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Este trabalho caracteriza-se por um estudo exploratório que pretende construir uma
visão panorâmica da produção científica de estudos empíricos produzidos na região sudeste
do Brasil, contemplando os estados de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Minas Gerais
(MG) e Espírito Santo (ES), associada à abordagem psicodinâmica do trabalho e clínica do
trabalho, no período de 2007 a 2017, tendo como referências balizadoras as produções de
pesquisadores vinculados a grupos de pesquisa em Psicodinâmica e Clínica do trabalho
nesses estados.
Em pesquisa inicial acerca da produção acadêmico-científica junto às bases Scielo, no
Spell e nos Periódicos CAPES, associadas às universidades da região, no período em
análise, direta ou indiretamente, relacionada à psicodinâmica e clínica do trabalho,
verificamos cento e sete registros. Desse somatório, sessenta e seis publicações estão
vinculadas ao estado de São Paulo, trinta publicações ao Rio de Janeiro, dez a Minas Gerais
e uma ao Espírito Santo. As palavras-chave que determinaram essa busca preliminar foram:
psicodinâmica do trabalho; clínica do trabalho; sofrimento; saúde do trabalhador; saúde
mental; subjetividade e trabalho.
Inicialmente, ao fazermos o refino do levantamento dessas produções publicadas na
região sudeste verificamos: a presença de estudos com pesquisadores e dados empíricos de
várias outras partes do Brasil, bem como a ausência de produções de pesquisadores da
região publicadas em periódicos fora da região. Esses dados evidenciaram a complexidade
da realização dos objetivos iniciais deste estudo, agravada pelo fato da região sudeste
contemplar um elevado número de universidades e programas de pós-graduação, procurados
por pesquisadores de todo Brasil. O real imposto para a execução da nossa tarefa exigiu a
criação de outras estratégias para o levantamento dessa produção, tais como: pesquisa no
currículo lattes de pesquisadores da região com histórico de pesquisa com o uso
psicodinâmica do trabalho, bem como no caso do estado do Rio de Janeiro, Minas Gerais e
Espírito Santo, a ampliação do levantamento das publicações em livros com coletâneas de
estudos de pesquisas brasileiros dentro dessa abordagem.
Para apresentar e analisar os dados coletados, dividimos este trabalho em dois grandes
subcapítulos: o primeiro descrevendo as produções vinculadas ao estado de São Paulo e o
segundo, contemplando os dados obtidos junto aos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais
e Espírito Santo. Essa divisão deve-se ao fato de São Paulo apresentar, inicialmente, uma
concentração maior de registros de publicações. Os dados coletados serão analisados a partir
das delimitações do modelo metodológico adotado. Cabe esclarecer, ainda, que as
referências das teses, dissertações, artigos e publicações em livros de coletâneas encontrados
como resultado da revisão bibliográfica ( Tabelas 1 a 5) não constam em referências
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bibliográficas para evitar duplicidades.
Tabela 1- Teses, Dissertações dos grupos de pesquisa do Estado de São Paulo (2007-
2017)
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metodológico/Dispositivos
Silva, E. P. E., & Ruza, F. M. (2016). As transformações Psicodinâmica do Trabalho e
produtivas na pós-graduação: o prazer no trabalho está Psicossociologia. Entrevistas.
2016
suspenso? Revista Subjetividades, v. 16, pp. 91-103. Professores de pós-graduação de
universidade pública.
Silva, E. P. e., Leda, D. B.; Ribeiro, C. V. S., & Freitas, L. G. Psicodinâmica do Trabalho.
(2016). Trabalho intensificado de professores da educação Entrevistas. Professores da
2016 Educação Básica e Superior
básica e superior: confluências e especificidades. Trabalho
(En)Cena, v. 1, pp. 50-68. públicas. .
Silva, E. P. e. (2016). Intensificação do trabalho, manipulação Psicodinâmica do Trabalho e
da subjetividade e adoecimento: implicações da política Psicossociologia. Entrevistas e
educacional e do gerencialismo. Revista APASE (São Paulo), Grupos Focais. Professores da
2016
v. 15, pp. 20-33 Educação Básica e Superior,
Gestores da Educação Básica
(instituições públicas).
Heloani, J. R. M. (2015). A Política Educacional Gerencial Psicodinâmica do Trabalho e
como doença social e o mal-estar no trabalho. Revista APASE Psicossociologia. Entrevistas e
(São Paulo), v. 16, pp. 44-61. Grupos Focais. Professores da
2015 Educação Básica e Superior,
Gestores da Educação Básica
(instituições públicas).
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profissional. Aletheia (ULBRA), v. 1, pp. 43-56. grupo focal. Guardas municipais.
Lancman, S.; Ghirardi, M. I. G.; Castro, E. D.; Tuacek, T. A. Psicodinâmica do Trabalho,
Saúde Coletiva e Terapia
(2009). Repercussões da violência na saúde mental dos
2009 Ocupacional. Agentes
trabalhadores do Programa de Saúde da Família. Revista de
Comunitários de Saúde do
Saúde Pública (Impresso), v. 43, pp. 682-688.
Programa de Saúde da Família.
Heloani, J. R. M. (2008). Sob a ótica dos pilotos: uma Psicodinâmica do Trabalho,
reflexão política sobre condições e organização do trabalho Psicologia Social e estudos
2008 dos controladores de voo. Revista Psicologia Política, v. 8, críticos organizacionais.
pp. 205-230. Entrevistas. Controladores de
voo.
Heloani, J. R. M. (2007). Corpo e trabalho: instrumento ou Psicodinâmica do Trabalho,
2007 destino? Psicologia Hospitalar, v. 1, pp. 1-13. Psicologia Social e estudos
críticos organizacionais.
Heloani, J. R. M. (2007). Procuram-se culpados. Consciência Psicodinâmica do Trabalho,
2007 (São Paulo), v. 1, pp. 424-435. Psicologia Social e estudos
críticos organizacionais.
Heloani, J. R. M.; Capitão, C. G. (2007). A identidade como Psicodinâmica do Trabalho,
2007 grupo, o grupo como identidade. Aletheia (ULBRA), v. 26, Psicossociologia e Psicanálise.
pp. 50-61.
Silva, E. P. E; Heloani, J. R. M. (2007). Aspectos teóricos e Psicodinâmica do Trabalho,
metodológicos da pesquisa em saúde mental e trabalho: Psicologia Social e Saúde Mental
reflexões a partir de uma análise comparativa do estresse em e Trabalho. Aspectos teóricos e
2007 jornalistas e guardas municipais. Cadernos de Psicologia metodológicos. Entrevistas e
Social do Trabalho (USP), v. 10, pp. 105-120. grupos focais. Jornalistas e
guardas municipais. estudos
críticos organizacionais.
Lancman, S.; Sznelwar, L. I.; Uchida, S.; Tuacek, T. A. Psicodinâmica do Trabalho,
(2007). O trabalho na rua e a exposição à violência no Psicologia Social e estudos
2007 trabalho: um estudo com agentes de trânsito. Interface críticos organizacionais. Agentes
(Botucatu. Impresso), v. 11, pp. 79-92. de fiscalização de empresa
pública municipal.
Lancman, S.; Uchida, S.; Sznelwar, L. I.; Jardim, T. (2007). Psicodinâmica do Trabalho,
Unagent de santé communautaire: untravailaùl´ons´expose. Saúde Coletiva, Psicologia
2007
Travailler (Revigny-Sur-Ornain), v. 17, pp. 97-124. Social. Agentes de fiscalização de
empresa pública municipal.
Bouyer, G. C.; Sznelwar, L. I. &Birro-Costa, M. J. (2007). Psicodinâmica do Trabalho.
2007 Subjetivação e sofrimento no trabalho: o si que se produz na Aspectos teóricos.
atividade. Memorandum (Belo Horizonte), v. 11, pp. 43-58.
Sznelwar, L. I.; Abrahão, J. I. & Mascia, F. L. (2007). Psicodinâmica do Trabalhoe
Trabalhar em centrais de atendimento: a busca de sentido em estudos críticos organizacionais.
2007
tarefas esvaziadas. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, Trabalhadores de Centrais de
v. 31, pp. 97-112. Atendimento.
Fonte: Base de dados Scielo e Plataforma Lattes
O balanço da produção dos artigos aponta para uma predominância das produções em
co-autoria em ambos os grupos dos pesquisadores, tanto dos vinculados à USP e FGV, como
dos vinculados à UNICAMP e UFSCar: do total dos trinta e quatro artigos, vinte e quatro
são em co-autoria. Os artigos são alguns relativos a orientações de Teses e Dissertações
específicas, e outros que fazem apanhados de pesquisas distintas, e que analisam de forma
articulada resultados que implicam em análises similares e particulares. Há ainda artigos que
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conectam pesquisadores de outras regiões do país que trabalham com o referencial da
psicodinâmica (caso de parcerias de Eduardo Pinto e Silva com Lêda Gonçalves de Freitas,
Carla Vaz dos Santos Ribeiro e Denise Bessa Léda), ou de outros países (caso de Sznelwar e
Hubault). O grupo dos pesquisadores da USP e FGV apresentou sete publicações em
periódicos internacionais de um total geral de quinze artigos. Ao passo que o grupo da
UNICAMP e UFSCar apresentou dezenove artigos, todos em periódicos nacionais. Em
termos de pesquisas orientadas constatou-se um total de quatorze, com predomínio de
Dissertações (nove) sobre Teses (cinco). O que se depreende dos dados é que há uma
produção predominantemente coletiva nos dois grupos. E que, em cada um deles, há uma
troca intensa, com interação dos dados e análises de pesquisas por eles orientadas.
Em termos das palavras-chave dos artigos e dos conceitos que se apresentam no corpo
dos Resumos dos artigos, Teses e Dissertações, destacamos algumas que se articulam mais
diretamente à perspectiva dejouriana do campo da psicodinâmica do trabalho: psicodinâmica
do trabalho; trabalho; subjetividade; mobilização subjetiva; sofrimento-prazer; sentido do
trabalho; estratégias defensivas; organização do trabalho; espaço da palavra; cooperação;
relações de trabalho; reconhecimento no trabalho. Mas outras, que estabelecem articulações
com outras abordagens, e que também figuram no Dicionário Crítico de Gestão e
Psicodinâmica do Trabalho (VIEIRA; MENDES; MERLO, 2013), também foram
identificadas, a saber: Violência; Assédio Moral; Sobrecarga no Trabalho; Mal-Estar no
Trabalho; Gerencialismo; Adoecimento; Autonomia; Avaliação do Trabalho; Identidade;
Ideologia da Excelência. E, Saúde Mental no Trabalho, Saúde do Trabalhador e Processos
de Saúde Doença, que não são verbetes do referido dicionário, mas também relativamente
frequentes. Por fim destacamos que, dentre áreas relacionadas à psicodinâmica, pudemos
identificar: psicossociologia; ergonomia; saúde; terapia ocupacional.
O que se torna evidente é que não se trata de uma produção, tanto de um grupo de
pesquisadores como do outro, que siga rigorosamente o método clínico de intervenção e
investigação, que parte de uma demanda, e que envolve várias fases, tais como: pré-enquete;
enquete; análise da demanda; observação clínica; interpretação; validação e refutação; e
validação ampliada. (HELOANI; LANCMAN, 2004). O que predomina são usos de
conceitos da psicodinâmica do trabalho.
Num dos agrupamentos de pesquisadores, notadamente no NETSS, se destaca a
interlocução da psicodinâmica com a psicossociologia e psicologia social, com destaque à
contextualização política e econômica. São produções voltadas predominantemente ao
trabalho no campo da Educação. A análise do trabalho e subjetividade de professores e de
outros atores educacionais (diretores, coordenadores escolares) geralmente é elaborada
levando em conta os processos avaliativos heterônomos, o gerencialismo nas instituições
públicas e privadas, a mercantilização da esfera pública, as políticas educacionais sob a
égide da reforma do Estado e o processo macrossocial de mundialização do capital. As
questões da precarização e intensificação do trabalho são centrais, e apontadas, ao lado de
parcas possibilidades de reconhecimento no/do trabalho e dos processos que colocam em
suspenso o prazer e/ou sentido, como fatores patogênicos, indutores de estresse,
adoecimento e/ou defesas de caráter patogênico. Um conceito recorrente da psicologia social
utilizado é o de identidade. A questão da violência e assédio no trabalho também é
recorrente. E, da psicossociologia, destacamos o uso de termos como ideal de excelência,
geralmente analisado de forma relacionada à manipulação da subjetividade em prol de uma
sociabilidade produtiva, que tenta capturar a subjetividade que, não obstante, encontra linhas
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de fuga. O sujeito imerso na sociabilidade produtiva, conforme apontam o conjunto das
produções, resiste, por vezes sucumbe ao adoecimento, aos processos de forja de adesão ao
ideário organizacional, mas não perde sua condição ineliminável de sujeito histórico,
político e desejante.
No outro agrupamento, que envolve os pesquisadores da USP e FGV, se percebe uma
produção que trabalha a noção de um sujeito que, face ao real do trabalho, o reinventa.
Trata-se do sujeito cujo trabalho inevitavelmente se difere da tarefa prescrita. Mas que vive,
nesse embate, também processos que podem torná-lo vulnerável ao adoecimento. Tal
aspecto também é evidenciado em análises do grupo anterior. Mas aqui o acento na
concepção dejouriana de sujeito parece se fazer mais destacada e a dimensão do sujeito do
desejo como ser social e histórico menos realçada. Outro aspecto que singulariza este grupo
é que há maior variabilidade dos trabalhadores enfocados. Enquanto no primeiro
predominam profissionais da educação, neste segundo grupo há maior diversidade. Pode-se,
porém, apontar para uma predominância da abordagem de profissionais da saúde na
produção de Lancman, mas muitos de seus artigos são em coautoria com Sznelwar e Uchida,
e a dimensão social tampouco é desconsiderada, incluindo a questão da violência num dos
artigos. O foco nos processos de saúde-doença é verificável em boa parte da produção. A
dimensão da gestão e organização do trabalho idem. Na produção de Sznelwar a articulação
com a ergonomia se evidencia. Ao passo que na de Lancman a articulação é, sobretudo, com
a Saúde e Terapia Ocupacional. A interdisciplinaridade parece ser uma marca e as
produções não podem ser delimitadas numa única perspectiva metodológica.
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Trabalho” do CNPq e da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia
(ANPEPP) nas duas maiores universidades do estado do Rio de Janeiro, com diferentes
especificidades institucionais.
Na Universidade Federal Fluminense (UFF) estão os pesquisadores Fernando Vieira
professor da graduação e pós-graduação em Administração (Niterói), Suzana Canez da Cruz
Lima e Soraya Rodrigues Martins, professoras da graduação em Psicologia no campus de
Rio das Ostras (RO). Em torno desses professores, congregam-se vários alunos nas
atividades de pesquisa nos níveis de graduação e pós-graduação.
O professor Fernando Vieira coordena o Grupo de Estudos sobre os Coletivos de
Trabalho e Práticas Organizacionais (ESCOPO). Esse grupo propicia a construção de um
coletivo de trabalho que busca aprimorar orientações de pesquisa, em nível de graduação e
de pós-graduação em Administração, estabelecendo diretrizes, que ajudassem a configurar
análises críticas às perspectivas e práticas das relações de trabalho e, mais especificamente,
no campo mais conhecido como “gestão de pessoas”. Atualmente tem dois eixos de
pesquisa: 1) Estudos Críticos dos Subsistemas de Recursos Humanos (RH) - abarcando
projetos que estudem ideias e práticas de RH, procurando trazer à luz contradições do
binômio Capital & Trabalho, que se materializam nas funções de RH; 2) Modelos de
Organização do Trabalho, e Discurso Organizacional - visa contemplar pesquisas, que
ajudem a elucidar as dinâmicas de produção e reprodução de discursos voltados ao chamado
mundo do trabalho. Nesse período, dentro da abordagem da psicodinâmica em diálogo com
os estudos críticos organizacionais esse grupo totalizou seis monografias de graduação e
quatro dissertações de mestrado. Nesses estudos, são realizadas análises de conteúdo e/ou
análise do discurso, entrevistas e documentos. Até a presente data, ainda não se realizou a
clínica psicodinâmica do trabalho, a partir do método clínico stricto sensu, junto ao
ESCOPO (Niterói).
Junto ao curso de Psicologia da UFF de Rio das Ostras organizou-se um grupo de
pesquisa em psicodinâmica e clínica do trabalho em torno das professoras Suzana Canez da
Cruz Lima e Soraya Rodrigues Martins, ambas pesquisadoras, do GT Psicodinâmica e
Clínica do Trabalho da ANPEPP vinculadas ao Laboratório de Clínica e Psicodinâmica do
Trabalho (LCPT) da UnB e ao grupo de pesquisa ESCOPO (Niterói). Essas professoras
congregam graduandos de psicologia nas atividades de pesquisa, extensão e de práticas de
estágio curricular em clínica do trabalho, que têm como objetivo, o desenvolvimento de
ações de atenção à saúde dos trabalhadores da região com a criação de diferentes
dispositivos de escuta clínica (individual e em grupo). Nesse período, dentro da referência
teórico-clínica da psicodinâmica do trabalho, foram concluídas quinze monografias de
conclusão de curso de graduação em Psicologia (UFF/CURO), com estudos empíricos com
uso do método clínico apoiado na fala e na escuta clínica, com diferentes categorias
profissionais tais como: trabalhadores off-shore; mineradores após acidente ambiental (ES);
profissionais de educação e servidores municipais readaptados. Entre essas monografias
destacamos produções da prática de estágio em clínica do trabalho, vinculadas à extensão
com o uso dos registros clínicos de ações realizadas junto a coletivos de professores da rede
municipal de ensino (ensino fundamental).
Na Universidade Federal do Rio de Janeiro funciona o Núcleo Trabalho Vivo – Estudos
e Pesquisas em Arte, Trabalho e Ações Coletivas, coordenado pelo pesquisador e professor
João Batista Ferreira. O Núcleo está vinculado ao curso de graduação e ao Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da UFRJ. Tem como objetivo investigar as articulações dos
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contextos históricos, social, político, institucional e organizacional nas situações de trabalho,
nos processos de subjetivação, saúde e adoecimento dos trabalhadores. Tal perspectiva é
pautada por articulações inter e transdisciplinares, com base principalmente nas abordagens
da psicodinâmica do trabalho, psicologia social, psicanálise, análise institucional, filosofia
política e da diferença. O Núcleo Trabalho Vivo desenvolve atividades de ensino, pesquisa e
extensão articuladas em torno de dois eixos: 1) Trabalho, prazer-sofrimento e processo
saúde-adoecimento – com o objetivo investigar os modos de gestão da organização do
trabalho, as vivências de prazer-sofrimento e o processo e saúde-adoecimento em diferentes
categorias de trabalhadores; e 2) Arte, trabalho e processos de subjetivação - que investiga
as relações entre trabalho e subjetivação a partir de ressonâncias com as práticas artísticas,
entendidas como campo privilegiado de experimentações sociais. As práticas artísticas, com
essa perspectiva, possibilitam a investigação do trabalho vivo como experiência de criação,
da mobilização subjetiva e dos processos de subjetivação ética e politicamente qualificados.
No período em análise do presente estudo, como parte das atividades do Núcleo
Trabalho Vivo e de seu coordenador, foram concluídas vinte e seis monografias de
graduação, duas dissertações de mestrado (com nove dissertações em andamento), e
publicados seis artigos em periódicos e dezoito artigos em livros. As pesquisas foram e
estão sendo realizadas com as seguintes categorias de trabalhadores: psicólogos e estagiários
de psicologia de diversos setores; professores; sujeitos em situação de não-trabalho,
subcontratados, voluntários, de equipe multiprofissional em hospital, agentes
socioeducativos, técnicos de segurança do trabalho, eletricistas de linha viva; escritores,
artistas de rua, atores de teatro, músicos e capoeiristas. Em linhas gerais, tais estudos são
assim caracterizados: a) como fundamentação teórica: a psicodinâmica do trabalho em
articulações inter e transdisciplinares com os referenciais anteriormente indicados; b) como
metodologia: entrevistas individuais e coletivas; clínica do trabalho; instrumentos ITRA
(MENDES; FERREIRA; CRUZ, 2007) e PROART (FACAS, 2013); cartografia (PASSOS;
KASTRUP; ESCÓSSIA, 2009); Análise de Conteúdo (BARDIN, 1977) e Análise dos
Núcleos de Sentido (MENDES, 2007).
Além dessas atividades, no curso de graduação em Psicologia são oferecidas a
disciplina Psicodinâmica e Clínica do Trabalho e atividades de estágio em clínica do
trabalho na Divisão de Psicologia Aplicada do Instituto de Psicologia da UFRJ, com
atendimentos individuais e, futuramente, em grupos. Nas ações de extensão, gratuitas e
abertas a todos os interessados nas questões relacionadas à saúde, trabalho e subjetividade,
foram realizados cinco cursos de extensão utilizando a psicodinâmica do trabalho como
referencial central: dois intitulados - “Psicologia e Saúde do Trabalhador” e três
denominados - “Psicodinâmica e Clínica do Trabalho”. O número de inscritos para a
realização dos cursos chegou a ultrapassar dez vezes a quantidade de vagas oferecidas por
turma. Nestes, cabe ressaltar três pontos: a grande demanda pelo tema; os recorrentes relatos
da baixa oferta de cursos (de extensão e pós-graduação stricto e lato sensu) que abordassem
a relação trabalho-trabalhador-saúde de forma crítica; e a diversidade de inscritos e
participantes (entre profissionais e estudantes) que representavam diferentes áreas de
conhecimento, como a psicologia, pedagogia, serviço social, ciências sociais, belas artes,
enfermagem, medicina, saúde ocupacional, engenharia, física, administração e marketing.
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2.2. Produção de Teses e Dissertações de pesquisadores vinculados aos Estados do RJ,
MG e ES (2007-2017)
Na Tabela 3 apresentamos Teses e Dissertações (2007-2017) selecionadas por estudos
empíricos com a psicodinâmica do trabalho como base teórica e ou metodológica, através de
levantamento junto ao Portal CAPES, associados às universidades localizadas nesses estados
(pelo vínculo institucional do pesquisador e/ou campo de pesquisa). A partir dos descritores,
citados no início do capítulo, ampliados com a produção vinculada aos grupos de pesquisa
anteriormente citados. A tabela informa dados das referências, acompanhadas de seu
delineamento teórico e metodológico, incluídos os dispositivos de investigação utilizados e
as categorias profissionais pesquisadas.
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Cruz de Brito.
Nunes, D. J. S. (2014). Sarados e precarizados: Psicodinâmica do trabalho e
2014 contradições no trabalho de professores de educação estudos críticos organizacionais.
Tese física em academias na cidade do Rio de Janeiro. PROART. Professores de
Dissertação (Mestrado em Administração). UFF/Niterói. educação.
Orientador: Fernando Vieira.
Salles, W. (2013). Receitas ou astúcias? Como gestores Psicodinâmica do trabalho e
2013 desenvolvem competências em liderança, na perspectiva estudos críticos organizacionais.
Dissertação da inteligência prática. Dissertação (Mestrado em Entrevistas. Gestores.
Administração). UFF/Niterói. Orientador: Fernando
Vieira.
Lopes, F. T. (2013). Entre o prazer e o sofrimento: Psicodinâmica do trabalho e
2013
histórias de vida, drogas e trabalho. Tese (Doutorado em psicanálise. Estudo de casos
Tese
Administração). UFMG. Orientadora: Ana Paula Paes de clínicos. Drogas e trabalho.
Paula
Souza, K. O. (2013). A análise da relação trabalho e Ergologia, psicodinâmica do
2013 saúde na atividade dos bombeiros militares do Rio de trabalho, clínica da atividade e
Tese Janeiro. Tese (Doutorado em Saúde Pública). psicossociologia. Entrevistas
FIOCRUZ/RJ Orientadora: Marta Pimenta Velloso. individuais e coletivas.
Bombeiros.
Santos, G. B. M. (2011). Competências em foco: A gestão Ergologia, ergonomia da
2011 com pessoas sob a ótica dos trabalhadores do setor de atividade e psicodinâmica do
Dissertação mármore e granito. Dissertação (Mestrado trabalho. Grupos focais.
Administração). UFES. Orientadora: Mônica de Fátima Trabalhadores do setor de
Bianco. mármore e granito
Cruz Lima, S. C. (2011). Coletivo de trabalho e Psicodinâmica do trabalho e
2011
Reconhecimento: Uma análise psicodinâmica dos sociologia do trabalho.
Tese
cuidadores sociais. Tese (Doutorado Psicologia). UnB. Metodologia dejouriana stricto
Orientadora: Ana Magnólia Mendes. sensu. Cuidadores sociais.
FERREIRA, J. B. (2011). O poder constituinte do Psicodinâmica do trabalho,
2011
trabalho vivo: análise psicodinâmica da criação literária. psicologia social, filosofia.
Tese
Tese (Doutorado em Psicologia). UnB. Orientadora: Ana
Magnólia Mendes.
Almeida, K. F. (2011). Por uma tecnologia de cuidado Psicossociologia francesa e
integral ao paciente da fila de espera para artroplastia psicodinâmica do trabalho.
2011
Dissertação total primária de joelho no INTO. Dissertação (Mestrado Entrevistas. Profissionais de
em Saúde Publica). FIOCRUZ/RJ. Orientadora: Marilene saúde.
de Castilho.
1
A tese de Martins (2008a) apesar de ter sido realizada junto ao programa de pós-graduação no estado de São
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do trabalho individual/grupo
com trabalhadores com
patologias relacionadas ao
trabalho.
Fonte: Portal CAPES e Plataforma Lattes
Paulo, foi inserida na produção do estado do Rio de Janeiro em virtude do vínculo institucional atual da
pesquisadora - Universidade Federal Fluminense, Campus Rio das Ostras, RJ.
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sobre como lidavam com possíveis casos desse tipo de violência. Os resultados mostraram
que havia um discurso, que ocultava essa causa de sofrimento patogênico, na medida em que
o termo usado para descrever os casos de assédio era travestido de “mediação de conflitos”.
Poucas denúncias eram feitas, pois os empregados tinham medo de algum tipo de represália
ou punição. Oliveira (2015) analisou o discurso organizacional de gestão de pessoas,
revelando contradições entre o que se diz sobre “As melhores empresas para se trabalhar” e
a prática organizacional que oculta sofrimento psíquico, tendo em vista que algumas dessas
empresas haviam sido acusadas de “assédio moral coletivo”. A pesquisa de Salles (2013)
revela contradições no exercício da função gerencial, quando os entrevistados sinalizaram
que suas relações interpessoais com seus subordinados eram astutamente arquitetadas, para
instrumentalizar os ditos recursos humanos, em prol da produtividade. Já a articulação mais
estreita da psicodinâmica do trabalho com a psicanálise aparece nas teses de Martins (2008a)
e Lopes (2013) que abordam de forma mais vigorosa os processos de saúde-adoecimento no
contexto de trabalho.
Com relação ao delineamento metodológico das teses e dissertações com ênfase na
psicodinâmica podemos observar algumas variações metodológicas. A maioria usa a
psicodinâmica do trabalho como categoria teórica, apresentando variações metodológicas
com uso de entrevistas; análise documental ou com uso de escalas e inventários, articulando
o método qualitativo com o quantitativo. Apenas três estudos realizam a clínica do trabalho.
Um exemplo do uso da abordagem da psicodinâmica articulada com instrumento
quantitativo é dissertação de Nunes (2014), aplicando o PROART – Protocolo de Avaliação
de Riscos Psicossociais em professores de academia desportiva. O estudo “Sarados e
precarizados: contradições no trabalho de professores de educação física, em academias na
cidade do Rio de Janeiro” apontou danos físicos à saúde desses trabalhadores, especificando
o ritmo de trabalho penoso, como sua causa principal.
Tal articulação também foi observada na dissertação de Abreo (2017) “Entre capturas e
resistências: situações de saúde e adoecimento no trabalho de agentes socioeducativos” que,
com o respaldo metodológico da cartografia e das proposições da pesquisa-intervenção,
realizou quatro intervenções (grupos; entrevistas; restituições em grupo; e restituições
individuais /pequenos grupos) sendo a segunda acompanhada do PROART, utilizado
principalmente como ferramenta de entrada no campo e de visibilização de determinados
processos adoecedores. Ao analisar as situações de trabalho desses profissionais que atuam
em estabelecimentos de privação de liberdade, no estado do Rio de Janeiro, para
adolescentes em conflito com a lei, o autor buscou relacionar as noções da psicodinâmica do
trabalho, da análise institucional francesa e da psicologia jurídica para discutir os processos
macro e micropolíticos de captura e resistência da organização do trabalho.
A tese de Cruz Lima, intitulada “Coletivo de trabalho e Reconhecimento: uma análise
psicodinâmica dos cuidadores sociais” (2011), sobre a psicodinâmica do trabalho do cuidado
foi realizada a partir da investigação junto a uma instituição de acolhimento de crianças e
adolescentes do município de Macaé (RJ), tendo como referência teórica o diálogo entre os
princípios da psicodinâmica do trabalho com a corrente da sociologia do trabalho que trata
das relações de sexo especialmente a partir do pensamento de Hirata e Kergoat (2008). A
estratégia metodológica utilizada foi o método proposto por Dejours (1987/2011b), a partir
de suas três etapas: pré-pesquisa, pesquisa e validação. Com base nos resultados, foram
evidenciadas as seguintes considerações. O trabalho do/a cuidador/a é uma atividade
complexa que se constrói na relação com o outro, o que exige forte mobilização subjetiva e
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contínua necessidade de inventividade. A organização do trabalho está marcada pela
precarização. Esta é uma atividade situada no terreno sócio histórico das práticas sociais da
assistência social e do trabalho do cuidado. Ou seja, é historicamente uma atividade
voluntária e naturalizada, fruto das características femininas inatas, fatores que dificultam o
reconhecimento do status do/a cuidador/a social como um profissional. Frente à falta de
espaço de discussão para o debate sobre os impasses vinculados ao cuidar são construídas
diversas estratégias de defesa que, no geral, criam um distanciamento afetivo entre
cuidador/a e usuário. Conclui-se que cuidar é uma ação coletiva. A partir da construção de
acordos normativos sobre o bom cuidado é que se torna possível oferecer um cuidado atento
à vida e ao sujeito na sua totalidade. Considera-se que o coletivo se sustenta apenas se
houver o reconhecimento dos/as cuidadores/as – protagonistas da atividade –
trabalhadores/as que o realizam. O fortalecimento do coletivo de trabalho e o
reconhecimento do/a cuidador/a social parece ser o caminho para encontrar o prazer no ato
de cuidar nos serviços de acolhimento.
Em sua tese de doutorado “Perversão social e adoecimento: uma escuta psicanalítica do
sofrimento no trabalho” (2008a) Martins apoiada na fala (fragmentos do discurso) e na
escuta psicanalítica, articulada à psicodinâmica do trabalho, analisa três casos clínicos
provenientes de atendimento individual de bancárias com distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho (DORTs) e outro caso de atendimento em grupo de mulheres
portadoras de DORTs de várias profissões. A visão clínica dos processos de subjetivação
relacionados ao trabalho está apoiada nas concepções de Dejours (1993/2011a) sobre
trabalho real e real do trabalho, inteligência prática, posição do desejo articulado à
organização do trabalho, reconhecimento, cooperação e estratégias defensivas construídas
coletivamente. Ao compreender os processos de saúde e adoecimento vinculados a uma
dinâmica intersubjetiva, fundamentalmente a qualidade do comprometimento da pessoa em
relação ao outro, enfatizando a importância do trabalho nos processos de subjetivação, na
construção de identidade e nos processos de saúde. Os dados clínicos demonstram que os
processos de adoecimento no trabalho estão associados fundamentalmente à violência
moral; e à captura e alienação do sujeito em relação à cena perversa contida pelas relações
de trabalho. Essa tese foi posteriormente publicada no livro “Clínica do trabalho”
(MARTINS, 2009).
O estudo de doutorado “O poder constituinte do trabalho vivo: análise psicodinâmica
da criação literária” (2011) Ferreira articula noções da psicodinâmica do trabalho, da
psicanálise e da filosofia para analisar o fazer artístico enquanto campo privilegiado para
estudar o trabalho vivo como criação. Um fazer direcionado para a mobilização subjetiva e
seus efeitos no processo de subjetivação. As entrevistas e depoimentos de escritores
analisados indicaram vivências de prazer e sofrimento na experiência de criação literária que
potencializam a mobilização subjetiva e a sabedoria criativa para a construção de sentido do
trabalho. O autor propõe distinções conceituais e contribuições para a psicodinâmica como:
pré-escrito primário e pré-escrito secundário; sofrimento do pré-escrito e sofrimento do real;
saber fazer instrumental e saber fazer com o real; e ainda analisa diferentes aspectos
relacionados ao prazer no trabalho: o prazer dos bons encontros, o prazer da invenção e o
prazer da dissonância. Foi discutido o aspecto ético implícito na experiência do real. O
processo de criação foi entendido como experiência de ruptura do mundo das representações
e a criação literária como palavra-ação de ruptura das configurações subjetivas cristalizadas,
como litera-ruptura, requisito para a subjetivação como ato de palavra, como escrita da
17
subjetivação. A tese foi publicada no livro “Do poema nasce o poeta: subjetivação, trabalho
e criação literária” (FERREIRA, 2011).
Cabe destacar que, dentro do método pesquisa-ação na clínica do trabalho na
perspectiva dejouriana, os discursos e/ou significados do trabalho não podem ser separados
da ação, não devem ser produções tardias em relação às atividades de um sujeito envolvido
em sua atividade ou atividades dos coletivos de trabalho. O saber construído sobre o
trabalho é inseparável da experiência que dele emerge. A clínica psicodinâmica do trabalho
tem entre seus princípios fundamentais a promoção do espaço de discussão do coletivo de
trabalho, mediante ao dispositivo de escuta clínica qualificada. Essa escuta caracteriza-se
por uma conduta sistemática, promovida pelos clínicos, de uma dinâmica que se estende
“espontaneamente” em situações comuns de trabalho entre os trabalhadores no espaço de
discussão voltado para organização do trabalho.
Gomes, M.L.B.M.; Cruz Lima, S.C.; Mendes, A.M. (2011). Psicodinâmica do Trabalho.
Experiência em clínica do trabalho com profissionais de T&D Clínica do trabalho com grupo de
2011 de uma organização pública. Estudos e pesquisas em servidores públicos.
Psicologia, RJ , v 11 (3), pp. 841-855. (Psicologia, UFF/RO;
UnB).
Figueiredo, M., & Alvarez, D. (2011). Gestão do trabalho na Ergologia, clínica da atividade,
perfuração de poços de petróleo: usos de si e 'a vida por toda a psicodinâmica do trabalho.
vida'. Trabalho, Educação e Saúde, RJ, v 9(1), pp. 299-326 Dispositivo dinâmico a três polos
2011
(Engenharia de produção, UFF) (DD3P) em ‘encontros sobre o
trabalho’ e entrevistas
semiestruturadas que valorizam a
19
dialogia.
Masson, L. P., Brito, J., & Athayde, M. (2011). Dimensão Ergologia, clínica da atividade e
relacional da atividade de cuidado e condições de trabalho de psicodinâmica do trabalho.
auxiliares de enfermagem em uma unidade neonatal. Physis Comunidade Ampliada de
2011
(UERJ. Impresso), RJ, v 21(3), pp. 879-898. (Saúde Pública, Pesquisa (CAP) - encontros
FIOCRUZ; Psicologia UERJ) coletivos com trabalhadores e
coletivo de pesquisadores
Gomes, L., Masson, L. P., Brito, J. C., & Athayde, M. Ergologia e Psicodinâmica do
(2011). Competências, sofrimento e construção de sentido na trabalho. Comunidade Ampliada
atividade de auxiliares de enfermagem em Utin. Trabalho, de Pesquisa (CAP) - encontros
2011
Educação e Saúde(online), RJ, v 9(1), pp.137-156. (Saúde coletivos com trabalhadores e
Pública, FIOCRUZ; Psicologia UERJ) coletivo de pesquisadores.
Athayde, V., &Hennington, É. A. (2012). A saúde mental dos Ergologia e psicodinâmica do
profissionais de um Centro de Atenção Psicossocial. Physis: trabalho. Observação, entrevistas;
2011 Revista de Saúde Coletiva, RJ v 22(3), p. 983-1001. (Saúde análise documental
Pública, FIOCRUZ/RJ)
20
Niterói). Trabalhadores na emergência
Hospital.
Fonseca, C. M. B. M., & Santos, M. L. (2007). Tecnologias Psicodinâmica do trabalho.
da informação e cuidado hospitalar: reflexões sobre o sentido Observação e entrevista.
2007
do trabalho. Ciência & Saúde Coletiva, RJ, v 12(3), pp. 699-
708 (UFRJ, Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva)
Alvarez, D., Suarez, J. D., Pereira, R., Figueiredo, M. & Ergologia, ergonomia da
Athayde, M. (2007). Reestruturação produtiva, terceirização e atividade, psicodinâmica do
relações de trabalho na indústria petrolífera offshore da Bacia trabalho. Comunidade Ampliada
2007
de Campos (RJ). Gestão & Produção, RJ v 14(1), pp. 55-68 de Pesquisa (CAP) - encontros
(UFF, UERJ, FIOCRUZ). coletivos com trabalhadores e
coletivo de pesquisadores.
Fonte: Base de dados Scielo e Plataforma Lattes
Junto aos periódicos, a partir da pesquisa realizada, foram selecionados vinte e sete
artigos com estudos empíricos apoiados na psicodinâmica do trabalho de diferentes formas,
conforme tabela acima (Tabela 4). No somatório, há quatorze artigos onde a psicodinâmica
do trabalho é a principal perspectiva que orienta a condução da pesquisa em diálogo com
outras disciplinas; dez artigos têm como perspectiva central a ergologia articulada a
psicodinâmica do trabalho, a ergonomia da atividade e a clínica da atividade; e três nos
quais a psicossociologia orienta o diálogo com a PdT e com outras disciplinas.
Em termos de distribuição geográfica dos registros, localizamos vinte e três artigos
com pesquisas empíricas realizadas no Rio de Janeiro ou com dados clínicos sem
determinação geográfica, cujos pesquisadores possuem vínculo institucional em
universidades localizadas nesse estado; e três artigos com dados empíricos localizados em
Minas Gerais. O estado do Espírito Santo não aparece nos registros de artigos. Os
pesquisadores desses artigos estão distribuídos em diferentes universidades, dando destaque
a UFF, FIOCRUZ, UERJ e UFRJ, vinculados a graduação e pós-graduação de diferentes
áreas como psicologia, administração, saúde pública e engenharia de produção.
A abordagem da psicodinâmica do trabalho aparece como central no delineamento
teórico de quatorze artigos, com variações na metodologia adotada. Dois estudos fazem uso
dos conceitos para compreensão e análise de dados quantitativos em artigos, com uso de
instrumentos estruturados, como o IRIS - Inventário de Riscos de Sofrimento Patogênico no
Trabalho (BARBATI; HENRIQUES; GUIMARAES JUNIOR; FERREIRA, 2016), e a
EACT - Escala de Avaliação do Contexto de Trabalho (CAMPOS; DAVID, 2011).
Três estudos fazem uso da abordagem teórica adaptando as orientações
metodológicas para realização e análise de conteúdo de entrevistas, tanto individuais como
coletivas. Apoiadas na escuta e na fala, Vargas e Martins (2015) utilizam o dispositivo de
entrevistas seguidas da análise de conteúdo para alcançar alguma visibilidade ao trabalho
real de professores da rede municipal de ensino frente ao processo de inclusão de escolar de
crianças com espectro autista; Fonseca e Santos (2007), utilizam entrevistas para
compreender as vivências dos enfermeiros frente à informatização nos processos de trabalho
hospitalar (RJ). Em Minas Gerais, Pimenta e Paula (2012) realizaram entrevistas coletivas
para analisar as vivências dos empregados sobre a avaliação de desempenho praticada pela
empresa. E, Vieira (2015), utilizou a psicodinâmica do trabalho para análise do discurso
organizacional.
Por outro lado, a clínica psicodinâmica do trabalho está presente no dispositivo de
escuta clínica na modalidade individual no artigo de Ogeda e Cruz Lima (2016), bem como
21
no artigo intitulado “Espaço coletivo de discussão: a clínica psicodinâmica do trabalho como
ação de resistência” de Martins e Mendes (2012)2.
Apenas um dos estudos utiliza o método prescrito por Dejours (1987/2011b)
contemplando as três etapas (análise de demanda, pesquisa propriamente dita e validação
dos resultados), com espaço coletivo de trabalhadores e coletivo de pesquisadores ad doc
realizada junto a coletivo de cuidadores sociais no estado do Rio de Janeiro, decorrente da
tese de Cruz Lima (2011).
Uma segunda vertente que tem como referência a psicossociologia francesa, a
psicodinâmica do trabalho e a psicanálise está presente em dois artigos (SÁ; AZEVEDO,
2010; SÁ; CARRETEIRO; FERNANDES, 2008), com uso de observação, entrevistas
individuais e grupos; um apoiado na psicossociologia, psicodinâmica do trabalho,
ergonomia com uso de entrevistas coletivas junto a mineradores (MG).
Encontramos uma terceira vertente, com referencial apoiado na ergologia com uso da
psicodinâmica do trabalho, em nove artigos selecionados. Com referencial teórico
metodológica numa perspectiva ergológica com o uso da psicodinâmica articulada à
ergonomia da atividade identificamos o trabalho de Alvarez et. al. (2007), com uso do
dispositivo “Comunidade ampliada” (CAP), com encontros junto a coletivos de
trabalhadores e coletivos de pesquisadores (FIGUEIREDO, 2015; ALVAREZ;
FIGUEIREDO; ROTENBERG, 2010; FIGUEIREDO; ALVAREZ, 2011); sendo que apenas
um relata usar um dispositivo dinâmico de 3 polos (DDP3) com encontros coletivos com
trabalhadores e coletivos de pesquisadores e entrevistas semiestruturadas, (GOMES;
MASSON; BRITO; ATHAYDE, 2011). Desses, três são junto a trabalhadores da indústria
petróleo e gás“off-shore” e um estudo junto a auxiliares de enfermagem da UTI neonatal
(GOMES; MASSON; BRITO; ATHAYDE, 2011). Ainda nessa vertente encontramos
quatro estudos empíricos com referencial teórico metodológico numa perspectiva ergológica
articulada à clínica da atividade, psicodinâmica do trabalho. (SILVA; MUNIZ, 2011;
MASSON; BRITO; ATHAYDE, 2011; FIGUEIREDO; ALVAREZ, 2011; BRITO;
NEVES; OLIVEIRA; ROTENBERG, 2012).
Na produção até aqui analisada (Tabela 3 e 4), podemos observar contribuições das
Clínicas do Trabalho, vinculadas à ergonomia da atividade, a clínica da atividade e à
psicodinâmica do trabalho, ergologia, sendo responsáveis por grande parte dos estudos
empíricos publicados em periódicos nacionais nesses últimos dez anos. Nas duas tabelas
aqui apresentadas, as diversas produções conjuntas e articuladas entre os pesquisadores,
evidenciam a configuração de forte coletivo de pesquisadores. Cabe destacar que, nos
últimos dez anos pesquisadores como Milton de Athayde (UERJ), Jussara Cruz de Brito
(Escola Nacional de Saúde Pública – Fiocruz , RJ), Marcelo Gonçalves Figueiredo (UFF),
Denise Alvarez (UFF) e Helder Muniz (UFF) vêm desenvolvendo e orientando pesquisas no
2
A clínica psicodinâmica do trabalho tem entre seus princípios fundamentais a promoção do espaço coletivo.
Espaço de ação e resistência responsáveis pelo processo de per-elaboração das situações de trabalho
vivenciadas, contribuindo para criar modos de resistência dos trabalhadores à dominação estabelecida nos
processos de gestão da organização do trabalho. As autoras argumentam que escuta clínica qualificada e a fala
compartilhada do sofrimento pode permitir a associação entre o fazer e o pensar, saber, sentir e agir.
Transformar o sofrer envolve repensar a organização do trabalho, possibilitando aos trabalhadores espaços de
mobilização coletiva. Uma forma de potencializar essa escuta seria a articulação da escuta psicanalítica com a
escuta arriscada descrita por Dejours. O espaço público de discussão e a articulação do espaço à compreensão
do processo grupal na técnica de grupo operativo. (MARTINS; MENDES, 2012).
22
Estado do Rio de Janeiro que têm procurado articular teórica e metodologicamente as
abordagens clínicas do trabalhar, como a ergonomia da atividade, o Modelo Operário
Italiano de Luta pela Saúde, a psicodinâmica do trabalho e a clínica da atividade. A “caixa
de ferramentas” desse coletivo de pesquisadores envolve a ergologia como orientação geral,
no diálogo entre a ergonomia da atividade, a psicodinâmica do trabalho e a clínica da
atividade. (ATHAYDE; SOUZA, 2015). Entre os conceitos da psicodinâmica valorizados
nessa caixa de ferramentas está a “resistência ao real” conjuntamente com o impacto da
experiência do real sobre os processos subjetivos, tais como inteligência astuciosa, a
dinâmica que envolve a transformação da inteligência em “sabedoria prática”, envolvendo o
julgamento pelo outro e a atividade deôntica - mobilização subjetiva, confiança, espaço
público, regras, cooperação, avaliação etc. (ATHAYDE; SOUZA, 2015).
A seguir, as tendências aqui apresentadas serão confrontadas com o levantamento em
coletâneas de estudos em psicodinâmica do trabalho.
25
que eu tinha": Estudo sobre trabalho, sofrimento e Bancários e anistiados.
patologias sociais do trabalho. In: Mendes, Cruz-
Lima & Facas (Orgs.). Diálogos em
Psicodinâmica do trabalho. Brasília: Paralelo 15,
(pp.93-104). (Psicologia/UFRJ).
26
municipal de ensino, abordando o trabalho real do professor mediador no processo de
inclusão de crianças com autismo (VARGAS; MARTINS, 2015), utilizando a
psicodinâmica do trabalho para análise das falas das entrevistas.
Nos diversos trabalhos publicados, entre os aspectos psicodinâmicos analisados estão:
articulação do desejo, trabalho real, prazer/sofrimento, inteligência prática, sabedoria
prática, processo de reconhecimento, cooperação, coletivos, processos de negação do
sofrimento, estratégias coletivas de defesa, alienação e perversão social, espaço coletivo de
discussão. Além disso, alguns analisam e discutem aspectos metodológicos relacionados à
escuta do sofrimento na clínica do trabalho, articulando a escuta psicanalítica à escuta
arriscada da psicodinâmica do trabalho, tanto na modalidade individual (MARTINS, 2008a,
2008b, 2015a), quanto na coletiva (MARTINS, 2007; 2010b; MARTINS; MENDES, 2012,
MARTINS, 2015, FERREIRA, MARTINS, VIEIRA, 2016), destacando-se o fazer do
clínico do trabalho como processo em construção. Dos treze trabalhos acima citados, a
maioria foi publicada em livros, sendo apenas três trabalhos publicados em periódicos.
Considerações finais
27
psicodinâmica para a análise das relações entre saúde e trabalho, tal como a enfermagem,
administração, engenharia, psicologia, saúde coletiva e outras, evidenciando que o uso de tal
abordagem é, sobretudo, interdisciplinar. Segundo, prevalece o número de estudos
identificados que utilizam a psicodinâmica principalmente enquanto delineamento teórico,
quando comparado àqueles que seguiram o método stricto sensu. Terceiro, predominam o
uso das noções e conceitos da psicodinâmica do trabalho em diálogo com diversas outras
abordagens (ergonomia, ergologia, psicologia social, clínica da atividade, psicanálise,
psicossociologia, análise institucional, filosofia política e da diferença, entre outros),
indicando possibilidades e importantes articulações teóricas e metodológicas. Quarto, os
estudos apresentam análises de diversas categorias profissionais, com ênfase para os
tensionamentos advindos das contradições entre as lógicas (e racionalidades) das
organizações do trabalho (fortemente marcadas pelas capturas produzidas pelos movimentos
do capital e de suas práticas gestionárias e instrumentalizantes) e as atividades e demandas
dos trabalhadores. Em linhas gerais, a psicodinâmica do trabalho construída e praticada no
Brasil é habitada e atravessada pelas singularidades e multiplicidades do contexto sócio-
histórico-econômico na qual se inscreve, pela multiplicidade disciplinar de seu uso, e pelas
articulações cada vez mais profícuas com as demais abordagens.
A tendência ao uso da psicodinâmica do trabalho apenas como uma das referências
teóricas configura-se em diferentes faces para a prática de pesquisa. Dependendo das
escolhas e das condições, nem toda pesquisa é ação de compreensão e transformação mútua.
Com essa perspectiva, fazer do clínico e do pesquisador é um processo em constante
construção.
No trabalhar do pesquisador, frente às diferentes dificuldades encontradas, surge a
necessidade de criar e recriar os dispositivos e formas de pesquisa para produção de
conhecimento. É um trabalho que nos convoca a lidar, constantemente, com as regras e
obstáculos da organização do trabalho investigada, da academia, do conhecimento e também
dos campos sociais, econômicos e políticos - dimensões que não podem ser pensadas de
forma dissociada. Tais adversidades demandam a invenção e a criação permanente de
formas de mobilização e ação diante da realidade singular do campo de estudo e do vazio de
normas imposto pelo real da pesquisa. É, então, diante do inevitável fracasso do método e da
teoria experienciados pelo pesquisador que emergem as condições de possibilidade para as
diversas articulações metodológicas, inter e transdisciplinares da psicodinâmica do trabalho
aqui evidenciadas.
Com base nestas considerações, entendemos que um dos principais fundamentos da
psicodinâmica do trabalho - “trabalhar é fazer a experiência do real” - não apenas é utilizado
nas análises e discussões dos diversos estudos realizados, como se faz parte necessária e
indissociável da complexa composição teórico-metodológica daquilo que - não sem receios
em função da sua diversidade - podemos pensar como imagens de uma psicodinâmica
singular e múltipla, que ganha sentido e se faz dinâmica, processual e viva a partir, e com, as
especificidades que compõem as situações de trabalho no Brasil.
Referências
28
ATHAYDE, M. R. C.; SOUZA, P. C. Z. Por uma ergopsicologia; uma caixa de ferramentas
e pistas. In: TAVEIRA, I. M. R.; LIMONGI-FRANÇA, A. C.; FERREIRA, M. C. (Org.).
Qualidade de Vida no Trabalho: estudos e metodologias brasileiras. 1ed. Curitiba: Editora
CRV, 2015. p. 264-275.
30