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Módulo VII - Psicopatologias II

Índice

A Psiquiatria e suas Relações com a Psicanálise e a Neurologia 7

Classificações, Definições e outras Controvérsias 9

Manual de Diagnostico e Estatística de Transtornos Mentais 11

A Entrevista Psiquiátrica 14

O Exame do Estado Mental 16

Transtornos Cognitivos 18

Delirium 18

Demência 19

Transtornos Amnésticos 20

Esquizofrenia 21

Esquizofrenia Tipo Paranóide 23

Esquizofrenia Tipo Desorganizado, ou Hebefrênico 23

Esquizofrenia Tipo Catatônico 24

Esquizofrenia Tipo Indiferenciado 24

Esquizofrenia Tipo Residual 25

Transtorno Esquizofreniforme 25

Transtorno Esquizoafetivo 26

Transtorno Delirante 26

Transtorno Psicótico Breve 27

Outros Transtornos Psicóticos 28

Transtornos de Humor 29

Transtornos Depressivos 30

Transtorno Depressivo Maior 31


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Transtorno Distímico 33

Transtornos Bipolares 35

Transtorno Bipolar I 36

Transtorno Bipolar II 38

Transtorno Ciclotímico 39

Transtornos de Ansiedade 40

Pânico 42

Fobias 44

Transtorno Obsessivo-Compulsivo 44

“Stress” Agudo e Pós-traumático 46

Ansiedade Generalizada 47

Transtornos Somatoformes 48

Transtorno de Somatização 48

Transtorno Conversivo 49

Hipocondria 50

Dor e Transtorno Doloroso 51

Transtornos Dismórfico Corporal 52

Transtornos Factícios 53

Transtornos Dissociativos 53

Amnésia Dissociativa 54

Fuga Dissociativa 55

Transtorno Dissociativo de Identidade (Personalidade Múltipla) 55

Transtorno de Despersonalização 56

Transe Dissociativo 57

Transtornos Sexuais 58

Disfunções Sexuais 58

Parafilias 58

Transtornos de Identidade de Gênero 59

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Transtornos Alimentares 61

Anorexia Nervosa 62

Bulimia Nervosa 63

Transtornos do Sono 64

Dissonias 65

Parassonias 66

Transtornos Relacionados a Substâncias 68

Antidepressivos 71

Antipsicóticos (Neurolépticos) 73

Ansiolíticos e Indutores de Sono 74

Anti-Parkinsonianos 75

Anti-Convulsivantes 76

Eletroconvulsoterapia (ECT) 77

Homeopatia 78

Acupuntura 78

Terapias “Alternativas” 79

O Efeito Placebo e a “Causa pela Fé” 79

Apêndice: Classificação dos Transtornos Mentais do DSM-IV 81

Avaliação em Psiquiatria 97

Caso 1: 97

Caso 2: 98

Caso 3: 100

Caso 4: 102

Caso 5: 103

Caso 6: 104

Caso 7: 105

CAUSAS DO COMPORTAMENTO ANORMAL 106

Perturbações neuróticas 113

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O núcleo Neurótico 114

CARACTERÍSTICAS DA PERSONALIDADE NEURÓTICA 115

1. Inadequação e baixa tolerância de tensão 115

2. Angústia e temor 115

3. Tensão e irritabilidade 116

4. Egocentrismo e relações interpessoais perturbadas 116

5. Rigidez e falta de auto conhecimento 117

6. Insatisfação e infelicidade 117

7. Sintomas psicológicos e somáticos 117

REAÇÃO DE ANGÚSTIA 118

Sintomas 118

REAÇÃO ASTÊNICA (neurastenia) 119

Sintomas 119

REAÇÃO DE CONVERSÃO (histeria) 120

Sintomas 120

1. Sintomas sensoriais 120

Reações dissociativas 121

Sintomas 121

REAÇÃO DE FOBIA 121

Sintomas 122

REAÇÕES OBSESSIVO-COMPULSIVAS 122

Sintomas 123

REAÇÕES NEURÓTICAS DEPRESSIVA 123

Sintomas 123

ESQUEMA DE PERTURBAÇÕES NEURÓTICAS 124

Reação Angústia 124

Astenia 124

Conversão 125

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Dissociação 125

Fobia 125

Obsessivo-compulsiva 126

Neurótica – depressiva 126

Gagueira 126

ROER UNHAS 128

TIQUES 128

ENURESE 129

Contraponto: neuroses e psicoses 130

Fator de comportamento: 130

Natureza do sintoma: 131

Orientação: 131

Auto conhecimento: 131

Aspectos sociais: 131

Tratamento: 132

AS PSICOSES FUNCIONAIS 132

CLASSIFICAÇÃO E SINTOMAS DE PSICOSES 133

1. Reações esquizofrênicas. 133

2. Reações paranóides. 133

3. Reações afetivas. 134

4. Reações psicóticas involutivas. 134

ANOMALIAS DA SEXUALIDADE 134

Impotência e frigidez. 134

2. Falta de afinidade emocional com o par sexual. 135

Satiríase e ninfomania. 136

Violação. 137

Homossexualidade. 137

Pedofilia 141

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Bestialidade 142

Exibicionismo 142

Voyeurismo 143

Necrofilia 144

Sadismo 144

Masoquismo 147

Transvestismo 149

Narcisismo 150

O infantilismo 150

Gerontofilia 152

Necrofilia 152

Feiticismo 153

Este material é parte das aulas do Curso de Formação em Psicanálise.


Proibida a distribuição onerosa ou gratuita por qualquer meio, para não alunos
do Curso. Os créditos às obras usadas como referências ou citação constam
nas Referências Bibliográficas.

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A Psiquiatria e suas Relações com a Psicanálise e a Neurologia

Como já é sabido, o Psicanalista não prescreve medicamentos. Porém, muitas


vezes ele conversará com o paciente sobre medicamentos que este toma.
Neste sentido, e também para conhecer as classificações de patologias
psiquiátricas, o presente módulo é fundamental.

A Psiquiatria é a especialidade médica que lida com as antigamente chamadas


“doenças mentais”, ou seja, com todos os transtornos que podem afetar as
funções da “mente” humana. Como é difícil, se não impossível, definir
claramente o que é a “mente”, torna-se naturalmente complicado definir-se o
que é e qual área de atuação da Psiquiatria.

Historicamente, a Psiquiatria se “desdobrou” como especialidade da


Neurologia, tendo em Freud, com seus estudos e o desenvolvimento da
Psicanálise, uma grande “alavanca” para seu estabelecimento como
especialidade individualizada. Freud não era um Psicólogo ou Psiquiatra, mas
sim um Neurologista, que acreditava serem os distúrbios mentais, bem como a
mente “em si”, decorrentes de funções físicas e químicas, normais ou
patológicas, do Sistema Nervoso Central, negando até o fim a possibilidade da
existência de fenômenos místicos, paranormais, etc. Era portanto, uma visão
materialista do ser humano, bem condizente com o pensamento da época, e
ainda hoje prevalecendo no círculo medico, principalmente entre os
Neurologistas.

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Já os Psiquiatras, dependendo de suas escolas de formação, têm uma visão
mais ou menos materialista, admitindo ou não a existência de fenômenos “não-
materiais” (espirituais, místicos ou paranormais), mas sempre com uma
abordagem da mente e do pensamento muito mais direcionada ao conteúdo e
à manifestação deste conteúdo, do que à anatomia e à fisiologia dos órgãos do
Sistema Nervoso, como é o caso da Neurologia.

Como já seria de se esperar, existem muitas áreas “limítrofes” entre as duas


especialidades, e às vezes nem mesmo os médicos de outras especialidades
sabem ao certo para quem devem encaminhar um paciente que tenha
distúrbios do sono, da fala, da memória, ou até do humor, para citar alguns
exemplos.

E o Psicanalista, aonde fica? Bem, segundo a opinião de muitos médicos, a


Psicanálise não deveria ser exercida por Psicanalistas ou Psicólogos, mas
apenas por Psiquiatras. Outros, talvez menos egocêntricos (ou com menos
receio de “perder o mercado”), percebem a impossibilidade de uma pessoa se
aprofundar em seus estudos em tantas áreas distintas, e recebem até com
alívio a formação de pessoas especializadas em uma terapêutica “não
biológica”, para quem possam encaminhar seus pacientes que não tenham
indicação de tratamento medicamentoso, ou mesmo que possam ter um
beneficio do tratamento complementar, “biológico” e psicoterápico
(especificamente, em nosso caso, psicanalítico).

Certamente, a “polêmica” está longe de terminar, mas gradualmente vão se


estabelecendo e se reforçando as posições e funções de cada profissional,
num mundo onde o equilíbrio entre a “super-especialização” e a “hiper-
generalização” torna-se cada vez mais precário, deixando-nos, como
profissionais em formação, muitas vezes um tanto “perdidos”... Será que ainda

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veremos o dia em que alguém será especialista na unha do dedo mínimo da
mão esquerda, ou o bom senso ainda prevalecerá?

Parafraseando um antigo professor de “pré-vestibular”: “O extremo da


especialização é o indivíduo que sabe tudo sobre absolutamente nada,
enquanto que o da generalização é aquele que sabe nada sobre
absolutamente tudo!”

Classificações, Definições e outras Controvérsias

A necessidade de se definirem e classificarem as coisas, pessoas, doenças,


enfim tudo o que se encontra à nossa volta, sempre existiu na Humanidade,
desde os tempos mais remotos. A própria estrutura da linguagem é baseada
em um sistema de definições e classificações, e a nossa linguagem molda de
maneira importante a nossa visão do mundo que nos cerca, possibilitando que
o nosso entendimento do mesmo se estabeleça e se amplie.

Por outro lado, os sistemas de classificação e as definições sempre se


mostram limitados, uma vez que restringem em “categorias” aquilo que, na
verdade, é sempre um “contínuo”! Como excelente exemplo, podemos citar as
cores: Nossos cérebros têm a capacidade de diferenciar milhões de cores
diferentes, mas só temos nomes para umas poucas delas (geralmente,
dependendo da língua em questão, de algumas unidades e no máximo poucas
dezenas de nomes diferentes para as cores). Assim, agrupamos mentalmente
as experiências sensoriais em categorias, classificando várias tonalidades
diferentes como “verde” ou “azul”, e ocasionalmente especificando com
adjetivos que muitas vezes são de interpretação individual (como “verde-
abacate” ou “azul-calcinha”...). E mesmo se conseguíssemos criar um nome
diferente para cada uma das mais de 16 milhões de cores passíveis de
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diferenciação (para se ter uma idéia, o novo dicionário “Aurélio”, edição 2000,
tem apenas 435.000 verbetes!!!), ainda assim estaríamos limitando a
“realidade” a partir de nossa percepção da realidade!!!

Aldous Huxley, em “As Portas da Percepção”, de 1954 (citado por Richard


Bandler e John Grinder em “A Estrutura da Magia”), explica que “... a função do
cérebro, do sistema nervoso e dos órgãos dos sentidos é principalmente
eliminativa e não produtiva. Cada pessoa é a cada momento capaz de lembrar
tudo o que já lhe aconteceu e de perceber tudo o que está acontecendo em
toda parte do universo. A função do cérebro e do sistema nervoso é de
proteger-nos de sermos engolfados e confundidos por esta massa de
conhecimento em grande escala inútil e irrelevante, pela interceptação da
maior parte do que, de outra forma, deveríamos perceber ou lembrar a
qualquer momento, e deixando somente essa seleção bem pequena e especial
que provavelmente é de uso prático”... “Para formular e expressar o conteúdo
desta consciência reduzida, o homem inventou e elaborou incessantemente
estes sistemas de símbolos e filosofias implícitas que chamamos línguas. Cada
indivíduo é a um só tempo o beneficiário e a vitima da tradição lingüística na
qual ele nasceu – beneficiário, na medida em que a língua lhe dá acesso ao
registro acumulado da experiência de outras pessoas, vítima na medida em
que a língua confirma nele a crença de que a consciência reduzida é a única
consciência, e ela confunde seu sentido de realidade, de modo que ele está
inteiramente apto a tomar seus conceitos por dados, suas palavras por coisas
reais”.

Em Medicina, em Psicologia, e em Psicanálise, não é diferente: acabamos por


tomar os conceitos, definições e classificações por Realidade, e se não
tivermos cuidado, esses sistemas complicados, criados para nos orientarmos
por entre a infinita gama de variabilidade que existe entre os seres humanos,
passam a ser considerados não mais como simples guias, ou normas, mas
como a expressão completa da realidade!
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Os vários sistemas de classificação usados na Psiquiatria tiveram origem
juntamente com a Medicina “oficial”, com Hipócrates, que já no século V a.C.
introduziu os termos “mania” e “histeria” como formas de doença mental. Cada
era, desde aí, criou seu próprio sistema de classificação, e as disputas e
dissidências desde o tempo de Freud fizeram com que muitos sistemas de
classificação e nomenclatura persistissem, até hoje, concomitantemente, com
seus adeptos segundo essa ou aquela escola de pensamento.

Para que pudesse haver um certo consenso na chamada “literatura científica”,


além de padronização em estatísticas de saúde (afetando desde os seguros de
vida e de saúde, até as decisões dos chefes das nações), as “doenças” foram
classificadas pela Organização Mundial de Saúde, fazendo a Classificação
Internacional de Doenças, atualmente em sua 10ª revisão (o chamado CID-10).
Já os Psiquiatras americanos, que desde 1869 iniciaram uma classificação
própria das patologias mentais (na época lançada pela American Medico-
Psychological Association, que mais tarde viria a se transformar na American
Psychiatric Association), publicaram separadamente um

Manual de Diagnostico e Estatística de Transtornos Mentais

Originou-se em 1952, cuja mais recente revisão, de 1994, é conhecida como o


DSM-IV.

Atualmente, portanto, são essas as duas classificações mais amplamente


utilizadas, uma vez que os Estados Unidos, e em menor grau alguns países
Europeus, “dominam” a produção científica atual. Ambas são muito
semelhantes, uma vez que as comissões que prepararam cada uma delas

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trabalharam em estreita proximidade, na tentativa de padronizar e reduzir as
diferenças significativas de redação entre os dois sistemas. No final desta
apostila, incluímos um tabela com a classificação dos transtornos mentais do
DSM-IV.

Uma das evoluções que se fizeram, nessa tentativa de definição e


padronização, foi o fato de não mais serem os problemas mentais classificados
como “loucura”, ou mesmo como “doença”, sendo preferida a palavra
“transtorno”, implicando em não haver necessariamente um distúrbio que
caracterize a pessoa afetada como “diferente” (o que sempre foi motivo de
preconceito e segregação), mas apenas como acometida de uma condição
que, por si, prejudica a si mesma ou às pessoas que com ela convivam. Ainda
assim, está implícito um certo grau de segregação, principalmente quando se
incluem os transtornos sexuais, que para alguns são verdadeiras aberrações (e
portanto devendo ser consideradas doenças, requerendo um tratamento para
serem eliminadas), enquanto para outros são apenas questão de opção
pessoal. O homossexualismo e o bissexualismo, que já foram (por muito
tempo) incluídos nessa categoria, hoje não são mais considerados nem mesmo
“transtornos”, sendo apenas “opção” ou “orientação”...

Outro grande problema gerado pela aceitação “radical” dos sistemas de


classificação e que à primeira vista pode não ser tão aparente, é a aceitação
implícita do modo “americano” de pensar e de agrupar os distúrbios, que
implica também em um agrupamento tanto por semelhança clinica como por
fisiopatologia, ou seja, pressupõe-se que os grupos de transtornos descritos se
originariam de causas semelhantes, devendo, portanto, serem tratados de
maneira semelhante. Em si, este é um raciocínio válido, porém nunca é demais
lembrar que existem enormes interesses econômicos norteando, direta ou
indiretamente, os lideres e as comissões encarregadas de formularem tais
classificações.

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Basta lembrar que uma única medicação, não por acaso um anti-depressivo, é
responsável por uma grande porcentagem do faturamento da indústria
farmacêutica, não só a americana, mas agora inclusive em quase todo o
mundo!

Também seria oportuno lembrar que a filosofia típica americana é baseada


num conceito materialista do Universo, sendo muito recente, e ainda pouco
difundida, a idéia do “Homem Integral”, composto de inseparáveis corpo-mente-
espirito, e a visão holística do Ser Humano, que deve, portanto, ser incorporada
a toda tentativa de abordagem diagnóstica ou, principalmente, terapêutica,
tanto mais quando se trata de transtornos da mente, essa porção tão pouco
compreendida de nosso Ser.

Para finalizar esta seção, fica um trecho de nosso escritor, Machado de Assis,
que com sua inteligência aguçada e sua crítica sagaz, nos premiou com o
excelente conto “O Alienista”, onde a personagem do ilustre Dr. Simão
Bacamarte, após ter internado em sua “casa de loucos” a maior parte da
cidade, decide rever seus conceitos sobre a loucura, da seguinte maneira:

“E agora prepare-se o leitor para o mesmo assombro em que ficou a vila ao


saber um dia que os loucos da Casa Verde iam todos ser postos na rua.

- Todos?

- Todos.

- É impossível; alguns sim, mas todos...

- Todos. Assim o disse ele no ofício que mandou hoje de manhã à Câmara.

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De fato o alienista oficiara à Câmara expondo: primeiro: que verificara das
estatísticas da vila e da Casa Verde que quatro quintos da população estavam
aposentados naquele estabelecimento; segundo: que esta deslocação de
população levara-o a examinar os fundamentos da sua teoria das moléstias
cerebrais, teoria que excluía da razão todos os casos em que o equilíbrio das
faculdades não fosse perfeito e absoluto; terceiro: que, desse exame e do fato
estatístico, resultara para ele a convicção de que a verdadeira doutrina não era
aquela, mas a oposta e, portanto, que se devia admitir como normal e exemplar
o desequilíbrio das faculdades e como hipóteses patológicas todos os casos
em que aquele equilíbrio fosse ininterrupto; quarto: que à vista disso declarava
à Câmara que ia dar liberdade aos reclusos da Casa Verde e agasalhar nela as
pessoas que se achassem nas condições agora expostas;...”

A Entrevista Psiquiátrica

A entrevista inicial, para o Psiquiatra, é fundamental para todo o processo de


tratamento do paciente. É aqui que se definem os objetivos, se estabelecem os
diagnósticos ou hipóteses diagnósticas, e se obtêm a maior parte dos recursos
para iniciar a terapêutica, seja ela “biológica” ou “psicoterápica”.

Dentro da entrevista, o item de maior importância na determinação do sucesso


diagnóstico e terapêutico é o estabelecimento de um rapport adequado. Quanto
menor for o rapport, mas difícil será a obtenção de dados fidedignos, o
estabelecimento de uma comunicação adequada, e a obtenção de uma adesão
adequada ao tratamento.

Durante a entrevista, deve-se, ainda, dentro dos limites específicos de cada


caso, procurar determinar a queixa principal do paciente, e a partir desta,
estabelecendo inicialmente um diagnóstico diferencial provisório, aprofundar-se
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em questões mais ou menos especificas, procurando caracterizar ou afastar
cada um dos diagnósticos possíveis. Muitas vezes, são obtidas respostas
vagas ou obscuras, e dependerá da habilidade do psiquiatra ser persistente, na
tentativa de esclarecer esses pontos, sem deixar que se quebre o rapport
obtido.

É importante, também, deixar que o paciente fale livremente, por algum tempo,
para que se possa observar o grau de conexão de seus pensamentos, usando
para isto uma mistura de questões abertas e fechadas. Assuntos
possivelmente difíceis ou constrangedores não devem deixar de ser
abordados, embora com bastante delicadeza, inclusive, e especialmente, a
questão dos pensamentos suicidas, e de possíveis tentativas prévias de
suicídio.

A entrevista incluirá indagações sobre o histórico pessoal e familiar do


paciente, devendo sempre serem detalhados dados a respeito de doenças
prévias ou subjacentes, tratamentos previamente utilizados, incluindo a
duração dos mesmos, os resultados obtidos, e possíveis efeitos colaterais. É
importante tentar estabelecer uma “linha do tempo”, mesmo que a ordem dos
dados não seja obtida de maneira seqüencial, e também o modo de instalação
dos sintomas.

Muitas vezes, será necessário obterem-se dados de familiares, os quais


poderão ser obtidos na presença do paciente ou não. Em algumas ocasiões,
pode ser necessário marcar-se uma entrevista em separado com um ou mais
dos familiares ou contatos sociais do paciente, porém sempre respeitando a
necessidade absoluta de sigilo, o que por vezes pode ser difícil, uma vez que
os familiares geralmente estão emocionalmente envolvidos, gerando ansiedade
e co-morbidade. É imperativo que se tenha sempre em mente que nunca

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devemos trair a confiança do paciente, sob pena de vermos o tratamento
absolutamente impossibilitado.

Situações específicas, como nos casos de pacientes deprimidos com potencial


suicida, dos pacientes delirantes, dos pacientes violentos, e também dos
pacientes catatônicos, exigem uma habilidade especial por parte do
examinador, que só com a prática vai se refinando, mas recomendações e
“dicas” a respeito podem ser encontradas em diversas fontes na literatura.

Ao final da entrevista, deve-se dar ao paciente (e, se for o caso, aos seus
acompanhantes) uma chance de fazer perguntas, respondendo-as de maneira
sucinta porém direta, já em busca do estabelecimento de um “contrato
terapêutico”. É de fundamental importância procurar transmitir um senso de
confiança e, se possível, de esperança, ao final da entrevista inicial, facilitando
a manutenção da rapport para os futuros encontros.

O Exame do Estado Mental

O exame psiquiátrico, diferentemente do exame físico de outras


especialidades, é realizado concomitantemente à obtenção dos dados de
história clínica, dependendo fundamentalmente da capacidade de observação
do psiquiatra. É possível introduzirem-se alguns testes “formais” específicos,
como testes de memória, atenção, capacidade para cálculo, orientação
têmporo-espacial, orientação visuo-espacial, leitura, escrita, entre outros.

Basicamente, a descrição do estado mental (que pode variar muito de uma


consulta a outra) envolve a descrição da aparência, do comportamento, da fala,
das ações e dos pensamentos do paciente.
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É de extrema importância o registro do humor e do afeto, bem como da
adequação das respostas emocionais do paciente. O humor pode ser definido
como uma emoção abrangente que colore a percepção que a pessoa tem do
mundo, sendo importantes a profundidade, a intensidade, a duração e também
as flutuações do humor. Já o afeto é a expressão externa da resposta
emocional, podendo ser observado também nas expressões faciais e atitude
corporal, incluindo-se a quantidade e amplitude do comportamento expressivo.
O afeto pode ser congruente ou incongruente com o humor, e tal congruência
deve ser anotada. Além disso, deve ser observada a adequação das respostas
emocionais do paciente ao contexto tanto da situação da consulta quanto ao
assunto que está sendo discutido.

O registro da fala deve incluir a quantidade, a velocidade de produção, e a


qualidade da produção verbal, anotando-se os possíveis distúrbios, como a
gagueira (tartamudez), o sotaque, os distúrbios do ritmo, e as afasias.

Devem-se observar possíveis distúrbios de percepção, como alucinações e


ilusões, notando-se não só o sistema sensorial afetado, mas também o seu
conteúdo. Também o pensamento deve ser analisado, tanto em seu processo,
ou forma, referindo-se ao modo como o paciente reúne suas idéias e as
associa, quanto em seu conteúdo, ou seja, suas idéias, crenças,
preocupações, etc.

É importante avaliar a capacidade para o pensamento abstrato, o nível de


inteligência (ou capacidade intelectual), o controle de impulsos, e por fim, a sua
capacidade de julgamento e insight sobre si mesmo e seus problemas.

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Ainda dentro do exame do estado mental, deve-se incluir a avaliação do
psiquiatra sobre a confiabilidade das informações prestadas pelo paciente.

Transtornos Cognitivos

Cognição, em medicina e em Psicologia, é definido como “o conjunto dos


processos mentais usados no pensamento, na percepção, na classificação,
reconhecimento, etc.”, ou seja, a capacidade de conhecer, de perceber o
mundo à nossa volta. Os distúrbios cognitivos, portanto, são aqueles em que
esses processos, essa capacidade, encontram-se diminuídos.

Os transtornos cognitivos são subdivididos em três síndromes principais, o


delirium, a demência e os transtornos amnésticos.

Delirium

O delirium é uma síndrome, não devendo ser confundido com o sintoma delírio.
Enquanto este é um sintoma, caracterizado por um distúrbio do julgamento da
realidade, que não se modifica em face a um raciocínio correto e lógico, aquele
é um conjunto de sinais e sintomas, comuns a várias afecções, e que se
caracteriza por uma comprometimento de início agudo da consciência,
geralmente acompanhado de comprometimento global das funções cognitivas,
e de curso breve e flutuante, podendo melhorar rapidamente, se a causa for
identificada e eliminada.

Comumente encontram-se associados alterações do humor, da percepção, e


do comportamento, muitas vezes com agitação psicomotora e reações

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violentas, outras com diminuição global da atividade psicomotora. Também
podem ser encontrados tremores, nistagmo, asterixis, incoordenação motora,
incontinência urinária, e disartria.

Suas causas são variadas, estando entre as principais as doenças do SNS


(epilepsia, traumatismo craniano, encefalites, doenças vasculares cerebrais),
doenças sistêmicas (insuficiência cardíaca, insuficiência renal aguda,
insuficiência hepática), e intoxicação ou abstinência de agentes farmacológicos
ou tóxicos. A abstinência do álcool é talvez a causa mais conhecida pela
população em geral de delirium, sendo classicamente denominada delirium
tremens.

Demência

A demência, em contraste com o delirium, é uma síndrome caracterizada por


múltiplos comprometimentos nas funções cognitivas, mas sem
comprometimento da consciência. Podem ser afetadas na demência a
inteligência geral, a aprendizagem, a memória, a linguagem, a orientação, a
percepção, a atenção e concentração, o julgamento, e as habilidades sociais,
além da solução de problemas, e até a própria personalidade. Isto acarreta um
comprometimento significativo no funcionamento social ou ocupacional,
geralmente causando situações de desconforto importante, em geral mais aos
familiares do que ao próprio paciente.

Sendo uma síndrome, também pode ter diversas causas, e o seu curso
depende dessa etiologia, podendo ser progressivo ou estático, permanente ou
reversível, mas quase sempre de início insidioso. Estima-se que
aproximadamente 15% dos indivíduos com demência tenham causas
reversíveis, caso o tratamento seja instituído a tempo, antes da ocorrência de

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um dano irreversível, o que acentua a necessidade de encaminhamento e
investigação etiológica tão logo quanto possível.

A maioria dos casos de demência é devida a doença de Alzheimer (50 a 60%


dos casos), e uma boa porcentagem dos casos restantes (10 a 20% do total) é
devida a distúrbios vasculares (demência por múltiplos infartos, doença de
Binswanger), podendo ainda ser causada por outros processos
neurodegenerativos (como as doenças de Parkinson e de Pick), traumatismo
craniano, tumores cerebrais, distúrbios metabólicos, doenças inflamatórias
sistêmicas, e até infecções, inclusive a AIDS, entre outras.

Na maior parte dos casos, o comprometimento da memória é importante,


aparecendo precocemente no desenvolvimento da doença, e tipicamente
acometendo em primeiro lugar a memória recente, para só nos estágios mais
avançados prejudicar a memória remota.

Transtornos Amnésticos

Os transtornos amnésticos são caracterizados pelo único sintoma de transtorno


de memória, causando um comprometimento significativo no funcionamento
social ou ocupacional. Diferentemente da demência não existem quaisquer
outros sinais ou sintoma de comprometimento cognitivo além da memória, e
nem a atenção nem a consciência encontram-se prejudicadas, como no
delirium.

A amnésia pode ser anterógrada (comprometimento da capacidade de


aprender e reter novas informações), ou retrógrada (distúrbio da capacidade
para recordar um conhecimento anteriormente aprendido).

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As principais causas de transtornos amnésticos são condições médicas
sistêmicas, como a deficiência de tiamina, a vitamina B1 (denominada
Síndrome de Korsakoff), a hipoglicemia e a hipóxia, condições primariamente
cerebrais, como convulsões, tumores e infecções (por exemplo a encefalite
herpética), e substâncias químicas, sejam medicamentos, sejam drogas ou
substâncias de abuso, incluindo o álcool.

Esquizofrenia

A Esquizofrenia é a “psicose por excelência”, desafiando neurologistas e


psiquiatras através da história da Medicina, e cuja fisiopatologia ainda está
longe de ser compreendida. Diferentemente das neuroses, onde processos
psicológicos muitas vezes podem ser desvendados, como processos
causadores dos sintomas, e dos distúrbios do humor, que têm em si uma
“lógica intrínseca”, e que apresentam episódios de remissão completa e
funcionamento normal entre os “surtos”, os pacientes esquizofrênicos fogem às
tentativas de compreensão, e mesmo nos períodos de “remissão”, apresentam
pensamento muitas vezes incongruente e desafiador.

O paciente “típico” com esquizofrenia poderia ser aquilo que está no imaginário
popular como o “louco varrido”, com delírios e alucinações em profusão, e
objeto de tantas piadas e preconceitos. Talvez isto denote o muito comum
medo do desconhecido, e a incapacidade das pessoas para lidar com aquilo
que é muito diferente de si. De fato, é uma das opiniões difundidas entre os
médicos o fato de ser necessário, de certo modo, “entrar no mundo do
esquizofrênico”, para poder abordá-lo de modo terapêutico.

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A etiologia da esquizofrenia está ainda longe de ser definida, e dados de
pesquisas são absolutamente desnorteantes, como por exemplo o fato de as
pessoas que futuramente apresentam esquizofrenia têm uma maior
probabilidade de terem nascido no inverno e início da primavera, e menor
probabilidade de terem nascido no final da primavera e no verão. Assim no
hemisfério Sul, os esquizofrênicos nascem mais nos meses de Julho a
Setembro, enquanto que no hemisfério Norte, de Janeiro a Abril. Também a
distribuição geográfica da esquizofrenia é incompreensível, com algumas
regiões apresentando uma prevalência desproporcionalmente alta da doença.
Além disso, os estudos com gêmeos monozigóticos apresentam uma taxa de
concordância de 50%, o que significa que existe uma interação entre fatores
biológicos genéticos e ambientais, além de fatores psicológicos não
compreendidos, embora o achado de que gêmeos monozigóticos criados por
pais adotivos têm esquizofrenia na mesma razão que seus irmãos gêmeos
criados pelos pais biológicos sugira que a influência genética supera a
influência ambiental (psicológica ou biológica). Apesar de tantas incertezas, o
estudo dessa patologia é extremamente intrigante e apaixonante, qualquer que
seja a óptica pela qual se aborda a questão!

Os sintomas que caracterizam a esquizofrenia em todos os seus subtipos são


os delírios, as alucinações, o discurso desorganizado, o comportamento
amplamente desorganizado ou catatônico, e sintomas negativos, ou seja,
embotamento afetivo, mutismo ou avolição. Bastam dois destes sintomas (ou
mesmo apenas um, quando são delírios bizarros, ou as alucinações consistam
de vozes que comentam o comportamento ou os pensamentos da pessoa, ou
duas ou mais vozes conversando entre si), presentes por uma porção
significativa de tempo durante o período de um mês (ou menos, se tratados
com sucesso), para caracterizar a esquizofrenia, desde que os sintomas levem
a uma disfunção social ou ocupacional, e que persistam sinais contínuos da
perturbação (incluindo sintomas prodrômicos ou residuais) por pelo menos 6

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meses. Devem ser excluídos, para o diagnostico, os transtornos do humor, a
existência de uma condição médica geral ou uso de substâncias que possam
levar aos sintomas.

Caracteristicamente, os períodos de “remissão” são incompletos, apresentando


muito freqüentemente sintomas negativos, principalmente o embotamento
afetivo, ou até os mesmo sintomas descritos, embora de forma atenuada,
sendo este estado conhecido muitas vezes como “defeito” esquizofrênico.

Além das características gerais, descritas acima, dividimos a esquizofrenia em


alguns “subtipos”, o Paranóide, o Desorganizado (ou Hebefrênico), e o
Catatônico, havendo também a caracterização dos tipos Indiferenciado e
Residual.

Esquizofrenia Tipo Paranóide

Na esquizofrenia paranóide existe uma preocupação significativa com um ou


mais delírios ou alucinações auditivas freqüentes, e não se encontram
proeminentes nem o discurso nem o pensamento desorganizados, nem
tampouco o comportamento catatônico ou o afeto embotado ou inadequado.
Em geral os delírios são de perseguição ou de grandeza, sendo os pacientes
tipicamente tensos, desconfiados, e freqüentemente hostis e agressivos, mas
às vezes podem se comportar bastante bem, socialmente, tendo a inteligência
intacta nas áreas não invadidas pelos delírios.

Esquizofrenia Tipo Desorganizado, ou Hebefrênico

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Na esquizofrenia hebefrênica, ou desorganizada, são proeminentes o discurso
desorganizado, o comportamento desorganizado, e o afeto embotado ou
inadequado, sem no entanto serem satisfeitos os critérios para o tipo catatônico
(vide a seguir). Os pacientes são geralmente ativos, porém de uma maneira
desprovida de propósito, com o pensamento extremamente desagregado, e um
contato pobre com a realidade. Geralmente há um grande prejuízo na
aparência e no comportamento social, e as respostas emocionais são
inadequadas, sendo comum o paciente gargalhar sem qualquer razão
aparente.

Esquizofrenia Tipo Catatônico

A forma catatônica da esquizofrenia caracteriza-se principalmente pelas


alterações na atividade psicomotora, com imobilidade motora (com estupor ou
flexibilidade cérea), atividade motora excessiva, aparentemente desprovida de
propósito, e não influenciada por estímulos externos, às vezes com uma rápida
alternância entre os extremos de estupor e excitação. São comuns extremos
negativismo, caracterizado por uma resistência aparentemente despropositada
a toda e qualquer instrução, ou manutenção de uma postura rígida contra
tentativas de imobilização, mutismo, peculiaridades do movimento voluntários,
evidenciadas por posturas inadequadas ou bizarras, movimentos
estereotipados, maneirismo proeminentes, trejeitos faciais proeminentes,
ecolalia (repetição de palavras ou sons) e ecopraxia (imitação de gestos e
atitudes). Muitas vezes acabam ferindo a si mesmo ou a outrem, durante o
estupor ou a excitação, e às vezes chegam à desnutrição ou à exaustão, o que
pode exigir cuidados clínicos.

Esquizofrenia Tipo Indiferenciado

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Quando não se pode caracterizar nenhum dos tipos acima, o paciente
esquizofrênico é classificado como sendo de tipo indiferenciado. Em geral
observa-se características mistas, com delírios de temas diferentes, agitação e
pensamento desorganizado, porém sem critérios completos para caracterizar
um dos subtipos.

Esquizofrenia Tipo Residual

Se o paciente não apresenta delírios ou alucinações proeminentes, nem


discurso desorganizado ou comportamento amplamente desorganizado, nem
comportamento catatônico, mas existem evidências contínuas de perturbação
caracterizada por sintomas negativos, ou os sintomas acima de forma
atenuada, como crenças estranhas ou experiências perceptuais incomuns,
caracteriza-se a esquizofrenia como sendo do tipo residual. São evidentes o
embotamento emocional, o retraimento social, o comportamento excêntrico,
além de pensamento ilógico e afrouxamento das associações. Se existem
delírios ou alucinações, elas não são proeminentes, nem acompanhadas por
forte afeto.

Transtorno Esquizofreniforme

O transtorno esquizofreniforme é idêntico à esquizofrenia, exceto pela duração


de seus sintomas, que é de pelos menos um mês, porém menos de seis
meses, com retorno à normalidade após a resolução do quadro. A grande
diferença se faz em relação ao prognostico, uma vez que o transtorno
esquizofreniforme pode ter um bom prognóstico, que é evidenciado por alguns
aspectos “preditivos”, principalmente o aparecimento de confusão ou
perplexidade, no auge do episódio psicótico! Também a ausência de
embotamento afetivo, o bom funcionamento social e ocupacional antes da
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doença, e a rápida instalação dos sintomas psicóticos proeminentes (ou seja,
um período prodrômico curto, menor que 4 semanas), são indicadores de
provável bom prognóstico. Outro aspecto é que, quanto mais breve for a
doença, melhor tende a ser o prognóstico.

Os pacientes com transtorno esquizofreniforme têm uma tendência significativa


de entrar em um período de depressão após o período psicótico, melhorando
se acompanhados psicoterapicamente.

Transtorno Esquizoafetivo

O transtorno esquizoafetivo tem características tanto da esquizofrenia quanto


dos transtornos do humor (vide abaixo), incluindo todos os sinais e sintomas da
esquizofrenia, acompanhados de episódios de mania e transtornos
depressivos, podendo os sintomas da esquizofrenia serem concomitantes ou
alternados com os transtornos de humor. A evolução tanto pode ser na forma
de exacerbações e remissões, como nos transtornos de humor, como um curso
deteriorante a longo prazo.

Transtorno Delirante

O transtorno delirante é um transtorno psiquiátrico onde os sintomas


proeminentes são os delírios. Foi chamado, anteriormente, de “paranóia”, ou
“transtorno paranóide”, porém os delírios não são necessariamente sempre de
natureza persecutória, tornando tais termos inadequados. Os delírios no
transtorno delirante podem ser de grandeza, eróticos, de ciúmes, somáticos ou
mistos, além de persecutórios.

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A diferenciação com a esquizofrenia se faz pela ausência de outros sintomas
vistos nesta última, como alucinações proeminentes, embotamento afetivo,
transtornos do pensamento, catatonia, além da natureza de seus delírios não
ser tão bizarra quanto nos esquizofrênicos. Em geral, são coisas até plausíveis,
ainda que improváveis. Também o comprometimento funcional é mais leve,
quando comparado à esquizofrenia.

Já a diferenciação com os transtornos do humor se faz pelo fato de que os


pacientes com transtorno delirante não apresentam toda a gama de sintomas
afetivos vistos nos transtornos do humor, embora tenham um humor
consistente com o conteúdo de seus delírios.

Os delírios podem ser de vários tipos, classificados em erotomaníacos (uma


outra pessoa, geralmente de posição mais elevada, estaria apaixonada pelo
indivíduo), grandiosos (delírios de valor, poder, conhecimento, identidade ou de
relação especial com uma pessoa famosa ou divindade), ciumento (delírios de
que o parceiro sexual é infiel), persecutório (o indivíduo ou alguém próximo a
ele está sendo, de algum modo, maldosamente tratado), somático (algum
defeito físico ou condição médica geral específica), ou misto (mais de um dos
tipos acima, sem predomínio de um deles).

Transtorno Psicótico Breve

Transtornos psicóticos breves são episódios de curta duração (de um dia até
um mês), em que pelo menos um sintoma importante de psicose aparecem, em
geral com início súbito. Nem sempre incluem todo o padrão sintomático
apresentado na esquizofrenia, sendo também mais comuns os sintomas

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afetivos, confusão, e comprometimento da atenção, do que na esquizofrenia.
Sempre deve ser afastada uma causa médica geral, ou o uso de alguma
substância, seja medicamentosa ou de abuso.

Os transtornos psicóticos breves podem ser desencadeados ou não por fatores


estressantes acentuados (como numa situação de guerra, por exemplo), ou por
uma série de fatores estressantes menos importantes, que em conjunto se
tornassem demasiadamente intensos. São incluídos aqui os episódios iniciados
dentro das primeiras 4 semanas do puerpério, que caracteriza uma síndrome
específica, de psicose puerperal (que é mais específica, incluindo delírios,
depressão, e pensamentos da mãe sobre ferir o bebê ou a si mesmo, com risco
considerável de se cometerem o infanticídio ou o suicídio).

Outros Transtornos Psicóticos

Outros transtornos psicóticos incluem os transtornos devidos a condições


médicas gerais (muito comumente distúrbios neurológicos e distúrbios
metabólicos), e os transtornos psicóticos induzidos por substâncias (seja por
intoxicação, seja por abstinência).

Também existem transtornos raros, atípicos, como o transtorno psicótico


compartilhado (aparecendo em uma pessoas que tem um relacionamento de
longo prazo com outra pessoas com síndrome psicótica similar), a psicose
autoscópica (alucinações nas quais um “fantasma” do próprio corpo da
pessoas é visto, como em um espelho), a síndrome de Capgras (delírio de que
todas as pessoas relacionadas ao paciente foram substituídas por cópias
exatas, impostores, que se comportam de maneira idêntica), e síndromes
especificas ligadas a certas culturas, como o koro (delírio de que o pênis do
paciente está encolhendo, e desaparecerá em seu abdômen, causando a
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morte), em populações do sudeste asiático e algumas áreas da China, e o
wihtigo (delírio de ter sido transformado em um monstro gigante, que se
alimenta de carne humana, o wihtigo, ou windigo), em índios Cree, Okibway e
Salteaux, na América do Norte, entre outras.

Transtornos de Humor

O humor, estado emocional interno de uma pessoa, varia normalmente em


uma pessoa, segundo suas experiências de vida, seus sucessos e fracassos
em seus projetos, seus relacionamentos, suas ambições. Dessa maneira, o
humor pode estar elevado, deprimido, ou neutro, em uma ampla faixa da
variação, e as pessoas apresentam um repertório igualmente variado de
expressões afetivas. Geralmente, as pessoas estão mais ou menos no controle
de seus humores e afetos, levadas em consideração, evidentemente, as
alterações surpreendentes da própria existência (como a perda súbita de um
ente querido, ou ganhar um grande prêmio em um sorteio, por exemplo).

Os transtornos do humor constituem um grupo de condições clínicas


caracterizadas pela perda deste senso de controle, e uma experiência subjetiva
de grande sofrimento, geralmente sendo relatada uma qualidade inefável,
porém distinta, do estado patológico pelos pacientes. É importante frisar-se
uma certa dissociação entre o humor do paciente e seu estado psicossocial
“real”, embora nos casos de depressão maior, muitas vezes, a funcionalidade
social e pessoal acabem por ser comprometidas, levando a uma congruência
do humor e do seu estado “real”.

Os transtornos do humor são divididos em transtornos depressivos e


transtornos bipolares, sendo os pacientes com episódios unicamente de mania
(humor elevado, patologicamente) classificados como tendo transtorno bipolar
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I, sendo raros os casos em que não se manifestem também episódios
depressivos, no curso da doença destes pacientes.

Infelizmente, com a opressão sócio-econômica cada vez maior, imposta pelos


modelos e padrões ocidentais de vida, voltada principalmente para a
valorização da posição econômica e social, em detrimento dos valores morais,
interpessoais, e religiosos, observar-se uma tendência indiscutível dos
indivíduos permanecerem a maior parte do tempo nas faixas deprimidas do
continuum do humor, facilitando a tendência, também influenciada pelos
interesses econômicos, de se diagnosticarem e tratarem em excesso os
transtornos do humor, em especial a depressão leve e a distimia. Outro fator
que contribui para esse excesso diagnóstico e terapêutico são as consultas
cada vez mais breves, ditadas pelas pressões dos sistemas de saúde pública e
privada (planos de saúde), e pela má formação dos médicos, em geral, quanto
à visão holística do Ser Humano.

Transtornos Depressivos

Os transtornos depressivos são caracterizados basicamente pelo humor


deprimido, onde a perda de interesse ou prazer acompanham a sensação de
tristeza, a desesperança, a sensação de inutilidade. O suicídio é uma
preocupação constante quando se trata de pacientes deprimidos, uma vez que
cerca de dois terços deles pensa em se matar, e de 10 a 15% efetivamente
cometem o suicídio.

Praticamente todos os pacientes deprimidos queixam-se de uma diminuição de


energia, com dificuldade para terminar tarefas, comprometimento do
desempenho na escola ou no trabalho, e motivação diminuída para assumir
novos projetos e tarefas.
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A insônia também é freqüente, especialmente e caracteristicamente
despertando de madrugada, com múltiplos despertares durante a noite, quando
geralmente ficam pensando sobre seus problemas.

A maioria dos pacientes tem perda de apetite, com correspondente perda de


peso, porém alguns tem a reação contrária. Também o aumento de sono,
principalmente a sonolência diurna, pode ser relatado. Quase sempre os
pacientes deprimidos tem, concomitantemente, queixa de ansiedade, e é
comum encontrarem-se já em uso de medicamentos ansiolíticos.

Basicamente, existem duas entidades clínicas relacionadas apenas à


depressão, o transtorno depressivo maior, e o transtorno distímico, estando a
depressão presente também nos distúrbios bipolares.

Várias condições médicas não-psiquiátricas podem levar a episódios de


depressão, como também algumas substancias químicas, com uma lista
bastante extensa de condições e substâncias potencialmente envolvidas, que
devem ser afastadas antes de se diagnosticar um transtorno depressivo.

Transtorno Depressivo Maior

Para se diagnosticar o transtorno depressivo maior, é necessário que haja pelo


menos um episódio depressivo maior, que necessita de um período mínimo de
duas semanas de duração, para ser caracterizado, havendo pelo menos 5 dos
sintomas descritos, concomitantemente, havendo pelo menos o humor
deprimido ou a perda de prazer ou interesse. Com esses critérios mais

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“rígidos”, espera-se padronizar um pouco melhor o diagnóstico da depressão,
embora em nosso meio nem sempre os critérios sejam utilizados corretamente.

Os episódios depressivos maiores podem ainda ser classificados segundo sua


gravidade, desde o episodio leve, passando pelo moderado, até os severos,
com ou sem aspectos psicóticos, que por sua vez podem ser congruente com o
humor ou não. Os transtornos depressivos maiores também são divididos em
episódios únicos, os recorrentes, quando há na história pelo menos dois
episódios depressivos maiores, com pelo menos 2 meses de intervalo, durante
os quais não são satisfeitos os critérios para episódio depressivo maior.

O luto, ou seja, a situação de perda de um ente querido, também pode levar


uma pessoa a reunir os critérios diagnósticos para um episódio depressivo
maior, porém não deve ser considerado como tal, a menos que uma resolução
do quadro não ocorra, ou que os sintomas se tornem especialmente severos,
com ideação suicida, sentimento de culpa (não apenas por omissão),
mumificação, ou seja, manter os pertences do falecido exatamente como
estavam antes do óbito, ou uma reação de aniversário particularmente severa,
ocasionalmente incluindo uma tentativa do suicídio.

O curso dos transtornos depressivos maiores é de início agudo, embora


sintomas depressivos significativos possam ser vistos em cerca de metade dos
pacientes, mas sem um transtorno de personalidade definido pré-mórbido, e
em geral o primeiro episódio depressivo maior ocorre antes dos 40 anos de
idade. Um episódio depressivo maior não tratado dura aproximadamente de 6 a
13 meses, sendo que a duração dos episódios tratados é em média de 3
meses, sendo este o tempo mínimo para o tratamento com antidepressivos,
uma vez que sua suspensão precoce quase sempre resulta no retorno dos
sintomas. Com a progressão do transtorno, a tendência dos episódios é de
ficarem mais freqüentes, e de maior duração, com uma média de 5 ou 6
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episódios ao longo de 20 anos. De 5 a 10% dos pacientes com um diagnostico
inicial acabam por ter episódios maníacos, num período de 6 a 10 anos do
primeiro episódio depressivo, após uma média de 2 a 4 episódios depressivos
maiores.

O prognóstico do transtorno depressivo maior não é tão benigno como


acreditam alguns, comparando com a esquizofrenia. Se é verdade que a
maioria dos pacientes recupera-se completamente após um primeiro episódio,
a taxa de recorrência dos episódios é extremamente alta, chegando a 75% nos
5 primeiros anos. Isso faz deste um transtorno crônico, com recaídas, e com
tendência ao intervalo entre as recaídas de diminuir, e a gravidade de cada
episódio de aumentar, o que pode ser melhorado com o tratamento
psicofarmacológico profilático.

Transtorno Distímico

O transtorno distímico se diferencia do transtorno depressivo maior


principalmente pelo fato de que os sintomas são crônicos, e não-episódios.
Caracteriza-se por um humor deprimido (ou irritável, no caso de crianças e
adolescente) durante a maior parte do dia, na maioria dos dias, cronicamente.

O termo “distimia” significa, literalmente, mal-humor, mas foi alterado na última


revisão do DSM para “transtorno distímico” (provavelmente pra uniformizar a
nomenclatura). Antes de 1980, várias denominações haviam sido dadas para a
mesma situação clínica, como “neurose depressiva”, “personalidade
ciclotímica”, “personalidade melancólica”, “depressão caracterológica”, etc.

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Os sintomas clínicos são similares aos do transtorno depressivo maior, porém
sua presença é constante, e em geral de menor severidade, podendo variar em
gravidade ao longo do tempo. Apesar desta severidade menos intensa, o que
pesa realmente para o diagnostico diferencial é a falta de episódios
delimitados. Por definição, também, os pacientes distímicos não têm quaisquer
sintomas psicóticos. Deve-se estar atento, no entanto, para sintomas comuns
no transtorno distímico, como a preocupação obsessiva com questões
relacionadas à saúde, e queixas freqüentes de tratamento injusto por parentes,
e pessoas de convívio próximo, que podem ser erroneamente interpretadas
como delírios persecutórios ou somáticos, sendo mesmo difícil, por vezes, a
diferenciação.

São comuns o divórcio, o desemprego, e os problemas sociais, em


decorrências do transtorno distímico, além de dificuldades de concentração,
levando a baixo desempenho escolar ou profissional, e as queixas físicas e sua
investigação (às vezes prolongada) podem fazer com que o paciente perca
muitos dias de trabalho, e até compromissos sociais.

A estimativa entre os pacientes com transtorno depressivo maior é de que 40%


satisfaçam também os critérios para transtorno distímico, uma situação
conhecida como depressão dupla. Estes pacientes têm prognóstico pior do que
aqueles com transtorno depressivo maior “puro”, devendo ser tratados com
direção para ambos os transtornos. O abuso de álcool e outras substâncias,
como estimulantes, maconha, etc., também é extremamente freqüente em co-
morbidade com os transtornos distímicos, muitas vezes sendo difícil determinar
se o transtorno distímico levou ao abuso da substancia, ou foi um efeito do
mesmo.

O tratamento dos pacientes com transtorno distímico, classicamente, sempre


foi apenas com psicoterapias, das mais diversas modalidades, sendo muito
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freqüente a indicação do tratamento psicanalítico, porém os resultados das
terapias de longo prazo, como a psicanálise, deixam muito a desejar, sendo
muito mais eficazes as terapias breves, sendo nos EUA dado ênfase às
terapias comportamentais e cognitivas, bem de acordo com a sua maneira de
ver o mundo, voltada para objetivos imediatos e de “funcionalidade”. Talvez por
isso, também, têm-se dado ênfase à terapêuticas farmacológica, que
obviamente melhora os sintomas apresentados, bem como o desempenho
profissional e social, porém não pode ser suspensa, trazendo, de certo modo,
uma nova dependência farmacológica, muitas vezes rejeitada em nosso meio.
Talvez a melhor abordagem seria uma terapêutica combinada, com os
antidepressivos sendo indicados numa fase inicial, concomitantemente com a
psicoterapia, até que esta possa trazer resultados suficientes para que o
paciente possa prescindir dos medicamentos.

Transtornos Bipolares

O que caracteriza os transtornos bipolares, diferenciando-os dos transtornos


depressivos, são os episódios de humor anormalmente elevado, chamados de
episódios maníacos, ou de mania. Estes são caracterizados por humor
expansivo anormal, e persistentemente elevado, ou irritável, com auto-estima
inflada, ou sentimentos de grandiosidade, necessidade diminuída de sono,
“fuga de idéias”, com fala acelerada, estando o paciente mais falante que o
normal, ou relatando certa “pressão” para continuar falando, ou com a
experiência subjetiva de que os pensamentos estão “correndo”, distração,
aumento na atividade dirigida a um ou outro objetivos, agitação psicomotora, e
engajamento excessivo com atividades agradáveis com alto potencial para
conseqüências dolorosas.

Se os sintomas são suficientemente graves para causar comprometimento


acentuado no funcionamento social ou ocupacional, ou nos relacionamentos
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costumeiros com os outros, ou para exigir hospitalização, como um meio de
evitar danos a si mesmo e a outros, ou ainda se existem aspectos psicóticos, o
episódio é caracterizado como maníaco. Do contrario, o episódio é chamado de
hipomaníaco, mas para caracterizar a hipomania, é necessário que haja uma
mudança inequívoca no funcionamento, que não é característica da pessoa,
quando assintomática, e também que as perturbações no humor e a mudança
no funcionamento sejam observáveis por outros.

Para caracterizar episódios maníacos ou hipomaníacos, é ainda fundamental


que se afaste a possibilidade de serem decorrentes do uso, abuso ou
abstinência de substâncias, incluindo os tratamentos antidepressivos, e
também outras terapias somáticas antidepressivas, como a
eletroconvulsoterapia (ECT), terapia com luzes, etc. Também a existência de
uma condição médica geral, como o hipertireoidismo, impede o diagnóstico de
episódios maníacos ou hipomaníacos, devendo ser abordadas como episódios
devidos à condição em questão.

Os transtornos bipolares se dividem em transtorno bipolar I, transtorno bipolar


II, transtorno ciclotímico.

Transtorno Bipolar I

Antigamente chamado apenas de transtorno bipolar, o transtorno bipolar I é


caracterizado pela presença de um conjunto completo de sintomas de mania
durante o curso do transtorno. Pode haver um episódio maníaco único ou
recorrente, sendo possível um ou mais episódios depressivos entre os
episódios recorrentes de mania. Para caracterizar o transtorno bipolar I,
episódio maníaco único, é necessária a ausência de qualquer episódio
depressivo maior no passado. Caso seja o primeiro episódio maníaco, mas

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com episódio(s) depressivo(s) no passado, já se pode caracterizar o transtorno
bipolar I com episódios recorrentes.

Existem também os episódios mistos, em que tanto os critérios para um


episódio depressivo maior quanto os critérios para um episódio maníaco se
encontram presentes ao mesmo tempo.

No curso do transtorno bipolar I podem haver também episódios hipomaníacos,


porém é necessário, para o seu diagnóstico, pelo menos um episódio maníaco
ou misto.

Um paciente em episódio maníaco é geralmente expansivo, e freqüentemente


contagia as pessoas com quem se relaciona, podendo às vezes ser difícil o
diagnóstico, por uma relação contra-transferencial. Muitas vezes elabora
histórias complexas, de difícil verificação quanto à sua veracidade, dando a
impressão, à primeira vista, de seus relatos. Geralmente as pessoas não
envolvidas com o paciente não reconhecem o humor inusitado do paciente,
mas os familiares e pessoas de convívio próximo percebem nitidamente a sua
mudança. Muitas vezes, por verem frustrados seus “planos mirabolantes”, os
pacientes passam gradualmente de um estado de euforia para outro de
irritabilidade, e podem tornar-se agressivos.

No hospital, tendem a testar insistentemente os limites das regras, transferir


responsabilidades por seus atos para outrem, promover a discórdia entre as
equipes de tratamento, por vezes seduzindo, por vezes agredindo o pessoal
direta ou indiretamente envolvido em seus cuidados. Fora do hospital, têm
tendência a abusar de álcool, e às vezes de outras drogas, engajar-se em jogo
patológico, chamar muito a atenção sobre si, com roupas de cores berrantes,
maneiras espalhafatosas, e tom de voz elevado. Têm geralmente senso de

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convicção e propósito elevados, preocupando-se freqüentemente com idéia
religiosas, políticas, financeiras, etc., muitas vezes evoluindo para sistemas
delirantes complexos, tão mais difíceis de se diferenciar de sistemas filosóficos
“normais” quanto maior for a bagagem cultural prévia do indivíduo.

O curso do transtorno bipolar I é quase sempre um de recorrências, sendo raro


que permaneçam com episódios maníacos únicos. Apenas 7% dos pacientes
não tem uma recorrência dos sintomas, e a grande maioria, na verdade, inicia
pela depressão (75% das vezes nas mulheres, e 67% nos homens). A grande
maioria tem tanto episódios maníacos quanto depressivos, porém de 10 a 20%
permanecem tendo apenas episódios maníacos. Os episódio maníacos, sem
tratamento, duram por volta de três meses, não devendo a terapêutica ser
interrompida antes de decorrido este período. O tempo entre os episódios
costuma diminuir com a progressão do transtorno, mas costuma estabilizar-se
após 5 ou 6 episódios, em cerca de 6 a 9 meses de intervalo. Alguns pacientes,
entretanto, têm episódios com ciclagem rápida, trazendo maior angústia a seus
familiares, amigos e colegas.

O prognóstico é pior do que o do transtorno depressivo maior, com apenas 50


a 60% dos pacientes adquirindo um controle significativo de seus sintomas com
a terapia profilática das recorrências com medicação, e com uma alta
freqüência de sintomas crônicos, com delírio social significativo em cerca de
um terço dos pacientes. Apenas 15% dos pacientes com transtorno bipolar I
permanecem bem, a longo prazo, a despeito do tratamento medicamentoso e
psicoterápico.

Transtorno Bipolar II

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O transtorno bipolar II é caracterizado por episódios depressivos maiores,
associados a episódios de hipomania, sem episódios de mania, nem episódios
mistos. Na verdade, pode ser difícil distinguir episódios de hipomania de uma
certa euforia natural, nos pacientes que se recuperam de um episódio
depressivo maior. Também os episódios de hipomania podem ser
desencadeados pelo uso de antidepressivos, caso em que não se pode fazer o
diagnóstico de transtorno bipolar II.

Esta categoria diagnóstica só foi introduzida na 4ª revisão do DSM, portanto é


uma categoria “nova”, sobre a qual não dispomos, ainda de estudos
suficientes. Aparentemente, trata-se de um diagnóstico estável, permanecendo
os pacientes com o mesmo diagnóstico numa revisão após 5 anos do primeiro
diagnóstico. Parece ser uma doença crônica, exigindo tratamento a longo
prazo, sendo ainda incerto se o tratamento indicado para o transtorno bipolar I
tem a mesma eficácia no transtorno bipolar II, mas sendo certo que o
tratamento isolado com antidepressivos deve ser visto no mínimo com cautela,
pela alta freqüência de precipitação de um episódio maníaco.

Transtorno Ciclotímico

Em termos sintomáticos, o transtorno ciclotímico é uma forma leve do


transtorno bipolar I, caracterizando-se por episódios de hipomania e de
depressão leve, jamais satisfazendo os critérios para episódios depressivos
maiores, nem para episódio maníacos, com presença mais ou menos
constante dos sintomas por dois anos (ou um ano, no caso de crianças e
adolescentes).

Os sintomas são idênticos aos do transtorno bipolar I, exceto por serem menos
severos, ou de menor duração. Os pacientes que têm os sintomas depressivos

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como proeminentes tendem a procurar auxílio psiquiátrico com muito maior
freqüência do que aqueles em que são mais evidentes os sintomas
hipomaníacos. Quase todos os pacientes têm também períodos de sintomas
mistos, com irritabilidade acentuada.

As pessoas com transtorno ciclotímico têm uma tendência ao insucesso


profissional e social, devido à sua condição, mas alguns pacientes podem
chegar a resultados consideráveis no trabalho, por haverem trabalhado muitas
horas por dia, em decorrência da falta de necessidade de sono.

Os ciclos do transtorno tendem a ser muito mais curtos que os do transtorno


bipolar I, com alterações irregulares e súbitas de humor, às vezes ocorrendo
em questão de horas. Freqüentemente os pacientes sentem que seu humor
está fora de controle, levando a stress e irritabilidade. O abuso de álcool e de
outras substâncias é comum, com cerca de 5 a 10% dos pacientes
apresentando dependência de uma ou mais substâncias.

O início dos sintomas é geralmente insidioso, na adolescência e início da idade


adulta, por vezes comprometendo o desempenho escolar, e sua capacidade de
socialização. O prognóstico é variável, com cerca de um terço dos pacientes
evoluindo para um transtorno de humor maior, mais comumente o transtorno
bipolar II. Os demais tendem a ter um curso crônico, necessitando de
tratamento medicamentoso e psicoterápico de longo prazo, muitas vezes por
toda a vida.

Transtornos de Ansiedade

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A ansiedade é uma resposta bio-psicológica normal, comum não apenas a
todos os seres humanos, como também à maior parte da escala biológica
animal, e tem a função biológica de promover um estado de alerta mais
aguçado, levando o indivíduo a se preparar antecipadamente para enfrentar
uma possível ameaça à sua integridade física. Um sinal similar de alerta é o
medo, distinguindo-se da ansiedade pelo fato de ser especificamente
direcionando, a uma ameaça conhecida, externa, definida, enquanto a
ansiedade é dirigida a ameaças desconhecidas, vagas, internas, ou de origem
conflituosa.

Toda pessoa que já viu em um ambiente obscuro, com probabilidade de


ocorrência de eventos surpreendentes, sabe como são as sensações da
ansiedade, marcadas pela ação do Sistema Nervoso Autônomo Simpático, com
transpiração, taquicardia, desconforto abdominal, inquietação, midríase
(dilatação das pupilas), etc. Tal reação tem a intenção de preparar o indivíduo
para fugir ou lutar, e em tempos remotos deve ter servido para a preservação
da nossa espécie (e de outras), na constante luta pela sobrevivência.

No entanto, em dias atuais, tal reação raramente se justifica, uma vez que
ficamos ansiosos geralmente por “perigos” que não trazem riscos reais à nossa
existência, como contas por pagar, empregos por manter, relacionamentos
pessoais por estabelecer ou romper... Quem pode dizer que nunca ficou
ansioso por um primeiro encontro com uma pessoa amada?

OBS.: O próprio nome “Simpático” para o sistema adrenérgico, que comando


esta reação, é devido ao fato de que nos tornamos mais atraentes ao termos
nossas pupilas dilatadas, nossas faces ruborizadas, nossa respiração
acelerada... Talvez por isso se diga que o Amor e o Perigo andem sempre de
mãos dadas!

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O estudo e entendimento da ansiedade está na verdade no cerne da própria
psicanálise, e as diversas formas de manifestação da ansiedade e o seu
tratamento, na linha psicanalítica, serão estudadas em todo o decorrer do
curso. Cabe aqui citarmos apenas algumas entidades clínicas especificas, em
que o tratamento psicanalítico, embora indicado, deve ser acompanhado de
pelo menos uma avaliação quanto a adequação de uma terapêutica biológica.

Pânico

Desde 1980, na publicação do DSM-III, foi oficialmente definido o conceito do


transtorno de pânico, e evidências importantes foram se acumulando a seu
respeito. Hoje não há dúvida de que o tratamento deve incluir terapêutica
medicamentosa associada à psicoterapia.

O transtorno de pânico, também chamado de Síndrome do Pânico, é


caracterizado pela ocorrência espontânea e inesperada de ataques de pânico.
Estes têm duração relativamente breve, geralmente de alguns minutos a
menos de uma hora, e são caracterizados por intensa ansiedade ou medo,
acompanhados de sensações somáticas como palpitações, taquipnéia e
sudorese. Muitas vezes os pacientes com pânico procuram inicialmente os
clínicos e cardiologistas, suspeitando eles mesmos de algum distúrbio em seus
corações, pulmões ou estômagos, muitas vezes submetendo-se a uma série de
exames complementares, e após resultarem negativos os exames, são
encaminhados diretamente ao psicanalista, com rótulo de “histéricos”.

A freqüência dos ataques de pânico é variável, desde apenas alguns ataques


durante o ano até várias vezes por dia. Freqüentemente, o distúrbio é
acompanhado por agorafobia (do grego agorá = assembléia, praça pública +
phobia = medo), ou medo de estar sozinho em lugares públicos ou abertos e
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amplos, especialmente se a saída deste lugar se torne difícil, no caso de
ocorrer uma crise de pânico. Isto pode levar a uma séria disfunção pessoal e
social, prejudicando o indivíduo em situações não diretamente relacionadas,
como o trabalho e coisas simples, como fazer compras em um supermercado,
por exemplo. Aparentemente, a agorafobia é uma conseqüência dos ataques
de pânico, desenvolvendo-se à medida em que os pacientes se tornam
receosos de seus ataques e de suas conseqüências.

Durante um ataque de pânico, o paciente geralmente tem um sensação de


medo extremo, de morte e catástrofe iminentes, mas não consegue identificar a
fonte destes temores. Isto pode levar a uma certa confusão, que se associa a
uma dificuldade de concentração, agravados pelos sintomas físicos. Mesmo
contra qualquer raciocínio “lógico”, o paciente interrompe e procura abandonar
qualquer situação em que se encontre, para buscar ajuda. Esses sintomas
desaparecem, rapidamente ou gradualmente, após em média 20 a 30 minutos
(raramente durando mais de uma hora). Às vezes os pacientes chegam a ter
episódios de síncope (desmaios) durante os ataques (cerca de 20% dos
pacientes).

O transtorno de pânico tem seu início geralmente no final da adolescência e


início da idade adulta, e tem em geral um curso crônico, porém muitas vezes
benigno, com cerca de 30 a 40% estando livres de sintomas a longo prazo,
50% com sintomas leves, que não afetam significativamente suas vidas, e
apenas 10 a 20% com sintomas importantes. O tratamento farmacológico,
associado à psicoterapia, tem alto índice de eficácia, embora muitas vezes haja
uma elevada taxa de recaída, mesmo quando o tratamento medicamentoso se
estende por períodos de um ano ou mais.

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Fobias

Uma fobia é um medo irracional que provoca o constante esquivar-se do


objeto, atividade ou situação temidos, com importante sofrimento do indivíduo,
que reconhece sua reação como sendo excessiva. Além da já citada
agorafobia (vide acima), caracterizam-se também as fobias específicas (em
relação a um objeto, animal, sangue, elevador, etc.) e as fobias sociais, com
medo de humilhação em vários contextos sociais, como falar em público, ou
até urinar em um toalete público.

Geralmente as fobias levam o indivíduo a evitar (ou tentar evitar) o estímulo


específico, por vezes levando a situações extremamente embaraçosas, como
por exemplo ter de viajar grandes distâncias de carro ou ônibus, enquanto todo
o resto de uma equipe profissional ou de um grupo social viaja em um avião, ou
ter que subir vários andares em escadas, por medo de elevadores.

Não existem drogas específicas para o tratamento das fobias, e a psicanálise


deve ser um pouco mais “agressiva”, pela tendência destes pacientes a se
esquivarem dos objetos de suas fobias. As várias técnicas de terapia breve,
principalmente a hipnoterapia e a terapia de dessensibilizaçao têm se mostrado
mais eficazes na resolução destes transtornos.

Transtorno Obsessivo-Compulsivo

O transtorno obsessivo-compulsivo, como o nome indica, é caracterizado pela


ocorrência de obsessões e compulsões. Uma obsessão é um pensamento,
sentimento, idéia ou sensação intrusiva, enquanto que compulsão é um
comportamento consciente, estandardizado e recorrente, como contar,
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verificar, evitar ou lavar. As obsessões levam a um aumento da ansiedade da
pessoa, enquanto que a execução das compulsões leva a uma sensação de
redução da ansiedade. Quando um indivíduo com transtorno obsessivo-
compulsivo resiste à realização da compulsão, a ansiedade aumenta, até que
ele se veja praticamente “obrigado” a realizá-la.

Um paciente obsessivo-compulsivo percebe o caráter irracional de suas


obsessões, e experimenta tanto a obsessão quanto a compulsão como ego-
distônicas. As obsessões invadem insistente e persistentemente a consciência,
e um sentimento de medo ansioso acompanha a manifestação central, levando
a pessoa a tomar medidas contra a idéia ou impulso inicial. A pessoa que sofre
de obsessões e compulsões sente na maioria das vezes um forte desejo de
resistir-lhes, porém cerca de metade dos pacientes oferece efetivamente pouca
resistência à compulsão.

Independentemente de quão vívida e compelidora seja a obsessão ou


compulsão, a pessoa reconhece-as como absurdas e irracionais, evidenciando-
as como algo alheio a si mesmo, estranhas à experiência que a pessoa tem de
si como um ser psicológico.

O padrão mais comum é o de uma obsessão de contaminação (ou sujeira),


seguida por uma compulsão para lavar ou limpar, ou ainda para esquivar-se do
objeto ou pessoa supostamente contaminada. O segundo padrão em
freqüência é uma obsessão de dúvida, seguido de uma compulsão à
verificação, geralmente com a obsessão envolvendo algum padrão de perigo
ou violência (esquecer o gás ligado, ou a porta destrancada, com as possíveis
conseqüências de explosão ou de invasão, por exemplo). Outros padrões
comuns envolvem pensamentos obsessivos meramente intrusivos, sem
compulsões associadas, geralmente pensamentos repetitivos com conteúdo

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sexual ou agressivo repreensível aos olhos do paciente, ou a necessidade de
simetria ou precisão, ou ainda obsessões religiosas, entre outras.

O tratamento farmacológico vem ganhando força por sua eficácia a curto prazo,
e pelos achados recentes de alterações orgânicas cerebrais nos pacientes com
transtorno obsessivo-compulsivo, porém ainda não se pode determinar se
estas alterações seriam a causa desta condição, pois a maioria dos estudos
têm achado resultados discrepantes. A psicanálise tem sido desconsiderada
como alternativa terapêutica, embora existam relatos informais de sucesso, e
não haver dúvida em relação à necessidade de psicoterapia coadjuvante à
farmacoterapia.

“Stress” Agudo e Pós-traumático

Traumas emocionais intensos podem levar praticamente qualquer pessoa a


uma reação aguda de stress. Esses traumas incluem, por exemplo,
experiências de combate, catástrofe naturais, agressão física, estupro,
acidentes sérios, entre outros. O transtorno de stress pós-traumático consiste
de revivência do evento traumático através de sonhos e de pensamentos
durante a vigília, hiperexcitação persistente, e evitação persistente de coisas
que lembrem do trauma. Se os sintomas ocorrem por um breve período de
tempo (de dois dias a quatro semanas), classifica-se como stress agudo, e se
eles persistem por mais de um mês, caracteriza-se o stress pós-traumático.

Nestes casos, o tratamento psicoterápico pode necessitar de auxílio de


tratamento medicamentoso, sendo uma das indicações claras de ansiolíticos e
indutores do sono. A psicanálise tem um papel importante no stress pós-
traumático, sendo mais indicadas as terapias breves para as situações agudas.

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Ansiedade Generalizada

A ansiedade e preocupação excessivas, com expectativa apreensiva


exagerada, ocorrendo na maioria dos dias, por um período de pelo menos 6
meses, sendo considerado difícil, pelo indivíduo, controlar sua preocupação, e
na ausência de outro transtorno específico ao qual a ansiedade estaria dirigida
(como por exemplo ataques de pânico), caracterizam o transtorno de
ansiedade generalizada, segundo o DSM-IV. Estão associadas a inquietação, a
sensação de estar “com os nervos à flor da pele”, fatigabilidade, dificuldade
para concentrar-se, “brancos” ou “lapsos de memória”, irritabilidade, tensão
muscular (muitas vezes levando a cefaléias, lombalgias, ou dores localizadas
em um ou outro membro), e insônia, classicamente com grande dificuldade
para conciliar o sono, desde o início da noite (em contraste com a insônia dos
transtornos depressivos, que aparece com despertares durante a madrugada).

A ansiedade generalizada está associada a pressões psicossociais cada vez


maiores, sendo uma das grandes aflições dos “tempos modernos”, juntamente
com as formas mais leves da depressão e da distimia. Seu tratamento é
eminentemente psicoterápico, embora haja um uso intenso, e provavelmente
pouco discriminado de ansiolíticos, o que pode estar levando a um aumento na
incidência de transtornos relacionados a estas substâncias, principalmente o
abuso e a dependência. A legislação específica para a prescrição e venda
destas medicações, no Brasil, até agora, não parece ter coibido a prática
comum, de muitos médicos não psiquiatras, de prescreverem abusivamente
benzodiazepínicos, sem ao menos encaminhar para uma avaliação
psiquiátrica, ou ao menos para uma psicoterapia.

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Transtornos Somatoformes

Os transtornos somatoformes são um grupo de transtornos que incluem


sintomas físicos para os quais nenhuma causa ou explicação orgânica
adequada pode ser encontrada. Os transtornos somatoformes não são
simulações conscientes ou transtornos factícios, mas causam desconforto ao
paciente, que freqüentemente reluta em aceitar o diagnóstico como sendo
“apenas” de origem psicológica. Em geral, o diagnóstico deve ser mesmo um
diagnóstico de exclusão, tendo sido afastadas as hipóteses de patologias
orgânicas não psiquiátricas, antes de o paciente ser encaminhado para
acompanhamento psicoterápico.

Esta aula não se deterá muito nos transtornos somatoformes, assim como nos
transtornos factícios, dissociativos, alimentares, sexuais, de sono e os
relacionados a substâncias, uma vez que tais condições devem ser mais
profundamente estudadas no restante do curso, assim como os transtornos de
ansiedade, vistos acima. Para um maior aprofundamento na visão “psiquiátrica”
destas condições, recomenda-se o “Compêndio de Psiquiatria”, de Kaplan e
outros (vide Bibliografia).

Transtorno de Somatização

O que caracteriza o transtorno de somatização são os múltiplos sintomas


somáticos, que não podem ser explicados por exames físicos e exames
auxiliares. A multiplicidade de sintomas, e os múltiplos sistemas orgânicos
“afetados” o diferenciam dos demais transtornos somatoformes, principalmente
do transtorno conversivo. Caracteristicamente, é um transtorno crônico, que
leva o paciente a múltiplas consultas médicas, com múltiplos especialistas, e a
submeter-se a múltiplos exames auxiliares, muitas vezes bastante dolorosos,
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ou no mínimo desconfortáveis, o que pode aumentar ainda mais o sofrimento
do paciente.

A somatização, juntamente com a conversão, eram chamada anteriormente de


histeria, numa (falsa) suposição de que tais transtornos somente acometessem
as mulheres (do grego hystera = útero). Realmente, os transtornos de
somatização são mais freqüentes nas mulheres do que nos homens, numa
proporção de 5 até 20 mulheres para cada homem afetado (embora as
estatísticas mais altas estejam provavelmente adulteradas pelo fato de que
existe uma tendência, mais antiga, de não se considerar o diagnóstico, nos
homens...). Extra-oficialmente, comenta-se que o distúrbio, quando acomete
indivíduos do sexo masculino, é muito mais intenso, e os sintomas tendem a
ser mais elaborados, dificultando ainda mais a diferenciação com patologias
orgânicas “reais”. Não há dados oficiais que confirmem esta afirmação, bem
como não há uma tendência a um aumento de incidência de homossexualidade
entre os homens com transtornos de somatização.

Transtorno Conversivo

Diferentemente do transtorno de somatização, o transtorno conversivo


caracteriza-se pela presença de um ou mais sintomas neurológicos, que não
podem ser explicados por uma condição neurológica conhecida, nem detectada
por exames auxiliares. A especificidade dos sintomas, exclusivamente
neurológicos, diferencia a conversão da somatização, onde podem existir
sintomas neurológicos, porém sempre acompanhados de sintomas relativos a
outros órgãos ou sistemas.

Os sintomas, como paralisias, cegueira, distúrbios da fala, tonturas, ou


convulsões, entre outros, podem tornar difícil a diferenciação com patologias
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realmente neurológicas, tornando obrigatória a avaliação por um especialista,
que muitas vezes pode ter dificuldade para descartar completamente algum
distúrbio neurológico orgânico.

O transtorno conversivo tende a ser agudo (contrastando com a somatização),


com a resolução espontânea dos sintomas, quase sempre em alguns dias, ou
no máximo em um mês. Apenas os casos em que o transtorno é recorrente
(por volta de 25%), ou naqueles em que os sintomas não regridem em poucos
dias, está indicado o tratamento psicanalítico clássico. As terapias breves e os
ansiolíticos podem ser usados em casos agudos, para mais rápida resolução
dos sintomas.

O termo “conversivo” foi introduzido por Freud, com base em seu trabalho com
Anna O., que é um “clássico” obrigatório para o entendimento da psicanálise
como um todo, e especificamente da conversão, seus mecanismos e seu
tratamento.

Hipocondria

Derivado do termo antigo hypochondrium (“abaixo das costelas”), o termo


hipocondria refere-se à condição em que o paciente acredita e teme ter uma
doença grave, ainda não detectada, interpretando erroneamente sintomas
somáticos, convicção esta que persiste apesar de avaliações repetidas e
garantias médicas de que não há nada gravemente anormal em seu
organismo, e do curso benigno de sua condição ao longo do tempo. Esta
convicção, no entanto, não é tão fixa a ponto de constituir um delírio, nem se
restringe a uma preocupação circunscrita com a aparência, mas causa
sofrimento significativo, ou prejuízo ao funcionamento social ou ocupacional, ou
em outras áreas importantes da vida do indivíduo. O paciente pode ou não ter
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insight de que a preocupação com a idéia de ter uma doença grave é excessiva
ou irracional, porém esse insight não o ajuda a eliminar a mesma.

Mais comumente iniciado entre 20 e 30 anos de idade, e com uma duração de


pelo menos 6 meses (há casos com menor duração, geralmente relacionados a
stress importante, mas estes não podem ser caracterizados como hipocondria),
tem curso episódico, com intervalos quiescentes e episódios de hipocondria de
vários meses a anos de duração. A psicoterapia é geralmente pouco eficaz,
tanto quanto as drogas ansiolíticas e antidepressivas, porém em geral o
prognóstico é benigno, com melhora espontânea eventual, ou com manutenção
dos sintomas sem outras complicações, exceto nos casos em que exames
médicos mais invasivos, ou terapêuticas direcionadas a achados clínicos
supervalorizados tragam complicações iatrogênicas.

Dor e Transtorno Doloroso

A presença de dor, não completamente explicada por uma condição médica,


não psiquiátrica, associada a prejuízo funcional e sofrimento emocional, e com
relação causal plausível com fatores psicológicos, caracteriza o transtorno
doloroso. Esta definição acaba por deixar muito aberto o diagnóstico, uma vez
que a presença e intensidade de dor é sempre uma questão extremamente
subjetiva, e nunca é possível eliminar ou assegurar-se com certeza absoluta de
componentes psicológicos para qualquer queixa de dor, mesmo quando existe
uma patologia orgânica evidente.

O tratamento com analgésicos comuns geralmente não melhora as dores


psicogênicas (ou o componente psicogênico da dor), porém o uso de
analgésicos opiáceos pode ser freqüente, o que leva a uma grande tendência à

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dependência e abuso de tais medicamentos, como também acontece com os
ansiolíticos e antidepressivos.

As psicoterapias breves e a psicanálise têm sucesso variável no manejo destes


pacientes, dependendo sua indicação específica de diversas variáveis, sempre
com acompanhamento clínico, lembrando que a dor é um fenômeno fisiológico
importante para a nossa integridade física, alertando-nos quanto a alterações
orgânicas várias.

Transtornos Dismórfico Corporal

O transtorno dismórfico corporal é uma preocupação com um defeito corporal


imaginário, ou uma distorção exagerada de um defeito mínimo ou sem
importância, que acarreta sofrimento significativo ou prejuízo na vida pessoal,
ocupacional ou social do paciente. As preocupações mais comuns envolvem
defeitos faciais (principalmente em relação ao nariz), nos cabelos, na pele, e na
constituição geral do corpo. Se a intensidade da perturbação for tão grande a
ponto de poder ser considerada um delírio, não se faz o diagnóstico de
transtorno dismórfico corporal, mas sim de transtorno delirante, tipo somático.

Talvez uma boa parte do recente aumento da procurar por procedimentos


estéticos reparadores (cirurgia plástica, aumento de seios e nádegas,
lipoaspiração, remoção de rugas, etc.) esteja refletindo uma tendência ao
aumento da freqüência deste transtorno, determinada ou facilitada por fatores
psicossociais...

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Transtornos Factícios

Os transtornos factícios distinguem-se dos transtornos somatoformes por haver


uma produção deliberada de sinais e sintomas, com um objetivo aparente de
assumir um papel de paciente, de ser hospitalizado, e às vezes de ser
submetido a exames ou até cirurgias. Existe uma qualidade compulsiva nessa
produção, porém os comportamentos são considerados voluntários, por serem
deliberados e dirigidos a uma finalidade, ainda que não possam ser
controlados.

Não existem incentivos externos para este comportamento, e se existirem


(como no caso de vantagens econômicas, esquiva de responsabilidades legais,
ou obtenção de atenção específica de alguma pessoa intimamente
relacionada) não se faz diagnóstico de transtorno factício, mas sim de
Simulação.

É uma condição extremamente refratária a qualquer tipo de tratamento, com


freqüência ocorrendo de o paciente fugir do hospital, ou simplesmente deixar
de aparecer nas consultas ou sessões de terapia. A reação dos médicos,
ficando geralmente irritados com as mentiras e engodos do paciente, e o receio
de estar desconsiderando uma situação clínica real, dificultam ainda mais o
manejo, levando a alta incidência de procedimentos invasivos, e
conseqüentemente de iatrogenias.

Transtornos Dissociativos

A disfunção fundamental nos transtornos dissociativos consiste na perda por


parte do paciente do sentimento unitário de si mesmo como ser humano único,
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com uma única personalidade básica. Esta consciência de si como
personalidade única pode se alterar também em pessoas normais, saudáveis,
como por exemplo acontece no fenômeno da hipnose, na meditação, etc.
Outros exemplos comuns de dissociação corriqueira são encontrados em
períodos de desatenção durante uma conversa ou uma aula, ou também
estados em que a atenção se encontra aumentada, como ao “viajar” durante
uma boa leitura, por exemplo.

A dissociação patológica surge, provavelmente, como uma defesa psíquica


contra um trauma, seja físico ou emocional. O grau de dissociação, e a maneira
individual de cada paciente reagir, determinam a formação de síndromes
distintas.

Amnésia Dissociativa

Embora a amnésia seja comum a quase todos os transtornos dissociativos,


caracteriza-se a amnésia dissociativa quando os fenômenos de dissociação
estão limitados à memória. Basicamente, o paciente perde a capacidade para
recordar informações já armazenadas em sua memória, geralmente aquelas
que dizem respeito a um evento traumático ou estressante. A capacidade para
aprender novas informações, no entanto, é mantida.

Uma forma comum é a amnésia para a própria identidade pessoal, mas com
memória intacta para informações gerais. O término da amnésia é em geral
abrupto, e a recuperação é completa, com baixa incidência de recorrências. No
entanto, a psicoterapia é quase sempre recomendada, para que haja uma
integração adequada das memórias à personalidade do indivíduo, e para
resolução de conflitos que possam estar na base do transtorno agudo.

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Fuga Dissociativa

Na fuga dissociativa, o paciente, além de perder memória de seu nome, família,


passado, etc., afasta-se fisicamente de seu lar habitual, trabalho e locais
costumeiramente freqüentados (muitas vezes afastando-se da cidade), muitas
vezes assumindo uma identidade completamente nova, embora essa
identidade, em geral, seja menos completa do que as personalidades
alternativas vistas no transtorno dissociativo de identidade, além de não haver
uma alternância entre as identidades antiga e nova.

O paciente, durante o período de fuga, tem completa amnésia para a sua vida
e ligações passadas, mas não tem consciência plena de ter esquecido de algo,
e não perde capacidades anteriormente aprendidas. Em geral, não dá mostras
de estar comportando-se de maneira extraordinária, procurando levar uma vida
calma, banal, atraindo para si o mínimo de atenção.

Esta situação tem rendido várias histórias na ficção, especialmente de cunho


romântico, como em novelas de TV e romances dirigidos ao público feminino,
encontrados em bancas de revistas.

Transtorno Dissociativo de Identidade (Personalidade Múltipla)

Antes chamado de transtorno de personalidade múltipla, o transtorno


dissociativo de identidade é um transtorno crônico, cuja causa envolve quase
sempre um evento traumático, geralmente abuso físico ou sexual, na infância.
As pessoas com transtorno dissociativo de identidade têm duas ou mais
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personalidades distintas, cada uma delas determinando o comportamento e as
atitudes durante o período em que predomina. O número médio de
personalidades distintas situa-se na faixa de 5 a 10, com freqüência estando 2
ou 3 evidentes quando do diagnóstico, e as demais surgindo no decorrer do
tratamento.

A transição de uma personalidade a outra é súbita, e em geral dramática.


Geralmente há amnésia, para cada uma das personalidades, da existência e
dos eventos ocorridos durante o predomínio de cada uma das outras
personalidades. Algumas vezes, no entanto uma ou mais personalidades não
são atingidas por esta amnésia, tendo acesso a todas ou algumas das
informações e lembranças das outras.

Este é considerado o mais grave e crônico dos transtornos dissociativos, e o


tratamento envolve psicoterapia, sendo de difícil condução, podendo ser
considerado um dos maiores desafios para um terapeuta, que muitas vezes
pode ter que recorrer a diversas abordagens, e esforçar-se por engajar várias
das personalidades diferentes no tratamento.

Alguns casos foram relatados em romances que se tornaram populares, sendo


recomendada a sua leitura, como forma de maior compreensão dos
sentimentos e nuanças destes pacientes.

Transtorno de Despersonalização

Alteração persistente e recorrente na percepção de si mesmo, atingindo um


grau em que o senso da própria realidade é temporariamente perdido, o
transtorno de despersonalização caracteriza-se por episódios ego-distônicos
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em que os pacientes sentem-se mecânicos, em sonho, ou distanciados do
próprio ego, mas percebem a irrealidade de seus sintomas. Tal alteração pode
ocorrer normalmente em pessoas sadias, só sendo considerada patológica
quando assume proporções persistentes e recorrentes, levando a sofrimento
ou prejuízo no funcionamento pessoal, social ou ocupacional.

As sensações podem incluir alterações corporais, como sentir que suas


extremidades estão maiores ou menores que o normal, ou até duplicação,
sentindo-se “fora do corpo” ou até em dois lugares ao mesmo tempo.

É importante afastarem-se as causas orgânicas de tais sensações, como a


epilepsia, e as lesões de lobo parietal (que levam a sensações peculiares no
hemicorpo contralateral).

Transe Dissociativo

Entre os “transtornos dissociativos sem outra especificação”, o DSM-IV inclui o


“transtorno de transe dissociativo”, episódios isolados ou episódios de
alteração de consciência, identidade ou memória, inerentes a determinados
locais e culturas. Geralmente caracterizados localmente como “possessão”,
sendo especificado que “o transe ou estado de transe não é aceito como um
componente normal de uma prática cultural ou religiosa coletiva. Esta definição
acaba por levar a uma intromissão de diagnóstico psiquiátricos em assuntos
religiosos, sendo por isso bastante discutível. Além disso, o próprio transe
hipnótico pode, de certo modo, ser qualificado como um transe dissociativo,
aumentando o desconforto quanto a esta categoria diagnóstica.

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Transtornos Sexuais

Não iremos nos deter nos inúmeros meandros do estudo da sexualidade


normal e patológica. Apenas citaremos os grandes grupos de transtornos
sexuais listados no DSM-IV, lembrando sempre que a orientação sexual, se
hetero, homo ou bissexual, NÃO é considerada, por motivos do “politicamente
correto”, um possível transtorno, não havendo categoria diagnóstica para a
homossexualidade.

Disfunções Sexuais

As disfunções sexuais englobam os distúrbios do desejo, da excitação sexual,


do orgasmo, dor sexual, e as disfunções devidas a condições médicas gerais e
ao uso de substâncias.

Parafilias

As parafilias, caracterizadas por fantasias sexuais especializadas e intensas, e


necessidades e práticas sexuais que, em geral, são de natureza repetitiva, e
muitas vezes angustiam a pessoa, foram e são extensivamente estudadas pela
psicanálise, havendo vasta literatura a respeito. Incluem-se a pedofilia, o
exibicionismo, o voyeurismo, o frotteurismo, o masoquismo e o sadismo
sexuais, o fetichismo transvéstico, o fetichismo, a zoofilia, e uma categoria
“sem outra especificação”, que inclui ainda a necrofilia, a coprofilia, a urofilia,
entre outras.

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Transtornos de Identidade de Gênero

Os transtornos da identidade de gênero constituem uma categoria à parte,


dentro dos transtornos da sexualidade, aparentemente representando
mecanismos diversos daqueles encontrados nas disfunções sexuais e nas
parafilias, e também mostrando-se qualitativamente diferentes do
homossexualismo ou do transvestismo (fetichismo transvéstico).

A identidade de gênero é um estado psicológico que reflete o senso de si


mesmo como pertencente a um gênero, masculino ou feminino, baseado em
conjuntos de atitudes culturalmente determinados, bem como padrões de
comportamento e outros atributos associados (culturalmente) com a
masculinidade ou feminilidade. O papel de gênero, por outro lado, é o padrão
comportamental externo que reflete o senso interno da pessoa quanto à sua
identidade de gênero, correspondendo a uma declaração pública do gênero.
Geralmente, a identidade e o papel de gênero são congruentes, ou seja, a
pessoa tem um senso de si mesma como homem ou como mulher, e age de
acordo, segundo os padrões de sua cultura.

O papel e a identidade de gênero devem ser diferenciados também do sexo (ou


sexo biológico), limitado às características anatômicas e fisiológicas sexuais,
macho ou fêmea, e da orientação sexual, que é a tendência de respostas
erótica da pessoa, sendo homossexual, heterossexual ou bissexual.

O aspecto essencial do transtorno de identidade de gênero é uma angústia


intensa e persistente do indivíduo em relação ao seu sexo “atribuído”, e um
desejo ou insistência para ser de outro sexo, muitas vezes com a tentativa de
se passar por um membro do sexo oposto, e a crença de que “nasceram no

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sexo errado”. É comum ouvir-se a expressão “sinto que sou uma mulher
aprisionada num corpo masculino”, ou vice-versa.

Tal sentimento geralmente está presente desde a infância, podendo ou não se


manifestar por atitudes e interesses mais característicos do outro sexo, e às
vezes já na infância a expressão declarada de sentirem-se meninos, quando
são meninas, ou vice-versa.

Adolescentes e adultos com esta condição geralmente procuram alternativas


biológicas para efetuar essa mudança para o sexo que acreditam ser o “certo”
para si, com o uso de hormônios e cirurgias, hoje sendo possível a “troca de
sexo” até mesmo para a genitália externa. Cabe lembrar que tais
procedimentos cirúrgicos não alteram o “sexo biológico”, não alterando a
genitália interna (ou pelo menos não a substituindo), muito menos os
cromossomos sexuais.

Esses indivíduos podem ter atração sexual pelo mesmo sexo, pelo sexo
oposto, ou por ambos os sexos. Quando tem atração pelo mesmo sexo
(biológico), não se consideram homossexuais, uma vez que têm a convicção
plena de pertencerem ao sexo oposto.

Existem síndromes geneticamente determinadas, aonde falta ou excesso de


cromossomos sexuais, ou defeitos congênitos nas glândulas sexuais, levam a
condições intersexuais, com pseudohermafroditismo, virilização, feminilização,
ou até hermafroditismo verdadeiro, que acabaram por ser incluídas entre os
transtornos de identidade de gênero “sem outra especificação”.

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O tratamento do transtorno da identidade de gênero tende ao fracasso, se a
tentativa for reverter o transtorno. A cirurgia de reatribuição sexual (“troca de
sexo”) é o que melhores resultados tem apresentado, embora uma cautelosa
seleção dos pacientes deve ser realizada, incluindo uma tentativa de “teste”,
onde os candidatos à cirurgia se passam efetivamente pelo sexo oposto,
durante três meses a um ano, para verificar, em termos simples, “se é isto
mesmo que desejam”. São também prescritos hormônios, provocando as
alterações secundárias em seus organismos, o que em alguns casos é até
suficiente para o seu bem estar psíquico, dispensando a necessidade de uma
cirurgia.

O papel do psicanalista, nesses casos, é pequeno, mas pode ser um bom


adjuvante, para que haja uma melhor adaptação e integração da pessoa,
qualquer que seja o estado orgânico atingido.

Transtornos Alimentares

Entre os transtornos alimentares, sobressaem duas síndromes bastante


conhecidas, e altamente desafiadoras quanto ao manejo terapêutico, a
anorexia nervosa e a bulimia nervosa. A anorexia nervosa, que já foi
amplamente divulgada quando personalidades conhecidas como Karem
Carpenter ou Lady Diana Spencer foram acometidas, pode inclusive ser fatal,
sendo um problema considerável e preocupante para o profissional de saúde.
É o tipo de patologia que sempre deve envolver mais de um profissional, não
devendo nunca o psicanalista assumir sozinho todo o acompanhamento do
paciente, mas obtendo cooperação de psiquiatra e clínico, no mínimo.

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Não confundir tais patologias com as reações comuns de praticamente todos
os indivíduos, de aumentarem ou diminuírem a ingestão calórica em resposta
ao stress.

Anorexia Nervosa

A anorexia nervosa é caracterizada por uma perturbação da imagem corporal,


e busca incessante de magreza, levando freqüentemente a um estado de
inanição, tendo seu início geralmente na adolescência, e sendo muito mais
freqüentes em mulheres do que em homens. As pacientes sentem-se
paradoxalmente gordas, recusando-se a se alimentarem, com um medo
intenso de ganhar peso, mesmo quando o espelho e a balança mostrem
claramente o absurdo dessa situação. Há uma negação persistente do baixo
peso corporal, que às vezes persiste até quando chegam ao nível de
desnutrição.

O termo “anorexia” é inadequado, pois não ocorre realmente perda de apetite,


mas uma evitação quase obsessiva dos alimentos, principalmente os mais
calóricos, enquanto a tendência para colecionar receitas culinárias e a paixão
por preparar refeições elaboradas para os outros evidenciam que estes
pacientes estão na verdade constantemente pensando em comida. Alguns
pacientes não conseguem controlar continuamente a restrição voluntária da
ingestão de alimentos, e têm, ocasionalmente, episódios de voracidade, em
geral em segredo, quase sempre à noite, e freqüentemente seguindo-se
indução de vômitos. Muitos pacientes usam também laxantes e mesmo
diuréticos, com a finalidade de perderem peso, e engajam-se em exercícios
intensos, sempre com a intenção de “queimar” as calorias.

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Em geral, nas mulheres, ocorre também uma amenorréia, ou seja, uma
interrupção dos ciclos menstruais, que não ocorre, em geral, se a paciente
utiliza contraceptivos. A amenorréia reflete as alterações hormonais,
decorrentes da inanição.

Existe uma alta taxa de co-mordidade com transtornos depressivos, com uma
freqüência de até 50% de transtornos depressivos maior ou distímico. Em
geral, o prognóstico de pacientes anoréxicos é ruim, com algumas remissões,
mas uma grande tendência a apresentarem recaídas, e apesar da resposta a
curto prazo a praticamente qualquer tipo de tratamento, nas fases que
requerem hospitalização (como única forma de nutrir adequadamente o
paciente), ser boa, há relatos de altas taxas de mortalidade a médio prazo,
chegando até a 18%.

A psicoterapia tem um papel fundamental no manejo adequado a longo prazo


desses pacientes, mas para que seja eficaz deve haver um excelente rapport,
dada a tendência de negação e receio de engordar, não desejando o
tratamento por imaginarem que este levá-los a engordarem em demasia.

Bulimia Nervosa

A bulimia nervosa é mais comum que a anorexia, e consiste em episódios


recorrentes de consumo de grandes quantidades de alimentos, acompanhados
por um sentimento de perda do controle, e freqüentemente de culpa, depressão
ou ojeriza por si mesmo. Seguem-se comportamentos compensatórios, como
vômitos auto-induzidos, uso de laxantes e uso de diuréticos, jejum, exercícios
excessivos, para evitar o ganho de peso.

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A bulimia diferencia-se da anorexia por ser episódica e recorrente (enquanto a
anorexia é crônica, contínua), e por não haver perda de peso, mantendo-se os
pacientes em geral dentro do peso normal, podendo estar abaixo ou até acima
deste. Caso os episódios ocorram exclusivamente durante episódios de
anorexia nervosa, são considerados parte desta, e não como transtorno
separado.

O prognóstico é em geral bem melhor do que o da anorexia, com uma resposta


relativamente boa à psicoterapia, e na maioria dos casos não necessitando de
hospitalização, exceto nos raros casos em que a purgação (vômitos, laxantes,
diuréticos) se torna severa a ponto de acarretar distúrbios hidro-eletrolíticos e
metabólicos. Em alguns casos não tratados, há inclusive a possibilidade de
remissão espontânea dos sintomas em um a dois anos, e existe ainda uma
prevalência ainda não estimada, mas provavelmente alta, de episódios
bulímicos isolados, principalmente em mulheres adolescentes, sendo relatado
até 40% em universitárias.

Os fatores sociais, com as pressões exercidas pelos padrões atuais de


magreza como sinônimos de beleza, e como pré-requisito para o sucesso
pessoal, profissional e sexual, podem estar ajudando a aumentar a incidência
tanto da bulimia quanto da anorexia nervosas.

Transtornos do Sono

Os transtornos do sono são estudados em outro capítulo do curso (Neurologia),


cabendo aqui apenas uma rápida definição de termos. São classificados em
dissonias, parassonias, e transtornos do sono devidos a outros transtornos
mentais ou a outras condições médicas.

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Os sintomas básicos dos transtornos do sono são a insônia (dificuldade para
iniciar ou para manter o sono), a hipersonia (quantidades excessivas de sono e
sonolência diurna), as parassonias (fenômenos incomuns ou indesejáveis que
aparecem subitamente durante o sono ou no limiar entre o sono e a vigília) e as
perturbações no ciclo-vigília (deslocamento do sono a partir do período
circadiano desejado).

O estudo do sono está intimamente ligado a um dos aspectos mais importantes


da psicanálise, que é o estudo e interpretação dos sonhos. Cabe lembrar que
os mecanismos fisiológicos exatos dos sonhos são ainda absolutamente
desconhecidos, ficando o seu estudo, por enquanto, restrito às abordagens
analíticas das diversas escolas psicoterápicas, todas com grande influência do
pensamento Freudiano.

Dissonias

São problemas primários do sono, incluindo a insônia primária, a hipersonia


primária, a narcolepsia, o transtorno do sono relacionado à respiração, e o
transtorno do ritmo circadiano do sono (ou do ciclo de sono-vigília).

Insônia primária é a dificuldade para iniciar ou manter o sono, ou a existência


de um sono não revigorante, na ausência de outras patologias físicas ou
mentais. Geralmente está associada a uma má higiene de sono, e a um certo
nível exagerado de ansiedade, sem ser caracterizado nenhum transtorno
específico de ansiedade.

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Hipersonia primária é a ocorrência de sonolência excessiva, sem causas
orgânicas ou psíquicas determináveis.

A narcolepsia é uma síndrome que consiste em sonolência diurna excessiva, e


manifestações anormais do sono REM, com alucinações hipnagógicas,
cataplexia e paralisia do sono. O sintoma mais comum são os ataques de sono,
com episódios de sono irresistível, às vezes de duração de poucos segundos,
ocorrendo várias vezes durante o dia.

Os transtornos do sono relacionados à respiração incluem várias perturbações


respiratórias que atrapalham o sono normal, sendo importante lembrar da
Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono, que caracteriza-se por múltiplos
episódios apnéicos durante o sono, levando a múltiplos pequenos despertares,
ou pelo menos superficializações do sono.

Os transtornos do ritmo circadiano do sono caracterizam-se pelo mau


alinhamento entre períodos desejados e reais de sono. Incluem as mudanças
de fuso horário, as mudanças freqüentes de turno de trabalho, a fase atrasada
ou avançada de sono (não conseguir dormir tão cedo ou tão tarde quanto se
deseja).

Parassonias

As parassonias são fenômenos indesejáveis ou incomuns que aparecem


durante o sono ou no limiar entre a vigília e o sono (adormecendo ou
despertando). Incluem-se entre as parassonias os pesadelos, o terror noturno,
o sonambulismo, e outros como o bruxismo, o sonilóqio e a paralisia do sono.

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O pesadelo, como todos já tivemos oportunidade de constatar, é um sonho
longo e assustador, do qual o indivíduo geralmente desperta assustado, com
as sensações fisiológicas do stress.

O terror noturno, por outro lado, é um despertar que ocorre durante o sono
Não-REM profundo (estágios 3 e 4), com emissão de um grito alucinante,
seguindo de manifestações que lembram o estado de pânico, tipicamente não
respondendo às tentativas de ser acalmado por outrem, e que evoluem ou para
o retorno ao sono, ou mais raramente para um estado transitório de confusão e
desorientação. Nenhum sonho é recordado, e o evento em geral é inteiramente
esquecido pelo paciente (embora seja intensamente estressante para os
familiares, especialmente porque ocorre principalmente em crianças).

O sonambulismo consiste em episódios de uma seqüência de comportamentos


complexos, também se iniciando durante as fases 3 e 4 do sono NREM, com
amnésia total do evento por parte do paciente, que pode realizar desde
pequenos atos, como sentar-se ou falar, até andar, e mesmo dirigir! Também
terminam com a volta ao sono normal, ou com permanência em vigília com
confusão e desorientação transitórias. É mais comum em crianças, iniciando-se
entre 4 e 8 anos de idade, porém podendo persistir, em raros casos, até a vida
adulta.

Bruxismo significa ranger os dentes durante o sono (derivado da adaptação


irregular do grego brýchein, literalmente “ranger os dentes”), ocorrendo em todo
o sono, com predomínio no estágio 2. A condição, muitas vezes despercebida
tanto por pacientes quanto por seus familiares, tem um importante papel em
patologias dentárias, sendo muitas vezes percebidas em consultórios
odontológicos, por suas conseqüências.

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Sonilóquio significa falar durante o sono, e pode acontecer independentemente
do sonambulismo, sendo bastante comum, tanto em crianças quanto em
adultos. Apesar do imaginário popular em contrário, não é comum que as
pessoas revelem segredos profundos durante o sono!

Transtornos Relacionados a Substâncias

O uso e abuso de substâncias químicas é um dos mais vastos e controversos


campos, não só na área de saúde, como na política, na economia, na
educação, na religião, em resumo, em todas as áreas de atividade e de
conhecimento humano. Desde o momento em que o primeiro ser humano
ingeriu ou inalou a primeira planta ou extrato que desse a ele um estado
diferente de satisfação, percepção ou atividade, os efeitos benéficos dessa
descoberta se fizeram acompanhar das conseqüências indesejáveis, para o
próprio indivíduo e para seus pares. Talvez seja esta, principalmente, a
metáfora principal do episódio bíblico de Eva, Adão e a “maçã” (pobre fruta,
inocente, porém tão mal falada...).

Atualmente, o uso de substâncias, ilegais ou não, como forma de buscar algum


tipo de bem-estar, torna-se cada vez mais alarmante, por envolver imensas
quantidades de recursos financeiros, e um altíssimo índice de criminalidade
associada. Isto é verdadeiro não apenas em relação às “drogas” como se
entende em senso estrito (das quais, em nosso meio, a maconha, a cocaína e
o “crack” são as mais importantes), mas principalmente das “drogas legais”,
como os medicamentos psicoativos, os solventes orgânicos (como a “cola de
sapateiro”), e em escala alarmante, embora em geral ignorada, o tabaco e o
álcool. Este último, por ter uma aceitação social quase universal (em contraste
com o tabaco, que já gozou de prestígio muito maior, porém hoje vê
campanhas importantes contra o seu uso), tem minimizada sua

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responsabilidade nos diversos distúrbios, por ele direta ou indiretamente
influenciados.

Não cabe aqui uma exposição detalhada e minuciosa de todas as nuanças do


uso e abuso de substâncias químicas, uma vez que o assunto é extremamente
extenso, merecendo inclusive um ou dois módulos do curso especificamente
para si. Certamente irão aparecer no consultório de cada psicanalista não
apenas pacientes com problemas pelo uso ou abuso direto de álcool ou outras
substâncias, mas uma ampla gama de pacientes com transtornos
indiretamente produzidos por este abuso, desde cônjuges ou filhos de
dependentes, até pessoas cujas vidas foram marcadas por ruína, financeira,
moral ou social, devido ao envolvimento de alguém com uma ou mais
substância citadas, ou ao falecimento de alguém que se envolveu com a “roda-
viva” do álcool e das drogas. As implicações e ramificações são tantas, que
poder-se-ia até dizer que não há sequer uma pessoa, na face da Terra, que
não esteja sendo influenciada, de um modo ou de outro, pelo uso e abuso de
álcool ou outras drogas.

Para se ter uma idéia do problema, um candidato à presidência do EUA, no


início da década de 90, chegou a chamar a situação de “estado de guerra
química”, e isto sem considerar o tabaco e o álcool!

As substâncias químicas podem causar, diretamente, vários problemas. O


primeiro deles é o abuso, caracterizado pela presença de um ou mais sintomas
produzidos diretamente pela droga, que tenha interferido na vida da pessoa, de
modo negativo. Toda pessoa que já bebeu além da conta, sentiu-se “grogue”, e
falou alguma impropriedade, ou teve algum problema em seus relacionamentos
pessoais, diretamente desencadeado por esse episódio, sabe o que é o abuso
do álcool.

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O abuso, dependendo da substancia, da dose, da freqüência e da duração,
pode também levar a danos orgânicos, irreversíveis ou não, como é o caso das
lesões na medula e no cerebelo, causadas pelo abuso do álcool, ou das graves
lesões cerebrais causadas pelo “crack”.

Além do abuso, o segundo problemas grave relacionado ao uso de substâncias


é o desenvolvimento de dependência. A dependência pode ser “apenas”
comportamental (ou dependência psicológica, como é comumente conhecida),
ou ser também física, que é caracterizada pelo desenvolvimento de tolerância
(a necessidade de doses crescentes para se obterem os mesmos efeitos) e do
aparecimento de sintomas de abstinência (sinais e sintomas físicos que
ocorrem após a interrupção ou a diminuição do uso regular da substância).

Outro conceito cada vez mais levado em consideração é o da co-dependência,


que gosto de chamar de “dependência no dependente”. Este é um conceito, é
claro, puramente psicológico, e implica numa “atração” inconsciente de certas
pessoas a se relacionarem com dependentes, muito comumente encontrado
em cônjuges de alcoólatras!

O tratamento e manejo dos transtornos relacionados às drogas é certamente


multidisciplinar, havendo a necessidade de união de esforços de diversos
profissionais, de diversos setores da sociedade, para que o combate possa ter
alguma chance de ser eficaz. Assim, o trabalho do Psicanalista deve ser
somado ao de médicos, psicólogos, assistentes sociais, líderes religiosos,
políticos, militares, empresários, e praticamente todos os que se interessarem
pela construção de um mundo melhor.

Medicamentos mais Comumente Usados em Psiquiatria e


Neurologia, e Outras Terapias “Biológicas”

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Certamente não tentaremos ensinar a prescrição de medicamentos ou de
outras terapias “biológicas”. Lembrando a todos que a prescrição de qualquer
medicamento é, no Brasil e na maior parte do mundo, atribuição exclusiva dos
médicos. Mesmo outros profissionais graduados na área de saúde, como
psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas e farmacêuticos, não estão aptos, em
hipótese alguma, a prescrever qualquer tipo de tratamento biológico. (Os
veterinários podem e devem prescrever seus medicamentos para os animais,
mas não para certos “animais” que ainda circulam por aí disfarçados de seres
humanos...).

O que tentaremos nesta última seção de nosso módulo é mostrar um apanhado


geral das drogas mais usadas, sem nos preocuparmos com a descrição de
seus efeitos (desejados ou colaterais), suas doses usuais, indicações, contra-
indicações, ou mecanismos de ação. Trata-se apenas de uma rápida
exposição, descompromissada, com caráter apenas introdutório, procurando
citar apenas as drogas disponíveis no Brasil, com seus nomes comerciais
associados.

Antidepressivos

As drogas antidepressivas são as mais prescritas entre as drogas de uso


psiquiátrico, especialmente depois da introdução dos inibidores seletivos de
recaptação da Serotonina, amplamente divulgados pela imprensa como a
“pílula da felicidade” (o conhecido “Prozac”).

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Basicamente existem três classes de antidepressivos: os inibidores da
Monoamino Oxidase (IMAO), os tricíclicos (e tetracíclicos), e os inibidores
seletivos da recaptação da Serotonina (ISRS).

São exemplos de IMAO:

• Moclobemida (Aurorix®);

• Tranilcipromina (Parnate®);

• Selegilina (Niar®, Elepril®).

Exemplos de tricíclicos:

• Amitriptilina (Tryptanol®);

• Imipramina (Tofranil®, Imipra®);

• Clomipramina (Anafranil®);

• Nortriptilina (Pamelor®)

Exemplo de tetracíclico:

• Maprotilina (Ludiomil®).

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Exemplo de ISRS:

• Fluoxetina (Prozac®, Nortec®, e muitos outros!);

• Paroxetina (Aropax®);

• Sertralina (Zoloft®).

Cabe ainda citar o Lítio (Carbolitium®), usado no controle e profilaxia dos


episódios maníacos dos transtornos bipolares.

Antipsicóticos (Neurolépticos)

Os antipsicóticos, antes chamados de Neurolépticos (essa denominação é


ainda muito freqüente) são, basicamente, antagonistas de receptores
Dopaminérgicos. Sua classificação não cabe aqui, sendo importante apenas
citar alguns dos mais utilizados:

• Clorpromazina (Amplicitil®);

• Trifluoroperazina (Stelazine®);

• Levomepromazina (Neozine®);

• Periciazina (Neuleptil®);

• Tioridazina (Melleril®);

• Haloperidol (Haldol®);

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• Tiotixeno (Navane®);

• Risperidona (Risperdal®);

• Pimozida (Orap®).

Ansiolíticos e Indutores de Sono


Os benzodiazepínicos são os medicamentos mais comuns para diminuir a
ansiedade, e também para induzir o sono. Além desses dois efeitos, também
têm um efeito anti-convulsivante, sendo alguns deles utilizados para este fim.
São alguns benzodiazepínicos:

• Alprazolam (Frontal®);

• Clordiazepóxido (Psicosedin®);

• Clonazepam (Rivotril®);

• Clobazam (Frisium®);

• Clorazepato (Tranxilene®);

• Diazepam (Valium®, Diempaz®, entre outros);

• Estazolam (Noctal®);

• Flurazepam (Dalmadorm®);

• Flunitrazepam (Rohypnol®);

• Lorazepam (Lorax®);

• Mildazolam (Dormonid®);

• Zolpidem (Stilnox®);

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• Bromazepam (Lextotan®);

• Cloxazolam (Olcadil®).

Outra droga, não aparentada aos benzodiazepínicos, com efeito ansiolítico, é a


Buspirona (Buspar®). Esta não tem efeito indutor de sono, nem
anticonvulsivante.

Uma droga utilizada para induzir o sono, uma das mais antigas, e que hoje é
usada quase que exclusivamente na indução do sono para realização de
eletroencefalogramas, é o Hidrato de Cloral (não disponível exceto sob
manipulação).

Outra classe ainda de efeitos hipnóticos e sedativos, praticamente abandonada


para este uso, são os barbitúricos. Apenas o Fenobarbital (Gardenal®,
Edhanol®, Fenocris®) e a Barbexaclona (Maliasin®) são ainda utilizados, mas
só no tratamento das epilepsias, por suas propriedades anticonvulsivantes,
bem como o Tiopental (Thionembutal®, Thiopental®), este apenas em casos
gravíssimos de crises epilépticas que não cessam (o “estado de mal
epiléptico”), e apenas de uso intra-hospitalar.

Anti-Parkinsonianos

Muitas drogas foram desenvolvidas para o tratamento da Doença de Parkinson,


sendo também usadas, em psiquiatria, para combater os efeitos colaterais de
drogas antipsicóticas. São algumas delas:

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• Selegilina (Niar®, Elepril®);

• Biperideno (Akineton®);

• Amantadina (Mantidan®);

• Bromocriptina (Parlodel®, Bagren®);

• Triexifenidil (Artane®);

• L-Dopa (Sinemet®, Prolopa®);

Anti-Convulsivantes

O tratamentos das epilepsias, com drogas eficazes para a prevenção das


crises tanto focais quanto generalizadas, tem progredido bastante, com o
desenvolvimento de novas drogas, com bons resultados, e relativamente
poucos efeitos colaterais. Além dos barbitúricos (vide acima), e de alguns dos
benzodiazepínicos (Clonazepam, Clobazam, Dizepam), incluem-se também:

• Carbamazepina (Tegretol®);

• Oxcarbazepina (Trileptal®);

• Valproato ou Ácido Valpróico (Depakene®, Valpakine®,


Valprin®);

• Fenitoína (Hidantal®, Fenital®, Epelin®);

• Lamotrigina (Lamictal®).

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Eletroconvulsoterapia (ECT)

A eletroconvulsoterapia, ou como é mais conhecida nos meios populares,


“terapia com eletrochoques”, tem sido cada vez menos utilizada em psiquiatria,
em grande parte pelo grande mal estar que tal procedimento causa ao público
em geral, associando a ECT a tratamento “punitivo”, que efetivamente existiu (e
infelizmente ainda existe) em muitos manicômios, que são na verdade mais
propriamente “depósitos de loucos” (ou de pessoas inconvenientes para seus
familiares) do que hospitais voltados para o tratamento e reintegração de
doentes à sociedade, especialmente em nosso país.

No entanto, a ECT tem, provavelmente, seu lugar na terapêutica psiquiátrica,


sendo eficaz no manejo agudo de episódios depressivos graves e episódios
maníacos. A sua realização, longe de ser um procedimento doloroso e
traumático, deve ser procedida sob anestesia geral, oxigenação, e medidas
para minimizar os efeitos somáticos das convulsões induzidas.

Uma crítica plausível para esta prática é o fato de que não se sabe o
mecanismo da melhora pela ECT, porém o mesmo também se pode dizer da
maioria das drogas, e de terapias como a acupuntura e a hipnose, mas os bons
resultados obtidos indicam a manutenção dessas armas terapêuticas, mesmo
que sob bases empíricas.

Psicocirurgia

A cirurgia como arma terapêutica para os transtornos mentais teve seu período
de glória, culminando com o Prêmio Nobel recebido pelo português Egas
Moniz, em 1949, pelas suas descobertas nesta área, principalmente a

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introdução da lobotomia frontal, para o controle de pacientes com
personalidades violentas (psicopáticas). No entanto, os conceitos foram
mudando, as medicações se tornando mais eficazes, e os efeitos negativos das
cirurgias se evidenciando, levando a psicocirurgia ao ostracismo, chegando ao
ponto de se cogitar a retirada do prêmio de Egas Moniz! Atualmente, os
avanços na área da Neuropsicologia, e nas técnicas microcirúrgicas, têm dado
novo ímpeto às pesquisas na área de psicocirurgia, agora mais propriamente
chamada de Neurocirurgia Funcional. Ainda são poucas as indicações, e
pequenas as estatísticas, mas é possível que nas próximas décadas
assistamos a um “renascimento” da cirurgia cerebral como tratamento das
patologias mentais.

Homeopatia

A Homeopatia tem lugar importante no tratamento dos distúrbios mentais,


especialmente naqueles em que um mecanismo psicossomático é importante.
O princípio da Homeopatia, do “semelhante curando o semelhante”, difere
radicalmente dos princípios da Medicina Ocidental, mas se assemelha em
muito à Medicina Oriental, com seus conceitos de desequilíbrios energéticos, e
a consideração do ser humano como Homem Integral.

Acupuntura

O mesmo que se disse para a Homeopatia pode ser aplicado à Acupuntura,


com a diferença nas bases teóricas e práticas do tratamento, que se baseia na
estimulação direta de pontos energéticos específicos, espalhados pelo corpo.
O efeito, no entanto, seria o mesmo: equilíbrio energético do Ser como um
Todo.

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Terapias “Alternativas”

Existe um “modismo” muito grande em se criarem “terapias alternativas”, como


os Florais de Bach, Terapia Ortomolecular, tratamentos à base de raízes e
plantas “medicinais”, etc. Deve-se ter certa cautela em avaliar cada uma destas
terapêuticas, pois os interesses financeiros envolvidos podem ser muito
grandes, e o “marketing” costuma nos levar a falsas impressões.
Pessoalmente, não nego o possível valor de cada uma destas alternativas,
porém me abstenho de indicá-las, até mesmo por absoluto desconhecimento
de causa.

O Efeito Placebo e a “Causa pela Fé”

Todas as terapêuticas ditas “biológicas” não podem se abster de possuírem um


efeito “não biológico”, pelo efeito conhecido por “efeito Placebo”. O efeito
Placebo é a constatação de que qualquer medicamento fornecido ao paciente,
desde que este acredite em sua melhora, produzirá uma substancial melhora, e
até mesmo a cura, em qualquer tipo de problema, mesmo os que sejam
aparentemente físicos em sua totalidade (como numa fratura óssea, por
exemplo). Algumas pessoas acreditam que o que se chama de cura pela Fé
seja apenas e tão somente o efeito Placebo, que se torna tão mais intenso
quanto maior for a crença de que a cura se efetuará.

Em minha opinião, isto pode ser verdadeiro apenas em parte, pois há registros,
na história de todas as religiões, de pessoas especiais, que obtinham um índice

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de cura de praticamente 100%, como no caso de Jesus Cristo. É certo que
mesmo que Ele afirma a uma das suas “pacientes”: “...a sua Fé te curou!” Mas
parece evidente que lá havia algo mais do que o “simples” (porém totalmente
incompreendido) efeito Placebo...

Deixo estas questões em aberto, para muitas discussões e conversas


animadas, em que certamente nenhuma conclusão definitiva poderá ser
alcançada, mas muita boa Filosofia será produzida!

Conclusão

O estudo das alterações e patologias da mente é certamente fascinante e


intrigante, e talvez só possamos começar a ousar uma compreensão de
suas nuanças quando começarmos a penetrar, um pouco que seja, nos
mundos em que vivem os pacientes, entrando, como convidados, nos
meandros de suas mentes, de suas Almas. Como convidados, devemos
manter uma atitude respeitosa, nunca nos esquecendo de que ali somos
apenas isto: visitas!

Apresentamos, de modo certamente incompleto, parcial, um apanhado


geral da Psiquiatria, como é mais comumente aceita no Ocidente, hoje.
Certamente, essa é uma visão “americanizada”, e como tal vastamente
criticável do assunto. Mais ainda, com certeza esses conceitos irão se
alterando ao longo do tempo, como já o foram até aqui...

Nos serve, entretanto, de introdução, de base para um maior estudo, e de


questionamentos futuros. Espero que cada um de vocês saiba interpretar de
maneira crítica cada informação aqui colhida, tanto quanto têm avaliado

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criticamente todos os módulos deste curso. Afinal, a Psicanálise é, acima de
tudo, o exercício do raciocínio, da comparação, da lógica, chegando deste
modo a um “novo” modo de fazer Ciência, cujo pontapé inicial foi dado por
Sigmund Freud: a Ciência da Alma!

Apêndice: Classificação dos Transtornos Mentais do DSM-IV

* Distúrbios na infância Infância, adolescência ou

- O retardo mental

F70.9 retardo mental leve [317]

F71.9 Retardo Mental Moderado [318,0]

F72.9 Retardo mental grave [318,1]

F73.9 Retardo Mental Profundo [318,2]

F79.9 Retardo Mental, Gravidade não especificado [319]

- Dificuldades de Aprendizagem

Leitura F81.0 transtorno [315,00]

Matemática F81.2 Transtorno [315,1]

F81.8 Transtorno da Expressão Escrita [315,2]

Transtorno de aprendizagem não especificado F81.9 [315,9]

- Motor habilidades desordem

F82 coordenação transtorno do desenvolvimento [315,4]

- Distúrbios da Comunicação

F80.1 Transtorno da Linguagem Expressiva [315,31]

F80.2 Transtorno da Linguagem Receptivo-Expressiva Mixed [315,31]

Desvio fonológico F80.0 [315,39]


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F98.5 Gagueira [307,0]

Distúrbios da comunicação não especificado F80.9 [307,9]

- Transtornos Invasivos do Desenvolvimento

F84.0 Transtorno Autista [299,00]

Transtorno de Rett F84.2 [299,80]

F84.3 Transtorno desintegrativo da infância [299,10]

Transtorno de Asperger F84.5 [299,80]

F84.9 Transtorno Invasivo do Desenvolvimento sem outra especificação [299,80]

- Atenção e distúrbios de déficit de comportamento disruptivo

–.- Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade

F90.0 Tipo Combinado

F98.8 tipo predominante de déficit de atenção

F90.0 tipo preedominio com hiperativo-impulsivo

F90.9 Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade não especificado [314,9]

F91.8 Transtorno (disorder Conduta) [312,8]

F91.3 transtorno desafiador opositivo [313,81]

F91.9 NOS transtorno disruptivo do comportamento [312,9]

- Transtornos alimentares e transtornos alimentares da infância ou adolescência

F98.3 Pica [307,52]

Ruminação Transtorno F98.2 [307,53]

F98.2 Transtorno de alimentação na infância ou adolescência [307,59]

- Tics Disorders

F95.2 Transtorno de Tourette [307,23]

F95.1 Transtorno do motor crônica ou tiques vocais [307,22]

F95.0 transtorno de tiques transitórios [307,21]

F95.9 Transtorno não especificado Tic [307,20]

- Transtornos da Excreção

- Encoprese

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R15 com constipação e incontinência por transbordamento [787,6].

F98.1 Sem Obstipação e Incontinência por regurgitação [307,7].

F98.0 Enurese (Não Devido a uma Condição Médica Geral) [307,6]

- Outras doenças de infância, ou adolescência

F93.0 transtorno de ansiedade de separação [309,21]

Mutismo seletivo F94.0 [313,23]

F94.x Disorder Reactive Anexo da Infância ou Early Childhood [313,89]

F98.4 distúrbio de movimento estereotipado [307,3]

F98.9 Transtorno da NOS infância infância, ou adolescência [313,9]

* Delirium, Demência, e Amnéstico e Outros Transtornos Cognitivos

- Delirium

F05.0 Delirium devido a uma doença médica [293,0]

Delirium Induzido por Substância —.-

—.- Delirium Abstinência de Substância (referem-se a substância distúrbios relacionados com os


códigos especificados para cada um)

—.- Delirium Devido a Múltiplas Etiologias

F05.9 Delirium não especificado [780,09]

- Demência

Demência de Alzheimer F00.xx

Demência vascular F01.xx [290.4x]

F02.4 Demência Devido à doença HIV [294,9]

F02.8 Demência Devido a Traumatismo Craniano [294,1]

F02.3 Demência Devido à doença de Parkinson [294,1]

F02.2 Demência Devido à Doença de Huntington [294,1]

F02.0 Demência Devido à doença de Pick [290,10]

F02.1 Demência Devido à doença de Creutzfeldt-Jakob [290,10]

F02.8 Demência Devido a Outras Condições Médicas Gerais [294,1]

—.- Induzido por Substância Demência Persistente

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F02.8 Demência Devido a Múltiplas Etiologias

F03 Demência não especificado [294,8]

- Distúrbios Amnéstico

F04 Transtorno Amnéstico devido a uma doença médica [294,0]

Transtorno Induzido por Substância —.- Amnéstico Persistente

Transtorno Amnéstico NOS R41.3 [294,8]

- Outros Transtornos Cognitivos

Transtorno Cognitivo Sem Outra Especificação F06.9 [294,9]

* Transtornos Mentais Devido a Condição Médica

F06.1 Transtorno Catatonic devido a uma doença médica [293,89]

F07.0 Alteração da Personalidade Devido a uma doença médica [310,1]

F09 Transtorno não especificado mental devido a doença médica [293,9]

* Transtornos Relacionados a Substâncias

- Álcool distúrbios relacionados

- Use distúrbios Álcool

Dependência do álcool F10.2x [303,90]

F10.1 Álcool [305,00]

- Transtornos Induzidos por Álcool

F10.00 intoxicação alcoólica [303,00]

Abstinência alcoólica F10.3 [291,8]

F10.03 Delirium por Intoxicação Álcool [291,0]

F10.4 Delirium por Abstinência de Álcool [291,0]

F10.73 Induzidos por Álcool Demência Persistente [291,2]

F10.6 induzida por álcool Transtorno Amnéstico Persistente [291,1]

F10.51 Transtorno Psicótico Induzido por Álcool, Com Delírios [291,5]

F10.52 Transtorno Psicótico Induzido por Álcool, Com Alucinações [291,3]

F10.8. Ttrastorno humor induzida pelo álcool [291,8]

F10.8 Ansiedade induzida por álcool [291,8]

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F10.8 induzida por álcool distúrbio sexual [291,8]

F10.8 induzida por álcool distúrbio do sono [291,8]

F10.9 Transtorno relacionados com o álcool sem outra especificação [291,9]

- Hallucinogen Transtornos Relacionados

- Use distúrbios Hallucinogen

Alucinógenos F16.2x Unidade [304,50]

Abuso de alucinógenos F16.1 [305,30]

- Hallucinogen Transtornos Induzidos

Alucinógeno Intoxicação F16.00 [292,89]

F16.70 Hallucinogen Transtorno de Percepção Persistindo [292,89]

F16.03 Delirium por Intoxicação Hallucinogen

F16.xx Transtorno Psicótico Induzido por Alucinógeno

F16.8 transtorno do humor induzido por alucinógenos

F16.8 Ansiedade induzida por alucinógenos

F16.9 Transtorno Hallucinogen Relacionados Sem Outra Especificação [292,9]

- Uso de Anfetaminas Transtornos Relacionados

- Use Disorders Anfetamina

Unidade F15.2x anfetamina [304,40]

Abuso de anfetamina F15.1 [305,70]

- Uso de Anfetaminas Transtornos Induzidos

F15.00 intoxicação por anfetaminas [292,89]

F15.3 Retirada de anfetaminas [292,0]

F15.03 Delirium por Intoxicação Anfetamina

F15.xx transtorno psicótico induzido por anfetamina

F15.8 transtorno do humor induzido por anfetamina

F15.8 Ansiedade induzida por anfetamina

F15.8 Disfunção Sexual anfetamina induzida

Transtorno do Sono Induzido F15.8 anfetamina

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F15.9 Transtorno de Anfetaminas relacionadas Sem Outra Especificação [292,9]

- Cafeína Transtornos Relacionados

- Cafeína Transtornos Induzidos

F15.00 intoxicação por cafeína [305,90]

F15.8 Ansiedade induzida por cafeína

Transtorno do Sono Induzido F15.7 cafeína

F15.9 Transtorno relacionado à cafeína sem outra especificação [292,9]

- Cannabis Transtornos Relacionados

- Use Disorders Cannabis

Cannabis Unidade F12.2x [304,30]

Cannabis Abuso F12.1 [305,20]

- Cannabis Induzido por Distúrbios

F12.00 intoxicação [292,89]

F12.04 intoxicação com perturbações das percepções.

F12.03 Delirium por Intoxicação Cannabis

F12.xx Cannabis Transtorno Psicótico Induzido por

F12.8 Transtorno de Ansiedade Induzido por Cannabis

F12.9 Transtorno Cannabis Relacionados Sem Outra Especificação [292,9]

- Cocaína Transtornos Relacionados

- Use Disorders cocaína

F14.2x dependência de cocaína [304,20]

Abuso de cocaína F14.1 [305,60]

- Induzido por Cocaína Transtornos

F14.00 intoxicação por cocaína [292,89]

F14.04 intoxicação por cocaína com perturbações das percepções.

F14.3 abstinência de cocaína [292,0]

F14.03 Delirium Intoxicação com Cocaína

F14.xx transtorno psicótico induzido por cocaína

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F14.8 transtorno do humor induzido por cocaína

F14.8 Ansiedade induzida pela cocaína

F14.8 Induzido por Cocaína Disfunção Sexual

Transtorno do Sono Induzido F14.8 cocaína

F15.9 Transtorno Relacionado à Cocaína Sem Outra Especificação [292,9]

- Fenciclidina distúrbios relacionados

- Use Disorders Fenciclidina

Unidade F19.2x fenciclidina [304,90]

Abuso de fenciclidina F19.1 [305,90]

- Induzido por Fenciclidina Disorders

F19.00 intoxicação fenciclidina [292,89]

F19.04 intoxicação fenciclidina com perturbações das percepções.

F19.03 Delirium por Intoxicação Fenciclidina

F19.xx Transtorno Psicótico Induzido por Fenciclidina

F19.8 transtorno do humor induzido por fenciclidina

F19.8 Ansiedade induzida por fenciclidina

F19.9 Transtorno Fenciclidina Sem Outra Especificação relacionadas [292,9]

- Transtornos Relacionados ao Uso de inalantes (247)

- Use Disorders Inhalant

Inalantes Unidade F18.2x [304,60]

Abuso inalantes F18.1 [305,90]

- Inhalant Induzido por Distúrbios

F18.00 intoxicação inalantes [292,89]

F18.03 Delirium por Intoxicação Inhalant

F18.73 Inhalant Induzida Demência Persistente

F18.xx inalantes induzida transtorno psicótico

F18.8 transtorno do humor induzido por inalantes

F18.8 Ansiedade induzida por inalantes

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F18.9 Transtorno Relacionado Inhalant Sem Outra Especificação [292,9]

- A nicotina Transtornos Relacionados

- A nicotina transtornos por uso de

F17.2x Dependência da Nicotina [305,10]

- A nicotina induzida por distúrbios

Retirada da nicotina F17.3 [292,0]

F17.9 Transtorno de nicotina sem outra especificação [292,9]

- Uso de Opióides Transtornos Relacionados

- Use Disorders Opióides

Dependência de opiáceos F11.2x [304,00]

F11.1 abuso de opióides [305,50]

- Uso de Opióides Transtornos Induzidos

F11.00 intoxicação por opióides [292,89]

F11.04 intoxicação por opióides com perturbações das percepções.

Abstinência de opiáceos F11.3 [292,0]

F11.03 Delirium por Intoxicação Opióides

F11.xx transtorno psicótico induzida por opióides

F11.8 transtorno do humor induzido por opióides

F11.8 Disfunção Sexual induzida por opióides

Transtorno do Sono Induzido F11.8 Opióides

F11.9 Transtorno de Opióides relacionadas Sem Outra Especificação [292,9]

- Os distúrbios associados com sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos

- Use Disorders sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos

Sedativos unidade F13.2x, hipnóticos ou ansiolíticos [304,10]

F13.1 abuso de sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos [305,40]

- Distúrbios induzidos por sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos

F13.00 Intoxicação por sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos [292,89]

F13.3 retirada de sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos [292,0]

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F13.03 sedativos Intoxicação Delirium, hipnóticos ou ansiolíticos

F13.4 Delirium retirada dos sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos

F13.73 Induzida Persistindo Dementia sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos

F13.6 Transtorno Induzido por persistência de sedativos Amnéstico, hipnóticos ou ansiolíticos

Induzida Psicóticos Transtorno F13.xx sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos

F13.8 transtorno do humor induzido por sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos

F13.8 Transtorno de Ansiedade induzido por sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos

F13.8 induzida por desordem sexual sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos

Transtorno do Sono Induzido F13.8 Sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos

F13.9 Transtorno Relacionado sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos não especificado [292,9]

- Substâncias relacionadas com Transtorno de vários

F19.2x unidade de várias substâncias [304,80]

- Transtornos relacionados com a outra (ou desconhecida)

- Use outros distúrbios (ou desconhecida)

Unidade F19.2x outros (ou desconhecida) [304,90]

F19.1 abuso de outras substâncias (ou desconhecida) [305,90]

- Substância induzida por doenças (ou desconociodas)

F19.00 envenenamento por outras substâncias (ou desconhecida) [292,89]

F19.04 envenenamento por outras (ou desconhecida), com distúrbios de percepção

F19.3 retirada de outros (ou desconhecida) [292,0]

F19.03 Delirium Induzido por outros (ou desconhecida) [292,81]

F19.73 Induzida Demência Persistente outros (ou desconhecida) [292,82]

F19.6 Transtorno Induzido por persistência de outras Amnéstico (ou desconhecida) [292,83]

Transtorno psicótico induzido F19.51 outros (ou desconhecida), com delírios [292,11]

Transtorno psicótico induzido F19.52 outros (ou desconhecida) com alucinações [292,12]

F19.8 transtorno do humor induzido por outros (ou desconhecida) [292,84]

F19.8 Ansiedade induzida por outros (ou desconhecida) [292,89]

F19.8 induzida por desordem sexual outra (ou desconhecida) [292,89]

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MÓDULO 7 - PSICOPATOLOGIAS (PARTE II) - pág. 89


F19.8 Transtorno do Sono Induzido outros (ou desconhecida) [292,89]

F19.9 Transtorno relacionado a outros (ou desconhecida) não especificado [292,9]

* A esquizofrenia e outros transtornos psicóticos

Esquizofrenia F20.xx

Transtorno esquizofreniforme F20.8 [295,40]

Transtorno esquizoafetivo F25.x [295,70]

F22.0 Transtorno delirante [297,1]

F23.8x transtorno psicótico breve [298,8]

F24 Transtorno Psicótico Compartilhado (folie à deux) [297,3]

F06.x transtorno psicótico devido a uma doença médica

—.- Substância Transtorno Psicótico Induzido por

F29 transtorno psicótico sem outra especificação [298,9]

* Transtornos do Humor

Episódios de humor

Episódio Depressivo Maior

Episódio Maníaco

Episódio Misto

Episódio Hipomaníaco

- Transtornos Depressivos

F3x.x Transtorno Depressivo Maior [296.xx]

Transtorno Distímico F34.1 [300,4]

F32.9 Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação [311]

- Bipolar Disorders

F3x.x. Transtorno Bipolar I [296.xx]

F31.8 Transtorno Bipolar II [296,89]

Transtorno Ciclotímico F34.0 [301,13]

F31.9 Transtorno Bipolar Sem Outra Especificação [296,80]

F06.xx transtorno do humor devido a doença médica [293,83]

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—.– Mood Disorder Induzido por Substância

F39 Transtorno do Humor Sem Outra Especificação [296,90]

* Transtornos de Ansiedade

- O transtorno de pânico (transtorno do pânico)

F41.0 Transtorno de pânico sem agorafobia [300,01]

F40.01 desordem com agorafobia [300,21]

F40.00 Agorafobia sem história de transtorno do pânico [300,22]

F40.2 Fobia Específica [300,29]

F40.1 A fobia social [300,23]

F42.8 Transtorno obsessivo-compulsivo [300,3]

F43.1 transtorno de estresse pós-traumático [309,81]

F43.0 Transtorno de Estresse Agudo [308,3]

F41.1 Transtorno de ansiedade generalizada [300,02]

F06.4 Transtorno de Ansiedade Devido a uma doença médica [293,89]

—.– Transtorno de Ansiedade Induzido por Substância

F41.9 Ansiedade não especificados [300,00]

* Transtornos Somatoformes

F45.0 Transtorno de Somatização [300,81]

F45.1 Transtorno somatoforme indiferenciado [300,81]

F44.x Conversão Disorder [300,11]

Dor F45.4 Transtorno

F45.2 hipocondria [300,7]

Transtorno Dismórfico Corporal F45.2 [300,7]

F45.9 Transtorno somatoforme sem outra especificação [300,81]

* Transtornos Auto-Induzidos

Transtorno factício F68.1 [300.xx]

Transtorno factício sem outra especificação F68.1 [300,19]

* Transtornos Dissociativos

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F44.0 Amnésia Dissociativa [300,12]

F44.1 Fuga Dissociativa [300,13]

F44.81 transtorno dissociativo de identidade [300,14]

F48.1 Transtorno de Despersonalização [300,6]

F44.9 Transtorno Dissociativo Sem Outra Especificação [300,15]

* Doenças Sexual e identidade sexual

- Distúrbios Sexuais

Distúrbios sexuais desejo

Transtorno de Desejo Sexual Hipoativo F52.0 [302,71]

F52.10 distúrbio da aversão sexual [302,79]

- Distúrbios de excitação

F52.2 Transtorno de excitação sexual em mulheres [302,72]

F52.2 Transtorno de ereção em homens [302,72]

- Distúrbios Orgasmic

F52.3 Transtorno Feminino Orgasmic [302,73]

Perturbação do orgasmo masculino F52.3 [302,74]

F52.4 ejaculação precoce [302,75]

- Transtornos de dor sexual

F52.6 Dispareunia [302,76]

F52.5 Vaginismo [306,51]

- Disfunção Sexual Devido a uma médica

Desejo Sexual Hipoativo N94.8 mulheres por causa do a. .. (Indicar enf. Medical) [625,8]

N50.8 Desejo Sexual Hipoativo em homens por causa do a. .. (Indicar enf. Medical) [608,89].

N48.4 Transtorno de ereção no homem por causa do a. .. (Indicar enf. Medical) [607,84].

N94.1 a. dispareunia feminina devido .. (Indicar enf. Medical) [625,0].

Masculino Dispareunia N50.8 a. Devido .. (Indicar enf. Medical) [608,89].

N94.8 Outros transtornos sexuais femininos causou a. .. (Indicar enf. Medical) [625,8].

N50.8 Outros transtornos resultantes a. sexo masculino .. (Indicar enf. Medical) [608,89].

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- Induzido por Substância Disfunção Sexual

F52.9 Transtorno não especificado sexual [302,70]

- Parafilias

F65.2 Exibicionismo [302,4]

F65.0 Fetichismo [302,81]

F65.8 frotteur [302,89]

F65.4 Pedofilia [302,2]

F65.5 Masoquismo Sexual [302,83]

F65.5 Sadismo Sexual [302,84]

F65.1 Fetichismo travesti [302,3]

F65.3 Voyeurismo [302,82]

Parafilia não especificado F65.9 [302,9]

- Identidade de Gênero Transtornos

F64.x transtorno de identidade sexual [302.xx]

F64.9 Transtorno de Identidade de Gênero Sem Outra Especificação [302,6]

F52.9 Transtorno não especificado sexual [302,9]

* Os transtornos alimentares

F50.0 Anorexia nervosa [307,1]

F50.2 Bulimia nervosa [307,51]

F50.9 transtorno alimentar não especificado de outra forma [307,50]

* Os distúrbios do sono

- Primary Distúrbios do Sono

Dissonias

F51.0 Insônia Primária [307,42]

F51.1 Hipersonia Primária [307,44]

G47.4 Narcolepsia [347]

G47.3 Transtorno do Sono Relacionado à Respiração [780,59]

F51.2 Transtorno do ritmo circadiano [307,45]

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F51.9 Dissonias não especificado [307,47]

- Parassonias

F51.5 Pesadelos [307,47]

F51.4 terrores do sono [307,46]

F51.3 Sonambulismo [307,46]

Parassonia não especificado F51.8 [307,47]

- Os distúrbios do sono relacionados a outro transtorno mental

F51.0 Insônia relacionada a outro transtorno mental [307,42]

F51.1 Hipersonia relacionada a outro transtorno mental [307,44]

- Outros distúrbios do sono

G47.x distúrbio do sono devido a uma doença médica [780.xx]

—.– Transtorno do Sono Induzido por Substância

* Transtornos do controle dos impulsos não classificados em outra parte

Transtorno Explosivo Intermitente F63.8 [312,34]

F63.2 Cleptomania [312,32]

F63.1 Piromania [312,33]

F63.0 Jogo patológico [312,31]

F63.3 Tricotilomania [312,39]

F63.9 Transtorno de controle dos impulsos, não especificado [312,30]

* Transtornos de Ajustamento

F43.20 Com humor deprimido [309,0]

F43.28 Com ansiedade [309,24]

F43.22 Mixed ansiedade e humor deprimido [309,28]

F43.24 Com distúrbio de comportamento [309,3]

F43.25 Com Perturbação Mista das Emoções e Conduta [309,4]

F43.9 Unspecified [309,9]

* Transtornos da Personalidade

F60.0 Transtorno da Personalidade Paranóide [301,0]

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F60.1 Transtorno da Personalidade Esquizóide [301,20]

Transtorno de personalidade esquizotípico F21 [301,22]

F60.2 Transtorno da Personalidade Anti-Social [301,7]

F60.31 Transtorno da Personalidade Borderline [301,83]

F60.4 Transtorno da Personalidade Histriônica [301,50]

F60.8 Transtorno da Personalidade Narcisista [301,81]

F60.6 Transtorno da Personalidade Esquiva [301,82]

F60.7 Transtorno da Personalidade Dependente [301,6]

F60.5 transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo [301,4]

F60.9 Transtorno de personalidade não especificado [301,9]

* Outros problemas que podem ser do atendimento clínico

- Fatores Psicológicos que Afetam a Condição Médica

F54 Fatores Psicológicos que Afetam a Condição Médica [316]

- Distúrbios Motor induzida por drogas

Induzida por neurolépticos G21.1 Parkinsonismo [332,1]

Síndrome neuroléptica maligna G21.0 [333,92]

G24.0 induzida por neurolépticos distonia aguda [333,7]

G21.1 acatisia induzida por neurolépticos aguda [333,99]

G24.0 discinesia tardia induzida por neurolépticos [333,82]

G25.1 tremor induzido por drogas postural [333,1]

Induzida por drogas G25.9 Transtorno não especificado do motor [333,90]

- Outras doenças induzidas por drogas

T88.7 efeitos adversos das drogas não especificado [995,2]

- Problemas de relacionamento

Z63.7 Problema relacionado com um distúrbio associado com a saúde mental ou doença [V61.9]

Pai-filho Z63.8 Problemas [V61.20]

Z63.0 problemas conjugais [V61.1]

Problema de relacionamento entre irmãos F93.3 [V61.8]

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Z63.9 Problema não especificado relacionado [V62.81]

- Problemas relacionados com abuso ou negligência

Abuso físico de crianças T74.1 [V61.21]

Abuso Sexual Infantil T74.2 [V61.21]

Negligência da infância T74.0 [V61.21]

Abuso físico de adulto T74.1 [V61.1]

T74.2 o abuso sexual [V61.1]

- Problemas adicionais que podem estar sujeitos a receita médica

Não Z91.1 terapêutica [V15.81]

Simulação Z76.5 [V65.2]

Comportamento anti-social adulto Z72.8 [V71.01]

Z72.8 comportamento anti-social na infância ou adolescência [V71.02]

R41.8 limite de capacidade intelectual [V62.89]

R41.8 comprometimento cognitivo relacionado à idade [780,9]

Z63.4 Duel [V62.82]

Problema acadêmica Z55.8 [V62.3]

Trabalho Z56.7 problema [V62.2]

Problema identidade F93.8 [313,82]

Problema espiritual ou religioso Z71.8 [V62.89]

Z60.3 Problema de aculturação [V62.4]

Z60.0 problema biográfico [V62.89]

* Códigos adicionais

F99 Transtorno não especificado Mental (não psicótica) [300,9]

Z03.2 Nenhum diagnóstico ou condição no Eixo I [V71.09]

R69 diagnóstico ou condição diferido no Eixo I [799,9]

Não Z03.2 diagnóstico no Eixo II [V71.09]

R46.8 Diagnóstico diferidos no Eixo II [799,9]

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Avaliação em Psiquiatria

Em cada um dos casos a seguir, escreva as suas impressões diagnósticas,


descrevendo os diagnósticos diferenciais, e a sua conduta, como psicanalista,
perante um paciente com esta história (encaminhamento, proposta terapêutica,
etc.)

Caso 1:

Paciente do sexo masculino, 30 anos, casado há três anos, sem filhos, auxiliar
de produção. Vem à consulta acompanhado da mãe. Queixa-se de estar “muito
nervoso”, tendo piorado progressivamente nos últimos meses. Refere ter
“explosões”, muitas vezes por motivos fúteis e às vezes tem consciência da
desproporção de suas reações, após as mesmas.

Há mais ou menos 2 meses vem tendo a idéia de que sua esposa o está
traindo, embora a mesma nunca tenha lhe dado motivo para tal desconfiança, e
tem consciência deste fato. Refere saber ser verdade que a esposa não o trai,
porém não consegue evitar tal idéia. Tem sido agressivo, chegando a agredi-la
por trás, arremessando um copo de vidro contra suas costas.

Refere que seus sintomas o têm prejudicado também no trabalho, onde notou
uma diminuição de rendimento, que não sabe se é percebida pelos superiores.
Não tem mais contato praticamente nenhum com seus colegas de trabalho,
ficando isolado a maior parte do tempo.

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Refere fazer uso de bebidas alcoólicas há vários anos, e há 8 a 10 anos
ingerindo diariamente um mínimo de 3 garrafas de cerveja e nos finais de
semana chegando a mais de 24 garrafas de cerveja. Refere também já ter feito
uso de cocaína, por um período de aproximadamente 1 ano, tendo
interrompido o uso há uns 7 meses.

Sua mãe relata que o paciente teve uma convulsão com 2 anos de idade,
única, tendo feito tratamento até os 6 anos de idade, tendo um
desenvolvimento psicológico, motor e intelectual normal, sendo por ela
considerado “sempre um bom menino”.

O paciente ainda relata dificuldade para dormir, demorando a iniciar o sono, e


com múltiplos despertares durante a noite, sentindo-se cronicamente cansado.

Ao exame, o paciente mostra-se agitado, com fala acelerada e em tom alto e


agressivo, com as conjuntivas avermelhadas, e uma tendência e não parar de
movimentar suas mãos, ora mexendo nos objeto sobre a mesa ora apertando
seus próprios antebraços. O exame clínico geral e neurológico são normais.

Caso 2:

Paciente de sexo feminino, 42 anos, separada há 4 anos, com dois filhos


(menino de 14 anos e menina de 17 anos), dona de casa, vem à consulta
acompanhada pela mãe.

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Queixa-se de “depressão”, dizendo ter sido diagnosticada como tal por médica
psiquiatra, tendo sido receitado “Tryptanol”, que refere “não fazer efeito”, tendo
interrompido o tratamento por conta própria, não mais voltando para novas
consultas com sua médica (foi a um total de três consultas). Refere “não ter
vontade de fazer nada”, sem ânimo para sair, mesmo para realizar tarefas
simples. Diz permanecer sozinha, isolada, sem conversar até mesmo com seus
filhos.

Refere ter vontade de chorar, porém não o faz, nem sozinha, nem quando na
presença de familiares.

Nega alteração significativa do sono, porém às vezes acorda de madrugada,


com certa dificuldade para voltar a dormir. Às vezes tem a impressão de que as
pessoas de seu convívio estão a perseguindo, culpando-a por todas as
discussões e todos os problemas. A paciente não se sente especialmente
culpada, e ao contrário, insiste em atribuir falhas e culpas a várias pessoas de
seu convívio, inclusive seus filhos, sua mãe, e seu ex-marido. Acredita que
seus sintomas são “naturais”, e que “qualquer pessoas que passe tanta raiva”
quanto ela ficaria do mesmo modo.

Durante a entrevista,a paciente não mostra expressões faciais que denotem


angústias falando em um tom casual dando a impressão de que está narrando
eventos e situações de pouco ou nenhum conteúdo emocional. Muitas vezes,
ao ser questionada especificamente sobre algum detalhe, responde com
informações inteiramente diversas. Quando questionada sobre seu sono, por
exemplo, respondeu dizendo que seus filhos adolescentes “dão muito trabalho,
não é doutor?”

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Muitas vezes interrompe a seqüência de idéias, mudando rapidamente de
assunto, sem concluir seu raciocínio inicial.

A sua atenção está diminuída, em relação ao examinador, evitando contato


visual, geralmente permanecendo com o olhar “perdido”, mesmo enquanto está
respondendo a questões ou formulando-as. Nos demais aspectos, não
apresenta alterações de exame físico geral nem neurológico.

Alguns dias depois da primeira entrevista, sua mãe retorna com a irmã da
paciente, e ambas relatam que a mesma passou a se comportar com
“explosões” de agressividade, muitas vezes gratuita, chegando a agredir
fisicamente seu filho, sem motivo aparente, e sem dizer a razão para tal ato.
Após alguns momentos, volta ao normal, como se nada houvesse ocorrido. Em
outra ocasião, telefonou à sua mãe apenas para dizer que estava “ótima”, e
que “tudo está muito bem”, desligando a seguir, sem maiores explicações.

Caso 3:

Paciente de sexo masculino, de 42 anos, trazido à sala de emergência pela


polícia, por ter se envolvido em uma discussão e briga no restaurante onde
trabalha. Ao ser interrogado pela polícia, deu o nome de Pedro dos Santos,
mas não tinha nenhum documento de identidade. Ele chegou à cidade há
algumas semanas, e começou a trabalhar na cozinha, preparando refeições
rápidas. Dizia não se recordar onde trabalhara ou vivera antes de sua chegada
à cidade. Não possuía ficha policial. Sabia o nome da cidade onde estava e a
data atual. Admitiu ser algo incomum sua incapacidade para recordar os
detalhes da sua vida pregressa, mas não parecia muito abalado com isso.

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Não havia evidência de abuso de álcool ou drogas, e um exame físico
descartou traumatismo craniano ou qualquer outra anormalidade física ou
neurológica.

A policia emitiu uma descrição do homem, e descobriu que se ajustava à


descrição de José Paulo de Oliveira, desaparecido há um mês de uma cidade
há mais de 100 quilômetros dali.

Uma visita da Sra. Oliveira confirmou a identidade do paciente como José


Paulo de Oliveira. A Sra. Oliveira explicou que, por um ano e meio antes de seu
desaparecimento, o marido trabalhara como gerente júnior em uma grande
empresa, tendo dificuldades consideráveis no trabalho. Foi ignorado para uma
promoção, e recebeu duas críticas de seu supervisor em seu trabalho. Vários
de seus subordinados haviam pedido demissão, e o paciente considerava
impossível atingir os objetivos de produção.

O estresse no trabalho tornou difícil a convivência com o paciente, em casa.


Anteriormente uma pessoa calma e gregária, tornou-se retraído e crítico com
relação à esposa e aos filhos. Imediatamente antes do seu desaparecimento,
teve uma violenta discussão com o filho de 18 anos. O filho chamou-o de
“fracassado” e saiu de casa para viver no apartamento de alguns amigos. Dois
dias após esta discussão, o paciente desapareceu.

Ao ser levado à sala onde sua esposa o esperava, o paciente declarou que não
a conhecia, parecendo visivelmente ansioso, com sudorese intensa,
esfregando suas mãos uma sobre a outra com freqüência.

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Caso 4:

Paciente de 20 anos, solteira, estudante universitária, no início do ano de 2000


iniciou quadro progressivo de “tristeza”, direcionada especificamente a
problemas na faculdade, sem afetar seu relacionamento amoroso (tem um
namorado “fixo” há bastante tempo), nem tampouco os relacionamentos
familiares, onde desfruta ambiente especialmente harmônico. Os
relacionamentos com amigos e colegas de faculdade também permaneceram
bons, porém relata progressiva diminuição da vontade de sair ou divertir-se, e
em especial em relação aos estudos, chegando a “trancar matricula” no
primeiro semestre de 2000.

Em maio de 2000 iniciou tratamento com Fluoxetina 20mg/dia, e psicoterapia


com utilização de hipnoterapia e técnicas de inspiração psicanalítica de Maio a
Agosto de 2000. Foram utilizadas técnicas de regressão, sem no entanto
conseguir-se identificar episódios traumáticos que pudessem ser imputados
como fatores para o quadro.

Utilizadas também sucessivamente metáforas, intercaladas com sessões de


discussões, de modo mais pragmático, de seus problemas e possíveis
soluções, mostrando melhora progressiva dos sintomas.

Em Agosto mostrava-se bem, com excelente reintegração social, sendo


reduzida e suspensa medicação antidepressiva, permanecendo bem por
aproximadamente 6 meses, sem medicação.

Em Janeiro de 2001, após quadro de gastroenterite aguda, iniciou episódios de


“medo” intenso, associado a dispnéia, sensação precordial pouco definida,

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náuseas e dor abdominal, e a idéia obsessiva de que qualquer alimento iria
“fazer mal”, de que iria ficar doente e morrer. Passou agudamente a ter medo
de dirigir e de ficar sozinha, mas nega sensações de tristeza ou diminuição da
volição, bem como ideações suicidas.

As crises têm aparecido espontaneamente, mas a maior parte das vezes está
associada ao alimentar-se, ou até à simples idéia de comer, tendo chegado ao
ponto de ingerir líquidos, e ainda assim com muitas restrições.

Caso 5:

Paciente do sexo feminino, 29 anos, mãe de dois filhos, solicitou autorização


médica para uma cirurgia para retirada de cistos nas mamas. Descreveu os
cistos como aumentando rapidamente, e insuportavelmente dolorosos.
Enquanto chamava a atenção para os seus seios, observou: “São tão grandes
e tão sensíveis ao toque. Que simplesmente não consigo ter relações – nem
pensar nisso”.

Ela também sentia uma dor lombar incapacitante, que se irradiava para baixo,
e fazia suas pernas “cederem” subitamente, fazendo-a cair. Ao dizer isso, fez
um trejeito de dor, acrescentando: “Ah, lá vem de novo, minhas costas doem o
tempo todo. A dor é tão forte que afeta o meu relacionamento com as crianças.
Uma dor assim transforma qualquer pessoa em uma fera”. (Ela estivera,
anteriormente sob suspeita de abusar dos filhos). Também queixou-se de “falta
de ar” e de uma tosse seca, que não a deixavam subir ladeiras.

Sua história médica começou na puberdade, com dor e excesso de


sangramento às menstruações. Aos 18 anos realizou uma cirurgia exploratória

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para um possível cisto ovariano, e sofreu outra intervenção cirúrgica,
posteriormente, por suspeita de aderências intestinais. Também tinha uma
história de sintomas recorrentes do trato urinário, embora jamais tenha sido
claramente documentada a presença de microorganismos. Teve um resultado
normal no exame para “aumento da tireóide”. Em diferentes ocasiões, recebeu
os diagnósticos de cólon espástico, enxaqueca e endometriose.

Dois casamentos, ambos com homens alcoólatras e abusivos que se


recusaram a pagar pensão alimentícia para os filhos, terminaram em divórcio.
Ela perdeu vários empregos, por causa de excessivas faltas ao trabalho.
Durante os períodos em que se sentia pior, passava a maior parte do dia em
casa, em trajes de dormir, enquanto os parentes cuidavam das crianças.
Tinham uma história de dependência de “calmantes” e narcóticos, e afirmou
que começara a usar analgésicos para sua dor nas costas e “exagerei com
eles”.

O exame físico revelou inconsistências no tecido mamário, mas nenhuma


massa claramente evidente, e os achados da mamografia foram normais.

Caso 6:

Dona-de-casa de 46 anos, encaminhada para consulta pelo Psiquiatra de seu


esposo. O marido contou que a esposa tinha ataques de tontura que a
deixavam incapacitada, quando discutiam conflitos conjugais.

Em sua consulta, a paciente descreveu a impressão de ser dominada por


sensações de extrema tontura, acompanhada por ligeira náusea, quatro ou
cindo noites por semana. Durante esses ataques, o aposento à sua volta

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assumia uma aparência “fugidia”, e ela sentia-se flutuando, incapaz de manter
seu equilíbrio.

Inexplicavelmente, os ataques quase sempre ocorriam por volta das 16 horas.


Ela geralmente precisava deitar-se no sofá e freqüentemente não se sentia
melhor até às 19 ou 20 horas. Após sua recuperação, habitualmente passava o
resto da noite assistindo à televisão. Com maior freqüência, adormecia na sala,
não indo para cama antes das 2 ou 3 horas.

Foi considerada saudável fisicamente por seu Clínico, por um Neurologista, e


um Otorrinolaringologista, em mais de uma ocasião. Exames de sangue,
incluindo testes de tolerância à glicose, e de neuroimagem (incluindo
Ressonância Magnética do encéfalo) não mostraram qualquer anormalidade.

Indagada sobre seu casamento, a paciente descreveu o marido como um


tirano, freqüentemente fazendo exigências e abusando dela e dos quatro filhos.
Admitiu que detestava a chegada dele em casa, sabendo que ele comentaria
que a casa estava desarrumada e o jantar, se estivesse preparado, não lhe
agradava. Desde o começo de seus ataques, quando fica incapacitada de
preparar o jantar, o marido e os quatro filhos jantam e lanchonetes ou pizzarias.
Ao voltarem, ele acomoda-se para assistir a algum programa de televisão no
quarto, e as conversar entre os dois são mínimas. Apesar disto, a paciente
declarou que ama e necessita muito do marido.

Caso 7:

Estudante universitário sexo masculino, 20 anos, queixou-se ao seu Clínico de


dificuldades para estudar porque nos últimos seis meses, tornara-se

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progressivamente preocupado com pensamentos que não conseguia afastar.
Toda noite passava horas repassando os eventos do dia, especialmente
interações com amigos e professores interminavelmente corrigindo, em sua
mente, todos os erros e enganos. Descreveu o processo como sendo
semelhante a tocar uma a fita de vídeo de cada acontecimento repetidas
vezes, em sua mente, indagando a si mesmo se se comportara
apropriadamente e dizendo a si mesmo que dera o melhor de si ou dissera a
coisa certa a cada momento do dia. Ele fazia isso sentado à sua escrivaninha,
supostamente estudando; não raro olhava para o relógio após um desses
períodos de ruminação e percebia que, para sua surpresa, duas ou três horas
haviam se passado. Suas notas, em declínio, o preocupavam.

Quando questionado, admitiu um ritual de duas horas para se aprontar quando


ia encontrar-se com amigos. Da mesma forma, barbear-se, tomar banho,
pentear os cabelos e vestir-se eram atos que exigiam perfeição. Além disso,
por vários anos era perseguido por certas superstições que terminaram por
dominar sua vida diária, que incluíam evitar certos prédios enquanto
atravessava o campus, sentar-se sempre no terceiro assento da quinta fileira
em sua sala de aula e alinhar seus livros e lápis em uma certa configuração
sobre a carteira, antes de estudar.

CAUSAS DO COMPORTAMENTO ANORMAL

Ao discutir a dinâmica do desenvolvimento e do ajustamento da


personalidade, como ao descrever o que ocorre quando a tensão se torna
excessivamente severa, preparamos o caminho para um exame das causas
do comportamento anormal – desenvolvimento deficiente e tensão excessiva.

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Para compreender a causa, é muitas vezes útil dividir os fatores causais em
categorias biológicas e sociológicas. As perturbações mentais que
reconhecidamente se baseiam em patologia do cérebro – por exemplo,
infecção sifilítica do cérebro ou degeneração cerebral na senilidade – são
denominadas orgânicas ou biogênicas. Quando não existe patologia cerebral
conhecida e a perturbação se baseia, presumivelmente, em suposições
falsas, capacidades inadequadas e outras condições que levam a reações
desajustadoras à tensão, perturbação é denominada psicogênicas.
Finalmente, existem perturbações cuja natureza é fundamental sociogênica –
em que os fatores sociológicos, por exemplo, as privações econômica e
cultural, provocam deformações no desenvolvimento ou criam tensões
excessivamente grandes para o ajustamento saudável. No entanto, quando
os fatores biológicos, psicológicos ou sociológicos desempenham o papel
dominante, lidamos sempre com uma interação de determinantes que
contribuem, em graus diferentes para a perturbação mental.

Os fatores causais são também freqüentemente divididos em causas que


precipitam e causas que predispõem à doenças. Os fatores de predisposição
aparecem antes e preparam o caminho para psicopatologia posterior, pois
reduzem a capacidade de ajustamento do indivíduo – por exemplo, no caso
de fadiga ou superproteção dos pais. As causas precipitantes representam a
condição específica – por exemplo, doença cerebral ou decepção amorosa –
que foi excessiva para o indivíduo e precipitou os sintomas. Em determinado
caso o padrão exato de causas de predisposição e precipitação pode não
estar claro, e o que precipita os sintomas de hoje pode tornar-se um fator de
predisposição para o comportamento de amanhã.

Fatore constitucion
s ais e Relação com o desenvolvimento anormal

comportamento anormal

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Fator constitucional físico Seu papel não está esclarecido, mas

desproporções do corpo, fraqueza e


feiúra

parecem ligadas mais comumente à

psicopatologia do que robustez e aspecto

físico atraente.

Nível de energia e Aparentemente ligado ao fato de o


atividade indivíduo

desenvolver reações agressivas ou


mais

interiorizada à tensão; assim se liga ao


tipo

de perturbação apresentada se o
indivíduo

ficar mentalmente
doente.

Reatividades Autônomas Elevada reatividade emotiva talvez esteja

ligada a reação excessiva a pequenas e

formaç temor
ão de es condicionados

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desnecessários reativida
; de emotiva

deficien talv socializaç


te ez leve à ão

inadequada através de poucas reações

condicionais.

Plasticidade do corpo Ajuda a determinar a tolerância a tensão

Resistência à infecção biológica, bem como qual sistema de órgãos

será mais vulnerável a perturbações em

sistema do corpo ligado ao funcionamento

cerebral
.

Sensibilidade Determina, em parte, os tipos de tensão a

que a criança é mais vulnerável, e o grau de

tensão que pode tolerar sem desorganização

do comportamento. Influi na maneira de a

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criança perceber o
mundo.

Dotação intelectual, outras


aptidões Influi nas oportunidades de triunfo da criança,

quando colocada em competição, e assim

influi também na auto confiança baseada em

realizaç
ão.

Tabela sumária de relações defeituosas entre pais e


filhos

Condição indesejável Desenvolvimento típico da personalidade da

criança

Rejeição Sentimentos de insegurança e isolamento.

negativismo
Busca de atenção, ,

comportamento hostil. Incapaz de dar e

receber afeição.

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Superproteção – domínio Submissão, inadequação, falta de iniciativa,

tendência para dependência passiva nas

relações com outros.

Egoísm par
Mimo excessivo o, exigência, incapacidade a

tolerar frustração. Rebelde diante da

autoridad necessidad
e, excessiva e de

atenção, falta de responsabilidade.

Perfeccionismo –
ambições não- A criança interioriza os padrões não-realistas

realistas para a criança dos pais o fracasso inevitável leva à

frustração contínua, sentimento de culpa,

auto condenação e auto


desvalorização.

Padrões morais rígidos e Desenvolviment extre d


não realistas o mo e consciência

moral. Tendência para rigidez conflitos

graves auto e
condenaçã aut

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o o

desvalorização.

Disciplina defeituosa Excesso de liberdade ligado à insegurança,

agressividade anti-social. A disciplina severa

geralmente leva a excessiva condenação do

eu por comportamento agressivo, a disciplina

incoerente geralmente resulta em falta de

valores estáveis para a orientação do

par
comportamento, com tendência a

incoerência e vacilação ao enfrentar

problema
s.

Rivalidade entre irmãos Hostilidade direta ou indireta, insegurança,

falta de auto confiança, regressão.

Desavença conjugal e
lares desfeitos Angústias, tensão, insegurança, falta de uma

base segura no lar, tendência para avaliar o

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mundo como um lugar perigoso e inseguro.

Lealdades conflitivas, falta de modelos

par
adequados a o desenvolvimento

adequado do ego.

Os pais como modelos


deficientes Interiorização de atitudes de valores imorais

e socialmente indesejáveis, que

freqüentemente levam problemas com a

justiça.

Perturbações neuróticas

Nas perturbações neuróticas, encontraremos tendências patológicas de


desenvolvimento no interior da personalidade do indivíduo que levam a
avaliações errôneas de problemas ambientais, a conflitos graves e a maus
ajustamentos pessoais e sociais. Quase sempre tais tendências patológicas
mostram uma longa história de desenvolvimento, que geralmente começa em

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relações defeituosas entre pais e filhos; estas conduzem a atitudes imaturas
e deformadas com relação ao eu e ao mundo ambiente. Conseqüentemente,
diante de situações de tensão que quase todos poderiam enfrentar
satisfatoriamente, tais indivíduos sentem angústia grave e passam a
empregar padrões neuróticos e doentios em defesa. As respostas neuróticas
a tais tensões podem apresentar muitas formas – por exemplo, ataques de
angustias, fobias e obsessões. Os neuróticos são angustiados, infelizes e
ineficientes, que geralmente não precisam de hospitalização, mas apesar,
disso, precisam de muito auxilio psicológico.

O núcleo Neurótico

A seqüência fundamental no desenvolvimento das perturbações neuróticas


geralmente segue o seguinte esquema: a) desenvolvimento defeituoso da
personalidade – imaturidade, deformações – de que resultam fraquezas
específicas na estrutura de personalidade; b) avaliação de algumas tensões
comuns da vida como se fossem terrivelmente perigosas e ameaçadoras; c)
aparecimento de severa angústia; d) desenvolvimento de padrões neuróticos
de defesa para enfrentar as ameaças e as angústias; e) finalmente, círculos
viciosos, com redução de eficiência e grande número de sintomas
secundários – por exemplo, fadiga crônica e insatisfação.

Encontra-se a mesma seqüência, seja quando empreendimento – seja


quando decorrem do mundo externo – por exemplo, fracasso em algum
empreendimento – seja quando decorrem da vida interior, por exemplo, de
hospitalidade reprimida ou de desejos sexuais. O fator fundamental em
qualquer caso é a angustia intolerável, provocada quando os aspectos
vulneráveis da personalidade são colocados sob tensão e a adequação
básica e o valor da personalidade são ameaçadas.

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Embora seus sintomas específicos apresentem muita variação, os neuróticos
têm em comum algumas características da personalidade, decorrentes de
imaturidade, fraquezas e avaliações defeituosas de si mesmo e de seus
problemas.

CARACTERÍSTICAS DA PERSONALIDADE NEURÓTICA

1. Inadequação e baixa tolerância de tensão

O neurótico se vê como basicamente inadequado. Isso é geralmente


indicado pela necessidade de apegar-se a outros para conseguir apoio. Em
alguns, no entanto, tentando negar sua inadequação ao lutar para vencer e
dominar os outros.

Freqüentemente seus sentimentos subjacentes de inadequação se manifestam


numa busca desesperada de conjugue forte e vital, que torne sua vida
aparentemente segura e significativa. Nem é preciso dizer que tais esperanças
geralmente estão destinadas a desilusão, por causa das insuficiências
pessoais do neurótico.

2. Angústia e temor

Como o neurótico enfrenta várias tensões que percebe como ameaçadas, a


angústia é um fator difuso, subjacente a todas as neuroses. Às vezes a
angústia é aguda – por exemplo, em ataques de angústia – mas é mais comum
que o neurótico crie várias defesas para reduzi-la. Tais defesas, no entanto,
raramente são adequadas, e usualmente continua a haver considerável
quantidade de angústia e temor. Freqüentemente a angústia do neurótico é

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intensificada por seus sintomas, por ele reconhecidos como irracionais, mas
que não pode controlar. Além disso, os temores e conflitos subjacentes,
controlados pela defesa neurótica podem aparecer de vez em quando e
apresentar a terrível possibilidade de um colapso de toda a estrutura defensiva.
Freqüentemente isso é representado simbolicamente por temores irracionais
de acidente, doença ou insanidade.

3. Tensão e irritabilidade

Como o neurótico está ironicamente angustiado e amedrontado, está


continuamente mobilizado para a ação defensiva e pronto a reagir
excessivamente a pequenos aborrecimentos e contratempos que a pessoa
normal superaria sem dificuldades. Além disso, sua contínua mobilização leva
a um aumento da tensão geral do corpo, o que é também desagradável e
perturbador.

4. Egocentrismo e relações interpessoais perturbadas

O egocentrismo, a irritabilidade e a inadequação fundamental do neurótico


impedem que forme relações satisfatórias com outras pessoas e faz com que
fique cego para os sentimentos dos outros, bem como para seu papel nessas
relações insatisfatórias. Freqüentemente faz exigências irrealistas àqueles que
o cercam, e tenta encontrar em sua identificação, sua afeição e sua aprovação,
a segurança que não sente em si mesmo. Mas como suas insaciáveis,
representam uma carga impossível para os outros e, finalmente, estes tendem
a afastá-lo. Esta rejeição, por sua vez, aumenta a insegurança, a hostilidade e
a desconfiança do neurótico.

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5. Rigidez e falta de auto conhecimento

Embora o neurótico possa queixar-se de seus sintomas, geralmente tem pouca


compreensão das causas da sua dificuldade ou da inadequação de suas
reações. Pode admitir que seu medo de reuniões sociais seja um
aborrecimento irracional, mas não sabe por que sente isso, nem como pode
livrar-se de tal aborrecimento. A rigidez e a falta de auto conhecimento do
neurótico também levam a sentido reduzido da realidade. Isso se reflete não
apenas em sua incapacidade para avaliar objetivamente sua situação e
perceber maneiras mais eficientes para enfrentá-las, mas também num sentido
pouco claro do eu. Como continuamente reage de acordo com formas que não
compreende, mas é incapaz de evitar, não é surpreendente que sinta certa
confusão quanto à sua auto identidade.

6. Insatisfação e infelicidade

Por causa de seus temores, suas preocupações, conflitos e orientação geral a


vida, os neuróticos tendem a serem tensos pessimistas e, de modo geral,
insatisfeitos com sua situação de vida. Geralmente têm vagos sentimentos de
que algo está faltando ou de que algo está errado, mas não são capazes de
localizar a origem de sua dificuldade.

7. Sintomas psicológicos e somáticos

Os neuróticos apresentam grande amplitude de sintomas psicológicos e


somáticos. Num nível psicológico, encontramos angústia, preocupações,
fobias, obsessões, compulsões e outros sintomas que descreveremos logo
adiante. Aqui, deve-se indicar que as manobras neuróticas de defesa – por
exemplo, as fobias e obsessões – são também sintomas. Entre os sintomas

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somáticos devem ser mencionados: tensão, fadiga, indigestão, maior
freqüência de micção, contrações musculares, suor excessivo, palpitações
cardíacas, dores de cabeça ocasionadas por tensão, sensações de sufocação
e um conjunto de dores vagas. O exame médico geralmente não revela base
orgânica para tais queixas, mas o neurótico freqüentemente as interpreta como
prova de patologia orgânica e tem muita preocupação hipocondríaca.

REAÇÃO DE ANGÚSTIA

Este é o mais comum dos vários padrões de reação neurótica, e constitui


aproximadamente de 30 a 40 por cento de todas as perturbações neuróticas.
Caracteriza-se por angústias e preocupações crônicas, que podem sem
acentuadas por repetidos episódios de angústia aguda. Nem a expectativa
angustiada e nem os ataques de angústia aguda parecem decorrer de qualquer
ameaça específica. Esta reação difere de outras reações neuróticas pelo fato
de a angústia ser sentida diretamente – por isso se diz que a angústia é “livre”
ou “flutuante”. Em outras reações neuróticas a angústias se reduz pelo
desenvolvimento de fobias, obsessões e outras reações de defesa. O neurótico
angustiado está, em grande parte, sem tais defesas e, por isso, está à mercê
de sua angústia.

Sintomas

Nas reações de angústias existe um estado relativamente constante de tensão,


inquietação e mal estar difuso. O indivíduo apresenta irritabilidade
generalizada, tem dificuldade para concentrar e sofre de insônia. Geralmente
tem dificuldade para tomar decisões e teme a possibilidade de cometer um
erro. Pode haver náusea branda, perda de apetite e alguma perda de peso.
Pode ter palpitações de coração sem razão aparente, e pode apresentar
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mudanças cardiovasculares – por exemplo, pressão arterial e ritmo mais rápido
de pulso. Fundamentalmente, o individuo sofre de um estado crônico de alarme
e mobilização.

REAÇÃO ASTÊNICA (neurastenia)

Uma reação astênica se caracteriza por fadiga crônica, física e mental, e por
um conjunto de dores. Não há acordo entre as estimativas de incidência, mas
as reações astênicas, pelo menos em forma branda, são relativamente comuns
e provavelmente representam 10 por cento ou mais das perturbações
neuróticas. De modo geral, adultos de meia idade – sobretudo donas de casa
frustradas – aparecem os mais à neurastenia. As reações neurastênicas são
também mais comuns em níveis sócio econômicos mais baixos.

Sintomas

Nas reações astênicas a queixa fundamental do paciente é a fadiga física e


mental. Tem dificuldade para concentração, distrai-se facilmente, não tem o
vigor necessário para realizar atividade até a sua completação satisfatória.
Mesmo tarefas secundárias parecem exigir esforço bérculeo. Usualmente gasta
muito tempo em sono, numa tentativa de combater a fadiga; no entanto, apesar
da quantidade de sono acorda cansado.

Além da fadiga crônica, o neurastênico geralmente tem várias outras queixas


somáticas: dor ou “peso” na cabeça, indigestão, dores na região dos rins,
pequenas tonturas, sensibilidade excessiva a pequenas irritações, sensações
de fraqueza.

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REAÇÃO DE CONVERSÃO (histeria)

A reação de conversão ou histeria é uma defesa neurótica em que aparecem


sintomas de algumas doenças físicas, sem que exista qualquer patologia
orgânica subjacente. É um dos mais estranhos e desconcertantes síndromes
psicopatológicos.

Sintomas

Numa época em que os médicos já não acreditam que alguém “fique” cego,
mudo ou paralítico, de repente os pacientes apresentam menos tais sintomas e
maior número de dores e queixas vagas, mas dificilmente diagnosticadas como
funcionais. No entanto, as reações de conversão podem simular grande
amplitude de doenças orgânicas, e são muito numerosos os sintomas
específicos que podem aparecer.

1. Sintomas sensoriais

Qualquer um dos sentidos pode ser incluído em reações de conversão. As


formas mais comuns são as seguintes:

● Anestesia – perda de sensibilidade


● Hipoestesia – perda parcial da sensibilidade
● Hiperestesia – sensibilidade excessiva
● Analgesia – perda de sensibilidade à dor
● Paretesia – sensações excepcionais – por exemplo, vibrações

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Reações dissociativas

As reações dissociativas, freqüentemente classificadas como um tipo de


histeria inclui amnésia, fugas, personalidade múltipla e sonambulismo. Em
todos esses casos, o paciente consegue afastar, parte de sua vida. Embora
tais condições estejam muito relacionadas e sigam padrões dinâmicos
semelhantes aos das reações de conversão, merecem consideração separada
e minuciosa. As reações dissociativas – como a exclusão do sonambulismo –
correspondem a menos de cinco por cento de todas as perturbações
neuróticas.

Sintomas

Na reação de amnésia típica, o paciente não pode lembrar seu nome, não sabe
sua idade nem sua residência, não reconhece os pais, parentes ou amigos.
Apesar disso, seus padrões de hábito – por exemplo, capacidade para
escrever, falar e assim por diante – continuam intatos, e com a exceção da
amnésia, parece muito normal.

No estudo de amnésia, o indivíduo pode afastar-se ainda mais de seus


problemas, ao apresentar o que se denomina “estado de fuga”.

REAÇÃO DE FOBIA

Uma reação de fobia é um medo contínuo de algum objeto ou situação que não
apresentam perigo real para o paciente, ou em que o perigo é aumentado
desproporcionalmente com relação à sua gravidade real. A lista seguinte de

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fobias comuns e seus objetos dão certa indicação da variedade de situações e
objetos em torno do quais as fobias podem centralizar-se:

● Acrofobia – lugares altos


● Agarofobia – lugares abertos
● Algofobia – dor
● Astrofobia – tempestades, trovão e relâmpagos
● Claustrofobia – lugares fechados
● Monofobia – estar só
● Nictofobia – escuridão
● Patolfobia – doença
● Pirofobia – fogo
● Sifilofobia – sífilis
● Zoofobia – animais ou um animal determinado

Sintomas

Quase todos nós temos pequenos irracionais, mas nas reações de fobia, tais
medos são intensos e interferem nas atividades cotidianas do paciente. Por
exemplo, um paciente com claustrofobia pode dar grandes voltas para não
entrar numa sala pequena ou num corredor, ainda que tenha uma necessidade
de fazê-lo. Os pacientes usualmente admitem que não tenha causa real para
ter medo do objeto ou da situação, mas dizem que não conseguem impedir
isso. Se não se submetem ao medo e não inventa a situação de fobia, são
denominadas por angústia, que pode variar de leves sentimentos de mal estar
e aflição até um ataque agudo de angústia.

REAÇÕES OBSESSIVO-COMPULSIVAS

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Nas reações obsessivo-compulsivas, tal como ocorre nas fobias, o paciente
reconhece a irracionalidade de seu comportamento, mas parece obrigado a
pensar em algo em que não deseja realizar. Tais reações irracionais,
obsessivas e compulsivas, são numerosas e variadas, e parecem constituir
aproximadamente de 20 a 30 por cento de todas as perturbações neuróticas.

Sintomas

Quase todos nós já tivemos experiência de pensamento de natureza obsessiva


– por exemplo. Pensamentos contínuos a respeito de uma viagem próxima ou
de um encontro com namorada, ou de uma melodia que aparentemente não
somos capazes de tirar de nossa cabeça. No entanto, no caso de reações
obsessivas, os pensamentos são muito mais constantes, parecem irracionais
para o paciente e interferem em seu comportamento diário.

REAÇÕES NEURÓTICAS DEPRESSIVA

Nas reações neuróticas depressivas o indivíduo reage a alguma situação


dolorosa de tensão, como excessiva tristeza e abatimento e, freqüentemente,
não consegue voltar ao normal depois de um período razoável de tempo. Em
alguns casos, uma disposição de leve depressão continua depois do
desaparecimento dos sintomas mais graves. As reações neuróticas
depressivas parecem constituir aproximadamente a 20 a 30 por cento das
perturbações neuróticas.

Sintomas

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A aparência geral do paciente é de abatimento, desinteresse e tristeza.
Geralmente existe um nível elevado de angústia e preocupação, juntamente
com atividade reduzida, auto confiança limitada, interesses restritos e uma falta
geral de iniciativa. O paciente usualmente se queixa de dificuldades para
concentração, embora seus problemas reais de pensamento não estejam mais
lentos. Freqüentemente tem dificuldade para dormir, e pode acordar e ser
incapaz de adormecer novamente. Em muitos casos, tem queixas de somáticas
e sentimentos de tensão, inquietação e vaga hostilidade.

ESQUEMA DE PERTURBAÇÕES NEURÓTICAS

Reação Angústia

Sintomas principais: Angústia “livre”, geralmente interrompida por ataques


agudos.

Dinâmica básica: Controle de ameaças internas ou externas por simples


repressão. A angústia ainda não está “detida” ou controlada por defesas do
ego.

Astenia

Sintomas principais: Sentimentos de fraqueza, fadiga, falta de entusiasmo;


queixas somáticas.

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Dinâmica básica: Proteção do eu com relação à angústia despertada por
situação insatisfatória de vida à qual o indivíduo se sente preso. Extremo
desânimo – sente-se muito cansado e doente para continuar a lutar.

Conversão

Sintomas principais: Simulação de doenças orgânica real – pode incluir


diferentes sintomas sensoriais, motores ou de doenças somática.

Dinâmica básica: Ficar doente para fugir de situação de tensão que


provoca angústia

Dissociação
Sintomas principais: Amnésia, fuga, personalidade múltipla, sonambulismo.

Dinâmica básica: Fuga a conflitos que provocam angústia através de


isolamento ou dissociação de pólos opostos do conflito; na reação de fuga,
por exemplo, o conflito entre a luta e afastamento é resolvido por amnésia e
busca de outro lugar.

Fobia

Sintomas principais: Medos irracionais, que o indivíduo reconhece serem


irracionais, mas que levam a angústia se não forem observados.

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Dinâmica básica: Medo contínuo e condicionado ou reação defensiva para
proteger o eu de tensão que provoca angústia, através de deslocamento de
angústia do perigo real para aspecto simbolicamente ligado a essa tensão,
e que protege o paciente da necessidade de enfrentá-la.

Obsessivo-compulsiva

Sintomas principais: Pensamentos ou impulsos contínuos que o indivíduo


compreende que são irracionais, mas que não pode evitar.

Dinâmica básica: Reações de defesa que protegem o indivíduo contra


ameaças internas ou externas através de atividades substitutivas, formação
de reação, isolamento entre os desejos que provocam angústia e sua base
afetiva, oposição ao medo através de rituais compulsivos e uma
“ordenação” obsessiva da situação, de forma que tudo esteja sob controle e
nada possa estar errado.

Neurótica – depressiva

Sintomas principais: Sentimentos de desânimo, abatimento,


autodepreciação. Dinâmica básica: Extremo desânimo, resultante de
adversidade ambientais; parte da angústia é despertada por tais
adversidades, moderada por intropunitividade (auto castigo).

Gagueira

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A gagueira apresenta um bloqueio espasmódico de alguns sons da fala. Pode
variar de ligeira dificuldade com as sílabas iniciais de algumas palavras até
contrações violentas e incapacidade para conseguir emitir um som inicial.

Quase todos os gagos fazem caretas, movimentos da cabeça e do corpo que


acompanham a repetição. Nos casos graves, pode haver respiração acelerada,
contrações faciais e agitação de todo o corpo. Tudo isso representa uma “luta
interna” para falar. Depois dessa perturbação momentânea, no entanto, a fala
torna-se suave e fluente até o bloqueio seguinte.

Dinâmica – Verifica-se que a gagueira é uma perturbação desconcertante.


Muitas explicações têm sido propostas.

1. Predisposição hereditária. Os pesquisadores que aceitam este ponto de


vista geralmente supõem dois fatores básicos na causação da gagueira – uma
predisposição herdada para o colapso das funções da fala sob tensão e algum
fator imediato de tensão que precipita a perturbação.

2. Teorias neurológicas. As teorias da gagueira acentuaram,


freqüentemente, o ferimento de cérebro, seja por lesão no nascimento, seja por
doença. Neste caso, supõe-se que mesmo um dano mínimo ao cérebro poderia
causar perturbações na coordenação das funções motoras da fala.

3. Teorias psicológicas. Muitas teorias psicológicas foram apresentadas para


explicar a gagueira. De modo geral, as teorias psicanalistas viram a gagueira
como um estado emocional. Supõe-se que a gagueira satisfaça uma
necessidade oral infantil, assim o gago inconsciente deseja gaguejar.

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MÓDULO 7 - PSICOPATOLOGIAS (PARTE II) - pág. 127


ROER UNHAS

Num momento ou outro, provavelmente um quinto de todas as crianças e


adolescentes rói unhas. A incidência parece ser ainda mais elevada entre
gagos, crianças em instituições coletivas e indivíduos que enfrentam exigências
que provocam tensões. A incidência do hábito de roer unhas é elevada durante
o período da adolescência e decresce depois disso.

O hábito de roer unhas tem sido explicado como:

a) um substituto para masturbação;

b) uma inferiorização de hostilidade;

c) fixação no estágio oral de desenvolvimento;

d) um método para educação de tensão.

Os que têm esse hábito tendem, mais freqüentemente, a explicá-lo como


resultante de um desejo de se manterem ocupadas, de gastar um excesso de
energia, de reduzir a angústia ligada à tensão.

TIQUES

Um tique é uma contração ou espasmo muscular, persistente e intermitente,


muitas vezes restrito a um grupo localizado de músculos. O termo é usado de
maneira ampla para incluir: piscar de olhos, repuxar a boca, lamber os lábios,

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levantar os ombros, virar o pescoço, “tosse” nervosa, fungar, fazer caretas e
muitos outros movimentos. Em alguns casos – por exemplo, na tosse nervosa
– o indivíduo pode estar consciente de seu tique. Usualmente, no entanto,
realiza o ato de maneira tão habitual, que está completamente inconsciente de
sua ocorrência.

O tratamento de tiques exige psicoterapia voltada para ajustamento mais


eficiente da personalidade e para redução do nível de tensão geral do paciente
ou da tensão ligada a determinadas situações.

ENURESE

O termo enurese refere-se à descarga habitual e involuntária de urina depois


da idade de três anos. Pode ocorrer durante o dia, mas é mais freqüente
durante a noite (urinar na cama). O enurético infantil geralmente urina durante
o sono profundo, enquanto que o adulto enurético geralmente o faz com sono
leve (Ditman e Blinn, 1955; Pierre et al, 1961). Entre jovens adultos, a enurese
freqüentemente ocorre em sonhos em que o paciente imagina que está
urinando num banheiro, mas acorda e observa que molhou a cama. Às vezes
sonhos têm conteúdo sexual, e ao ato de urinar está aparentemente muito
ligado à satisfação sexual. A enurese pode variar, quanto à incidência, de
ocorrências noturnas regulares até casos esparsos em que o indivíduo está
sob grande tensão.

Dinâmicas. A enurese pode resultar de diferentes condições orgânicas – entre


as quais patologia cerebral e perturbações no sistema geniturinário. No
entanto, na grande maioria dos casos parece resultar de causas psicológicas, e
não orgânicas.

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MÓDULO 7 - PSICOPATOLOGIAS (PARTE II) - pág. 129


Nas crianças, a enurese tem sido explicada de várias formas entre as quais as
seguintes:

a) expressão indireta de angústia;

b) tentativa de mostrar necessidade de auxílio e atenção dos pais;

c) expressão de hostilidade muitas vezes inconsciente, contra os pais;

d) indicação de imaturidade e perturbação emocional;

e) resultado de capacidade inadequada da bexiga.

Quase todos os pesquisadores acentuam a relação perturbadas da família e


desajustamento emocional como antecedentes de crianças enuréticas –
sobretudo condições que levam a angústia ou hostilidade contínuas.

Contraponto: neuroses e psicoses

Fator de comportamento:

Neurose: Leve grau de descompensação da personalidade; são atingidos


o contato com a realidade e a atuação social.

Psicoses: Elevado grau de descompensação de personalidade; contato


com a realidade é muito atingido; o paciente fica impossibilitado de
atuação social.

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MÓDULO 7 - PSICOPATOLOGIAS (PARTE II) - pág. 130


Natureza do sintoma:

Neurose: Grande amplitude de sintomas psicológicos e somáticos, mas


não há alucinação ou outros desvios extremos em pensamentos,
sentimentos ou ação. Psicoses: Grande amplitude de sintomas com
delírios, alucinações, embotamento emocional e outros comportamentos
muito anormais.

Orientação:

Neurose: O paciente raramente perde orientação no


ambiente Psicoses: O paciente freqüentemente perde
orientação no ambiente

Auto conhecimento:

Neurose: O paciente freqüentemente tem certeza da compreensão da


natureza do seu comportamento.

Psicoses: O paciente raramente tem compreensão da natureza de seu


comportamento.

Aspectos sociais:

Neurose: O comportamento raramente é prejudicial ou perigoso para o


paciente ou para a sociedade.

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Psicoses: O comportamento freqüentemente é prejudicial ou perigoso para
o paciente ou para a sociedade.

Tratamento:

Neurose: O paciente raramente precisa de internamento em


hospital. Psicoses: O paciente geralmente precisa de
internamento em hospital.

AS PSICOSES FUNCIONAIS

Nas perturbações psicóticas, o paciente apresenta uma grave


descompensação de personalidade, com marcante deformação da realidade e
perda de contato com esta. É incapaz de ligar-se efetivamente com outras
pessoas ou seu trabalho, e geralmente precisa ser hospitalizado. Assim, de
modo geral, as psicoses são muito mais graves e perturbadas do que as
neuroses, embora seja necessário acentuar que não existe um limite bem claro
entre os dois tipos de doenças: as neuroses confundem-se imperceptivelmente
com as psicoses, na medida em que existem graus crescentes de
desorganização ou descompensação da personalidade.

O termo insanidade é freqüentemente empregado para indicar pacientes


psicóticos. Esse termo tem mais conotação social e legal do que conotação
médica, e indica perturbação mental tão severa que o indivíduo é considerado
incapaz de cuidar de sua vida, desempenhar suas responsabilidades e seus
deveres sociais, ou ser responsável por suas ações.

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CLASSIFICAÇÃO E SINTOMAS DE PSICOSES

Os sintomas psicóticos podem decorrer de tensões psicológicas, de patologias


cerebral e orgânicas, ou de interação das duas coisas. Por isso, as
perturbações psicóticas são divididas em duas categorias gerais – psicoses
funcionais e orgânicas – de acordo com o fato de haver ou não uma patologia
cerebral demonstrável e ligada à doença. As psicoses funcionais são divididas
nos quatro seguintes tipos ou agrupamentos básicos:

1. Reações esquizofrênicas.
Um grupo de perturbações psicóticas em que existe grande tendência para
fugir à realidade, com “embotamento” emocional, desarmonia e marcantes
perturbações em processos de pensamentos, ilusões, alucinações e
estereotipias são comuns.

2. Reações paranóides.
Em que o paciente:

a) tem delírios, geralmente de perseguição ou de grandes, mas sob outros


aspectos, mantém uma estrutura de personalidade relativamente inata, ou

b) manifesta um estado paranóide, com delírios e alucinações mas sem a


deterioração mais grave dos esquizofrênicos paranóides.

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3. Reações afetivas.
Que incluem extremas flutuações de humor, com perturbações em pensamento
e comportamento. Aqui existem dois subgrupos principais: reações maníaco
depressiva e reações psicóticas depressiva.

4. Reações psicóticas involutivas.


Que indicam depressão anormal, agitação e angústia durante o período
involutivo, sem história anterior da psicose.

ANOMALIAS DA SEXUALIDADE

Impotência e frigidez.

A impotência é ausência de satisfação sexual no homem, ou incapacidade para


consegui-la. Embora a fadiga, a preocupação e várias doenças possam
temporariamente atingir a potencia sexual, a impotência prolongada ou
permanente antes de 55 anos de idade, e quase sempre resulta de conflitos
psicológicos.

Os principais fatores psicológicos na impotência podem ser resumidos da


seguinte forma:

1. Medo. Este medo pode ligar-se a ferimento pessoal ou perda possível de


potência por causa de masturbação, ou pode ligar-se a intensos sentimentos
de vergonha e inferioridade diante do sexo oposto, ou pode ligar-se a possível
descoberta e castigo. Num estudo de 50 homens impotentes, cuja idade de 25
a 58 anos, Snoussi et al. (1959) acentuaram muito o medo centralizado na
capacidade da pessoa para desempenhar o papel de homem e o medo de
rejeição e humilhado pela mulher. O indivíduo fica consciente de si mesmo,
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sente–se inadequado e prevê o fracasso, e essa atitude ajuda a provocar este
último.

2. Falta de afinidade emocional com o par sexual.

Neste caso, o indivíduo pode estar apaixonado por causa pessoa, de forma
que intensos sentimentos de infidelidade e culpa interferem em seu
comportamento sexual, ou pode achar seu par sexual fisicamente repugnante;
pode também haver intensos sentimentos de hostilidade ou oposição em
conseqüência de discussões ou conflitos anteriores. Às vezes, uma ligação
excessiva com a mãe pode levar a sentimentos relativamente inconscientes de
infidelidade e, por isso, à impotência.

Geralmente essa inadequação sexual leva a muita preocupação e auto


desvalorização. É comum que tais pessoas sintam que tem algo
profundamente errado e que nunca poderão conseguir felicidade conjugal.
Inicia-se um círculo vicioso; os temores e dúvidas a respeito da própria
adequação fazem com que a pessoa fique menos adequada.

A frigidez na mulher corresponde à impotência do homem. As causas básicas


da frigidez são psicológicas, e a frigidez, aparentemente não apresenta uma
ausência de desejo sexual, mas um bloqueio devido a conflitos emocionais.

Além dos mesmos freqüentemente encontrado no caso da impotência (medo,


falta de afinidade emocional com o par e homossexualidade), dois outros
fatores podem interferir na frigidez. Quando o par é “inépto” – grosseiro ou
indevidamente rápido, ou preocupado apenas com sua satisfação, - o

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desprazer e a decepção quanto a idéias românticas podem causar muitos
danos psicológicos.

Ao discutir a impotência e a frigidez é freqüentemente difícil distinguir entre


indivíduos impotentes e frígidos e aqueles que têm pouco impulso sexual e, de
modo geral, são sexualmente apáticos. Nos dois primeiros casos, no entanto, a
pesquisa geralmente revela fatores psicológicos que provocam a inibição ou
repressão de desejo sexual, ou a incapacidade do indivíduo para sentir
satisfação sexual, embora tenha desejo de obtê-la.

Satiríase e ninfomania.

Satiríase e ninfomania significam atividade sexual exagerada ou excessiva,


respectivamente no homem e na mulher. Tais indivíduos podem apresentar
desejo sexual intenso e quase contínuo, e centralizar suas vidas em torno
dessa atividade.

Se existe resposta para esse problema, parece estar em considerações


psicológicas e não fisiológicas. Quando o indivíduo sente um desejo sexual
quase insaciável e centraliza seu comportamento em prazeres sexuais, seja
como:

a) fuga a seus problemas,

b) compensação para várias frustrações e

c) como meio de gabar-se de masculinidade ou feminilidade ou adequação,


talvez possamos dizer que seu comportamento sexual é excessivo.

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Tais exigências sexuais excessivas podem ocorrer no matrimonio ou podem
apresentar um padrão de comportamento sexual promíscuo ou sob outras
formas anômalas.

Violação.
Na violação, como a promiscuidade e na prostituição, o comportamento sexual
usualmente se dirige para um objeto normal de sexo, mas o comportamento
ocorre sob condições anti-sociais.

Embora as personalidades anti-socais constituam o maior grupo de autores


desse delito, a violação imposta pode também estar ligada a outras formas de
psicopatologia. Kopp (1962) descreveu o delinqüente aparentemente submisso
que parece ajustar-se à descrição de uma personalidade passivo-agressiva.
Seu comportamento anti-social agressivo está aparentemente ligado a uma
contenção de hostilidade e tensão, e depois se sente culpado e muito
preocupado com o bem estar de sua vítima. A redução de controles interiores
em reações maníacas, esquizofrenia e outras psicoses, pode também levar a
assalto físico e, às vezes à violentação imposta.

Homossexualidade.

Aqui nos interessamos por relações eróticas entre pessoas do mesmo sexo.

Problemas dos homossexuais. É inevitável que os homossexuais tenham


dificuldade para conseguir ajustamentos adequados na vida profissional e
sexual, bem como na atividade social geral, pois a sociedade condena
intensamente suas atividades.

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Muitos vivem com medo contínuo de identificação, perda de emprego e
desonra social, embora social sintam que tem direito à sua forma de
ajustamento sexual. Outros sentem que seus desejos sexuais são inteiramente
errados; estão em permanentes conflitos íntimos. Sobretudo quando o
homossexual vive só e não está ligado a um grupo organizado de
homossexuais, tende a estar em guerra constante consigo e a sentir-se
inseguro, preocupado e solitário.

Padrões homossexuais. As relações homossexuais incluem vários tipos de


padrões sexuais. Um homem homossexual pode sempre assumir um papel
feminino, ou pode desempenhar um papel feminino numa ocasião, e masculino
em outra. De forma semelhante, uma mulher homossexual pode desempenhar
apenas um papel masculino, ou pode alternar entre papel masculino e
feminino.

Entre as principais experiências condicionantes que, segundo se verifica, levam


à diferenciação do comportamento sexual numa direção homossexual, e não
heterossexual, devem ser mencionados os seguintes:

a) Experiências homossexuais iniciais. Um fator freqüente é a sedução


inicial durante a infância, antes que o comportamento sexual esteja bem
diferenciado numa direção heterossexual. East (1946) verificou que a sedução
no início da juventude era o fator ambiental isolado mais comum nos
antecedentes. De forma semelhante, Bieber (1962) verificou que mais da
metade de um grupo de 106 homens homossexuais tinham tido experiências
homossexuais antes de 14 anos de idade, o que acontece apenas com um
quinto de um grupo de controle de 100 heterossexuais.

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b) Padrão patogênico familial. Bieber (1962) também verificou um padrão
comum de interação familial nos antecedentes de homossexuais geralmente a
mãe, frustrada por uma relação conjugal infeliz, estabelece uma relação íntima
e fechada com o filho que se torna sedutor e romântico, e que quase chega ao
contato físico. O filho, super estimulado sexualmente, sente angústia e culpa
por causa de seus sentimentos incestuosos, e a mãe, consciente de seus
sentimentos e temerosa de expor seus impulsos incestuosos, desestimula
sinais explícitos de masculinidade. O pai, despeitado diante do filho rival,
também deixa claro que a masculinidade que o filho está desenvolvendo é
ofensiva. Freqüentemente o pai mostra preferência por uma filha, e o filho com
inveja, deseja ser uma moça.

c) Ser educado como pessoa do outro sexo. As vezes, a mãe que desejava
muito ter uma filha educa seu filho como se fosse uma menina, fazendo como
se fosse uma menina, fazendo com que tenha cabelos longos, vestindo-se com
roupas de menina e incutindo nele atitudes e interesses tipicamente femininos.

d) Experiências sociais traumáticas. Quando uma menina ou um menino


são ridicularizados, repelido ou humilhado em seus esforços para aproximar-se
se de pessoas do sexo oposto, podem voltar-se para a homossexualidade
como uma fonte mais segura de afeição e expressão sexual.

Em seu estudo de 106 homens homossexuais, Bieber (1962) acentuou o efeito


da rejeição e humilhação pelo grupo de colegas. Durante a meninice, quase
todos os pacientes que estudou tinham sido patologicamente dependente de
suas mães, supersensíveis a ferimento físico, e temiam expor-se às
brincadeiras dos colegas e humilhação imposta por este. Menos de um quinto
tinha participado dos jogos usuais de menino, mais da metade tinha sido
isolada, um terço tinha brincado principalmente com meninas. Evidentemente,

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esse afastamento com relação à participação em grupo de colegas não
favorece o desenvolvimento de identificação masculina.

e) Angústia de castração. As interpretações psicanalíticas acentuam os


medos iniciais do homem com relação à castração, reforçados pelo choque da
observação de órgãos genitais femininos. Supõe-se que a idéia de ficar sem
um pênis é excessivamente angustiante para alguns homens, e por isso
procuram uma moça com um pênis. Nesse sentido, o homem homossexual
está tão preparado para a posse de um pênis, que se recusa a aceitar sua
falta, mesmo em seu par sexual. Nas mulheres, segundo a teoria psicanalista,
a observação dos órgãos sexuais masculinos pode levar a temores de violação
ou a sentimentos de inveja. Tais temores e pensamentos podem interferir no
prazer sexual e permitir as relações sexuais apenas quando podem ser
realizadas longe da presença de um órgão genital masculino. No entanto,
embora os homossexuais freqüentemente apresentam medo de órgãos
genitais femininos e aversão a estes, tais atitudes não parecem decisivas na
determinação inicial de homossexualidade. Parece que tais angústias iniciais,
quando ocorrem, tornam-se importantes apenas quando são reforçadas por
outras fontes de angústia que influem em todo o curso de desenvolvimento
psicossexual.

f) Prolongada privação heterossexual. Nas prisões, nas instituições


correlacionais e outras situações em que os sexos são agregados durante
longo período de tempo, existem marcantes aumentos de comportamento
homossexual. Huffman (1960) considera o comportamento homossexual tão
freqüente nas prisões que deve ser considerado um dos “riscos profissionais”
do preso. No entanto, indicou que os indivíduos que participam de atos
homossexuais nas prisões podem não considerar-se como homossexuais e
freqüentemente negam a existência de qualquer tendência homossexual.
Freqüentemente supõem que estejam demonstrando sua masculinidade ao
seduzir novos detentos. Embora tais atividades homossexuais, os presos
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condenados a penas muito longas podem ficar confusos quanto ao papel
sexual.

Depois da obtenção de liberdade, tais indivíduos podem procurar crianças ou


adolescentes (Huffman, 1960).

Pedofilia

Na pedofilia, o objeto sexual é uma criança ou um jovem adolescente. A


intimidade sexual geralmente inclui manipulação dos órgãos genitais da criança
ou inserção parcial ou completa. As vezes, a criança é induzida a pegar os
órgãos sexuais do pedófilo, ou, em casos de relações homossexuais entre um
homem adulto e um menino, a participar em contatos genitais orais ou em
sodomia. Quase todos os pedofílicos são homens, embora tais práticas as
vezes sejam realizadas por mulheres.

O padrão etiológico da pedofilia varia consideravelmente. No caso de


delinqüentes jovens (homens), no entanto, geralmente estamos diante de
indivíduos que se sentem nitidamente inadequadas quando se aproximam de
pessoas do outro sexo e tem intenso medo de rejeição e humilhação. Esses
indivíduos inadequados e imaturos focalizam sua atenção em crianças, como
meio mais seguro para satisfazer suas necessidades sexuais e evitar possível
fracasso e auto desvalorização.

Em outros casos, parece que estamos diante de psicopatologia difusa que


enfraqueceu seus controles internos – por exemplo, no alcoolismo crônico,
parecia a degeneração senil ou por arteriosclerose cerebral. A pedofilia e o
exibicionismo são os delitos sexuais mais comuns, entre eles os cometidos por
pacientes senis ou com arteriosclerose. Aqui, naturalmente, pode haver uma
combinação de controles internos reduzidos, regressão e medo de impotência.
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Bestialidade

Na bestialidade, os animais são usados para a realização de excitação e


satisfação sexual.

Quando não existem oportunidades para a relação heterossexual normal, a


bestialidade tem sido mais ou menos tolerada. No entanto, pode ser
considerada nitidamente patológica quando o indivíduo prefere ter relações
sexuais com animais, embora tenha oportunidades para relações
heterossexuais. Isto pode ocorrer por causa de intenso estabelecido prévio de
padrões de bestialidade, ou em alguns casos pode refletir medo e inadequação
diante de pessoas do sexo oposto. Aqui, evidentemente, o medo que o
indivíduo tem de ser rejeitado e humilhado pelo sexo oposto é semelhante ao
que ocorre na pedofilia, e, como veremos, no exibicionismo.

Exibicionismo

No exibicionismo, o prazer sexual é obtido através da exposição dos órgãos


genitais em lugares públicos ou semi públicos, usualmente para pessoas do
sexo oposto ou para crianças. As vezes, as demonstrações são acompanhadas
por gestos sugestivos ou atividades de masturbação, mas é mais freqüente que
ocorra apenas exposição.

Aparentemente, existem três fatores dinâmicos básicos subjacentes ao


exibicionismo. Em primeiro lugar, em muitos casos o exibicionismo parece
representar uma forma imatura de aproximar-se do sexo oposto, baseada em
informação inadequada, atitudes puritanas com relação à masturbação, e às

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relações sexuais, sentimentos intensos de acabamento e inferioridade, e,
freqüentemente, excessiva ligação com a mãe.

Muito ligado a esses antecedentes de imaturidade e excessiva ligação a mãe,


existe o segundo fator dinâmico básico: dúvidas e temores quanto à sua
masculinidade. Em conseqüência de sua intensa identificação feminina (com
sua mãe), e juntamente com escrúpulos e temores comuns ligados a atividades
de masturbação, o exibicionismo tem uma intensa necessidade de demonstrar
sua masculinidade e sua potência.

Em casos muito raros, um outro fator – hostilidade – também apresenta


interferência. Aqui, as atividades exibicionistas parecem apresentar uma forma
de expressão para impulsos hostis com relação a pessoas do outro sexo com
relação à sociedade de modo geral. Em vez de iniciar incêndios, roubar ou
praticar outros atos anti-sociais, o indivíduo se exibe, como forma de vingar-se
de rejeições e frustrações que atribui a outros. Em tais casos, o exibicionismo
pode ser acompanhado por atos agressivos, e a vítima pode ser surrada ou
atacada de outras maneiras. Mas isso é raro. Geralmente como já indicamos, o
comportamento limita-se à exibição dos órgãos genitais, de forma que os
exibicionistas não são, geralmente, os perigosos psicopatas apresentados por
muitas histórias de jornais. Usualmente respondem bem à psicoterapia
destinada a ajudá-los a conseguir ajustamentos heterossexuais mais maduros.

Voyeurismo

Uma das anomalias mais freqüentes é, sem dúvida, o voyeurismo, também


conhecido por scoptofilia ou mixoscopia. O indivíduo é quase sempre incapaz
de realizar o ato sexual – os velhos impotentes ou os jovens que sofrem de
timidez mórbida integram a maioria dos casos e encontram prazer em observá-

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los realizados por outros. Em muitos casos, no entanto, não é necessário ver
realizar o ato em si. Para alguns pacientes a contemplação do ato é
indispensável à sua satisfação; para outros, a visão dos órgãos genitais do
sexo oposto é suficiente. Existem homens que se satisfaz com o simples fato
de ver uma mulher subindo por um lugar íngreme ou escada ou inclinar-se em
posição provocante. Outros encontram prazem presenciando a copulação dos
animais, e há até os que o encontram vendo defecar ou urinar.

Necrofilia

Na necrofilia a excitação e a satisfação sexual são obtidas através de vista de


um cadáver feminino ou através de relações sexuais reais com esse cadáver.

Sadismo

Sadismo é um termo derivado do nome Marquês Sade (1740-1814) que, para


obtenção de prazer sexual, submetia suas vítimas a cruelmente tão desumana
que finalmente foi detido como insano. Embora o termo tenha adquirido um
sentido mais amplo, de forma que inclui a crueldade de modo geral,
limitaremos nosso uso à obtenção de prazer sexual através da provocação de
dor no par sexual. A dor pode ser infligida fisicamente – por exemplo, por
chicotadas, mordidas ou beliscões – ou pode ser infligida verbalmente, através
de observações humilhantes ou crítica diante de outras pessoas.

O comportamento sexual sádico geralmente ocorre no homem. Pode variar,


quanto à intensidade, desde fantasias leves, até beliscões ou chicotadas e, em
casos extremos, mutilação grave ou até morte. Em alguns casos, as atividades
sádicas conduzem ato sexual ou terminam este último; em outros, a satisfação
sexual completa é obtida na prática do ato sádico em si mesmo. Um pode
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cortar uma moça com uma navalha ou atingi-la com uma agulha, sentido um
orgasmo durante esse processo.

Tem havido várias tentativas para explicar a dinâmica do sadismo sexual.

Entre os fatores mais importantes já acentuados encontram-se os seguintes:

1. O sadismo sexual com apenas uma expressão de uma atitude mais geral
de destruição e o sadismo com relação a outras pessoas. Neste caso, o
indivíduo sente-se frustrado e rejeitado, e procura – através de comportamento
hostil e destrutivo

– conseguir sentimentos compensatórios de poder e importância e, ao mesmo


tempo, vingança contra o mundo que o maltratou.

2. Comportamento sádico ligado a intensas atitudes com relação a sexo,


considerado como pecaminoso e degradante. Se um indivíduo acha que a
sexualidade normal é inaceitável, as atitudes sádicas podem protegê-lo da
necessidade de ver todas as conseqüências sexuais de seu comportamento
sexual, bem como um castigo imposto a ela.

3. Comportamento sádico decorrente de experiências iniciais em que a


excitação sexual se ligou à imposição de dor. Tais associações podem ocorrer
sob diferentes condições. No desenvolvimento sexual inicial, muitas crianças
em suas fantasias sexuais, visualizam um ataque violento de um homem contra
uma mulher. Tais idéias são acentuadas por outros, artigos de jornais sobre
ataques sádicos a mulheres, bem como numerosas experiências cotidianas em

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que a provocação de dor num animal ou em pessoas provoca intensas
emoções e, involuntariamente, excitação sexual. Já notamos nessa ligação
entre a estimulação sexual e qualquer situação emocional intensa, sobretudo
durante o período da adolescência.

4. Comportamento sádico que ocorre de angústia de castração. As vezes o


indivíduo tenta resguardar uma potencia sexual reduzida ou em declínio, real
ou simplesmente temida. Muitos sádicos são tímidos, femininos, com reduzidos
impulsos sexuais; seu comportamento sexual, que por sua vez desperta o
sádico para maior intensidade de excitação sexual, o que permite o orgasmo. O
sádico consegue pouca ou nenhuma satisfação se sua vítima permanece
passiva e não responde aos estímulos dolorosos. Na realidade, muitas vezes
deseja que sua vítima ache excitante e agradável a dor, e pode até exigir que a
vítima mostre excitação de prazer, mesmo quando sinta agulhas no corpo ou
outros ferimentos. No sadismo baseado em angústia da castração, mesmo o
assassinato do par sexual resultaria, presumivelmente, não no desejo sádico
de causar dor e morte, mas do seu desejo de derramar sangue, que é um
poderoso estimulante emocional. Na realidade, o ferimento geralmente atinge
as partes do corpo que – como o pescoço e o abdômen – tendem a apresentar
maior hemorragia. Além, disso, a estimulação sexual aumenta pela inquietação
e excitação no comportamento sádico. Isso é verdade mesmo no caso de atos
sádicos menores – por exemplo, cutucar uma mulher com agulha e depois
fugir.

5. O comportamento sexual sádico como parte de um quadro mais amplo de


psicopatologia. Na esquizofrenia, nas reações maníacas e em outras formas
graves de psicopatologia, o comportamento sexual sádico e os rituais sádicos
podem ocorrer em pessoas psicopatologia predispostas, como conseqüência
do desvio de processos simbólicos e da redução de coerções de
comportamento, já discutidas. De forma semelhante, em alguns tipos de
personalidade anti-social, nos quais a excitação sexual e a imposição de dor
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ficaram associadas, a falta de inibição e de coerção moral, característica da
personalidade anti-social, pode lançar o indivíduo em graves padrões sádicos.

Masoquismo

No masoquismo o indivíduo consegue prazer sexual ao fazer com que outras


pessoas provoquem sua dor. O termo deriva do nome do romancista austríaco
Leopod V. Sacher Masoch (1836-1895), cujas personagens insistam
terreamente no prazer sexual da dor. Tal como ocorre no sadismo, o termo
masoquismo ampliou-se para fora do campo sexo, a fim de incluir prazer obtido
com renúncia, sofrimento físico de expiação na auto flagelação religiosa, e
dificuldade e sofrimento de modo geral. No entanto, para nossos objetivos
imediatos, limitaremos nossa discussão aos aspectos sexuais do
comportamento masoquista.

As atividades masoquistas podem limitar-se a fantasias de maus tratos que


sejam sexualmente estimulantes, ou podem abranger grande amplitude de
atividades que provocam dor – por exemplo, amarrar, pisar, semi
estrangulação, bater, beliscar, cutucar com alfinetes e maus tratos verbais.

Os fatores dinâmicos subjacentes ao comportamento sexual masoquista são,


fundamentalmente, semelhantes, aos encontrados em práticas sexuais
sádicas; a única diferença é que, em vez de infligir a dor, masoquista sofre a
dor. Foram delineados quatro padrões:

1. O masoquismo sexual como expressão de uma atitude masoquista mais


geral diante da vida. Neste caso, supõe-se que o indivíduo tenha enfrentado
frustrações insuportáveis na vida, através de uma orgia de infelicidade e auto

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degradação que, aparentemente, elimina o sofrimento de derrotas específicas
na vida. Na realidade, isso pode realmente dar considerável satisfação, dada
nossa crença cristã nas virtudes do sofrimento de correção e força tornam-se
ligados a sofrimento e sacrifício pessoal. Os padrões masoquistas tendem a
ocorrer principalmente quando o indivíduo desenvolveu atitudes de vergonha,
repugnância e culpa com relação ao comportamento sexual. Em tais casos, o
masoquista aparentemente sofre uma pena, e isso, permite o seu prazer
sexual. Vale dizer, o masoquista paga antes, e não depois, pelo
comportamento carregado de culpa. Aqui sem dúvida, o masoquista não deseja
necessariamente sofrer a crueldade, mas apenas preparar o caminho para o
prazer sexual.

2. Comportamento masoquista decorre de experiências anteriores em que


a experiência de dor esteve ligada a excitação e prazer sexual – por exemplo,
situações de intensa emoção, livros, histórias e artigos de jornal referentes a
comportamento masoquista. Em alguns casos, as mães que exageram a
brutalidade e a dor de suas primeiras relações sexuais podem impressionar
profundamente suas filhas com relação entre a dor e prazer sexual.
Experiências posteriores – por exemplo, masturbação dolorosa ou defloração –
podem servir para reforçar essa associação inicial.

3. Masoquismo como um meio de aumentar o prazer sexual. Algumas vezes o


comportamento sexual masoquista das mulheres representa uma tentativa para
aumentar a excitação emocional do ato sexual e, assim, levar a maior
satisfação sexual. Esta dinâmica é indicada, num sentido geral, em algumas
frases comuns – por exemplo, as que exprimem o desejo de ser “afogada em
beijos” e “triturada pelos seus braços”. As atividades eróticas masoquistas
raramente tem como resultado um ferimento grave; ao contrario, aproxima-se
de uma representação em que as injúrias e a dor são usadas com fonte de

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antecipação de prazer e aumento de excitação, através de comportamento
proibido ou anômalo. Evidentemente, mesmo aqui muitas vezes existem
antecedentes de atitudes iniciais que ligam o prazer sexual à dor.

4. Comportamento sexual masoquista como formação de reação a impulsos


sádicos. Esse padrão tem sido acentuado por teóricos psicanalistas. Supõe-se
que atitudes éticas aprendidas levem à repressão de impulsos sádicos e à
formação de atitudes religiosas com certo colorido masoquista. Tais atitudes
são depois desenvolvidas parece desejar situações em que seja favorecido
para o domínio do comportamento sexual. No entanto, as vezes a repressão
pode fracassar e o masoquista pode, sadicamente, matar ou mutilar seu par
sexual.

Transvestismo

O transvestismo é um fenômeno muito freqüente, quase tanto como a


homossexualidade. As pessoas que tem esta tendência conseguem ocultá-la,
em geral muito eficazmente, ao ponto de seus parentes mais próximos amiúde
não se darem conta da mesma. Ainda mais: podem elas levar uma vida sexual
absolutamente normal, embora, como observa Havelock Ellis, seu vigor sexual
costuma estar abaixo do termo médio.

A maneira como o transvestismo se produz levanta o mesmo problema que a


origem da homossexualidade. Alguns insistem sobre seu caráter adquirido na
maioria dos casos e acreditam que um apego muito estreito a mãe tenha quase
sempre algo a ver com a evolução dessa tendência. Em compensação,
Magnus Hirschfel e os que o seguem, afirmam que o transvestismo não é uma
tendência adquirida, porém inata, e que simplesmente se acentua à medida

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que o sujeito vai avançando em idade. Em todo caso, um fator aparentemente
casual pode, de repente, desenvolvê-lo por completo.

Magnus Hirschefel distingue dez categorias de transvestistas: o transvestista


completo, o tranvestista parcial (que se contenta em usar meias e roupas
interiores de seda, sendo homem, e roupa interior de homem no caso de ser
mulher), o transvestista de nome (que adota um nome de batismo pertence ao
sexo oposto, como George Sand, por exemplo), o transvestista constante (que
permanece assim durante toda sua vida), o transvestista metatrópico, que
busca o amor das mulheres varonis sendo homem, e os homens efeminado,
sendo mulher, o transvestistas bissexual e, finalmente o transvestista
homossexual.

Narcisismo

O narcisismo, que deve seu nome ao herói lendário grego que se enamorou de
sua própria imagem ao vê-la refletida em águas de uma fonte, é outra forma de
perversão de objeto. Melhor ainda: esta anomalia foi designada com outro
nome por especialistas que a estudaram. Magnus Hirschfeld, a denomina
autônomo sexualismo e de autista, por abreviação os indivíduos por seu
próprio corpo. “O narcisismo”, disse o doutor Hesnard, “consiste essencial e
primariamente no fato de que o indivíduo em questão – criança, adolescente ou
adulto – experimenta uma atração especial, de natureza sexual, por seu próprio
ser, e especialmente por seu próprio corpo, por sua própria imaginação e por
seu próprio intelecto.

O infantilismo

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O infantilismo e a perversão oposta a gerontofilia, podem ser incluídos na
categoria das perversões de objeto, posto que os indivíduos afetados por estas
aberrações procurem um objeto de amor normal: uma criança ou um ancião. O
que daqui diferencia o anormal do pervertido é somente a desproporção na
idade.

Enquanto as outras aberrações têm uma origem física ou psicológica, o


infantilismo é uma aberração devida principalmente aos transtornos
fisiológicos. É evidente que as perturbações físico anormal, porém, neste caso,
não estamos diante das fixações traumáticas que se encontram nas raízes de
tantas outras perversões.

Existem duas classes de homens que se sentem atraídos pela infância: os


jovens de vinte a trinta anos de idade, cuja condição fisiológica não evoluída os
assemelha às crianças, e os velhos em que a semelhança se produz por uma
regressão da atividade sexual. Para ilustrar o primeiro destes tipos, recordamos
a observação de Magnus Hirschfel sobre um jovem de vinte e quatro anos de
origem burguesa. Foi condenado por conduta incidente depois de haver sido
apanhado in frangranti com dois meninos de nove e dez anos,
respectivamente. Entregava-se com estes, a masturbação recíproca, o que lhe
proporcionava uma completa satisfação. Neste caso a puberdade havia se
retardado e quando perto dos dezessete anos teve consciência das
necessidades sexuais, achou que seus desejos não tinham outro objeto que os
meninos de dois a dez anos de idade. Sua perversão lhe provocava tormentos
morais e, ao ouvir falar de um tratamento consistente na castração, dirigiu-se
ao relatar a fim de submeter-se a esta intervenção cirúrgica. Na terceira
semana, depois de operado, sua tendência pervertida começou a declinar e s
crianças já não lhe proporcionavam outro prazer que o estético. Finalmente
este último prazer desapareceu também e o jovem foi liberado da obsessão
sexual.

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Os anais da medicina forense registram inúmeros casos de anciãos entregues
ao ato sexual com meninos e meninas. São as vezes pessoas de um passado
honrado, impelidos às ações imorais simplesmente por perturbações em sua
vida sexual. Estas perturbações são amiúdes acompanhadas por transtornos
mentais, muito mais pronunciadas no caso dos dipsomaníacos. O infantilismo
dos anciãos, embora odioso em si mesmo, torna-se freqüência, ainda mais
horrível pela adição de incesto. Seus próprios filhos costumam ser presas
fáceis para este tipo de paciente, e a maioria dos casos de incesto, que tanto
comovem, são causadas pelo infantilismo senil, agravado quase sempre pelo
alcoolismo.

Gerontofilia

A gerontofilia é uma tendência similar ao infantilismo, porém com a diferença


de que o objeto do desejo é uma pessoa muito mais velha.

Além das causas fisiológicas, esta perversão, segundo as teorias de Freud,


tem uma origem psicológica. Esta escolha atribui às crianças o amor sexual
aos pais do sexo oposto, fenômeno designado sob o nome de “Complexo de
Édipo”. Quando o desenvolvimento do sexo infantil não se dá normalmente o
sujeito ao mesmo tempo em que se afasta do objeto de seu desejo, pode reter
uma preferência pelas pessoas de mais idade. De modo que o jovem se
sentiria atraído pelas mulheres que lhe recordassem sua mãe. E a jovem
atraída pelos homens mais velhos que lhe recordassem seu pai.

Necrofilia

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Entramos agora na necrofilia, a mais repugnante de todas as aberrações,
devido o seu macabro.

Tentou-se explicar de muitas maneiras esta triste atração sexual pelos


cadáveres. A escola freudiana vê na necrofilia lembranças da infância, do amor
sentido pela mãe adormecida e a fixação dos primeiros atribuem estas
tendências patológicas a certa negligencia sexual que introduz a buscar uma
companheira dócil incapaz de oferece a menor resistência.

Feiticismo

É o costume de atribuir valor erótico a algumas peculiaridades, ou a detalhes


físicos da pessoa amada, mesmo a um objeto inanimado pertencente a essa
pessoa.

O que se coloca em lugar do objeto sexual é alguma parte do corpo (tal como o
pé ou cabelo) que é, em geral, muito imprópria para finalidades sexuais, ou
algum objeto inanimado que tenha atribuível com a pessoa que ele substitui e,
de preferência, com a sexualidade dessa pessoa, (por exemplo, uma peça do
vestuário ou de roupa intima). Tais substitutos são, com alguma justiça
assemelhados aos fetiches e quem os selvagens acreditam incorporados os
seus deuses.

Os especialistas, especialmente os psicanalistas, muito se preocupam com a


origem do feiticismo. Alguns atribuem a um trauma ou a um acidente que data
da infância ou da puberdade, enquanto que outros, embora admirem esta
possibilidade, não a aceitam sem certas reservas. Havelock Ellis desenvolve a
primeira teoria, ao mesmo tempo que admite o papel desempenhado pela

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predisposição: “a precocidade sexual, é indubitavelmente, uma condição
favorável a tal desvio. Uma criança precoce e anormalmente sensível a
presença de pessoas do sexo oposto, antes que a puberdade haja
estabelecido nela os canais normais do desejo sexual está particularmente
propensa a converter-se em presa das extravagâncias do simbolismo.

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Este material é parte das aulas do Curso de Formação em Psicanálise.
Proibida a distribuição onerosa ou gratuita por qualquer meio, para não alunos
do Curso. Os créditos às obras usadas como referências ou citação constam
nas Referências Bibliográficas.

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