Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Campo Grande – MS
2020
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIGRAN CAPITAL
Campo Grande – MS
2020
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIGRAN CAPITAL
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________________
Professor Dr. Jeferson Renato Montreozol
________________________________________________________________
Prof
Professora Dra. Solange Bertozi de Souza
________________________________________________________________
Prof
Professor Me. Fernando Faleiros de Oliveira
Campo Grande MS
2020
AGRADECIMENTOS
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 6
2 SCHADENFREUDE........................................................................................................... 8
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 27
6
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo elaborar uma reflexão sobre algumas
questões inter e intrapsicológicas que aparecem como pano de fundo para um fenômeno
conhecido como schadenfreude. A questão central do texto está constituída pela
sensação de prazer ante o dano alheio, sentimento esse que é a definição básica do
termo supracitado. Assim, busca-se saber qual função cumpre esta sensação nas
relações e, para tanto, relaciona-se tal temática com a abordagem psicológica de que
trata a Gestalt-Terapia. Este trabalho se trata de uma pesquisa de base teórica, se
utilizando principalmente, da revisão de literatura especializada, para se aprofundar nos
aspectos que são analisados. Desse modo, após análise dos conteúdos referidos, passou-
se a realizar sua integração. Nisto, chegou-se ao resultado de que o fenômeno aqui
tratado ocorre para que haja a autorregulação do organismo do indivíduo. Tal conclusão
surge decorrente da relação da Gestalt-Terapia com a teoria organísmica. Nesta
combinação, verifica-se que a Schadenfreude ocorre como processo de autorregulação
do organismo frente alguma situação, levando o indivíduo a passar pelo fenômeno para
que em busca, mesmo que de forma simples, ele consiga compreender ou mesmo
apenas perceber a função que esta emoção tem para si e qual a relação de todo esse
processo para com o mundo. Para fundamentar o trabalho foram eleitos autores
clássicos como Aristóteles (2002), Schopenhauer (2004) e Nietzsche (2005),
paralelamente a autores contemporâneos como Cerqueira; Cunha; Almeida; Andrade
(2018), Pereira (2009) e Ramos-Oliveira (2018).
1 INTRODUÇÃO
O tema escolhido para a pesquisa é a Schadenfreude, e ao permear este,
procurou-se definir o objetivo do trabalho, delimitando-se em apontar hipóteses nas
quais a schadenfreude se desenvolve nas relações inter e intrapsicológicas. Para tanto, o
conceito de Schadenfreude que será adotado no decorrer da escrita da pesquisa é
trabalhado por Yang (2015), em que afirma que o fenômeno diz respeito ao fato de
pessoas se sentirem melhores ao verem o fracasso de outros. No trabalho, evidenciou-se
como o objeto, a schadenfreude, sendo considerado um constructo social, a partir do
1
Acadêmico do curso de Psicologia, jakson.advogado@hotmail.com.
2
Professor doutor do curso de Psicologia da UNIGRAN CAPITAL, Rua Abrão Júlio Rahe, 325, Campo
Grande – MS, jeferson.montreozol@gmail.com.
7
3
Entendemos neste trabalho uma importante diferença entre o consulente e o paciente. A diferença está
pautada na questão da responsabilidade de si mesmo, que encontramos no consulente, e que não existe
com a mesma força na figura do paciente, que, pode ser passivo durante todo o processo terapêutico,
enquanto que o consulente precisa, necessariamente, de certa lucidez, ou, como mencionado,
responsabilidade de si, para que todo o processo terapêutico ocorra completamente.
8
2 SCHADENFREUDE
4
É possível acessar o dicionário em questão por meio de endereço eletrônico:
https://www.infopedia.pt/dicionarios/alemao-portugues/Schadenfreude.
9
5
Schadenfreude quando apresentada como substantivo é considerada um substantivo feminino, A
SCHADENFREUDE. Porém, ao tratar da schadenfreude como um fenômeno psicológico, utiliza-se o
gênero masculino, referindo a palavra fenômeno: o fenômeno schadenfreude.
10
Nem toda ação ou paixão admite a observância de uma devida mediana. Com
efeito, a própria designação de algumas implica diretamente o mal, tais como
a malevolência (epikhairekakia – expressão composta que significa
analiticamente o ato de se regozijar com a infelicidade alheia), a imprudência,
a inveja e, entre as ações, o adultério, o roubo e o homicídio. Todas estas e
outras ações e paixões semelhantes são condenáveis como sendo más em si
mesmas – não é o excesso ou a deficiência delas que condenamos. É
impossível, portanto, agir corretamente ao praticá-las, estando nós
necessariamente errados ao fazê-lo; tampouco agir certo ou errado no caso
delas depende das circunstâncias (ARISTÓTELES, 2002, p. 74-75).
Fica evidente então que, desde antes de Cristo, pensadores como Aristóteles
entendiam que sentir schadenfreude era algo considerado condenável perante a
sociedade cuja emoção era carregada de poder e dominação sobre o outro. É
literalmente como se a dor do outro fosse algo a qual pudesse dar prazer para quem a
presenciava.
Seguindo essa linha do tempo, após Aristóteles, o pensador Schopenhauer
também compreendeu o sentimento de prazer ante o dano alheio como emoções
negativas e que devessem ser combatidas pelo bem do próprio cidadão e sociedade
como um todo. Para Schopenhauer (2004, p. 42-43), sentir schadenfreude é sentir:
Cabe ressaltar que esse prazer, como destaca Nietzsche, frente ao dano alheio
não está ligado a causar dano, ou algum tipo de dor/sofrimento. A resposta positiva está
ligada ao fato de observar, de presenciar o infortúnio do outro, principalmente, quando
há construções sociais que geram possibilidades (que serão analisadas posteriormente)
para tal. Levando em conta esse constructo social, chega-se então a estudos mais
recentes de Andrade; Almeida (2018), Beck (2018), Cerqueira; Cunha; Almeida;
Andrade (2018), Lim; Yang (2015), Ramos-Oliveira; Oliveira (2018) sobre a
schadenfreude que, grosso modo, identificam o sentimento quando o indivíduo
compreende que o outro mereceu aquele dano.
O pesquisador Beck (2018) salienta que existem três tipos de possibilidades de
manifestações desses sentimentos, a saber: 1) quando há o benefício que um grupo rival
seja prejudicado; 2) quando o infortúnio for entendido como devidamente merecido; 3)
quando o observador sente inveja da pessoa que sofreu o dano. Essas possibilidades
serão esmiuçadas e analisadas no subtópico a seguir.
6
No original, em Espanhol: “existe relacion entre la envidia y variables psicosociales como la
autoeficacia, la autoestima, el control percibido y la predisposicion a comportamientos agresivos que
predicen la envidia. Cuando hay envidia y le ocurre una desgracia a quien es envidiado las emociones
pueden manifestarse de diversas formas: se puede simpatizar y tener sentimientos de preocupacion y
13
dolor por esa persona, o tambien se puede pasar por la experiencia de un sentimiento gratificante derivado
de dicha desgracia, este fenomeno es llamado Schadenfreude” (RESTREPO, 2019, p. 125).
14
Por fim, a baixa autoestima, que dentre os fatores citados, é o que menos se
aproxima ou tem proximidade direta com o sentimento de inveja. O sentimento de baixa
autoestima vem de uma situação de falha, alguém que teve algum infortúnio ao longo de
sua vida e que não conseguiu superar, entendendo, na maioria das vezes, que, as pessoas
sentem apenas pena de si.
Uliana (2017, p. 18) considera que “por outro lado, o indivíduo que é alvo do
sentimento de pena pode ser levado à depressão, desespero e ainda ter diminuído seu
empoderamento e a sua autoestima, na medida em que se conforma e se auto justifica a
uma condição inferior”.
Além da pena, os indivíduos que sofrem com a baixa autoestima podem também
sofrer com medo das reações negativas que a exposição social pode acarretar, fazendo
com que tenham comportamentos semelhantes aos estereótipos de seus grupos, evitando
que demonstrem aquilo que realmente pensam ou são.
Ao mergulhar na baixa autoestima, necessidade de aceitação e estereótipos
sociais, o fenômeno schadenfreude se desenvolve à medida que suas emoções são
provocadas, podendo, consequentemente, sentir prazer ante o dano do outro, por conta
dos limites impostos (ou deixados de ser impostos), seja intra ou interpsicológicos. A
seguir será destacado algumas especificidades em relação a Gestalt-Terapia, as quais
possibilitam o diálogo conceitual entre ela e o fenômeno tratado no trabalho, ou seja, a
schadenfreude.
7
Quando a palavra “Gestalt” aparecer sozinha, ou seja, não acompanhada do termo: Terapia, trata-se do
entendimento da formação dela enquanto conceito/ideia.
8
Doravante: G-T.
17
A partir dos elementos destacados, se torna mais perceptível que a G-T é uma
abordagem fenomenológica clínica, sendo centrada na descrição do sentimento, do
emocional, ou da awareness9, algo muito pautado em um olhar, consideravelmente,
humanista. Ou nas palavras de Frazão, “[...] por meio do desenvolvimento das
potencialidades humanas de crescimento e criatividade. O homem se autodetermina,
interage ativamente com seu ambiente, é livre e pode fazer escolhas, sendo responsável
por elas no universo inter-relacional no qual vive, o que constitui um novo paradigma”
(FRAZÃO; FUKUMITSU, 2013, p. 08).
Em consonância ao destacado, Rehfeld (2016, p. 16) salienta que, “[...] a
fenomenologia exige uma nova atitude diante do conhecimento e da filosofia da ciência.
Sua tarefa é elucidar não o mundo e a realidade tomados em si mesmos, mas as relações
vividas e efetivas que se estabelecem, ao mesmo tempo necessária e livremente, entre
homem e mundo”.
A relação observável do homem e do mundo é consolidada a partir da
construção das várias Gestalten10. Disso emerge, por exemplo, o diálogo tão frutífero
das questões da Fenomenologia e do Existencialismo, para formar o entendimento do
pensamento filosófico, pensando principalmente que a base da G-T é ainda na
atualidade a filosofia, para tal destaca-se as palavras de Chauí (1995, p. 14) que diz “a
reflexão é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, interrogando a
si mesmo". Nesta intersecção o Existencialismo se faz presente.
O processo de autocompreensão, e destaca-se este termo, pois, partindo-se da
ideia de que o indivíduo/consulente merece adquirir certa consciência ou percepção de
alguma situação ou fato, o processo reflexivo é, sem dúvida, o início, o meio e o fim
para se alcançar a noção de responsabilidade no que diz respeito a saber o que fazer com
o que fizeram de você. Neste ponto, há algumas questões desenvolvidas já na G-T
como, por exemplo, os fatores perceptivos, ou as formas de organização das
informações que cercam o indivíduo e estão ligadas a experiência psicológica dele.
9
Tomaremos a tradução deste termo não de maneira literal, mas, pensando dentro do contexto da
pesquisa. Neste sentido, entende-se o termo como: “conhecimento ou percepção de uma situação ou fato”.
10
Plural da palavra: “Gestalt”.
19
experienciam primariamente como uma doença, uma mudança básica na sua atitude
diante do meio ambiente” (GOLDSTEIN, 1995, p. 328).
Não há como satisfazer todas as demandas que surgem e, por isso, na Gestalt-
terapia tem-se o que se denomina hierarquia de necessidades em que o indivíduo de
modo instintivo escolhe aquilo que é mais urgente que se resolva, levando em conta
necessidades biológicas e emocionais. Com isso, Perls (1969) entendeu que existe a
possibilidade de um adoecimento psíquico do ser humano, o que pode causar bloqueios
ou uma não fluidez no ciclo natural da autorregulação, o que, nesse caso, realizamos
uma relação com o fenômeno chamado Schadenfreude.
De acordo com Lima (2014), cada indivíduo possui uma necessidade que exige
maior pressa para que seja satisfeita, quando esse processo se dá de modo não saudável
ou não funcional, a sensação do consulente sempre será de um ciclo inacabado.
É sabido que o ser humano é um animal, ou melhor, uma espécie, que apresenta
uma peculiar pluralidade, ou seja, é multifacetada em várias maneiras. Entendemos que,
uma das facetas são os sentimentos que transforma a humanidade no que entendemos
como humanidade.
Existem, neste sentido, diversos desejos, situações controversas, disputas que,
em determinadas ocasiões, ou olhares, não fazem sentido. O sentir é algo íntimo do ser
humano. Algo que, de certa forma, está atrelado ao processo do logos11, a forma de
construir, de enxergar, de se enxergar em um mundo que, de várias maneiras pode ser
cruel ou gentil.
Entender o fenômeno e o existencialismo é um processo um tanto quanto duro,
mas, necessário, para se adquirir consciência de certas atitudes, as quais podem (ou não)
prejudicar o sujeito, sendo sabido apenas se realizando tal processo. A G-T se apresenta
satisfatória para se pensar o fenômeno schadenfreude devido suas especificidades da
configuração e de compreensão das informações obtidas.
11
Quando destacamos a ideia de logos, estamos pensando de maneira mais solta, despretensiosa, algo que
se relaciona ou se aproxima da ideia de racionalidade. Mas, não uma racionalidade tão dura que não esteja
contaminada com todos os sentimentos possíveis de um ser humano.
24
todo tem características que não estão em suas partes, ela auxilia também, por exemplo,
no processo de autorregulação.
Levando-se em consideração a totalidade que é um indivíduo, ou seja, o
universo de possibilidades que é um ser humano, o entendimento do todo que ele
representa se torna possível compreender, por exemplo, as aplicabilidades em suas
especificidades, entendendo-as melhor, como é o caso da interação da G-T com o
conceito da autorregulação desenvolvido pela teoria organísmica.
Em outras palavras, seria, partindo do contexto mais amplo para as partes
menores sem, no entanto, deixar de compreender a especificidade que reside no todo, ou
no contexto mais amplo. Assim, a partir da percepção e do conjunto de estímulos, sendo
físicos e comportamentais, se torna possível traçar uma perspectiva em que, por
exemplo, o equilíbrio, a simetria, a estabilidade e a simplicidade, se consolide.
Neste interim, a personalidade e a subjetividade merecem ser levadas em
consideração, pensando principalmente, que a percepção do indivíduo de seu próprio –
Eu – está diretamente ligada a bagagem cultural e individual, isso implica, de certa
maneira, no reconhecimento, como também no processo de autorregulação. A
percepção põe em cheque a lógica das relações físicas e traz à tona a potencialidade da
subjetividade. Esta, por sua vez, é um elemento importante para que se realize todo o
processo, se efetivando o trabalho do terapeuta com o consulente.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
contribuir para que se tenha mais e mais pesquisas para se entender as especificidades
dela, para que em outras etapas, como, por exemplo, pesquisas em seções terapêuticas
se consiga dar passos adiante no que diz respeito a profundidade de conhecimento a
respeito da schadenfreude.
REFERÊNCIAS
FRAZÃO, Liliam Meyer. Um pouco da história ... um pouco dos bastidores. In:
Gestalt-terapia: fundamentos epistemológicos e influências filosóficas. Organização:
Lilian Meyer Frazão e Karina Okajima Fukumitsu. São Paulo. Summus, (coleção
Gestalt-terapia: fundamentos e práticas), 2013.
GINGER, S.; GINGER A. Gestalt: uma terapia do contato. Tradução: Sonia de Souza
Rangel. São Paulo. Summus, 1995.
KUSHNER, Harold S. Quando Coisas Ruins Acontecem às Pessoas Boas. São Paulo:
Nobel, 1988.
LIM, M.; YANG, Y. Effects of users’ envy and shame on social comparison that occurs
on social network services. In: Computers in Human Behavior, v. 51, p. 300–311,
2015.
PERLS, F. Ego, fome e agressão: uma revisão da teoria e do método de Freud. Trad.
Georges D. J. Bloc Boris. Nova York: Vintage Books, 1969.