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Rio de Janeiro
2020
A APLICABILIDADE DOS CONCEITOS DA PSICODINÂMICA DO TRABALHO
NO MEIO MILITAR-NAVAL
RESUMO
O psiquiatra francês Christophe Dejours é o principal responsável pelo desenvolvimento da
Psicodinâmica do Trabalho, vertente da Psicologia voltada para o estudo das relações do
homem no ambiente de trabalho e seus decorrentes desdobramentos no campo da saúde
mental. Diante da constante expansão da relevância e do impacto do trabalho na vida do
homem contemporâneo, acompanhada de uma maior preocupação e conscientização social em
escala mundial para temas como a saúde mental, a monografia em questão tem como objetivo
central descobrir e analisar quais os principais desdobramentos das teorias da Psicodinâmica
do Trabalho no meio militar-naval, cenário em que a presença de atividades de risco e de
possível comprometimento da vida tende a produzir campo propício para os mais variados
tipos de sofrimento. Dessa forma, os conceitos da teoria da Psicodinâmica do Trabalho
priorizados no presente ensaio vão discutir, fundamentalmente, a formação da identidade do
indivíduo, a necessidade de reconhecimento do homem em sua atividade e os processos de
transformação do sofrimento frente aos desafios e às peculiaridades do ambiente profissional
militar-naval.
Palavras-chave: Psicodinâmica do trabalho. Saúde mental. Marinha do Brasil.
Aplicabilidade.
ABSTRACT
French psychiatrist Christophe Dejours is the main responsable for the development of the
Psychodinamyc Theory of Work, trend of Psychology focused on the studys of man’s
relationships inside his workplace e its developments among mental health discussion. Due to
the constant expansion of the relevance and the impact of work in contemporary man’s lives,
added to a wider concern and social awareness about mental health around the whole world,
the main purpose of this monography is to discover and analyze the main developments of
Psychodinamyc Theory of Work’s concepts in naval sector, where the existence of high-risky
activities and of very likely danger to life tend to encourage a fertile field to the growth of
many kinds of suffering. So, the major concepts of the Psychodinamyc Theory of Work
prioritized in this essay will discuss fundamentally the formation of the individual's identity,
the man’s need for recognition at his occupation and the processes of transformation of
suffering in the face of the challenges and peculiarities of the professional environment of the
naval sector.
Keywords: Psychodinamyc Theory of Work. Mental health. Brazilian Navy. Applicability.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3
2 O TRABALHO, O HOMEM E SUAS TRANSFORMAÇÕES ................................. 4
3 A PSICODINÂMICA DO TRABALHO ..................................................................... 6
3.1 Origem e fundamentos ................................................................................................ 6
3.2 Fases e conceitos principais ......................................................................................... 7
5 CONCLUSÃO .............................................................................................................. 17
AGRADECIMENTOS .................................................................................................... 19
REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 20
3
1 INTRODUÇÃO
depressão e alcoolismo, por exemplo? Diante de tais questões, esse estudo parte da hipótese
de que, uma vez ajustadas às características do ambiente de trabalho militar-naval, as teorias
fundamentais da Psicodinâmica são aplicáveis e eficazes.
Optou-se por desenvolver essa análise por meio de pesquisa documental e
bibliográfica de livros, artigos e publicações que, de alguma forma, possibilitassem a
necessária ambientação com o tema a ser abordado e suas respectivas áreas de conhecimento:
administração, psicologia, doutrina militar-naval e saúde mental. Para tal, como referencial
teórico desse ensaio, foram exploradosos conceitos do psicanalista Christophe Dejours (1987,
1990, 1997), assim como demais artigos os quais contribuíram expressivamente para a
compreensão da realidade profissional dos homens e mulheres do mar. Dentre os artigos
pesquisados, escolhidos e estudados, recebem destaque três produções científicas: uma
monografia que investiga, segundo os pressupostos da Psicodinâmica do Trabalho, as relações
de prazer e sofrimento no trabalho, sob a perspectiva de sargentos do Exército Brasileiro
(RATES, 2007); uma dissertação de mestrado elaborada com o objetivo de compreender o
processo de trabalho dos militares que servem a bordo de navios operativos da Marinha do
Brasil e seus impactos na saúde e na vida social (Ramos, 2015) e; um artigo que permitiu um
maior conhecimento acerca dos efeitos das situações de trabalho na construção do alcoolismo
dentro da Marinha do Brasil (HALPERN; FERREIRA; SILVA FILHO, 2008).
A monografia em questão será estruturada em seis seções: a primeira, introdução; a
segunda, uma breve apresentação às transformações das formas de organização do trabalho ao
longo da história; a terceira decorrerá a origem da Psicodinâmica do Trabalho, seus
fundamentos e seus principais conceitos; a quarta, um panorama do cenário militar-naval
contemporâneo e suas implicações na saúde mental dos militares da MB, assim como a
identificação dos elementos psicodinâmicos; quinta, uma sintética conclusão das reflexões
desenvolvidas e um posicionamento quanto à hipótese inicial desse estudo e; a sexta,
agradecimentos.
3 A PSICODINÂMICA DO TRABALHO
Conforme aponta Rates (2007), a Psicodinâmica do Trabalho é marcada por três fases
articuladas, complementares, e ao mesmo tempo delimitadas por publicações específicas de
seu fundador e propagador, Cristophe Dejours. A primeira fase é marcada pela publicação de
1
Enfoque BIO-PSICO-SOCIAL.
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sua primeira obra “A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho” (1987) e tem
como objetivo de estudo identificar a origem do sofrimento advindo do embate entre a
organização do trabalho e o trabalhador. Em um contexto onde prevalecia o modelo
Taylorista, pautado em produtividade máxima e condições precárias de trabalho, buscava-se
compreender a estruturação do sofrimento e quais as estratégias defensivas individuais e
coletivas utilizadas em contrapartida pelos trabalhadores. O foco, então, recai sobre o
indivíduo, seu sofrimento e a maneira por meio da qual confronta a organização na tentativa
de preservar sua saúde mental e atingir seus objetivos.
Em um segundo momento, materializado em obras como “Fator humano” (1997),
Dejours conclui que o sofrimento é inerente a todo e qualquer formato de organização do
trabalho e que cada contexto específico também apresenta estratégias defensivas
características. Portanto, evidencia-se o papel da organização na formulação deste sofrimento,
o que impacta diretamente na busca por novos modelos de coordenação do trabalho.
Como consequência desse novo panorama, ocorre a transição para a terceira fase desse
campo de estudo, fase esta que perpetua até hoje por meio do aprimoramento e do
aprofundamento de conceitos centrais da teoria da psicodinâmica do trabalho como: o
trabalho como mecanismo de construção da identidade do indivíduo; a dinâmica do
reconhecimento e; a natureza dual do sofrimento: o patológico e o criativo. Nessa nova fase, o
foco se estabelece não sobre a eliminação do sofrimento, mas sim sobre sua aceitação e,
posteriormente, transformação.
Dejours, em seu livro “A banalização da injustiça social” (1999), justifica o
surgimento do sofrimento na ausência da possibilidade de negociação entre o homem e a
realidade de trabalho imposta pela organização. Para o psicanalista, a organização se dá por
três elementos básicos: a divisão do trabalho, o conteúdo das tarefas realizadas e as relações
de poder e hierarquia. Outros autores em suas obras, como Ana Magnólia Mendes em
“Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisas” (2007), contribuem com a percepção
de que a organização do trabalho pode desenvolver uma influência tanto de forma positiva
quanto negativa na vida do profissional, dependendo diretamente de dois fatores: a
personalidade do indivíduo e a margem de liberdade administrada pela organização. Assim, o
sofrimento lida com um processo de ressignificação: além de seu caráter patológico, também
carrega consigo alto potencial criativo.
Para Mendes (2007), o saudável é constituído pelo enfrentamento das imposições e
pressões do trabalho, as quais eventualmente causam a instabilidade psicológica e deturpação
da personalidade. O viés criativo do sofrimento contribui, portanto, para sua transformação
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atingir esse alto nível de eficiência que se espera e se necessita de uma Força Armada,
sobretudo de homens e mulheres do mar servidores da pátria2, é necessária uma rígida
formação, pautada em uma doutrina milenar: a doutrina militar naval.
De acordo com o disposto no EMA-305, a Doutrina Básica da Marinha (DBM)
estabelece os princípios, conceitos e, de forma ampla, os métodos de emprego em combate,
ou em outras participações não relacionadas à atividade-fim, com o propósito de orientar a
organização, o preparo e o emprego do Poder Naval brasileiro.
É importante salientar, portanto, a atividade fim da Marinha do Brasil: o mar. Mesmo
aqueles que contribuem para a missão da Força em apoio, como Fuzileiros Navais e o Corpo
de Intendentes da Marinha e demais habilitações, esses têm suas funções e ações sempre
norteadas em prol do objetivo primordial da instituição. Assim, faz-se necessário analisar as
atividades inerentes ao ofício do marinheiro, seus propósitos, suas dificuldades, seus
mecanismos de defesa e as consequências de sua profissão em termos de saúde mental para a
melhor compreensão dos impactos da organização na vida desses homens e mulheres.
A vida a bordo dos navios da Marinha do Brasil não é, de fato, fácil. Mesmo aqueles
militares que permanecem embarcados por curtos períodos de suas carreiras, dada a
intensidade e a singularidade dessa experiência, estão sujeitos aos impactos das peculiaridades
da vida nos mares. A rotina de bordo segue um padrão básico, salvo em casos inopinados:
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Servidores da Pátria são os militares que juram à Bandeira Nacional com o sacrifício da própria vida.
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revela-se crônico quando a sensação de instabilidade se mantém até mesmo quando o militar
desembarca, configurando o conhecido pela literatura “mal do desembarque” (BROWN; e
BALOH, 1987).
No que tange à habitabilidade do navio, os principais pontos destacados são o pouco
espaço, a disponibilidade limitada de aguada, além da ausência de elementos de conforto
como, por exemplo, o ar condicionado. Com relação às fainas3 de bordo, os riscos se
evidenciam no transporte de pesos, nos ruídos do navio, na insalubridade do ambiente, no
contato direto com solventes e, ainda, na perigosa possibilidade de inalação de gases
provenientes de combustíveis e outras substâncias tóxicas.
Ainda sobre os serviços a bordo, Ramos (2015) relatou a acumulação de funções como
um fator de sobrecarga profissional muito estressante para os militares. A demanda do navio
costuma ser superior à disponibilidade de pessoal. Todos possuem diversas funções e
encargos colaterais que, por muitas vezes, contribuem para o encurtamento do período de
descanso desses homens e mulheres. Por exemplo, aqueles que atuam na cozinha, embora não
dêem serviço na parte de navegação, emendam a preparação de uma refeição em outra, o que
exige também um alto nível de prontidão e disponibilidade permanente.
Os momentos de descontração e relaxamento também são questões a serem analisadas.
Isto porque o marinheiro, mesmo quando não está de serviço, continua imerso em seu
ambiente de trabalho e deve permanecer atento aos alarmes e acionamentos a bordo. O navio
funciona 24 horas por dia, mesmo quando não está navegando (RAMOS, 2015). A rotina
cansativa, somada à privação de sono e ao confinamento do meio social, costuma elevar a
tensão do ambiente de trabalho.
No âmbito de esgotamento emocional, os militares apontam como as maiores
dificuldades o afastamento da família, a inevitável ausência em diversos eventos sociais e a
comum desestabilização da dinâmica familiar. Não são raros os relatos de marinheiros que
perderam o nascimento de seus filhos, aniversários e formaturas das filhas ou, ainda, a
impossibilidade de estarem presentes em momentos fúnebres. Esses homens e mulheres
vivem essa experiência às vezes desde muito cedo na carreira, se considerarmos o regime de
internato adotado na maioria das escolas de formação da instituição. Além disso, embora a
evolução da tecnologia tenha ampliado as possibilidades de comunicação, pela natureza da
atividade militar e sua demanda por sigilo, a utilização de celulares e dispositivos móveis é
constantemente proibida.
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Denominação atribuída ao conjunto de tarefas e atividades realizadas pelos profissionais da Marinha do Brasil.
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Enganam-se também aqueles que acreditam que esses problemas se apresentam apenas
durante o período ativo da carreira. No que se relaciona ao processo de reinserção social, a
aposentadoria é um desafio ainda maior para os militares. O meio militar naval constitui uma
espécie de cultura. Mais do que apenas a utilização de uniformes, possuem um linguajar
próprio, gírias específicas, costumes organizacionais. Em determinados Distritos Navais,
usufruem de auxílio de moradia, residindo em vilas ou em residências do Próprio Nacional
Residencial (PNR). Se por um lado isso ampara esses profissionais, por outro intensifica
ainda mais o problema de segregação social, pois mesmo quando longe dos navios ou das
Organizações Militares (OM) em que trabalham, permanecem imersos num ambiente de
convívio predominantemente militar.
Diante de todas essas portas de sofrimento no trabalho supracitadas, para uma
organização como a Marinha do Brasil, que depende diretamente do recurso humano, torna-se
fundamental saber “ouvir os gritos de ajuda” desses homens e mulheres, isto é, saber
identificar como esse sofrimento se desenvolve e pode ser percebido.
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Seu principal objetivo é mascarar, conter e ocultar uma ansiedade particularmente grave, sendo específica de
um grupo social particular. Destina-se a lutar contra um perigo e um risco reais. Ela é coletivamente elaborada e
alimentada.
5
Goffman (2001) define uma instituição total como um local de residência e trabalho onde um grande número
de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável período de tempo,
levam uma vida fechada e formalmente administrada.
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Embora exista poucos estudos no meio acadêmico que abordem a natureza do meio
militar naval, dentro da própria estrutura da MB existem procedimentos, projetos e programas
que auxiliam a manutenção da saúde mental desses homens e mulheres, além de evidenciarem
a preocupação da instituição com a temática.
Por exemplo, uma das atividades mais comuns ao militar: o treinamento físico militar
(TFM). Os benefícios da prática esportiva são comprovados pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde: melhora do condicionamento muscular e
cardiorrespiratório, aumento da autoestima e da sensação de bem-estar, melhora da qualidade
do sono e, inclusive, melhora em quadros de depressão e ansiedade, entre outras vantagens.
Para os militares, pesquisas apontam que uma boa preparação física influencia diretamente na
capacidade de lidar com o estresse advindo de treinamentos e do combate, além de contribuir
para o aumento da resistência a doenças e acelerar a recuperação de lesões. Dentro da
instituição, a prática da atividade física é incentivada por regulamentos internos (CGCFN-15,
2009), sendo inclusive requisito para promoção em situações específicas. De acordo com o
disposto nas normas, é responsabilidade do comandante da OM assegurar a possibilidade de
prática de atividade física a seus militares pelo menos três vezes na semana.
Com relação ao atendimento clínico, evidenciam-se alguns problemas na organização.
Ramos (2015) diz que os militares embarcados possuem muita dificuldade de planejamento,
vide a rotina volátil do navio, mas não desfrutam de qualquer prioridade na marcação de
consultas nos hospitais e clínicas navais. Ainda assim, um aspecto positivo é a periodicidade
com a qual os militares são submetidos a inspeções de saúde obrigatórias ao longo da carreira.
Regularmente, são realizadas inspeções de saúde trienais e, para aqueles militares envolvidos
em atividades de maior risco e elevado grau de higidez psicofísica, as inspeções são realizadas
anualmente. Esses aspectos ampliam e facilitam o monitoramento da saúde dentro da
organização.
Há também o manual para Aplicação dos Programas de Saúde da Marinha – DSM
(Diretoria de Saúde da Marinha) 1001, o qual reforça a importância de um conjunto de ações
coordenadas e multidisciplinares, de modo a prevenir as doenças relacionadas ao trabalho,
sugerir as modificações ambientais, possibilitar as modificações de hábitos de vida, verificar a
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higidez do continente militar, não só com os exames periciais de rotina, mas também com
atividades de promoção da saúde (RAMOS, 2015). Por exemplo, a criação em 1997 do
Centro de Dependência Química (CEDEQ), visando um maior combate à presença do
alcoolismo na MB, torna evidente a preocupação da instituição com a saúde dos marinheiros.
Essa atenção organizacional acompanha o militar até mesmo após o período ativo da
carreira. As diretrizes da Política de Assistência Social das Forças Armadas, os programas e
as normas expostas na DGPM-501 (5ª Revisão), assim como os projetos desenvolvidos pela
Diretoria de Assistência Social da Marinha (DASM) buscam facilitar esse delicado momento
de transição de estilo de vida para homens e mulheres que dedicaram parte significativa de
sua vida aos afazeres do mar. Isso se dá por meio de atividades como encontros e visitas a
OM em todo o território nacional.
Lembro-me como se fosse hoje, nós estávamos vindo de uma comissão longa e
retornando da África, estávamos saindo de Maceió pra chegar a Salvador. E então
recebemos uma mensagem [...]. E na época o imediato fez um trabalho de
conscientização da importância que era a missão e que tínhamos chance de salvar as
pessoas, de buscar sobreviventes. Todos incorporaram aquilo ali, toda a tripulação,
como de fato foi uma operação real mesmo. E o pessoal não ligou para a questão do
desconforto, de dar serviço um por um, acabar o mantimento, de ficar as madrugadas
acordado, nós ficamos 20 dias lá e todo mundo que estava de serviço e o que não
estava de serviço ficava no convés procurando os corpos. Foi uma experiência
marcante, bem marcante pelo fato do que a gente viu no local e a importância que era
para os familiares das vítimas que tinham esperança de encontrarmos algum
sobrevivente. A gente estava perdendo nosso conforto, não tinha hora de descanso, a
gente suportou a falta de comida, de água, mas as famílias estavam perdendo as
pessoas que eles mais amavam (Militar 4, Navio 1).
Dessa forma, os militares vivenciam esses preceitos quando demonstram orgulho de
sua profissão e a percebem como uma atividade importante, útil, necessária e gratificante,
sendo fonte fértil de significado. Contudo, só o reconhecimento individual não é suficiente: o
olhar do outro é fundamental nesse processo de transformação. Com relação ao
reconhecimento dos demais, Dejours (2009) acredita que essa dinâmica se desenvolva por
meio de dois tipos principais de julgamento: o da utilidade e o da qualidade. Isto é, sentir-se
útil e ser reconhecido como bom na execução de suas tarefas são questões substanciais para a
obtenção de satisfação e prazer no trabalho, além de viabilizarem a transformação do
sofrimento patológico em criativo.
O meio militar naval, entretanto, revela algumas características antagônicas quanto ao
terceiro vértice da dinâmica do reconhecimento. Isso porque no interior da instituição, todos
tendem a reconhecer a si mesmos e aos outros, mas, em um cenário externo, a realidade nem
sempre é a mesma. Conforme exposto por Ramos (2015), a sociedade brasileira se mostra
muito questionadora, por exemplo, em relação ao orçamento destinado à Defesa Nacional.
Poucos conhecem as ramificações da missão das Forças e, por isso, muitas vezes os militares
brasileiros não tem sua importância reconhecida socialmente.
Essa ausência de reconhecimento reside na chamada “invisibilidade do trabalhar”.
Para Dejours (2019), quase como uma espécie de maldição, os bastidores do que se passa em
meio à realidade das tarefas do trabalho, assim como as emoções experimentadas pelos
trabalhadores, não são aspectos explícitos, públicos ou objetivos. A dúvida, a hesitação, o
fracasso, a abnegação, o esforço, a superação. Na maioria das vezes, para aqueles que não
estejam imersos no meio militar-naval, a singularidade do processo de ressignificação do
sofrimento vivenciado por esses marinheiros tende a ser invisível aos olhos.
5 CONCLUSÃO
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AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS