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ANAIS
VI CONGRESSO BRASILEIRO DE
PSICODINÂMICA E CLÍNICA DO TRABALHO
E
VII SIMPÓSIO BRASILEIRO DE
PSICODINÂMICA DO TRABALHO
VI EDIÇÃO
ISSN: 2674-8665
São Luís
2020
Vice-Reitor
CONSELHO EDITORIAL
Prof. Dr. Esnel José Fagundes
Profa. Dra. Inez Maria Leite da Silva
Prof. Dr. Luciano da Silva Façanha
Profa. Dra. Andréa Dias Neves Lago
Profa. Dra. Francisca das Chagas Silva Lima
Bibliotecária Tatiana Cotrim Serra Freire
Prof. Me. Cristiano Leonardo de Alan Kardec Capovilla Luz
Prof. Dr. Jardel Oliveira Santos
Prof. Dr. Ítalo Domingos Santirocchi
EDIÇÃO
Sansão Hortegal
REVISÃO
Carla Vaz dos Santos Ribeiro
Denise Bessa Leda
CAPA
Mizael Melo
PROJETO GRÁFICO
Sansão Hortegal Neto
WEBDESIGNER
Sansão Hortegal Neto
www.congressopdt.k6.com.br
FICHA CATALOGRÁFICA
308 p.
ISSN: 2674-8665
1. Trabalho. 2. Psicodinâmica. 3. Clínica. 4. Carla Vaz dos Santos Ribeiro. 5. Denise Bessa Leda.
6. Liliam Deisy Ghizoni. 7. Vanderléia de Lurdes Dal Castel Schilindwein.
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Introdução
Primeira secção: “Um olhar pra gente..”: pressupostos para intervenções éticas e
promotoras de saúde no contexto de práticas em POT - por Elisete Soares Traesel
Apresentaremos nesta seção argumentos teóricos e metodológicos para práticas de POT
Psicologia Organizacional e do Trabalho, focadas no trabalhador e na preservação de sua
saúde. Com base nesses pressupostos, estamos norteando o projetos de pesquisa,
desenvolvimento acadêmico e extensão, do curso de Psicologia da UFF de Campos dos
Goytacazes, na região norte do RJ, sob coordenação e supervisão da autora dessa secção (Elisete
Soares Traesel), em especial em instituições públicas. O cerne dessas ações está na prevenção
e promoção de saúde nesse contexto, visando despertar o protagonismo dos trabalhadores de
modo a possibilitar ações cooperativas e mediar relações de trabalho mais humanas e saudáveis
em um ambiente de precarização crescente. Assim, apresentamos aqui os principais
pressupostos que sustentam essas práticas.
O contexto contemporâneo do trabalho vem convocando a Psicologia a fortalecer suas
práticas no interior das instituições e organizações produtivas, potencializando os coletivos,
abrindo espaços de criação, exercício da singularidade e da inteligência, bem como, construindo
argumentos para transformações que impulsionem modos de gestão mais favoráveis à
promoção de saúde, aliados à emancipação profissional.
Em favor do trabalho como potente instrumento emancipatório, podemos ressaltar a
partir da ótica dejouriana e el c n i c m mi a e em alcan ad en e
abalh e a de (Dej , 2011, .28). Ne a di e , a e al a e h gani a e
mais favoráveis à saúde mental, pois mesmo diante de contradições o trabalho também pode
propiciar o melhor, sendo mediador de emancipação e não somente de alienação. Defende,
ainda, que o trabalho pode ser organizado de formas diferentes, mais voltadas à vida e à saúde.
Entretanto, adverte que para que isso aconteça, precisamos pensar a ação no trabalho e construir
argumentos para sustentar práticas mais éticas.
No que se refere ao campo de atuação da Psicologia no mundo do trabalho do Brasil, a
longo da história, podem ser identificadas três faces: a psicologia industrial que atuava a partir
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prática clínica. Dentre os resultados do dispositivo das oficinas em Clínica do trabalho e outras
intervenções em psicologia institucional destacamos: sofrimento, perda de sentido do trabalho,
estigmatização, adoecimentos, falta de relações sócio profissionais pautadas na confiança, no
reconhecimento pelo trabalho do outro e cooperação. Para negação do sofrimento no trabalho
e manutenção do instituído observamos o uso de estratégias coletivas de defesa como cinismo
viril e o silenciamento, acarretando conflitos e segregação entre os profissionais e adolescentes
promovendo mais sofrimento e adoecimento. Bem como, o distanciamento de um trabalho vivo
e instituinte, dificultando avanços na socioeducação (tal como é preconizada pelo ECA), do
pensar reflexivo e da própria continuidade das sessões coletivas, trazendo desafios frente a
construção de dispositivos clínicos que promovam a ação de resistência ético-política da clínica
do trabalho.
Terceira secção: Clínica das formas de vida no trabalho como micropolítica da
existência - por João Batista Ferreira
A clínica das formas de vida no trabalho (CFVT) é um dispositivo de análise e
intervenção nos processos de subjetivação das relações entre vida-trabalho-sa~de. Busca
instaurar espaços micropolíticos de expressão, discussão e mobilização individual e coletiva
para potencializar ações de transformação dos riscos que ameaçam a saúde e a vida digna
(Ferreira, 2017a, 2017b). A CFVT articula perspectivas transdisciplinares da filosofia
(Foucault, Deleuze, Agamben, Lapoujade), psicologia (política, do trabalho, psicodinâmica do
trabalho) e análise institucional. Foi desenvolvida com base nos estudos, pesquisas e práticas
do Núcleo Trabalho Vivo - Pesquisas e Intervenções em Arte, Trabalho e Ações Coletivas, do
Instituto de Psicologia e ao Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal
do Rio de Janeiro da UFRJ, coordenado pelo autor desta secção. As práticas clínicas são
realizadas desde 2017, no estágio curricular na clínica-escola da Divisão de Psicologia
Aplicada (DPA) do Instituto de Psicologia da UFRJ; com a participação de graduandos de
psicologia (nos atendimentos clínicos), e de doutorandos e mestrandos (nas supervisões
coordenadas pelo professor orientador). A CFVT busca instaurar situações clínicas de
problematização dos instituídos objetivos e subjetivos produtores de sofrimento e adoecimento
no trabalho, de modo a amplificar as potências dos sujeitos para enfrentá-las e transformá-las.
Entre as condições de instauração e legitimação da CFVT, destacamos a escuta
acolhedora, como abertura sensível às ressonâncias e modulações das experiências do paciente
no processo clínico. É uma escuta-olhar para narrativas, gestos, posturas corporais, expressões
faciais que expressam e podem criar, a todo instante, modos de existência menores, diversos,
simultâneos ± existências mínimas (Lapoujade, 2017). É um trabalho de atenção e acolhimento
à experiência de falar-significar do paciente: o que nunca foi dito, o que foi dito (mas não
significado), o que não pode ser dito (mas se apresenta nos interstícios do que é dito), o que não
pode deixar de ser dito. A escuta acolhedora é fundamental para a construção do vínculo
clínico, realizada com os modos de existência do cliente que buscam transformações. Tal
vínculo, por sua vez, é condição para instaurar o processo que nomeamos circuito experiencial
da clínica, com qual se busca instaurar experiências das experiências relacionadas aos
tensionamentos entre prescrito e real do trabalho, os afetos e mobilizações subjetivas
decorrentes (na conservação ou transformação destas situações) e os efeitos de significação,
saúde e adoecimento dos pacientes.
Enquanto dispositivo de análise, o circuito experiencial da clínica busca problematizar:
a) normatividades fixadas que produzem relações de poder-dominação, exacerbadas pelo
produtivismo dos modelos gerencialistas do capitalismo financeiro e dicotomizações que
sinalizam lugares de verdades, em contraposição às diferenças ameaçadoras que precisam ser
caladas ou excluídas (pela violência, por exemplo); b) práticas que geram (e são geradas) por
processos paradoxais de exclusão-inclusiva (Agamben, 2004, 2017), nos quais as contribuições
dos trabalhadores, por um lado, são reconhecidas e produzem inclusões aparentes no mundo do
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Considerações Finais
As experiências relatadas nesta apresentação com base em diferentes referenciais
teóricos, abordaram a importância do dispositivo da clínica do trabalho, buscando articulações
entre clínica, política, saúde e trabalho em diálogo constante com campos diversos do saber, na
construção de uma escuta sensível e qualificada às demandas dos trabalhadores.
Com base nestas experiências, busca-se indicar aspectos importantes para a instauração
e legitimação das situações clínicas do trabalho. Sem estes cuidados, não é possível construir
espaços de discussão voltados para afirmar os direitos de trabalho digno, especialmente nos
contextos de precarização crescentes das situações de trabalho contemporâneas, que se
apresentaram de modo significativo nas pesquisas apresentadas.
A inserção das clínicas do trabalho em atividades de ensino, pesquisa e extensão, nos
âmbitos da graduação e da pós-graduação nas instituições de filiação das autoras e autores desta
apresentação, destacam a importância de ampliar na academia a formação crítica e reflexiva
para ações ético-políticas, conectadas com a realidade brasileira e com o contexto adverso do
trabalho contemporâneo, na busca da construção permanente de argumentos e propostas para
intervenções participativas fundadas em relações de confiança e de promoção de saúde do
trabalhador.
Salientamos, à luz da PdT, e em ressonância com as demais abordagens aqui discutidas
com perspectivas inter e transdisciplinares, que o trabalhador é ativo, com a potência para
enfrentar, para transformar a realidade e para emancipação. Porém, esses processos precisam
ser mediados pela criação de espaços de fala e escuta, pela criação de espaços de discussão
sobre a ação no trabalho e as possibilidades de produção de alternativas em direção a saídas
para os impasses e constrangimentos advindos de contextos organizacionais rígidos e
precarizados pela intensificação e controle do trabalho.
Assim, precisamos dar voz e visibilidade aos sujeitos que trabalham e dedicam à
organização seu saber-fazer, o que, por sua vez, torna o trabalho vivo e amplifica possibilidades
de sentido, agregando valor à organização e à sociedade. Tal como proposto pela ótica
dejouriana, a organização não é um bloco imutável e unicamente gerador de adoecimento, mas
passível de transformação, possibilitando novas formas de vida e realização. Ressignificar
histórias de vida marcadas pela dor do fracasso e da humilhação vivenciados no trabalho,
através da escuta atenta e autêntica, fortalecer o tecido social do trabalho e tornar a organização
mais humana e propícia à saúde é o nosso papel e de todas as pessoas implicadas com a defesa
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da vida digna no trabalho e além do trabalho. Os protagonistas dessa nova história a ser
construída coletivamente e ativamente são os trabalhadores.
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