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CENTRO DE HUMANIDADES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
FORTALEZA – CE
2019
HILDA PINHEIRO DA COSTA
FORTALEZA – CE
2019
HILDA PINHEIRO DA COSTA
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________________
Prof. Dr. Walberto Silva dos Santos (orientador)
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_________________________________________________________________
Prof. Dr. Cássio Adriano Braz de Aquino
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_________________________________________________________________
Prof.a Dr.a Giovana Veloso Munhoz da Rocha
Universidade Tuiuti do Paraná (UTP)
_________________________________________________________________
Prof.a Dr.a Juliana Barreiros Porto
Universidade de Brasília (UNB)
_________________________________________________________________
Prof.a Dr.a Regina Heloisa Mattei de Oliveira Maciel
Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
_________________________________________________________________
Prof. Dr. Valdiney Veloso Gouveia
Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
AGRADECIMENTOS
Meus mais sinceros agradecimentos a todos (familiares, amigos, colegas, professores, alunos
e participantes) que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste sonho. Por
tantos motivos, cabe um reconhecimento especial à minha avó Zuleica (em memória), que
certamente estaria vibrando com essa conquista; à minha mãe Valéria, pelo apoio
incondicional de sempre; à minha filha Marisol, pela inspiração e esperança diárias; ao meu
companheiro Anderson, pelo cuidado e presença constante, especialmente na reta final dessa
trajetória; ao meu orientador e amigo Walberto, por tantos ensinamentos, dedicação e
paciência; e à FUNCAP (Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e
Tecnológico), pela concessão da bolsa de estudos que me permitiu ter dedicação exclusiva ao
desenvolvimento desta pesquisa.
RESUMO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 11
2 PSICOPATIA ........................................................................................................... 17
2.1 Breve histórico e conceitos da psicopatia ............................................................... 17
2.2 Psicopatia × sociopatia × transtorno da personalidade antissocial ..................... 22
2.3 “Origens” e modelos da psicopatia ......................................................................... 24
2.3.1 Visão biológica /cognitiva ........................................................................................ 24
2.3.2 Visão genética/evolucionista .................................................................................... 26
2.3.3 Visão sociológica ....................................................................................................... 29
2.3.4 Modelos em psicopatia ............................................................................................. 30
2.4 Psicopatia e personalidade....................................................................................... 32
2.5 Medida e avaliação em psicopatia ........................................................................... 35
3 LIDERANÇA NAS ORGANIZAÇÕES ................................................................. 39
3.1 Breve histórico e conceitos de liderança ................................................................. 41
3.2 Abordagens em liderança ........................................................................................ 44
4 PSICOPATIA CORPORATIVA ............................................................................ 54
4.1 Psicopatia no trabalho e nas organizações ............................................................. 55
4.2 Psicopatia corporativa e comportamentos contraproducentes no trabalho ....... 59
4.3 O psicopata “de sucesso” ......................................................................................... 60
4.4 Psicopatia corporativa e liderança/gestão .............................................................. 62
4.5 Psicopatia corporativa e os estilos de gestão transformacional, transacional
e laissez-faire ............................................................................................................. 66
5 ESTUDO 1: ADAPTAÇÃO DA VERSÃO BRASILEIRA DA ESCALA DE
AUTORRELATO DE HARE.................................................................................. 70
5.1 A escala de autorrelato de Hare / Self-Report Psychopathy Scale ........................ 71
5.2 Método ....................................................................................................................... 73
5.2.1 Amostra ..................................................................................................................... 73
5.2.2 Instrumentos ............................................................................................................. 73
5.2.3 Procedimento ............................................................................................................ 75
5.2.3.1 Tradução e validação semântica ................................................................................. 75
5.2.3.2 Coleta de dados .......................................................................................................... 75
5.2.4 Análise de dados ....................................................................................................... 76
5.3 Resultados ................................................................................................................. 77
5.4 Discussão parcial ...................................................................................................... 82
6 ESTUDO 2: EPPC (ESCALA DE PERCEPÇÃO EM PSICOPATIA
CORPORATIVA) PARA AVALIAÇÃO DE GESTOR ...................................... 85
6.2 Método ....................................................................................................................... 87
6.2.1 Amostra ..................................................................................................................... 87
6.2.2 Procedimento ............................................................................................................ 87
6.2.2.1 Construção dos itens ................................................................................................... 87
6.2.2.2 Avaliação dos itens ..................................................................................................... 88
6.2.3 Validação semântica ................................................................................................. 88
6.2.4 Coleta de dados ......................................................................................................... 89
6.2.5 Análise de dados ....................................................................................................... 89
6.3 Resultados ................................................................................................................. 89
6.4 Discussão parcial ...................................................................................................... 93
7 ESTUDO 3: PSICOPATIA CORPORATIVA, PERSONALIDADE E
ESTILO DE GESTÃO ............................................................................................. 96
7.1 Método ....................................................................................................................... 97
7.1.1 Delineamento e Hipóteses ........................................................................................ 97
7.1.2 Amostra ..................................................................................................................... 99
7.1.3 Instrumentos ........................................................................................................... 100
7.1.4 Procedimento .......................................................................................................... 101
7.1.5 Análise de dados ..................................................................................................... 101
7.2 Resultados ............................................................................................................... 102
7.2.1 Correlatos da psicopatia corporativa (personalidade normal, sombria e
estilos de gestão)...................................................................................................... 103
7.2.2 Psicopatia corporativa, tipo de organização e gênero do(a) gestor(a) ............... 106
7.2.3 Personalidade, psicopatia corporativa e estilo de gestão: proposta de um
modelo explicativo .................................................................................................. 110
7.3 Discussão parcial .................................................................................................... 111
8 DISCUSSÃO GERAL ............................................................................................ 115
8.1 Resultados principais ............................................................................................. 115
8.2 Implicações práticas ............................................................................................... 119
8.3 Limitações e direções futuras ................................................................................ 120
8.4 Considerações finais ............................................................................................... 121
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 123
ANEXOS ................................................................................................................. 148
ANEXO A – SRP-BR (Versão brasileira da SRP) ................................................... 149
ANEXO B – Inventário dos Cinco Grandes Fatores de Personalidade ................... 150
ANEXO C – Dark Triad Dirty Dozen ...................................................................... 151
ANEXO D – Questionário sociodemográfico .......................................................... 152
ANEXO E – Parecer do comitê de ética .................................................................. 153
ANEXO F – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .................................... 154
ANEXO G – Formulário para análise de juízes (EPPC) ......................................... 156
ANEXO H – Escala de Percepção em Psicopatia Corporativa ................................ 165
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1 INTRODUÇÃO
Business Scan 360 – B-Scan 360 (BABIAK; HARE, 2012; MATHIEU et al., 2013), agora
com sua recente versão em autoinforme, o B-Scan Self (MATHIEU; BABIAK, 2016). Com
base nisso, destaca-se, também, a escassez de medidas para avaliar a psicopatia corporativa.
As expressões psicopata corporativo, psicopata executivo, psicopata industrial,
psicopata organizacional, psicopata de sucesso, psicopata subclínico ou psicopata não
criminoso são usadas indiscriminadamente ao longo dos estudos da área para descrever
indivíduos com elevados traços de psicopatia que trabalham e operam, muitas vezes com
sucesso, no âmbito das organizações (BODDY, 2005; ULLRICH; FARRINGTON; COID,
2008). Ainda que algumas características possam parecer adaptativas a curto prazo, vem-se
ampliando a noção do psicopata de terno e gravata (ou saias1) como uma pessoa que sabe
muito bem compreender as relações de poder dentro de uma empresa, possui visão estratégica
e, muitas vezes, sabe ter foco, exatamente como se demanda dos líderes fortes e seguros. A
grande diferença é que as táticas e estratégias utilizadas por esses indivíduos servem apenas
para atingir seus próprios objetivos.
O psicopata corporativo mente, explora e manipula os outros, o que não reflete
um funcionamento cognitivo e psicossocial saudável e gera consequências desastrosas para o
ambiente organizacional. Utiliza-se de charme para conquistar a confiança e entrar no meio
corporativo, muitas vezes com ações cínicas, inescrupulosas e antiéticas na disputa de cargos,
salários e poder, causando danos psicológicos e muito sofrimento (BABIAK, 1995, 2000;
BODDY, 2011; CLARKE, 2011).
Babiak e Hare (2006) propõem quatro explicações para o aumento da prevalência
de psicopatia nas organizações. Primeiro, alguns traços da personalidade psicopática, como
charme, carisma e uma certa habilidade com manipulação social, parecem ser atrativos em
processos de recrutamento e seleção de pessoal e contribuem para o ingresso na organização.
Dessa forma, o psicopata geralmente causa um impacto positivo em entrevistas em geral.
Segundo, algumas organizações selecionam indivíduos com tendências psicopáticas porque
atribuem rótulo de liderança ao que, na verdade, trata-se de conduta psicopata. Por exemplo,
apresentar senso de responsabilidade, tomar decisões e influenciar pessoas são atributos
clássicos de liderança, mas que podem vir disfarçados como coerção, dominação e
manipulação. A terceira explicação diz respeito à própria natureza dos negócios. No final dos
1
As revisões de literatura sobre psicopatia em mulheres evidenciam, em geral, taxas mais baixas de prevalência
do que entre os homens (VITALE; NEWMAN, 2001). Essa tendência não parece ser específica da psicopatia,
já que também se observam diferenças nas manifestações comportamentais em outros transtornos (HUSS,
2011). No entanto, há evidências em que essa diferença não é significativa (MILLER; WATTS; JONES, 2011)
e, portanto, a variável sexo não deve ser ignorada no estudo da psicopatia.
14
que tais variáveis atuam como antecedentes do estilo de gestão transformacional (variável
critério), buscando-se compreender o papel dos traços de personalidade (big five e dark triad)
nessas interações.
Finalmente, apresentam-se a Discussão Geral e as Conclusões, indicando os
principais resultados, as possíveis limitações dos estudos e algumas sugestões para pesquisas
futuras.
17
2 PSICOPATIA
psicopatia uma incapacidade de se preocupar com a dor e o sofrimento do outro. Sem esse
pré-requisito fundamental para o estabelecimento de relações interpessoais construtivas, o
psicopata apresenta dificuldade para manter vínculos afetivos de qualquer ordem.
Os primeiros experimentos de Hare sobre a psicopatia aconteceram em 1965 e
mediam excitação fisiológica (HARE, 1968). Voluntários, todos do sexo masculino,
conectados a um monitor de glândulas sudoríparas, foram informados que receberiam um
breve choque elétrico. O estudo, publicado no The Journal of Abnormal Psychology, revelou
que enquanto a maioria dos criminosos, assim como sujeitos do grupo controle, exibiu
significante estresse fisiológico prévio ao choque, o mesmo não ocorreu com os psicopatas.
Eles permaneciam imparciais diante da ideia de receber um choque elétrico. Em estudo
similar, publicado anos depois, os participantes foram perguntados se preferiam receber o
choque imediatamente, ou após um período de 10 segundos. 56% dos psicopatas (contra 90%
dos outros participantes) escolheram a opção de se livrar logo do choque, sugerindo que eles
não se importavam em esperar por um evento desagradável (HARE, 1978).
Em outro estudo que media atividade cerebral por meio de neuroimagem, Hare
percebeu que os psicopatas não apresentavam mudança de estimulação no sistema límbico
(associado ao processamento de material emocional) ao serem expostos a palavras com
conteúdo emocional negativo, como cadáver, larva ou tortura. Em vez disso, a ativação
ocorreu nas regiões do cérebro que envolviam a compreensão e produção da linguagem, como
se os psicopatas analisassem o material em termos linguísticos, descoberta muito significativa
para a época. No entanto, o primeiro artigo descrevendo esses dados foi rejeitado pela revista
Science, que alegou não se tratarem de pessoas reais, já que 80% dos grandes pesquisadores
em psicopatia nunca estiveram em contato direto com um psicopata (HARE, 2017). Assim, os
estudos pioneiros com neuroimagens, nos quais se avaliava como criminosos processavam
material semântico e emocional, foram posteriormente publicados por Williamson, Harpur e
Hare (1991), Intrator et al. (1997), Hare (1998) e Kiehl (2006). Deduz-se, portanto, que a
idiossincrasia de processamento emocional e da linguagem são centrais para os déficits
afetivos, sendo a psicopatia resultado de um funcionamento deficiente do cérebro, mas não
um defeito estrutural (BLACKBURN, 2006). O estudo da psicopatia por meio de
neuroimagens ainda é incipiente e poucas conclusões podem ser derivadas dessa via.
Hare (1980) definiu, inicialmente, a psicopatia como um construto
unidimensional composto por dois fatores correlacionados. O Fator 1 envolvia aspectos
clínicos (interpessoais e afetivos), e o Fator 2, aspectos comportamentais, cujas características
definiam um estilo de vida antissocial. Sob tal perspectiva, para o diagnóstico de psicopatia,
21
2
Há uma interessante discussão dentro do Direito Penal, que não perpassa nossos objetivos, sobre a
imputabilidade do psicopata. Em uma visão clássica, os psicopatas fazem julgamentos morais, mas
simplesmente não ligam se seus atos são moralmente corretos. Já numa visão não clássica, os psicopatas não
fazem realmente julgamentos morais, eles apenas fingem fazê-los a fim de manipular as aparências e as pessoas
ao redor (SINNOTT-ARMSTRONG, 2008).
22
Mesmo após essas explanações, ainda é difícil fornecer uma resposta sucinta à
pergunta “o que é psicopatia?”, uma vez que a diversidade de abordagens e modelos impede a
comparação de resultados nos estudos empíricos. Essa situação exige que a pesquisa em
psicopatia seja considerada desde uma perspectiva ampla (KRUEGER, 2006).
humano apresenta, portanto, uma espécie de sistema cerebral que controla e coordena muitas
de suas funções físicas e mentais, embora possa apresentar falhas ou conflitos. Ainda que
pesquisas clássicas não consigam descobrir indícios da existência de danos no lobo frontal
dos psicopatas, Raine e Yang (20006) sugerem anormalidades no córtex pré-frontal,
crescimento no corpo caloso, redução no hipocampo posterior, redução no volume da
amígdala e redução na massa cinzenta pré-frontal. Em resumo, de um ponto de vista teórico,
um comprometimento anatômico na parte pré-frontal do cérebro ajudaria a explicar o
comportamento impulsivo do psicopata, sustentando as teorias que apostam em uma baixa
excitação/destemor como responsável pelo prejuízo social e emocional causado pelo
comportamento desse indivíduo.
Outra constatação interessante na área biológica é a observação de que o
componente da antissocialidade (agressão, impulsividade, criminalidade) está relacionado a
um comprometimento nos centros de serotonina (MINZENBERG; SIEVER, 2006). Os
aspectos neuroquímicos da psicopatia, no entanto, permanecem desconhecidos.
Uma teoria que explica a psicopatia em função de bases biológicas, através da
cognição humana e de mecanismos psicológicos, é a Reinforcement Sensitivity Theory, ou
simplesmente “RST” (HAUCK FILHO; TEIXEIRA; DIAS, 2012). Esse modelo propõe que
experiências emocionais e comportamentos podem ser explicados a partir do funcionamento
de três sistemas: o Behavioral Inhibition System (BIS), o Behavioral Approach System (BAS)
e o Fight-Flight-Freeze System (FFFS) (GRAY; MCNAUGHTON, 2000). Assim, as
diferenças individuais ocorrem em função da sensibilidade e da ativação desses três sistemas
neuropsicológicos. No caso específico da psicopatia, ela envolve uma combinação específica
de cada um desses elementos, a saber: um elevado funcionamento do BAS e um reduzido
funcionamento do BIS e do FFFS. Ao mesmo tempo, outras correntes defendem a baixa
responsividade à punição e alta impulsividade (FOWLES; DINDO, 2006).
O BAS é responsável por fazer o organismo se movimentar em direção a
reforçadores biológicos. Um alto nível de funcionamento desse sistema está relacionado a
recompensas e impulsividade. O FFFS é responsável pelos comportamentos de luta, fuga ou
congelamento. Um baixo nível desse componente envolve um temperamento pouco
responsivo a estímulos de ameaça e perigo. Por fim, o BIS é um sistema que processa
conflitos. Assim, um BIS deficitário pode acarretar falhas em processar adequadamente os
estímulos, não gerando a ansiedade normalmente observada na maioria da população (CORR,
2010).
26
Tal como acontece com outras diferenças individuais, é muito provável que a
psicopatia tenha um componente hereditário (BLONIGEN et al., 2003; LARSSON;
ANDERSHED; LICHTENSTEIN, 2006). Uma metanálise com gêmeos aponta para a
natureza hereditária do comportamento antissocial e a provável contribuição de fatores
ambientais compartilhados (WALDMAN; RHEE, 2006). Distúrbios do comportamento
antissocial, dependência química e características de personalidade relacionadas à
impulsividade e agressão formam parte de um “espectro de exteriorização” da personalidade,
todos relacionados a um único fator genético que pode ser modelado pelo meio social
(KRUEGER, 2006). Em uma amostra de gêmeos com idades entre 9 e 10 anos, Baker e
colegas (2007) encontraram um fator comum relacionado a comportamentos antissociais
(composto por traços de agressão e delinquência), observado entre familiares e, portanto,
considerado fortemente hereditário (BAKER et al., 2007). Além disso, parece que as
influências genéticas contribuem para que as diferentes facetas da psicopatia variem
conjuntamente com um fator global de psicopatia latente, que também é influenciado pelos
genes (LARSSON; ANDERSHED; LICHTENSTEIN, 2006). Porém, parece não haver
estudos que avaliem o risco, para os filhos, de ter um dos pais psicopata.
Para a Psicologia Evolucionista, disciplina pouco explorada no Brasil, a mente e
os comportamentos humanos se desenvolveram em resposta aos problemas ancestrais, que
demandavam ajustes com o meio (fitness) e consequente sucesso evolutivo. Tais adaptações
estariam essencialmente atreladas a mecanismos de propagação genética, ou seja, vinculam-se
sempre à manutenção da vida. Nesse sentido, as diferentes tendências psíquicas são
explicadas em termos das vantagens e desvantagens no que diz respeito àquilo que poderia ser
entendido como “interesse genético” (HARPENDING; SOBUS, 1987; MEALEY, 1995;
NICHOLSON, 1997). Contrária ao determinismo biológico, essa perspectiva não ignora a
influência do meio social e da cultura. Alguns autores, como Glenn, Kurzban e Raine (2011),
argumentam que a psicopatia é mais predominante em ambientes específicos, provavelmente
onde apresenta mais vantagem para o indivíduo. Muitos dos comportamentos do psicopata
(frieza, insensibilidade, capacidade de resistir à pressão sem ansiedade etc.), embora
associados à patologia, são extremamente valorizados em nossa sociedade, principalmente em
contextos específicos, como o laboral contemporâneo. Portanto, desde uma perspectiva
evolucionista, a psicopatia pode ser compreendida não apenas como um problema
psicossocial, mas pode ter sido perpetuada em função de uma estratégia adaptativa (GLENN;
KURZBAN; RAINE, 2011). Isso não significa bem-estar psicológico ou comportamentos
socialmente valorizados (DA SILVA; RIJO; SALEKIM, 2015), mas vantagem adaptativa
28
para o indivíduo que apresenta determinados comportamentos. Nesse sentido, alguns pos-
tulados dessa perspectiva são também elucidativos para uma melhor compreensão das origens
da psicopatia.
O ser humano é um produto recente da evolução e, como tal, pode apresentar
mecanismos que, embora socialmente inaceitáveis hoje (como, por exemplo, o estupro),
apresentaram, e aqui não cabem julgamentos morais, vantagem reprodutiva em alguma
medida. Autores sugerem que algumas variações genéticas são mantidas por seleção, de
forma que um traço considerado psicopatológico (como a falta de culpa) pode ser adaptativo
em situações específicas (BUSS, 2009; HARE, 2017). Por exemplo, características da
sociedade contemporânea, como relações virtuais, fugazes e anônimas, evocam traços
psicopáticos (GLENN; KURZBAN; RAINE, 2011).
Dentro da visão evolucionista, também há diferentes maneiras de compreender a
etiologia e perpetuação da psicopatia. A teoria dos ciclos de vida (life history theory) propõe
que o ser humano se move para sobreviver de maneira “rápida” ou “lenta”, de acordo com sua
percepção da disponibilidade de recursos no ambiente. No primeiro polo do contínuo estão os
indivíduos que buscam o benefício imediato, voltam-se para o curto prazo, são mais
desapegados emocionalmente. Em contraste, os indivíduos que adotam um ciclo de vida
“lento” investem na autopreservação e garantem recursos/benefícios para o futuro. Indivíduos
com traços de psicopatia estariam no polo rápido, que, embora socialmente reprovável, é
evolutivamente eficaz porque também contribui para reprodução e sobrevivência (JONASON;
LI; BUSS, 2010).
Outro modelo difundido é a seleção dependente de frequência (frequency-
dependent selection) (HARPENDING; SOBUS, 1987; MEALEY, 1995), que ocorre quando
uma estratégia ou traço torna-se adaptativo apenas se aparece em uma pequena parcela da
população. Por exemplo, o peixe-espada que apresenta tamanho maior para impressionar as
fêmeas e defender territórios é o que tem mais chances reprodutivas/de sobrevivência. No
entanto, aqueles de tamanho muito reduzido, ou seja, pouco frequentes na população, também
conseguem se perpetuar através de copulações furtivas, passando despercebidos pelos outros
machos do grupo (LALUMIÈRE; MISHRA; HARRIS, 2008). De maneira similar, em
ambientes onde a maioria das pessoas adota estratégias de cooperação, honestidade e
socialização, uma pequena parcela pode ser capaz de manter estratégias parasíticas e
exploradoras de forma vantajosa (GLENN; KURZBAN; RAINE, 2011). Portanto, se a
psicopatia fosse um mecanismo completamente disfuncional, muito provavelmente não teria
sido selecionada ao longo da evolução (KRUPP et al., 2013). Por essa razão, autores afirmam
29
(get along); “crescer” (get ahead); e “encontrar um sentido” (find meaning) (HOGAN;
BLICKLE, 2018). Esses estudiosos observam que, em um nível profundo e muitas vezes
inconsciente, as pessoas são motivadas pelas necessidades de atenção, aprovação e aceitação;
status, poder e controle de recursos; e previsibilidade e ordem em suas vidas cotidianas. O
delineamento principal da teoria socioanalítica propõe que os seres humanos carregam muito
de seus ancestrais. Assim, o homem “moderno”, que só existe há cerca de 200 anos,
considerando a sociedade pós-industrial, ainda carrega muitas características dos caçadores-
coletores, que viveram cerca de 13 mil anos.
Para testar essa proposição, Judge e Kammeyer-Mueller (2012) mostraram, em
um estudo ao longo de 30 anos com 717 participantes, que as diferenças individuais
relacionadas à “ambição” predizem realização educacional, prestígio, renda e satisfação com a
vida. Ao mesmo tempo, Blickle e Schütte (2017) sugerem que pessoas com altas pontuações
tanto em psicopatia quanto em habilidade social têm sucesso nas organizações, ao passo que
pessoas com altas pontuações em psicopatia e baixas pontuações em habilidade social
possivelmente apresentam performance baixa (BLICKLE; SCHÜTTE, 2017). Para a teoria
socioanalítica, não existem traços de personalidade, e sim metas, intenções, planos de vida.
Assim, para entender a natureza humana recomenda-se também estudar as origens, porque,
para Hogan e Blickle (2018), o sucesso evolutivo da nossa espécie é a chave para as
incógnitas do comportamento moderno.
A conclusão que se faz desta subseção da tese é que nenhum fator, seja ele
biológico, genético, evolutivo, químico, social ou comportamental, é exclusivo para explicar a
psicopatia (DA SILVA; RIJO; SALEKIM, 2015). À continuação, serão descritos alguns
modelos que compilam elementos etiológicos diversos buscando compreender a psicopatia.
Há quem defenda que a psicopatia pode ser explicada por facetas da personalidade
“normal” (WIDIGER; LYNAM, 1998; VACHON et al., 2013). Ou seja, a psicopatia pode ser
compreendida como uma variação extrema de dimensões comuns da personalidade (MILLER
33
et al., 2001). Por personalidade, entende-se a organização dinâmica dos sistemas psicofísicos
que determinam o modo de ser e pensar e o comportamento característico do indivíduo
(ALLPORT, 1961). Não é à toa, portanto, que os estudiosos têm se interessado em explorar a
relação entre personalidade e psicopatia.
Um dos principais modelos de personalidade é o dos Cinco Grandes Fatores
(CGF), ou big five, uma organização dos traços de personalidade dispostos em cinco grandes
dimensões que fornecem uma estrutura na qual a maioria dos traços pode ser classificada
(MCCRAE; JOHN, 1992). No Brasil, tais fatores vêm sendo nomeados de extroversão,
neuroticismo (instabilidade emocional), amabilidade (agradabilidade ou sociabilidade),
conscienciosidade (escrupulosidade) e abertura à mudança ou experiência (SILVA;
NAKANO, 2011). Cada dimensão avalia com independência diferentes tendências
individuais. Extroversão se refere ao grau de socialização, energia, emocionalidade positiva e
busca de sensações. Neuroticismo é uma dimensão geral que explica as associações entre
emocionalidade negativa e instabilidade emocional. Amabilidade descreve o quanto alguém é
cordial, empático, solidário e abnegado. Conscienciosidade concerne às tendências
individuais relacionadas ao autocontrole, à pontualidade, à precisão e à diligência. Abertura à
mudança explica as diferenças individuais em relação ao interesse pela cultura, estética,
criatividade e flexibilidade cognitiva (MONTEIRO et al., 2015).
Vachon et al. (2013) sugerem que a parcimônia do traço psicológico pode se
estender e formar uma base para explicar a maioria dos transtornos de personalidade. Assim, a
psicopatia, por exemplo, trata-se de um rótulo associado a uma série de traços disfuncionais
que se localizam, principalmente, no espaço entre baixa amabilidade e baixa
conscienciosidade (BLAGOV et al., 2015; DECUYPER et al., 2009; VACHON et al., 2013),
indicando que baixos escores nesses fatores da personalidade podem se configurar como
aspectos centrais da psicopatia.
Outros estudiosos acreditam que exista um lado sombrio da personalidade,
expresso por traços aversivos, ofensivos, porém não patológicos. Motivados a explorar esses
atributos, Paulhus e Williams (2002) indicaram que três traços merecem maior atenção:
narcisismo, maquiavelismo e psicopatia, cunhando o termo dark triad (tríade sombria)
(GOUVEIA; MONTEIRO; GOUVEIA; ATHAYDE; CAVALCANTI, 2016) para designar
traços de personalidade de estilo antagonista, individualista e pouco cooperativo (JONASON;
LI; TEICHER, 2010). As características dessa tríade em muito se assemelham a uma
concepção de psicopatia ampla e integradora.
34
focavam em traços imutáveis, como altura, inteligência, energia física e autoritarismo (HOLT;
MARQUES, 2012), apresentando uma posição reducionista do fenômeno. Rechaçada no fim
da década de 1950, a teoria dos traços evolui e retorna predominante a partir da década de
1980, deslocando o foco de uma análise de sujeitos específicos para o estudo de um conjunto
de traços gerais que seriam preditores de emergência e performance em liderança
(CHEMERS, 2000).
Por muitos anos fragmentado por questões tanto filosóficas quanto relacionadas à
medida, o estudo da liderança pelo viés da personalidade retorna à atualidade, notadamente
depois do reconhecimento de um modelo (quase) universal, os big five, que tem sido
relacionado a praticamente todos os critérios aplicados e em diversas áreas do funcionamento
humano (HASSAN; ASAD; HOSHINO, 2016). Em uma metanálise que agrega os resultados
de 222 correlações de 73 estudos de personalidade e desempenho em liderança, com amostra
contendo mais de 25.000 gestores de todos os níveis em 5.000 organizações do setor
industrial, Judge, Bono, Ilies e Gerhardt (2002) relatam que quatro das cinco dimensões dos
big five preveem significativamente o desempenho da liderança, com
neuroticismo/estabilidade emocional como o melhor preditor (R2 = 0,33) e
amabilidade/agradabilidade como o preditor mais fraco (R2 = 0,07). Obviamente, o modelo
não está isento de críticas, mas essa perspectiva continua aceita e vigente, especialmente
quando se adicionam elementos da psicologia evolucionista e da genética comportamental
(GUDMUNDSSON; SOUTHEY, 2011).
Essas disciplinas sugerem uma definição alternativa de liderança; consideram-na
uma condição singular universal, presente em todas as espécies que possuem cérebro e
sistema nervoso, de insetos a répteis e mamíferos, e tão antiga quanto a atividade coletiva
(JUDGE; PICCOLO; KOSALKA, 2009). A evidência disso é que durante aproximadamente
dois milhões de anos da Pré-História, os humanos viviam em sociedades de caçadores-
coletores e havia uma guerra constante entre eles para garantir a sobrevivência. A liderança
evoluiu, então, como um mecanismo que permitiu que indivíduos “normalmente egoístas” se
unissem para um propósito comum: o de competir com grupos vizinhos e defender territórios
e recursos (HOGAN; KAISER, 2005).
Para a genética comportamental, o traço de liderança é hereditário (ILIES;
GERHARDT; LE, 2004). Alguns estudos, inclusive com gêmeos, revelam níveis de
hereditariedade significativos, muitas vezes na faixa de 30% a 60% (ARVEY et al., 2006;
JOHNSON et al., 2004; BIRD; MENDENHALL, 2016). É importante lembrar que os genes
interagem com o ambiente e não existem independentemente dele. Assim, pode haver forte
43
Foi posteriormente à criação da teoria original que Bass e Bass (2008) incluíram o
terceiro estilo de liderança no modelo, o laissez-faire ou ausência de liderança. Trata-se de
um líder que adota posturas passivas e evasivas na maior parte do tempo. Na ausência de
liderança ou, ainda, na negação da liderança, o líder abre mão ou ignora a sua
responsabilidade, não assume objetivos definidos e adia a tomada de decisões importantes
(NORTHOUSE, 2018). Abrange um estilo passivo e destrutivo que se reflete em níveis
elevados de indecisão, evitação e indiferença (ver YANG, 2015 para uma visão positiva da
ausência de liderança). O estilo laissez-faire tem sido relacionado a estresse e insatisfação no
trabalho (JUDGE; PICCOLO, 2004; SKOGSTAD et al., 2007), bem como bullying e
insegurança (GLAMBEK; SKOGSTAD; EINARSEN, 2018). Mais especificamente, esse
estilo de liderança também vem sendo relacionado à psicopatia corporativa (MATHIEU et al.,
2014; SPENCER; BYRNE, 2016; WESTERLAKEN; WOODS, 2013; MATHIEU et al.,
2015).
Embora se reconheçam as limitações de qualquer modelo teórico, o Full-Range
tem demonstrado validade de construto em diversas configurações culturais, como China,
Índia, Quênia, Estados Unidos (MIAO; NEWMAN; LAMB, 2012) e Brasil (CRUZ;
FREZATTI, 2014; MARTINS, 2016). A teoria tem recebido críticas em razão de ainda se
centrar muito no líder, deixando de considerar a dimensão relacional entre líderes e
seguidores, além de aspectos culturais de cada contexto organizacional. Tal visão, entretanto,
não é unânime. Whittington, Goodwin e Murray (2004) afirmam que a liderança
transformacional não ocorre no vácuo, sendo resultado de uma relação interativa entre pessoas
mutuamente interdependentes, operando em complexos ambientes organizacionais. Para
Davel e Machado (2001), não se pode dizer que a liderança fica somente a cargo do líder, mas
se dá, sobretudo, pela conjunção das suas vontades com as imagens, desejos e crenças
compartilhados pelo grupo.
Voltando à liderança destrutiva, surpreende que seja um assunto pouco explorado,
ainda que evidências sinalizem o impacto negativo na produtividade (OUIMET, 2010), no
desempenho financeiro (TAKALA, 2010) e até na moral dos subordinados (BODDY, 2011).
Um estudo clássico da década de 1980 (BENTZ, 1985) listou temáticas relacionadas a
características de personalidade e comportamentos que impedem uma liderança eficaz,
resumidos por: problemas nos relacionamentos interpessoais; falha em atingir
metas/objetivos; inabilidade de formar equipes; e inabilidade de se adaptar a transições
(LESLIE; VAN VELSOR, 1996). Essa linha de pesquisa inclui, na atualidade, examinar
comportamentos de assédio, liderança tóxica e supervisão abusiva, além das personalidades
50
típicos desses líderes destrutivos são mentira, manipulação, irresponsabilidade, assédio e até
agressão física (MATHIEU et al., 2014). Além disso, uma liderança abusiva está relacionada
a baixa performance (HARRIS; KACMAR; ZIVNUSKA, 2007), estresse e baixos níveis de
satisfação e comprometimento (TEPPER, 2000). Basta um líder disfuncional para derrubar
toda uma organização (GOLDMAN, 2006), o que sustenta a necessidade de se pesquisar
sobre esses líderes que agem de maneira tão antiética e imoral, causando danos a outras
pessoas, ao meio ambiente e à sociedade (BODDY; LADYSHEWSKY; GALVIN, 2010).
Atesta-se, assim, um campo fértil para o exame de importantes processos psicológicos e
psicossociais, como é o caso da psicopatia corporativa, essenciais à própria constituição do
fenômeno organizacional e com profundos impactos sobre a coletividade.
Reconhece-se que líder e liderança tóxica não é a mesma coisa: enquanto o
primeiro se refere àqueles com traços sombrios de personalidade, o último envolve outras
condições que também precisam ser atendidas para acontecer (SCHYNS, 2015). Padilla,
Hogan e Kaiser (2007) trazem a ideia de um triângulo tóxico formado por líderes destrutivos,
seguidores suscetíveis e contexto favorável. Em um estudo clássico na década de 1990,
Taggar, Hackett e Saha (1999) encontraram um percentual de 31% de variância na
emergência da liderança explicada por traços de personalidade, o que é um valor
relativamente alto para as ciências sociais. Parece consenso, pois, que, em determinado
contexto, a personalidade influencia o estilo de liderança adotado, que por sua vez afeta a
atitude do liderado, o funcionamento da equipe e, consequentemente, o desempenho de toda a
organização (HOGAN; KAISER, 2005; SCHYNS, 2015).
Uma metanálise examinou as implicações dos traços sombrios de personalidade
sobre a performance laboral e os comportamentos contraproducentes no trabalho de uma
amostra de 245 estudos publicados entre 1951 e 2011. Descobriu-se uma associação
significativa entre os três componentes da dark triad (narcisismo, maquiavelismo e
psicopatia) e comportamentos contraproducentes no trabalho. É interessante ressaltar que
essas associações foram moderadas por fatores contextuais como autoridade e cultura
(O‟BOYLE et al., 2012). Assim, destaca-se também o papel da cultura3 como um moderador
na relação entre traços sombrios de personalidade e comportamentos destrutivos do líder, de
tal forma que as normas sociais podem tornar mais ou menos provável que essas tendências se
concretizem em comportamento real (BARRETO et al., 2013). Do mesmo modo, a cultura em
3
Aqui se entende cultura de forma abrangente, como um fenômeno complexo que inclui o conhecimento, as
crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo ser humano
como membro da sociedade de determinado local (LARAIA, 2006).
52
4 PSICOPATIA CORPORATIVA
psicopatas? (HARE, 2013). Dejours (1998) já anunciava que, para o sistema funcionar, é
necessário que haja gente que maltrate, subestime e intimide pelo medo, fazendo os
trabalhadores considerarem normal toda essa exploração.
São essas ponderações que norteiam o interesse em aprofundar uma temática tão
relevante, porém tão escassa, especialmente na literatura brasileira. Em pesquisa realizada no
Google Acadêmico em abril de 2019 com os descritores “psicopatia corporativa” e “psicopata
corporativo”, em português, apresentam-se apenas 14 registros, dos quais um único trabalho é
artigo científico revisado por pares e publicado em uma revista com Qualis B5 (TURRIONI;
SILVA, 2016).
Desse modo, o presente capítulo expõe a psicopatia e sua relação com o trabalho e
as organizações em geral. Serão apresentados estudos empíricos realizados na área,
destacando, especialmente, elementos contraproducentes no local de trabalho, como
(in)satisfação e perda de produtividade. Paralelamente, serão discutidos possíveis benefícios
da psicopatia corporativa, abordando o campo que alguns autores defendem como psicopatia
“de sucesso”. Na contramão dessa ideia, a psicopatia corporativa será, finalmente, abordada
no contexto da liderança/gestão de equipes.
morais e legais questionáveis. Para o autor que defende uma psicopatia sistêmica, “a
psicopatia está sendo normalizada” (WEXLER, 2008, p. 232).
A sociedade atual vive um momento histórico, decorrente das ideias do
neoliberalismo, de foco excessivo na esfera material, e isso vem alterando as prioridades na
escala dos valores humanos (LÓPEZ-RUIZ, 2007). Dito de outro modo, a ética da cultura
contemporânea não apenas exalta como também recompensa comportamentos psicopáticos.
Assim, as organizações vêm se transformando em refúgios da “sociedade da camuflagem”,
onde os psicopatas podem se esconder (HARE, 2013). Agora já não parece tão contraditório
pensar como esses indivíduos têm acesso às organizações.
Grupos de “afinidade” em geral, como os religiosos, políticos ou sociais, são
particularmente atrativos para os psicopatas, devido à confiança coletiva que os membros têm
uns nos outros. Essa mesma lógica se aplica às organizações de trabalho, ainda que possuam
uma fundamentação totalmente diferente para justificar sua existência: são projetadas para
combinar o trabalho de diversas pessoas e culminar num produto ou serviço a ser vendido, ou
seja, com fins lucrativos na grande maioria das vezes. Mas como há uma aceitação inerente do
sistema a respeito do modo de ser desse indivíduo, é muito provável que o psicopata encontre
vantagem em estar em uma organização, especialmente as mais “modernas”, cujos controles
são menos burocráticos e mais difusos (BABIAK; HARE, 2006). Com efeito, Boddy (2014)
encontrou em estudo realizado com 304 trabalhadores da Grã-Bretanha que cerca de 35% já
tinha trabalhado com um psicopata corporativo.
Existe um ciclo imbricado de atuação do psicopata corporativo. Primeiramente, a
pessoa com tendências de psicopatia seleciona e é selecionada por organizações ávidas por
ganhos rápidos. Num processo seletivo, quanto menos clara e definida for a posição, o que
acontece com frequência para cargos com níveis hierárquicos elevados, mais chance tem o
psicopata de ser selecionado (BABIAK; HARE, 2006). As aparentes competências de
planejamento estratégico, pensamento crítico, autonomia e capacidade de liderança facilmente
seduzem o entrevistador, manipulando os resultados da seleção. Em seguida, o psicopata
realça suas “habilidades” para se alinhar ao propósito da organização. Uma vez atuando, faz
acordos com pessoas de poder, que confiam nele, e manipula situações que parecem lícitas,
mas de fato só beneficiam o próprio psicopata e seus aliados. Finalmente, a atuação do
psicopata resulta num golpe com algum ganho de ordem econômica e/ou psicológica ou se
torna um escândalo público (WEXLER, 2008).
Babiak e Hare (2006) apontam estilos distintos de psicopata corporativo: os
manipuladores corporativos ou vigaristas; os opressores corporativos; e os marionetistas
57
corporativos. Os primeiros são adeptos de usar os outros para perseguir fama, fortuna, poder e
controle. São enganadores, egocêntricos, manipuladores e superficiais. Não se importam com
as consequências de seus atos e quase nunca assumem responsabilidades, sempre
culpabilizando pessoas ou situações alheias. Nunca ponderam o sofrimento que podem causar
às pessoas, pois não apresentam empatia, remorso ou culpa. No entanto, devido ao charme e
estilo adaptativo e dissimulado, do tipo “camaleão”, podem agradar e construir relações,
escondendo o lado obscuro de sua personalidade. Parecem ambiciosos, mas apresentam
poucos objetivos de longo prazo.
Já os opressores corporativos são o grupo mais agressivo. São indivíduos mais
abusivos que charmosos. Agem mais na coerção, humilhação, assédio, agressão, com receio
de que tomem seu lugar. São insensíveis e se envolvem constantemente em conflitos. Violam
normas sociais, são vingativos e rancorosos. Por fim, os marionetistas corporativos são, em
essência, uma combinação dos estilos anteriores – usam tanto a manipulação quanto a
opressão e representam o estilo mais perigoso. Figuras como Hitler exemplificam esse estilo,
que geralmente aparece rodeado de seguidores controlados e hiperobedientes.
Alguns contextos organizacionais parecem ser mais propícios à atuação do
psicopata corporativo do que outros. Em certos locais, o psicopata encontra espaço para se
desenvolver sem que haja qualquer restrição. Características como o estresse, a má
comunicação, a padronização, a falta de reconhecimento, a fuga à responsabilidade e a
competitividade extrema (HELOANI, 2011) acabam por tornar o ambiente mais suscetível, e
o psicopata corporativo aproveita para atuar. Assim acontece no caso de organizações em
processo de mudança, onde o psicopata usa sua capacidade de manipulação para gerenciar
pontos de vista discrepantes, e acaba se beneficiando na carreira (BABIAK; NEUMANN;
HARE, 2010).
Babiak e Hare (2006) questionam se esse indivíduo teria êxito em uma
organização com estrutura burocrática tradicional, uma vez que é comum seu comportamento
de quebrar regras, não trabalhar bem em equipe e apresentar pouco interesse sincero por
metas e objetivos da organização; portanto, nesse tipo de organização não é tão fácil se
camuflar. Além disso, o psicopata parece não compartilhar da mesma ética organizacional da
maioria dos trabalhadores, que acredita em um trabalho honesto, orgulha-se de fazer uma
atividade digna e valoriza relações de longo prazo.
Em termos de tipos de organização pelos quais psicopatas corporativos são
atraídos, há pouca evidência na literatura que verse sobre essa relação. Hare (1998) diz que
poder, prestígio e dinheiro seduzem os psicopatas, e por isso parece lógico que eles sejam
58
tradicionais, tais como ousadia e conscienciosidade, o que pode favorecer o controle dos
impulsos para comportamentos criminosos. Em contraste com as duas primeiras abordagens,
esta última presume que a psicopatia é definida por um conjunto de traços de personalidade
distintos, em vez de um construto unitário (BENNING et al., 2003; MULLINS-SWEATT et
al., 2010). De acordo com as evidências empíricas, no entanto, essas perspectivas não são
conflitantes, e sim passíveis de integração (LILIENFELD; WATTS; SMITH, 2015).
Ainda que a ciência não tenha avançado o suficiente na compreensão desse
fenômeno, o sucesso da psicopatia é vazio, fugaz e cruel, pois as características desses
indivíduos e o modo como eles atuam seguramente geram consequências desastrosas para o
ambiente organizacional. Mesmo que haja ganhos financeiros em curto prazo, a saúde final da
organização enfraquece como consequência de comportamentos psicopáticos.
Uma vez que suportam confortavelmente os paradoxos da contemporaneidade,
esses indivíduos podem ser vistos como firmes, divertidos, ambiciosos e pragmáticos, quando
na realidade são como “camaleões sociais” (HARE, 2013). As mesmas qualidades que
definem a psicopatia podem ser confundidas com sinais de força no contexto organizacional.
Contudo, falta-lhes a compreensão básica do essencial à constituição do senso de ética e
moral: os sentimentos de empatia, culpa e remorso. No Quadro 3, descrevem-se algumas
características da psicopatia que costumam ser confundidas com competências
organizacionais.
Por fim, Carre et al. (2018) encontrou que a psicopatia corporativa, medida com
base em dois modelos e instrumentos distintos (versão breve da SRP-III e TRI-PM), previu
signifcativamente duas facetas de comportamento contraproducente no local de trabalho:
assédio sexual e comportamentos desviantes. Todos esses estudos representam marcos
importantes para as pesquisas na área da psicopatia corporativa, tentando desvendar os fatores
associados à liderança destrutiva e seu impacto nas atitudes e comportamentos dos
funcionários. Entretanto, as conclusões ainda são incipientes, especialmente com amostra de
trabalhadores brasileiros, onde nenhuma pesquisa empírica foi realizada nessa direção.
Em se tratando do estilo de gestão do brasileiro, Pinto (2005), fundamentado pelos
estudos de Hofstede (1997) sobre cultura organizacional, de Robert House (1999) sobre
liderança carismática e do projeto GLOBE (Global Leadership and Organizational Behavior
Effectiveness Research), identificou que no Brasil tendem a sobressair comportamentos de
gestores que favorecem alguns membros, não comunicam sua visão aos subordinados e tratam
as pessoas de forma injusta, apresentando indícios da presença de psicopatia corporativa entre
gestores nacionais. Ele conclui que a empatia e a preocupação com os liderados,
características dos líderes transformacionais, não estão presentes entre os gestores brasileiros.
Tais gestores, além de ignorar as necessidades alheias, podem ser indelicados e rígidos. O
quadro atual de frequentes mudanças no ambiente de negócios brasileiro (por exemplo, fusões
e aquisições) produz demandas muito complexas para a liderança organizacional.
Para Avolio, Walumbwa e Weber (2009), embora as características pessoais
influenciem a emergência do líder em um grupo, é o seu estilo de liderar o mais determinante
nos resultados econômicos e relacionais. Por essa razão, e por compreender que a liderança é
fenômeno amplo e complexo, a seguir, a relação entre psicopatia corporativa e estilo de
gestão transformacional será explorada.
Importante ressaltar que a gestão e seus resultados não serão alvos da presente
tese. O que se pretende, neste momento, é apresentar um modelo teórico no qual a
personalidade prediz a liderança por meio da influência da psicopatia no estilo de gestão.
transitam por ambientes em que podem ganhar poder, dinheiro e prestígio (BODDY, 2010).
Assim, é mais comuns encontrá-los em alguns tipos de organização e funções, incluindo os
cargos de gestão (LILIENFELD; WATTS; SMITH, 2015; BODDY, 2017).
Segundo Landay, Harms e Credé (2019), indivíduos com tendências psicopáticas
são, de fato, um pouco mais propensos a emergir como líderes, porém são líderes menos
efetivos, pois eles possuam um número de características de personalidade altamente
aversivas que são prejudiciais ao funcionamento eficaz no local de trabalho. Existe,
potencialmente, um grande problema com a ética e o caráter dos líderes corporativos. Isso
implica que há uma necessidade urgente de apreender os efeitos da presença de líderes
psicopatas nas organizações.
Nesse contexto, o charme superficial dos psicopatas corporativos, juntamente com
sua disposição de mentir e a capacidade de apresentar uma falsa aparência de competências e
comprometimento, faz com que pareçam líderes ideais. Para Landay, Harms e Credé (2019),
há, para além da personalidade e do estilo, um forte componente cultural; não é à toa, que o
gênero modera a relação entre psicopatia e liderança, de modo que as mulheres são
penalizadas por exibirem tendências psicopáticas, enquanto os homens podem ser
recompensados por comportamentos semelhantes.
Pontua-se, a partir disso, que a intensa racionalidade e competitividade que
caracterizam o ambiente corporativo, juntamente com um foco excessivo no lucro e pouca
preocupação emocional ou empatia por outros, proporcionam o ambiente ideal para
manifestação dos psicopatas corporativos, considerados úteis ao estilo de capitalismo vigente.
Em termos simples, Pech e Slade (2007) sugerem que os líderes psicopatas são bem-
sucedidos em organizações empresariais por causa dos significados culturais e estruturais que
a sociedade atribui aos líderes ideais. De igual modo, as culturas ocidentais que favorecem o
comportamento gerencial manipulador, egocêntrico e autocentrado são mais propensas a
operar eficientemente, ainda que tenham líderes psicopatas sob a direção (BABIAK; HARE,
2006).
Que tipo de pessoa se almeja para administrar as principais organizações do
mundo, tomando decisões sobre como elas afetam os negócios, o meio ambiente, a sociedade
e a economia? (BODDY, 2017). É crucial, pois, atentar para a dinâmica específica do
contexto organizacional vigente que permite que psicopatas alcancem posições de liderança.
Para Irtelli e Vicenti (2017), a melhor maneira de evitar esse feito é tentar a identificação
antes que os psicopatas corporativos adentrem a organização. Por meio de intervenções
apropriadas, as organizações podem oferecer medidas preventivas, como programas
69
Ainda nos anos 1980, inspirados no sucesso e nas críticas à PCL, Hare e colegas
desenvolveram um instrumento de autorrelato composto de 75 itens que, após algumas
atualizações, resultou em uma versão de 29 itens (HARE, 1980). Essa variante, porém,
apresentou baixa correlação com a PCL e não abarcou adequadamente conteúdos
considerados centrais à psicopatia, como charme superficial, frieza e desonestidade
(LILIENFELD; FOWLER, 2006). Após novas revisões, surgiu a segunda versão da Self-
Report Psychopathy Scale – SRP-II (HARE; HARPUR; HEMPHILL, 1989), contendo dois
fatores. O Fator 1 avaliava características interpessoais e afetivas, enquanto o Fator 2
compreendia estilo de vida impulsivo e comportamento antissocial presentes no histórico de
vida do indivíduo. Essa estrutura, porém, divergia ligeiramente do modelo teórico. Foi então
que se optou por aprofundar o desenvolvimento do conteúdo e dos itens da escala, de forma
que uma terceira versão surgiu, a SRP-III (WILLIAMS; PAULHUS; HARE, 2007).
Essa versão da SRP (WILLIAMS; PAULHUS; HARE, 2007; PAULHUS;
HEMPHILL; HARE, no prelo) surge a partir da constatação de que na escala anterior havia
um excesso de itens relacionados à ansiedade, que demonstrou não ser uma característica
essencial da psicopatia, e uma escassez de itens sobre comportamento antissocial. Por essas
razões, a escala foi sendo modificada, testada e avaliada.
A SRP-III está composta por quatro dimensões espelhadas na estrutura da PCL-R.
São elas: (1) manipulação interpessoal (interpersonal manipulation), que explora
características como mentira patológica e manipulação; (2) afeto insensível (callous affect),
que inclui itens relacionados à baixa empatia e a uma falta geral de preocupação com outras
pessoas; (3) estilo de vida errático (erratic life style), que reflete características como
imprudência e impulsividade; e (4) tendências criminais (criminal tendencies), fator que mede
características antissociais declaradas, bem como atos criminais de outras naturezas.
Além dessa, há ainda uma versão abreviada de 28 itens da SRP-III, a Self-Report
Psychopaty Scale – Short Form (SRP-SF) (CARRÉ et al., 2013; NEUMANN; PARDINI,
2014; PAULHUS; HEMPHILL; HARE, no prelo). Segundo Neumann et al. (2013), a
principal vantagem dessa variante é a redução do tempo de administração.
Atualmente, a versão oficial da escala, lançada no final de 2015, é a SRP-4
(PAULHUS; NEUMANN; HARE, 2015). Este instrumento está composto por 64 itens em
seu formato original e por 29 itens no formato reduzido. Contudo, como se trata de um
produto comercializado pela Multi-Health Systems, sua utilização se tornou inviável no
72
contexto desta pesquisa. Nesse sentido, optou-se pela versão livre da SRP-III, composta por
34 itens, exposta no estudo de Mahmut et al. (2011), e cuja autorização foi concedida via e-
mail por um dos colaboradores da equipe do próprio autor.
A SRP vem demonstrando evidência de validade e confiabilidade em amostras da
população geral (WATT; BROOKS, 2012; GORDTS et al., 2017), correlacionando-se
significativamente com outras escalas de autorrelato em psicopatia (por exemplo, PPI) e
apresentando validade convergente com construtos correlatos à psicopatia, como narcisismo e
empatia (LILIENFELD; FOWLER, 2006). Porém, salienta-se que a escala foi desenvolvida
na América do Norte e pouco se sabe sobre sua validade intercultural, podendo suas
características variar entre países e culturas, como observado no estudo realizado no Japão por
Yokota (2012). Apesar dos traços psicopáticos serem considerados universais (NEUMANN et
al., 2013), superando o contexto cultural, administrar um instrumento em diferentes
populações pode afetar suas propriedades psicométricas, tais como sua estrutura fatorial e
validade externa (BOLT; HARE; NEUMANN, 2007).
Na tentativa de preencher a lacuna do viés cultural, Neumann et al. (2012)
avaliaram a prevalência e a estrutura das características psicopáticas em uma pesquisa com
52.199 pessoas de várias regiões do mundo, utilizando uma versão de 19 itens da SRP-III. Os
resultados indicaram um bom suporte para o modelo de quatro fatores, a invariância do
modelo entre sexos e evidências de invariância entre as mulheres de diferentes regiões do
mundo. A SRP-III também foi validada em uma amostra australiana (WATT; BROOKS,
2012) e, mais recentemente, utilizada em um estudo para mapear tendências de psicopatia em
amostra com participantes de quase todo o mundo (NEUMANN; HARE; PARDINI, 2015).
Não obstante a relevância de adaptações de instrumentos para avaliar a psicopatia,
no Brasil não se encontrou qualquer pesquisa com foco na SRP. Em função disso, este estudo
tem como fim adaptar a SRP para o contexto desta pesquisa. Espera-se apresentar evidências
de validade e precisão de um autorrelato em psicopatia, avaliando sua estrutura fatorial e seus
indicadores de consistência interna e correlacionando-a com uma escala de personalidade (big
five) (JOHN; DONAHUE; KENTLE, 1991) e de personalidade “sombria” [Dark Triad Dirty
Dozen – DTDD (JONASON; WEBSTER, 2010)], ambas adaptadas para o Brasil
(ANDRADE, 2008; GOUVEIA et al., 2016, respectivamente). Uma descrição dos passos
utilizados para alcançar esse objetivo se apresenta no tópico a seguir.
73
5.2 Método
5.2.1 Amostra
5.2.2 Instrumentos
de Cronbach – dos fatores apresentam média de 0,80. Os itens são respondidos utilizando-se
uma escala do tipo likert de cinco pontos, na qual 1 = discordo totalmente e 5 = concordo
totalmente. A versão da SRP em língua portuguesa do Brasil é apresentada no anexo A.
Big Five Inventory (Inventário dos Cinco Grandes Fatores de Personalidade –
IGFP-5). Para avaliar a personalidade, utilizou-se o clássico instrumento elaborado por John,
Donahue e Kentle (1991) e validado no Brasil por Andrade (2008). Em virtude da aplicação
de outras escalas, optou-se por uma versão reduzida do IGFP-5. Nessa versão de 20 itens,
utilizaram-se os quatro itens com maior carga fatorial para cada um dos cinco fatores da
escala original (SCHMITT et al., 2007): (1) extroversão, grau em que se está ativo, assertivo,
falante (por exemplo, “Eu me vejo como alguém que é conversador, comunicativo”); (2)
neuroticismo, grau em que alguém está ansioso, deprimido, irritável (por exemplo, “Eu me
vejo como alguém que é temperamental, muda de humor facilmente”); (3) amabilidade,
referente à generosidade, gentileza e bondade (por exemplo, “Eu me vejo como alguém que
gosta de cooperar com os outros”); (4) consciencisidade, ou seja, a pessoa ser obediente,
organizada e confiável (por exemplo, “Eu me vejo como alguém que faz as coisas com
eficiência”); e (5) abertura à experiência, grau de ser criativo, imaginativo, introspectivo (por
exemplo, “Eu me vejo como alguém que é inventivo, criativo”). Nos Estados Unidos e
Canadá, os coeficientes de precisão dos fatores apresentam média de 0,80, enquanto no Brasil
esta é de 0,70 (ANDRADE, 2008). Os itens são respondidos utilizando-se uma escala do tipo
likert de cinco pontos, na qual 1 = discordo totalmente e 5 = concordo totalmente. Ver anexo
B.
Dark Triad Dirty Dozen – DTDD (JONASON; WEBSTER, 2010). Trata-se de
uma medida com 12 itens, que se destina a mensurar a tríade sombria de personalidade (dark
triad: psicopatia, narcisismo e maquiavelismo), sem pretensão de realizar diagnóstico clínico.
Alguns exemplos de itens são “Costumo manipular os outros para conseguir o que quero”
(maquiavelismo); “Costumo esperar favores especiais dos outros” (narcisismo); e “Eu tendo a
ser insensível ou indiferente” (psicopatia). No Brasil, a DTDD foi validada por Gouveia et al.
(2016) e demonstrou índices de consistência interna satisfatórios, com alfa de 0,85 se
considerada a tríade. Seu uso é pensado para amostras subclínicas, devendo a pessoa
responder a seus itens em uma escala de também cinco pontos, variando de 1 (discordo
totalmente) a 5 (concordo totalmente). Ver anexo C.
Por fim, buscou-se caracterizar a amostra, utilizando um questionário
sociodemográfico (anexo D), em que se incluíram perguntas relacionadas a sexo, idade,
escolaridade, religiosidade, renda familiar etc.
75
5.2.3 Procedimento
No que tange ao processo de tradução da SRP, esta foi realizada do inglês para o
português brasileiro por dois psicólogos bilíngues. Após isso, um terceiro psicólogo, também
bilíngue, comparou as versões e prezou pelo consenso das traduções para formar a versão
final. Posteriormente, objetivando verificar se as instruções estavam claras e se os itens eram
facilmente compreendidos, realizou-se uma validação semântica com dez participantes da
população-geral. Estes responderam ao instrumento de acordo com a escala de resposta
proposta, cabendo assinalar qualquer dúvida ou incompreensão. Assevera-se que desse
processo não se demandou qualquer tipo de alteração no instrumento.
Para a realização deste estudo, optou-se por efetuar a coleta por meio de um
questionário on-line, construído na plataforma Lime, com o link compartilhado nas redes
sociais, utilizando-se o método bola de neve, onde os indivíduos selecionados convidam
novos participantes da sua rede de contatos. Qualquer pessoa maior de 18 anos poderia
responder ao questionário. Informações sobre os objetivos do estudo, o caráter voluntário e
confidencial da participação e um endereço para obter conhecimento dos resultados finais
foram enfatizados no início do questionário. Os que concordassem em fazer parte deveriam
declarar o seu consentimento, seguindo para o preenchimento das medidas. O tempo
aproximado para responder ao questionário foi de 20 minutos.
76
5.3 Resultados
de vida instável, imprudente e comportamentos com teor de desvio social (por exemplo, “Já
experimentei uma droga que poderia ter sido perigosa”; “Muitas vezes fiz coisas perigosas só
para sentir emoção”).
Ainda que o resultado com dois fatores se apresente consistente com estudos
prévios desenvolvidos com a SRP-III, a retenção dos itens 24 (“Estive envolvido em
atividades de gangues”) e 16 (“Eu já fui preso”) no Fator I precisa ser ponderada. Como tais
itens, segundo o modelo original, deveriam saturar no segundo componente, julgou-se
coerente excluí-los da versão final. Deve-se ressaltar que tal exclusão não gera
comprometimentos expressivos para precisão da medida. Com efeito, o alfa de Cronbach
observado após esse procedimento passou de 0,77 para 0,74.
Portanto, a versão adaptada da SPR-III, de agora em diante denominada SRP-BR,
ficou composta por 22 itens distribuídos em dois fatores correlacionados (r = 0,42; p <
0,001). A consistência interna (alfa de Cronbach) para o total de itens do instrumento foi de
0,85. Nessa análise, foram invertidos os itens um, cinco e 21, por medirem o traço avaliado na
direção oposta. Adicionalmente, para avaliar a validade convergente da SRP-BR, efetuaram-
se correlações entre os dois fatores da medida e alguns construtos correlatos (big five e dark
triad) – tabela 3 -, tal como apontado no estudo original (WILLIAMS; PAULHUS; HARE,
2007).
6.2 Método
6.2.1 Amostra
Para este estudo, contou-se com 330 trabalhadores com idades entre 18 e 71 anos
(M = 33,2; DP = 12,41), a maioria homens (63,2%), heterossexual (93%) e da religião
católica (60,2%). Quanto à escolaridade, os participantes declararam possuir: ensino superior
completo (46,9%) e incompleto (36,3%), ensino médio completo (11,8%) e incompleto
(3,1%), fundamental completo (1,2%) e incompleto (0,7%). Essa amostra foi não
probabilística e contou somente com pessoas que concordaram com o TCLE.
6.2.2 Procedimento
por Hare e colaboradores (MATHIEU et al., 2013). Para a construção dos itens, ressaltou-se
que os estudantes considerassem os dez critérios propostos por Pasquali (2010): relevância,
comportamental, objetividade, clareza, simplicidade, tipicidade, credibilidade (face validity),
modalidade, variedade e precisão. A composição do conjunto inicial de itens resultou em um
total de 130 itens.
6.3 Resultados
12292,5 (p < 0,001)] e no KMO (0,93), confirmando a adequação da matriz para realização de
análises fatoriais (TABACHNICK; FIDEL; ULLMAN, 2007). Em seguida, realizou-se uma
análise de componentes principais sem fixar a rotação e o número de componentes,
identificando treze fatores com valores próprios (eigenvalues) iguais ou superiores a 1,0
(critério de Kaiser, 1960), que explicaram 67,2% da variância. Já o critério de Cattell (1966)
apontou a existência de dois fatores claros (gráfico 2), explicando 41,9% da variância.
com saturações entre |0,44| (item 45) e |0,65| (item 19), cuja característica comum é a
insensibilidade e indiferença, refletindo o componente afetivo do modelo, sua consistência
interna (alfa de Cronbach) foi de 0,72. O terceiro (Fator III), com 05 itens e cargas fatoriais
entre |0,40| (item 55) e |0,56| (item 21), reflete características de um estilo pessoal não
confiável e sem foco; nesse componente o alfa de Cronbach foi de 0,62. Por último, o Fator
IV reuniu 17 itens com saturações entre |0,41| (item 03) e |0,85| (item 37), contemplando
tendências antissociais, especialmente de intimidação e agressividade, seu alfa de Cronbach
foi de 0,94.
avaliar gestores, conjectura-se que o formato de autorrelato não seja o mais adequado para
mensurar este construto, justamente pela natureza manipuladora e desonesta que envolve o
fenômeno.
No que diz respeito à dimensionalidade da medida, a estrutura com quatro fatores
se configurou como satisfatória, o que é coerente com o referencial teórico adotado (HARE;
NEUMANN, 2008) e com a constatação de resultados semelhantes em diversos países do
mundo (NEUMANN; HARE; PARDINI, 2015).
De fato, os fatores da EPPC refletem conteúdos interpessoais, afetivos, do estilo
de vida e antissociais. Comportamentos como “Tem boa lábia” (item 36) e “Usa do seu
charme para conseguir aliados” (item 22) revelam relacionamentos interpessoais superficiais,
interesseiros e manipulativos. Características de uma afetividade rasa e pouco empática
também são inversamente acessadas, através de itens como o 19 “Se coloca no lugar dos
outros” e “Costuma ser emotivo”.
Quanto ao estilo de vida irresponsável e parasitário no contexto organizacional, a
EPPC também avalia de forma discreta através de itens como o 21 (“É focado) e o 55 (“Suas
ideias ficam só no papel). Por último, o fator antissocial, talvez o fator mais delicado para o
contexto, também é contemplado de forma eficaz, incluindo características de
constrangimento, humilhação, ofensa e intimidação (por exemplo, os itens 01 “Gera medo nas
pessoas” e 39 “Gosta de humilhar os seus subordinados”).
É preciso reconhecer que não faz parte do escopo deste estudo confirmar ou
refutar o modelo de Hare (HARE; NEUMANN, 2008), mas apontar características da
percepção da psicopatia corporativa em gestor que se apresentam relevantes. A estrutura
proposta identificou parâmetros psicométricos satisfatórios, portanto, em função dos
resultados, o objetivo do estudo foi alcançado. Entretanto, compreende-se que tais resultados
assumem um caráter meramente exploratório, demandando análises mais robustas a fim de
atestar a adequação dos dados ao modelo proposto, bem como para aprofundar sua validade
de construto.
Como se constata, as características refletidas na EPPC relacionam-se a
comportamentos prejudiciais à organização e aos seus subordinados, como manipulação,
frieza, imediatismo e descaso para com o próximo, características peculiares da psicopatia
corporativa. Contudo, os resultados são baseados em uma amostra prioritariamente de
Fortaleza e, por isso, aspectos específicos podem ter contribuído para a composição e a
estrutura fatorial dos itens da medida, que poderiam apresentar-se diferentes se consideradas
amostras de outros contextos.
95
7.1 Método
7.1.2 Amostra
diretor(a) (8,1%), gestor(a) (5,7%) ou supervisor(a) (4,9%). Estes tinham idades entre 21 e 65
anos (M = 40,9; DP = 10,5), e a maioria declarou ser casada (ou em união estável) (71,6%),
com pós-graduação (59,3%), heterossexual (95%) e católica (55,9%).
Na amostra de colaboradores (N = 123), em que os respondentes precisariam estar
trabalhando em qualquer cargo ou função e ter um chefe, gestor ou líder imediato para quem
deveriam direcionar sua avaliação (heterorrelato), a maioria indicou atuar em organizações
privadas (69,4%), ser do sexo feminino (74%), solteira (52,5%), com Ensino Superior
incompleto (56,9%), heterossexual (85,1%) e católica (52,5%); as idades variaram entre 18 e
56 anos (M = 32,3; DP = 8,9). Esses trabalhadores declararam que seus gestores eram, em sua
maioria, mulheres (64,2%), com idade média aproximada de 41,1 anos (DP = 7,8), exercendo
cargo de coordenador(a) (11,4%), gerente (10,6%), diretor(a) (5,7%), dono(a)/proprietário(a)
(5,7%) ou supervisor(a) (4,9%). Na maioria dos casos (79,7%), afirmou-se que o contato com
esse(a) chefe era diário.
7.1.3 Instrumentos
7.1.4 Procedimento
Para a efetivação deste estudo, optou-se por realizar a coleta por meio de
questionários on-line e impressos. Qualquer pessoa maior de 18 anos que trabalhasse
ocupando cargo de gestão, ou que tivesse um chefe imediato, poderia responder ao
questionário. Em relação à coleta das díades, contou-se com a ajuda de um gestor de recursos
humanos que trabalha em uma organização mista de Fortaleza. Após esclarecido sobre os
objetivos da pesquisa, ele aplicou o questionário em gestores e colaboradores dos principais
setores da organização, codificando-os de forma que fosse possível emparelhá-los
posteriormente. Tal como nos Estudos 1 e 2, informações sobre sigilo e confidencialidade dos
dados foram apresentadas, e os participantes que concordassem em fazer parte do estudo
deveriam declarar o seu consentimento, seguindo para o preenchimento das medidas. O tempo
médio para responder aos instrumentos foi de aproximadamente 30 minutos.
7.2 Resultados
Esta seção está organizada com base nas hipóteses e nos questionamentos
estabelecidos, dividindo-se, portanto, em três blocos. Inicialmente, apresentam-se as
correlações entre os construtos, procurando ter uma visão geral de como tais variáveis estão
associadas. Em seguida, comparam-se os níveis de psicopatia em função dos tipos de amostra
(população geral e gestores) do sexo (gestores e gestoras) e da natureza da empresa na qual os
gestores exerciam as suas funções (pública e privada); nesse bloco, ainda são expostas normas
para classificação dos níveis de psicopatia corporativa e a comparação de resultados
relacionados aos tipos de medidas empregadas no estudo. Finalmente, testa-se a adequação de
diferentes modelos explicativos em que os traços de personalidade atuam como preditores do
103
estilo de gestão transformacional mediados pela psicopatia corporativa, tomando como base o
modelo apresentado anteriormente na Figura 2.
população geral, com idades variando entre 18 e 68 anos (M = 36,1; DP = 11,5), a maioria do
sexo feminino (65,4%), com nível superior completo (74,6%) e incompleto (18,5%); nessa
amostra, as pontuações na SRP-BR variaram entre 0,86 e 3,75, sendo a média 1,61 (DP =
0,42). Comparando essa média com a observada entre os participantes deste estudo (gestores),
constatou-se que eles pontuam significativamente mais alto (M = 1,95; DP = 0,39; t = 9,55,
p < 0,001), confirmando o que foi preconizado na hipótese H.2.1.
A hipótese H2.2 envolve a comparação das pontuações em psicopatia corporativa,
avaliando as diferenças em função do sexo do gestor. Para testá-la, efetuaram-se testes t para
amostras independentes, comparando as pontuações de psicopatia corporativa entre gestores e
gestoras, considerando separadamente os resultados oriundos dos dados de auto e de
heterorrelato. Segundo essas análises, os gestores, quando avaliados por meio de autorrelato,
pontuam significativamente (p < 0,05) mais alto (M = 2,02; DP = 0,44) do que gestoras (M =
1,87, DP = 0,32), mas, quando avaliados por meio de heterorrelato, pontuam
significativamente (p < 0,001) mais baixo (M = 2,67, DP = 0,45); nessa amostra, as gestoras
obtiveram 2,82 (DP = 0,75) como pontuação média no construto. Nesse sentido, confirma-se
a hipótese H2.2 na primeira amostra e refuta-se na segunda; tais resultados serão discutidos
mais adiante.
Ainda com o fim de comparar os níveis de psicopatia em diferentes grupos, foi
elaborada a hipótese H2.3. Essa hipótese tem como referência a natureza da empresa na qual
os gestores exerciam as suas funções, estabelecendo que as pontuações de psicopatia
corporativa não se diferenciam quando comparados gestores de organizações públicas e
privadas. Nesse contexto, como entre os gestores avaliados, seja por auto ou por heterorrelato,
ocorreu a indicação de um número razoável de gestores em empresas mistas, 16,5% e 15,2%,
concomitantemente, realizou-se uma análise de variância (ANOVA), comparando as
pontuações dos três segmentos (público, privado e misto).
Com a primeira amostra, envolvendo os dados de autorrelatos, não se encontraram
diferenças significativas entre os grupos [F (2, 133) = 1,10; p = 0,336]. Ao se comparar as
médias dos grupos nos dados da avaliação realizada por heterorrelato, constatou-se que a
natureza da empresa exercia algum efeito nos níveis de psicopatia corporativa de seus
gestores [F (2, 133) = 8,42; p < 0,001], sendo observado, sobretudo, entre os gestores de
empresas privadas e mistas; testes de post hoc (Bonferroni) apontam que gestores de empresas
privadas (M = 2,79; DP = 0,66), quando comparados com gestores de empresas públicas (M =
2,43; DP = 0,70) ou mistas (M = 2,20; DP = 0,42), só se diferenciam significativamente (p =
0,001) destes últimos, não sendo encontrada qualquer distinção significante entre os níveis de
108
Em seguida, para avaliar o padrão das respostas obtidas por meio das diferentes
técnicas de coleta de dados, compararam-se as médias observadas em cada variável em
função do tipo de instrumento (auto e heterorrelato). Ao mesmo tempo, calcularam-se seus
alfas de Cronbach e o efeito do grupo (ΔG) em cada uma das comparações. Os resultados
dessas análises (Tabela 9) permitem conjecturar que, para a avaliação da psicopatia
corporativa, instrumentos de heterorrelato são mais eficazes. Quando os construtos avaliados
revelam características negativas do gestor, como a psicopatia corporativa, os componentes da
dark triad, o neuroticismo e o estilo laissez-faire, as pontuações em medidas de autorrelato,
quando comparadas com as de heterorrelato, são significativamente (p < 0,05) menores. Se os
109
Nas duas amostras, o modelo 3 foi o que mais apresentou os melhores índices de
ajuste: para a primeira amostra, χ² (5) = 6,10, p < 0,001, χ²/g.l. = 1,22, GFI = 0,98, AGFI =
0,94, CFI = 0,99 e RMSEA = 0,04 (Intervalo de Confiança 90% = 0,00 – 0,13); e, para a
segunda, χ² (5) = 14,79, p < 0,001, χ ²/g.l. = 2,96, GFI = 0,96, AGFI = 0,87, CFI = 0,98 e
RMSEA = 0,13 (intervalo de confiança 90% = 0,05 – 0,20). Comparando os valores de
Pclose, CAIC e ECVI, é possível pensar no modelo 3 como sendo o mais adequado para
compreender a influência da personalidade no estilo de gestão transformacional. Na Figura 3,
que expõe os parâmetros deste modelo, a linha superior faz referência aos resultados para
111
Este estudo teve como escopo estimar em que medida a personalidade e os estilos
de gestão estão relacionados à psicopatia corporativa. Especificamente, verificou-se o papel
da psicopatia nos estilos de gestão, considerando-se o efeito dos traços de personalidade nessa
relação.
Inicialmente, foi possível verificar as correlações diretas entre personalidade,
psicopatia e estilos de gestão. Nessa direção, é perceptível a influência da personalidade na
manifestação da psicopatia, indicando a pertinência de se utilizar traços da personalidade
“normal” e sombria para entender a psicopatia corporativa. Tal como hipotetizado, foi
verificado que pessoas com baixos níveis de amabilidade e conscienciosidade tendem a estar
associadas à psicopatia, o que é consistente teoricamente, já que indivíduos com baixos
escores nessas dimensões da personalidade costumam ser egoístas e pouco empáticos,
irresponsáveis, descuidados e negligentes, algo frequentemente encontrado em outros estudos
(BLAGOV et al., 2016; DECUYPER et al., 2009; VACHON, 2019).
Logo, é possível pensar que pessoas com determinados traços de personalidade
(ou ausência deles) e que são socializadas em contextos que priorizam valores corporativos
distorcidos são mais suscetíveis ao desenvolvimento da psicopatia. No mesmo sentido, é
possível pensar que, se outros valores de ordem mais coletiva e cooperativa fossem
endossados, poderia haver inibição da expressão da psicopatia corporativa.
112
8 DISCUSSÃO GERAL
rara. Liderar hoje pode ser sinônimo de um lugar para se obter mais facilmente o que o
psicopata almeja, seja dinheiro, poder, sucesso ou status social.
Nesse sentido, a relação entre psicopatia e gestão não é unidirecional. Ou seja, não
somente as tendências psicopáticas podem contribuir para gestão, como também a forma
como essa gestão vem sendo desenvolvida, com frequentes atividades ilegais e amorais, incita
a expressão de características psicopáticas. Para Clarke (2011), quanto mais bem-sucedido
como empresário você é, mais psicopata você precisa ser.
Essa tendência que se vê consolidar no mundo do trabalho em geral parecia ligada
de uma maneira natural à lógica do setor privado. Entretanto, ela vem surgindo também no
serviço público (BODDY, 2010; FENNIMORE; SEMENTELLI, 2016), trazendo, por
exemplo, implicações para políticas públicas que afetam grupos minoritários (HANSON;
BAKER, 2017).
Salienta-se, então, que a sociedade reconheça cada vez mais esse fenômeno e não
permita que tendências psicopáticas se expandam, valorizando características que, ainda que
contribuam com a produtividade (por exemplo, capacidade de tomar decisões de forma
objetiva, sem remorsos), em médio/longo prazo trazem, inevitavelmente, prejuízo às relações
e, consequentemente, à organização como um todo. Por todo o exposto, a “psicopatia de
sucesso” é um contrassenso, já que progresso não acontece sem empatia. Sucesso, mesmo no
mundo organizacional, não se limita à esfera monetária e produtiva; ele engloba, justamente, a
ampliação do bem-estar comum, do beneficiamento coletivo.
Fica claro, portanto, que a psicopatia corporativa se dá na esfera relacional. A
conjunção do “empoderamento” das formas de gestão contemporâneas, junto com o
enfraquecimento das formas de resistência, vulnerabiliza ainda mais os trabalhadores
(GAULEJAC, 2011). Ainda que se reconheçam as limitações de analisar um fenômeno dessa
complexidade em nível individual, o potencial de destruição do psicopata justifica o recorte.
Os três estudos que compuseram a parte empírica também trouxeram diversas
reflexões. Inicialmente, os resultados desta tese apoiam a ideia de que a psicopatia deve ser
percebida em uma dimensão contínua de características distribuídas mesmo em amostras
“funcionais”, em vez de um conceito categórico que define apenas alguns indivíduos. Os
primeiros estudos, de cunho mais psicométrico, foram desenvolvidos especialmente devido à
ausência de instrumentos que permitissem mensurar a psicopatia corporativa em gestores,
minimizando algumas das lacunas apontadas na literatura. As análises fatoriais das escalas
apontaram que os instrumentos apresentam estrutura coerente com dimensões teóricas,
explicando percentuais satisfatórios de variância (27,53% e 49,41% para a SRP-BR e EPPC,
118
respectivamente), bons coeficientes de precisão (alfa médio de 0,80 para ambas as escalas) e
validade convergente com a dark triad e big five. No entanto, é preciso ressaltar que ainda há
uma quantidade substancial de variância não explicada, bem como outros fatores que acabam
influenciando a validade e precisão. Análises fatoriais confirmatórias e testes de invariância
são essenciais para que se solidifique seu uso.
No geral, os resultados dos estudos se complementam e evidenciam que é possível
mensurar a psicopatia corporativa por ângulos distintos, contribuindo para uma avaliação
metodológica multinível: auto e heterorrelato. Assim, tanto a SRP-BR quanto a EPPC
contribuem para o escasso acervo de medidas confiáveis e parcimoniosas adaptadas ao
contexto organizacional brasileiro. O grande diferencial dessa proposição está no potencial de
superar o viés de fonte única. Seguramente, esses instrumentos facilitarão a análise empírica
da psicopatia corporativa no Brasil.
No entanto, reconhece-se que a avaliação de traços negativos pode ser complexa
devido à desejabilidade social de autorrelatos. Não obstante, uma meta-análise da relação
entre o autorrelato em psicopatia e medidas de desejabilidade social detectou uma associação
quase nula entre essas variáveis (RAY et al., 2013). Ainda assim, talvez exista uma
associação mais intensa entre essas variáveis em algumas situações de testagem, em que
existem incentivos mais explícitos para responder de forma coerente com as expectativas
sociais. Por exemplo, uma entrevista de emprego pode elicitar respostas socialmente
desejáveis mais facilmente do que uma situação padrão anônima de pesquisa. Para tais
situações, pode ser mais interessante o uso de métodos indiretos ou encobertos, que
proporcionem informação sobre traços de psicopatia sem que o avaliando tenha conhecimento
do propósito da avaliação.
Ao mesmo tempo, as avaliações dos subordinados podem ser guiadas por seus
preconceitos pessoais, opiniões subjetivas e sentimentos hostis em relação a seus chefes, e/ou
medo de retaliação. Quer dizer, ambos apresentam vantagens e desvantagens, sendo crucial
que futuros estudos testem qual método abrange o fenômeno de forma mais fidedigna.
Ao mesmo tempo, os referidos estudos não simplesmente desenvolveram
instrumentos para catalogar sujeitos que desviam do perfil esperado pela sociedade ou ciência,
assumindo esse fenômeno como distúrbio individual. Tampouco se pretende permanecer
utilizando um argumento ingênuo e passivo de que nossa sociedade é fruto de um conjunto de
determinantes e, portanto, não há “culpados”. A questão principal parece ser perceber os dois
lados dessa moeda – produtor e produto de uma sociedade paradoxal, fragmentada,
119
Em virtude disso, talvez a implicação prática mais importante desta tese tenha a
ver com profissionais da área de gestão de pessoas, que, além de examinar os trabalhadores
em potencial para psicopatia, também devem adotar um papel mais crítico dentro da
organização, recriminando condutas inescrupulosas e contribuindo ativamente para o
desenvolvimento de um ambiente organizacional mais saudável, pautado em uma essência
moral. Boddy, Ladyshewsky e Galvin (2010) sugerem a presença de um “comitê de ética” nas
organizações, a fim de monitorar ações morais por parte de possíveis líderes psicopatas.
É provável que as intervenções no contexto organizacional devam estar mais
focadas nas consequências da psicopatia do que em combater esse tipo de personalidade. Um
próximo estudo poderia incluir as escalas aqui propostas e medidas de resultados
organizacionais diretos, como corrupção, fraude, golpe, ou mesmo desempenho e satisfação
no trabalho, de maneira a verificar se a psicopatia é, pelo menos até certo ponto, preditora
desses efeitos. Confirmando-se essa hipótese, abre-se um caminho para que as organizações
prevejam o comportamento de líderes e potenciais líderes por meio da relação entre psicopatia
corporativa e estilos de liderança.
A função básica das reflexões teóricas e dos estudos empíricos foi oferecer um
panorama científico da importância de se compreender a psicopatia corporativa na conjuntura
atual, além de um fundamento que possa permear intervenções eficazes e coerentes com o
fenômeno. Apesar dos resultados encontrados, cabe ressaltar que estes devem ser analisados
com ressalvas.
Entre as limitações deste estudo, é importante indicar o tipo de amostragem
utilizada (por conveniência) e o tamanho delas, especialmente no Estudo 3 (N = 123), o que
constitui uma restrição à generalização dos achados para além da amostra utilizada. De forma
geral, não se podem inferir relações entre psicopatia e estilo de gestão, nem fazer
generalizações a todo o contexto brasileiro, dadas as limitações de amplitude das variáveis
sociodemográficas. Recomenda-se o uso de amostras maiores e com maior variabilidade de
respondentes.
Outra limitação clara é que o método (psicométrico) de apreensão da psicopatia
corporativa na gestão falha em considerar empiricamente os fatores sociais e situacionais mais
amplos que podem favorecer sua expressão no contexto organizacional, além de outros, como
a natureza da tarefa, o ambiente onde a relação se desenvolve e as características da equipe
121
subordinada. Além do que antes foi comentado sobre possibilidades futuras, pode-se pensar
em outros preditores da psicopatia corporativa, ou mesmo na elaboração de um modelo mais
complexo.
Estudos futuros nessa área de interesse ajudarão os pesquisadores a estabelecer
uma relação mais robusta entre psicopatia e liderança nos ambientes organizacionais. A atual
tese foi a primeira desse tipo e, portanto, foi também a primeira tentativa de resumir,
apresentar e avaliar criticamente todas as evidências empíricas associadas à literatura. Futuros
estudos de diferentes desenhos metodológicos serão necessários não apenas para fornecer
suporte adicional aos resultados desta tese, mas também para oferecer uma base sólida para
aqueles pesquisadores que desejam conduzir outras pesquisas em torno desse tópico. Em
suma, a pesquisa sobre psicopatia corporativa começa agora a surgir, e suas implicações em
vários campos científicos parecem relevantes.
Sugere-se ainda que futuros estudos sobre liderança psicopática devam ter
idealmente um desenho metodológico longitudinal para investigar se tendências psicopáticas
específicas têm efeito nos estilos de gestão e consequente “sucesso” organizacional. No
entanto, seria difícil para futuros pesquisadores recrutar um grande número de participantes
antes de sua vida adulta, a fim de observar, por meio de múltiplas avaliações de sua
personalidade, como algumas características específicas que permanecem estáveis por um
longo período de tempo também podem ser responsáveis pela seleção de um caminho de
carreira particular que envolve papéis de liderança. Para este projeto de pesquisa futuro, uma
equipe interdisciplinar seria necessária para superar com sucesso as dificuldades mencionadas
anteriormente.
Por último, estudos futuros podem contribuir para o desenho de programas
psicossociais específicos, focados no aprimoramento de habilidades necessárias para se tornar
líder “de verdade”, aquele que enfatiza emoções e valores e reconhece a importância de
comportamentos simbólicos e do papel do líder em dar sentido ao trabalho do liderado
(FONSECA; PORTO, 2013). No entanto, as considerações legais e éticas devem ser
observadas antes de dizer se esses programas de desenvolvimento podem ser benéficos ou não
para o mundo corporativo e a sociedade em geral.
principais organizações e tomar decisões sobre como elas afetam o meio ambiente, a
economia, a sociedade?
É surpreendente que, apesar dos atos condenáveis do psicopata corporativo,
aceitos como parte de um sistema que é “naturalmente cruel”, a atenção da sociedade continua
dirigida, negligentemente, para o lucro e para o sucesso. Quando se chega a um ponto onde
não há mais espaço para a sensibilidade ou para a solidariedade, urge um olhar da Psicologia.
Estuda-se a psicopatia corporativa para evitar que lideranças legitimadoras e
mediadoras dos interesses econômicos do capital e da força de trabalho superem a liderança
humana e social, onde o trabalho também é visto sob o ângulo do sentido, da subjetividade e
da vivência (GAULEJAC, 2007). Nas palavras de Monbiot (2019, [s/n]):
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148
ANEXOS
149
1. _____Não me preocupo em passar por cima dos outros para conseguir o que quero.
2. _____Eu roubei dinheiro dos meus pais.
3. _____Já experimentei uma droga que poderia ter sido perigosa.
4. _____Tenho cuidado com o que digo às pessoas.
5. _____Muitas vezes fiz coisas perigosas só para sentir emoção.
6. _____Acho fácil manipular as pessoas.
7. _____Já gritei com um professor.
8. _____Já furtei lojas ou supermercados.
9. _____É divertido ver até que ponto podemos “zoar” com as pessoas até que elas fiquem
chateadas.
10. _____Algumas vezes gosto de magoar as pessoas que se importam comigo.
11. _____Evitei pagar coisas como cinema, passagem de ônibus e comida.
12. _____Eu “colava” em provas na escola.
13. _____Sou uma pessoa rebelde.
14. _____Eu gosto de correr riscos.
15. _____Eu gosto de trocar de emprego com frequência.
16. _____Me meto em confusão pelas mesmas coisas de tempos em tempos.
17. _____Me incomoda magoar o sentimento das pessoas.
18. _____Em geral, meus amigos provavelmente diriam que sou uma pessoa gentil.
19. _____Gosto de beber e fazer coisas perigosas.
20. _____Acharia o máximo trapacear alguém.
21. _____É divertido ver outras pessoas serem trapaceadas.
22. _____Regras são feitas para serem violadas.
150
INSTRUÇÕES. Abaixo, apresentam-se algumas características que podem ou não lhe dizer
respeito. Por favor, escolha uma das opções na escala que melhor expresse sua opinião em
relação a você mesmo, e escreva no espaço ao lado de cada afirmação. Vale ressaltar que não
existem respostas certas ou erradas.
1 2 3 4 5
Discordo Discordo Nem Concordo Concordo Concordo
Totalmente Nem Discordo Totalmente
INSTRUÇÕES. Por favor, continue avaliando a sua concordância ou discordância com cada
uma das afirmações. Por favor, escolha a resposta adequada para cada item:
1 2 3 4 5
Discordo Discordo Nem Concordo Concordo Concordo
Totalmente Nem Discordo Totalmente
Você está sendo convidado(a) por Hilda Pinheiro da Costa a participar da pesquisa
intitulada “Personalidade e liderança: um estudo com gestores brasileiros". Leia
atentamente as informações abaixo e faça qualquer pergunta que desejar, para que todos
os procedimentos desta pesquisa sejam esclarecidos.
Prezado (a) colaborador (a),
Você é convidado(a) a participar desta pesquisa, que tem como finalidade analisar o
perfil de personalidade e estilo de liderança de gestores em empresas brasileiras.
6. PAGAMENTO: Você não terá nenhum tipo de despesa por participar desta pesquisa.
E nada será pago por sua participação. Entretanto, se você desejar, poderá ter acesso a
cópias dos relatórios da pesquisa contendo os resultados do estudo.
Prezado(a) juiz(a):
Os itens do instrumento aqui apresentados foram elaborados a partir da revisão da literatura sobre “psicopatia corporativa”. O modelo teórico
considerado é de quatro fatores: (1) Estilo pessoal (manipulativo/antiético); (2) Estilo emocional (frio/insensível); (3) Maturidade organizacional
(Não-confiável/sem foco); e (4) Tendências antissociais (intimidador/agressivo).
Em um primeiro momento, solicitamos que classifique cada um dos itens nas quatro dimensões teóricas tal como sua definição constitutiva.
Segue uma breve descrição dos fatores:
A. Estilo pessoal – Esse fator reflete a forma errática na qual o indivíduo com traços de psicopatia se relaciona no ambiente de trabalho: de
maneira manipulativa e antiética. É aquele indivíduo que se “aprochega” por interesse, diz ou faz coisas que agradam as pessoas, especialmente
aquelas que podem ser “úteis”. É persuasivo, ou seja, usa as palavras de forma rápida e talentosa, mas sem sinceridade. Tem um charme que
envolve o outro, de forma a parecer ser alguém encantador que agrada e atrai a atenção das pessoas. É sempre muito bom no que faz (afirma ser
especialista), se apresentando como conhecedor em alto nível de um conhecimento específico. Quando falha, apresenta razões aparentemente
lógicas para justificar comportamentos inaceitáveis, ou seja, está sempre racionalizando, se justificando.
B. Estilo emocional – A afetividade está estritamente atrelada ao desenvolvimento de traços psicopáticos no ambiente de trabalho. O psicopata
corporativo age muito frequentemente de maneira fria e insensível, não se importando com os sentimentos das outras pessoas e, por isso, é mais
provável que irrite ou machuque alguém. Raramente expressa emoções (talvez porque seja mesmo incapaz de senti-las) e, por isso, não é muito
cuidadoso com o outro. É alguém frio por dentro e por isso apresenta uma relativa ausência de apoio emocional para com seus subordinados. Não
demonstra a angústia comum causada por um sentimento de culpa; nem demonstra pena ou tristeza diante de alguém que está com problemas ou
sofrendo. É alguém que não vivencia o remorso. Por fim, é um indivíduo sem empatia: pouca ligação afetiva com os outros e incapaz de apreciar
as consequências emocionais de suas ações. Como resultado, parecem incapazes de experimentar emoções intensas, ao mesmo tempo em que são
indiferentes aos sentimentos alheios.
C. Maturidade organizacional – Esse fator reflete o grau em que os líderes vivem os valores organizacionais e servem de modelo e inspiração
para as pessoas. Porém o psicopata corporativo é desleal, não é fiel em suas crenças ou amizades, nem se submete a indivíduos ou grupos. É o
indivíduo que não planeja, não mantém uma ideia ou plano de ação para guia-lo a alcançar no futuro. Ele não apresenta compromisso realista a
longo prazo. Parece também ser um trabalhador sem foco, já que não costuma manter o centro de interesse em algo ou alguém por muito tempo.
É impaciente, irritando-se facilmente quando há uma dificuldade, ou quando há necessidade de esperar por um longo período de tempo. Por fim,
é um indivíduo que não inspira confiança; falta convicção em seus méritos e verdades. É desonesto, falso e desleal.
157
D. Tendências antissociais – Esse fator reflete comportamentos antissociais que não chegam a ser necessariamente criminosos. O psicopata
corporativo é intimidador: cria medo, apreensão e dúvida em seus colegas e colaboradores, e faz ameaças para conseguir o que quer. Indica
consequências desagradáveis caso o outro não se sujeite a um determinado pedido ou demanda; usa o poder como meio de coerção. É
irritadiço/raivoso, se expressando de maneira intensa quando algo não sai conforme suas vontades. Gosta de humilhar os outros, por vezes
fazendo perguntas desconfortáveis sem intenção de conhecimento. Finalmente, é dramático/teatral, se comportando de forma a chamar atenção.
Em um segundo momento, solicitamos que avalie cada um dos itens em relação à sua clareza da linguagem, pertinência prática e
relevância teórica. Para tanto, considere a seguintes definições:
Clareza da Linguagem – considera a linguagem utilizada nos itens, tendo em vista as características da população respondente. Exemplo: “O
senhor acredita que a linguagem de cada item é suficientemente clara, compreensível e adequada para esta população? Em que nível?”
Pertinência Prática – considera se cada item foi elaborado de forma a avaliar o conceito de interesse em uma determinada população. Analisa se
de fato cada item possui importância para o instrumento. Exemplo: “O senhor acredita que os itens propostos são pertinentes para esta
população? Em que nível?”
Relevância Teórica – considera o grau de associação entre o item e a teoria. Visa analisar se o item está relacionado com o construto. Exemplo:
“O senhor acredita que o conteúdo deste item é representativo do comportamento que se quer medir, ou de uma das dimensões dele,
considerando a teoria em questão? Em que nível?”
Além disso, avalie as instruções do instrumento, indicando, se necessário, qualquer modificação que torne o texto mais claro para o
público que irá responder (funcionários de instituições públicas e privadas). Ao mesmo tempo, verifique se a escala de resposta proposta é
compatível com o padrão de escrita dos itens. Observe que os itens devem fazer sentido para continuar a frase “Meu (Minha) Chefe...”
Se precisar inserir alguma observação ou sugestão acerca de um item, utiliza o espaço “Observações” no final da página, indicando o número do
item.
INSTRUÇÕES.
Os itens abaixo expressam comportamentos que podem ser observados em pessoas que exercem cargo ou função de chefia. Por favor, leia cada
um deles e indique, por meio da escala de resposta abaixo, com que frequência você observa tais comportamentos em seu (sua) chefe. Se você
tem mais de um (a) chefe, considere em suas respostas aquele (a) com quem você convive a maior parte do tempo. Gostaríamos de destacar que
não há respostas certas ou erradas e que todos os dados serão analisados em conjunto, sem que haja qualquer identificação do (a) respondente.
1 2 3 4 5
Nunca Raramente Às vezes Frequentemente Sempre
158
58. Aproxima-se das pessoas para conseguir informações sobre outros funcionários. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
59. Quando erra, tem boas justificativas para não ser punido. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
60. Considera-se o mais esperto. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
61. Tem boa lábia A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
62. Constrange seus subordinados. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
63. Costuma fazer de tudo para agradar pessoas que possam promovê-lo. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
64. Fica indiferente quando as pessoas compartilham problemas. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
65. Gosta de humilhar os seus subordinados. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
66. Usa as pessoas para alcançar suas metas. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
67. Diminui profissionalmente seus superiores, quando esses não estão por perto. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
68. “Rouba” o crédito das conquistas que não são suas. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
69. É egoísta. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
70. É solícito, se disponibiliza a ajudar seus subordinados em suas tarefas. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
71. Irrita-se facilmente. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
72. Para resolver seus problemas, usa as pessoas. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
73. Estimula a competitividade entre os membros da equipe. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
74. Atribui a culpa dos seus erros aos subordinados. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
75. Fala com as pessoas de forma ofensiva. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
76. Julga-se melhor do que seus superiores. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
77. Quando fala de si, meu chefe parece ter mais aparência do que conteúdo. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
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78. Não demonstra ter remorso quando faz algo que magoa alguém. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
79. Se expressa muito bem, principalmente, na frente de superiores. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
80. Costuma ser emotivo. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
81. É racional e calculista. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
82. Procura agradar pessoas que estão em cargos superiores ao dele (a). A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
83. Faz de tudo para agradar as pessoas que podem ser úteis para ele (a); A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
84. Quando está presente, deixa os seus subordinados ansiosos. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
85. É impaciente. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
86. Consegue ser carismático para conseguir o que quer; A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
87. Irrita-se quando seus pedidos não saem como ele quer. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
88. Se aproxima das pessoas por interesse. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
89. Quer ser o centro das atenções. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
90. Usa a emoção para sensibilizar as pessoas a fazerem o que ele quer. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
91. É uma pessoa hostil. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
92. Tem alto poder de convencimento. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
93. Quando está presente, deixa os seus subordinados apreensivos. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
94. Se importa se suas ações magoam as pessoas. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
95. É ambicioso, faz de tudo para alcançar cargos mais elevados. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
96. Pede desculpas quando erra. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
97. Suas ideias ficam só no papel. A B C D 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
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1 2 3 4 5
Discordo Discordo Nem Concordo Concordo Concordo
Totalmente Nem Discordo Totalmente