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Práticas da psicodinâmica do trabalho na região sudeste

Soraya Rodrigues Martins - UFF


João Batista Ferreira - UFRJ
Eduardo Pinto e Silva - UFSCAR
Fernando O. Vieira - UFF
Roberto Heloani - UNICAMP
Suzana Canez da Cruz Lima – UFF
Leandro de Oliveira Abreo - UFRJ
Viviane Pereira - UFF

Este trabalho caracteriza-se por um estudo exploratório que pretende construir uma
visão panorâmica da produção científica de estudos empíricos produzidos na região sudeste
do Brasil, contemplando os estados de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Minas Gerais
(MG) e Espírito Santo (ES), associada à abordagem psicodinâmica do trabalho e clínica do
trabalho, no período de 2007 a 2017, tendo como referências balizadoras as produções de
pesquisadores vinculados a grupos de pesquisa em Psicodinâmica e Clínica do trabalho
nesses estados.
Em pesquisa inicial acerca da produção acadêmico-científica junto às bases Scielo, no
Spell e nos Periódicos CAPES, associadas às universidades da região, no período em
análise, direta ou indiretamente, relacionada à psicodinâmica e clínica do trabalho,
verificamos cento e sete registros. Desse somatório, sessenta e seis publicações estão
vinculadas ao estado de São Paulo, trinta publicações ao Rio de Janeiro, dez a Minas Gerais
e uma ao Espírito Santo. As palavras-chave que determinaram essa busca preliminar foram:
psicodinâmica do trabalho; clínica do trabalho; sofrimento; saúde do trabalhador; saúde
mental; subjetividade e trabalho.
Inicialmente, ao fazermos o refino do levantamento dessas produções publicadas na
região sudeste verificamos: a presença de estudos com pesquisadores e dados empíricos de
várias outras partes do Brasil, bem como a ausência de produções de pesquisadores da
região publicadas em periódicos fora da região. Esses dados evidenciaram a complexidade
da realização dos objetivos iniciais deste estudo, agravada pelo fato da região sudeste
contemplar um elevado número de universidades e programas de pós-graduação, procurados
por pesquisadores de todo Brasil. O real imposto para a execução da nossa tarefa exigiu a
criação de outras estratégias para o levantamento dessa produção, tais como: pesquisa no
currículo lattes de pesquisadores da região com histórico de pesquisa com o uso
psicodinâmica do trabalho, bem como no caso do estado do Rio de Janeiro, Minas Gerais e
Espírito Santo, a ampliação do levantamento das publicações em livros com coletâneas de
estudos de pesquisas brasileiros dentro dessa abordagem.
Para apresentar e analisar os dados coletados, dividimos este trabalho em dois grandes
subcapítulos: o primeiro descrevendo as produções vinculadas ao estado de São Paulo e o
segundo, contemplando os dados obtidos junto aos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais
e Espírito Santo. Essa divisão deve-se ao fato de São Paulo apresentar, inicialmente, uma
concentração maior de registros de publicações. Os dados coletados serão analisados a partir
das delimitações do modelo metodológico adotado. Cabe esclarecer, ainda, que as
referências das teses, dissertações, artigos e publicações em livros de coletâneas encontrados
como resultado da revisão bibliográfica ( Tabelas 1 a 5) não constam em referências
1
bibliográficas para evitar duplicidades.

Parte I - Interdisciplinaridade da psicodinâmica nas pesquisas no estado de São Paulo


e delimitações do modelo metodológico
Nesta primeira parte deste capítulo realizamos uma breve apresentação do histórico de
grupos de pesquisa e pesquisadores do estado de São Paulo vinculados à USP, FGV-SP,
UNICAMP e UFSCar. Explicitamos a produção dos últimos dez anos. O levantamento
inclui Teses, Dissertações e artigos em periódicos. E tecemos considerações sobre os
aspectos teórico-metodológicos da psicodinâmica do trabalho presentes nas pesquisas,
resultados e análises dessas produções. Apontamos algumas diferenças e semelhanças com a
escola dejouriana. E consideramos que essas se devem a razões acadêmicas e institucionais.

1.1. Teses, Dissertações e artigos de pesquisas em psicodinâmica do trabalho (SP).

Frente à complexidade e características dos programas de pós-graduação do estado de


São Paulo atrair um elevado número de pesquisadores provenientes das mais diversas
regiões do país, optamos por realizar o levantamento das produções científicas a partir de
grupos com percurso histórico de pesquisas dentro da abordagem da psicodinâmica do
trabalho. Iniciamos com a apresentação das produções de pesquisadores e de seus
respectivos grupos de pesquisa do estado de São Paulo que têm como referência a
psicodinâmica do trabalho. Os dados são referentes ao período de 2007 a 2017. Eles
apontam para dois conjuntos de pesquisadores de distintas instituições que, ao longo dos
últimos dez anos, apresentam parcerias em artigos, orientações e grupos de pesquisa.
Os pesquisadores Selma Lancman (USP), Laerte Idal Sznelwar (USP) e Seiji Uchida
(FGV-SP) possuem trabalhos e pesquisas em conjunto de longa data. O professor Laerte Idal
coordena o Grupo de Pesquisas do TTO (Trabalho, Tecnologia e Organização do Trabalho),
do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo. A professora Selma Lancman coordena o Grupo de Estudos de Trabalho, Saúde e
Terapia Ocupacional do Laboratório de Investigação e Intervenção em Saúde, Trabalho e
Terapia Ocupacional (LIIST), do Departamento de Terapia Ocupacional da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo. O professor Seiji Uchida é membro fundador e
titular da L'Association Internationale dês Spécialistes em Psychodynamique Du Travail
(L’AIST).
Verificamos também a parceria entre os professores José Roberto Montes Heloani
(UNICAMP), Eduardo Pinto e Silva (UFSCar) e Evaldo Piolli (UNICAMP). Os três são
pesquisadores do Núcleo de Estudos Trabalho, Saúde e Subjetividade (NETSS), da
Faculdade de Educação da UNICAMP.
Nas duas tabelas a seguir apresentamos, respectivamente: a relação das Teses e
Dissertações orientadas ou co-orientadas pelos referidos pesquisadores e seus grupos de
pesquisa; e os artigos produzidos pelos pesquisadores, individualmente ou em coautoria, nos
últimos dez anos. São indicados os anos das produções, modalidades (Tese, Dissertação ou
artigo), títulos e nomes dos autores, orientadores e periódicos.
A seleção foi feita por meio da consulta ao Portal CAPES de Teses e Dissertações e
currículo lattes. Foram incluídas as Teses e Dissertações mais recentes, defendidas em 2017,
e que ainda não estão no Portal. Selecionamos as produções que tinham maior aproximação
2
com a abordagem da psicodinâmica, ainda que o método, stricto sensu, não seja adotado
quase na totalidade deles, o que já foi apontado em levantamentos anteriores sobre a
produção científica da área. (MERLO; MENDES, 2009; MACÊDO et. al., 2016; MACÊDO,
2015). Aspecto a ser analisado no item seguinte.

Tabela 1- Teses, Dissertações dos grupos de pesquisa do Estado de São Paulo (2007-
2017)

Tabela 1 - Teses e Dissertações dos grupos de pesquisa do Estado de SP (2007-2017)


Ano, Delineamento teórico
Autor, referências do tipo de publicação, orientador(a).
modalidade metodológico/ dispositivos
Ruza, F. M. (2017). Trabalho e Subjetividade do Professor Psicodinâmica do Trabalho e
2017 da Pós-Graduação: o sentido do trabalho e as relações Psicossociologia. Dados
entre sofrimento e prazer. Tese (Doutorado em Educação). objetivos da universidade e do
Tese
programa de pós-graduação,
UFSCar. Orientador: Eduardo Pinto e Silva.
documentais e entrevistas.
Professores da pós-graduação.
Reis, G. G. R. (2017). Sofrimento e prazer no trabalho: um Psicodinâmica do Trabalho.
2017 estudo sobre os processos de saúde-doença de professores Dados objetivos de rede
municipal de ensino,
Dissertação do ensino municipal. Dissertação (Mestrado em Educação).
documentais eentrevistas.
UFSCar. Orientador: Eduardo Pinto e Silva.
Professores da Educação Básica
(rede municipal).
Barros, J. O. (2016). Interfaces entre a produção de saúde Psicodinâmica do Trabalho e
2016 e coordenação do cuidado: perspectiva da psicodinâmica estudos críticos organizacionais.
Tese do trabalho na compreensão do trabalhar de médicos Médicos de hospital
inseridos em um hospital universitário. Tese (Doutorado universitário.
em Ciências da Reabilitação). USP. Orientadora: Selma
Lancman.
Psicodinâmica do Trabalho e
Loureiro, T. (2015). Remoção e vivências de prazer-
estudos críticos organizacionais.
2015 sofrimento de servidores técnico-administrativos da
Entrevistas. Técnico-
Dissertação Universidade Federal de São Carlos. Dissertação
administrativos de universidade
(Mestrado em Gestão de Organizações e Sistemas
pública.
Públicos). UFSCar. Orientador: Glauco Henrique de Sousa
Mendes; Coorientador: Eduardo Pinto e Silva.
Lopes, R. M. A. (2014). A construção da identidade do Psicodinâmica do Trabalhoe
2014 gestor de educação infantil na rede municipal de ensino de Psicologia Social. Dados
Dissertação Campinas: prazer e sofrimento no trabalho. Dissertação objetivos de rede municipal de
ensino e entrevistas. Gestores da
(Mestrado em Educação). UNICAMP. Orientador: Jose
Educação Infantil pública.
Roberto Montes Heloani.
Ergonomia da Atividade e
Brunoro, C. M. (2013). Trabalho e sustentabilidade: as
Psicodinâmica do Trabalho.
2013 contribuições da ergonomia da atividade e da
Tese psicodinâmica do trabalho. Tese (Doutorado em
Engenharia de Produção). USP. Orientador: Laerte Idal
Sznelwar.
Karmann, D. F. (2013). As implicações da violência no Psicodinâmica do Trabalho.
2013 processo saúde-doença: um estudo qualitativo dos Saúde Coletiva e Psicologia
Dissertação professores da rede de ensino municipal de São Paulo. Social. Professores da Educação
Básica (rede municipal).
Dissertação (Mestrado em Ciências da Reabilitação). USP.
Orientadora: Selma Lancman.
3
Hass, S. (2012). Campinas, SP: O sofrimento psíquico do Psicodinâmica do trabalho e
2012 estudos críticos organizacionais.
técnico de segurança do trabalho frente à organização do
Dissertação Entrevistas. Técnicos de
trabalho pós-fordista. Dissertação (Mestrado em
Segurança do Trabalho.
Educação). UNICAMP. Orientador: Jose Roberto Montes
Heloani.
Rocha, S. S. (2012). Atuação dos Coordenadores Psicodinâmica do Trabalho,
Pedagógicos da Rede Municipal de Ensino de São Paulo: Psicologia Social e estudos
2012
implicações políticas e sofrimento no trabalho. Dissertação críticos organizacionais.
Dissertação
(Mestrado em Educação). UNICAMP. Orientador: Evaldo Entrevistas. Coordenadores
Piolli. Pedagógicos da Educação
Básica (rede municipal).
Ribeiro, S. F. R. (2011). Sofrimento psíquico do agente Psicodinâmica do Trabalho,
2011 comunitário de saúde: privacidade do trabalhador no Saúde e Psicologia Social.
Tese Entrevistas. Agentes
campo de trabalho. Campinas, SP: Tese (Doutorado em
Comunitários de Saúde.
Educação). UNICAMP. Orientador: José Roberto Montes
Heloani.
Pellegrini, R. (2010). Discurso pedagógico da empresa: Psicodinâmica do Trabalho e
2010 um estudo de manipulação dos sentimentos. Tese Psicossociologia. Análise
Tese (Doutorado em Educação). UNICAMP. Orientador: José documental e Entrevistas com
Roberto Montes Heloani. Trabalhadores de empresa
privada.
Gonçalves, R. M. A. (2009). Análise qualitativa das Psicodinâmica do Trabalho,
implicações do trabalhar na rua à saúde dos Saúde Coletiva, Psicologia
2009 trabalhadores: um estudo com agentes de fiscalização do Social. Agentes de fiscalização
Dissertação estacionamento rotativo (Zona Azul). da Companhia de de empresa pública municipal.
Engenharia de Tráfego do Município de São Paulo.
Dissertação (Mestrado em Ciências da Reabilitação). USP.
Orientadora: Selma Lancman.
2009 Segnini, M. P. (2009). Sofrimento e prazer no trabalho Psicodinâmica do Trabalho.
Dissertação artístico em dança. Dissertação (Mestrado em Ciências da Entrevistas. Trabalhadores setor
Reabilitação). USP. Orientadora: Selma Lancman. artístico (dança).
Jardim, T. A. (2007). Impactos na saúde mental no Psicodinâmica do Trabalho,
processo de trabalho dos agentes comunitários de saúde Saúde Coletiva e Terapia
2009
vinculados ao Programa de Saúde da Família: Ocupacional. Agentes
Dissertação
contribuições da Terapia Ocupacional. Dissertação Comunitários de Saúde do
(Mestrado em Ciências da Reabilitação). USP. Programa de Saúde da Família.
Orientadora: Selma Lancman.
Fonte: Portal CAPES e Plataforma Lattes

A seguir apresentamos a produção dos referidos pesquisadores e de alguns de seus


orientandos especificamente em periódicos. A base de dados foi Scielo e Plataforma Lattes.
Verificou-se que as publicações abrangem periódicos de distintas regiões do Brasil, assim
como publicações em periódicos estrangeiros (com destaque, neste quesito, à produção dos
pesquisadores da USP e FGV-SP).

Tabela 2 - Artigos em periódicos dos grupos de pesquisa do Estado de SP (2007-2017)

Tabela2 - Publicações: revistas periódicas dos grupos de pesquisa do Estado de SP (2007-2017)


Ano Autor, referências do tipo de publicação. Delineamento teórico

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metodológico/Dispositivos
Silva, E. P. E., & Ruza, F. M. (2016). As transformações Psicodinâmica do Trabalho e
produtivas na pós-graduação: o prazer no trabalho está Psicossociologia. Entrevistas.
2016
suspenso? Revista Subjetividades, v. 16, pp. 91-103. Professores de pós-graduação de
universidade pública.
Silva, E. P. e., Leda, D. B.; Ribeiro, C. V. S., & Freitas, L. G. Psicodinâmica do Trabalho.
(2016). Trabalho intensificado de professores da educação Entrevistas. Professores da
2016 Educação Básica e Superior
básica e superior: confluências e especificidades. Trabalho
(En)Cena, v. 1, pp. 50-68. públicas. .
Silva, E. P. e. (2016). Intensificação do trabalho, manipulação Psicodinâmica do Trabalho e
da subjetividade e adoecimento: implicações da política Psicossociologia. Entrevistas e
educacional e do gerencialismo. Revista APASE (São Paulo), Grupos Focais. Professores da
2016
v. 15, pp. 20-33 Educação Básica e Superior,
Gestores da Educação Básica
(instituições públicas).
Heloani, J. R. M. (2015). A Política Educacional Gerencial Psicodinâmica do Trabalho e
como doença social e o mal-estar no trabalho. Revista APASE Psicossociologia. Entrevistas e
(São Paulo), v. 16, pp. 44-61. Grupos Focais. Professores da
2015 Educação Básica e Superior,
Gestores da Educação Básica
(instituições públicas).

Silva, E. P. e. (2015). Adoecimento e sofrimento de Psicodinâmica do Trabalho,


Psicossociologia e Saúde Mental
professores universitários: dimensões afetivas e ético-
2015 no Trabalho. Entrevistas.
políticas. Revista de Psicologia: Teoria e Prática (Online), v.
Professores de universidade
17, pp. 61-71.
pública.
Leda, D. B.; Ribeiro, C. V. S. ; Silva, E. P. e. (2015). A Psicodinâmica do Trabalho,
expansão da educação superior pública e suas implicações no Psicossociologia e estudos
trabalho docente. Revista Educação em Questão (UFRN. críticos organizacionais. Dados
2015 Impresso), v. 51, pp. 147-174. objetivos da expansão da
universidade pública no Brasil e
entrevistas. Professores de
universidades públicas. .
Sznelwar, L. I.;Hubault, F. (2015). Subjectivity in Ergonomia e Psicodinâmica do
2015 ergonomics, a new start tothe dialogue regarding the Trabalho. Aspectos teóricos.
psychodynamics of work. Production, v. 25, pp. 354-361.
Sznelwar, L. I.; Hubault, F. (2015). Unsujet, mais quelsujet? Ergonomia e Psicodinâmica do
2015 La question de la subjectivité en ergonomie. Travailler, v. 34, Trabalho. Aspectos teóricos.
pp. 53.
Silva, E. P. e; Mancebo, D. (2014). Subjetividade docente na Psicodinâmica do Trabalho,
expansão da UFF: criação, refração e adoecimento. Fractal: Psicossociologia e Saúde Mental
2014 Revista de Psicologia, v. 26, pp. 497-492. no Trabalho. Entrevistas.
Professores de universidade
pública.
Heloani, J. R. M.. (2013). A organização do trabalho e a Psicodinâmica do Trabalho,
2013 manipulação da subjetividade. IHU On-Line (UNISINOS. Psicossociologia e estudos
Impresso), v. 416, pp. 8-10. críticos organizacionais.
Piolli, E.; Silva, E. P. e; Heloani, J. R. M. (2013). Sofrimento Psicodinâmica do Trabalho,
e heteronomia: reflexões críticas sobre as políticas de Psicossociologia e estudos
(pseudo) valorização do trabalho do diretor de escola. críticos organizacionais. Análise
2013
Comunicações (UNIMEP), v. 20, pp. 117-132. documental, grupo focal e
entrevistas. Gestores da Educação
Básica pública.
5
Lancman, S.; Mângia, E. F.; Muramoto, M. T. (2013). Impact Psicodinâmica do Trabalho,
of conflit and violence on workers in a hospital emergency Saúde e Psicologia Social.
2013
room. Work (Reading, MA), v. 45, pp. 519. Trabalhadores de hospital
público.
Heloani, J. R. M.; Piolli, E. (2012). Gerencialismo, trabalho e Psicodinâmica do Trabalho,
desumanização: alguns apontamentos sobre o sofrimento e o Psicossociologia e estudos
2012 adoecimento na docência. Revista APASE (São Paulo), v. 13, críticos organizacionais.
pp. 30-40. Professores da Educação Básica
pública
Piolli, E.; Heloani, J. R. M.; Silva, E. P. e. (2012). Autonomia Psicodinâmica do Trabalho,
controlada e adoecimento do professor. Revista Educação e Psicossociologia e Psicologia
Políticas em Debate, v. 2, pp. 370-383. Social. Entrevistas e Grupos
Focais. Professores da Educação
2012
Básica e Superior/Gestores da
Educação Básica (instituições
públicas)

Lancman, S.; Gonçalves, R. M. de A.; Mângia, E. F. (2012). Psicodinâmica do Trabalho,


Organização do trabalho, conflitos e agressões em uma Saúde Coletiva, Psicologia
2012 emergência hospitalar na cidade de São Paulo, Brasil. Revista Social. Trabalhadores e usuários
de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, v. 23, de serviço de emergência
pp. 199-207. hospitalar.
Piolli, E. (2011). Sofrimento e reconhecimento: o papel do Psicodinâmica do Trabalho e
trabalho na constituição da identidade. Revista USP, v. 1, pp. Psicologia Social. Entrevistas e
2011 172-182. grupos focais. Gestores e
professores da Educação Básica
pública.
Segnini, M. P.; Lancman, S. (2011). Sofrimento psíquico do Psicodinâmica do Trabalho.
bailarino: um olhar da psicodinâmica do trabalho. Laboreal Entrevistas. Bailarinos.
2011
(Porto. Online), v. VII, pp. 42-55, 2011.
Uchida, S.; Sznelwar, L. I.; Lancman, S. (2011). Aspects Psicodinâmica do Trabalho.
2011 épistémologiques et méthodologiques de la psychodynamique Aspectos epistemológicos e
du travail. Travailler (Revigny-Sur-Ornain), v. 1, pp. 29-44. metodológicos.
Uchida, S.; Lancman, S.; Sznelwar, L. I. (2011). A Psicodinâmica do Trabalho.
2011 subjetividade no trabalho em questão. Tempo Social (USP. Aspectos teóricos.
Impresso), v. 23, pp. 11-30.
Uchida, S.; Sznelwar, L. I.; Lancman, S.; Barros, J. O. (2011). Psicodinâmica do Trabalho.
2011 O trabalhar em serviços de saúde mental: entre o sofrimento e Trabalhadores de serviço em
a cooperação. Laboreal (Porto. Online), v. VII, pp. 28-41. Saúde Mental.
Piolli, E.; Heloani, J. R. M. (2010). Educação, economia e Psicodinâmica do Trabalho,
reforma do Estado: algumas reflexões sobre a gestão e o Psicossociologia e Economia
2010
trabalho na educação. Revista APASE (São Paulo), v. Ano IX, Política. Gestores e professores
pp. 14-21. da Educação Básica pública.
Piolli, E. (2010). Identidade e reconhecimento no trabalho. Psicodinâmica do Trabalho, e
Revista USP, v. 1, pp. 1. Psicologia Social. Entrevistas e
2010 grupo focal. Gestores e
professores da Educação Básica
pública.
Silva, E. P. E; Heloani, J. R. M. (2009). Gestão Educacional e Psicodinâmica do Trabalho e
Trabalho Docente: Aspectos socioinstitucionais e Psicologia Social. Gestores e
2009
psicossociais dos processos de saúde-doença. Revista professores da Educação Básica
HISTEDBR On-line, v. 33, pp. 207-227. pública.
Silva, E. P. e. (2009). A escuta do trabalhador estressado Psicodinâmica do Trabalho e
2009
enquanto estratégia de aprimoramento da formação Psicologia Social. Entrevistas e

6
profissional. Aletheia (ULBRA), v. 1, pp. 43-56. grupo focal. Guardas municipais.
Lancman, S.; Ghirardi, M. I. G.; Castro, E. D.; Tuacek, T. A. Psicodinâmica do Trabalho,
Saúde Coletiva e Terapia
(2009). Repercussões da violência na saúde mental dos
2009 Ocupacional. Agentes
trabalhadores do Programa de Saúde da Família. Revista de
Comunitários de Saúde do
Saúde Pública (Impresso), v. 43, pp. 682-688.
Programa de Saúde da Família.
Heloani, J. R. M. (2008). Sob a ótica dos pilotos: uma Psicodinâmica do Trabalho,
reflexão política sobre condições e organização do trabalho Psicologia Social e estudos
2008 dos controladores de voo. Revista Psicologia Política, v. 8, críticos organizacionais.
pp. 205-230. Entrevistas. Controladores de
voo.
Heloani, J. R. M. (2007). Corpo e trabalho: instrumento ou Psicodinâmica do Trabalho,
2007 destino? Psicologia Hospitalar, v. 1, pp. 1-13. Psicologia Social e estudos
críticos organizacionais.
Heloani, J. R. M. (2007). Procuram-se culpados. Consciência Psicodinâmica do Trabalho,
2007 (São Paulo), v. 1, pp. 424-435. Psicologia Social e estudos
críticos organizacionais.
Heloani, J. R. M.; Capitão, C. G. (2007). A identidade como Psicodinâmica do Trabalho,
2007 grupo, o grupo como identidade. Aletheia (ULBRA), v. 26, Psicossociologia e Psicanálise.
pp. 50-61.
Silva, E. P. E; Heloani, J. R. M. (2007). Aspectos teóricos e Psicodinâmica do Trabalho,
metodológicos da pesquisa em saúde mental e trabalho: Psicologia Social e Saúde Mental
reflexões a partir de uma análise comparativa do estresse em e Trabalho. Aspectos teóricos e
2007 jornalistas e guardas municipais. Cadernos de Psicologia metodológicos. Entrevistas e
Social do Trabalho (USP), v. 10, pp. 105-120. grupos focais. Jornalistas e
guardas municipais. estudos
críticos organizacionais.
Lancman, S.; Sznelwar, L. I.; Uchida, S.; Tuacek, T. A. Psicodinâmica do Trabalho,
(2007). O trabalho na rua e a exposição à violência no Psicologia Social e estudos
2007 trabalho: um estudo com agentes de trânsito. Interface críticos organizacionais. Agentes
(Botucatu. Impresso), v. 11, pp. 79-92. de fiscalização de empresa
pública municipal.
Lancman, S.; Uchida, S.; Sznelwar, L. I.; Jardim, T. (2007). Psicodinâmica do Trabalho,
Unagent de santé communautaire: untravailaùl´ons´expose. Saúde Coletiva, Psicologia
2007
Travailler (Revigny-Sur-Ornain), v. 17, pp. 97-124. Social. Agentes de fiscalização de
empresa pública municipal.
Bouyer, G. C.; Sznelwar, L. I. &Birro-Costa, M. J. (2007). Psicodinâmica do Trabalho.
2007 Subjetivação e sofrimento no trabalho: o si que se produz na Aspectos teóricos.
atividade. Memorandum (Belo Horizonte), v. 11, pp. 43-58.
Sznelwar, L. I.; Abrahão, J. I. & Mascia, F. L. (2007). Psicodinâmica do Trabalhoe
Trabalhar em centrais de atendimento: a busca de sentido em estudos críticos organizacionais.
2007
tarefas esvaziadas. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, Trabalhadores de Centrais de
v. 31, pp. 97-112. Atendimento.
Fonte: Base de dados Scielo e Plataforma Lattes

1.2. Interdisciplinaridade e delimitação do método

O balanço da produção dos artigos aponta para uma predominância das produções em
co-autoria em ambos os grupos dos pesquisadores, tanto dos vinculados à USP e FGV, como
dos vinculados à UNICAMP e UFSCar: do total dos trinta e quatro artigos, vinte e quatro
são em co-autoria. Os artigos são alguns relativos a orientações de Teses e Dissertações
específicas, e outros que fazem apanhados de pesquisas distintas, e que analisam de forma
articulada resultados que implicam em análises similares e particulares. Há ainda artigos que
7
conectam pesquisadores de outras regiões do país que trabalham com o referencial da
psicodinâmica (caso de parcerias de Eduardo Pinto e Silva com Lêda Gonçalves de Freitas,
Carla Vaz dos Santos Ribeiro e Denise Bessa Léda), ou de outros países (caso de Sznelwar e
Hubault). O grupo dos pesquisadores da USP e FGV apresentou sete publicações em
periódicos internacionais de um total geral de quinze artigos. Ao passo que o grupo da
UNICAMP e UFSCar apresentou dezenove artigos, todos em periódicos nacionais. Em
termos de pesquisas orientadas constatou-se um total de quatorze, com predomínio de
Dissertações (nove) sobre Teses (cinco). O que se depreende dos dados é que há uma
produção predominantemente coletiva nos dois grupos. E que, em cada um deles, há uma
troca intensa, com interação dos dados e análises de pesquisas por eles orientadas.
Em termos das palavras-chave dos artigos e dos conceitos que se apresentam no corpo
dos Resumos dos artigos, Teses e Dissertações, destacamos algumas que se articulam mais
diretamente à perspectiva dejouriana do campo da psicodinâmica do trabalho: psicodinâmica
do trabalho; trabalho; subjetividade; mobilização subjetiva; sofrimento-prazer; sentido do
trabalho; estratégias defensivas; organização do trabalho; espaço da palavra; cooperação;
relações de trabalho; reconhecimento no trabalho. Mas outras, que estabelecem articulações
com outras abordagens, e que também figuram no Dicionário Crítico de Gestão e
Psicodinâmica do Trabalho (VIEIRA; MENDES; MERLO, 2013), também foram
identificadas, a saber: Violência; Assédio Moral; Sobrecarga no Trabalho; Mal-Estar no
Trabalho; Gerencialismo; Adoecimento; Autonomia; Avaliação do Trabalho; Identidade;
Ideologia da Excelência. E, Saúde Mental no Trabalho, Saúde do Trabalhador e Processos
de Saúde Doença, que não são verbetes do referido dicionário, mas também relativamente
frequentes. Por fim destacamos que, dentre áreas relacionadas à psicodinâmica, pudemos
identificar: psicossociologia; ergonomia; saúde; terapia ocupacional.
O que se torna evidente é que não se trata de uma produção, tanto de um grupo de
pesquisadores como do outro, que siga rigorosamente o método clínico de intervenção e
investigação, que parte de uma demanda, e que envolve várias fases, tais como: pré-enquete;
enquete; análise da demanda; observação clínica; interpretação; validação e refutação; e
validação ampliada. (HELOANI; LANCMAN, 2004). O que predomina são usos de
conceitos da psicodinâmica do trabalho.
Num dos agrupamentos de pesquisadores, notadamente no NETSS, se destaca a
interlocução da psicodinâmica com a psicossociologia e psicologia social, com destaque à
contextualização política e econômica. São produções voltadas predominantemente ao
trabalho no campo da Educação. A análise do trabalho e subjetividade de professores e de
outros atores educacionais (diretores, coordenadores escolares) geralmente é elaborada
levando em conta os processos avaliativos heterônomos, o gerencialismo nas instituições
públicas e privadas, a mercantilização da esfera pública, as políticas educacionais sob a
égide da reforma do Estado e o processo macrossocial de mundialização do capital. As
questões da precarização e intensificação do trabalho são centrais, e apontadas, ao lado de
parcas possibilidades de reconhecimento no/do trabalho e dos processos que colocam em
suspenso o prazer e/ou sentido, como fatores patogênicos, indutores de estresse,
adoecimento e/ou defesas de caráter patogênico. Um conceito recorrente da psicologia social
utilizado é o de identidade. A questão da violência e assédio no trabalho também é
recorrente. E, da psicossociologia, destacamos o uso de termos como ideal de excelência,
geralmente analisado de forma relacionada à manipulação da subjetividade em prol de uma
sociabilidade produtiva, que tenta capturar a subjetividade que, não obstante, encontra linhas
8
de fuga. O sujeito imerso na sociabilidade produtiva, conforme apontam o conjunto das
produções, resiste, por vezes sucumbe ao adoecimento, aos processos de forja de adesão ao
ideário organizacional, mas não perde sua condição ineliminável de sujeito histórico,
político e desejante.
No outro agrupamento, que envolve os pesquisadores da USP e FGV, se percebe uma
produção que trabalha a noção de um sujeito que, face ao real do trabalho, o reinventa.
Trata-se do sujeito cujo trabalho inevitavelmente se difere da tarefa prescrita. Mas que vive,
nesse embate, também processos que podem torná-lo vulnerável ao adoecimento. Tal
aspecto também é evidenciado em análises do grupo anterior. Mas aqui o acento na
concepção dejouriana de sujeito parece se fazer mais destacada e a dimensão do sujeito do
desejo como ser social e histórico menos realçada. Outro aspecto que singulariza este grupo
é que há maior variabilidade dos trabalhadores enfocados. Enquanto no primeiro
predominam profissionais da educação, neste segundo grupo há maior diversidade. Pode-se,
porém, apontar para uma predominância da abordagem de profissionais da saúde na
produção de Lancman, mas muitos de seus artigos são em coautoria com Sznelwar e Uchida,
e a dimensão social tampouco é desconsiderada, incluindo a questão da violência num dos
artigos. O foco nos processos de saúde-doença é verificável em boa parte da produção. A
dimensão da gestão e organização do trabalho idem. Na produção de Sznelwar a articulação
com a ergonomia se evidencia. Ao passo que na de Lancman a articulação é, sobretudo, com
a Saúde e Terapia Ocupacional. A interdisciplinaridade parece ser uma marca e as
produções não podem ser delimitadas numa única perspectiva metodológica.

1.3. Algumas considerações da produção de São Paulo

As semelhanças e diferenças existentes nas produções dos dois grupos de pesquisadores


que foi possível analisarmos, com o destaque para lacunas que inevitavelmente devam
existir, dado o escopo deste trabalho e limites para um aprofundamento que envolvesse um
maior número de instituições e pesquisadores do estado de São Paulo, se devem a razões
acadêmicas e institucionais.
Do ponto de vista acadêmico é dificultada a possibilidade de uma típica pesquisa de
intervenção que siga as etapas preconizadas pelo método clínico em toda sua especificidade.
As pesquisas nascem de interesses de pesquisadores e se articulam a temas e interesses de
grupos de pesquisa, e não exatamente partem de demandas de trabalhadores e de coletivos
extra-acadêmicos. Esta pode ser uma das razões pelas quais o método stricto sensu é
praticamente inexistente no levantamento das produções referenciadas. O método das
pesquisas apresenta naturezas multiformes. E o uso da psicodinâmica do trabalho é
fundamentalmente interdisciplinar.
Do ponto de vista institucional, percebemos que cada um dos grupos de pesquisa (FGV,
USP, UNICAMP e UFSCar), apresentam suas especificidades. Assim, do total de produções
dos pesquisadores, somente parte dela se relaciona a análises cujo mote é balizado por
conceitos da psicodinâmica do trabalho.
No caso do NETSS e que também ocorre na linha de pesquisa do pesquisador da
UFSCar, há trabalhos que se configuram como produções mais afinadas à abordagem
materialista histórico-dialética, assim como outras que se situam predominantemente no
campo da sociologia, com consideração a autores como Habermas, Bourdieu, entre outros.
No caso da produção de Lancman boa parte se volta mais para questões mais específicas
9
da reabilitação e da terapia ocupacional. Uchida também tem produção que se articula à
questão da gestão, uma vez que sua pertença institucional demanda também uma análise das
questões organizacionais e da gestão na formação de administradores. E Sznelwar, por sua
vez, possui produções que dialogam com a engenharia de projetos, ou que são tipicamente
da área de ergonomia, sendo que parte dela é que estabelece uma interlocução mais efetiva
com a psicodinâmica do trabalho. As questões da sustentabilidade, da gestão e
organizacionais, sempre são de alguma forma presentes, mas muitas vezes deslocadas da
discussão psicodinâmica propriamente dita.
Portanto, podemos apontar para uma sinergia e alto grau de interação, com
especificidades, em cada um dos grupos de pesquisa. As produções, embora não sejam
tipicamente conformadas à prescrição do método clínico de intervenção, dialogam com
vários conceitos da psicodinâmica do trabalho. E, cada qual, com interlocuções com áreas
específicas, conforme as razões acadêmicas e institucionais apontadas. A natureza diversa e
interdisciplinar da produção e dos métodos utilizados não se coaduna a um tipo ideal de
psicodinâmica do trabalho; mas parece, por outro lado, ser tributária da própria natureza
interdisciplinar da proposta dejouriana (cujas bases epistemológicas se situam na ergonomia,
sociologia e psicanálise), e cuja natureza meramente prescritiva da tarefa é sempre
questionada, em prol de uma defesa de um trabalho criativo e inventivo. Perspectiva essa
comprometida, do ponto de vista ético e político, e engajada nas transformações
organizacionais e na promoção da saúde do trabalhador.

Parte II - Um olhar sobre o uso da psicodinâmica do trabalho nos Estados do Rio de


Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo

Nessa segunda parte do capítulo, pretendemos apresentar um estudo exploratório que


pretende dar uma visão panorâmica da produção científica com dados empíricos, produzida
nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo, associada à psicodinâmica do
trabalho no período de 2007 a 2017, a partir de levantamento junto à base de dados Scielo,
Portal CAPES associado às universidades da região, confrontados com dados do currículo
dos pesquisadores junto Plataforma Lattes e com as publicações em livros de coletânea de
pesquisas empíricas realizadas dentro da abordagem da psicodinâmica do trabalho.
Inicialmente realizamos uma breve apresentação dos grupos da região com
pesquisadores do GT Psicodinâmica e Clínica do trabalho vinculado à Associação Nacional
de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP) nos estados do RJ MG e ES. Em
seguida explicitamos o levantamento realizado da produção dos últimos dez anos associado
a esses estados. O levantamento inclui Teses, Dissertações, artigos em periódicos e estudos
empíricos publicados em livros contendo coletâneas de pesquisa em psicodinâmica do
trabalho. Nessa apresentação tecemos considerações sobre os aspectos teórico-
metodológicos da psicodinâmica do trabalho presentes nas pesquisas, alguns resultados e
análises dessas produções. Apontamos algumas diferenças e semelhanças no uso da
psicodinâmica como referência teórica, metodológica.

2.1. Apresentação grupos de pesquisa vinculados à psicodinâmica do trabalho


Nessa região, encontramos alguns pesquisadores do grupo “Psicodinâmica e Clínica do

10
Trabalho” do CNPq e da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia
(ANPEPP) nas duas maiores universidades do estado do Rio de Janeiro, com diferentes
especificidades institucionais.
Na Universidade Federal Fluminense (UFF) estão os pesquisadores Fernando Vieira
professor da graduação e pós-graduação em Administração (Niterói), Suzana Canez da Cruz
Lima e Soraya Rodrigues Martins, professoras da graduação em Psicologia no campus de
Rio das Ostras (RO). Em torno desses professores, congregam-se vários alunos nas
atividades de pesquisa nos níveis de graduação e pós-graduação.
O professor Fernando Vieira coordena o Grupo de Estudos sobre os Coletivos de
Trabalho e Práticas Organizacionais (ESCOPO). Esse grupo propicia a construção de um
coletivo de trabalho que busca aprimorar orientações de pesquisa, em nível de graduação e
de pós-graduação em Administração, estabelecendo diretrizes, que ajudassem a configurar
análises críticas às perspectivas e práticas das relações de trabalho e, mais especificamente,
no campo mais conhecido como “gestão de pessoas”. Atualmente tem dois eixos de
pesquisa: 1) Estudos Críticos dos Subsistemas de Recursos Humanos (RH) - abarcando
projetos que estudem ideias e práticas de RH, procurando trazer à luz contradições do
binômio Capital & Trabalho, que se materializam nas funções de RH; 2) Modelos de
Organização do Trabalho, e Discurso Organizacional - visa contemplar pesquisas, que
ajudem a elucidar as dinâmicas de produção e reprodução de discursos voltados ao chamado
mundo do trabalho. Nesse período, dentro da abordagem da psicodinâmica em diálogo com
os estudos críticos organizacionais esse grupo totalizou seis monografias de graduação e
quatro dissertações de mestrado. Nesses estudos, são realizadas análises de conteúdo e/ou
análise do discurso, entrevistas e documentos. Até a presente data, ainda não se realizou a
clínica psicodinâmica do trabalho, a partir do método clínico stricto sensu, junto ao
ESCOPO (Niterói).
Junto ao curso de Psicologia da UFF de Rio das Ostras organizou-se um grupo de
pesquisa em psicodinâmica e clínica do trabalho em torno das professoras Suzana Canez da
Cruz Lima e Soraya Rodrigues Martins, ambas pesquisadoras, do GT Psicodinâmica e
Clínica do Trabalho da ANPEPP vinculadas ao Laboratório de Clínica e Psicodinâmica do
Trabalho (LCPT) da UnB e ao grupo de pesquisa ESCOPO (Niterói). Essas professoras
congregam graduandos de psicologia nas atividades de pesquisa, extensão e de práticas de
estágio curricular em clínica do trabalho, que têm como objetivo, o desenvolvimento de
ações de atenção à saúde dos trabalhadores da região com a criação de diferentes
dispositivos de escuta clínica (individual e em grupo). Nesse período, dentro da referência
teórico-clínica da psicodinâmica do trabalho, foram concluídas quinze monografias de
conclusão de curso de graduação em Psicologia (UFF/CURO), com estudos empíricos com
uso do método clínico apoiado na fala e na escuta clínica, com diferentes categorias
profissionais tais como: trabalhadores off-shore; mineradores após acidente ambiental (ES);
profissionais de educação e servidores municipais readaptados. Entre essas monografias
destacamos produções da prática de estágio em clínica do trabalho, vinculadas à extensão
com o uso dos registros clínicos de ações realizadas junto a coletivos de professores da rede
municipal de ensino (ensino fundamental).
Na Universidade Federal do Rio de Janeiro funciona o Núcleo Trabalho Vivo – Estudos
e Pesquisas em Arte, Trabalho e Ações Coletivas, coordenado pelo pesquisador e professor
João Batista Ferreira. O Núcleo está vinculado ao curso de graduação e ao Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da UFRJ. Tem como objetivo investigar as articulações dos
11
contextos históricos, social, político, institucional e organizacional nas situações de trabalho,
nos processos de subjetivação, saúde e adoecimento dos trabalhadores. Tal perspectiva é
pautada por articulações inter e transdisciplinares, com base principalmente nas abordagens
da psicodinâmica do trabalho, psicologia social, psicanálise, análise institucional, filosofia
política e da diferença. O Núcleo Trabalho Vivo desenvolve atividades de ensino, pesquisa e
extensão articuladas em torno de dois eixos: 1) Trabalho, prazer-sofrimento e processo
saúde-adoecimento – com o objetivo investigar os modos de gestão da organização do
trabalho, as vivências de prazer-sofrimento e o processo e saúde-adoecimento em diferentes
categorias de trabalhadores; e 2) Arte, trabalho e processos de subjetivação - que investiga
as relações entre trabalho e subjetivação a partir de ressonâncias com as práticas artísticas,
entendidas como campo privilegiado de experimentações sociais. As práticas artísticas, com
essa perspectiva, possibilitam a investigação do trabalho vivo como experiência de criação,
da mobilização subjetiva e dos processos de subjetivação ética e politicamente qualificados.
No período em análise do presente estudo, como parte das atividades do Núcleo
Trabalho Vivo e de seu coordenador, foram concluídas vinte e seis monografias de
graduação, duas dissertações de mestrado (com nove dissertações em andamento), e
publicados seis artigos em periódicos e dezoito artigos em livros. As pesquisas foram e
estão sendo realizadas com as seguintes categorias de trabalhadores: psicólogos e estagiários
de psicologia de diversos setores; professores; sujeitos em situação de não-trabalho,
subcontratados, voluntários, de equipe multiprofissional em hospital, agentes
socioeducativos, técnicos de segurança do trabalho, eletricistas de linha viva; escritores,
artistas de rua, atores de teatro, músicos e capoeiristas. Em linhas gerais, tais estudos são
assim caracterizados: a) como fundamentação teórica: a psicodinâmica do trabalho em
articulações inter e transdisciplinares com os referenciais anteriormente indicados; b) como
metodologia: entrevistas individuais e coletivas; clínica do trabalho; instrumentos ITRA
(MENDES; FERREIRA; CRUZ, 2007) e PROART (FACAS, 2013); cartografia (PASSOS;
KASTRUP; ESCÓSSIA, 2009); Análise de Conteúdo (BARDIN, 1977) e Análise dos
Núcleos de Sentido (MENDES, 2007).
Além dessas atividades, no curso de graduação em Psicologia são oferecidas a
disciplina Psicodinâmica e Clínica do Trabalho e atividades de estágio em clínica do
trabalho na Divisão de Psicologia Aplicada do Instituto de Psicologia da UFRJ, com
atendimentos individuais e, futuramente, em grupos. Nas ações de extensão, gratuitas e
abertas a todos os interessados nas questões relacionadas à saúde, trabalho e subjetividade,
foram realizados cinco cursos de extensão utilizando a psicodinâmica do trabalho como
referencial central: dois intitulados - “Psicologia e Saúde do Trabalhador” e três
denominados - “Psicodinâmica e Clínica do Trabalho”. O número de inscritos para a
realização dos cursos chegou a ultrapassar dez vezes a quantidade de vagas oferecidas por
turma. Nestes, cabe ressaltar três pontos: a grande demanda pelo tema; os recorrentes relatos
da baixa oferta de cursos (de extensão e pós-graduação stricto e lato sensu) que abordassem
a relação trabalho-trabalhador-saúde de forma crítica; e a diversidade de inscritos e
participantes (entre profissionais e estudantes) que representavam diferentes áreas de
conhecimento, como a psicologia, pedagogia, serviço social, ciências sociais, belas artes,
enfermagem, medicina, saúde ocupacional, engenharia, física, administração e marketing.

12
2.2. Produção de Teses e Dissertações de pesquisadores vinculados aos Estados do RJ,
MG e ES (2007-2017)
Na Tabela 3 apresentamos Teses e Dissertações (2007-2017) selecionadas por estudos
empíricos com a psicodinâmica do trabalho como base teórica e ou metodológica, através de
levantamento junto ao Portal CAPES, associados às universidades localizadas nesses estados
(pelo vínculo institucional do pesquisador e/ou campo de pesquisa). A partir dos descritores,
citados no início do capítulo, ampliados com a produção vinculada aos grupos de pesquisa
anteriormente citados. A tabela informa dados das referências, acompanhadas de seu
delineamento teórico e metodológico, incluídos os dispositivos de investigação utilizados e
as categorias profissionais pesquisadas.

Tabela 3 - Teses e Dissertações de pesquisadores vinculados aos Estados de RJ, MG e


ES (2007 – 2017).
Tabela 3 - Teses e Dissertações de pesquisadores vinculados aos Estados de RJ, MG e ES (2007 – 2017)
Ano, Delineamento teórico
Autor, referências do tipo de publicação, orientador(a).
modalidade metodológico/ dispositivos
Abreo, L. O. (2017). Entre capturas e resistências: Psicodinâmica do trabalho,
situações de saúde e adoecimento no trabalho de agentes Psicologia jurídica e análise
2017
socioeducativos. Dissertação (Mestrado em Psicologia). institucional. Cartografia,
Dissertação
UFRJ. Coorientador: João Batista Ferreira. entrevistas, PROART e diários
de campo. Agentes
socioeducativos.
Machado Júnior, A. (2016). A. Assédio moral: um estudo Psicodinâmica do trabalho e
2016
de caso em agências de um banco da cidade de Juiz de estudos críticos organizacionais.
Dissertação
Fora/MG. Dissertação (Mestrado em Sistemas de Gestão). Entrevistas. Bancários.
UFF/Niterói. Orientador: Fernando Vieira.
Maia, C. V. (2016). A avaliação de desempenho na Psicodinâmica do trabalho e
2016 contramão da avaliação do trabalho e seus impactos nas estudos críticos organizacionais.
Dissertação vivências de prazer e sofrimento de servidores públicos Análise documental e
federais. Dissertação (Mestrado em Administração). entrevistas. Empresa do serviço
UFF/Niterói. Orientador: Fernando Vieira. público.
Mattos, A. A. (2015). Satisfeito ou satisfazendo? Estudo Psicodinâmica do trabalho.
2015 sobre a satisfação dos trabalhadores terceirizados: Entrevista e escala de satisfação
Dissertação quando trabalhar precariamente não é uma questão de no trabalho. Trabalhadores
escolha. Dissertação (Mestrado em Psicologia). UFRJ. terceirizados.
Coorientador: João Batista Ferreira.
Oliveira, L. E. (2015). O canto da sereia: o discurso Psicodinâmica do trabalho e
2015 organizacional em gestão de pessoas nas melhores estudos críticos organizacionais.
Dissertação empresas para trabalhar. Dissertação (Mestrado em Discurso x práticas
Administração). UFF/Niterói. Orientador: Fernando Organizacionais.
Vieira.
Pontes, K. E. S. (2014). Dando nó em pingo d’água: os Ergologia e psicodinâmica do
2014 nós da enfermagem em uma unidade neonatal a partir do trabalho. Oficinas de fotos e de
Tese ponto de vista da atividade. Tese (Doutorado em Saúde Encontros sobre o Trabalho.
Pública). FIOCRUZ/RJ. Orientadora: Lúcia Rotenberg Enfermagem neonatal
Prange, A.P. L (2014). Trabalho é o que você faz para Ergologia e psicodinâmica do
2014 ganhar dinheiro ou aquilo onde você coloca sua alma? trabalho. Observação entrevistas
Tese Condições de trabalho e vida de atores de teatro coletivas. Atores de teatro.
experimental atuantes no Rio de Janeiro. Tese (Doutorado
em Saúde Pública). FIOCRUZ/RJ. Orientadora: Jussara

13
Cruz de Brito.
Nunes, D. J. S. (2014). Sarados e precarizados: Psicodinâmica do trabalho e
2014 contradições no trabalho de professores de educação estudos críticos organizacionais.
Tese física em academias na cidade do Rio de Janeiro. PROART. Professores de
Dissertação (Mestrado em Administração). UFF/Niterói. educação.
Orientador: Fernando Vieira.
Salles, W. (2013). Receitas ou astúcias? Como gestores Psicodinâmica do trabalho e
2013 desenvolvem competências em liderança, na perspectiva estudos críticos organizacionais.
Dissertação da inteligência prática. Dissertação (Mestrado em Entrevistas. Gestores.
Administração). UFF/Niterói. Orientador: Fernando
Vieira.
Lopes, F. T. (2013). Entre o prazer e o sofrimento: Psicodinâmica do trabalho e
2013
histórias de vida, drogas e trabalho. Tese (Doutorado em psicanálise. Estudo de casos
Tese
Administração). UFMG. Orientadora: Ana Paula Paes de clínicos. Drogas e trabalho.
Paula
Souza, K. O. (2013). A análise da relação trabalho e Ergologia, psicodinâmica do
2013 saúde na atividade dos bombeiros militares do Rio de trabalho, clínica da atividade e
Tese Janeiro. Tese (Doutorado em Saúde Pública). psicossociologia. Entrevistas
FIOCRUZ/RJ Orientadora: Marta Pimenta Velloso. individuais e coletivas.
Bombeiros.
Santos, G. B. M. (2011). Competências em foco: A gestão Ergologia, ergonomia da
2011 com pessoas sob a ótica dos trabalhadores do setor de atividade e psicodinâmica do
Dissertação mármore e granito. Dissertação (Mestrado trabalho. Grupos focais.
Administração). UFES. Orientadora: Mônica de Fátima Trabalhadores do setor de
Bianco. mármore e granito
Cruz Lima, S. C. (2011). Coletivo de trabalho e Psicodinâmica do trabalho e
2011
Reconhecimento: Uma análise psicodinâmica dos sociologia do trabalho.
Tese
cuidadores sociais. Tese (Doutorado Psicologia). UnB. Metodologia dejouriana stricto
Orientadora: Ana Magnólia Mendes. sensu. Cuidadores sociais.
FERREIRA, J. B. (2011). O poder constituinte do Psicodinâmica do trabalho,
2011
trabalho vivo: análise psicodinâmica da criação literária. psicologia social, filosofia.
Tese
Tese (Doutorado em Psicologia). UnB. Orientadora: Ana
Magnólia Mendes.
Almeida, K. F. (2011). Por uma tecnologia de cuidado Psicossociologia francesa e
integral ao paciente da fila de espera para artroplastia psicodinâmica do trabalho.
2011
Dissertação total primária de joelho no INTO. Dissertação (Mestrado Entrevistas. Profissionais de
em Saúde Publica). FIOCRUZ/RJ. Orientadora: Marilene saúde.
de Castilho.

Costa, R. P. (2011). Estratégia de resistência à violência: Psicodinâmica do trabalho.


2011
um estudo com os/as trabalhadores/as da rede pública de Entrevistas. Profissionais de
Tese
saúde / Sarzedo – MG. Tese (Doutorado em Ciências). saúde do PSF.
UNIFESP. Orientadora: Eleonora Meniccuci de Oliveira.
Vila, E. (2008). Pedagogia do cuidado: a relação de Ergologia e psicodinâmica do
2008 saberes e valores no trabalho do Programa Saúde da trabalho. Entrevista.
Tese Família. Tese (Doutorado em Educação). UFMG. Profissionais de saúde do PFS.
Orientadora: Antonia V.S. Aranha.

Martins, S. R. (2008a). Perversão social e adoecimento: Psicodinâmica do trabalho,


2008
uma escuta psicanalítica do sofrimento no trabalho. Tese psicanálise, sociologia política.
Tese
(Doutorado em Psicologia Clínica). PUC/SP. Orientador: Escuta psicanalítica
Renato Mezan1. articulada/qualificada e clínica

1
A tese de Martins (2008a) apesar de ter sido realizada junto ao programa de pós-graduação no estado de São
14
do trabalho individual/grupo
com trabalhadores com
patologias relacionadas ao
trabalho.
Fonte: Portal CAPES e Plataforma Lattes

No estado do Rio de Janeiro conseguimos localizar, nesse levantamento, pesquisadores


vinculados a diferentes universidades que vêm trabalhando com a psicodinâmica de forma
diferenciada. A maioria das teses e dissertações estão vinculadas às universidades
localizadas no estado do Rio de Janeiro. Encontramos apenas três estudos empíricos
realizados em Minas Gerais e um estudo no estado do Espírito Santo.
Apesar de a psicodinâmica do trabalho situar-se como base teórica em dezoito registros
acima descritos observamos diferentes combinações de orientações teóricas e
metodológicas, evidenciando o diálogo entre diferentes disciplinas como psicodinâmica do
trabalho, ergonomia da atividade ou ergonomia franco-belga, psicologia social, clínica da
atividade, psicanálise, psicossociologia e, algumas vezes, a interdisciplinaridade e
transdisciplinaridade articuladas também com ergologia, análise institucional, filosofia
política e da diferença. De modo geral, podem ser divididas basicamente em três vertentes
ou disciplinas que orientam o diálogo teórico e metodológico das pesquisas aqui citadas.
A vertente da perspectiva ergológica articulando de diferentes formas a psicodinâmica
do trabalho com ergonomia da atividade e a clínica da atividade tem uma forte representação
nas teses de Pontes (2014), Prage (2014) e Souza (2013) vinculadas ao grupo de
pesquisadores da FIOCRUZ. Essa articulação da ergologia com a psicodinâmica também
está presente na tese de Vila (2008), da UFMG, e na dissertação de Santos (2011) da UFES.
Além da realização da clínica da atividade, podemos observar a realização da clínica do
trabalho com referencial teórico e metodológico que privilegia a ergonomia da atividade e a
psicodinâmica do trabalho, numa perspectiva ergológica com dispositivos dialógicos
individuais quanto coletivos. Já o diálogo entre a psicossociologia e a psicodinâmica do
trabalho aparece no trabalho de Almeida (2011).

Ênfases na psicodinâmica do trabalho (PdT)


A abordagem da psicodinâmica do trabalho aparece como central no delineamento
teórico das teses de Cruz Lima (2011) e Martins (2008), ambas da UFF de Rio das Ostras e
vinculadas ao LPCT da UnB, e de Maia (2016) da UFF de Niterói, todas constituintes do
ESCOPO; das teses da mineira de Costa (2011) e de Lopes (2013) da UFMG; bem como do
estudo de Abreo (2017) e da dissertação e da tese de Ferreira (2007; 2011), do grupo
Trabalho Vivo da UFRJ.
A articulação da psicodinâmica com os Estudos Críticos Organizacionais, em
diferentes formas, está evidenciada nas dissertações de Machado (2016), Maia (2016),
Oliveira (2015), Nunes (2014) e Salles (2013).
O estudo de Machado (2013) analisou o fenômeno do assédio moral entre bancários, na
cidade de Juiz de Fora (MG), interrogando esses trabalhadores e seu respectivo sindicato

Paulo, foi inserida na produção do estado do Rio de Janeiro em virtude do vínculo institucional atual da
pesquisadora - Universidade Federal Fluminense, Campus Rio das Ostras, RJ.
15
sobre como lidavam com possíveis casos desse tipo de violência. Os resultados mostraram
que havia um discurso, que ocultava essa causa de sofrimento patogênico, na medida em que
o termo usado para descrever os casos de assédio era travestido de “mediação de conflitos”.
Poucas denúncias eram feitas, pois os empregados tinham medo de algum tipo de represália
ou punição. Oliveira (2015) analisou o discurso organizacional de gestão de pessoas,
revelando contradições entre o que se diz sobre “As melhores empresas para se trabalhar” e
a prática organizacional que oculta sofrimento psíquico, tendo em vista que algumas dessas
empresas haviam sido acusadas de “assédio moral coletivo”. A pesquisa de Salles (2013)
revela contradições no exercício da função gerencial, quando os entrevistados sinalizaram
que suas relações interpessoais com seus subordinados eram astutamente arquitetadas, para
instrumentalizar os ditos recursos humanos, em prol da produtividade. Já a articulação mais
estreita da psicodinâmica do trabalho com a psicanálise aparece nas teses de Martins (2008a)
e Lopes (2013) que abordam de forma mais vigorosa os processos de saúde-adoecimento no
contexto de trabalho.
Com relação ao delineamento metodológico das teses e dissertações com ênfase na
psicodinâmica podemos observar algumas variações metodológicas. A maioria usa a
psicodinâmica do trabalho como categoria teórica, apresentando variações metodológicas
com uso de entrevistas; análise documental ou com uso de escalas e inventários, articulando
o método qualitativo com o quantitativo. Apenas três estudos realizam a clínica do trabalho.
Um exemplo do uso da abordagem da psicodinâmica articulada com instrumento
quantitativo é dissertação de Nunes (2014), aplicando o PROART – Protocolo de Avaliação
de Riscos Psicossociais em professores de academia desportiva. O estudo “Sarados e
precarizados: contradições no trabalho de professores de educação física, em academias na
cidade do Rio de Janeiro” apontou danos físicos à saúde desses trabalhadores, especificando
o ritmo de trabalho penoso, como sua causa principal.
Tal articulação também foi observada na dissertação de Abreo (2017) “Entre capturas e
resistências: situações de saúde e adoecimento no trabalho de agentes socioeducativos” que,
com o respaldo metodológico da cartografia e das proposições da pesquisa-intervenção,
realizou quatro intervenções (grupos; entrevistas; restituições em grupo; e restituições
individuais /pequenos grupos) sendo a segunda acompanhada do PROART, utilizado
principalmente como ferramenta de entrada no campo e de visibilização de determinados
processos adoecedores. Ao analisar as situações de trabalho desses profissionais que atuam
em estabelecimentos de privação de liberdade, no estado do Rio de Janeiro, para
adolescentes em conflito com a lei, o autor buscou relacionar as noções da psicodinâmica do
trabalho, da análise institucional francesa e da psicologia jurídica para discutir os processos
macro e micropolíticos de captura e resistência da organização do trabalho.
A tese de Cruz Lima, intitulada “Coletivo de trabalho e Reconhecimento: uma análise
psicodinâmica dos cuidadores sociais” (2011), sobre a psicodinâmica do trabalho do cuidado
foi realizada a partir da investigação junto a uma instituição de acolhimento de crianças e
adolescentes do município de Macaé (RJ), tendo como referência teórica o diálogo entre os
princípios da psicodinâmica do trabalho com a corrente da sociologia do trabalho que trata
das relações de sexo especialmente a partir do pensamento de Hirata e Kergoat (2008). A
estratégia metodológica utilizada foi o método proposto por Dejours (1987/2011b), a partir
de suas três etapas: pré-pesquisa, pesquisa e validação. Com base nos resultados, foram
evidenciadas as seguintes considerações. O trabalho do/a cuidador/a é uma atividade
complexa que se constrói na relação com o outro, o que exige forte mobilização subjetiva e
16
contínua necessidade de inventividade. A organização do trabalho está marcada pela
precarização. Esta é uma atividade situada no terreno sócio histórico das práticas sociais da
assistência social e do trabalho do cuidado. Ou seja, é historicamente uma atividade
voluntária e naturalizada, fruto das características femininas inatas, fatores que dificultam o
reconhecimento do status do/a cuidador/a social como um profissional. Frente à falta de
espaço de discussão para o debate sobre os impasses vinculados ao cuidar são construídas
diversas estratégias de defesa que, no geral, criam um distanciamento afetivo entre
cuidador/a e usuário. Conclui-se que cuidar é uma ação coletiva. A partir da construção de
acordos normativos sobre o bom cuidado é que se torna possível oferecer um cuidado atento
à vida e ao sujeito na sua totalidade. Considera-se que o coletivo se sustenta apenas se
houver o reconhecimento dos/as cuidadores/as – protagonistas da atividade –
trabalhadores/as que o realizam. O fortalecimento do coletivo de trabalho e o
reconhecimento do/a cuidador/a social parece ser o caminho para encontrar o prazer no ato
de cuidar nos serviços de acolhimento.
Em sua tese de doutorado “Perversão social e adoecimento: uma escuta psicanalítica do
sofrimento no trabalho” (2008a) Martins apoiada na fala (fragmentos do discurso) e na
escuta psicanalítica, articulada à psicodinâmica do trabalho, analisa três casos clínicos
provenientes de atendimento individual de bancárias com distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho (DORTs) e outro caso de atendimento em grupo de mulheres
portadoras de DORTs de várias profissões. A visão clínica dos processos de subjetivação
relacionados ao trabalho está apoiada nas concepções de Dejours (1993/2011a) sobre
trabalho real e real do trabalho, inteligência prática, posição do desejo articulado à
organização do trabalho, reconhecimento, cooperação e estratégias defensivas construídas
coletivamente. Ao compreender os processos de saúde e adoecimento vinculados a uma
dinâmica intersubjetiva, fundamentalmente a qualidade do comprometimento da pessoa em
relação ao outro, enfatizando a importância do trabalho nos processos de subjetivação, na
construção de identidade e nos processos de saúde. Os dados clínicos demonstram que os
processos de adoecimento no trabalho estão associados fundamentalmente à violência
moral; e à captura e alienação do sujeito em relação à cena perversa contida pelas relações
de trabalho. Essa tese foi posteriormente publicada no livro “Clínica do trabalho”
(MARTINS, 2009).
O estudo de doutorado “O poder constituinte do trabalho vivo: análise psicodinâmica
da criação literária” (2011) Ferreira articula noções da psicodinâmica do trabalho, da
psicanálise e da filosofia para analisar o fazer artístico enquanto campo privilegiado para
estudar o trabalho vivo como criação. Um fazer direcionado para a mobilização subjetiva e
seus efeitos no processo de subjetivação. As entrevistas e depoimentos de escritores
analisados indicaram vivências de prazer e sofrimento na experiência de criação literária que
potencializam a mobilização subjetiva e a sabedoria criativa para a construção de sentido do
trabalho. O autor propõe distinções conceituais e contribuições para a psicodinâmica como:
pré-escrito primário e pré-escrito secundário; sofrimento do pré-escrito e sofrimento do real;
saber fazer instrumental e saber fazer com o real; e ainda analisa diferentes aspectos
relacionados ao prazer no trabalho: o prazer dos bons encontros, o prazer da invenção e o
prazer da dissonância. Foi discutido o aspecto ético implícito na experiência do real. O
processo de criação foi entendido como experiência de ruptura do mundo das representações
e a criação literária como palavra-ação de ruptura das configurações subjetivas cristalizadas,
como litera-ruptura, requisito para a subjetivação como ato de palavra, como escrita da
17
subjetivação. A tese foi publicada no livro “Do poema nasce o poeta: subjetivação, trabalho
e criação literária” (FERREIRA, 2011).
Cabe destacar que, dentro do método pesquisa-ação na clínica do trabalho na
perspectiva dejouriana, os discursos e/ou significados do trabalho não podem ser separados
da ação, não devem ser produções tardias em relação às atividades de um sujeito envolvido
em sua atividade ou atividades dos coletivos de trabalho. O saber construído sobre o
trabalho é inseparável da experiência que dele emerge. A clínica psicodinâmica do trabalho
tem entre seus princípios fundamentais a promoção do espaço de discussão do coletivo de
trabalho, mediante ao dispositivo de escuta clínica qualificada. Essa escuta caracteriza-se
por uma conduta sistemática, promovida pelos clínicos, de uma dinâmica que se estende
“espontaneamente” em situações comuns de trabalho entre os trabalhadores no espaço de
discussão voltado para organização do trabalho.

Tabela 4 – Publicações: Revistas periódicas de pesquisadores vinculados aos Estados


de RJ, MG e ES (2007 a 2017)
Tabela 4 - Publicações: revistas periódicas de pesquisadores vinculados aos Estados de RJ, MG e ES (2007
a 2017)
Autor, referências do tipo de publicação, vínculo institucional Delineamento teórico
Ano
dos autores. metodológico/Dispositivos
Ogeda, T., & Cruz Lima, S. C. (2016). A vivência subjetiva Psicodinâmica do trabalho.
dos servidores readaptados do Município de Rio das Ostras Escuta clínica qualificada
2016 Revista Trabalho (En)Cena, v.1(2), p. 176-186. (Psicologia, individual. Servidores municipais
UFF/RO) readaptados.

Ferreira, J. B., Martins, S. R., & Vieira, F. O. (2016). Psicodinâmica do trabalho e


Trabalho vivo como apropriação do inapropriável e criação de filosofia política.
2016 formas de vida. Revista Trabalho (En)Cena, v 1 (1), pp. 29-
49. (Psicologia, UFRJ, Psicologia, UFF/RO, Administração,
UFF/Niterói)
Barbati, V. M., Henriques, F. C., Guimaraes Junior, S. D., & Psicodinâmica do trabalho.
Ferreira, J. B. (2016). Capturas e resistências à terceirização: Inventário de Riscos de
2016 estudo com trabalhadores de uma universidade pública. Sofrimento Patogênico no
Revista Trabalho (En)Cena, v 1 (1), pp. 110-127. (Psicologia, Trabalho (IRST).
UFRJ).
Figueiredo, M. G. (2015). Trabalho, saúde e ação sindical na Ergologia, ergonomia da
atividade petrolífera offshore da Bacia de Campos. Revista atividade e psicodinâmica do
Ciências do Trabalho, SP, v. 1, pp. 67-87. (Engenharia de trabalho. Comunidade Ampliada
2015
produção, UFF). de Pesquisa (CAP) - encontros
coletivos com trabalhadores e
coletivo de pesquisadores.
Vargas, T. B. T., & Martins, S. R. (2015). O trabalho real do Psicodinâmica do trabalho.
professor mediador no processo de inclusão de crianças Entrevista individual com
portadoras de transtorno do espectro autista. ARPPEE professores mediadores inclusão
2015
Amazônica: Revista de Psicopedagogia, Psicologia Escolar e autista. Análise de Conteúdo.
Educação. UFAM, v 15 (2), pp. 342-369 (Psicologia,
UFF/RO)
Ferreira, J. B. (2014). Sobrevivências, clandestinidades, Psicodinâmica do trabalho e
2014 lampejos: o trabalho vivo da criação literária. Fractal: Revista filosofia política.
de Psicologia, RJ, v. 26, pp. 715-728. (Psicologia/UFRJ).
18
Mendes, A. M., & Vieira, F. O. (2014). Diálogos entre a Psicodinâmica do trabalho
Psicodinâmica e Clínica do Trabalho, e os estudos sobre os eestudos críticos Organizacionais
Coletivos de Trabalho e Práticas Organizacionais. Revista Intercâmbio entre o ESCOPO
2014
FAROL de Estudos Organizacionais e Sociedade. UFMG (UFF) e LPCT (UnB).
FACE, Belo Horizonte, v 1(1), pp. 144-189. (UnB;
Administração, UFF).
Vieira, F. O. (2014). Quem vê cara, não vê coração: aspectos Psicodinâmica do trabalho e
discursivos e eufemísticos da sedução organizacional, que estudos críticos organizacionais.
2014 disfarçam violência e sofrimento no trabalho. PUC-Minas: Análise discurso organizacional
Revista Economia & Gestão, Belo Horizonte, v 14 (36), pp.
194-220 (Administração, UFF).
Cruz Lima, S. C. (2012). O trabalho do Cuidado: Uma análise Psicodinâmica do trabalho.
psicodinâmica. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, Estudo empírico junto cuidadores
2012 Florianópolis, v 12(2) p. 203-215 (Psicologia, UFF/RO) sociais. Metodologia dejouriana
stricto sensu. Coletivo de
trabalhadores e de pesquisadores.
Martins, S. R., & Mendes, A. M. (2012). Espaço coletivo de Psicodinâmica do trabalho,
discussão. A clínica psicodinâmica do trabalho como ação de psicanálise e psicanálise de
resistência. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, grupos. Espaço coletivo de
Florianópolis, v 12 (2), pp. 171-183 (Psicologia, UFF/RO; discussão. Escuta clínica
UnB). qualificada apoiada na psicanálise
2012
e na escuta arriscada (Dejours),
apoiada na técnica de Grupo
operativo (Pichon). Pessoas
adoecimento relacionado ao
trabalho.
Brito, J. C., Neves, M. Y., Oliveira, S. S., &Rotenberg, L. Clínicas do trabalho (perspectiva
(2012). Saúde, subjetividade e trabalho: o enfoque clínico e de ergológica), ergonomia da
gênero. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, SP, v atividade, clínica da atividade e
2012 37(126), pp.316-329. (Saúde Pública, Fiocruz/RJ). psicodinâmica do trabalho. Meta-
análise e pesquisas empíricas.
Profissionais de educação, saúde
e telemarketing.
Ferreira, J. B., & Mendes, A. M. (2012). A sabedoria prática: Psicodinâmica do trabalho, e
estudo com base na psicodinâmica do trabalho de criação psicologia social e psicologia do
2012 literária. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, trabalho. Análise de entrevistas.
Florianópolis, v 12 (2) pp. 141-154. (psicologia, UFRJ)

Pimenta, A. M. M., & Paula, P. P. (2012). Avaliação de Psicodinâmica do trabalho e


desempenho por competências: sob avaliação dos entrevistas coletivas
empregados. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v 18(2),
2012
pp. 316-329 (Psicologia, PUC/MG)

Gomes, M.L.B.M.; Cruz Lima, S.C.; Mendes, A.M. (2011). Psicodinâmica do Trabalho.
Experiência em clínica do trabalho com profissionais de T&D Clínica do trabalho com grupo de
2011 de uma organização pública. Estudos e pesquisas em servidores públicos.
Psicologia, RJ , v 11 (3), pp. 841-855. (Psicologia, UFF/RO;
UnB).
Figueiredo, M., & Alvarez, D. (2011). Gestão do trabalho na Ergologia, clínica da atividade,
perfuração de poços de petróleo: usos de si e 'a vida por toda a psicodinâmica do trabalho.
vida'. Trabalho, Educação e Saúde, RJ, v 9(1), pp. 299-326 Dispositivo dinâmico a três polos
2011
(Engenharia de produção, UFF) (DD3P) em ‘encontros sobre o
trabalho’ e entrevistas
semiestruturadas que valorizam a
19
dialogia.
Masson, L. P., Brito, J., & Athayde, M. (2011). Dimensão Ergologia, clínica da atividade e
relacional da atividade de cuidado e condições de trabalho de psicodinâmica do trabalho.
auxiliares de enfermagem em uma unidade neonatal. Physis Comunidade Ampliada de
2011
(UERJ. Impresso), RJ, v 21(3), pp. 879-898. (Saúde Pública, Pesquisa (CAP) - encontros
FIOCRUZ; Psicologia UERJ) coletivos com trabalhadores e
coletivo de pesquisadores
Gomes, L., Masson, L. P., Brito, J. C., & Athayde, M. Ergologia e Psicodinâmica do
(2011). Competências, sofrimento e construção de sentido na trabalho. Comunidade Ampliada
atividade de auxiliares de enfermagem em Utin. Trabalho, de Pesquisa (CAP) - encontros
2011
Educação e Saúde(online), RJ, v 9(1), pp.137-156. (Saúde coletivos com trabalhadores e
Pública, FIOCRUZ; Psicologia UERJ) coletivo de pesquisadores.
Athayde, V., &Hennington, É. A. (2012). A saúde mental dos Ergologia e psicodinâmica do
profissionais de um Centro de Atenção Psicossocial. Physis: trabalho. Observação, entrevistas;
2011 Revista de Saúde Coletiva, RJ v 22(3), p. 983-1001. (Saúde análise documental
Pública, FIOCRUZ/RJ)

Silva, N. M., & Muniz, H. P. (2011). Vivências de Ergologia, Clínica da atividade e


trabalhadores em contexto de precarização: um estudo de caso Psicodinâmica do trabalho.
em serviço de emergência em um hospital universitário. Comunidade Ampliada de
2011 Estudos e Pesquisas em Psicologia, RJ, v 11(3), pp. 804-841. Pesquisa (CAP) - encontros
(Psicologia, UFF /Niterói). coletivos com trabalhadores
(Enfermeiros Serviço social) e
coletivo de pesquisadores
Campos, J. F., & David, H. S. L. (2011). Avaliação do Psicodinâmica do trabalho.
contexto de trabalho em terapia intensiva sob o olhar da Escala de Avaliação do Contexto
2011
psicodinâmica do trabalho. Revista da Escola de Enfermagem de trabalho (EACT).
da USP, SP v 45(2),pp. 363-368. (Saúde pública, UERJ).
Figueiredo, M., & Alvarez, D. (2011). Gestão do trabalho na Ergologia, ergonomia da
perfuração de poços de petróleo: usos de si e 'a vida por toda a atividade e psicodinâmica do
vida'. Trab. educ. saúde (Online), RJ, v 9 (1) , pp. 299-326. trabalho. Dispositivo dinâmico a
2011
(Engenharia de Produção, UFF). 3 polos (DD3P) em encontros
coletivo e entrevistas
semiestruturadas.
Bouyer, G. C., & Barbosa, E. (2010). Subjetividade e Psicossociologia, psicodinâmica
segurança do trabalho: a experiência de um grupo de mútua do trabalho e ergonomia.
2010 ajuda. Revista de Administração de Empresas, SP, v 50(1), Entrevistas coletivas com
pp.48-59. (Engenharia de Produção, UFMG). mineradores do Estado de Minas
Gerais.
Alvarez, D., Figueiredo, M., & Rotenberg, L. (2010). Ergologia, ergonomia da
Aspectos do regime de embarque, turnos e gestão do trabalho atividade e psicodinâmica do
em plataformas offshore da Bacia de Campos (RJ). e sua trabalho. Comunidade Ampliada
2010
relação com a saúde e a segurança dos trabalhadores. Revista de Pesquisa (CAP) - encontros
Brasileira de Saúde Ocupacional, RJ, v 35(122), pp. 201-216 coletivos com trabalhadores e
(Engenharia de Produção, UFF). coletivo de pesquisadores.
Sá, M. C., & Azevedo, C. S. (2010). Subjetividade e gestão: Psicossociologia francesa,
explorando as articulações psicossociais no trabalho gerencial psicodinâmica do trabalho e
2010
e no trabalho em saúde. Ciência & Saúde Coletiva, RJ, v Psicanálise. Práticas clínicas.
15(5), pp. 2345-2354 (Saúde Pública, Fiocruz/RJ).
Sá, M. C., Carreteiro, T. C., & Fernandes, M. I. A. (2008). Psicossociologia francesa,
Limites do cuidado: representações e processos inconscientes psicodinâmica do trabalho e
2008 sobre a população na porta de entrada de um hospital de psicanálise. Observação,
emergência. Cadernos de Saúde Pública, RJ, v 24(6), participação rotinas, entrevistas
pp.1334-1343. (saúde pública, FIOCRUZ, Psicologia UFF/ individuais e em grupos.

20
Niterói). Trabalhadores na emergência
Hospital.
Fonseca, C. M. B. M., & Santos, M. L. (2007). Tecnologias Psicodinâmica do trabalho.
da informação e cuidado hospitalar: reflexões sobre o sentido Observação e entrevista.
2007
do trabalho. Ciência & Saúde Coletiva, RJ, v 12(3), pp. 699-
708 (UFRJ, Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva)
Alvarez, D., Suarez, J. D., Pereira, R., Figueiredo, M. & Ergologia, ergonomia da
Athayde, M. (2007). Reestruturação produtiva, terceirização e atividade, psicodinâmica do
relações de trabalho na indústria petrolífera offshore da Bacia trabalho. Comunidade Ampliada
2007
de Campos (RJ). Gestão & Produção, RJ v 14(1), pp. 55-68 de Pesquisa (CAP) - encontros
(UFF, UERJ, FIOCRUZ). coletivos com trabalhadores e
coletivo de pesquisadores.
Fonte: Base de dados Scielo e Plataforma Lattes

Junto aos periódicos, a partir da pesquisa realizada, foram selecionados vinte e sete
artigos com estudos empíricos apoiados na psicodinâmica do trabalho de diferentes formas,
conforme tabela acima (Tabela 4). No somatório, há quatorze artigos onde a psicodinâmica
do trabalho é a principal perspectiva que orienta a condução da pesquisa em diálogo com
outras disciplinas; dez artigos têm como perspectiva central a ergologia articulada a
psicodinâmica do trabalho, a ergonomia da atividade e a clínica da atividade; e três nos
quais a psicossociologia orienta o diálogo com a PdT e com outras disciplinas.
Em termos de distribuição geográfica dos registros, localizamos vinte e três artigos
com pesquisas empíricas realizadas no Rio de Janeiro ou com dados clínicos sem
determinação geográfica, cujos pesquisadores possuem vínculo institucional em
universidades localizadas nesse estado; e três artigos com dados empíricos localizados em
Minas Gerais. O estado do Espírito Santo não aparece nos registros de artigos. Os
pesquisadores desses artigos estão distribuídos em diferentes universidades, dando destaque
a UFF, FIOCRUZ, UERJ e UFRJ, vinculados a graduação e pós-graduação de diferentes
áreas como psicologia, administração, saúde pública e engenharia de produção.
A abordagem da psicodinâmica do trabalho aparece como central no delineamento
teórico de quatorze artigos, com variações na metodologia adotada. Dois estudos fazem uso
dos conceitos para compreensão e análise de dados quantitativos em artigos, com uso de
instrumentos estruturados, como o IRIS - Inventário de Riscos de Sofrimento Patogênico no
Trabalho (BARBATI; HENRIQUES; GUIMARAES JUNIOR; FERREIRA, 2016), e a
EACT - Escala de Avaliação do Contexto de Trabalho (CAMPOS; DAVID, 2011).
Três estudos fazem uso da abordagem teórica adaptando as orientações
metodológicas para realização e análise de conteúdo de entrevistas, tanto individuais como
coletivas. Apoiadas na escuta e na fala, Vargas e Martins (2015) utilizam o dispositivo de
entrevistas seguidas da análise de conteúdo para alcançar alguma visibilidade ao trabalho
real de professores da rede municipal de ensino frente ao processo de inclusão de escolar de
crianças com espectro autista; Fonseca e Santos (2007), utilizam entrevistas para
compreender as vivências dos enfermeiros frente à informatização nos processos de trabalho
hospitalar (RJ). Em Minas Gerais, Pimenta e Paula (2012) realizaram entrevistas coletivas
para analisar as vivências dos empregados sobre a avaliação de desempenho praticada pela
empresa. E, Vieira (2015), utilizou a psicodinâmica do trabalho para análise do discurso
organizacional.
Por outro lado, a clínica psicodinâmica do trabalho está presente no dispositivo de
escuta clínica na modalidade individual no artigo de Ogeda e Cruz Lima (2016), bem como
21
no artigo intitulado “Espaço coletivo de discussão: a clínica psicodinâmica do trabalho como
ação de resistência” de Martins e Mendes (2012)2.
Apenas um dos estudos utiliza o método prescrito por Dejours (1987/2011b)
contemplando as três etapas (análise de demanda, pesquisa propriamente dita e validação
dos resultados), com espaço coletivo de trabalhadores e coletivo de pesquisadores ad doc
realizada junto a coletivo de cuidadores sociais no estado do Rio de Janeiro, decorrente da
tese de Cruz Lima (2011).
Uma segunda vertente que tem como referência a psicossociologia francesa, a
psicodinâmica do trabalho e a psicanálise está presente em dois artigos (SÁ; AZEVEDO,
2010; SÁ; CARRETEIRO; FERNANDES, 2008), com uso de observação, entrevistas
individuais e grupos; um apoiado na psicossociologia, psicodinâmica do trabalho,
ergonomia com uso de entrevistas coletivas junto a mineradores (MG).
Encontramos uma terceira vertente, com referencial apoiado na ergologia com uso da
psicodinâmica do trabalho, em nove artigos selecionados. Com referencial teórico
metodológica numa perspectiva ergológica com o uso da psicodinâmica articulada à
ergonomia da atividade identificamos o trabalho de Alvarez et. al. (2007), com uso do
dispositivo “Comunidade ampliada” (CAP), com encontros junto a coletivos de
trabalhadores e coletivos de pesquisadores (FIGUEIREDO, 2015; ALVAREZ;
FIGUEIREDO; ROTENBERG, 2010; FIGUEIREDO; ALVAREZ, 2011); sendo que apenas
um relata usar um dispositivo dinâmico de 3 polos (DDP3) com encontros coletivos com
trabalhadores e coletivos de pesquisadores e entrevistas semiestruturadas, (GOMES;
MASSON; BRITO; ATHAYDE, 2011). Desses, três são junto a trabalhadores da indústria
petróleo e gás“off-shore” e um estudo junto a auxiliares de enfermagem da UTI neonatal
(GOMES; MASSON; BRITO; ATHAYDE, 2011). Ainda nessa vertente encontramos
quatro estudos empíricos com referencial teórico metodológico numa perspectiva ergológica
articulada à clínica da atividade, psicodinâmica do trabalho. (SILVA; MUNIZ, 2011;
MASSON; BRITO; ATHAYDE, 2011; FIGUEIREDO; ALVAREZ, 2011; BRITO;
NEVES; OLIVEIRA; ROTENBERG, 2012).
Na produção até aqui analisada (Tabela 3 e 4), podemos observar contribuições das
Clínicas do Trabalho, vinculadas à ergonomia da atividade, a clínica da atividade e à
psicodinâmica do trabalho, ergologia, sendo responsáveis por grande parte dos estudos
empíricos publicados em periódicos nacionais nesses últimos dez anos. Nas duas tabelas
aqui apresentadas, as diversas produções conjuntas e articuladas entre os pesquisadores,
evidenciam a configuração de forte coletivo de pesquisadores. Cabe destacar que, nos
últimos dez anos pesquisadores como Milton de Athayde (UERJ), Jussara Cruz de Brito
(Escola Nacional de Saúde Pública – Fiocruz , RJ), Marcelo Gonçalves Figueiredo (UFF),
Denise Alvarez (UFF) e Helder Muniz (UFF) vêm desenvolvendo e orientando pesquisas no

2
A clínica psicodinâmica do trabalho tem entre seus princípios fundamentais a promoção do espaço coletivo.
Espaço de ação e resistência responsáveis pelo processo de per-elaboração das situações de trabalho
vivenciadas, contribuindo para criar modos de resistência dos trabalhadores à dominação estabelecida nos
processos de gestão da organização do trabalho. As autoras argumentam que escuta clínica qualificada e a fala
compartilhada do sofrimento pode permitir a associação entre o fazer e o pensar, saber, sentir e agir.
Transformar o sofrer envolve repensar a organização do trabalho, possibilitando aos trabalhadores espaços de
mobilização coletiva. Uma forma de potencializar essa escuta seria a articulação da escuta psicanalítica com a
escuta arriscada descrita por Dejours. O espaço público de discussão e a articulação do espaço à compreensão
do processo grupal na técnica de grupo operativo. (MARTINS; MENDES, 2012).
22
Estado do Rio de Janeiro que têm procurado articular teórica e metodologicamente as
abordagens clínicas do trabalhar, como a ergonomia da atividade, o Modelo Operário
Italiano de Luta pela Saúde, a psicodinâmica do trabalho e a clínica da atividade. A “caixa
de ferramentas” desse coletivo de pesquisadores envolve a ergologia como orientação geral,
no diálogo entre a ergonomia da atividade, a psicodinâmica do trabalho e a clínica da
atividade. (ATHAYDE; SOUZA, 2015). Entre os conceitos da psicodinâmica valorizados
nessa caixa de ferramentas está a “resistência ao real” conjuntamente com o impacto da
experiência do real sobre os processos subjetivos, tais como inteligência astuciosa, a
dinâmica que envolve a transformação da inteligência em “sabedoria prática”, envolvendo o
julgamento pelo outro e a atividade deôntica - mobilização subjetiva, confiança, espaço
público, regras, cooperação, avaliação etc. (ATHAYDE; SOUZA, 2015).
A seguir, as tendências aqui apresentadas serão confrontadas com o levantamento em
coletâneas de estudos em psicodinâmica do trabalho.

Tabela 5- Publicações: capítulos de livro com coletâneas de estudos em psicodinâmica


do trabalho (RJ, MG e ES)
Tabela 5 - Publicações: capítulo de livros com coletâneas de pesquisas em Psicodinâmica do Trabalho (RJ,
MG e ES)
Autor, referências do tipo de publicação, vínculo Delineamento teórico metodológico/
Ano
institucional dos autores. Dispositivos
Ferreira, J. B. (2016). Quantos anos de solidão? Psicodinâmica do Trabalho; Filosofia
Violência, assédio moral e paralisia das formas de Política.
vida no trabalho. In: Farah. (Org.). Assédio moral
2016
organizacional: novas modalidades do sofrimento
psíquico nas empresas contemporâneas. SP: LTr
Editora Ltda, (pp. 111-119). (Psicologia, UFRJ)
Oliveira, C. M.; Villarino, M. C.; Ferreira, J.B. Psicodinâmica do Trabalho. Observação
(2015). Vossa excelência, a gestão: análise de situações de trabalho e entrevista
psicodinâmica do trabalho em uma empresa semiestruturada com trabalhadores da
2015 química. In: Taveira; Limongi-França & Ferreira. indústria química. Análise de núcleos de
(Org.). Qualidade de vida no trabalho: estudos e sentido (Mendes, 2007)
metodologias brasileiras. Curitiba: CRV, (pp.
247-255). (Psicologia, UFRJ)
Figueiredo, M. G. (2015). Organização do Ergologia; Ergonomia da Atividade;
trabalho na indústria petrolífera offshore da Bacia Psicodinâmica do Trabalho. Dispositivo
de Campos: o regime de embarque, os turnos de dinâmico de três polos (DD3P),
revezamento e os riscos à saúde mental. In: Encontros coletivos e entrevistas
2015
Taveira; Limongi-França & Ferreira. (Org.). semiestruturadas (dialogia).
Qualidade de Vida no Trabalho: estudos e
metodologias brasileiras. Curitiba: CRV, (pp.
339-357). (Eng.de produção UFF)
Martins, S. R. (2015a). Reconhecimento da Psicodinâmica do Trabalho; Psicanálise.
inteligência prática e sua repercussão nos Escuta clínica qualificada individual
processos de saúde. In: Taveira, Limongi-França recepcionista/vigilante
2015 & Ferreira. (Org.). Qualidade de vida no trabalho:
estudos e metodologias brasileiras. Curitiba:
CRV, (pp. 233-246). (Psicologia, UFF/RO.)

Martins, S. R.; Cruz Lima, S. C. (2015). Psicodinâmica do trabalho, psicanálise.


2015 Reconhecimento e coletivo de trabalho. In: Análise de dois casos clínicos. Escuta
Monteiro, Vieira, & Mendes (Org.). Trabalho e clínica recepcionista/vigilante
23
prazer: Teoria, pesquisas e práticas. Curitiba: articulando psicodinâmica à psicanálise;
Juruá, (p. 51-74). (Psicologia, UFF/RO) Clínica do trabalho junto coletivo
cuidadores sociais (Macaé). com
metodologia dejouriana stricto sensu.
Coletivo de trabalhadores & coletivos
pesquisadores
Miranda, H.; Cruz Lima, S. C. (2015). Notas Psicodinâmica do Trabalho. Entrevistas
sobre a saúde do trabalhador Offshore. In: individuais com trabalhadores off-shore.
Taveira, Cruz Lima & Costa. (Org.). Práticas e
2015 pesquisas em saúde e qualidade de vida no
trabalho: a realidade de Macaé e Rio das Ostras.
Curitiba: CRV, (pp.113-124). (Psicologia,
UFF/RO)
Ferreira, J. B.; Mendes, A. M.; Cruz Lima, S. C. ; Psicodinâmica do Trabalho. Estudo de
Facas, E; Ghizoni, L. D.(2013). Entre a casos.
mobilização subjetiva e a subtração do desejo:
estudos com base na psicodinâmica do trabalho.
2013
In: Merlo: Mendes; Moraes (Org.). O sujeito no
trabalho: entre a saúde e a patologia. Curitiba:
Juruá, (pp. 101-118).
(Psicologia, UFRJ, UnB, UFF/RO)
Moulin, M. G. B; Silva, J; Jesus, D.& Caseli, L.M Ergonomia da Atividade; Psicodinâmica
(2011). Relação da organização e das condições do trabalho. Entrevistas e observação
de trabalho com a saúde: um estudo de caso no livre dos processos de trabalho.
2011 setor de rochas ornamentais IN: Ferreira, Araújo, Trabalhadores do setor de Rochas (ES)
Almeida & Mendes (Org). Dominação e
resistência no contexto trabalho e saúde, SP,
Mackenzie, (pp. 141-156). (Psicologia, UFES/
Fiocruz)
Meireles, B. R., & Ferreira, J. B. (2011). "...e Psicodinâmica do trabalho. Entrevistas.
como tratar este acontecimento inesperado?" Atendentes de empresa de aviação
Estudo com atendentes ao público após acidente comercial.
grave de trabalho. In: Mendes, Merlo, Morrone,
2011
& Facas. (Org.). Psicodinâmica e clínica do
trabalho: temas interfaces e casos brasileiros.
Curitiba (PR): Juruá, (pp. 397-414) (Psicologia,
UFRJ).
Martins, S. R (2010a). Considerações clínicas Psicodinâmica e Psicanálise. Caso
sobre o efeito da perversão nas novas formas de clínico escuta clínica psicanalítica
gestão In: MENDES (Org). Violência no (individual) articulada à Psicodinâmica
2010
trabalho. Perspectivas da Psicodinâmica, da do Trabalho. Gerente/bancário.
ergonomia e sociologia clínica. SP: Mackenzie,
(pp.109-123) (Psicologia, UFF/RO)
Martins, S. R. (2010b). Intervenções em grupo na Psicodinâmica do trabalho, Psicanálise,
clínica do trabalho: uma experiência anunciada Psicanálise de grupos. Espaço coletivo
em sonho. In: Mendes; Merlo; Morrone& Facas de discussão. Escuta clínica qualificada
2010 (Org.). Psicodinâmica e Clínica do Trabalho - apoiada na psicanálise e na escuta
Temas, Interfaces e Casos Brasileiros. Curitiba: arriscada (Dejours), apoiada na técnica
Juruá, (pp. 160-186). (Psicologia, UFF/RO) de Grupo operativo. Pessoas
adoecimento relacionado ao trabalho.
Martins, S. R. (2010c). A escuta do sofrimento na Psicodinâmica do Trabalho, Psicanálise
clínica do trabalho. In: Mendes; Merlo; e Sociologia política. Escuta
2010 Morrone& Facas (Org.). Psicodinâmica e Clínica psicanalítica articulada a escuta arriscada
do Trabalho - Temas, Interfaces e Casos (e Psicodinâmica do Trabalho). Clínica
Brasileiros. Curitiba: Juruá, (pp. 93-112). do trabalho junto a um grupo de pessoas
24
(Psicologia UFF/RO). com adoecimento relacionado ao
trabalho (diversas profissões).
Ferreira, J. B. (2010). Análise clínica do trabalho Psicodinâmica do trabalho, psicologia do
e processo de subjetivação: um olhar da trabalho, psicologia social, filosofia
psicodinâmica do trabalho. In: Mendes; Merlo; política.
2010 Morrone & Facas (Org.). Psicodinâmica e Clínica
do Trabalho: temas, interfaces e casos brasileiros.
Curitiba (PR): Juruá, (pp. 129-139) (Psicologia,
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A maioria das produções registradas e selecionadas possui pesquisadores vinculados


atualmente a universidades do Rio de Janeiro (UFF aos cursos de Administração, Psicologia
e Engenharia de Produção; UFRJ, Psicologia; e UERJ, Psicologia), e à FIOCRUZ (Saúde
Pública). Dois são de estudos realizados em Minas Gerais (UFMG, Engenharia de Produção;
e PUC/MG, Psicologia), e dois no Espírito Santo. Mesmo com a ampliação para publicações
de capítulos de livro em coletâneas de estudos em PdT, verificamos um baixo número de
produções do estado de MG e ES.
Nesses dez anos, grande parte da produção associada aos grupos de pesquisa em
Psicodinâmica do trabalho está publicada em livros. Porém, ao compararmos as três tabelas,
aqui apresentadas (Tabelas 3, 4 e 5), alguns pesquisadores se repetem nas diversas
modalidades de produção. A partir desses dados, podemos destacar algumas trajetórias dos
pesquisadores na abordagem da psicodinâmica do trabalho aqui apresentadas, tais como:
Na trajetória de Suzana Canez da Cruz Lima (UFF/CURO), destacam-se os trabalhos
com estudos empíricos publicados neste período: três abordam a análise do trabalho do
cuidado a partir de uma intervenção realizada com o método proposto por Dejours. (CRUZ
LIMA, 2012; FERREIRA; MENDES; CRUZ LIMA; FACAS; GHIZONI, 2013;
MARTINS; CRUZ LIMA, 2015). Além de outros quatro realizados junto ao LPCT, com o
desenvolvimento de clínica do trabalho com servidores públicos (CRUZ LIMA, 2010), com
profissionais de Treinamento & Desenvolvimento de uma organização pública (GOMES;
CRUZ LIMA; MENDES, 2011) e com vítimas de assédio moral no trabalho. (FREITAS;
CRUZ LIMA; ANTONIO, 2010). Um texto analisa a saúde do trabalhador offshore com uso
de entrevista individual (MIRANDA; CRUZ LIMA, 2015) e, por fim, um artigo analisa a
vivência do servidor readaptado a partir de relatos clínicos. (OGEDA; CRUZ LIMA, 2016).
Nos diversos trabalhos publicados, entre as dimensões conceituais analisadas estão
especialmente: processo de reconhecimento social, construção de coletivo de trabalho,
prazer e sofrimento, estratégias coletivas de defesa e formas de adoecimento.
A pesquisadora Soraya Rodrigues Martins nos últimos dez anos (2008 a 2016) publicou
doze trabalhos clínico-teóricos com dados empíricos, com uso da abordagem da
psicodinâmica do trabalho e método clínico de investigação. Desses, sete trabalhos estão
apoiados na escuta clínica individual junto a pessoas com adoecimento relacionado ao
trabalho de diversas categorias profissionais, tais como: bancárias (MARTINS, 2007, 2008a
e 2008b), gestor (MARTINS, 2010a) e recepcionista/vigilante (MARTINS, 2015a). E outro
estudo abrange as duas modalidades (MARTINS; CRUZ LIMA, 2015), discutindo
processos associados ao saber fazer, à visibilidade do trabalho real, reconhecimento,
construção coletiva de regras de ofício e os processos de saúde. Quatro trabalhos foram
apoiados na escuta clínica proveniente de processo grupal junto a trabalhadoras com
adoecimento relacionado ao trabalho, tais como bancários e usuários do SUS de diversas
profissões. (MARTINS, 2010b, 2010c; MARTINS; MENDES, 2012). E apenas um artigo
relata pesquisa com uso de entrevistas individuais, realizada com professores da rede

26
municipal de ensino, abordando o trabalho real do professor mediador no processo de
inclusão de crianças com autismo (VARGAS; MARTINS, 2015), utilizando a
psicodinâmica do trabalho para análise das falas das entrevistas.
Nos diversos trabalhos publicados, entre os aspectos psicodinâmicos analisados estão:
articulação do desejo, trabalho real, prazer/sofrimento, inteligência prática, sabedoria
prática, processo de reconhecimento, cooperação, coletivos, processos de negação do
sofrimento, estratégias coletivas de defesa, alienação e perversão social, espaço coletivo de
discussão. Além disso, alguns analisam e discutem aspectos metodológicos relacionados à
escuta do sofrimento na clínica do trabalho, articulando a escuta psicanalítica à escuta
arriscada da psicodinâmica do trabalho, tanto na modalidade individual (MARTINS, 2008a,
2008b, 2015a), quanto na coletiva (MARTINS, 2007; 2010b; MARTINS; MENDES, 2012,
MARTINS, 2015, FERREIRA, MARTINS, VIEIRA, 2016), destacando-se o fazer do
clínico do trabalho como processo em construção. Dos treze trabalhos acima citados, a
maioria foi publicada em livros, sendo apenas três trabalhos publicados em periódicos.
Considerações finais

A primazia do lucro sobre a ética e a vida dos trabalhadores, a precarização dos


vínculos trabalhistas, a gestão pelo medo e a fragmentação das proteções sociais são faces
perversas de um cenário que impõe comportamentos adoecidos e alienados. Produzem-se
exércitos de “colaboradores” mortificados que não poucas vezes se transformam também
mortos em vida. A desestruturação dos vínculos de solidariedade, o individualismo e a
neutralização da mobilização coletiva, efeitos desses processos de dominação e apropriação
da vida, engendram estratégias defensivas da cegueira, surdez e do silêncio (DEJOURS,
2007) e viabilizam eclosão das patologias da solidão e do silêncio. (FERREIRA, 2007).
São contextos contemporâneos de trabalho que trazem grandes desafios éticos e
políticos aos pesquisadores na busca de articular a pesquisa e a ação, para construir, junto
com os trabalhadores, veredas de resistência às diversas e distintas lógicas de captura que
conduzem ao sofrimento, ao adoecimento e à morte. Se as formas de dominação nas
relações de trabalho individualizam, segregam e mortificam, os movimentos de resistência
precisam ser coletivos, solidários, éticos e (re)afirmadores da vida.
Os registros analisados no presente estudo evidenciam que a psicodinâmica e clínica do
trabalho são potentes dispositivos teórico-metodológicos de enfrentamento dos mecanismos
perversos de assujeitamento e de silenciamento do trabalhador, uma vez que fomentam a
construção de espaços coletivos de discussão e entendem os trabalhadores como
protagonistas das suas histórias, que podem agir e transformar as situações geradoras de
sofrimento e as ações que os afetam. O processo de fala e escuta, quando coletivo, é uma
ação política que reafirma o poder da palavra e da ação do trabalhador, viabiliza o
reconhecimento das lutas pelo direito ao trabalho digno e decente e a mobilização subjetiva
para as inúmeras ações micro e macro políticas de resistência que se fazem necessárias.
Neste estudo exploratório, procuramos compor uma breve visão panorâmica da
produção científica de estudos empíricos produzidos na região sudeste do Brasil, associada à
abordagem psicodinâmica do trabalho e clínica do trabalho, no período de 2007 a 2017. Em
ressonância com o estudo de Merlo e Mendes (2009), assinalamos no presente estudo os
seguintes assinalamentos. Primeiro, há distintas disciplinas que utilizam a abordagem da

27
psicodinâmica para a análise das relações entre saúde e trabalho, tal como a enfermagem,
administração, engenharia, psicologia, saúde coletiva e outras, evidenciando que o uso de tal
abordagem é, sobretudo, interdisciplinar. Segundo, prevalece o número de estudos
identificados que utilizam a psicodinâmica principalmente enquanto delineamento teórico,
quando comparado àqueles que seguiram o método stricto sensu. Terceiro, predominam o
uso das noções e conceitos da psicodinâmica do trabalho em diálogo com diversas outras
abordagens (ergonomia, ergologia, psicologia social, clínica da atividade, psicanálise,
psicossociologia, análise institucional, filosofia política e da diferença, entre outros),
indicando possibilidades e importantes articulações teóricas e metodológicas. Quarto, os
estudos apresentam análises de diversas categorias profissionais, com ênfase para os
tensionamentos advindos das contradições entre as lógicas (e racionalidades) das
organizações do trabalho (fortemente marcadas pelas capturas produzidas pelos movimentos
do capital e de suas práticas gestionárias e instrumentalizantes) e as atividades e demandas
dos trabalhadores. Em linhas gerais, a psicodinâmica do trabalho construída e praticada no
Brasil é habitada e atravessada pelas singularidades e multiplicidades do contexto sócio-
histórico-econômico na qual se inscreve, pela multiplicidade disciplinar de seu uso, e pelas
articulações cada vez mais profícuas com as demais abordagens.
A tendência ao uso da psicodinâmica do trabalho apenas como uma das referências
teóricas configura-se em diferentes faces para a prática de pesquisa. Dependendo das
escolhas e das condições, nem toda pesquisa é ação de compreensão e transformação mútua.
Com essa perspectiva, fazer do clínico e do pesquisador é um processo em constante
construção.
No trabalhar do pesquisador, frente às diferentes dificuldades encontradas, surge a
necessidade de criar e recriar os dispositivos e formas de pesquisa para produção de
conhecimento. É um trabalho que nos convoca a lidar, constantemente, com as regras e
obstáculos da organização do trabalho investigada, da academia, do conhecimento e também
dos campos sociais, econômicos e políticos - dimensões que não podem ser pensadas de
forma dissociada. Tais adversidades demandam a invenção e a criação permanente de
formas de mobilização e ação diante da realidade singular do campo de estudo e do vazio de
normas imposto pelo real da pesquisa. É, então, diante do inevitável fracasso do método e da
teoria experienciados pelo pesquisador que emergem as condições de possibilidade para as
diversas articulações metodológicas, inter e transdisciplinares da psicodinâmica do trabalho
aqui evidenciadas.
Com base nestas considerações, entendemos que um dos principais fundamentos da
psicodinâmica do trabalho - “trabalhar é fazer a experiência do real” - não apenas é utilizado
nas análises e discussões dos diversos estudos realizados, como se faz parte necessária e
indissociável da complexa composição teórico-metodológica daquilo que - não sem receios
em função da sua diversidade - podemos pensar como imagens de uma psicodinâmica
singular e múltipla, que ganha sentido e se faz dinâmica, processual e viva a partir, e com, as
especificidades que compõem as situações de trabalho no Brasil.

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