo de visão dos fiscais, tudo isso para manter o controle, sendo
que esse processo se efetivava via autorização para praticar qualquer atividade. O
sofrimento se apresentava, porque o sentimento de arrependimento e culpa se
manifestavam e sem o refúgio à droga, a dor ficava mais intensa somado a falta de
autonomia. E o gestor desejava que ao final de cada dia, fosse entregue uma devolutiva
sobre os atendimentos, como se quisesse obter informações sobre as sessões, e isso era
um impasse, pois o que ocorre no encontro entre o analista e analisando é da ordem do
sigilo (SADALA & MARTINHO, 2011).
O atendimento psicanalítico deveria ser obrigatório segundo a ordem do saber do
proprietário, ou seja, os pacientes não tinham o poder de decidir sobre o desejo de ser ou
não analisado. Por mais que a analista tivesse oferecido essa possibilidade de escolha, a
instituição não autorizou. Ela fez isso imaginando que as sessões deveriam partir do
pressuposto de que existe uma demanda e um desejo do sujeito pelo tratamento, essa
obrigatoriedade poderia surgir como resistência a análise (ROBERT & KUPERMANN,
2012).
A clínica de tratamento era composta por um médico psiquiatra (atendimento
semanal); duas enfermeiras (atendimento diário); e uma psicanalista (atendimento
semanal). Sendo assim, parecia que o objetivo da internação era oferecer um tratamento
medicamentoso e não promover saúde mental.
A princípio o proprietário criava uma lista com os nomes dos pacientes para os
atendimentos e analista ia seguindo. Depois a profissional preparava a própria agenda.
No total eram atendidos em torno de 10 à 11 pacientes num dia e mais cinco no segundo
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dia, este era reservado para aqueles que eram atendidos semanalmente. E assim o
método psicanalítico era aplicado, e cada um poderia falar o que viesse a cabeça
(MOURA & FIGUEIREDO, 2015).
No primeiro dia de atendimento foi percebido que o fazer analítico era
atravessado pelo próprio desejo do proprietário, querendo criar agenda dos
atendimentos, controlando o tempo de cada sessão (30 minutos), e sinalizando que
alguns deveriam ser mais atendidos que outros (aqueles que apresentavam uma
intensidade maior de sofrimento ou alguma questão judicial, pois o juiz solicitava um
parecer psicológico sobre a saúde mental), outro obstáculo eram os desmarques das
sessões. Isso apenas criava mais resistência a realização do trabalho, sendo que o não
comparecimento ao atendimento deve ser da responsabilidade do sujeito atendido e não
do proprietário. Parecia que a instituição estava mais preocupada no status de ter uma
psicanalista para a criação dos relatórios, do que efetivamente permitir a execução dessa
prática e, consequentemente se preocupar com a saúde mental dos internados (SILVA &
BRANDT, 2019).
Com isso, no decorrer dos atendimentos foi constatado que o sujeito na
toxicomania procurava fazer mal a si mesmo, intoxicando, embriagando-se,
envenenando-se para adormecer a sua crise psíquica, justamente para alimentar o vício a
fase oral. Analisando essa demanda de álcool e drogas, como oferecer ajuda se eles não
conseguem responder pelos próprios atos? (TURNA, 2012).
Esse processo de escuta analítica da toxicomania apresenta o que segundo Freud
(1914/1996) no texto recordar, repetir e elaborar descreve que a recordação não se
realiza pela lembrança do paciente e, sim pela ação. Por isso, que na toxicomania o foco
é nessa repetição compulsiva pela busca da droga, e quando questionado sobre essa
ação, não sabe como discorrer, pois o desconhece, porque tudo isso passa no plano
inconsciente. E assim, se torna alienado ao próprio desejo, impossibilitado de
formulações que possam questionar sobre esse agir compulsivo. Essa repetição não é
uma reprodução e, se inscreve no próprio sintoma e, a elaboração promove mudanças
psíquicas (SANTOS & ROSA, 2007).
O olhar do clínico se volta para o sujeito e a sua subjetividade, não focaliza
apenas o sintoma, justamente porque a psicanálise não gira em torno do diagnóstico e
sim do desejo inconsciente e, para que na toxicomania o paciente faça uma retificação
subjetiva é necessário que ele possa recordar e repetir para que a mudança psíquica
ocorra (RIBEIRO E FERNANDES, 2013).
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Com o passar das sessões, relatos dos pacientes e diretrizes do local que se
repetiam, a analista começou a repensar e apontar que o fazer psicanalítico parecia uma
clínica do impossível, não pela complexidade do objeto de estudo, mas pelas próprias
regras da instituição. Como limitar o tempo de atendimento em 30 minutos? estipulando
apenas dois dias para os atendimentos e dando conta de 90 pacientes? E assim causava
um impasse, como daria continuidade aos atendimentos, se haviam várias
desmarcações? Sendo que o cancelamento, implicavam faltas dos dois dias (SILVA &
BRANDT, 2019). A quantidade de pacientes era desproporcional a quantidade de horas
trabalhadas, por isso que não era possível atender todos semanalmente. Isso se tornava
um entrave para o andamento da análise. Outro fator que obstaculizava o trabalho era a
saída inesperada de alguns pacientes, as vezes numa semana eram atendidos e, na
próxima sessão aquele sujeito já tinha sido retirado da internação pelos familiares.
A atuação do analista na clínica da toxicomania se caracteriza pela escuta do
sujeito em sua subjetividade, enxergando-o além do objeto droga. Se o próprio sujeito
nega o tratamento da internação e da análise, não tem como gerar efeitos na saúde
mental, e assim após os nove meses de internação, ele voltaria ao uso tóxico. Sem
desejo não há análise, e é necessário implicação no que gera angústia (FORBES, 2014).
Isso fica claro pela repetição discursiva do objeto amado. E muitos deles sabem o efeito
da droga no seu corpo e no seu psiquismo, mas o prazer que o objeto proporciona, é
muito maior que essa consciência dos efeitos maléficos do uso. Mostrando que saber
sobre o problema não corresponde a resolução deste, assim como passar pelo tratamento
também não previne contra possíveis recaídas, se tornado um obstáculo para o
andamento do trabalho analítico (CHAVES, 2006).
Frente a isto quando o sujeito não se dispõe ao tratamento medicamentoso e nem
analítico pode gerar impedimento para o desenvolvimento dos resultados satisfatórios.
Isso demonstra que não é porque os pacientes estão sem o acesso ao objeto droga que
estão curados. Passar os nove meses internados, por si só, não garante um tratamento,
pode ser apenas um tempo sem o objeto. E a própria abstinência pode provocar uma
cisão do sujeito, ou seja, uma alteração da realidade psíquica (SOUSA & LEITE, 2021).
O trabalho do analista com a toxicomania não deve ser de ir contra a droga ou de
sugerir que o paciente fique em abstinência, também não deve ter o posicionamento de
curá-lo. Até porque esse desejo deve vir pelo paciente, e assim a tarefa do psicanalista é
de escutar esse sofrimento, acolher essa dor e possibilitar novos significados para além
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da droga. Vale ressaltar que não é tarefa do analista forçar uma mudança na posição do
sujeito em relação a droga, isso seria contraindicado (SILVEIRA, 2013).
A forma como o sujeito chega na análise muitas vezes é sem motivação para o
próprio atendimento, pois eles não conseguem nomear que existe um desprazer social, e
quem procura amparo são os familiares. Nesse sentido, as vezes não se tem demanda
para análise inicialmente e posteriormente isso pode evoluir para a construção de uma
queixa. Com isso, quando não se tem um conteúdo psíquico imediatamente, se mantém
a regra da associação livre, uma forma de convocá-lo a narrar sobre o que quiser. Em
alguns casos isso pode levar um tempo que não é cronológico, é um tempo da
manifestação do inconsciente, e isso seria indicado. Esse público manifesta um desejo
inconsciente de se inserir naquilo que se pensa estar excluído, ou seja, a sociedade para
que se sinta pertencente ao um grupo e se integrar partindo da substância, assim a droga
se torna uma porta de entrada para a toxicomania (CHAVES, 2006).
Narrar sobre a toxicomania é pensar no sujeito que sofre, e que é atravessado por
questões sociais e culturais. Freud no texto mal- estar na civilização (1930/1996),
observa que o sujeito precisa se inscrever na cultura e isso pode gerar um mal-estar, pois
nem sempre a sua dinâmica psíquica estará em consonância com a sociedade. Nessa
perspectiva, pode-se pensar que o sujeito busca na droga essa inserção na civilização e,
assim busca o prazer e se afasta do desprazer e da dor de existir. O cigarro, e o álcool
são utilizados no contexto de diversão e lazer, de forma a deixá-lo mais socializável e
incluído no grupo que deseja ser aceito. E assim o uso que era recreativo passa a ser um
mal necessário, transforma um uso adicional, num uso indispensável, colocando-o numa
posição de servidão ao uso da droga e se submetendo ao prazer deste. Isso se
presentifica na sessão com o analista principalmente no que confere a relação
transferencial (SANTOS & ROSA, 2007).
A sessão era dinâmica e poderia mudar a qualquer hora, cheia de arrependimento
e culpa, isso ocorre porque a sobriedade convoca a consciência o próprio sofrimento,
pois já não tem a droga para curá-lo. Nesse cenário o objeto droga se torna um remédio
para tratar do que atormenta. Com isso, a transferência se produz pela tentativa direta ou
indireta de sair e receber alta da internação, demonstrando uma falsa melhora e ter
acesso ao desejo. A aflição e a ansiedade tendem a marcar o encontro entre analista e
analisando. E assim se drogar cada vez mais, é se suicidar aos poucos, tirar um pouco de
si, por isso que muitos deixam de trabalhar e negligenciam a vida conjugal, para viver
só para o objeto droga, se tornam refém, ou seja, se intoxicam diante da perda. Estando
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longe das drogas inevitavelmente as lembranças das dores, e o desejo de fugir fica mais
aflorado (FREUD, 1912/1996).
A dinâmica da transferência na clínica se manifesta em forma de desespero,
quando se percebe que o acesso a droga já está fora do seu alcance. Excessos de raiva
contra a analista, e ainda testam o limite da profissional a todo momento. Vão da
completa simpatia, agradecimentos por serem ouvidos, com intenso desejo de serem
agradáveis, justamente para obter benefícios na internação, até a própria rejeição do
tratamento, com desconfiança, uso da negação e manipulação, tudo isso pode acontecer
num só encontro (FREUD, 1912/1996).
O método clínico convoca;
sinalizavam uma vida sóbria, e ambas são formas de resistir ao tratamento analítico. Um
obstáculo era com a própria instituição, pois a proposta de trabalho era de atendimento
duas vezes por semana, e ainda tinha a cobrança de que os 90 pacientes fossem
atendidos pelo menos uma vez por mês, isso era praticamente impossível (SANTEIRO,
BARBOSA & SOUZA, 2016).
No que consiste aos resultados dos atendimentos em grupo que ocorria ao final de
cada mês, preparava-se um espaço de escuta onde cada um pudesse relatar sobre o que
quisesse. Alguns se soltavam mais, eram mais falantes, outros observavam mais, cada
um com a sua característica subjetiva. O encontro consistia na aplicação do método
associativo de ideias. Onde era dividido em subgrupos (4 ou 5 grupos). E do mesmo
modo era possível perceber um discurso onde a droga o fazia fugir dos problemas e
promover o prazer pela fuga. Na relação transferencial o sujeito poderia monopolizar e
ganhar atenção de todos, afinal era um conteúdo em comum entre eles. Era um encontro
para expor sentimentos, gerar reflexões e compartilhamento das manifestações
psíquicas. O obstáculo encontrado era da própria individualidade do sujeito querendo se
sobrepor ao grupo, sendo apresentado o sentimento de raiva por estar naquela condição
de sofrimento, a sobriedade faz isso. Foi também percebido que a recaída envolve
conflitos na autoestima, no trabalho e na família (FERNANDES & HUR, 2022).
O atendimento de todo o grupo se dava a partir da elaboração de desenhos livres.
Essas manifestações ilustrativas demonstravam projeções provenientes da infância,
relações familiares e aspectos envolvendo o trabalho. Procuravam relatar sobre as
emoções evocadas nos desenhos. Desta forma, a relação que o sujeito estabelecia com a
droga era de uma completa paixão, um sentimento descontrolado e avassalador, que o
fazia necessitar do objeto amado (LONDERO & SOUZA, 2016).
Além do atendimento em grupo haviam os encontros com os familiares que tinha
total autonomia para retirar o sujeito da internação, essa configuração se apresentava de
forma similar de quando os pais levam o filho adolescente para fazer análise e este não
aceita, sendo a sessão um lugar de punição. E assim ficam internados por agir fora da
lei, fora das regras, e se deparam com o lugar onde se têm regras e privações de
liberdade (PARAVIDINI & CHAVES, 2012).
O atendimento em família acontecia quando eles procuravam a analista ou a
mesma entrava em contato. As mães que tinha um desejo mais intenso de falar, e assim
era proporcionado um espaço de escuta. Geralmente esses encontros eram justamente
para falar da conduta do filho que estava internado. E na clínica da toxicomania o
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manifestava um vinculo frágil dos pacientes com o possível atendimento, uma vez que
não se consolidava um laço fortalecido por conta dos excessos de desmarques
ocasionados pelo proprietário, já que a instituição se mostrou que prezava mais pela
rotatividade dos profissionais do que pela permanência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ela continua regredindo a época dos manicômios, onde se priorizava uma lógica
capitalista que busca o lucro por cima da doença e, não visa o tratamento e, o leva a
exclusão social. Sendo assim, o maior empecilho para o andamento dos atendimentos
não se caracterizava pela demanda dos pacientes, mas pela própria instituição que
interferia na execução do trabalho (UHR, 2018).
Portanto, a pesquisa mostra que os resultados não são provenientes apenas deste
trabalho e sim do sistema que recebe o sujeito e a sua família. Desta forma, os
resultados encontrados mostram que interná-lo não é uma saída efetiva, pois ao final do
tratamento ele pode recair e virar um ciclo vicioso. Como alternativa, é interessante
pensar nos Centros de Atenção Psicossocial – álcool e drogas (caps AD), como
substituto ao sistema carcerário, um local onde não é necessário internar e ele tem a
possibilidade de ser atendido, sem se privar da vida pessoal, e consequentemente obter
maior autonomia (UHR, 2018).
REFERÊNCIAS