Este documento resume um livro que discute diversas abordagens metodológicas utilizadas em pesquisas de psicologia. A primeira seção descreve um método para pesquisar a história das ideias psicológicas no Brasil. A segunda seção discute o uso de estratégias observacionais para coletar dados de comportamento. A terceira seção apresenta um modelo para construção de escalas para medir atitudes.
Descrição original:
Título original
Resenha do Livro - Diálogos metodológicos sobre prática de pesquisa (Romanelli & Alves, 1998)
Este documento resume um livro que discute diversas abordagens metodológicas utilizadas em pesquisas de psicologia. A primeira seção descreve um método para pesquisar a história das ideias psicológicas no Brasil. A segunda seção discute o uso de estratégias observacionais para coletar dados de comportamento. A terceira seção apresenta um modelo para construção de escalas para medir atitudes.
Este documento resume um livro que discute diversas abordagens metodológicas utilizadas em pesquisas de psicologia. A primeira seção descreve um método para pesquisar a história das ideias psicológicas no Brasil. A segunda seção discute o uso de estratégias observacionais para coletar dados de comportamento. A terceira seção apresenta um modelo para construção de escalas para medir atitudes.
Romanelli, Geraldo e Biasoli-Alves, Z. M. M. (Orgs.)
Diálogos metodológicos sobre prática de pesquisa. Ribeirão Preto-SP: Legis Summa, 1998,178 p.
Manoel Antônio dos Santos*
A produção de conhecimento científico na área da gação desenvolvidas pelos professores e pesquisa-
Psicologia no Brasil tem experimentado um aumen- dores que compõem o Programa de Pós-Graduação to vertiginoso nas últimas décadas, com a consolida- em Psicologia. Cada capítulo apresenta um exercí- ção e ampliação dos programas de pós-graduação. cio de reflexão crítica e de raciocínio científico Essa expansão do ensino universitário cria uma de- acurado, aplicado a questões metodológicas atuais manda por trabalhos que focalizem questões teóri- expostas com criatividade e, sobretudo, vitalidade. cas e metodológicas ligadas ao processo de produ- Através desses estudos, o leitor é levado a descobrir ção de saberes a fazeres no campo da investigação como nossas posições teóricas se interligam com psicológica. Para que possamos nos engajar no pro- nossas opções metodológicas. cesso de fazer saber é necessário que estruturemos, O pesquisador em Psicologia deve conhecer de maneira consistente e conceitualmente articula- as características de cada abordagem metodológica da, nosso saber fazer. para saber qual das estratégias melhor atende aos A preocupação com o oferecimento de uma objetivos de sua investigação e se acercar de que a sólida formação teórico-metodológica tem sido uma estratégia de sua escolha é realmente útil para res- constante dos programas de pós-graduação. Um as- ponder às perguntas levantadas em seu estudo. pecto crítico nesse campo da formação do pesquisa- O estudante de graduação e pós-graduação dor é a carência de trabalhos que objetivem clara- encontrará nessa obra uma referência instrumental mente quais os paradigmas que norteiam nossas prá- para seus trabalhos de pesquisa. O pesquisador em ticas de pesquisa, para fazer frente aos desafios que formação nos mais diferentes campos de investiga- se colocam ao desenvolvimento da Psicologia como ção encontrará insumos para novas reflexões sobre ciência. os recursos metodológicos que têm pautado as estra- No intuito de suprir essa deficiência, alguns tégias de investigação utilizadas nos anos recentes. trabalhos têm emergido nos últimos anos. Os profes- O diálogo proposto, tendo como eixo norteador a sores Geraldo Romanelli e Zélia Maria Mendes prática de pesquisa, serve como fomento para uma Biasoli-Alves, contando com a apresentação do Prof. discussão interdisciplinar. José Aparecido da Silva, publicaram o livro Diálo- Tendo como propósito articular os trabalhos gos metodológicos sobre a prática de pesquisa reu- apresentados, tentaremos sintetizar as principais ques- nindo contribuições de docentes vinculados ao Pro- tões colocadas pelos autores dos oito capítulos que grama de Pós-Graduação em Psicologia da USP de compõem a obra organizada por Romanelli e Biasoli- Ribeirão Preto, e nele o leitor encontrará a siste- Alves. matização de um conjunto de estratégias de pesquisa Abrindo a coletânea, a Profa. Marina empregadas em diferentes áreas da Psicologia. Massimi apresenta um trabalho extremamente origi- Os trabalhos reunidos sustentam uma nal, versando sobre a História das Idéias Psicológi- pluralidade de enfoques teóricos e uma diversidade cas no Brasil, desde o período colonial, que abrange, de perspectivas metodológicas que refletem a em suas próprias palavras, "a reconstrução dos co- heterogeneidade de abordagens e linhas de investi- nhecimentos e das práticas psicológicas próprios de específicos contextos sócio-culturais do passado" * Doutor em Psicologia Clínica, docente do Programa de Pós- (Ibid.,p. 11). Graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Pelas mãos da Profa. Marina somos con- Letras da USP, campus de Ribeirão Preto, coordenador do NEPP duzidos aos primórdios da formação da nação brasi- - Núcleo de Ensino e Pesquisa em Psicologia Clínica. leira, guiados pelo fio condutor de uma metodologia hospitalar, etc. Além disso, a metodologia criativa e rigorosa, proposta para investigar a Histó- observacional tem sido um valioso instrumento ao ria da Psicologia. Quando o pesquisador elege um pesquisador interessado em obter uma maior objeti- tema ele se depara, em primeiro lugar, com uma vidade na coleta de dados. pluralidade de percursos possíveis. A propósito, a Inúmeras estratégias observacionais foram palavra "método" - nos ensina a Dra. Marina Massimi elaboradas a partir das primeiras décadas do século - tem origem etimológica na expressão grega meta XX: o "Registro Cursivo", a "Amostragem de Even- odon, que significa "caminho para ". O que a autora to" e a "Amostragem de Tempo". No Brasil, o uso propõe-se a apresentar é um desses caminhos possí- de estratégias de observação foi incrementado, um veis, que consiste no método de investigação utili- tanto quanto tardiamente, na década de 70, junto com zado pelo historiador da Psicologia, numa contribui- a implementação dos primeiros cursos de Pós-Gra- ção importante para a historiografia das idéias psico- duação em Psicologia, enfocando predominantemente lógicas. áreas como a Análise Experimental do Comporta- A autora compara a investigação psicológi- mento e a Etologia. Somente a partir dos anos 80 ca a uma viagem imaginária que empreendemos a esse interesse se expandiu. um país estranho ao nosso, em que o historiador se O capítulo seguinte, escrito pelo Prof. Mar- debruça sobre as nervuras desse horizonte de idéias co Antônio de Castro Figueiredo, apresenta os ele- sedimentadas pela experiência alojada no cerne da mentos-chave para a construção de escalas afetivo- dimensão histórica. O objetivo do trabalho histórico, cognitivas de atitude. O autor inicia destacando o segundo Michel de Certeau, um dos mais célebres valor instrumental da categoria atitude para estudos historiadores contemporâneos, é buscar "aquilo que na área da organização do trabalho, na intervenção somos". Portanto, a meta do conhecimento históri- em saúde, educação, grupos e pesquisa co, o ponto de chegada do-historiador, tem a ver com mercadológica. E pontua que "especificamente para sua própria origem. "O que determina esta viagem é formação profissional em saúde e atuação junto à uma busca de identidade" (Massimi, 1998, p. 13), comunidade, a construção de escalas de atitude vem que se materializa na escrita de diversos povos e cul- se afirmando como uma importante fonte de recur- turas, através do tempo e do espaço, das sos para o levantamento de informações relevantes descontinuidades e das aporias da história. sobre crenças e representações associadas a doen- Esse trabalho contribui para a formação do ças, contágio, prevenção, tratamento e formas de pesquisador psicólogo, independentemente de sua enfrentamento" (Figueiredo, p. 51). O capítulo se área de atuação, à medida que leva em consideração propõe a identificar e discutir algumas questões teó- que a dimensão histórica não é uma preocupação res- rico-metodológicas da avaliação de atitudes, forne- trita ao historiador da Psicologia, mas permeia o pró- cendo um modelo matemático, com base na concep- prio objeto da Psicologia e, nesse sentido, é inerente ção de Ajzen e Fishbein (1973), de mensuração des- à natureza da investigação psicológica, se que é um dos conceitos mais importantes da Psi- As professoras Maria Auxiliadora Campos cologia Social. Dessen e Lilian Maria Borges discorrem sobre a apli- Os procedimentos técnicos preconizados para cação, em termos de vantagens e desvantagens, de a construção de escalas de atitude são descritos de diversas estratégias de observação do comportamen- maneira pormenorizada, cobrindo uma série de eta- to que têm sido utilizadas, principalmente, na área pas que antecedem a elaboração definitiva das esca- da Psicologia do Desenvolvimento. São descritos os las, com cada etapa fartamente ilustrada com exem- principais métodos de observação, a saber: o Narra- plos, colocando o alcance e aplicabilidade do mode- tivo, o de Amostragem e o de Classificação, bem lo teórico em discussão, bem como os limites do como seu alcance e suas limitações. São colocadas instrumento. em evidência as contribuições dessa abordagem Um outra contribuição inestimável, pela ori- metodológica tanto para o campo do comportamento ginalidade de sua concepção teórico-metodológica, humano como animal, em diferentes contextos de é oferecida pela Profa. Sônia Santa Vitaliano atuação profissional: clínico, escolar, organizacional, Graminha, que apresenta um estudo no qual são enfocados os recursos metodológicos utilizados em a partir dos dados fornecidos pela pesquisa empírica, pesquisas sobre riscos e problemas emocionais e uma progressão, dirigida por perguntas gerais que o comportamentais na infância, enfatizando a impor- pesquisador extrai a partir dos sistemas de categori- tância de disponibilizá-los para os pesquisadores e as comportamentais descritivas já previamente ela- professores da área. Com esse intuito, a autora des- borados e testados, que dêem respostas sobre o pro- creve um Sistema de Categorias de Fatores Potenci- cesso e os direcionamentos que ele assume. ais de Risco para a Saúde Mental Infantil, seguido de Em seguida, o Prof. Geraldo Romanelli ofe- um Sistema de Categorias de Problemas Psicológi- rece uma exposição ao mesmo tempo didática e cos Infantis e de um instrumento para avaliação de contextualizada sobre a aplicabilidade da entrevista distúrbios emocionais e comportamentais na infân- no domínio da Antropologia, salientando as catego- cia (Escala Comportamental Infantil A2 de Rutter, rias de troca e alteridade. O emprego do método traduzida e adaptada pela autora). etnográfico tem recebido uma atenção crescente da O primeiro e o segundo instrumento foram ela- literatura nas últimas décadas, gerando um instrumen- borados com base em um trabalho exaustivo de sis- tal que vêm sendo cada vez mais apropriado por pes- tematização de "dados levantados através de entre- quisadores de diferentes domínios das Ciências Hu- vistas com mães de crianças encaminhadas para aten- manas e Biológicas, entre os quais se incluem a Psi- dimento psicológico, na tentativa de identificar os cologia, a Educação, a Saúde e a Comunicação. eventos e circunstâncias adversas a que a amostra foi Em seu trabalho, o autor se detém na descri- exposta no decorrer de sua vida, bem como a proble- ção das características do método etnográfico, em mática que motivou os pais a procurarem ajuda psi- suas linhas gerais, e discute mais especificamente as cológica para o filho" (Graminha, 1998, pp. 71-72). condições de realização de entrevistas, enfocando A autora descreve, em seguida, as propriedades particularmente o campo dialógico que se estabelece psicométricas da Escala A2 Adaptada, e discorre so- entre o antropólogo e os participantes da pesquisa. A bre os procedimentos para sua avaliação. situação de entrevista e a produção do discurso são Dando prosseguimento à coletânea de traba- temas colocados em pauta, ancorados no conhecimen- lhos, Sílvia Regina Ricco Lucato Sigolo e Zélia Ma- to de técnicas de coleta de dados prescritas pelo mé- ria Mendes Biasoli-Alves apresentam uma proposta todo etnográfico e na contínuo exercício da reflexão de sistematização da análise de dados colhidos sobre teórica sobre o material produzido. Cabe aí também a interação mãe-criança. Parte-se da premissa de que a observaçãp participante. "todas as opções que o pesquisadorfaz estão condi- O método etnográfico, originalmente aplica- cionadas pelo enfoque que assume, pelo tema que do no contexto das sociedades ditas primitivas, pas- investiga, mas sobretudo pelos objetivos contidos em sa para o estudo de populações urbanas. "Antes de seu projeto" (Sigolo e Biasoli-Alves, 1998, p. 87). mais nada, o trabalho de campo deve ser orientado Discute-se a necessidade de definição do tipo de re- e guiado pelo olhar antropológico, que se funda no gistro a ser utilizado (minucioso e exaustivo, a fim estranhamento e no conhecimento teórico" de permitir o levantamento de todo o repertório (Romanelli, 1998, p. 123). Para levar a cabo essa ta- comportamental do sujeito nas situações observadas) refa, um pressuposto metodológico fundamental, se- e da técnica a ser empregada (uso de vídeo), a cir- gundo DaMatta (1981), consiste em estudarmos a nós cunscrição do contexto e da situação em que a obser- mesmos como se fôssemos o outro, isto é, realizar o vação ocorreria (situações de rotina diária em ambi- processo de estranhar aquilo que é familiar. ente natural) e, finalmente, a preocupação voltada O Prof. Romanelli termina seu artigo sali- para a aferição da validade dos dados colhidos, e não entando que, embora a entrevista forneça dados li- tanto para a sua fidedignidade, explorando-se os pro- mitados a um recorte empírico previamente estabe- blemas colocados pela construção de sistemas de lecido, que constitui o campo da observação, a análi- categorias: elaboração, testagem e definição dos sis- se deve levar em consideração a realidade social no temas de categorias. qual o sujeito vive, isto é, o contexto macroestrutural Uma das questões mais interessantes abor- onde são produzidas as representações que organi- dadas pelo trabalho é a possibilidade de estabelecer, zam a vida social e conferem sentido às ações huma- nas. Para tanto, é indispensável o recurso tanto ao dicotomia entre as abordagens de pesquisa qualitati- conhecimento metodológico quanto à reflexão teóri- va e quantitativa. De forma consistente e vigorosa, a ca. Profa. Rosalina realiza uma incursão pelos paradigmas que informam e dão sentido às nossas A análise de métodos e estratégias utilizadas práticas de pesquisa em Psicologia, oferecendo uma no processo de construção de "um conhecimento que painel sucinto das questões emergentes no atual es- se pretende científico" constitui o próximo capítulo tágio do conhecimento científico. A autora parte do do livro, da autoria da Profa. Zélia Maria Mendes pressuposto de que o pesquisador que não sabe situ- Biasoli-Alves. ar exatamente em que campo se insere seu trabalho A autora inicia sua exposição com conside- de investigação, de onde se originam seus pressu- rações acerca do significado que a ciência assume na postos e a que tipo de construção de conhecimento sociedade contemporânea, como uma maneira siste- ele serve, incorre no risco de exercer uma "prática mática de produzir indagações à natureza e obter res- alienada de pesquisa". postas. A partir de uma reflexão articulada em torno Diz a autora: "É necessário que o pesquisa- de uma perspectiva histórica, pontua os diferentes dor, muito mais do que saber defender sua posição períodos evolutivos da construção do conhecimento metodológica em oposição a outras, saiba que exis- científico em Psicologia, campo no qual as questões tem diferentes lógicas de ação em pesquisa e que o de método emergem freqüentemente como uma vari- importante é manter-se coerentemente dentro de cada ável crítica nos estudos. uma delas. Além disso, é necessário que o pesquisa- A busca de identidade frente às outras áreas dor saiba explicitar em seu relato de pesquisa a sua do saber fez com que a Psicologia procurasse se equi- opção metodológica e todo procedimento desenvol- parar às Ciências Físicas e Naturais, adotando seus vido na construção de sua investigação e os quadros paradigmas, isto é, assumindo todo um conjunto de de referência que o informam " (Silva, 1998, p. 159). métodos e técnicas já consagrados pela comunidade A adoção de uma determinada concepção científica. Isso levou à valorização dos pressupostos epistemológica repercute diretamente na postura que do pensamento positivista, que reconhece como vá- o pesquisador vai assumir frente ao objeto de conhe- lidos apenas os modelos de investigação que satisfa- cimento. Os positivistas e pós-positivistas almejam zem os critérios de objetividade, definição obter explicação para o comportamento, o que operacional de variáveis, proposição de leis gerais e condiciona ideais de predição e controle. Já os in- explicações causais, poder preditivo e resultados re- vestigadores críticos buscam a interpretação, que ferendados por análises estatísticas. A autora mostra instigue ou facilite mudanças sociais, enquanto os que, com o advento de novos olhares, a produção de construtivistas enfatizam a reconstrução dos pontos conhecimento em Psicologia enfrentou uma crise de de vista dos sujeitos implicados no fenômeno que paradigmas, a partir da década de 70, disparada pela está sendo investigado. valorização de posições epistemológicas colocadas A Profa. Rosalina conclui seu estudo postu- como antagônicas, que contrapõem os métodos quan- lando que as abordagens qualitativas e quantitativas titativos e qualitativos. mantêm entre si uma relação de complementaridade Desse modo, não existiria uma estratégia de e não de incompatibilidade mútua, podendo inclusi- pesquisa "boa" ou "ruim" em si mesma. Seu valor ve ser integradas em um mesmo projeto de pesquisa, depende da adequação entre o problema a ser inves- embora devamos reconhecer as especificidades de tigado e a maneira de abordá-lo. É preciso, portanto, cada abordagem. mudar a ótica com que se analisa habitualmente as Em suma, o livro de Romanelli e Biasoli- estratégias de pesquisa, estudando o "acerto do mé- Alves contribui decisivamente para ampliar a com- todo escolhido frente ao objeto e aos objetivos do petência do investigador, trazendo à baila uma varie- projeto" (Biasoli-Alves, 1998, p. 136). dade de questões metodológicas que abrangem dife- Finalmente, concluindo o tomo, temos o tra- rentes instrumentos de avaliação do comportamento balho magistral da Profa. Rosalina Carvalho da Sil- humano, tais como a observação, a entrevista e as va, que parte da premissa de que há uma falsa escalas, com o intuito de alertar o pesquisador e o professor sobre a necessidade de se adotar uma pos- tura crítica frente à utilização das diferentes estraté- gias metodológicas e de avaliar sua adequação aos objetivos da pesquisa. A opção metodológica impli- ca em uma postura do investigador frente à realidade que se deseja investigar. Essa postura pode ser de predição e controle, de compreensão e interpretação, ou de reconstrução e transformação. A escolha do referencial metodológico implica também em diferentes visões sobre o processo de produção e acumulação do co- nhecimento científico, assim como diferentes crité- rios de avaliação da qualidade do conhecimento ge- rado. Assim, os viéses ideológicos que o pesquisa- dor pode introduzir na condução de uma investiga- ção não podem ser descartados, e considerá-los no processo de construção do projeto de pesquisa im- plica necessariamente em explicitar claramente em que bases filosóficas e em que visão de homem e de mundo esse projeto se assenta. Como assevera Silva (1998, p. 173): "Existem critérios de qualidade e ri- gor metodológico em todos os paradigmas, é neces- sário que se saiba segui-los e explicitá-los na apre- sentação do trabalho ". Tendemos a desconfiar da relevância social de estudos que não apontem soluções para uma soci- edade em transformação como a nossa. Ao concluir- mos a leitura desse instigante volume, notamos com certo alívio o quanto os autores se esforçaram para oferecerem não apenas uma descrição das comple- xas tramas subjacentes às abordagens metodológicas, mas também certas alternativas, o que sem dúvida agrega valor aos trabalhos publicados. Por outro lado, é preciso salientar que, por mais aperfeiçoado que seja nosso método-caminho para conhecer a realida- de, o conhecimento que produzimos conserva sem- pre algo de insuficiente e incompleto, já que nunca se ajusta perfeitamente à realidade que se pretendia dar conta. Esse é o limite com o qual temos que tra- balhar.