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Christophe Dejours

Elisabeth Abdoucheli
Christian Jayet

Psicodinâmica
do Trabalho
.5
Contribuições da
Escola Dejouriana à
Análise da Relaçào Praze\
§ofrirnento e Trabalho
Coordenação:
Maria Irene Stocco Betiol
-j:l() ÍlrLrpo
<ol):i (1i
-ilict()s (lo
, .s n í\,C is Introdução
..j orgirni

-inel 1l()r
DA PSICOPATOLOGIA
_. .p()s, in
: -.: (lc qLrc À psrcoDrNÂMrcA Do TRABALHo:
:' (le sc us
MARCOS DE UM PERCT]RSO
.i rsli)rCo
Lrros c 1cr

L . \l:tr< c--lo

I ir I

E )'io estudo das relaçôes entre saúcle mental e trabalho, certamente cabe
l: .::r,,1 .=:onhecer as contÍibuiçÕes de uma corrente cle pensamento que vem-se im-
:..rdo pela qualiclade cle sua proclução teórica, pela riqueza cle suas
::::rulaçôes metodológicas e,:rinda, pela importância de suas descobertas.
-:::a-se da escola de Psicologia do Trabalho que se edificou a partir das
.c::as e clas pesquisas cle Christophe Dejours. Inicialmente centrada no estu-
:- cias dinâmicas que, em situaçôes cle trabalho, conduziam oÍa pÍazeÍ,
,:: ao sofrimento, e o modo como este podia seguir diferentes ^o desdobra
:-.:rtos, incllrsive :rqueles que culminavam em patoiogia mental ou
::,:ossomática, ao longo do tempo essa escola ampliou seu enfoque, trans-
:,-:do âs fronteiras dos estudos da dinâmica Saúde,/Doença. Atualmente, ela
i,..irnre a denominação de Psicoclinâmica do Trabalho para o campo a que
'=:eclica.
\Íéclico do trabalho, psiqlriâtra e psicanâlistâ, Christophe Dejours lá ha-
.: publicaclo nos anos 70 vários trabalhos nas temáticas dos estudos
:s::cssomáticos e das relações entre saúde e trabalho. Vale assinalar que em
1:-S publicou um artigo sobre o princípio do prazer no trabalho assunto
:,: r'eio posteriormente a merccer inportânte clesenvolvimento. A produção
:::-ectual de Dcjours revela um ollrar amplo e integrador e tal olhar cor-
-:.:onde justamentc ao desafio do campo que escolheu aquele em que
-
13
se aÍticulân saberes originâdos em distintas áreas clo conhecimento human<
Enl suas elaboraçÕes teóricâs e metodológicas hmbém estão pÍesentes refl(
xôes alicerçadzrs na filosofia do conhecimento e nas ciências sociais. Crític
das aborclagens positivistas que mârcam o moclelo tradicional clas pesquisa
voitadas para a medicina do trabelho, Dejours, no entdnto, não deixa cle v:
Iotzar a clínica do trabaiho e suzrs experiências. Do mesmo moclo, embor
psicanaiista, clesafia a psicanálise a levar adequadamente enr conta os fen(
menos do mundo cio trabalho que impactam sobre a dinâmicâ intrapsíquic
e sobre a intersubjetividade.
As visôes anteriores da Psicopatologia do Trabalho sofreram forte impa(
to co1n a publicação clo livro de Dejours (1987a) Trauail: ttsure nrcrxtale, q\t
em selr subtítulo se iclentificava como ensaio de Psicopatologia do lrabalh<
O livro fbi lançaclo na França em 1980 e traduziclo posteriormente no Brâsi
onde foi publicado com o títlllo de A lott.cu.rc,r. do trabalho.
 escola dejouriana constituiu-se articulando diversos especialistas e el
paços de pesquisâ, primeiro na França e posteÍiormente trânspond
fronteiras e atingincio outÍos países, inclusive o Brasil.
Seria difícil reconstituir aqui toclas âs etapâs dessa estruturaçào, que er
tabeleceu seu núcleo originário na,A.OC[P (Association pour l'Ouverture d
Champ cl'Investigâtion Psichopathologique).-
Esta associâção, integÍândo pensadores e pesquisadores de cliÍàrentes ir
serçôes profissionais e institucionais, pâssou a promover, de mod
sistemático, reuniôes de estudo, seminários interclisciplinares para a cliscur
sào de pesquisa cle campo e teoria, além cle outras iniciativas. Logo u n'l
série cle produtos deste trabalho conjunto pôcle ser pr:blicado, sob torma cl

Iivros e artigos.
Um pÍocesso continuâdo cle fertilização recíproczt entre clesenvolvinent
teórico e prática cle pesquisa Íundamenta 2r construçào dos novos conhec
mentos e clo aperfeiçoamento crla metodologia cle investigrçào que ntltrcl
as atiyidades deste grupo e de outros que vêm constituindo-se e mântencl
intercâmbio.
Mais do qlle um estudo voltado para identificar cloençes mentais esPe(
ficas correlacionadas à profissão olr situaçôes de trabalho, a âbor(lagem (
novâ psicopatologia clo trabalho está preocupada com a clinâmica na
abrangente, que se refere à gênese e às transformaçôes do sofrimento menl
vinculadas à organizaçào do trabalho. Não obstânte, problemas especia
como a fàdiga, têm sido objeto de atenção, âssim como a questào clo uso ,

'Associação paia abertura do campo de invesligâçào psicopatológica. (N.T.)

t4
E: bebidas alcoólicas em suâ relaçào a certas vivências do trabalho, nas quais
esse uso se conrigura estratégia defensiva muitas vezes de caráter coletivo.
Enr um texto publicado en.r 1987, Dejours (1987 á) esclareceu bem seu
conceito cle sofiimento e tâlvez seiâ oportuno citaÍ estâ explicitaçào:
i

t't :l "O sofrimento clesigna então, em uma primeir:l aborciagem, o câmpo


E, que separa a cloença cla saúde. l)entro de uma seglrnclâ acepçào, o sofrimen
lt ..1 to designa Lrm campo pouco restritivo. Ele é concebido como unte noçào
específica válida em Psicopâtologia do Trabalho, mas certamente não transfe-
rí1'el a outrns disciplinas, notâdamente à psicanálise. Entre o homem e a
oÍgàntz çtro prescrita píLra a rcaltzaçào clo trabalho, existe, às vezes, unt es-
I pãço de Liberdade qlle âutoriza unrâ negociaçào, invenções e açôes de r)
modulação do modo opeÍatório, isto é, uma invenção do operador sobre a
própria organização do trabalho, para adaptáJa às suas necessidâdes, e mes- ?.,.
'I
Àó para tornála mâis congruente com seu clesejo. Logo que esta negociaçào
e1ónitLiziaa a seu último limite, e que a relação homem-organizaçào do tra- 52sL(

Ua-llro iica bloqueacla, cuneÇd o dom.ínio do sofrimento e da hta contrLl o


- r* 'l
!!!"'''n"
O modo como essa Iuta contra o sofrimento se faz a unt só tempo cole-
.lrL dva e individualmente, concluzindo ao ocultamento, ou à identificaçào clo
sofrimento, sob forma cle patologia, ou ao enfrentâmento eÍ'etivo de dinâmi-
-n cas causais eoratzadas nâs situaçÕes cle trabalho, vem merecenclo atenção
.lt r
conrin uadr nos estudos clejourianos.
L! O que nos oferecem Dejours e os pesquisadores que com ele têm ela-
lll:r borado novas inteÍpretaçôes clo mundo do trabalho â partir clâ observação e
t, da escuta reals,zad'a, em estuclos cle campo é, em síntese, o convite para pen
sar uma realidacle que nâo é mais a realidacle compârtinentada das ciências
contidas em cubículos isolados, mas a ciência transdisciplinâr que é ao nres-
l
mo tenpo a "ciência com consciência" da qual nos fala Edgar Morin (1990).
'lr \oúdamente para os especialistas da área da Saúde, mas também para os cle
:: ( l() outros campos tradicionalmente fechados sobre si mesmos, o desafio é imen-
so e difícil de ser absorvido. Evidentemente, o médico do trabalho não
precisará toÍnaÍ-se psicanalista. Do mesmo modo como os engenheiros de
IL
produção, ao ciescobrirem â impoÍtàncir de subjetividade, percebem que ela
: 'l: ( lil
-tt:l1s
rem que ser considerada no planejamento da produção, sem por isso se sen-
tirem obrigados a se transÍ'ormarem em psicólogos ou psicanalistas.
: :L:tl
r r L\, Os integrantes do Centro de Estudos e Pesquisa do Traball'ro cla EAES1']
. r l, FGV selecionaram e traduziram parâ essâ coletânea textos que assinalam
diferentes maÍcos nos desenvolvimentos teóÍicos, metoclológicos e nas des
cobertas que a escola dejouriana realizou durante os anos 80, incluindo
rabalhos que foram editados na França no começo dos p0.

15
A cdrga psíquica de trabalho foi publicado originalmente em 1980. Tra-
ta-se, essencialmente, de um texto de elaboraçào conceitual. Nele, Dejours
deixa claro o caráter qualitativo e dinâmico da não mensurável "carga psíqui-
ca". Não mensurável justamente porque inscrita na subjetividade. Mas real
enquânto vivência articulada às exigências ou pressões do trabalho cotidia-
no.
Ao concentrar-se no conceito carga. psíqu.icít, Dejours aproxima â Psico-
patologia do Trabalho da Ergonomia, que tem n carga de traballso '.sm de
seus principais conceitos. O texto também enfatiza aspectos fisiológicos, ao
mesmo tempo que integra a contribuição dos estudos psicossomáticos cle li-
nha psicanalítica da escola de Pierre Marty. Â partir destes fundamentos
interdisciplinâres, o texto já identifica x importância de dois âspectos cujo es
tudo será aprofundado ao longo da trajetór\a da Psicopatologia do Trabalho:
o primeiro é a organização do trabalho, cujo papel central na cleterminação
do sofrimento nrental é etfatrzado; o segundo cliz Íespeito à liberdacle como
condição necessária à estâbilidade psicossomática.
Dese.fct ott ?notiuaÇã.o? A interrogaÇào psicdnc4lítica sobre o traba.lho é
também um estudo conceitual de grande interesse. A motivaÇào no mundo
do trabalho sempre foi preocllpação dos administradores e de toclos os pro
fissionais que atuam nas áreas de recursos humanos das empresas. Dejours e
Abdoucheli analisam as relaçôes existentes entre motivâçào e clesejo, prin.rei
ro conceitu almente, depois nas situaçôes concretas, onde desvenclam as
vinculaçôes que ambos os aspectos mantêm com a organização do trabalho.
Os dois trabalhos qlre se seguem no interior da coletânezr tr2rtâm clc um
mesmo estudo de caso, rcaltzado em uma usina nuclear francesa, O primei-
ro, Trabalbo e saúde m.ental: da pesqu.isa à ação, exanina a gravidade dos
riscos que ameaçam a seguÍança quando os procedimentos de trabalho pres
critos se chocam com sua exeqüibilidade, numa situação em que ocorre un-I
incremento da rigídez do controle administrativo sobre una área de manu-
tenção da usina. O texto seguinte, como seu título ben] indica, trata da
metodologia adotada na realizaçã.o da pesquisa.
O caso da usina nuclear francesa renlete-nos ao debate tào atual dos
grancles riscos tecnológicos e da questão ambiental no Brasil. O estlldo clos
riscos refeÍentes ao desencadeamento de catástrofes por processos produti-
vos é uma pÍeocupaçào clo nosso tenpo, tendo em vista os terríveis eventos
destrutivos em que diferentes e amplas comunidades jâ foram âtingidas (Bo-
phal, Minimata e outros). As açôes de controle ambiental têm-se concentrado
geralmente nas condições físicas, químicas e biológicas, dando pouca aten
çào a questôes de organizaçào de trabalho que atingem a dimensào psíquica
e a intersubjetiva dos que trabalham nas usinas nucleares e en1 olltros locais
de alto risco.

t6
--

.,. l'Íâ- Para todos aqueles que se inteÍessant por metodologia de pesquisa, es
aior-l rs
pecialmente para os que pretendem se dedicâr, no Brasil, â estudos voltados
paÍa s^1ide mental e â psicodinânica nas sitlraçôes de trabalho, o texto ,P.§i-
. t r';tl ^
copatologin, do Trabalho e OrganizaçAo Real do Trahalbo ern uma indústrid
::riirr Metodologia aplicaada a u.m c( so constituirá Llrlra leiturâ valiosa
de Prctcesso
-
e esclarecedora-
A leitura desse texto detalhado traz também contribuiçôes que transcen-
dem seu alcance metodológico.
ljm aspecto certamente interessante paÍa considerâÇào cle administraclo-
res e profissionais dos setores de recursos humanos clas empresas emerge cla
análise das dificuldades que se co.locant habitualmente, aos níveis aclminis-
trativos mais distanciados dos operaclores, para uma percepçào <lo
sofrimento mental destes trabalhadores. Assim, direção e gerência de escalào
superior encontram igualmente dificuldades para identificâr as causas de de-
reÍninadas falhas, ou mesmo fracassos da produçào, que sào decorrentes do
sofrimento mental engendÍado pela situação de trabalho e, geralmente de
modo mais específico, pela organizaçào pÍescrita para o trabalho.
.l r lcr
lr() O papel relevante que o Serviço de Meclicina e Segurança clo Trabalho
rem potenciâl de assumir no diagnóstico ale situaÇões de risco tambérl pode
: :l !'i
ser inferido da leitura deste estudo de caso, o que denonstra â importância
::: irs
da inclusão dos conhecimentos de Psicopatologia do Trabalho na formação
destes profissionais e, ao mesmo tempo, a necessidade de que gerências res-
ponsáveis pela organtzaçio e superuisão do trabalho estejâm conectadas por
lljj canâis de comunicação permanentemente abertos com o setor formalmente
llr'l responsável pela Saúde e Segurança. Lembrando que as situaçôes de risco
los unto clizem respeito à saúde dos empregados quanto à "saúde" da produçào
e, em casos especiais, como no exemplo da usina nuclear, a Íiscos de impac
tl to, extensão e gravidade incalculáveis que se podem configurar catastróficos
nU para todos os habitantes de uma grancle área.
clx
No último texto âpresentado pela coletânea O itinerúrio teórico ern
-
psicopatobgiít clo trabalbo, o leitor, como bem indica o títlllo, é realmente
--:os levaclo a peÍcorrer os câminhos pelos quais Dejours e os pesquisadores que
ios iuntamente com ele têm investigado e refletido desenvolvemm seu trâieto de
.ll construção de conhecimento, até o momento da publicaçào deste trâbâlho
::()s en1 1990.
3o-
O itinerário expÕe o histórico de um percurso em que cluas etapas apa-
-iilcr
Íecem bem marcadas. Na primeira, o cenáÍio é ocupado pelo estudo clo
sofrimento e de seu sr-lrgimento a pârtir do confronto psiquismo/organizaçào
-:cil
,i-l is
do trabalho. Suas perspectivas são aí privilegiadas: uma é a qr-te se volta para
a dinâmica geradora deste sofrimento, e outra é a que se concentrâ na anâh-
se das estratégias defensivas individuais e coletivas que são suscitadas
- -
t7
pelo mesmo sofrinlento. O estucio clo moclo pelo qual se estÍuturâ Lln.l:r \rer-
dadeira icleclogia defbnsiua a partir do dcsenr-olvimento da instância coletil:r
de clefesa é um:r clas mais inportentes contribuiçÕes teóricas cle Dejours. IJIa
se torna indispensável pârx â colnpÍeensào dc algr:nr:rs das nais sérias clifi-
culdacles que se opõenr à conscicntizeÇào, no processo neLessrro a
tran.sformrçào d() trabalho pcrigoso ern trebalho saudável e prazeroso. O so-
frimento pxlóÍ4eno é objeto rle estuclo ncsta primeira etalta.
N:r segrrntla etapa do itincrítrio, o pânor2lnl2l revelaclo é bem clitêrente,
pois o qLre s(: coloca cli:rnte clo leitor é o clesclobramento clo sofrimcnto crn
direçãro ao pólo da saúclc. As concliçÕes parr tal clireciortamento .1â clinâmica
passam pela constitlrlçào de outrx instância coletiva o «)letíüo cle reprü
explicitado nestx p2lrte do texto. Passam tambéu pelâ - instauraçào clc un)â -
éticrl nl qual sào estabelecidos alicerces de confiança recíproca e o lbrtaleci
mento cla iclenticlacle através clo Íeconhecin-icnto de toclos os suieLtos clcr
trabalho, respeitaclos em suas capacidades e sentin)entos. Sem este processo,
nào poclerá haver constÍuçào de ur.r.r sentido clo tmbalho na vicla mcnt:rl clo
trabllhador. E senl esse sentido, será impossír.el a nrobilização conjunl:r cle
sentinlentos e inteligência para a sublinr:rçào e p2rra a cÍiatividade.
Ao Íinal do percurso, os eutorcs conseguerlr iluminar uln:t cena enl qLle
percebemos como o câminho que concluz ao traballto saudável é o tnesr.t.to
que rcspeita a iclenticlacle em sua construçào plene clentro cle urrr trrll2lll-Io
cuja orgenizaçào seje eticemente prcscÍita, respeit:rnclo potenci2ris e limites cla
condiçào humana. Pode mos vislunrbrar, entào, que cste é tambrlm o itinerá
rio que conduz à criatir.iclacle e io comprometimento com:r re:rlizlçito cle
um trab:rlho cie altzr qualidacle.
Quanclo Dcjours e Âbdouchelt aclvertcn qtlc contextos sócio lristóricos
clcsfàvoráveis à construÇào cle scnttdo poder-n ser verificaclos, corresponclen-
do :r situaçôes impeclitivas à sublintaçào, crbe cefiancntc uma cfettva anírlise
do rlosso próprio contexto e c1â presente conjunturx, p:rrl l;uscar :rllern:ttivzts
câpazes de uma renovaçào Íhvorár'cl 2l Lr n]a étic2l clo tÍâbelho na qual o tes
peito ao trabalhaclor possa fundarnentar r desejada construçlo de sentitlo.
Vale mencion:rr que o itinerárjo dejouri:rno prosseÉlue nos :rnos !0,
quanclo já cofreçân] a ser publicados novos trabxlhos, :rssuminclo Llnl2r irn-
portante reclefiniçào.
À psicopatologie ck) trabalho, tal conro se clesen|oh.eu tlos estuclos des
te grupo p2rssou por unr processo cie amadurecin.ienlo que veio clesetttbocar,
recenterrente, n:1 proposição de urra clisciplina a Psicodirtânrica do 77rt-
-
balho, cujcts primeiros textos colneça r a vir à luz na França. Dcjours, ao
conceituar a análise psicoclinâlnica dcls sihtLtÇoes de n'abalho, que é o objeto
desta disciplina, lembra inicialmente qtrc "Análisc psicodinrrmrcr e LIm teullo
que pertence à teoria psicanâlíticâ. Designa o estuclo clos ntor intcntos psteo

ta
-,F

r.lltt:I ver- -,ietir-os ger:rclos pel:r evoluçào rlos conflitos intersubjctivos e intrasu bjctiv()s ".
:tx coletiva I.i:rs a realiclade está no centro cle gravitação c1a psicoclinârnica clo trab:rlho,
ours. lllx .:L) p:rsso clue a dinâmica intrapslqurc:l c o rnr:Lginur ro oLr.rpâm o lugxr cL-ntral
sérias clifi- :::L psicaniriise. E nesta realiclacle a :rnálise clcter sc á no cntcnclincnto "clos
:essáÍio à :r:occssos intersulljetivos e inteÍativos clue se clesenvolvem nos loceis cle tra
oso. O so- -...1ho" (I)eiours, 1993).
C) cicsafio que a Psicoclinârnica clc'frabalho se clispôe a etencler pode
rliferente, .:r lcientificaclo e partir de muitxs dâs clescobertas rclataclas nos tcxtos da
::lento em '::r:sente coletânca: é o de superar â atu?11 distância existente entre organjzzr
. clínâmica -:io prescrit?r e orlaanizeçà() rcal do trabalho, levanclo em conta tocios os
re,qrd, :-.-rigos c1.rc tel distância âtualmente Íeprcscnta para :r saúcle, palre lr segu-
r -
cle urna r rrlçl e p2rrâ a qualidacle clo que é procluzicio.
: iortaleci-
- citos clcr
'f Íocesso,
--cntai clcr
BIBLIOGRAFIA
:r iu n t.l de

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-.
-:stóricos
r:o ncle n -
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-dos des-
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lurs, ao
) objeto
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pslco

19
A CARGA PSÍQTIICA DO TRABALHO

Título original: La cbarge psycbique de trauail

Tradução: Ideli Domingues

Exrraído de SoCIETÉ FRANÇAISE DE


PSYCHOLOGIE PSYCHOLOGIE DU
TRAVAIL -
Equilibre oufatigue par le
trauail? -
paris: Entreprise Moderne
d'Édirion, 1980.

2l
O temâ, Equilíbrio ou. facliga pelct trabalho, faz surgir poÍ sua pÍópriá
formulação o paradoxo psíquico do trabalho. Fonte de equilíbrio para uns, é
a causa de [adiga para outros.
Gostaria, apÍesentânclo a noção de "carga psíquica do trabalho", de pro'
por uma aborclagem que levasse em conta a experiência clínica e que
pudesse se ârticular com o conceito de carga cle trabalho formulada pelos er'
gonomistas (Monod, Lille, 1976). Reconhecemos a distinção que separa á
carga do trabalho das exigências da tareÍa.

SETORES DA CARGA DE TRABAIIIO

Costuma-se sepârar â carga de trabalho em dois setores: a cargâ física d(


um lado, a carga mental de outro. Por trás da noção de carga mental há umz
mistura de fenômenos de ordem neurofisiológica e psicofisiológic* vaÍi^veís
psicossensoriais, sensoriomotoÍas, perceptivas, cognitivas etc. e fenômenot
de orclem psicológica, psicossociológica, ou mesmo sociológica, tais comc
variáveis de comportamento, cle câráter, psicopatológicas, motivacionais etc
(Guelaud, Beauchesne, GautÍât et al., 191).
Proponho, p^ra c tg mental, sepâÍar essas cluas ordens de fenômenot
^
e reservâr âos elementos afetivos e relacionais um referencial específico: <
cla "carga psíquica clo trabalho".

CARGA PSÍQUCA E QUAIVTTTICAÇÃO

A noção de carga em ergonomia é de modo geral associada à preocupa


ção de quantificação e objetividade (Monod, tílle, 7976).
Tratando-se de carga psíquica, não é possível quantificar uma vivênciz
que é em primeiÍo lugar e antes de tudo qualitatwa. O prazer, a satisfação,
fÍustração, a agressividade, dificilmente se deixam dominar por números. D
mesma forma pode falar-se de uma armadilha quando se quer dar conta el
termos obietivos de uma vivência individual ou coletivâ que é, por clefiniçàt
subletiva. Essa vivência subjetivâ não pode, poÍ sua vez, ser relegada a urr
simples classificâção de fantasmâs ou quantidades negligenciáveis. A subiel
vidade da relação HOMEM-TMBALHO tem muitos efeitos concretos e Íeai
-,F

lesnlo se eles sào descontínuo.s: encontramos e nlarcâ no altsenteísmo, nas


_j:cr-es ou naquilo que alguns nomeiarn "presenteísno", isto é, um cngaje-
:rento excessivo a urrlâ tarefa por certos trabalhadores, do c1ua1 ninguént
.:tia c2rpaz de atenuaÍ o ardor desencacleado.
H,i:""::': \a impossibilidade cle quantificàr â carga psíquica, pode-se propoÍ unr
: rocielo cluantitativo: eu o denomino abordagem econômica clo funciona
cle pro- ::-r.nto psíquico.
t:1 e que
, :c1os cr
aepârâ e
O PONTO DE VISTA ECONÔMICO EM CLÍNICA

-i\ntes c1e retomar os princípios da economia psíqlrica tal corrlo foram


-:scÍitos por Freucl (1920), poclemos p:rrtir cl:r clínica méclica quc nos ensinâ
--e. submetidos às excitações provenientes do cxterior (cle origem psicos
.=nsorial) olr do inteÍior (excitaçôes instintiv:rs ou pulsionais), o indivícluo,
física de .-.:te câso o trabalirador, dispôe de muitas vias de descarga c1e sua energia.
há uma \ <xcitaçào, quanclo se acumula é a origem cle uma vivência dc tensào: ten-
râvels .-lo psíquice ou tensão "nervosâ", par:L retomar a expressão popular. Essas
-r. r

- rlllcltos ':rs de clescarga sào, para frcrrmos es.luenraticos, elt número cle três (de
"--: COllIO --.:o existc r.rma quart? via: a via psicossensorial que nào será consiclerrcla
.-ris etc. .-ul pare sin.rplificar a exposiçào)r via psíquic:r, yi:1 lrrotor2r e via \.isccral
3ourguignon, 1!71).
Tomado por sua hostiliclacle, o sujeito pocle eventualrrentc procitLzir f:rn-
::ismas agrcssivos: representaçôes nlent:ris qr.re pociem, às vczcs, scr
: rficientes para clescarregar o essenci:rl cla tens:1o interior, pois a procluçào
::iesma de firntasmas é consumiclora cle energia pulsior.ral (Freucl, 1968). Ou
:ro sujeito nâo conseguirá se relaxar por cssc meio e deverá utilizlr sua
:.nusculatura: tuga, crise de r:riYr motol.r, -ltu.rlrlo .rgressiYa, violência, oÍêre-
cenclo toda uma gama de "clescargas psicorrlotorâs" (ou comportanlenta is).
Enfim, quanclo a via mental c e via nlotora estào lirra de açiio, a energia pul
sional não pode ser descarreg:rcla senào pela via clo sistena nervoso
rutônorlto e pelo dcsordcnanento das firnçôes somáticas É r,r,r 'r'rsccral .
: que estará atuando no processo cle sornatizlçào.
: nc i:r, Durantc o clesenvolvimento cia pe rsonaliclacle, organiza se unt;r hierar
, J:1o, a quia que permite à vizl motorâ colrrlr p rogressi\.ame nte e suplentaÍ 21 vi,
: .. f):t r-isceral e no topo do edifício, e via psíquic:l, aquela dos fantasmas e do so
: --:1 e1]l rho (Marty, 1976). Cor.rfonlre a flexibiliclade dos mecanismos de clefesa e o
[;r a. rq:lo, qrau de er.olução cla personalidadc, distir.rguc se, em clínicr, os que se scr
,: u Ína rem clas vias psicomotoras e Yiscerrrs (sào lls neuroses de caráter e cle
i .- Djeti-
comportilrrento) e os quc se seÍvem principalmente cla r.ia rnental (as psic<r
: Ieais, ses c as neluoses clássicas) (Mârty, 1976).

25
A RELAÇÃO HOMEM-TRABAIHO
Com essas questões preliminares suÍgem três fatos:
. O oÍganismo do trabalhador não é um "motoÍ hümano", na medida em
que é permanentemente objeto de excitaçÕes, nào somente exógenas,
mas também endógenas.
. O trabalhador não chega a seu local de trabalho como uma máquina
nova. Ele possui uma história pessoal que se concretiza por uma certx
qualidade de suâs aspirâções, de seus desejos, de suas motivaçôes, cle
suas necessidades psicológicas, que integrâm sua história passada. Isso
confeÍe a câda indivíduo câracteÍísticas únicas e pessoais.
. O trabalhador, enfim, em razão de sua ltistória, clispoc de vias dc descar-
gâ prefeÍenciais que não são as mesmas para toclos e que particip.rm na
formação daquilo que denominan.ros estÍutura da personalidade.

Relacionadas ao trâbalho, essas três consideraçôes conduzem à seguinte


questão: a tarefa que âfeta um tÍabalhador oferece uma canàlização apropria-
da a sua energia psíquiCâ? Ern outros termos, a "tarefa exiqe suficientes
àtiuidoúes psíquicas", fantasmâttcas e psicomotoras? QLrestão essa flrnclamen-
tal que resume toda a problemática da Íelação entre aparelho psíquico e o
trabalho. O problema, que aqui vemos, é diferente daquilo que se observa
plÍa a c^Íg físicar nesse domínio, o perigo é o cle um empÍego excessivo
de aptidões fisiológicas. Em se tratando de carga psíquica, o perigo principal
é o de um subemprego cle aptidôes psíquicas, fantasmáticas ou psicomoto-
ras, que ocasioÀá uma retenção de energia pulsional, o que constitui
precisamente a carga psíquica de trabalho.
Assinalemos que aptidão e motivação estào, em matéÍiã de econonia
psicossomática, a tâl ponto ligadas que são quase equivalentes: para o sujei-
to com estrutura neurótica, a aptidão para produzir fantasmas se une à
necessidade de se utilizar deles; confrontado com um trabalho em qLre a ati-
vidade fantasmática é inútil, ele enfraquece. A criâçào é uma necessidade
tanto quânto uma apticlão para o artista, a performance psicomotoÍ21 é uma
necessirlade tanto quanto uma fonte d,e prazer para um neurótico cle com-
portamento.
O trabalho torna-se perigoso para o aparelho psíquico quando ele se
opÕe à sua livre atividade. O bem-estar, em matéria de carga psíquica, não
advém só da ausência de funcionamento, mas, pelo contráÍio, de um livre
funcionamento, aÍticulâdo dialeticamente com o conteúdo da tarefa, expres-
so, por sua vez, na própria târefa e revigorado por ela. Em termos
econômicos, o prazeÍ do trabalhador resulta da descarga de energia psíquica
que a tarefa a:utotiz2, o que corÍesponde a uma din.rinuição da carga psíquica
do trabalho.

24
-!!l-

CARGA PSÍQIIICA POSITryA E NEGATIVA

A partir clisso, os fatos tornarn-se relativ:Lmcnte mais simples para ser in,
terpretados: se um trabalho pcrmite a climinuiçào da c:rrga psíquica, ele é
:ilicll ellt equilibrante. Se cle se opôe a essâ clirninuiçào, ele é fatigante. No trabalh<r
. ógcnl s,
'. por peÇírs nào )rá quase cspaço paÍ:1 a atividâde fentxsmíltic,l; em todo o
câso,2rs zrptidôes fantesmáticas não sào utilizadas e a 1,ia cle descarga psíqui
:rr:1qu ina ce está fecheda; â energiâ psíquica se acumula, torn?tndo-se fonte clc tensào
-:I:t ccrtil e clcsprazcr, a carga psíquica cresce até que lrpârecem a fadige, a âstenia, e al
- ôes, rle
pârtjr daí 2r pxtolollia: é o tru.hdlho .fàtigrntte.
.,,,ie. Isso
Inverszrmente, um trab:Llho livremcnte escolliiclo ori livremente orgâniz2r-
c1o ofcrecc, geraimente, vias cle clescarg2r rnâis adxptaclas às necessiclades: o
irabalho torna se entào um meio de relaxamento, às r.ezes a um tal pon[o
(lue ulna vez a tarefa terminada, o trabalhador se sente melhor que antes cle
rê-la conlcçaclo: é o caso do artista, clo pescluisador, do cirurgião, quando cs
- -.-quinte r,ào satistêitos con] seu trabalho. É preciso entào postulxr a cxistência cle uma
: lr i oPrlal carga psíquica negativa do trabalho, ou cle uma "ciescarga psÍquica" cle tr:rb:r-
: - i?t'tIes lho. Esse é o caso clo trabalho que revcrtc cm proveito cla honteostasia.
- -l:lten Estamos aqui clentro clo enfoque do lrabalho equílibrante.

:rsetr':r
:.--<S-si\ro
;;rr.tcipal E)GMPLOS CLÍNICOS
_- rrlloto

r:rstitui
O exemplo que v2lmos tratâr é o dc mulheres empregzrclas coltt() dâtiló-
grafas e m r.rtn escritóÍio. Ocorre unr perÍoc1o cle diminuiç:io c1e tr..rballio en
: :1ortti:t .llre nào híi nenhum:r atividade a ser feita: elas sào, nào obstente, obrigedas
-l1l(l I
:r r.ir ao escritório e fàzcr clc conta que estào trabalhanclo. Quando unr chefe
: Jne â
:lrssa, nào poalem ser surpreenclidiLs tricotando, convers'.I.rdo, lendo ou tele-
- : :l llti- ;onando. A situaçào se torna râpidamente insuportável: r crrg-r ltsiqurce
:::;ciâdC :rlrment:I e é seguida por unla fadiga intensa. Finalntente, assistc se ao cÍrntu,
: Lr m2l
o cla ironia e clo par:rcloxo: a ausêncía cle trabalho concluz a par:rclas de
-: Con-I
:raballro... A carga psíquica é aqui intensx apesar clas exigéncrrs -rprrrente
:Irente nloderaclas cLI târef:r.
.,'le sc
OutÍo exemplo pode scr forneciclo pelos pilotos cle c:rça. Conhecenros
--... não :1c\\c írlr( ro l gravi<ladr (l:l- nre:soe\ p\j.ôrnororr< c \en-oriomolor.ts. ((,n-
,:: Livre C1çôes c1e traba]ho penosas, em função clos desconfortos cle postura, dc
:\pIes )ressào, cle temperatura, de aceleraçào ctc. Aqui. em outros ternlos, as exi-
:: r 1-llo s gênci:rs psíquicas sào causacloras c1e temor: é preciso una agressir.iclade
:.;q u ic:r aonstante, un clesafio ao risco permanentc, euto-segurânça serr Íalhas, uma
;-;:q'lica -'
ont:rcle fbra clo corrrum, Llma coregem tenaz, ulrt rigor e uma regulariclacle

25
perfeita, uma ambição e um potencial de rivalidade, que sào necessários ao
ofício e que não devem jamais enfraquecer durante as missôes, sem as qu.ris
o acidente e a morte são inevitáveis.
O que se observa nesse caso? Além de uma seleçâo e uma formação
profissional de uma eficácia notável, há uma seleçào psicológica não menos
convincente, reconhecida pelos executivos como uma condiçào sine qull non
do ofício. O resultado é surpreendente. Apesar de uma carga de trabalho
desmedida, que ultrapassa fÍeqüentemente as capacidades clos homens (ao
menos durante certas seqüências críticas do vôo), os pilotos, satisfeitos com
seu trabalho, nào âcusam nenhuma fadiga. Eles pâÍecem estar sempÍe em
forma física e mental impressionantes. O que quer dizer isto, senão que a
carga psíquica, aqui, "negativâ", faz pane do pnzer do trabalho e contraba-
lança, ao menos em paÍte, a c Íga física e nervosa, a Ponto cle assegurar a
esses pilotos um equilíbrio e uma saúde de boa qualidade.

INTERPRETAÇAO DESSES DADOS

A carga psíquica do trabalho âparece em definitivo como um regulador


da czrga global de trabalho. Ántes de analisar os mecanismos dessa função
reguladora, um desvio é talvez necessáÍto para estudar os determinantes da
carga psíquica de trabalho. Partindo do trabalhador e retomando o modelo
freudiano, temos postulado que o rebaixamento de tensão, a descarga da
energia pulsional eram a origem e fonte mesma do prazer, isto é, do alívio
da carga psíquica de trabalho.
Se o trabalho permite essa descarga, ele é, quando diminui a carga psi
quica, um instrumento de equilíbrio para o trabalhador. Doravante, a
questão se enuncia assim: na tarefa, qual é o comPonente do trabâlho que
se opÔe à descarga de energia? ou, en'r outros tefmos, o que faz o trabalho
entrava( o livre jogo do sistema "moúvação-satisfaçào" (ou desejo-prazer)?

CARGA PSÍQTIICA E ORGANÍZI\ÇÃO DO TRABALHO

Parece que o conflito que opõe o desejo do trabalhador à realidade do


trabalho coloca, face a face, o projeto espontâneo do trabalhador e a organi-
zação do trabalho, que limita a realiza.çã.o desse proieto e prescreve um
modo operatório preciso.
Na abordagem psicoeconômica da relaçào Homem-Trabalho, convém
sublinhar que a organização do trabalho é, cle certa forma, a vontade de ou-

26
..-

tro. llla é, primeiremente, a diyisi() clo trabalho e sua repartiçrào entre os tÍa-
t;:rll-raclores. isto é, a divisào de liomens: a org:rniz:rçào do trzrbalho recort2r
rssim, de uma só vez, o conteúdo cla tarefa c as rclaçôes humanas de traba-
::lla çào llio. Nào:rcharemos abusivo ol>servar nisso o exercício de umal \,ontâcle: '.1

_ :Ienos cle donlnar, de controlar, cle explorar eo máxirno a f-orçe de trebâlho, isto é,
;:t(! TLOn clc sulrstituir o Lvre arbítrio do trabaltrador pela injunção clo empregador,
: r b elhc) mediatizxdo, eventllalnente, por técnicos especializados, como por exempio,
-::'15 (âO o engcnheiro de métoclos. O trabalhaclor é, de cert:t lnaneire, clespossuído
: -i corn clc seu corpo físico e ncrvoso, dorlestic:rc1o e forçacio a agir confôrme a r«rn
I '-i:e cn1 ::cle de outro. lleconheceretnos aqui sem diliculdade a inspirlÇào cle Taylor.
(lue 2r alrj:r met21 erl1 mesmo desapropri:rr os ?rÍesàos de sua competência, a flm clc
:'. t Ll ba centrelizá l:r ao nír.e1 cla direçào (Linhart, 1976). Entào, tornâve-se possír.e1
-:: -lr1I A -Lma redivisào do trabalho e uma reclefinição clos modos opcratórios, conior
:re os clesejos cla direçào, em detÍimento da livre orÉlanizaçâo clo traballro,
.]re eÍa até entào o prir-ilégio clo operário artesão (Coriat, 1977).
I)esejo cle trabalhar contra â vontâ.le clo empregador, estx é zI contradj
.:1o iundamental, cujo termo comanda a carÉla psíquica cle traballlo, enr
qualidzLde e quantidede. Para rctomar os exen)pios que foram citaclos, vemos
::ue a inativiclede, dcsdc que e irnpostl corno (,rgJnizxçào do traballto, cntra
-.:ulaclor -.
r a dcscarg:r pulsional e pocle ocasionar verdadeira inflação cl:r carg'.r
I na.l.) :-..:íc1uicir. Poclerào nos contcstar, sem c1ú\.ic1â, que na aviaÇão cle c:rça o
.::es cia ::roclo opcratório também nào é livrernente escolhiclo. Essa objeçào é perfei
:',oclclo ::Llncnte lundada e ela é real pare grancle número de tarefâs, em quer
..:51a c1a -,]d:rvia. a carga psíquica é "negatiya".
:tlívio

::r psí-
, 11e, :r
_ oBSERVAÇOES
, :a que
:-: ba lli o PÍoporemos, entretanto, três oirservaçôes:
-t')l
1) N{esmo se o briefing que prececle a lnissão é prccisamente o [Iomento
em que as ordcns sào claclas, concernentes à organização do Lrabalho, o
modo opcratório do piloto é, cn rcaliclacie, fleqüeotemente cliferente cla
quele que foi prescrito. os pilotos clc caça sio conhecidos por sua
audácia, o que enr termos de organizaçuo clo trabalho signilica que a
bordo clc seu aviào fazem o que bem entendem... Essa ebscrvaçào é
-,.de do aplicár,el a um grancle número cle tarefas; ela é tiinto mais vcrclaclcira
. rrgani- ciuanclo a tarefa é nlxis cornplexa, pois o espaço deixaclo à injciativa é
-l: ' e Unl ilqui, m.ris irnportante.
2) À organização clo traballio, conto disselnos, deteÍüina nào somente a di-
-,ar'ént visào do trabalho, rras tantlrém a divisào clos hotnens. Nesse donínio,
:le ou entre os pilotos de caça, as relaçôes profissionais sào extlemamente co1n-
plexas e se atribui a elas u1l)a parte importante do prazer. As relaçôes en-
tre piiotos, entre chefes dc esquadrillla, de parrulha etc. engairln
processos de identificaçào, rir.aliclaclc, dc exibicionisnlo, uo1tunsntú, qut
oferecem um Icque importute onde se po<1e excrccr c rcalizar clesejo e
prazer. Devc se Ievar em conslderaçào esm obscrvaçào cn] toclas as situa
ções de trabalho, pois cla remete e um selor importante cla carga
psíquica de trabalho, a sxber,:1s relaçÕes humanas, que nào analisaremos
nessa exposiçào, nas que poclem ser estudadas co[r a tltes[ra relevância
que a relação do hoDem com o conteúdo do trabalho.
3) Nlestrro se os pilotos cle caça nào erganizam sua tatefa com tocla liberda-
de, cleve se levar ern consicleraçrio o fato cle que eles escolhcm
livremente este ofício. -lá tcmos insistido sobre esse ponto: a nlotilaçào
no trabalho é um elenento funclamcntalrnente necessírio ao exercício
das missôes; se há uma oscilaçào que se faça sentiÍ na motivaÇào, o pilo
to é automaticamente dispcnsaclo da nissào pelo clrele da csquaclrilha,
que concede uma atençào nluito parlicular a esse ponto. Na lalta cle uma
notir'âçào suficicnte, o piloto se errisce cfctivamenle a se malar. Dcssa
observaçào pocle-se realçar unra regra gerai da rclação à otganizaçào clcr
trabalho: o grau de liberclade da organizeçào do trabalho é sempre corri-
gicta pelo grau de liberclacle na escolha da tarefa. Essa seguncla variável
pocle luncionar no sentido clo acréscirno ou diminuiÇiio d?r carga psíquica
do trabalho. confornte o caso.

Par:r concluir esse capítulo, diremos qlle 2I c2rrgâ psíquice do tr?lbaiho Íe-
sulta cla confrontâÇão do clesejo do trabalh:rclor à injunçào do entpregaclor,
conticlâ na orÉlaniz:iÇào do trabalho. Em gcral, 21 cârge psíquica cle traballicr
2rumenta quando:I liberclacle de orÉJanizàçào clo trabalho dimillui. Essa rcgra
é modulada pelo jogo cla livrc escolha c1o dlcio. A carga psíquica cio trabe-
l)ro é a carga, isto é, o eco âo nível do trebalhaclor d? PÍcssí1u quL- üunstitlrl
a oÍganizaç,Lo clo tr-:rbalho. Quando nio há lnais arranjo possível c1:r org:rni-
zaçào do trabalho pclo trabalheclor, e relaçào conflitu:rl do aparellio psíquico
à tarefa é bloqucada. Abre-se, entào, o dontínio do soÍiimento, sobrc o quel
\râlnos insistir agor:r.

INTERPRETAÇÃO OAS PROPRIEDADES MODI]IADORAS


DA CARGA PSÍQUCA DE TRABAIHO

Se:r orgrnizaçaro do tr:rbalho é percr:bida corlto fonte da cilrlle PSíqlrica


(l() trxtl'rllio, rest:t encontÍer Llln1L cxplic!1çào clo pepcl ntocluleclor cle c:rtgr
psíquicâ sobr,: os outros setores (l:l ctÍÉJa cle traballto. A carge psÍcluica cle
tÍabelho p'.rrece ter Llln .s/drll.\-à parte. Iila nào é Lrnt cotrPartittlento justllpos-
to à caIga 1ísica e à cai'l]1 ner\-os:1, na tuc-clide erl] qLle ela é clpirz cLc

2a
--
! '. :- .i cn- modificâr, em Lrm sentido oll outro, a resultânte global da carga de trabalho.
fe! - .l:l m
ix Essa propriedade da carga psiquica nào é tào misreÍiosâ qlranto se possâ
F- .. (luc
acreditâr e se explica à luz da teoria e cla clínica psicossomática (Marty,
tsr- .t". M'Uzan, L963).
b- -rLuJ-
16- , ..,'g"
,,:l:
l-. A Clinica Normal

Sabe-se que a angústia e emoçào, por exemplo, que são âfetos psíqui-
cos, possllem traduçôes somáticas: as palpitaçôes, a hipertensào arterial, os
H- :il tremores, os suores, âs parestesias, âs càimbras, a desidratâçào clas ntucosas,
a hiperglicemia, o aumento do cortisol sangüíneo, a poliúria sào as maniÍês-
tâçôes mais fÍeqüentes (Dunbar, Wolfe, Rioch, 1936). Essas observaçÕes
E,.,iil
I-" ',,. clínicas mostram bem que há uma circulação entre os setores psíquico e so-
- mático. Essa propriedade é utrlizada pelos ergonomistas quando medem a
E- ,:1,
',r
arritmia sinusal, o registro do pestanejâr das pálpebras, o eletrontiograma etc.
em diÍêrentes situâçôes de trabalho, pata avaliar â caÍgâ menta.l (Monod, Lil-
le, 79f6,45).
O rnedo. a angr'rstia no trabrllro. nras também a frusLraçào e a agressivi.
dade, poclern aumentâr as cargas caÍdiovasclrlares, ntusculares, digestivas etc.

E- i, .,)
O Sofrimento

Quanclo o Íeârranjo cle oÍganizâÇiio do trabalho nào é mâis possível,


quanclo a relação do trabalhador com â oÍganização clo trabalho é bloquea-
da, o sofrimento começa: a energiâ pulsional que não acha clescarga no
exercício do trabalho se acumula no aparelho psíquico, ocasionando um
sentinento de desprazer e tensào. Mas a clínica flrostra que essâ energia nào
pode aqui pennâneceÍ muito tempo e, quando às capacidades cle contençào
sào transbordadas, a energia recua pâra o corpo, nele desencadeando certas
penurbaçôes que nào sào profundamente diferentes das que acabam de ser
f{s clescritas como testemunhas da angústia ou da onda de agressiviclade. São
somente mais intensâs. Nada espantoso, nessa óticâ, que a fadiga, mesmo se
ela resulta çle uma carga psíquica excessiva, tenha umâ tradução solrlática.
Em ruz^o dessa diftrsão cla carga psíquica nos outÍos compartimentos do
organismo, nào é útil procurar traços que caracterizariâm a íadiga psíquica
ou nervosa, em relação à fadiga física. A.fddiga é rmxa. testenuu'tha nCkt espe-
cíÍica da nbrecarga que pesa sobre unt olr outro clos setores do organismo
psíquico e somático. Esse princípio d.e difu.sao é váliclo nos dois sentidos: a

29
-
ceÍga psíquicâ pode ter traduçÔes visceÍais ou musclllaÍes, mâs o inverso é
veÍdadeiro. Para compensar uma facliga física, o aparelho psíquico também é
impelido a contribuir, através dâ vontade, por exemplo, a tal ponto que fi-
nalmente não existâ fadiga somática que nào tenha, simultaneamente, uma
tradução psíquica. Isto é um fato bem conhecido em clínica húmana (De
jours, 1978).

A patologia cünica
Para voltarmos à carga psíquica, vimos que todo excesso conduzia à
apâÍiÇào da facliga e do sofrimento. Se uma interrupçào clo trabalho não vem
inteÍromper a evoluçào do processo, se nenhuma modificação da organiza
Ção do trabalho intervém, entào a fadiga desencacleia â pâtologia.
Duas moclaliclades são aqui possíveis em função cla estÍLrtr.lÍa ntental: a
descompensaçào psiconeurótica ou a descompensâçào somática. Â sobrecar-
ga psíquica produzirá um clelírio, se se trata de uma estrutura psicótica; uma
depressão se se trata de uma estrutura neurótica, ou uma doença somática se
se tratâ de uma desorganização mentâl (Marty, no prelo).

CONCLUSÃO

À relação do homem com â organização do trabalho é a origem cla car-


ga psíquica do trabalho. UÍna organizzçào clo trabalho autoÍitária, que nào
oferece uma saída apropriada à energia pulsional, conduz a um aumento da
carga psíquica.
Para terminar sobre uma nota mais alegre, claremos um exemplo inverso
em que o trabalho pocle ser fonte de equilíbrio paÍa a econonla psicossomá-
tica. Trâta-se de um doente acometido por diat:etes insulino-depenclente.
Chefe do almoxarifado, ele coloca ardorosamente â nrão nâ nrassa com seus
subordinados, embora nada o obrigue. Em função cle seu cargo de contrâ-
mestre, ele se beneficia de certa liberdade na organização cle seu trabalho e
prefere juntar a atividade física àquela do comanclo. Como a maioria clos clia-
béticos insulino dependentes, ele apresenta Lr Ína estrutura de neurose de
comportâmento (Dejours, 1976), do qual falamos no início dessa comunica-
çâo, isto é, ele usa sobretudo seu sistema sensoriomotor para descarregar sua
energia pulsional, ao invés cla via mentâl clos fantasmas, qr.re nele não ftrncio
na bem.
Tudo caminhava bem nos planos mentâl e somático quando ele cede à
insistente pressão de sua mulher, que dirige um salão cle cabeleireiro, e de

30
.-. crso é -: --s anliÉlos.(lomo numa cidadezinhr de província, o trabalho m:rnu:rl n;ro ó
-:lllóm é 1- -:tro r,â1oriz:141o, ele aceita uln c:lrgo nrâis respeit,lvel numa companhi:r cle
- que fi r.-.tlrros. Em seu escÍitóÍio, o pobre liomern nào d,r conta. Não por incompe-
:::rci:I, rrles porque â posiçao sedentári:r lhe é insuport,lvel c cle tern uml
-raessi(ladc urgentc de se utilizar de seus rnembros, para dcscarregar sua
:::slio intcrnl. E1e tentâ coÍnpen\.1r ts cois:s se rnsareYenclo em um clube
-- futebol. Mas surls necessidades nào são i1í setisÍêitas. E e1e cleve pollco a
: - 1co passar um núrmero cede r.ez m:rior cle hores, :r cacla di'.i e cllrrante os
:.ft-s de senlan21, parâ dxr contx do trabalho. Finalmente, ele p:rss2l e dirigir
:.'.úle esportivo, mas assin fàzcnclo clc tcmc cacla vr:z rnais seu escritólio,
- -.uzia à :-:lt os processos se :lcumul:tr-tt inexol:tvelrnente, apes2tr cle sue prcscnça
- -.tl \:el]l :::.r\-:L e cle seus esÍ'orços reais. Aclivinh.t-se sLra Iâcliga, mas se corlpreenclc
::en i z:t : ele não possa renuncilr ao espoÍte. Nesse pÍocesso, aos poucos, e1e en
.::,lece bÍutalmente. Por ocesiào clc url:r liipoglicc.rnia, cntr:r cm Llll] pro-
..:o c1e "dcsorganrztçao ps icossotnáttica" (Mârty, 1976) agucla clue rcsulta,
::lt:l1: :l
- iln:rl de :rlgum:rs horas, em urna confusào mental. Ele se pôe c1e c1u:rtro,
)r ecilr
:r-rcea a nutriÍ-se c1e plantas vercles e deve scr conduzido ao hospital psi
. Lllt-)2
-::irrico crr Llm est2rclo alarnante, t2lnto do ponto cle vistâ ment2l quant()
-lical se
.::-. rel:rçào ao cliabetes.
Quando esse doente foi conduziclo à rt.tinh:r consulta, ele estl\,:l iniprcla
-..:o de forte dose c1e neurolépticos, tnas a ansiecllcle pcrsisLrr c j ness-r§
:.diçôes, a glicemia pernlanecia incontrolá\,el. Um:1 \.ez cluciclaclo o conl-li
'--nlre 21 oÍgenização do tÍabelho e1n seu nolro enlpÍego e rs necessiclzrcies
: :u:l econonüa psicosson,rtica, ioi dcciclido (lllc clc retoneriír scLr entigo
- - l'-t clt r . ::o cle limoxarife, o que foi felizmente possíve1 nrxteri:rlnrente. Tr'ês clias
--a nai() ,:. t:rrcle e1e tinha retom.xl() o trebalho, tinha ccssado tocla absorçào cle
- :1tO c1il ::licamentos e, após três:rnos sci tenho boas notíci:rs clele.
Eis un exerlplo que mostn que nào se pocle lirttiter a anárlise cia rcla
:l\1lISO -., cntre o aparelho psíquico e â organiz,rçào do trabalho:r unr clesses clois
- sol ttít - :.:r'.os. U l trabalho intelectual pocle se revelar m:ris patogônico que unl trâ
.:-llet.tlc. .:-.o manull, por exemplo. lsso é que nos leva 2l crer alue nJo existe Llln.l
::1 SCLIS
-. :l orgânizaÇào clo trab:rlho, que seria a boa soluçào para clitrinuir e cerga
: --Llntf :1 : :uica cle tr':rbalho cle toclos os trabalhaciores.
. .-rllro r:
Por olrtro lacio nào se poclc jamais inplrtar o aumento cla c;Lrg:r psíqr,Lica
: rs dia-
, :stÍLltllr2l cla personaliclacle clo trabalhaclor, pois nosso (loente, se for inca
: -z de se satisfazer através cie um trabelho intelectuel, rlostÍa-se contuclo
r - ::icu llrÍnente apto â ull trab:rlho flsico. O estudo da cârgr1 psíquic.r de tra
-.:io procecie caso por caso. Nào há uma soluçào gcr:ri pare ciirninuir :r
-.:.ca psíquic:I do treballio.
Irârâ tr2lnsformâr um trabalho fetigante eln um trabâlho equilibrante pre
- .:ecle à
-...r-se Íicxibilizar a organizaçào do tralra)lto, cie moclo a deix:rr maior libcr
: -_,. C Cle

37
dade ao trabalhador pâÍa reârÍâni2lr seu modo opeÍatóÍio e para encontrar os
gestos que são capazes de lhe fbrnecer prazer, isto é, uma expansào ou uma
climinuição de sua carga psíquica de trabalho. Na falta cle poder assim libera-
hzx t orgauzação clo traballto, precisz.se resolver encarar uma reorientxçào
profissional que leve el1] conta as âptidôes do trabâlhadór, as necessjdacl€s
de sua eqonomia psicossomática, não de cefias aptidôes somente, mâs de to-
das, se possível, pois o pleno emprego das aptidôes Psiconotoras, psicos
sensoriâis e psíquicas paÍece ser uma concliçào de pra'zer clo trabalho.

BIBLIOGRAFIA

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