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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES


INSTITUTO DE PSICOLOGIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

Resenha crítica do texto: “O trabalhar em serviços de saúde mental: entre o sofrimento e a


cooperação”

SULLIENE FREITAS JACINTHO

Trabalho apresentado à disciplina


Psicodinâmica Do Trabalho Nas Organizações,
ministrada pelos professores Wladimir Ferreira
De Souza, Milton Athayde, Katia Santorum,
para obtenção de nota parcial no curso de
graduação em Psicologia, da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Rio de Janeiro - RJ
2021
Universidade Do Estado Do Rio De Janeiro
Disciplina: Psicodinâmica do Trabalho nas Organizações
Discente: Sulliene Freitas Jacintho
Número da matrícula: 201420683411
Sala: 88 Psi Ava
Texto referente ao Módulo 3: Método De Intervenção-Pesquisa Na Abordagem
Psicodinâmica Do Trabalho.
Texto: “O trabalhar em serviços de saúde mental: entre o sofrimento e a cooperação”
Autores: Uchida, S.1 , Sznelwar, L. I.l.2 Barros, J.O.3 , Lancman, S.4

Resenha crítica do texto: “O trabalhar em serviços de saúde mental: entre o sofrimento e a


cooperação”

Introdução
O texto em questão trata-se de um artigo formulado através de uma pesquisa feita com um
grupo heterogêneo de doze trabalhadores de nível superior, que compõe o que é chamado de
equipe multidisciplinar de um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em um município do
estado de São Paulo. O estudo foi feito por meio de escuta coletiva aos trabalhadores, em
encontros entre o grupo de trabalhadores e o grupo dos pesquisadores, visando aplicar ações
de Psicodinâmica do Trabalho (PDT), proporcionando um espaço de expressão das vivências
e experiências desses trabalhadores no cotidiano do CAPS.
O texto se inicia fazendo um pequeno relato histórico das práticas em saúde mental, e das
suas transformações que culminaram no modelo atual de territorialização da atenção em
saúde mental. Ou seja, saindo da internação nos manicômios, para a utilização dos CAPS.
Estes possuem uma proposta de abertura e integração com a comunidade na qual o usuário
faz parte.
Em seguida, é feito um panorama da proposta de existência e o real funcionamento dos
CAPS atualmente no Brasil, evidenciando suas diretrizes, alcance, perfil de atendimento,
problemas e obstáculos.
Levando em consideração que o modelo atual de saúde mental apesar de ter 30 anos no
cenário de saúde pública brasileiro, ainda está sendo implantado, e também, todas as nuances
que envolvem um trabalho que evoca fortemente os aspectos psicológico dos seus
trabalhadores no cotidiano laboral, o texto busca discutir e apresentar a realidade das
vivências desses trabalhadores, bem como fazer uma provocação ao fortalecimento desses
dispositivos de saúde pública,

Estruturação do texto
São feitas considerações do quanto a contribuição que o sujeito traz por meio do trabalho é
importante até mesmo para a configuração da própria identidade, através do relacionamento
com os outros, com isso justifica-se a angústia vivida pelos profissionais no contexto do
CAPS ao verem seus esforços não sendo reconhecidos, e também não alcançarem seus
objetivos, pelo menos a curto prazo, diante dos desafios que a imprevisibilidade desse
modelo de atenção proporciona devido a sua própria natureza.
A apresentação da metodologia utilizada na ação de PDT esclarece e embasa os resultados e
reflexões posteriores, devido a um caráter metodológico que possibilita os participantes
expressarem-se livremente e implica pouca intervenção por parte dos pesquisadores.
Nos parágrafos seguintes é feito um paralelo entre o conceito geral que caracteriza um CAPS
e a visão dos trabalhadores percebida pelos pesquisadores durante a pesquisa.
No tópico "Ser do CAPS" produz-se uma dissertação a respeito da visão que esses
profissionais têm deles mesmos e do trabalho que eles executam, também são feitas
observações a respeito de como essa identificação impacta a forma de trabalhar deles.
A discussão dos resultados apresenta reflexões sobre a influência do modo peculiar de
trabalho do CAPS impacta a saúde mental dos trabalhadores e a produtividade no trabalho,
levando em consideração que a forma de avaliar essa produtividade é muito diferente dos
trabalhos convencionais.
Com base nas observações feitas nas discussões dos resultados e conclusão, pode-se
compreender o título do artigo quando fala “entre o sofrimento e a cooperação”, pois os há
um espírito solidário entre os trabalhadores que compartilham dos sofrimentos e se tornam
mais empáticos uns com os outros, fortalecendo uma relação de cooperação entre eles. É
interessante notar como essa dinâmica de cooperação surge através de um sofrimento coletivo
e proporciona o fortalecimento dos laços entre colegas de trabalho.

Conclusão
A escolha de fazer a resenha crítica desse texto foi devida identificação pessoal, pelo fato de
eu ter estagiado no CAPS UERJ durante minha formação em Psicologia. Logo, tive interesse
de saber como a PDT poderia ser aplicada nesse contexto tão complexo, diferente dos outros
ambientes tradicionais de trabalho e com demandas tão diversificadas por parte dos usuários,
com suas experiências de vida, idade, sexo, condições sociais e diagnósticos diversos.
A minha experiência de estágio no CAPS Uerj me fez entender melhor o texto, as falas e os
sentimentos dos profissionais, por ser um espaço muito peculiar e uma proposta de trabalho
muito inovadora.
Como futura psicóloga sei que trabalhar em um CAPS é um dos destinos possíveis para a
minha profissão, por isso achei válido aprofundar a discussão de como o trabalho do
psicólogo pode trazer sofrimento, apesar de se tratar de uma equipe multiprofissional, achei
interessante um texto que utiliza a PDT a um ofício que se aplica à psicologia, pois muitas
vezes vemos o estudo dos impactos do trabalho nas mais diversas profissões e, eu,
particularmente, gostaria de estudar mais da aplicação da psicologia do trabalho ao próprio
ofício da Psicologia. Porque acho muito importante poder discutir na universidade o que os
sofrimentos e prazeres da nossa profissão podem nos acarretar, e aprender com as
experiências que os outros profissionais já vivenciaram, pois a atuação profissional é um
futuro muito próximo de nós graduandos em psicologia.
Como o CAPS é um dispositivo relativamente recente, e não possui uma prescrição muito
clara que defina uma metodologia de trabalho para orientar e também, proteger o trabalhador,
devido a própria natureza do trabalho e os pressupostos que norteiam a configuração desse
dispositivo, há uma dificuldade por parte dos trabalhadores de estabelecer fronteiras entre o
profissional e o pessoal, e eu pude vivenciar isso na prática. Por esse e por outros aspectos,
achei muito pertinente a pesquisa e a discussão que foi feita, pois abriu espaço para discutir
essas questões e, consequentemente, nortear tantos trabalhadores dos CAPS pelo Brasil que
passam por situações semelhantes.
Acredito, também, ser importante ter um olhar atento no sentido de cuidar de quem cuida, e
isso se aplica a muitas profissões que lidam com o cuidado direto a pessoas. Em especial, no
cuidado com pacientes da saúde mental, como o texto bem expressa, pode haver um desgaste
psicológico/emocional dos profissionais. Por isso considero que seja de grande relevância
pesquisas como essas que apontam para a necessidade de cuidado desses profissionais.
Por fim, presumo que seria interessante realizar outras pesquisas tais como essa, mas que
também contemplassem os outros profissionais de nível médio e fundamental que estão
envolvidos na dinâmica do trabalho em CAPS, e assim como os profissionais de nível
superior precisam ter espaço de fala para expressar suas percepções, sofrimentos, vivencias,
experiências e contribuições.
Referencias Bibliográficas

Uchida, S., Sznelwar, L.I.., Barros, J.O., & Lancham, S. (2011). O trabalhar em serviços de
saúde mental: entre o sofrimento e a cooperação. Laboreal, 7, (1), 28-41.
http://laboreal.up.pt/revista/artigo.php?id=48u56o TV65822353389453854:2

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