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Belo Horizonte
2021
Amanda Claudia Alves Santos
Heloiza Fernandes da Silva Santos
Isabella Ramos dos Santos
Rosemary Maria do Carmo
Suellen Susan Merlo
Túlio LouchardPicinini Teixeira
RESUMO
O presente estudo foi elaborado a partir de pesquisas bibliográficas e visa analisar os aspectos das
organizações que predispõem o adoecimento mental dos trabalhadores e os quadros de doenças
psicossomáticas. Tal abordagem considera a relação entre sujeito e a atividade laborativa a partir de
uma perspectiva transhistórica e dialética. Além disso, o texto também elabora explanações sobre as
contribuições que a Psicologia do Trabalho pode exercer neste cenário para prevenir e cuidar dos
possíveis efeitos deletérios à saúde mental.
ABSTRACT
This study was based on bibliographical research and aims to analyze the aspects of organizations
that predispose workers to mental illness and psychosomatic illnesses. Such an approach considers
the relationship between the subject and the work activity from a transhistorical and dialectical
perspective. In addition, the text also elaborates explanations on the contributions that Work
Psychology can exert in this scenario to prevent and take care of possible harmful effects on mental
health.
Key words: Work history, Psychosomatic diseases, Work psychology, Mental health.
RESUMEN
Este estudio se basó en una investigación bibliográfica y tiene como objetivo analizar los aspectos
de las organizaciones que predisponen a los trabajadores a las enfermedades mentales y
psicosomáticas. Tal enfoque considera la relación entre el sujeto y la actividad laboral desde una
perspectiva transhistórica y dialéctica. Además, el texto también elabora explicaciones sobre los
aportes que la Psicología del Trabajo puede ejercer en este escenario para prevenir y atender
posibles efectos nocivos sobre la salud mental
Palabras clave: historial de trabajo, Enfermedades psicosomáticas, Psicología del trabajo, Salud
mental.
1 Introdução
capacidades humanas e do elo social. Sua importância é significativa quando se considera que a
formação de identidades (papéis sociais) está vinculada à profissão que se exerce, bem como o
base para a estruturação de uma sociedade e perpassa pelas mais variadas formas de organizações
do corpo social. É também fator constituinte do fenômeno psicológico, que nada mais é que a
representação simbólica do que é externo no indivíduo. Por isto, fica notória a relação íntima que a
laboração possui com as condições de existência e saúde do trabalhador, pois o modo de produção,
não produz somente o produto, mas produz também um modo de existência. (Marx, 1983)
mostra muito pertinente na sociedade brasileira pois ao avaliar as relações entre trabalho e saúde,
observa-se que as empresas tendem a aceitar somente aqueles que gozam de boa “saúde”. Tal
atividade laboral, que se constitui por meio da elaboração de estratégias subjetivas para lidar com o
geral foi verificar de que modo o trabalho pode propiciar o adoecimento mental do trabalhador.
Mas, para ter uma resposta mais assertiva para esse objetivo geral, traçou-se os seguintes objetivos
Portanto, nas seções do texto que se segue verifica-se primeiramente,de forma sucintaas
trabalho, tais como: a invisibilidade real do trabalho e a diferença entre o queé o trabalho prescrito e
trabalho real. Tais abordagens permitem entender os fatores que predispõem oadoecimento mental
do trabalhador e o surgimento de algumas doenças laborativas. Por fim, na última parte, procura-se
entender de que modo a psicologia do trabalho pode contribuir para formulação de estratégias que
trabalho pode afetar a saúde mental do trabalhador? Entende-se como relevante retomar a discussão
em função do contexto recente onde ocorrem iniciativas que visam flexibilizar as leis trabalhistas
dado os eventuais impactos da pandemia Covid 19. O interesse das pesquisadoras pelo estudo da
temática justifica-se pelas seguintes razões:a) no campo pessoal, é fruto de algumas disciplinas
lecionadas que tinham como foco principal elucidar as relações existentes entre sujeito, saúde e
trabalho e isso trouxe uma nova perspectiva para se pensar a dinâmica da atividade laboral e sua
relação com o adoecimento mental; e b) no campo acadêmico, pois pretende-se contribuir para o
conhecimento científico no que diz respeito à explanação teórica da associação entre saúde e
trabalho, concatenando alguns conceitos importantes desenvolvidos ela psicologia do trabalho. Vale
ainda lembrar que a relevância do presente estudo se torna importante com a flexibilização dos
da pandemia covid-19, cuja impactos revelam um aumento dos transtornos mentais. Portanto,
Em suma, este trabalho pretende analisar, entender e verificar os fatores existentes nas
do trabalho no sentido de viabilizar estratégias de prevenção e cuidado com a saúde psíquica dos
Iniciaremos o estudo com uma breve revisão da literatura evidenciando alguns conceitos
e períodos históricos que compõem o desenvolvimento do trabalho e sua relação com o sujeito.
Para compreender o significado do trabalho, segundo a autora Lima (2002), temos que
considerar sua dupla dimensão: o trabalho enquanto categoria permanente, cujo sentido genérico
Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o homem, por
sua própria ação, medeia, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. [...] Ele põe em movimento
as forças naturais pertencentes à sua corporeidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar-se
da matéria natural como forma útil para a sua própria vida. Ao atuar por meio desse movimento, sobre a
Natureza externa a ele e ao modificá-la, ele modifica ao mesmo tempo a sua própria natureza (Marx,
1983, p.149)
Segundo Fortes (2001), o autor Lukács, ao analisar a obra “O Capital” de K. Marx,
definiu o trabalho como um sistema complexo de inter-relações entre o ser natural e o ser social, ou
seja, esta dinâmica resulta na autoconstrução do ser social pois o trabalho exerce a função de
Tudo o que a cultura humana criou até hoje, nasceu não de misteriosas motivações internas espirituais (ou
coisas que o valham), mas do fato de que, desde o começo, os homens se esforçaram, para resolver
questões emergentes da existência social. É a série de respostas formuladas a tais questões que damos o
nome de cultura humana” (Lukács, 1991 apud Fortes, 2001, p. 13)
Sendo assim,Fortes (2001) toma o homem como um sujeito prático que reage de forma
sujeito prático, surge o conceito de teleologia, que considera o trabalho como uma atividade
laborativo pois, ao idealizar previamente aquilo que se deseja elaborar, bem como todas as suas
etapas constituintes, o homem revela capacidades cognitivas e singulares ao seu grupo ontológico
ou espécie. (Lima,2002)
É impossível que o trabalho não seja precedido por uma idealização para arquitetar sua
finalidade e etapas. Neste sentido, define-se dois momentos essenciais para a execução da atividade
laboral: pensar/produzir.
Tal essência de fato consiste nisto: um projeto ideal precede o atuar materialmente, uma
finalidade pensada que transforma a realidade material, coloca na realidade alguma coisa de
material que, no confronto com a natureza, apresenta algo qualitativamente e radicalmente
novo. (Fortes, 2001, p.58)
intrinsecamente humano e distinto por cada sujeito o que torna necessário considerar os aspectos da
subjetividade desta atividade. Ora, o ser humano realiza a sua subjetividade na materialidade
objetiva, uma vez que ao concretizar um trabalho no meio externo, utiliza-se da sua intelectualidade
e peculiaridade de estilos, produzindo dessa forma obras inigualáveis e reconhecidas como tais.
(Lima, 2002)
Outro conceito que faz referência à complexidade da atividade humana é o descrito pela
causalidade, que diz respeito aos aspectos próprios de um objeto com o qual se trabalha, que irá
ditar de modo lógico quais devem ser as ferramentas e os modos pelo qual a ação deverá ser
operada.Segundo Lukacs (1991apud Fortes, 2001, p. 55), a relação entre os dois fundamentos
princípios, o que desencadeia uma sequência lógica de possibilidades criativas. Assim, é possível
compreender que:
A casa é qualquer coisa de materialmente existente tanto quanto a pedra, a madeira etc.E, no entanto, a
posição teleológica faz surgir uma objetividade totalmente diversa em relação aos elementos primitivos.
Para fazê-lo, é preciso o poder do pensamento e da vontade humanaque, fatual e materialmente, ordenam
tais propriedades em uma conexão totalmente nova em seu princípio.(Fortes, 2001 apud Lima, 2002, p. 8)
da mesma forma em que a consciência submete a natureza, segundo seus propósitos, é preciso se
submeter a ela considerando seus atributos. Portanto, conclui-se que o trabalho, além de ser uma
atividade exclusiva do ser humano, produz efeitos e modifica aquele que o idealiza e o executa:
[...] Ao se modificar a forma de produzir, a forma de trabalho, modifica-se também o homem. Pois nada
que é útil ao homem se encontra pronto na natureza. Precisamos dificultá-la, dando-lhe utilidade e, ao
fazê-lo, modificamos a sua própria natureza modificando a si mesmo. Ele não se modifica
biologicamente, embora no seu corpo fiquem as marcas do seu trabalho. (Lima, 2002, p. 11)
acerca de teorias que defendem a ideia de extinção do trabalho, o que ele definiu como modismos
teóricos contemporâneos. Para ele, as mudanças sociais e econômicas podem resultar na extinção de
humano, ou seja, não existe homem sem trabalhoe trabalho sem o homem.
Através de tal relação de interdependência entre o ser humano e o trabalho, conclui-se
que, por seu constante desenvolvimento, o ser humano tem a necessidade de elementos externos a si
históricos desde a forma mais antiga de produção, que é a comunidade primitiva, até o capitalismo.
Desse modo, tem-se a comunidade primitiva, que é caracterizada por uma relação de coparticipação
sobre o domínio da terra, ou seja, a vida comunal determinava as produções e ações dos indivíduos.
exercer uma relação direta com a terra, ou se considerar o proprietário desta, este estava sujeito às
dinâmicas e decisões da comunidade (que limitava a sua potência). Também a propriedade sobre a
comunidade.
Todas as formas [...] nas quais a comunidade se assenta em sujeitos constituindo uma unidade objetiva
determinada com as condições de produção desta ou antes sua existência subjetiva determinada supõe as
comunidades mesmas com as condições de produção; todas as formas correspondem necessariamente a
um desenvolvimento somente limitado, e limitado em seu princípio das forças produtivas. (Marx, 1979
apud Alves,1999, p. 50)
vida comunal, e teve como pressuposto a produção e ação dos indivíduos que migraram da vida
agrária para uma predominantemente urbana, graças ao surgimento da polis como centro dinâmico
da vida social e política. Neste período a individualidade ganha espaço e reconhecimento, bem
como a vida urbana não se funda apenas sob os laços sanguíneos, criando o intercâmbio societário,
sustentarem seus projetos de produção e propriedade. Permanece ainda a indissociação entre sujeito
e trabalho, característica do processo da escravatura, uma vez que a atividade é inteiramente ligada
é marcada pelo isolamento de seus membros em suas propriedades. Tal comunidade se apresenta
ainda mais cerceada do que a clássica no quesito social e ocorre de forma aleatória e
Devido à causalidade das interações, além do caráter abstrato das mesmas, não se pode falar que a
comunidade germânica gera o que se denomina sociabilidade, isto é, um comportamento recíproco de
indivíduos, pois estes aparecem como entidades determinadas e circunscritas por seu isolamento mútuo.
(Alves,1999, p. 74)
por meio do conflito entre a urbanização das cidades em detrimento ao modo de vida no campo. O
mundo feudal se configurou como unidade autônoma de transição entre os dois núcleos. Sendo
assim,
Esse caráter de transição "é conferido exatamente pelo fato, indicado por Marx, de que o modus societário
feudal se comporta como um pêndulo a oscilar ora na direção das formas de organização e apropriação
social de mundo próprios à antiguidade (em especial o mundo germano), ora fazendo frente e
incorporando os novos patamares de atividade e divisão social gerados no interior da vida urbana. (Alves,
1999, p.79)
meio da apropriação dos instrumentos de produção, que extinguiu as relações de propriedade das
comunidades primitivas, definido por Alves (1999, p.80) como “dilaceração das formas mais
antigas do ser social''. Portanto, a oposição cidade/campo, propiciou novas dinâmicas sociais como
a interação entre comércios, a atribuição de valores para trocas de mercadorias, a separação dos
trabalhadores em relação ao terreno e a propriedade das condições de produção, marcando o
surgimento do capitalismo.
vida comunal, estabelecendo uma nova forma de vida societária. Houve um enfraquecimento dos
importante ressaltar que tal dissolução não foi por vontade dos indivíduos, e sim, devido ao caráter
criação de empregos assalariados. Nesse período, o indivíduo que não tinha mais a propriedade,
passou a vender a sua força de trabalho. (Alves, 1999 apud Lima, 2002)
domínio dos meios de produção para sua própria subsistência, e passaram a vendersua força de
trabalho. Isso trouxe importantes transformações no modo de vida, na relação com o trabalho, e na
dinâmica de coação, ou seja, o trabalho forçado pela comunidade, cede lugar à condição de não-
proprietário. Essa nova condição ampliou a atividade produtiva e contribuiu para maior
individualidade em seu processo, o oposto da limitação na vida comunal, em que o trabalho tinha
um caráter mais objetivo. Também surgiram outras formas de interatividade social que
que a vida em comum não desempenha mais o papel central. (Alves 1999, apud Lima, 2002)
consolidando a atmosfera para troca livre de mercadorias e valores, por meio de mediações e
passa a ser direcionada pelo dinheiro. Desse modo os indivíduos que outrora eram criadores se
tornaram produtores de valores e de riqueza, denominados por Alves (1999) como “sujeitos de
troca”.
O dinheiro é o problema da modernidade por excelência. Ele não existe mais como um elemento à
margem da vida social, mas é o próprio meio desta vida social. É o elemento que ordena, une e
vivifica todas as manifestações da vida e da produção dos indivíduos. Frente a ele, nenhuma outra
determinação pode reivindicar dignidade ou nobreza de per se. O valor, as necessidades de
reprodução deste e sua lógica é agora a própria medida humana, a vida em comum dos indivíduos, seu
liame essencial e real. O dinheiro surge como a verdadeira instância que estabelece o vínculo entre os
indivíduos”. (Alves, 1999, p. 102-103)
Tal relação de dependência passa a conectar os indivíduos pelas mercadorias e pelo seu
poder de troca, o que propiciou a busca pela igualdade e equiparação correspondente ao valor das
mercadorias. Desse modo, cada indivíduo tem validação quando participa desse processo de troca, o
que Marx definiu como objetivação máxima da própria sociabilidade. Com isso o dinheiro se torna
o elemento de ligação entre os indivíduos e assim reduz o homem ao status de mercadoria. (Lima,
2002)
Essa nova forma de interação social modificou as relações entre os indivíduos, seu
modo de existência, e a atividade de trabalho, como exemplo, a distinção entre o trabalho que
transformando o seu significado primário. Isso permitiu um maior desenvolvimento humano, pois
os indivíduos passaram a se relacionar com os materiais, e os meios, o que antes era só produzido,
Por outro lado, esse valor determinará de que modos os indivíduos irão produzir a sua
existência, assim:
A atividade que produz riqueza é indicada por Marx como aquela que, ao mesmo tempo, se opõe a si e ao
seu resultado o agente de produção. Os indivíduos se objetivam sob a forma de riqueza e, ao fazerem isto,
criam na outra ponta entes estranhos que se lhes opõem como forças e coisas autônomas. Este
estranhamento se coloca para Marx como processo no qual se opera uma usurpação da atividade dos
indivíduos. Usurpação na qual, o trabalho vivo, a atividade efetivadora e a efetivação dos indivíduos,
torna-se um elemento que se dirige à reprodução do valor e não apenas à expressão ativa da vida dos
indivíduos. (Alves, 1999, p. 110)
sobrevivência e estabeleceu uma relação de troca entre trabalhador e capitalista. Assim, a força de
trabalho é trocada por dinheiro,ou seja, a mesma condição das mercadorias. Isso resultou na
submissão do indivíduo/trabalhador, que cedeu sua condição subjetiva da própria atividade ea perda
No capitalismo, ocorre uma produção inédita de riquezas, mas, simultaneamente, a destruição do produtor
dessas riquezas. Na ordem atual, o trabalho torna o homem eminentemente social, permite, pela primeira
vez na história, a emergência da individualidade, além de, também pela primeira vez, criar a possibilidade
de domínio da natureza pelo homem. Mas, ao mesmo tempo, transforma-se em mero meio de subsistência
e submete o homem a um processo progressivo de destruição. (Lima, 2002 p. 41)
revolução industrial que ocorreu no século XVIII, em que a organização laboral passou a se
sistematizar como padrão de produção em escala, já que o aumento dos centros urbanos demandava,
cada vez mais, produtos. A partir disso houve construções das fábricas, o desenvolvimento da
mecanização da produção, que foi difundida a princípio pelo Taylorismo e aprimorada pelo
Fordismo. Essa forma de organização se tornou parte central da atividade laboral, reduzindo o
caráter da concepção do produto para uma mera execução e a perda do controle do trabalhador
sobre o processo produtivo, assim como a sua representação. (Araújo & Morais, 2017)
organização e estrutura dos processos de trabalho, como Toyotismo, que visavam a descentralização
do trabalho, a divisão da funçãoe sua automação para produção em grande escala, o trabalho passa a
ocupar maior tempo na vida dos indivíduos. Novos segmentos e contratos de trabalhos são criados,
assim como novos programas de gestão com um modelo japonês de cunho neoliberal que visava a
participação dos lucros e resultados e a flexibilização para aumento da produção. Tal ideário
tais como: trabalho informal, trabalho temporário, teletrabalho, mudança na jornada, alteração dos
contratos, e a terceirização das empresas, que se ramificaram em várias do tipo micro e pequenas, o
que aumentou a precarização dos contratos trabalhistas. Esse processo desencadeou a separação dos
representou oferta reduzida de trabalhos bem pagos e como consequência maior instabilidade dos
trabalhadores, principalmente dos trabalhadores sem qualificação ou periféricos. (Kovács,
aumento da flexibilização dos direitos para contratação ou demissão dos trabalhadores, situação
reforçada pela implementação de políticas neoliberais. Desta forma “o mundo do trabalho passa a
ser regido cada vez mais pelas oscilações de mercado, e para tanto, é necessário que indústrias e
trabalhador sem estabilidade passa a ter medo do desemprego e se submete as péssimas condições
de trabalho, à discriminação e outras formas de assédio. (Aquino, Moita, Correa & Souza, 2014, p.
177).
cada vez mais frágeis, inseguras e precárias devido à competitividade de mercado, ou pela
disseminação de políticas neoliberais, que justificam as mudanças como sendo cruciais para o
avanço econômico, muitas vezes feitas com a finalidade de reduzir os direitos trabalhistas. Essas
mudanças permitem a flexibilização das empresas, oque pode resultar no aumento da jornada de
trabalho, baixo nível salarial e falta de equipamentos ou condições mínimas para a execução do
indivíduo a mera massa de produção que pode ser facilmente substituída por outra mão de obra
barata, devido à alta rotação de pessoas e a terceirização. Assim, para Campo e Ferreira (2016 apud
Araújo & Morais, 2017), o desgaste físico e psicológico, a baixa autoestima, a pressão por
resultados e a insatisfação são aspectos inerentes a esse novo mundo de trabalho, e, dessa forma, a
questão da qualidade de vida no trabalho passa a obter destaque e demanda projetos para buscar
elemento central da sua existência, interatividade social e sua representação no mundo. Sendo
determinantes e os impactos em relação à saúde mental do trabalhador. Tal assunto será a seguir
abordado.
Como vimos anteriormente, a compreensão do trabalho pelo viés de seu sentido trans-
histórico e dialético e como estrutura fundante do ser social, além de base para a autoconstrução dos
sujeitos, é o alicerce para se pensar os componentes que atuam na relação indivíduo e atividade
laboral, delineando os processos que envolvem a saúde versus adoecimento. A história do trabalho,
revela a intrínseca ligação que os sujeitos sociais possuem para com o meio externo, sendo
Várias modificações em relação ao trabalho ocorreram nos últimos tempos, cujas bases
que antes eram vinculadas exclusivamente à sobrevivência, passaram a ter fatores mais ligados ao
detrimento da produção manufaturada. Tais alterações exigem dos sujeitos habilidades cada vez
mais sofisticadas para sustentarem a nova ordem das atividades. (Lhuilier, 2012)
A partir das novas demandas do mercado de trabalho com seu caráter amplamente
acerca dos prejuízos e de sofrimento psíquico do trabalhador. Este fato é perceptível na negligência
exigência para o indivíduo e o surgimento de custos, que podem ser individuais e coletivos. Tais
O referido custo apresenta como traços característicos principais: é imposto externamente aos
trabalhadores sob a forma de constrangimentos para suas atividades; é gerido por meio das estratégias de
mediação individual e coletiva, podendo ser confrontações positivas ou negativas que, por sua vez,
impactam na dinâmica das vivências de bem-estar e mal-estar no trabalho; comporta três modalidades
interdependentes de exigências: físicas (custo corporal), cognitivas (custo cognitivo) e afetivas (custo
afetivo).(Ferreira & Barros, 2002,p.15)
Entretanto, quando se executa qualquer atividade laboral, depara-se com elementos não previstos
pelas normas elementos estes que, apesar de com frequência serem ignorados, incidem diretamente
que se traduz pela ideia da atividade que se objetiva fazer, sem sucesso, daquilo que se procura
fazer sem conseguir, ou seja, da fatídica vivência do fracasso. Tal conceito é bastante perceptível na
vida prática e nos ambientes de trabalho da atualidade, onde a exigência por desempenhos
insuficientes e facilmente substituíveis. Estes fatores devem ser admitidos para se pensar com
É preciso ainda destacar que nessas situações ocorre uma eufemização por parte dos
empregadores e mesmo dos colaboradores das organizações, dado os eventos que fomentam o
sofrimento psíquico em tal contexto. Assim, emerge a invisibilidade crescente do trabalho real,
admitido pela negação das origens dos sintomas, vinculados aos fatores de riscos presentes nos
efeitos da laboração sobre a saúde mental podem ser percebidos pela mediação da linguagem de
cada sujeito, devendo ser a expressão de sua interioridade a partir de significados construídos
socialmente. O sujeito precisa falar de si, considerando suas vivências singulares, de modo que o
diagnóstico,seguido de um adoecimento não seja a avaliação única realizada por um “expert” que
A realidade psíquica é assim posta em forma numa construção coletiva que lhe fornece um quadro social
de sentido e de reconhecimento. E, aqui, a oferta de sentido ou linguagem para significar e dizer o mal-
estar no trabalho emerge essencialmente em duas fontes: o “estresse” ou o sofrimento no trabalho e o
assédio (HIRIGOYEN, 1998), vetores privilegiados de expressão da demanda social em matéria de saúde
psíquica no trabalho. (Lhuilier, 2012, p.19)
reconhecimento das doenças psicossomáticas, fenômeno este que envolve múltiplos fatores como: o
metas cada vez maiores pela rigidez das prescrições e o estigma do sujeito não produtivo. Tais
fatores se tornam ainda mais significativos se forem vistos junto com o modo do indivíduo perceber
e vivenciar o ambiente de trabalho, a forma como ele equilibra e concilia as demandas pessoais e do
trabalho, a sua satisfação e representação com a atividade laboral e a habilidade para resolver
conflitos. Enfim, “o indivíduo está ligado à organização moderna não apenas por laços materiais e
morais, por vantagens econômicas e satisfações ideológicas que ela lhe proporciona, mas também
por laços psicológicos. A organização tende a se tornar fonte de sua angústia e de seu prazer”.
seu reconhecimento. Esses valores são imprescindíveis para que o trabalho tenha sentido. Assim,
segundo Dejours (1999 apud Rangel & Godoi, 2009), a falta de sentido durante a atividade laboral
Ou o trabalho contribui para agravar o sofrimento, levando a pessoa progressivamente à loucura, ou, ao
contrário, o trabalho contribui para subverter o sofrimento, para transformá-lo em prazer, a ponto de, em
certas situações, ser mais fácil para a pessoa que trabalha defender sua saúde mental, do que para a pessoa
que não trabalha.(Rangel & Godoi, 2009, p. 410)
Rangel & Godoi (2009) destacam que alguns autores como Dejours, Facchini,
sobrecarga de tarefas devido sua forma de distribuição. Porém, é preciso distinguir a carga de
trabalho psíquica da carga de trabalho física. Acarga psíquica é referente a insatisfação proveniente
mente e se deslocará para outras desordens no corpo, diferente das doenças diretamente infligidas
criatividade, das ideias que não podem ser praticadas pelo trabalhador diante de sua tarefa. Vale
Dejours, Abdoucheli e Jayet (1994) asseveram que são muitos os que sofrem por causa da intensificação
do trabalho, pelo aumento da carga psíquica de trabalho e da fadiga. Há os que sofrem devido à
degradação das relações de trabalho contaminadas pelo modo operatório prescrito, pela desconfiança,
individualismo, competição desenfreada etc. A carga psíquica de trabalho aumenta quando a liberdade de
organização do trabalho diminui. (Rangel & Godoi, 2009, p. 410)
(2009) lembram que autores como Greco, Oliveira e Gomes dizem respeito à organização da
jornada de trabalho, ou seja, o modo como o trabalhador agirá em situações que envolvem tomada
de decisões, responsabilidade e habilidade na resolução de eventuais conflitos. Já para o autor
Dejours, a carga psíquica é o confronto entre desejo e a ordem do empregador. Para Laurell e
causam desgastes físicos e psíquicos, e por fim anulam sua capacidade potencial. E os autores
Lancmann e Sznelwar também foram lembrados por alegarem que o confronto entre a subjetividade
Desse modo, Rangel e Godoi (2009) ainda chamam mais autores para explicar o
confronto entre a organização e o trabalhador, como por exemplo, as pesquisas de Beauregard, que
vida do sujeito. Citando também Dejours, os referidos autores lembram que o indivíduo tem a
com a organização do trabalho, o que ele definiu como sofrimento criativo. No caso do sofrimento
patogênico, o indivíduo não tem espaço de criar soluções para superação do sofrimento e isso
ocorre geralmente quando a organização do trabalho é rígida e essa não resolução implicará no
dedoenças psíquicas que podem emergir em tal contexto. No entanto, neste artigo discorremos de
forma sucinta sobre alguns tipos de doenças, considerando sua gênese na dinâmica entre sujeitos
A palavra psicossomática é oriunda do grego, formada pela junção do termo psique que
significa alma/mente ao termo soma que se traduz pela palavra corpo. Desta forma, seu conceito
dessa compreensão que considera o indivíduo como um ser constituído por corpo, mente e a parte
social, portanto, o que se manifesta no corpo é resultado da interação com o externo. Parte dessa
evolução foi possível devido aos estudos psicanalíticos de Freud sobre a histeria, a saber:
No sintoma psicossomático, o corpo é acometido, as tensões recaem sobre ele ou não se derivam
adequadamente. Ele não se torna impotente ou inibido, mas entra em sofrimento e pode desorganizar-se
gravemente. Para o autor, o sintoma psicossomático aparece como uma impossibilidade ou como uma
tentativa de interferência no processo. (Rangel & Godoi, 2009 p. 407)
O sintoma é a manifestação de algo que está contido ou oculto e se mostra por meio do
corpo como forma de enfermidade. Os sintomas mais recorrentes, segundo França e Rodrigues
aqueles que são resultantes das alterações das funções das fibras musculares lisas poderiam provocar no
aparelho digestivo: vômitos, diarréia, prisão de ventre, alterações da motilidade do estômago e intestino;
no aparelho respiratório: asma, bronquite; no aparelho genito-urinário: dor ao urinar, cólicas renais,
aumento da frequência urinária, vaginismo, ejaculação precoce, cólicas menstruais; do aparelho
circulatório: hipertensão arterial, enxaqueca, cefaléia de tensão; na pele: neurodermitis, eczemas,
pruridos. Caso a alteração da função for predominantemente secretora, manifestam-se modificações na
produção de muco, da secreção das glândulas endócrinas, na produção de hormônios do aparelho
digestivo, da secreção pancreática, biliar e entérica. Quando há significação da função de irrigação dos
órgãos, percebe-se diminuição da resistência da mucosa a agentes agressivos, podendo resultar em
hemorragias e ulcerações.
Outro aspecto comum é a percepção da dor que, segundo Mello Filho (1992, apud
Rangel & Godoi, 2009) se manifesta em três níveis. No primeiro, o ego identifica a ameaça ao
organismo, o segundo quando o indivíduo comunica a experiência e pede ajuda a outra pessoa, o
terceiro refere-se a um comportamento de queixa/ataque, que pode ser utilizado para manipular as
outras pessoas, ou como alívio da culpa por alguma falta. Além disso, a dor pode ser um aviso
quando algo errado ocorre com o organismo, e com a persistência da dor com o passar do tempo,
esse quadro pode se constituir na formação da doença e se tornar parte central da vida do indivíduo.
Para compreender o processo de formação da doença, voltamos ao relato de Rangel e
Godoi (2009), que enfatiza que é preciso perceber como as emoções podem se desdobrar em outros
sintomas, como a ansiedade nos casos da dor aguda e a depressão no caso da dor crônica. Tais
autores recorrem a outros estudiosos para elucidar a questão. Citando as contribuições de Mello
Filho, vale destacar que muitos pacientes que sofrem de dor crônica apresentam depressão,
fenômeno que foi observado em clínicas da dor e hospitais. Também é importante distinguir os
fenômenos observados na dinâmica do trabalho. Vale destacar também a apresentação das ideias de
Dejours, que considera que a fadiga é um sintoma psíquico e somático, pois o que ocorre na
vivência subjetiva, se manifesta no corpo, ocasionada pela sobrecarga de trabalho, como quanto
relacionados às pessoas que passam por situações que demandam maior esforço, e podem se
manifestar de diferentes formas como insônia e sonolência. (Rangel & Godoi, 2009)
quando é cobrado além do seu limite psíquico/físico, em situações que podem ocorrer em diversas
funções ocupacionais. O que a priori surge como resposta biológica necessária para adaptação, em
longo prazo pode impactar o desempenho dos trabalhadores e também a sua saúde, ocasionando a
formação de novas doenças como: hipertensão, úlcera péptica, doenças cardiovasculares, distúrbios
osteomusculares como (DORT), todos muitos presentes no cenário brasileiro. (Rangel & Godoi,
2009)
repetitivo (LER), que afetam músculos, nervos, articulações, constituindo o quadro em que o sujeito
sente dor não definida, de intensidade variável, e em alguns casos pode ter a redução da amplitude
do movimento e fadiga. Geralmente muitas pessoas que sofrem com a LER, antes de serem
diagnosticadasse submetem a inúmeros tratamentos que não surtem o resultado esperado. (França
resposta emocional dadaà tensão promovida por situações de autocobrança e dedicação excessiva,
cuja expectativa e desejo de realização profissional não alcançam o objetivo. Esse conflito se
manifestará por meio do esgotamento físico, emocional e mental do trabalhador, assim como o seu
mental, que é a terceira maior causa de afastamento do trabalho no Brasil, conforme a publicação da
mostram que os episódios depressivos são o principal motivo para os pagamentos não relacionados
os episódios depressivos e transtornos de ansiedade, são responsáveis por 79% dos afastamentos do
trabalho durante o período de 2012 a 2016, sendo importante considerar que tais estimativas
compreensão da dimensão do seu impacto na saúde mental dos trabalhadores. Nessa perspectiva foi
essenciais” da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz (2020) que estima que 47,3% dos trabalhadores
dos serviços essenciais foram afetados pelos sintomas de ansiedade e depressão, sendo que 27,4%
maiores nos trabalhadores dos serviços essenciais do Brasil, ou seja 55%, pois os mesmos
trabalhadores na Espanha correspondem a 23%, mesmo a pesquisa tendo sido realizada no pior
momento vivido pela Espanha na pandemia. Algumas hipóteses foram levantadas para explicar essa
influenciam as organizações, e como esta atuará para se adaptar e atender as demandas. Demandas
estas que se direcionadas exclusivamente para o capital, afetarão o trabalhador e a sua saúde mental.
O principal fator para o surgimento das doenças psíquicas é a dinâmica entre aquilo que é próprio
O homem quando participa do coletivo nutre o desejo de reconhecimento, e esse desejo choca-se
em uma organização direcionada ao capital, que produz a forma de trabalho alienante, reduzindo o
potencialidades psíquicas. Pois, “enquanto o trabalhador age somente em busca dos objetivos da
empresa sem estar de acordo com seus anseios ele vive como uma máquina”(Rangel &Godoi, 2009,
p. 413). Assunto que iremos tratar na próxima seção sobre a contribuição da psicologia do trabalho
que podem resultar no adoecimento mental dos trabalhadores, surge a necessidade de explorar o
No que se refere à saúde, este pressuposto marca a ideia de que existem relações muito estreitas entre o
trabalho e a construção da identidade do sujeito trabalhador, podendo, portanto, implicar a dinâmica da
realização do eu ou em efeitos deletérios à sua saúde física e mental (BASTOS, 2009, p.104)
percebido quando este não se enxerga como parte do processo de solução. “A doença não é o
ambiente de trabalho insalubre são responsáveis pelas somatizações. Turato (2013 apud Souza et
al.,2019, p. 92) afirma que “as somatizações podem ser definidas também como o processo através
do qual conflitos profundos do âmbito psíquico, uma vez não resolvidos satisfatoriamente, usam a
via corporal para conhecer um necessário alívio, levando a transtornos manifestados no corpo”.
“Debates sobre os rumos da psicologia têm provado que não há uma unidade de paradigmas e
Se faz necessária uma nova psicologia, pois é preciso que os sujeitos se reconheçam em novas práticas, de
liberdade e solidariedade. Estas, ao serem apropriadas e validadas por sujeitos autônomos, livres e
solidários, produziriam uma nova subjetividade. A partir dessas inclinações a considerar a realidade como
um campo de possibilidades a serem exploradas, a psicologia pode tornar-se uma ciência crítica que
desenvolve teorias críticas: aquelas que não concebem a realidade unicamente como o que está dado,
além de buscar a superação das contradições da ciência moderna. (Santos, 1995 apud, Veronese, 2003,
p.4)
Para tal discussão, torna-se mister entender sobre a evolução da psicologia no campo do
trabalho, que pode ser dividida em três fases, sendo a primeira a psicologia industrial, a segunda a
no máximo uso das capacidades humanas dentro da indústria: tudo de forma legítima e esperada. Já
A segunda fase, como psicologia organizacional, incorpora elementos das teorias sistêmica e sócio-
técnica, da dinâmica de grupos, do desenvolvimento humano no trabalho, resultando no desenvolvimento
organizacional, desenvolvimento de equipes, estudos sobre liderança, etc. (Veronese, 2003, p. 3)
A segunda fase é advinda da Escola das Relações Humanas, marcada pela crítica aos
aspectos da psicologia industrial, por ter uma concepção mais humanista, que incorporou a
dinâmica de grupo, tendo como foco o desenvolvimento das capacidades humanas, os estudos sobre
a liderança, e o trabalho de equipes para uma maior colaboração, visando a integração de suas
necessidades psicossociais com os interesses da organização. Em relação a terceira fase, a autora diz
que “Como psicologia do trabalho, gesta-se a partir dos acontecimentos do final dos anos 60,
2003, p. 4)
Esta fase, de acordo com Veronese (2003), consolida componentes das demais áreas de
inovadora. Esta terceira fase permite uma ampliação da atuação através de uma prática humanizada
Aqui a psicologia aplicada ao trabalho adquire novo vigor, engendrando a terceira face/fase que Jader
Sampaio chamou de psicologia do trabalho. Ganhando contornos mais questionadores e redescobrindo a
figura do trabalhador como sujeito dos processos, concebe-o como objeto central de seus esforços.
(Veronese, 2003, p.16)
Segundo a evolução da psicologia do trabalho e a partir de sua terceira fase,
compreendemos o sujeito como parte do processo de trabalho. A partir desta concepção, ao analisar
como os trabalhadores enfrentam os desafios de sua atividade laboral, nos deparamos com
estratégias que são desenvolvidas para lidar com os sofrimentos, que de acordo com Veronese
(2003, p. 16):
Os mecanismos defensivos citados acima, criados para enfrentar a realidade podem ser
diversos, pois cada indivíduo, através da atividade laboral, cria estratégias individuais e coletivas
contra o sofrimento, na expectativa de alcançar sua expressão no trabalho e inclusive uma utilidade
Tanto Dejours, quanto Chanlat e outros inovam por trazer o sujeito complexificado (linguagem,
simbologias, inconsciente) para os processos de trabalho. O novo paradigma em psicologia trabalharia no
sentido de desenvolver um senso de comunidade no espaço laboral, ao colocar nos laços de solidariedade
e cooperação a base das relações interpessoais.
Por meio da necessidade de uma prática que desenvolva o sujeito frente ao trabalho,
Veronese (2003, p.17) assevera que “os principais desafios se situam no campo da exclusão do
trabalhador da sociedade civil central, na sua exploração, nos tipos de relações de trabalho
trabalho”. Tais desafios, são complexificados através das diferentes subjetividades em contato com
o trabalho, o que exige uma múltipla atuação da psicologia frente a tais sofrimentos. Conforme
exposto por Veronese (2003, p.16), “o objetivo de uma nova psicologia é também para o auxílio do
sujeito perante o seu contexto, promovendo a função crítica, para o surgimento de um protagonismo
fato de que antes de qualquer intervenção o psicólogo precisa entender o desejo do sujeito, ou seja,
o que o mobiliza em relação ao seu trabalho e refletir sobre o seu papel, o seu compromisso ético,
os seus valores pessoais e a sua contribuição com a sociedade. Consequentemente, deve-se priorizar
exercício da inteligência prática. Portanto é sugerido ao psicólogo ouvir o coletivo sem impor
orientação ou tarefa, formar grupos e propor a discussão acerca dos desafios, das facilidades, das
estratégias, a forma como lidam com os imprevistos, entre outros elementos. Tal tarefa é essencial
para que os trabalhadores compartilhem ideias, consigam manifestar em palavras o seu sofrimento,
e percebam como pensam os demais colegas, contribuindo como uma ferramenta de diagnóstico e
intervenção.
O propósito desta forma de atuação, sempre com transparência e baseados em princípios éticos, é ir
estabelecendo o grupo como espaço a ser apropriado pelos sujeitos que compartilham o mesmo coletivo,
dando a eles a chance de discutir e ressignificar a organização do trabalho, de substituir os conflitos
camuflados, e os rumores que favorecem os mal-entendidos, pela polêmica aberta entre os pares. A ideia
é que, aos poucos, o coletivo possa perceber as vantagens das relações de confiança e do trabalho baseado
na cooperação. (Bastos, 2009, p. 119-120)
adaptação do trabalhador para atender as demandas das organizações, a exemplo, o trabalho remoto.
A rápida adaptação ao trabalho remoto de caráter compulsório não foi acompanhada ou precedida de
preparação material ou psicológica. Trabalhadores e gestores foram impelidos a adquirir habilidades
afetivas para a comunicação mediada por tecnologias, assertividade para buscar ajuda e suporte social de
colegas e superiores, aprender a regular os tempos de trabalho e descanso, equilibrar as atividades do
trabalho com as domésticas e regular os diversos estados afetivos que o isolamento exacerbou. (Oliveira
& Ribeiro, 2021, p.2)
Pandemia para o Trabalhador e suas Relações com o Trabalho”, que é parte da coletânea organizada
atividades que estimulam a criatividade e a proatividade dos trabalhadores são benéficas durante o
contribuição.
trabalho com a expansão e uso da tecnologia, que já modificaram as dinâmicas da atividade laboral
mapeando caso a caso, ou seja, “recomenda que o psicólogo aborde de forma mais direta possível o
7 Considerações Finais
aspectos sócio-históricos que compõem a relação entre o sujeito e a sua atividade laboral.
A partir do que foi visto até aqui sobre o exercício e atuação da psicologia do trabalho é
compreensão que a representação social ou exercício do poder que o sujeito manifesta são
A princípio, o trabalho que era exercido nas comunidades primitivas tinha um caráter
coletivo, os fazeres eram limitados aos desejos e controle da comunidade, sendo exercido dentro do
núcleo familiar. Desse modo, o trabalhador tinha maior conhecimento em relação a todo processo
de produção, era o criador, e assim mantinha o poder das decisões sobre a sua criação. Depois com
as novas formatações das comunidades que vimos ao longo deste artigo, surgiu o movimento de
isolamento e individualidade, isso devido ao processo de migração da vida rural para os centros
urbanos. Então, novas interações sociais foram criadas além das ligações pelos vínculos sanguíneos,
fomentadas pela apropriação e domínio dos meios de produção levaram o sujeito a vender a sua
força de trabalho. A objetivação dos indivíduos tornou-se então mera atividade de sobrevivência.
do trabalhador.
pois o homem quando participa do coletivo nutre o desejo de reconhecimento, e esse desejo choca-
se com uma organização direcionada ao capital, que geralmente tende a equiparar a figura do
considerando o que difere o sentido real do trabalho do trabalho prescrito, ou seja, compreender a
dinâmica geralda atividade laboral para distinguir e delimitar quais são os esforços que os
Diante do que foi exposto, para promover melhores condições de saúde mental ao
psicólogo do trabalho, que abarque todos os aspectos sociais, históricos, subjetivos e simbólicos
envolvidos na atividade laboral. Desse modo, as leituras feitas indicam que é preciso considerar o
sujeito como parte do processo de trabalho, identificando os mecanismos de defesa criados para
lidar com a sua realidade e assim integrar práticas colaborativas que visam desenvolver um senso de
ameaça do desemprego. Fatores que exigem uma atuação crítica que possibilite ao trabalhador o
fortalecimento da sua autoestima e emancipação, para que o mesmo seja capaz de construir novas
perspectivas.
Esperamos que este trabalho suscite novas reflexões acerca do tema ampliando a
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