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O PSICANALISTA NO HOSPITAL: OBSTÁCULOS, LIMITES E ALCANCES

Neste capítulo, o autor nos leva a questionar não somente o que pode o analista no
hospital, mas também os obstáculos, limites e alcances da atuação. Uma vez que não
necessariamente se está fazendo psicanálise somente por usar seus fundamentos. É
fundamental que o analista questione a sua presença no hospital e o resultado disso, leve em
consideração as complicações. Sem levar isso em consideração, o analista estará se utilizando
dos fundamentos, porém sem fazer, de fato, psicanálise. Resultando em obstáculos e
inviabilização do seu trabalho, fazendo desaparecer o seu lugar.
As complicações, muito além da da relação do analista com a equipe, está também em
como aplicar a psicanálise diante das diversas situações no hospital, um lugar onde a ordem
médica predomina.

● A questão da transferência na instituição hospitalar


Por muitas vezes se entende que a instituição é um obstáculo para a atuação analítica,
pois o paciente chega até a instituição na busca pelo saber médico, logo entende-se que a
transferência será com o médico.
Contudo, por mais que alguns pacientes fiquem desapontados quando se deparam com
o analista, ainda sim falam. O analista é um lugar onde as pessoas encontram um saber sobre
si mesmas, mas por conta da transferência, acreditam que esse saber está no analista (no
outro).
Dessa forma, o obstáculo nesse caso não é a instituição ou o médico, mas sim a falta
de um analista e a falta de demanda do paciente. Sendo a questão da demanda igual para
qualquer local, seja consultório ou hospital, já que não é sobre onde está o paciente, mas sim
dele com ele mesmo.

● Sobre o setting no hospital


Freud denominou o setting analítico, um conjunto de “regras” para que se garantisse a
Psicanálise. Nesse caso, o mais importante não era a associação livre, mas o mobiliário,
horários e outras “regras”.
Lacan questiona esse setting por resultar na possibilidade de repetição mecânica.
Sendo a associação livre o principal quesito para se ter a Psicanálise, ultrapassando as
fronteiras do “lugar ideal”. Logo, o manejo da transferência, os fundamentos éticos dos
procedimentos técnicos e o desejo do analista de que a análise aconteça, garantem a boa
execução de uma Psicanálise.

● O tempo (breve) em análise


O tempo no hospital pode ser um obstáculo, porém não impede que se dê início à
Psicanálise. Não se pode recusar a demanda por conta do pouco tempo, seja de internação ou
de vida. Apesar do curto espaço de tempo e sua interrupção, não significa que deixou de
existir um efeito analítico no paciente. E o sujeito pode buscar continuidade.
Lacan chama de retificação subjetiva a entrada na análise, feita no primeiro momento
(entrevistas preliminares), em que se promove a modificação da relação do sujeito com o real,
a implicação dele nas desordens das quais se queixa.

● A psicanálise e o paciente terminal


Nesse caso, a demanda não é propriamente a de análise, mas sim de apaziguação da
angústia de morte. Ou seja, o analista deve se oferecer como escuta, na finalidade que as
formações simbólicas deem conta de parte da angústia. Se o paciente demanda a escuta, é
porque a questão da morte precisa ser falada.

● O psicanalista e a equipe multiprofissional


É necessário que o analista entenda que o lugar que ocupa é de uma posição
simbólica, para não se confundir com a ideia de lugar físico.
O psicólogo é chamado quando algo está conturbando as atividades do médico. Dessa
forma, o psicólogo pode “cair” em uma posição de ajudante de médico, que é esquecido após
o médico não ter mais demanda. Por conta disso, é necessário que o psicólogo entenda sua
posição, que não é de ajudante. Não é sobre não negar atendimento quando solicitado por um
médico, mas sim entender que se vai trabalhar com o psiquismo do paciente e não com a
ordem médica, mesmo quando a serviço dela.
Os pedidos da medicina chegam na necessidade de fazer com que o paciente se adapte
à ordem médica. O psicanalista, ao oferecer a escuta, diminui o grau de angústia do paciente.
Apesar do pedido ser o de fazer o paciente obedecer, fazemos uso da escuta e intervenção
analítica e obtemos um resultado que “agrada” a todos. Contudo, deve-se ter atenção ao efeito
positivo da prática analítica para os médicos, pois ainda que para garantir o seu lugar, não
pode ser o seu objetivo principal, mas sim uma consequência de sua intervenção.
Apesar do nome equipe multiprofissional, cada um cuida da sua parte. Entretanto, o
paciente não deixa de ser um todo complexo e a oferta de escuta visa uma consequência: a
localização subjetiva do paciente perante a realidade a qual está inserido. O que pode gerar
uma incompatibilidade nos discursos médico e analítico.

● A questão da demanda de análise, se no hospital quem se oferece é o analista


A oferta está do lado do analista e a demanda do lado do paciente, essa questão de ir ao
leito do doente me parece que só pode impedir que a análise se dê se não há um analista de
fato, e sim uma pessoa que se incomoda, que não se sente bem em fazer isso e tem medo de
ser rejeitada pelo paciente. Sendo assim, é melhor que não se ofereça mesmo, porque, se a
partir de sua oferta se criar uma demanda de análise, essa pessoa não teria o que fazer com
isso, nem no hospital, nem no consultório.

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