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Organizadores:
Tereza Cristina Peixoto
André Moura Gomes da Costa
Igor Campos Viana
Liz Pereira Costa
Maria Mônica Gomes Divino
Thiago César Carvalho dos Santos
Caderno de resumos
I Encontro de Esquizoanálise na UFMG
a dobra
Belo Horizonte, 2023
Comissão Organizadora do I Encontro de Esquizoanálise na UFMG
Tereza Cristina Peixoto
André Moura Gomes da Costa
Bianca Rodrigues Oliveira
Gabriel Lucas Baessa Dias
Gabriella Sabatini Oliveira Dutra
Igor Campos Viana
Jailane Devaroop Pereira Matos
Johnny Vinicius Freitas
Liz Pereira Costa
Maria Mônica Gomes Divino
Rafael Costa Coelho
Thiago César Carvalho dos Santos
ISBN: 978-65-00-83372-0
CDU: 616.895
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Meire Queiroz CRB 6/2233.
Sumário
GT 1 CARTOGRAFIAS ESQUIZOANALÍTICAS ............................................................. 5
´8PVRQKRHPFDGDFDQWRµFRQWUDFRORQL]DQGRYR]HVFRPMXYHQWXGHVSHULIpULFDVHPVXDVWUDPDVLPDQHQWHVFRP
as artes ....................................................................................................................................................................................... 6
A produção diarística como estratégia de análise da implicação em cartografias ............................................................. 9
As relações familiares de presos e presas LGBTQIA+: uma pesquisa cartográfica ....................................................... 12
Bordando experimentações e aproximações entre biologia e cultura............................................................................... 15
Onde estão os manicômios e suas saídas? Uma cartografia de experiência de estágio em um CAPS-III de Minas
Gerais ....................................................................................................................................................................................... 17
´8PVRQKRHPFDGDFDQWRµFRQWUDFRORQL]DQGRYR]HVFRP
juventudes periféricas em suas tramas imanentes com as artes
Resumo:
A presente apresentação refere-se a uma pesquisa em andamento que pretende acompanhar as juventudes
periféricas em seus processos de criação nas oficinas de música, dança e teatro realizadas em projeto social,
na região metropolitana de Belo Horizonte. Partimos da Esquizoanálise, proposta por Deleuze e Guattari e
seus interlocutores, dialogando com leituras contracoloniais.
A partir de uma perspectiva rizomática, tendo como referência Deleuze e Guattari (1995), compreendemos
que a realidade é produzida em uma composição de multiplicidades heterogêneas, que tenta romper com as
unidades absolutas, com a linearidade, com a totalização. Há criação em cada canto. Há vozes ecoando seus
timbres que entranham, perfuram as hegemonias sonoras de quem é autorizado a dizer e é escutado. E esta
criação não está separada das condições de existência e, por vezes, é impedida, desautorizada, criminalizada.
Sendo assim, é importante nos questionarmos: estaríamos visibilizando ou explicitando as diferentes formas
de engajamento e participação dessas juventudes periféricas? Como percebemos estas juventudes, em seus
modos de subjetivação que escapam às existências hegemônicas brancas-burguesas-hetero-cis-patriarcais-
universais? Como as instituições que os recebem os tem sonhado? Como eles vêm inventando em seus
territórios existenciais? Como anelar sonhos, bem como nos convida Conceição Evaristo (PROTEJA, 2021),
de modo a pensar constelações-coletivas que protejam seus sonhares e provoquem, instiguem, façam-passar
RXWURVPRGRVGHYLYHUQRPXQGRGHDJRUD´QRYRVHVWLORVGHYLGDSURGXWLYR-revolucionário-desejantes, novas
XWRSLDVDWLYDVµ %$5(0%/,77S TXHproduzam dribles aos tentáculos coloniais (CUSICANQUI,
2021) e inventem seus encantamentos (SIMAS & RUFINO, 2020), explicitando suas fugas das capturas das
lógicas coloniais-capitalísticas (ROLNIK, 2018)? É a partir de minha experiência de trabalho enquanto
1 Artista-musicista-educadora, mestranda em Psicologia Social pela UFMG, psicóloga pela PUC Minas. Educadora
Musical no Origem Instituto. Investiga os processos de subjetivação em contextos periféricos, traçando pontes entre
a Esquizoanálise e teorias decoloniais/contracoloniais. E-mail: mariamoonica@gmail.com
2 Docente adjunto do departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Membro do
Laboratório de Grupos, Instituições e Redes Sociais (LAGIR/UFMG). Graduada em Psicologia pela Universidade
Federal de Minas Gerais; especialista em Psicologia Hospitalar, em Saúde no Trabalho e apoiadora do HumanizaSUS.
Mestre e doutora em em Saúde e Enfermagem pela Universidade Federal de Minas Gerais, com doutorado sanduíche
na Universidade de Lisboa, Portugal. Pós-doutorado em Psicologia Social pela Pontifícia Católica de Minas Gerais.
Tem experiência em Psicologia Hospitalar, em Humanização e Educação em Saúde, Saúde no trabalho, Intervenção
Psicossocial e Organização dos serviços de saúde. E-mail: terezacpc@hotmail.com
1 Doutora em Psicologia, especialista em Filosofia Contemporânea e psicóloga pela PUC Minas. Se interessa por práticas
de pesquisa e intervenção em processos de subjetivação no âmbito de políticas sociais, no trabalho e partir do diálogo
com produções audiovisuais e literárias. Sua interlocução se dá a partir da esquizoanálise, dos estudos de Foucault, do
feminismo negro e decolonial. E-mail: bcoutinho.psi@gmail.com
2 Artista-musicista-educadora, mestranda em Psicologia Social pela UFMG, psicóloga pela PUC Minas. Educadora no
Origem Instituto. Investiga os processos de subjetivação em contextos periféricos, traçando pontes entre a
Esquizoanálise e teorias decoloniais/contracoloniais. E-mail: mariamoonica@gmail.com
Resumo:
Esta pesquisa propõe discutir as relações familiares de presos e presas LGBTQIA+, explorando as conexões
entre os temas família, heteronormatividade e prisão. É imprescindível analisar as relações de gênero e
sexualidade das pessoas que fogem da heteronorma, numa tentativa de compreender a vivência destas pessoas
ao chegarem e habitarem as prisões. Dessa maneira, o projeto tem a proposta de investigar, analisar e
compreender as relações familiares dos presos e presas LGBTQIA+, bem como os processos de subjetivação
que perpassam esse meio.
A partir disso, as contribuições de Costa e Foucault permitem traçar um esboço com o intuito de
compreender a família moderna e como esta se configura num percurso histórico. Assim, a noção da família
na qual se criam e se sustentam laços entre as pessoas, bem como um certo cuidado com a higiene, a saúde e
a educação, são frutos de uma produção histórica. Nesse sentido, não existe uma natureza para a família.
Portanto, a concepção de família será aqui entendida a partir das relações de poder que permeiam o ambiente
familiar, bem como a sociedade como um todo. Além disso, alguns conceitos foram fundamentais na
composição das análises. Assim, as tecnologias de poder (disciplinar e regulamentadora), a biopolítica, a
norma, a heteronormatividade e as performances de gênero e parentesco compuseram parte da base teórica
a fim de fundamentar o escrito.
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HP'LYHUVLGDGH6H[XDOHGH*rQHURµHVHSURS{VDLQYHVWLJDUDVUHDOLGDGHVGRVSUHVRVHSUHVDVTXHID]HP
1 Graduando em Psicologia na Universidade Federal do Espírito Santo. Bolsista do Programa de Educação Tutorial
(PET) - Psicologia UFES. Possui interesse pelas áreas de Clínica Psicanalítica, Psicologia Institucional, Políticas
Públicas e Direitos Humanos em Diversidade Sexual e de Gênero. E-mail: mateusoares00@hotmail.com
2 Professor Adjunto no Departamento de Psicologia e Professor Permanente no Programa de Pós-Graduação em
Psicologia Institucional da Universidade Federal do Espírito Santo. Possui Graduação em Psicologia (2008), Mestrado
em Psicologia Institucional (2011) e Doutorado em Educação (2016) pela Universidade Federal do Espírito Santo.
Atua principalmente nos seguintes temas: Diversidade Sexual e de Gênero, Sistema Prisional, Clínica Transdisciplinar,
Análise Institucional, Narratividade, Filosofia da Diferença, Ética na Psicologia, Direitos Humanos, Biopolítica,
Análise da Atividade de Trabalho. E-mail: zambonijesio@gmail.com
3 Graduada em Psicologia pelo Instituto Educar Brasil Faculdades Doctum de Serra (2021). Mestranda em Psicologia
Institucional pela Universidade Federal do Espírito Santo (Início 2022). Bolsista CAPES. E-mail:
bellaventuroti@gmail.com
Resumo:
(VVHUHVXPRSDUWHGHH[SHULPHQWDo}HVSURYRFDGDVDSDUWLUGDGLVFLSOLQD´%LRORJLDH&XOWXUDµRIHUWDGDSHOD
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), local em que realizamos nosso estágio-docência e que
constantemente é casa para nossas divagações e produções. Em linhas-cortes-atravessamentos desejamos
transgredir, bordar, costurar, ocupar as fronteiras entre biologia e cultura para borrá-las e fazer emergir outras
narrativas, histórias e sonhos que por vezes não são contados e visibilizados em nossas práticas de ensino.
Num constante devir, as aulas de Biologia e Cultura nos impulsionam a pensarmos outros lugares para a
nossa formação e para o modo como a Biologia nos produz. Nesse recorte procuramos pensar no primeiro
dia de aula da disciplina, onde os alunos são convidados a bordarem seus nomes numa grande toalha de mesa
DSDUWLUGRWH[WR´)LWDYHUGHGHH[SHULPHQWDomRµGH'DYLQD0DUTXHV &RQVLGHUDPRVRSURFHVVRGR
bordado como um processo de escrita, sempre inacabado, inconcluso, em devir, sendo passagem de vida
(DELEUZE, 1997), espaço para circulação de desejos, de sonhos e de outras possibilidades em se pensar a
Biologia no hoje. Ao bordarmos, imaginamos outras histórias para a Biologia que nem sempre é aquela
vinculada aos discursos hegemônicos da FLrQFLDGLWD´WUDGLFLRQDOµPDVTXHpIHLWDQDLQWHUFHVVmRYLGD-cultura-
DUWH2UQDPRVFRPDVDJXOKDVOLQKDVGHHVFULWDV´TXHVHFRQMXJDPFRPRXWUDVOLQKDVOLQKDVGHYLGD>@OLQKDV
que criam a variação da própria linha de escrita, linhas que estão entre as linhasµ '(/(8=(*8$7$55,
2004), problematizando a Biologia, olhando com olhar de desconfiança para essas narrativas acomodadas que
nos produzem e nos propondo a pensar a disciplina pelo entre linhas para refletir sobre o todo que é um da
educação (MARQUES, 2008). O bordado é rizoma abrindo caminhos para outros modos de pensarmos a
ciência em nossos dias, é como mato que cresce por entre as brechas, mas aqui com agulha e linha. O
bordado-rizoma faz pensar para além dos dualismos, constrói mapas experimentando o real, a vida cotidiana,
o inconsciente por ele mesmo, descoloniza os pensamentos através da multiplicidade, da coletividade que
aparece como arte, como performance, como ação política, como meditação (DELEUZE; GUATTARI;
E-mail: keymelourenco@gmail.com
3 Professora do Instituto de Biologia e do Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade Federal de
1 Estudante de graduação em Psicologia pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Atua em estágio
institucional não-obrigatório no Centro de Memória Professora Batistina Corgozinho (CEMUD). Extensionista
voluntária do Núcleo de Projetos de Apoio Psicossocial a Estudantes (NUPAPE), cadastrado no Diretório de
Pesquisas do CNPq (09/2020). Bolsista de iniciação científica pelo PIBIC/CNPq/UEMG (Edital nº 03/2022) entre
outubro de 2022 e junho de 2023 com a pesquisa ´*UXSRV de Trocas de Vivências como Dispositivo de Promoção
de Saúde Mental de Estudantes: narrativa cartográfica de experiências com o cuidado e apoio psicossocial no cotidiano
XQLYHUVLWiULRµ Militante da luta antimanicomial, associada à ABRAPSO - Associação Brasileira de Psicologia Social.
E-mail: isapeixoto.psi@gmail.com
2 Estudante de graduação em Psicologia pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Extensionista
mestrado em Psicologia Social / UFMG (2002) e doutorado em Conhecimento e Inclusão Social em Educação /
UFMG (2012); especialização em Psicologia Comunitária pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB (1981);
Formação em Análise Institucional pelo Instituto Félix Guattari / BH (1998). Professora efetiva da Universidade do
Estado de Minas Gerais - UEMG, desde agosto/2021, onde coordena o Núcleo de Projetos de Apoio Psicossocial a
Estudantes (NUPAPE), cadastrado no Diretório de Pesquisas do CNPq (09/2020). Atualmente, coordena Projeto de
Extensão com equipe de estudantes negras e o Grupo de Trocas de Vivências Negras (GTVN), com apoio do
PAEx/UEMG/2023. Associada à ABRAPSO - Associação Brasileira de Psicologia Social; ABRASCO - Associação
Brasileira de Saúde Coletiva; ABPP- Associação Brasileira de Psicologia Política. Experiências como pesquisadora -
UFMG/ FAFICH / Núcleo de Estudos Sobre Trabalho Humano, UFMG/ FaE/ Núcleo de Estudos sobre Trabalho
e Educação, UFMG/ FM/ Núcleo Promoção de Saúde e Paz; como professora em cursos de graduação e pós-
graduação em diferentes Instituições de Ensino Superior. como consultora / assessora junto ao SUS / Política
Nacional de Humanização e movimento sindical; atuando principalmente nos seguintes temas: grupos e instituições;
saúde coletiva; trabalho e ergologia, humanização do SUS, saúde mental antimanicomial e direitos humanos; psicologia
antirracista; psicologia e gênero; violências contemporâneas. E-mail: ana.trajano@uemg.br
4 Psicóloga (CRP 04/28.914), professora e pesquisadora. Doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, com período sanduíche na Argentina (Universidad de Buenos Aires) e Pós-Doutorado em
Estudos do Lazer na Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Psicologia Social pela Universidade do Estado
do Rio de Janeiro. Atua como professora designada no Departamento de Psicologia da Universidade do Estado de
Minas Gerais. É pesquisadora no Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas (GEFuT/UFMG), atualmente vice-
líder do grupo, no qual se dedica a estudos sobre o futebol, relações de poder e produção de subjetividade. Participa
da produção do Programa Óbvio Ululante na Rádio UFMG Educativa e também do Grupo de Estudos e Pesquisas
em Psicologia Social do Esporte (GEPSE/UFMG), sendo uma das fundadoras do grupo. Integra o Núcleo de Projetos
de Apoio Psicossocial a Estudantes (NUPAPE/UEMG) e também o Grupo de Trabalho Esporte Cultura e Sociedade
do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (CLACSO). E-mail: marinamattos@gmail.com
Resumo:
Ao longo da história, a loucura foi vista através de diferentes perspectivas que sofreram influências de suas
épocas. Entre estas formas de se ver o louco, esteve aquela que olhou para ele como um antagonista da razão
e, por esse motivo, utilizou-se deste fato para corroborar no aprisionamento, exclusão e aniquilação do louco.
Um exemplo disso é o Hospital Colônia de Barbacena, que aniquilou mais de 60 mil pessoas. Nesse sentido,
observa-se nestas práticas o que o filósofo camaronês Achille Mbembe chamou de ´QHFURSROtWLFDµRXVHMD
SROtWLFDVGHPRUWHTXHYLVDPFULDUIRUPDVGHPDWDURV´FRUSRV-OL[Rµ&RPDUHIRUPDSVLTXLiWULFDVXUJLUDP
os serviços substitutivos, que visam reconstruir física e ideologicamente as formas de ver e ser do louco.
Entre esses serviços, inscrevem-se os CERSAMs e os Centros de Convivência, que usam de oficinas artísticas
para (re)construir novas potências e formas de estar no mundo e de existir. Sendo assim, objetivamos, com
este trabalho é compreender a partir das ferramentas esquizoanalíticas, de que forma a arte, inserida nos
CERSAMs e nos Centros de Convivência, pode fazer resgatar as subjetividades, como forma de subversão
dos processos mortíferos manicomiais. Para tanto, será elaborada uma pesquisa bibliográfica com revisão de
literatura que se debruce para investigar o objetivo supracitado.
Resumo:
O Sistema Único de Saúde é um campo social complexo. Cuidado, gestão, educação, pesquisa e política estão
em articulação permanentemente atualizada pelos acontecimentos e pelas transformações sócio-históricas.
Na atual sociedade neoliberal, as políticas públicas sofrem desfinanciamento sistemático e o processo de
trabalho se torna intensificado, precarizado e fragmentado, alimentando modos de vida individualistas e
meritocráticos, em detrimento de práticas coletivas e solidárias. No Brasil, a ascensão conservadora em
diversos segmentos sociais e o recrudescimento da força política de extrema direita fragilizaram as bases de
proteção social e legitimaram a violência contra populações minorizadas.
Em meio a isso, emerge o interesse em analisar como ficam as atuações políticas dentro dos serviços de saúde
que são permeados tanto pela história e políticas públicas de participação social quanto pela racionalidade
empreendedora neoliberal. E, inclusive, como operar a intervenção socioanalítica nesse caldo social.
Diante disso, foi formulado um estudo com o objetivo inicial de analisar as intervenções que utilizam o
referencial da AI nos serviços públicos de saúde no Brasil, com ênfase na dimensão política dessas práticas e
nassuas criações.
A pesquisa foi traçada em duas frentes: I) Pesquisa bibliográfica das intervenções realizadas em unidades,
redes de serviço e/ou grupos de trabalho na área da saúde, publicadas entre 2014 e 2021; II) Intervenção com
o referencial da AI em assembleias gerais de quatro Centros de Atenção Psicossocial (Caps) de Campinas/SP,
num total de 55 participações entre outubro de 2021 e julho de 2022, num encontro com usuários/as,
profissionais e gestores/as do SUS. Adotou-se o diário de pesquisa, na perspectiva de Lourau (1993), para
registros e, sobretudo, análise das implicações. Realizou-se, assim, uma pesquisa-intervenção, na qual os/as
SDUWLFLSDQWHV IRUDP FRSURGXWRUHVDV GR FRQKHFLPHQWR FRP R SHVTXLVDGRU HVWDQGR ´QR PHLRµ 'HVWD
posição, ampliou-se as possibilidades para análise das condições de intervenção no período referido, fazendo
SDUWH GR ´JUXSR GH LQWHUYHQLHQWHVµ 1D LQWHUYHQomR H[SHULPHQWRX-se três estratégias: 1) sustentar o
inacabamento: a considerar a necessidade de manter-se aberto em um mundo em permanente transformação
1 Psicólogo, doutorando e mestre em saúde coletiva pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de
Campinas. Membro do Diretório de Pesquisa CNPq Análise Institucional e Saúde Coletiva. E-mail:
dvannucci@gmail.com
2 Socióloga, professora associada (livre-docente) aposentada da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual
Resumo:
O projeto em pauta busca utilizar como operadores de análise elementos teóricos na obra de Gilles Deleuze
e Félix Guattari que ofereçam um modo de experimentação esquizoanalítica como ferramenta para o
exercício de uma psicologia clínica de atendimento individual em consultório. Trata-se de uma pesquisa
intervenção, considerada como um plano de coemergência de pesquisador/analista e campo empírico. A
intervenção se efetiva por meio da construção do seu objeto, ao mesmo tempo em que se constitui no
momento de intervenção, tornando-se parte do processo investigativo. Dessa forma, a separação entre
analista e analisando é subvertida e tomada como processos de subjetivação não dados a priori. A partir dessa
perspectiva e na tentativa de construir um processo de análise das práticas em consultório de profissionais do
campo da psicologia, esta pesquisa-intervenção está sendo realizada a partir de atendimentos individuais em
consultório de uma Universidade Pública.
Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1975), mestranda em Psicologia Escolar pela Universidade
Gama Filho (1980) e doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1995). Possui pós-
doutorado em Saúde Pública com ênfase em Saúde do Trabalhador da Educação (2001) e pós-doutorado em Saúde
Coletiva na Universidade Federal Fluminense (2016). Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Política
Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, análise institucional, saúde coletiva, trabalho e
escola. E-mail: betebarros@uol.com.br
6 Graduanda em Psicologia na Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: pferrariotraba@gmail.com
7 Graduanda em Psicologia na Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: sofia.gomes@edu.ufes.br
8 Graduanda em Psicologia na Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: thalita.m.reis@edu.ufes.br
9 Graduando em Psicologia na Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: vinicius-pacifico@hotmail.com
Caroline de Souza1
Roberta Carvalho Romagnoli2
Ana Elisa de Paula Camargo3
Resumo:
Este estudo tem como tema o acompanhamento familiar realizado pelos técnicos operadores do Sistema
Único de Assistência Social (SUAS). Com a Constituição Federal de 1988, a proteção social reconhece direitos
sociais universais, garantindo cidadania e responsabilidade do Estado na cobertura e no acesso. A política de
assistência social passa a ser responsável pela oferta da proteção social pública não contributiva, na forma de
renda, programas, projetos e serviços, dando acesso a serviços sociais, oportunidades, defesa dos interesses e
necessidades sociais dos segmentos mais vulneráveis, atuando junto às famílias e nos territórios. As ações do
SUAS baseiam-se na matricialidade, que coloca a família como matriz, sustentáculo das suas políticas, espaço
privilegiado e insubstituível de proteção e socialização primárias. Nesse contexto, pretendemos investigar as
práticas e metodologias de trabalho dos técnicos nos equipamentos dos Centros de Referência da Assistência
Social (CRAS) e do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) no município de
Poços de Caldas. Especial atenção será dada às formas de intervenção que possibilitam o acompanhamento
familiar proposto no Serviço de Proteção e Atendimento a Famílias e Indivíduos e no Serviço de Proteção e
Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos, destacando as práticas que produzem autonomia às
famílias vulneráveis e a produção de novos processos de subjetivação. Para tal, essa pesquisa utiliza a
metodologia da pesquisa intervenção que busca romper com as dicotomias teoria-prática, sujeito-objeto,
articulando pesquisador e campo de pesquisa visando à geração de conhecimento e ação, uma vez que a
proposta é de atuação transformadora da realidade. Tem ainda como marco teórico a Esquizoanálise de
Deleuze e Guattari, que sustenta a complexidade e a processualidade da realidade, através da sustentação em
rede, em um funcionamento rizomática das dimensões macropolíticas e micropolíticas.
Palavras-chave: SUAS; CRAS; CREAS; Acompanhamento Familiar; Pesquisa-intervenção; Processos de
Subjetivação.
1 Psicóloga, Doutoranda em Psicologia pela PUC Minas, Mestre em Psicologia pela PUC Minas, pesquisadora da
FAPEMIG. E-mail: carolinedesouzapsi@yahoo.com.br
2 Doutora em Psicologia pela PUC-SP, professora do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Pontifícia
Resumo:
Este artigo é decorrente da realização de oficinas de teatro em uma escola, como estratégia de promoção da
saúde mental, com o objetivo de investigar o uso de exercícios e jogos teatrais voltados à performatividade
como poética guia para técnicas psicológicas grupais, com o intuito de provocar a produção do Corpo sem
Órgãos. As oficinas foram analisadas a partir da discussão sobre O Que Pode um Corpo, por Spinoza,
Máquinas Desejantes, por Deleuze e Guattari e da relação instituição-corpo.
Utilizamos o dispositivo oficina afim de provocar novos modos de subjetivação, proporcionando acesso a
técnicas artísticas como instrumento de comunicação, visando além da expressão, a inserção social. Nesse
sentido, sendo a oficina um espaço de encontro de corpos diversos, tem-se o intuito de movimentar, a partir
do teatro, aspectos e estados corporais que vão além da reprodução realista, buscando produzir novos
processos e intensidades (HUR; VIANA, 2016). Além das práticas corporais, houveram rodas de conversa
ao final de cada exercício, para que fosse elaborado também por via da fala aquilo que oprime o corpo.
Um corpo vive sua potência na medida que é afetado (SPINOZZA, 2009), sendo assim, buscamos mapear
os afetos que aumentam nossa circulação de desejo, nossa potência de agir na cadência dos nossos desejos,
bem como nossas Máquinas Desejantes. Além disso, a arte, de modo geral, tem potencial para ser uma
Máquina de Guerra, sendo que esta vive em relação de devir e precisa de um espaço liso para que possa
escorrer sem que seja capturada, a utilização das artes do corpo ativam vias corpóreas de fluxos e devires em
diversas intensidades, pois o trabalho intensivo com o corpo libera outros corpos que vivem em mim, numa
tentativa esquizo de expansão e mergulho na multiplicidade.
O teatro, de modo geral, funciona como um aglomerado de máquinas, que se acoplam num rizoma e, às
vezes, solucionar um problema por meio da dramaturgia, a serviço do funcionamento da máquina cênica,
pode inibir as inúmeras possibilidades de subjetivação. Os jogos teatrais aqui estudados, por sua vez, podem
funcionar como uma máquina de guerra, posto que não há a necessidade de se criar uma narrativa, tendo a
experimentação dos corpos-que-se-tem como o maior dos objetivos. Desse modo, desprendemos o fazer
teatral de algumas de suas ambições dramatúrgicas, para que se fosse possível criar uma máquina de guerra,
se direcionando pela performatividade presente nos jogos teatrais.
1 Psicóloga pela Universidade Federal do Mato Grosso (2022) e multiartista, com pós-graduação em Arteterapia (2023)
pelo Instituto Pedagógico Brasileiro e estudante no Curso Superior Tecnólogo em Teatro (2025) pela Universidade
Estadual do Mato Grosso. E-mail: psiwennijusto@gmail.com
Resumo:
O presente trabalho propõe o diálogo entre os modos de compreensão da vida na perspectiva Iorubá, e o
cuidado no campo da saúde mental, a partir do entendimento de que vivemos em uma sociedade pós
diaspórica, e os desdobramentos disto nos afetam tanto em nossas singularidades como enquanto coletivo.
Compreendemos que nossa sociedade é constituída por estruturas, conceitos e fundamentações que foram e
permanecem sendo pautadas por práticas européias; assim, a maneira como aprendemos a ver, perceber,
sentir e nos afetar pelo mundo é resultante de práticas coloniais que forjam processos de subjetivações
igualmente colonizados.Esse processo histórico que tem produzido epistemicídio, racismo, violência,
desigualdade social, etc, também traz uma enorme limitação em relação ao modo como vivemos a nossa
ancestralidade e compreendemos as nossas formas de existir.
Entender esta perspectiva está para além de somente praticar uma ética sankofa de se reconectar com os
saberes da filosofia de vida Iorubá que tem sido apagada, portanto negada a nós, mas de perceber também
que, como mostra Fanon, o mundo é anti-negro (FANON, 2008) fato esse que nos convoca para a militância
em vários níveis, desde o fronte antirracista mais imediato, passando pelo campo da produção do
conhecimento, até chegar à ponta do cuidado, fortalecimento das políticas públicas, ampliação das políticas
de reparação, etc.
Uma das parceiras importantes neste trabalho, partindo de uma perspectiva decolonial, é Conceição Evaristo,
que ao criar e explicar-nos o conceito de Escrevivência (EVARISTO, 2022), nos convida a pensar sobre novas
formas de nos expressar, e praticar uma escrita fora dos conceitos e modelos já conhecidos no ocidente e
1 Psicóloga, graduanda em Neuropsicologia, pesquisando sauúde mental da população negra no Brasil. E-mail:
anabsoeirol@gmail.com
2 É psicólogo, músico e Mestre em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense, especialista em psicologia e
psicólogo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro com ênfase em psicologia da saúde. É supervisor de estágio em
abordagem transdisciplinar no Serviço de Psicologia Aplicada da UFF, atuando também como coordenador de grupo
no campo das práticas em saúde. É professor de graduação, lecionando e pesquisando o cuidado na sua intersecção
com gênero, racismo e classe. Foi coordenador do curso de Psicologia na Universidade Estácio de Sá (2018-2022), e
psicólogo voluntário por dois anos do serviço de saúde mental da Secretaria de Vitimados (SEVIT) do Governo do
Estado do Rio de Janeiro Atualmente é professor do Departamento de Psicologia de Campos dos Goytacazes da
Universidade Federal Fluminense. Tem experiência na área de Psicologia Social e Pesquisa, produzindo trabalhos
principalmente sobre os processos de subjetivação no contemporâneo, pesquisa-intervenção, tendo recentemente
concluído pesquisa sobre os impactos do racismo na saúde mental da população negra. E-mail:
alexander.motta@gmail.com
Resumo:
´&RQKHoDRWUDEDOKRGHTXHPID]GDYLGDXPDDUWHµ- assim começava a apresentação de um dos
trabalhos propostos por Paulo José de Azevedo: comunicólogo e militante da luta antimanicomial.
Pude conviver com Paulo em diversos momentos, entre eles quando ele planejava organizar o
SURJUDPD ´(ODERUDQGRµ 'RV WHPDV LQLFLDLV SURSRVWRV FRQVWDYDP RV VHJXLQWHV DGRHFLPHQWR
psíquico; mercado de trabalho; disputas de afeto e projeção social. Conflito, preconceitos e exclusão
social; mazelas sociais e familiares. Falta empatia, compreensão, amor, paciência e outras virtudes.
´,W VWKHWHUURURINQRZLQJ
What this world is about
Watching some good friends
6FUHDPLQJ/HWPHRXWµ2.
A canção de Queen e David Bowie (1981) evocada ao longo deste texto age como metáfora para
darmo-nos outra chance a nós mesmas(os), apesar das nossas perdas, insanidades, risos
incompreensíveis ao nosso redor e da pressão de nossos tempos, que insiste em nos fragmentar.
&RPDUWLVWDVHSUDWLFDQWHVGHILORVRILDVVHJXLPRVFRQVWUXLQGRPRGRVGHWUDYHVVLDQHVWHPLOrQLR«
Revisito as ideias deste querido amigo, à medida que busco construir uma espécie de personagem
conceitual, conforme Gilles Deleuze e Félix Guattari (2010) desenvolvem - e com ele contribuir para
reflexões provisórias acerca dos afetos envolvidos no campo da militância em saúde mental,
território do qual faço parte.
«ORYHGDUHV\RXWRFKDQJHRXUZD\RIFDULQJDERXWRXUVHOYHV«
Recentemente, Paulo comentou com uma companheira nossa, talvez já se referindo aos sentimentos
que localizava como de suas crises, que não havia aprendido a lidar com a sua dor. Isso me faz pensar
1 Psicóloga e mestre em psicologia pela UFMG. Especialista em Saúde Mental pela ESP-MG. Doutora em psicologia
pela PUC Minas. Artista da dança. Escritora. Militante antimanicomial e anticapitalista. Nascida em biomas de transição
entre mata atlântica e cerrado. E-mail: tuliolaa@gmail.com
2 UNDER PRESSURE. Intérpretes: Queen e David Bowie. Montreux: Mountain Studios, 1981. 1 disco vinil.
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3 TEMPO DE AMOR. Intérpretes: Baden Powell e Vinicius de Moraes. Rio de Janeiro: Forma, 1966. 1 disco vinil.
Resumo:
Quando começamos a Formação Livre em Esquizoanálise (FLEA) em 2018, ocupávamos uma casa no bairro
Laranjeiras no Rio de Janeiro, enquanto um governo de ultradireita ganhava as eleições presidenciais. O clima
era de desânimo e abatimento em todos, uma neblina cinza e densa parecia que ocupava o país. O sofrimento
sufocante comparecia nos ambientes clínicos. Em meio a textos em espanhol na Formação vinha uma piada
cortante: será que estamos nos preparando para o exílio? Não era para o exílio para o exterior, mas no preparo
para resistir e criar possibilidades de saída daquilo que estávamos vivendo. A Formação, que poderia ser
"aprimoramento profissional", tornou-se grupo de cuidado para além daquela sala, das pessoas que nos
batiam à porta. Nossos estudos eram ferramentas de potencialização vital que utilizávamos nos diferentes
espaços cotidianos. Se o governo já se mostrava como o pior da história brasileira, a pandemia de COVID
19 esgarçou ainda mais as construções de diálogo. O confinamento com quase nenhum apoio institucional e
estatal foi provocando ainda mais sofrimento subjetivo. O imperativo de cuidar da saúde mental aumentou a
busca por espaços de cuidado e a necessidade de se cuidar também do corpo do analista. Mas, como construir
espaços de formação coletiva de forma remota? Em 2021, no término do segundo módulo da FLEA, com o
desejo de seguirmos trabalhando juntas, montamos o Coletivo Intervisão, com a proposta de nos
encontrarmos online, quinzenalmente, para uma supervisão coletiva autogerida. Nesse espaço, trabalhamos
juntas, escutando cada caso levado para o encontro. Casos que atendemos em nossos consultórios, em
Instituições ou na Academia, mas também atravessamentos que nos faziam refletir sobre nossas vidas
1 Psicóloga formada pela Universidade Federal Fluminense, especialista em Saúde Mental pela Prefeitura do Rio de
Janeiro e esquizoanalista pela FLEA. Atua como psicóloga clínica de forma individual, em grupo e com casais. E-mail:
izabeltm@hotmail.com
2 Atua como psicóloga clínica e institucional. Tem graduação e mestrado em psicologia pela universidade federal
Fluminense, título de especialista em promoção da saúde e desenvolvimento social pela Fiocruz e esquizoanalista pela
FLEA. Possui interesse e experiência na discussão de metodologias de pesquisa-intervenção participativas e saúde
pública. E-mail: juliaflorcarvalho@gmail.com
3 Psicóloga clínica e Institucional, formada pela Universidade Federal Fluminense, especialista em Saúde Mental pela
Prefeitura do Rio de Janeiro e esquizoanalista pela FLEA. Coordena o coletivo Teia Acolhida, grupo de estudos,
acompanhamento e supervisão de psicólogos clínicos. E-mail: jugfgomes@gmail.com
4 Psicóloga, Esquizoanalista e Professora Associada do Departamento de Psicologia e dos Programas Pós-Graduação
em Psicologia e Educação Agrícola - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ. Doutora em Psicobiologia
e Pós-Doutora em Clínica Médica ² USP/Ribeirão Preto e em Neurociências - PUC-Rio. Supervisora de Estágio e
Pesquisadora em Psicologia. E-mail: lurocinholi@gmail.com
Resumo:
O ano era 2022, o espaço era a formação livre em esquizoanálise (FLEA). Nesse tempo-espaço, nos
encontramos com uma inquietação: como escrever um prontuário em uma prática clínica que se inspira na
esquizoanálise? Nós, ambas psicólogas de formação, tínhamos uma obrigatoriedade e um modelo a ser
seguido em nossas práticas: a resolução 001 de 2009 estabelece um modelo de prontuário que deve ser
mantido em nossa posse durante o tempo mínimo de 5 anos. Nesse modelo, compreendemos uma política
de narratividade representacional, que se orienta por uma perspectiva de neutralidade e tecnicidade no
encontro clínico. Porém, pensando numa prática clínica que se produz a partir do encontro, no qual analista
e analisando co-emergem, como imprimir outra política da narratividade ao registro em prontuário? Ou, dito
de outra forma: como trazer para o prontuário esse domínio vívido do encontro, fazendo do prontuário não
apenas um documento de registros factuais, mas pensando ele mesmo como um dispositivo interventivo?
Sem a pretensão de responder completamente a esses questionamentos ou de propor um certo modelo de
prontuário a ser adotado em trabalhos grupais, interessa-nos partilhar a experiência de escrita com um grupo
terapêutico e as intervenções que experimentamos coletivamente a partir desse processo. Intervenções que
VHELIXUFDUDPHPGLYHUVDVGLUHo}HVQDVSDUWLFLSDQWHVDQDOLVWDVQDVSDUWLFLSDQWHV´DQDOLVDQGDVµHQDSUySULD
ideia de prontuário.
Fizemos a proposta de um grupo de acolhimento na clínica-escola da FLEA. Tínhamos a intenção de compor
um grupo terapêutico. Finalizado o grupo de acolhimento, formamos um grupo terapêutico com 5 mulheres,
3 analisandas e duas analistas. Convidamos o nosso grupo terapêutico para escrever o prontuário no momento
do encontro. Propusemos começar a sessão destinando os quinze minutos iniciais para fazer os registros no
prontuário.
Nossa proposta de escrita do prontuário tinha desafios da clínica grupal, remota-online. Modo, espaço e
tempo nos atravessavam. A plataforma adotada (Miro) permitiu registrar, escrevendo ou desenhando, em um
1 Atua como psicóloga clínica e institucional. Tem graduação e mestrado em psicologia pela universidade federal
Fluminense, título de especialista em promoção da saúde e desenvolvimento social pela Fiocruz e esquizoanalista pela
FLEA. Possui interesse e experiência na discussão de metodologias de pesquisa-intervenção participativas e saúde
pública. E-mail: juliaflorcarvalho@gmail.com
2 Psicóloga, Esquizoanalista e Professora Associada do Departamento de Psicologia e dos Programas Pós-Graduação
em Psicologia e Educação Agrícola - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ. Doutora em Psicobiologia
e Pós-Doutora em Clínica Médica ² USP/Ribeirão Preto e em Neurociências - PUC-Rio. Supervisora de Estágio e
Pesquisadora em Psicologia. E-mail: lurocinholi@gmail.com
Resumo:
7UDJRDIRUoDGDTXHVWmR´RTXHSRGH"µIRUPXODGDSHORILOyVRIR%HQHGLFWXVGH6SLQR]DHPVHXHQVDLRVREUH
a Ética para pensarmos em outros modos de experienciar a clínica infantil. Spinoza (2018) coloca que não há
como determinar e/ou ensinar o que um corpo pode ou não fazer, pois cada corpo é afetado de maneiras
P~OWLSODVTXDQWRIRUHPRV HQFRQWURVTXHUHDOL]DU$VVLPRFRUSR´SRGHVHUDIHWDGRGHPXLWDVPDQHLUDV
pelas quais sua potência de agir é aumentada ou diminuída, enquanto outras tantas não tornam sua potência
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6SLQR]D H[SOLFDP TXH HVVD TXHVWmR GL] UHVSHLWR DRV HQFRQWURV +i GRLV WLSRV GH HQFRQWURV XP ´ERP
HQFRQWURµTXH´DXPHQWDDSRWrQFLDµGHDJLUH existir (DELEUZE; PARNET, 1998, p. 74), nos possibilitando
FULDU H LQYHQWDU RXWUDV PDQHLUDV GH HVWDU QR PXQGR H RXWUR R ´PDX HQFRQWURµ DTXHOH TXH ´GLPLQXL D
SRWrQFLDµ '(/(8=(3$51(7S QRVHQIUDTXHFHQGRSDUDOLVDQGRHRFDVLRQDQGRDWULVWHza.
Assim, diante de sua força, utilizo a questão nesta reflexão sobre a clínica infantil para pensar nos encontros
que são atravessados pela potência da infância no processo de psicoterapia. Considero a infância como
potência de criação, de compor com o mundo por meio do encontro com aquilo que impulsiona o
pensamento a buscar e produzir sentidos outros para aquilo que tenta nos paralisar. O movimento da infância
que perpassa nesses encontros psicoterapêuticos vivenciados na prática da esquizoanálise é de invenção de
outros modos de vida, que permite às crianças experimentarem o processo psicoterapêutico por meio dos
encontros com o acaso, o imprevisível do pensamento. É a infância que comunga com a curiosidade, o
espanto, a leveza de estar no mundo para recompor com a vida. Na maneira de perceber e construir o mundo
sem as significações que pressupõem uma perspectiva única sobre ele, mas em um processo dinâmico, intenso
e sempre inacabado que permite uma leitura provisória de sua representação. Essa leitura possibilita
invencionar o mundo com a leveza do movimento da infância. Logo, a vivência da esquizoanálise na clínica
infantil oferece outro modo de compor com as crianças e suas experiências afetivas com o mundo. Essa
vivência perpassa pela criatividade, a liberdade de expressão e a exploração das múltiplas dimensões da
subjetividade infantil.
1 Uma pessoa apaixonada pela infância como movimento da criação e tentado entender um pouco mais sobre o amor.
O amor que acolhe as diferenças, as histórias ancestrais e espirituais de cada ser humano no processo de ensino-
aprendizagem. Tudo isso é devaneios que estão me levando a ter dúvidas e não mais certezas. Agora me apresentado
academicamente: possuo graduação em psicologia e pedagogia. Mestrado em Psicologia pela PUC/MInas e Doutorado
em Educação /UFMG. Atualmente moro no norte de Minas Gerais e atuo como professora da Faculdade Vale do
Gorutuba (FAVAG). E-mail: erikamarianasoares@gmail.com
Resumo:
Arrisquei-me escritora numa tentativa de narrar as experiências vividas com o corpo técnico de um CRAS de
Vitória-ES na intenção (e o desafio nada fácil) de produzir um texto que acessasse a gênese histórica das
experiências e das formas. Para tanto, lancei mão da narratividade como ferramenta para exercitar o
pensamento e fazer emergir o bom e o mau das práticas, dos encontros, das relações vivenciadas nesse campo
de pesquisa.
A fim de realizar uma pesquisa produzida COM e não SOBRE outros, a narrativa emergiu como dispositivo
de produção coletiva do conhecimento e esta contou a história de experiências do/no trabalho, tendo seu
enredo fecundado pelos dados colhidos de um diário de campo e gravações de áudio produzidos ao longo de
dois meses no ano de 2018 com aquele corpo técnico do CRAS.
Reproduzir os métodos e suceder os mesmos resultados comparados com pesquisas anteriores é o que
legitima um saber-fazer Científico, de acordo com o paradigma positivista. Ouvir e narrar os saberes locais e
singulares não permite uma reprodução dos métodos utilizados, muito menos a repetição dos resultados.
Apostei numa escrita-narrativa como uma metodologia outra, exatamente para fazer insurgir os saberes e
colocar em evidência a hegemonia científica existente e abalá-la.
Gosto de dizer que o rigor científico dessa pesquisa esteve em seguir as linhas de fuga, traçá-las através da
escrita, usando os agenciamentos como elementos básicos para essa produção: produção de enunciados que
permitem insurgir os saberes e fazeres locais, por meio de uma escrita cartográfica, que tem como premissa
a experimentação.
Ao experimentar o trabalho no CRAS, experimentei modos de viver e de pensar a realidade, produzindo
cartografias dinâmicas dos fazeres desse campo. Contudo, este ensaio não se trata dessa história
especificamente, mas como que a partir dela, algo esquizo emergiu que, ao findar do processo narrativo,
chamei de devir-Amália.
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as características de uma mulher batalhadora, esforçada, cuidadosa e que está sempre atenta em tudo que faz 2.
2 QRPH ¶$PiOLD· VXUJH GLDQWH GD QHFHVVLGDGH GH FULDU XP FRGLQRPH SDUD UHSUHVHQWDU PLQKD SHVVRD D
pesqusiadora do trabalho na Assistência Social, na história narrada. Amália é escolhida como substantivo
1 Psicóloga e mestra em Psicologia Institucional pelo PPGPSI/UFES, Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail:
contato.abigailmarinho@gmail.com
2 Disponível em: https://nomeschiques.com/amalia-significado-do-nome/
Quem é Amália?
Seu verbo de ação é trabalhar. E é nesse verbo que ela insiste, pois constantemente é posta à prova tendo que
UHVSRQGHU¶RTXHpWUDEDOKDU"·¶FRPRVHWUDEDOKD"·¶TXDQGRVHWUDEDOKD"·(VVDpVXDGLQkPLFD
Enquanto responde a essa prova, Amália cria uma jurisprudência 3 própria que vai balizar suas decisões, que
são sempre locais e situadas. Sua jurisprudência se constrói baseada em seus trajetos, em sua história de vida
² no plano de imanência em que Amália opera. São decisões que estão para além do bem e do mal, decididos
nos momentos nos quais Amália é convocada a agir.
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reflexão acerca das suas práticas e sempre buscando acompanhar as linhas de fuga do processo de trabalho.
Nisso, ela tem que lidar com o caos, pois não aceita as capturas categóricas despotencializadoras da ação.
Para lidar com o caos sem homogeneizá-lo e ainda existir nele, Amália cria apostas de vida e de existência.
Amália vai se constituindo, então, como uma criadora de conceitos: à medida que os problemas se
apresentam, ela procura forjar ferramentas e dispositivos para continuar a acreditar na vida neste mundo; para
continuar trabalhando. Ela não desiste da vida. Ela insiste, e insiste com a criação dos conceitos como
ferramentas para operar análises capazes de manter o fluxo de criação próprio da vida.
$PiOLD QmR p XPD ´SURILVVLRQDOµ HOD QmR WHP FDUWHLUD GH WUDEDOKR HOD QmR WHP GLSORPD HOD QmR WHP
HPSUHJR«0DV$PiOLDpXPDWUDEDOKDGRUD2TXHHQWmROHJLWLPDDDWXDomRGH$PiOLD"2TXHDUHVSDOGD
para definir o que é o trabalho e o trabalhar? São os desassossegos e as inquietações por ela vividos nesse
caos que são os mundos do trabalho, que a convocam a problematizar esses mundos
3 A jurisprudência é por Deleuze entendida como a criadora dos direitos porque está na imanência ² considera um
coletivo; é o coletivo que discute e decide, o que nos faz sair de uma ideia de direitos e passando para a ideia de política,
que é uma experimentação ativa, nunca sabendo de antemão o que vai acontecer (DELEUZE, 1992).
Devir-Amália
Amália passa por mim e passa por você também. Arrisco-me a denominá-la como a própria ética: ela instiga
o pensamento.
Amália passa por que se vê trabalhadora, estudante de graduação ou recém-formada, pesquisadora que
enfrenta os desafios do pesquisar fora dos padrões que prezam por uma generalização e universalização dos
métodos e dos resultados, dos que pregam por uma neutralidade do pesquisador e suas ferramentas.
Podemos todos experimentar Amália; ela está aí, percorrendo as linhas de fuga presentes na realidade. Ela é
um devir. Devir é um vir a ser sabendo que nunca plenamente se será. Mas, cuidado, devir é jamais imitar.
Não conseguimos fingir tão bem ser bons trabalhadores como Amália. Devir não é, também, um vir a ser
outro, mas é o encontro com esse outro. Devir são os atos contidos numa vida, que é constituída por
encontros, ou núpcias.
Nas núpcias não se tem dois; não se tem um e outro; tem-se um encontro; um meio ou um interstício 5. No
devir não há passado nem futuro, pois não há um ponto de começo para se partir, nem um ponto de chegada:
no devir não há separação, dicotomia ² é uma núpcia. O devir é o entre... é como a grama: que brota entre as
outras coisas; o devir é um transbordamento 6.
Chamei de Amália esse devir que nos irrompe no trabalhar, que irrompe numa núpcia com o trabalho, a
exercitar o pensamento na produção dos conceitos e na lida com as problematizações, produzindo ética,
liberdade. É claro que a tentativa de dar nome próprio àquilo que não se nomeia é uma tentativa para lá de
arriscada. Mas, ainda sou regida pela Ciência da Linguagem, ainda uso as palavras como ferramentas e
unidades básica para me fazer entendível. Contudo, essa Ciência capturante pode ser sabotada com o auxílio
4 DELEUZE&GUATTARI, 2012.
5 DELEUZE, 1992.
6 DELEUZE, 1992.
Resumo:
Fotografia 1 ² Nayara em férias Fotografia 2 ² recado de aluno em blusa
Conceição Evaristo fala que ela escreveu e escreve poemas como forma de suportar o racismo que ela sempre
enfrentou na vida, seja na adolescência ou na fase adulta. Escrever se torna, principalmente para meninas
negras, uma forma de desaguar todas as dúvidas e angústias de uma vida imersa na rejeição e no racismo. A
DXWRUDHPXPDHQWUHYLVWDSDUDRSRUWDO´&DWDULQDVµQRDQRGHGHVWDFDTXHHODVDELDTXHWLQKDDOJRGH
errado, que ela não tinha respostas para aquilo (racismo) que vivia, mas a escrita a ajudou a fugir dessa
realidade.
A vivência de Conceição Evaristo nas décadas, como 1950, 1960, se repete na vida da maioria de meninas
negras nesse país. Para mais ou para menos, a dor encontra o seu lugar através do racismo. Comigo, também
aconteceu. Nas duas imagens acima (acervo pessoal), temos, na primeira (fotografia 1), eu, uma menina negra
em férias, com o cabelo natural, preso, e um dos motivos de maior chacota e racismo que sofri na infância.
E na segunda foto (fotografia 2), um recado em uma blusa colegial minha, de um dos meninos que eu mais
sofri racismo na vida escolar.
Escrevo hoje, como diz Conceição Evaristo, para desaguar minhas angústias e minha dor encontrar potência
na forma literária e acadêmica. O escrever é o escrever-viver, escrever-VHU p D HVFUHYLYrQFLD ´$ QRVVD
1 Doutoranda em Educação (PPGED/UFU) e professora efetiva da rede estadual do estado de Goiás (SEDUC/GO).
E-mail: nayaraelisaconceicao@gmail.com
2 Mestrado e doutorado em Educação pela Unicamp, professora e pesquisadora do Instituto de Biologia e do Programa
3 Termo utilizado como opção pessoal da autora para indicar um contrapondo do termo ´HVFODUHFHUµ entendo que é um
termo colonial e historicamente racista.
4 Conceito feminista de Vilma Piedade (2017) que trata das dores que unem as mulheres negras para além do machismo.
Joyce Rocha1
Resumo:
Em seu estado primordial, o corpo é, de acordo com Deleuze e Guattari, um corpo sem órgãos. Tal corpo
não é, como bem explicitam os autores, estritamente aquele que não tem órgãos, mas sim aquele que não tem
organismo. Quando falamos do corpo sem órgãos, estamos falando do marco-zero do inconsciente. Não pela
falta de algo, mas pelo fato de que nele não existem negativos, tornando-o, pRUWDQWR´VXSRUWHHVXSRVWRµGR
corpo pleno (DELEUZE, GUATTARI, 1995, p. 58). Trata-se de um lugar completamente preenchido por
multiplicidades. Indivisível e inalcançável. Que pode ser criado pontualmente mas nunca engessado e
estabilizado. Esse corpo, como estado inicial, passa por um processo de arborização, territorialização,
estratificação. Rizoma que se torna árvore-raiz, desterritorialização territorializada, multiplicidade viva
estratificada e hierarquizada.
Esse procedimento de estratificação é referido através de vários termos no decorrer da obra dos autores.
Aqui, o chamaremos de ruminação. Podemos dizer, ainda, que esse processo é equivalente, em um exercício
de associações, ao processo da morte. Os autoreVDILUPDP´RFRUSRVHPyUJmRVQmRpXPFRUSRPRUWRPDV
XPFRUSRYLYRHWmRYLYRHWmRIHUYLOKDQWHTXHHOHH[SXOVRXRRUJDQLVPRHVXDRUJDQL]DomRµ '(/(8=(
GUATTARI, 1995, p. 56). Infere-se pois que o processo reverso de ruminação é a perda da vida. Posto isso,
o que é possível encontrar do outro lado do processo de ruminação? Veja bem: o corpo ruminante, o corpo-
cadáver, multiplicidade enrijecida. Em analogia ao marco-zero podemos estabelecer o morto-vivo como o
ponto-um.
Identificamos claramente dentre a ruminação o processo de generificação dos corpos, através do qual o
JrQHURpIHLWR1HOHR´HXµDRTXDOLUHPRVQRVUHIHULUDSHQDVFRPR´FRUSRµSDUWLFLSDGHXPSURFHVVRGH
´ID]HUJrQHURµFRPRXWURVFRUSRVGHPDQHLUDDVer transformado e, em termos esquizoanalíticos, binarizado.
Esse evento é exemplar no caso de pessoas transsexuais, transgênero, travesti e não-binárias. A generificação
ocorre sem consentimento do corpo receptor, sendo assim um procedimento de imposição e estratificação
compulsória, poder-se-ia dizer violenta. Essa tentativa forçosa de expulsar o corpo de seu marco-zero, de
matá-lo, pelo menos no que concerne a sua identidade, é explicitamente coercitiva e não-opcional. Podemos
1 Joyce (Cris) Rocha é um aluno de 20 anos do quinto período no curso de ciências sociais da UFMG. Inicialmente
começou seus estudos superiores na Universidade Federal de Uberlândia, onde completou três períodos de sua
formação. O autor se interessou pelos estudos de filosofia do corpo e gênero devido a experiências com sua própria
identidade, através das quais se descobriu uma pessoa não-binária. Futuro pesquisador da área, ele também se interessa
pela escrita de textos não acadêmicos. E-mail: jocristinne44@gmail.com
Resumo:
Este trabalho busca tecer inquietamentos que afloram a partir de uma experimentação teórica que busca
pensar com as plantas histórias outras para elas numa perspectiva ecofeminista. Muitas questões nos
atravessaram e nos fizeram perceber que existem epistemologias de pesquisas botânicas que colocam as
plantas num local de objeto e as relacionam indiscretamente com questões da sexualidade humana.
Nós como folhas, somos húmus, galhos, manta de rizoma que penetra pelo solo, somos também plantas,
´DILQDOGHFRQWDVpVHPSUHDHUYDTXHPGL]D~OWLPDSDODYUDµ '(/(8=(*8$77$5,S 0DV
não essas daí. Essas daí foram uma criação, uma invenção de mal gosto. Desde que os homens brancos da
ciência ocidentais começaram a falar das plantas, a botânica vem sendo infundida com sexualidade e gênero.
Sexualidade e gênero na tradução e tradição deles, sem elas, sem elus, sem elos.
As nomeclaturices relacionadas às questões de gênero atribuídas às plantas e aos animais ganharam força do
séc.XVIII até o presente momento. A afirmação de Linnaeus de que as plantas tinham vaginas e pênis e
reproduziam em leitos conjugais, ocorria em concomitante ao movimento da sociedade ocidental que ia se
modernizando também em torno das noções de masculinidade e feminilidade. Toda uma noção fóbica com
os outros entenderes sobre corpo ia enraizando tanto nas ciências botânicas, quanto na moldura da sociedade.
Mas, esse movimento não foi um movimento natural, não há por que algo ser tecido no manto da história
como verdade eterna de mundo. Ao longo da construção da ciência botânica no séc.XVIII, os gêneros, as
sexualidades e os corpos, e as representações ideológicas da época desses dispositivos, moldaram como foi
se desenvolvendo a nomenclatura e a nossa relação com as plantas. Mesmo a botânica tendo sido considerada
coisa de mulher por muito tempo, e serem elas principalmente quem coletavam as plantas, secavam e
preparavam ilustrações para publicação, foram os homens europeus quem descreveram e deram nome para
os vegetais.
4 As plantas não foram os únicos seres que sofreram antropomorfismo equivocado por parte dos cientistas. Podemos
notar a influência que o gênero exerceu em outras definições elaboradas no séc. XVIII sustentadas até os dias de hoje
como na sexagem das abelhas. Em sua pesquisa Jeffrey Merrick (1989) demonstra que desde a época de Aristóteles
até meados do século XVIII os naturalistas falavam de ´DEHOKD GRPLQDQWHµ e a definiam como a abelha-rei, mesmo
sendo esses ´UHLVµ quem dava à luz a abelhas filhas. Mesmo depois de terem reconhecido e relacionado a genitália da
abelha-rei como ´IHPLQLQDµ os naturalistas, como comenta Merrick (1989), persistiram no argumento de que o
governante de uma colmeia deveria ser um rei e não uma rainha.
Resumo:
Esse projeto de iniciação científica em andamento visa compreender os processos históricos que se atualizam
na contemporaneidade que produzem a subjetividade da mulher gorda. Por mais que todos estejam
vulneráveis a experimentar as pressões gordofóbicas da era da do culto à magreza, ao evocarmos a mulher
gorda, nos referimos àquela que tem sua existência enquanto infâmia (FOUCAULT, 2003). As narrativas
infames são aquelas que são unicamente lembradas pelo que foi dito e registrado sobre sua existência no
encontro com o poder, se chocando com ele, debatendo-se e tentando resistir às suas armadilhas. Trata-se de
histórias tão pouco memoráveis ou inspiradoras, mas que ganham visibilidade a partir do momento em que
são objetos da maquinaria pública, da intervenção dos processos médico-pedagógicos e da moral. A mulher
gorda é essa personagem, que não é ouvida, mas que ecoa em todos os cantos, não protagoniza narrativas
heroicas, mas mantém uma fama, são recordadas em meio a registros de prontuário e também não saem do
imaginário cotidiano e do gozo social dos falatórios e rumores. Sua existência aparece justamente por ser o
desvio do que se espera dela, em um emblemático e trágico confronto duplo com a opressão da biopolítica e
do poder do patriarcado.
Nesse sentido, propomos uma minuciosa análise do poder que incide sobre essas mulheres, e interseccionaliza
a falta de acessibilidade física dos espaços, a patologização e opressão de gênero, além de considerar quando
essas violências são associadas ainda ao racismo, no que tange às mulheres gordas negras. Para isso, em
primeira instância, resgatamos o pensamento de Foucault (1986), que, ao discorrer sobre o poder disciplinar
e os corpos dóceis, aponta que a história dos espaços é a história dos poderes, o ambiente nunca está dado à
priori, é sempre uma produção política. Assim, afirmamos que as estruturas dos ambientes públicos e
vestuários, que impedem essas pessoas de circularem livremente e experimentarem a moda, não são meras
negligência ou descuido, mas dispositivos das relações de poder, visando o governo do sujeito e nomear quem
pode existir nesses lugares. É no contexto da biopolítica, com os conceitos de risco e expectativa de vida, que
corpos gordos ganham também seu aspecto de doença, atribuindo a nobre tarefa terapêutica de curar ao saber
médico. O corpo era associado ao deixar-se levar pelos excessos, adquirindo um caráter de desvio moral
(SANTOLIN; RIGO, 2015). Ainda, marcando sob a mulher o eixo da violência de gênero, Zanello (2018)
cunhou a mHWiIRUDGD´3UDWHOHLUDGR$PRUµSDUDGHVLJQDURVHQWLPHQWRGHGLVSXWDHQWUHDVPXOKHUHVGROXJDU
privilegiado da atenção pelos homens, em que ser escolhida legítima e dá sentido a sua vida. O capital
1 Graduanda e pesquisadora voluntária, pelo Programa Institucional Voluntário de Iniciação Científica (PIVIC), no curso
de Psicologia na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). E-mail: joana.zanello@edu.ufes.br
Resumo:
Há quem diga que o futuro será novo e tecnológico, não precisará de tantas profissões. Mas quem garante
que isso tudo é inovação? Há entrelinhas de um passado e presente que estará contido em um futuro que se
aproxima a cada segundo. A conexão chega como correnteza, trazendo memórias através de sentidos e
necessidade. A dificuldade está justamente em interpretar que somos natureza e dela somos, tudo que fazemos
interfere e nos atravessa. Hoje temos, amanhã seremos, ou perderemos. A ganância em abandonar o que já
se foi, o natural e, às vezes, reconstruir para venda como vintage, supera qualquer pequena vontade de ouvir
seu corpo e os ensinamentos ancestrais. Se observarmos um rio veremos que há uma direção, e nela se leva
muitos fragmentos de onde se passou. Resquícios de uma chuva, um deslizamento, de ventos, flora e frutos,
peixes, outros animais que precisam do rio, vida; a correnteza carrega vida. Existência essa em abundância,
que não mede esforços para vencer o mundo em ruínas. Parece até que corre em contramão diante de toda
essa atrocidade que se tem contra a terra-7HUUD ´6HPSUH HVWLYHPRV SHUWR GD iJXD PDV SDUHFH TXH
DSUHQGHPRVPXLWRSRXFRFRPDIDODGRVULRVµ .UHQDNS ,JQRUDPRVQRVVDKLVWyULDHRTXHQRVVRV
ancestrais aprenderam e passaram por gerações; ignoramos que somos por eles, mas continuamos a executar
certas peculiaridades como feitos próprios e/ou renovação, às vezes indo além, pela ignorância olhando uma
tela e dizendo que foi um influencer que ensinou algo que você já sabia. Isso inclui culinária, cultura e
sentimentos. Um saber que vem de dentro, memórias marcadas em nosso DNA. Não se valoriza tanto os
ensinamentos trazidos do outro lado do Atlântico, a sobrevivência em navios negreiros; a medicina e os
cuidados, a maneira de olhar e se enxergar como natureza dos povos originários que aqui já estavam e foram
também, massacrados pelos colonizadores. Não se reconhecem em suas histórias, marcas e declínio. Somos
uma metamorfose de tudo e de todos.as, uma quimera que une tanta ancestralidade e memória quanto um
PRVDLFRHQFRQWUDGRHP0DGDED-RUGkQLD´eMXVWDPHQWHQHVVHFRUUHGRUTXHLQGLYtGXRHVSpFLHHSODQHWD
podem comunicar-se e metamorfosear-VHXQVQRVRXWURV«2XPELJRPDUFDQRVVDOLJDomRFRPD7HUUDH
com todos os seres vivos, HQmRDSHQDVFRPRFRUSRGHQRVVDPmH«6HPSUHQDVFHPRVGHXPRXWURFRUSR
pH[DWDPHQWHLVVRTXHFKDPDPRVGHQDWXUH]D«1DVFHUpSRUWDQWRVHUQDWXUH]DHFKDPDPRVGHQDWXUH]DR
PRGRGHVHUGHWXGRRTXHQDVFHX«µ &2&&,$S 3RUTXHHQWmRQmRROKDmos para o futuro de
Resumo:
Pesquisar a produção de subjetividades na contemporaneidade é um desafio colocado a todas as áreas do
conhecimento e, em especial para as Ciências Humanas. A presente pesquisa teve por objetivo conhecer e
analisar como a vida, organizada em valores capitalísticos, depara-se inevitavelmente com o que chamamos
DTXLGH´DUUDVW}HVQDH[LVWrQFLDµRVTXDLVSRGHPYLUDSURYRFDUUXSWXUDVHDOLDQoDFRPWDLVYDORUHVHVXDV
políticas de subjetivação. Questionamos neste estudo se a qualidade abrupta com que eles irrompem no
cotidiano e produzem efeitos no corpo poderia desencadear um exercício de pensamento sobre as políticas
de subjetivação vigentes e aquelas que podem ser inventadas. Assim, consideramos que a vida contemporânea
encontra-se, em larga medida, saqueada pelas políticas de subjetivação capitalistas que exploram, além da
força corporal, aspectos afetivos, desejantes e relacionais da população. Pode-se dizer que os arrastões
subjetivos perturbam essa exploração, gerando efeitos imprevisíveis que ora ganham contornos restritivos à
exploração colocando em curso modos plurais de se conectar ao mundo, ora são incentivadores das mesmas,
docilizando os corpos e intensificando a sua exploração. Em larga medida, os pressupostos da subjetividade
capitalística podem vir a ser dominantes e reger alguns corpos que aderem de maneira mais significativa a
valores como competitividade, velocidade e acúmulo amplamente disseminados no social. Porém, seus
traçados não são soberanos diante da força da pluralidade da vida e das expressões de desejo. Assim, tomamos
os arrastões como um analisador das relações afetivas, dos encontros sociais e dos modos de vida ora em
curso. Metodologicamente, adotou-se uma perspectiva qualitativa com a estratégia documental na qual foram
selecionados dois casos de mulheres brasileiras que se depararam com o que denominados arrastões e
descreveram suas histórias em documentos de domínio público. Consideramos que a pesquisa qualitativa
coopera para conhecer e analisar os arrastões-acontecimentos em meio ao cenário contemporâneo marcado
por experiências de vida que nem sempre são visíveis quando tendem a escapar dos valores dominantes das
1 Graduada em Psicologia pela UEL em 2018. Mestranda do Programa de Pós Graduação em Psicologia Social da
Universidade Estadual de Londrina. Nascida na cidade de Campinas-SP, crescida na cidade de Americana-SP.
Atualmente se aprofundando nos estudos da produção de subjetividades, suas políticas de subjetivação e implicações
micropolíticas e exercendo prática clínica em consultório na cidade de Londrina-PR. Trajetória de pesquisa e vivência
clínica anterior ao mestrado baseada em estudos das áreas de Psicanálise de Freud a Lacan e em Psicologia Clínica do
trabalho pela vertente da clínica da atividade de Yves Clot, experiência em chão de fábrica e encontros em grupos de
trabalho e pesquisa. E-mail: vanvwiezel@gmail.com
2 Docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia e do Departamento de Psicologia Social e Institucional da
Universidade Estadual de Londrina. Doutora em Psicologia Clínica pela PUC/SP. E-mail: mansano@uel.br
Raquel Guerreiro1
Resumo:
Escrevo de dentro da experiência de me movimentar com a deficiência. Calço esse tema, pois é também a
deficiência que me leva a me movimentar. Desde quando ela me acompanha, já fomos muitas. O encontro
com a deficiência me atiçou o desejo de buscar a ampliação de seus sentidos, já que aqueles que eu conhecia
eram incapazes de aumentar a potência de agir. De início, não foi um bom encontro. Contudo, Espinosa
afirma que a razão, em seu pensamento, é a arte de organizar bons encontros. Seria preciso olhar para a
deficiência de outros modos. Isso exigia engajamento, movimento e abertura ao reposicionamento.
Este trabalho tem por objetivo apresentar e discutir a metodologia da pesquisa criada para a tese Fazer um
corpo todo de escuta: uma travessia existencial, defendida em dezembro de 2021 no Programa de Psicologia Social
e Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e que tem como tema a deficiência.
O método da Cartografia aos tropeços foi criado com base no Método da Cartografia, proposto por Deleuze
e Guattari (1995) e desenvolvido por Rolnik (2011) e por Passos, Kastrup e Escóssia (2009). A cartografia é
uma pesquisa-intervenção que envolve o acompanhamento de processos, a emergência de problemas de
pesquisa em campo e trata o conhecimento como algo que é produzido coletivamente. Na Cartografia aos
tropeços, entende-se que o tropeço é um gesto corporal que, ao mesmo tempo que desestabiliza o
caminhante, abre novas possibilidades pelo desvio, pelo acaso e pela surpresa do encontro com o inesperado.
Ao escolher um tema de pesquisa que envolve a própria vida, busquei fazer com que a deficiência não ficasse
reduzida somente ao objeto, mas fosse incorporada também à metodologia da pesquisa.
Para a apresentação, utilizo uma sequência de fotografias (projetadas em slides) produzidas em um exercício
de experimentação inspirado no método das pegadas (Méthode des empreintes) realizado por Gilles de La
Tourette, por volta de 1885, para a investigação de doenças do sistema nervoso e descrito por Agambem no
ensaio Notas sobre o gesto (2008). Com isso, não buscava dar significação ao tropeço, mas dar a ver alguns
mínimos gestos da linguagem do meu corpo e pensá-los enquanto gestos encarnados que possuem potência
de fazer operar o pensamento.
Com Donna Haraway (1995), sustento uma pesquisa corporificada, composta pela visão (que é a metáfora
TXHHODXVD GHFRUSRVPDUFDGRVHQmRGHXP´FRQTXLVWDGRUTXHQmRYHPGHOXJDUQHQKXPµ +$5$:$<
1995, p.18), contribuindo para a produção do conhecimento situado, localizado. Faço da minha deficiência
1 Doutora em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professora
substituta no Departamento de Psicologia Social do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). E-mail: raquel.guerreiro.psi@gmail.com ou quelpapel@hotmail.com
Resumo:
2 SUHVHQWH WUDEDOKR p IUXWR GD SDUWLFLSDomR EROVLVWD 3,%,&&13T QR SURMHWR ´2 DWR GH FULDomR FRPR
operador ético-SROtWLFRµYLQFXODGRDR1~FOHR7UDEDOKR9LYR - IP-PPGP-UFRJ. Partindo da proposta do
projeto, cuja intenção é investigar o ato de criação como operador ético-político de afirmação dos direitos de
existência, é com particular interesse por suas ressonâncias nas práticas artísticas que esta pesquisa busca
investigar o forró como prática de resistência de migrantes nordestinos na cidade do Rio de Janeiro.
Assim, o objetivo desta pesquisa é mapear linhas de força que compõem a experiência estético-política do
forró, partindo da hipótese de que ele pode intensificar afetos relacionados às experiências sensíveis do real
e potencializar modos de subjetivação em resistência às dominações e em defesa de direitos à vida digna. Por
conseguinte, no exercício de desenhar um mapa dessas linhas, é a cartografia que emerge como método para
acompanhar tais processos heterogêneos e estabelecer uma prática de pesquisa com. Como referencial teórico
principal utilizo a psicologia e clínica das formas de vida (FERREIRA, 2020, 2022), abordagem transdisciplinar que
articula referências da filosofia (política e da diferença), esquizoanálise e psicologia social.
Para situar esta proposição, segundo Albuquerque Júnior (2011), foi através da figura paradigmática de Luiz
Gonzaga que este gênero musical tornou-se intrinsecamente associado ao Nordeste, com uma produção
dirigida principalmente ao migrante nordestino radicado no sul do país. Tal movimento migratório é marcado
por diversos obstáculos para a inserção desse grupo na vida metropolitana sudestina, permeada por violências
de movimentos xenofóbicos e racistas, condições de trabalho precárias e mal remuneradas (GOMES, 2011),
entre outras questões que caracterizam uma sobrevivência desqualificada (FERREIRA, 2020). No entanto, a
WHQWDWLYDGHSURGXomRGHXPDSUiWLFDPXVLFDOTXHHVWDEHOHoDXPD´LGHQWLGDGHUHJLRQDOµSULQFLSDOPHQWHSDUD
um território múltiplo como o Nordeste, é necessariamente fundada na minimização de certos modos de
existência que escapam da norma estabelecida (ZAIATZ; OLIVEIRA JÚNIOR, 2018). Nesse sentido,
1 Graduanda de Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Bolsista PIBIC/CNPq do projeto "O ato de
criação como operador ético-político", vinculado ao Núcleo Trabalho Vivo. Estagiária em clínica orientada pela
abordagem transdisciplinar da clínica das formas de vida. Interessada pelos estudos transdisciplinares da subjetividade nas
práticas artísticas e na clínica a partir de uma perspectiva ético-estético-política. E-mail: isabela.a.diogenes@gmail.com
2 Professor Associado e Pesquisador Permanente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia e da Graduação em
Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pós-doutorado em Filosofia pela Université Paris 1 Panthéon-
Sorbonne. Doutorado e mestrado em Psicologia pela Universidade de Brasília. Coordenador do Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da UFRJ. E-mail: ferreira.jb@gmail.com
3 O seguinte trecho da música ´7HPSHUR do IRUUyµ de Geraldo Azevedo, é um exemplo de como esse aspecto se
apresenta nas canções do gênero: ´Quem quiser provar / O tempero do forró / Tem que ter balanço no corpo /
Balanço no coração / Além de tudo / Tem que ter animação / A noite inteira / Cheiro de amor / Vem misturar o
suor / Quanto mais quente / A gente fica melhorµ (1996).
Matheus Silva1
Resumo:
O presente artigo tem o interesse em traçar uma convergência entre os dispositivos teórico-práticos de meu
SURFHVVRLQYHQWLYRQDDUWHGDSHUIRUPDQFHQDTXDO´LQVWDXURµXPDH[LVWrQFLDPtQLPDD$GLYLQKDD'LYDXPD
bufona-ciborgue-bixa. Com ênfase no processo e na ação, a arte da performance institui um espaço de tensão
entre pensamento, corpo e distintos espaços para relacionar-se com forças desconhecidas, mas sem
transformar o novo em algo familiar. Não se trata apenas de uma experiência extracotidiana, mas de uma
intensidade que desqualifica a lógica racional, não se transforma em linguagem e engendra um evento artístico,
de modo a afirmar as dimensões humanas e inumanas, todo um devir-animal implicado nessa produtividade.
Por meio de uma investigação na interface entre arte e vida, almejei o entrecruzamento da prática criativa do
EXImRMXQWDjQDWXUH]DFRQMXQWLYDGRFLERUJXHSDUDSURGX]LUXPDDWLYLGDGHTXHDFRPHWHDR´DUWLYLVPRµ
Tratam-se de dispositivos de intensificação de uma prática que torna o corpo um espaço de denúncia e o
liberta de conservadorismos, levando-o a lugares não conhecidos, selvagens e impessoais. Para tanto, muitas
questões se mostram em aberto e precisam ser discutidas: como superar os valores sociais normativos e
´LQVWDXUDUµHVVDSRSulação estrangeira que nos orbita, via arte da performance? Em que medida é possível
WUDWDUGHXPDSURGXomRDUWtVWLFDDSUR[LPDQGRR´PRGRGHH[LVWrQFLDµEL[DQDDUWHGDSHUIRUPDQFHFRPR
DUWLYLVPR" &RPR SRGHUHL UHODFLRQDU HVVDV LQVWkQFLDV" &RPR WDO ´H[LVWrQFLD PtQLPDµ SDUWLGR GH XPD
performer como agente instauradora, pode inventar um mundo, uma existência compartilhada?
Palavras-chave: Instauração; Bufona; Ciborgue; Teoria Bixa; Artivismo.
1 Matheus Silva investiga a construção do conceito de Corpo desembestado enquanto sua prática em processos criativos
via arte da performance, pesquisa essa que também realizou-se com os coletivos artísticos ´1{PDGHV permanentes
pesquisam e SHUIRUPDPµ (n3ps) e o ´2EVFHQD agrupamento independente de pesquisa FrQLFDµ localizados em Belo
Horizonte/MG. Em sua pesquisa, literatura, teatro, filosofia e arte da performance convergem-se através da atividade
de um corpo que age a partir de intensas sensações que o fazem instaurar uma existência bufão, ciborgue e bixa.
Concluiu recentemente o curso de doutorado pelo Programa de Pós-graduação em Artes da UFMG, na linha de
pesquisa Artes da Cena. E-mail: matheus_silva84@yahoo.com.br
Resumo:
3DXO3UHFLDGRH[SOLFDTXHDVVXEMHWLYLGDGHVFRQWHPSRUkQHDV´VHGHILQHPSHODVXEVWkQFLD RXVXEVWkQFLDV TXH
abastecem seu metabolismo, pelas próteses cibernéticas e vários tipos de desejos farmacopornográficos que
RULHQWDPDVDo}HVGRVVXMHLWRVHSRUPHLRGRVTXDLVHOHVVHWUDQVIRUPDPHPDJHQWHVµ S-38). Ao
investigar as raízes históricas desse modo de tornar-se sujeito, o filósofo descreve a segunda metade o século
XX como palco de experimentações técnico-científicas de usos do corpo em processos biomoleculares
(fármaco-) e semiótico-técnico (-pornô) que deram origem a esse novo regime de governo biopolítico no
capitalismo pós-industrial. Na esteira de Preciado, este trabalho pensa D ,QWHUQHW FRPR XPD ´SUyWHVH
FLEHUQpWLFDµTXHID]XVRHVSHFLDOGRSVLTXLVPROLELGRHFRQVFLrQFLDHPXPFLFORGH H[FLWDomR-frustração,
moldando um modo de produzir e consumir em que o sexo, o gênero, as identidades sexuais e o prazer viram
objeto de gestão da vida, incluindo sua dimensão afetiva.
Em um momento anterior, autoras como Audre Lorde (2019), Frantz Fanon (2008) e Lélia Gonzales (1984)
intuem, de diferentes perspectivas, que tematizar o prazer é uma tarefa indissociável das relações de poder
que dependem da racialização de corpos. Recuperamos essa intuição para lembrar que a história colonial das
Américas é repleta de exemplos do controle farmacopornográfico de corpos negros ² no contexto brasileiro,
o controle vai desde a exploração do trabalho nos campos de açúcar e café, passando pela criminalização do
cultivo e tráfico de cannabis (planta trazida de África por pessoas escravizadas) e outras drogas, envolvendo as
altas taxas de morte por alcoolismo entre a população negra; inclui ainda figuras como a da mulata lasciva,
do homem preto sexualmente viril, da travesti preta pornificada na prostituição e com acesso precário a saúde
sexual, entre muitas outras imagens que povoam a tecnopolítica do prazer. Este ensaio aposta em uma leitura
materialista da raça e dos afetos para explorar como o controle se atualiza através das tecnologias de
informação como a Internet e do complexo industrial biomolecular ² incluindo o narcotráfico ² em que
corpos negros são duplamente vulnerabilizados social e psicologicamente.
Para debruçar-se sobre a tecnopolítica dos afetos por meio da racialização, no contexto de
ciberinformatização, mobilizamos a análise de Letícia Cesarino (2022) acerca da estrutura dos sistemas
cibernéticos como a Internet que, em momentos de crise, por conta de sua arquitetura, favorece a projeção
de grupos políticos antiestruturais neoreacionários, para os quais o ódio a minorias raciais é um investimento
1 Graduando em Psicologia pela Universidade de Brasília, bolsista de Iniciação Científica em que pesquisa sociotécnica
em psicologia a partir da interação entre humanos e não-humanos. E-mail: lucxs00rodrigues@gmail.com
Resumo:
Nesta comunicação, nosso objetivo é explicitar como, em O anti-Édipo (1972), os franceses Gilles Deleuze e
Félix Guattari buscam fazer de sua filosofia uma aliada na tarefa de construir mecanismos de análise do desejo
no interior dos grupos em luta. Para tanto, partimos da constatação de Guattari (1977/1985, p. 20-31), após
os eventos do Maio de 68 francês, de que o tradicional esquema da luta de classes não dá conta da forma
como o capitalismo se insinua em todos os níveis de produção da vida (família, escola, grupos militantes,
etc.), contaminando-os. O autor enxerga a necessidade de estabelecimento de frentes de luta próprias a esses
outros níveis, com o objetivo de liberá-los da contaminação pela subjetividade burguesa. A emergência do
TXH*XDWWDULFKDPDQHVVDRFDVLmRGH´OXWDVGRGHVHMRµID]VXUJLU´XPDQRYDYLVmRXma nova abordagem
GRVSUREOHPDVPLOLWDQWHVµ *8$77$5,S TXHWUD]FRQVLJRXPDGXSODH[LJrQFLDSRUXP
lado, é necessário que as organizações revolucionárias reconheçam a importância das práticas analíticas de
liberação do desejo; por outro, é preciso contar com uma concepção de desejo que torne tais práticas
possíveis.
Em 1972, com O anti-Édipo, Deleuze e Guattari buscam responder a essas necessidades. A dupla se afasta da
concepção segundo a qual o processo do desejo ocorre numa realidade psíquica distinta da realidade natural-
social, exprimindo, naquela, a falta de um objeto que só pode ser enFRQWUDGRQHVWD3DUDRVDXWRUHV´>Q@mR
KiIRUPDSDUWLFXODUGHH[LVWrQFLDTXHVHSRGHULDGHQRPLQDUUHDOLGDGHSVtTXLFDµ '(/(8=(*8$77$5,
1972/2011, p. 43-44). O desejo, na verdade, é o processo pelo qual o real se autoproduz. Em condições
específicas, a produção desejante é determinada a investir formações sociais que a reprimem, submetendo-a
a um mecanismo específico de reprodução da vida. No entanto, essas formações, seus modos de produção e
de circulação dos bens, a forma de seus agrupamentos sociais e os esquemas de interesses que os guiam são
derivados em relação à produção desejante.
No âmbito do capitalismo e das questões com as quais se confrontam os grupos que lutam contra ele, isso
significa que o chamado interesse de classe não é uma instância dada de antemão, mas deriva de investimentos
de desejo que o constituem ao reforçar ou romper com a formação social capitalista. Assim, quando um
1 Doutorando em Filosofia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com pesquisa sobre a relação entre o direito,
a dominação e os movimentos de libertação na obra de Gilles Deleuze e Félix Guattari. Possui mestrado em Filosofia
pela Universidade Federal Fluminense (UFF), especialização em Filosofia e Teoria do Direito pela Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e graduação em Direito pela Universidade Federal de Juiz de
Fora (UFJF). É membro do grupo de pesquisa do CNPq "Deleuze: filosofia prática" e do GT Deleuze e Guattari da
ANPOF. E-mail: caiohoffmann@id.uff.br
Resumo:
Nas veredas da educação e da contemplação das problemáticas sociais e humanas, a doação de sangue emerge
como um ato cuja significância desdobra-se em múltiplas direções. Este trabalho se propõe a abordar a doação
de sangue sob uma perspectiva que dialoga com o pensamento nômade, permitindo uma compreensão mais
fluida e complexa desse ato altruísta e, ao mesmo tempo, explorando as ideias de Donna Haraway (2009).
A doação de sangue transcende fronteiras físicas e sociais, conectando doadores e receptores em um mosaico
de solidariedade que desafia estruturas rígidas. Donna Haraway (2009), conhecida por suas contribuições ao
feminismo, aos estudos de gênero e à filosofia da ciência, nos convida a pensar em conexões, hibridações e a
essencial necessidade de desmantelar barreiras tradicionais de classificação. Em sua obra "Manifesto
Ciborgue", ela propõe uma visão de mundo na qual as fronteiras entre o humano e o não humano, entre o
orgânico e o tecnológico, são permeáveis.
Sob a perspectiva de Haraway, (2009), penso que a doação de sangue pode ser vista como um ato ciborgue,
onde os limites do corpo humano e da máquina se fundem. A bolsa que acolhe o líquido vital, os instrumentos
médicos e os profissionais da saúde que orquestram o processo tecem uma tapeçaria que desafia a fronteira
entre o orgânico e o tecnológico, sobre qual o limite real do corpo e suas extensões. A doação de sangue se
apresenta como um ato nômade, capaz de movimentar-se fluidamente entre esses territórios, permitindo que
DVUHODo}HVKXPDQDVFRPRVXJHUH'HOHX]HH*XDWWDULWDPEpP´TXHSHUPLWHH[SORGLUHVWUDWRVURPSHUUDt]HV
e operar novas conexões" (DELEUZE; GUATTARI, 2011, p. 33). Em um mundo onde as tecnologias
médicas desempenham um papel fundamental na doação e transfusão de sangue, o pensamento nômade de
Deleuze e Guattari (2011), e as ideias de Haraway (2009), nos instigam a considerar a relação entre humanos
e máquinas de uma forma mais integrada, complexa e em rizoma, emaranhada por muitos fios. Ao invés de
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia (FACED/UFU). E-
mail: annacristinasb@gmail.com
2
Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Uberlândia - Campus Pontal, mestranda do Programa de Pós
Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia (FACED-UFU). E-mail:
daniellaamedeiros@gmail.com
3
Mestrado e doutorado em Educação pela UNICAMP, professora e pesquisadora do Instituto de Biologia e do
Programa de Pós-Graduação em Educação da UFU. E-mail: lestevinho@gmail.com
Eder Amaral1
Resumo:
Em seu último livro solo (Caosmose: um novo paradigma estético, 1992), Félix Guattari faz reiteradas menções ao
trabalho de um psicanalista nova-iorquino que teria elaborado uma teoria polifônica da emergência do self [si
mesmo]. Seu nome é Daniel Stern (1934-2012) e, certamente, ele se faz presente entre as páginas mais
interessantes da última fase do trabalho conceitual de Guattari, em sua busca obstinada pela formulação de
uma perspectiva ao mesmo tempo processualista (isto é, crítica do essencialismo que vigorava nas teorias
psicológicas) e heterogenética (composta pelas mais diversas matérias ² da cultura popular à ação política, dos
meios técnicos e tecnológicos à experiência artística) da subjetividade. Entre Stern e Guattari, surge uma
maneira surpreendentemente original de pensar os processos de subjetivação, cuja ênfase estaria no papel dos
afetos como linhas de força da nossa experiência de si, em co-emergência com a pluralidade constitutiva das
constelações relacionais no presente. Para o inventor da esquizoanálise, o que chama a atenção no
pensamento de Stern é a construção de uma perspectiva não-linear e arquipelágica do surgimento e da dinâmica da
consciência de si, a partir dos mínimos gestos, expressões e movimentos investigados minuciosamente por Stern
em sua pesquisa da interação mãe-bebê nos primeiros meses de vida da criança (STERN, [1985] 1992),
trabalho seminal que o tornou um dos pesquisadores mais inventivos da psicologia e psicanálise
contemporâneas, como assevera constantemente o próprio Guattari, atento às ressonâncias do seu
pensamento na obra do colega norte-americano. Como se atendesse o apelo de Guattari pela continuação do
seu trabalho na direção da clínica, Stern se dedicará, por mais de duas décadas, a investigação do que acontece
quando esta forma de pensar habita o consultório. É preciso esclarecer que o psicanalista norte-americano
QmRSURS}HRGHVHQYROYLPHQWRGHXPDQRYD´DERUGDJHPFOtQLFDµPDVVLPDUHRULHQWDomRGDPDQHLUDFRPR
vemos o processo clínico, a partir da ênfase no modo como o momento presente (pequenos acontecimentos que
formam nosso mundo de experiências) é capaz de favorecer a emergência da mudança terapêutica. Fortemente
inspirado pela leitura atenta de grandes pensadores do tempo, da subjetividade e da experiência afetiva como
1
Professor Adjunto do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas (DFCH) da Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia (UESB), Campus Vitória da Conquista-BA, vinculado aos cursos de Cinema e Audiovisual e Psicologia;
Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, Campus Vitória da Conquista-BA;
Psicólogo Clínico; Tradutor nas áreas de artes e humanidades. Mestre em Psicologia Social e Política pela Universidade
Federal de Sergipe (UFS); Doutor em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Atua
principalmente nos seguintes temas: cinema, infância, clínica e experiência urbana, sempre articulados pelo horizonte
do pensamento da imanência, dos estudos contemporâneos da imagem e da clínica psicanalítica de orientação pós-
estruturalista. E-mail: ederamaral@uesb.edu.br
Daniela Magioli1
Resumo:
Em O anti-Édipo, Deleuze e Guattari dizem que tanto os psicanalistas que afirmaram a pulsão de morte quanto
aqueles que o negaram, baseavam-se nas mesmas razões, a saber, que não havia modelo e nem experiência
da morte no inconsciente. Para os autores o que se passa é juVWDPHQWHRFRQWUiULR´QmRKiLQVWLQWRGHPRUWH
SRUTXH Ki PRGHOR H H[SHULrQFLD GD PRUWH QR LQFRQVFLHQWHµ $( $ PRUWH p XPD SHoD GD PiTXLQD
desejante, e deve ser avaliada por seu funcionamento e não como um princípio abstrato (AE, p. 440-441).
Se na psicanálise o desejo se encontra na ordem do simbólico, aquilo que é apreendido através da simbolização
é o que chamaremos de real, ou seja, as pulsões freudianas. Em 1915, Freud separa as pulsões em pulsões de
autoconservação (pulsões do Eu) e pulsões sexuais. Em 1920, o psicanalista separa as pulsões em pulsões de
vida e pulsão de morte, unificando as pulsões de autoconservação e sexuais sob o domínio das pulsões de
vida e contrapondo a elas a pulsão de morte (GARCIA-ROZA, 2009, p. 126). A pulsão de morte é: "um
impulso, inerente à vida orgânica, a restaurar um estado anterior de coisas, impulso que a entidade viva foi obrigada a
DEDQGRQDUVREDSUHVVmRGHIRUoDVSHUWXUEDGRUDVH[WHUQDV DH[SUHVVmRGDLQpUFLDLQHUHQWHjYLGDRUJkQLFDµ
(FREUD, 1920, Item V). É nesse momento de sua obra que Freud mais aproxima a metapsicologia de uma
espécie de metafísica (GARCIA-ROZA, 2009, p. 132). Freud substitui o antigo dualismo fraco entre pulsões
GHDXWRFRQVHUYDomRHVH[XDLVSRUXPPDLVIRUWH1D´PHWDItVLFDµIUHXGLDQDDSXOVmRGHPRUWHJDQKDHQWmR
seu caráter ontológico como a tendência natural da vida e do ser vivo.
Retornando a'O anti-Édipo, destacamos que, complexificando a relação entre o CsO e os objetos parciais,
Deleuze e Guattari (AE, p. 435-436) afirmam que ambos não se opõem, realmente, entre si, mas juntos se
opõem a um organismo organizado de forma a totalizar e limitar a multiplicidade intensiva. São peças
GLIHUHQWHVHFRH[LVWHQWHVGDPiTXLQDGHIRUPDTXHSDUDRVDXWRUHV´pDEVXUGRIDODUGHXPGHVHMRGHPRUWH
que se oporia qualitativamente aos desejos de vida. A morte não é desejada, há somente a morte que deseja,
HQTXDQWRFRUSRVHPyUJmRVRXPRWRULPyYHOHKiWDPEpPDYLGDTXHGHVHMDHQTXDQWRyUJmRVGHWUDEDOKRµ
(AE, p. 436). Os autores afirmam que toda intensidade carrega, na própria vida, a experiência da morte e a
1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Filosofia pela Universidade Federal Fluminense (PFI/UFF), na linha
de pesquisa de Ética e Filosofia Política, sob orientação de Mariana de Toledo Barbosa, bolsista Capes. Pesquisa
atualmente voltada para a questão ontológica na obra conjunta de Deleuze e Guattari, e suas implicações práticas.
Interesse nas áreas de Ética, Filosofia Política, Ontologia e Psicologia. Possui Mestrado em Filosofia pela Universidade
Federal Fluminense (UFF/2022); Bacharelado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ/2013); e Bacharelado em curso em Filosofia na Universidade Federal Fluminense (UFF/2018-atual). Integrante
do grupo de pesquisa do CNPq "Deleuze: Filosofia Prática" e membro do GT Deleuze & Guattari vinculado à
Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (ANPOF). E-mail: danielamagioli@id.uff.br
Eder Amaral1
Carolina Ghirello2
Resumo: Não são muitas as ocasiões em que Gilles Deleuze pode ser lido elogiando nominalmente um
psicanalista com tal entusiasmo como quando se trata do também pediatra inglês Donald Winnicott. Em
julho de 1972 (ano da publicação de O Anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia), ao tratar do seu interesse por
todos(as) aqueles(as) capazes de constituir para si mesmos(as) um estilo como política, seja em literatura e outras
artes ou nas práticas sociais as mais diversas, Deleuze elege como exemplo fundamental de uma psicanálise
experimentada em sua máxima extensão e intensidade o trabalho de Winnicott. A conferência preparada pelo
filósofo para o famoso Colóquio de Cérisy daquele ano, no qual a colaboração recente com Félix Guattari já
fazia sentir seus baques na forma do ataque ao familismo e à interpretose em psicanálise: sob o título
´3HQVDPHQWRQ{PDGHµRILOyVRIRGDYDSDVVDJHPDRVRSURGRVYHQWRVGHXPDLPDQrQFLDIHUR]DHPEDODUVXD
obra conjunta com Guattari. Deleuze menciona de passagem sua afinidade pela clínica e pelo estilo de
pensamento winnicottianos... Decisivas são as menções de passagem, como frestas numa muralha que separa
territórios aparentemente estanques. Entre os dois, por estilos distintos, persevera um desejo de clareza na
escritura. Da concretude expressiva dos afetos e dos processos corporais ao exercício afiado de um humor
impiedoso, do apreço mútuo pela natureza pragmática da palavra e da escuta, Deleuze e Winnicott são
1
Professor Adjunto do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas (DFCH) da Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia (UESB), Campus Vitória da Conquista-BA, vinculado aos cursos de Cinema e Audiovisual e Psicologia;
Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, Campus Vitória da Conquista-BA;
Psicólogo Clínico; Tradutor nas áreas de artes e humanidades. Mestre em Psicologia Social e Política pela Universidade
Federal de Sergipe (UFS); Doutor em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Atua
principalmente nos seguintes temas: cinema, infância, clínica e experiência urbana, sempre articulados pelo horizonte
do pensamento da imanência, dos estudos contemporâneos da imagem e da clínica psicanalítica de orientação pós-
estruturalista. E-mail: ederamaral@uesb.edu.br
2
Psicóloga Clínica e Perinatal. Mestranda em Memória: Linguagem e Sociedade pelo Programa de Pós Graduação em
Memória: Linguagem e Sociedade da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Campus Vitória da
Conquista-BA, onde realiza atualmente a pesquisa O nascimento em Winnicott: experiência, trauma e memória. A pesquisa
conta com apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), biênio 2022-
2024. Doula desde 2016. E-mail: cah.ghirello@gmail.com
Igor Viana2
Resumo:
Proponho aqui uma conversa que é também uma tentativa de recuperação das ideias de Para dar um fim ao
juízo3, um pequeno e denso ensaio filosófico de Deleuze, inspirado na peça radiofônica Para dar um fim ao juízo
de Deus de Antonin Artaud. Ensaio que também empresta sentido para o subtítulo desta tese. Sempre me
surpreendo com esse texto de Deleuze, a cada nova leitura é como se algo novo surgisse das mesmas letras
grafadas no papel. Às vezes, páginas inteiras me pareciam ininteligíveis, quando de repente, em uma frase,
como num relâmpago em céu claro, todo o texto passasse a fazer mapa com a minha vida. O tema central do
ensaio é o julgamento, que é apresentado como uma doutrina que se desenvolve da tragédia grega à filosofia
moderna, na qual o trágico não seria a ação, mas o próprio juízo.
Curioso. Essa acentuada negação ao julgamento me fazia lembrar vivamente das aulas de teatro no Galpão
Cine Horto, minha segunda casa ao longo dos intensos e prazerosos anos de formação em seus cursos livres.
4XDQWDVYH]HVRXYLIUDVHVFRPR´YRFrHVWiVHMXOJDQGRHQWUHQRSDOFRHIDoDGHQRYRµRX´YDPRVJHQWH
VHPMXOJDPHQWRDSURSRVWDpH[SHULPHQWDURH[HUFtFLRµ(RTXmRGLItFLOHUDHVFDSDUDRMXOJDPHQWR1mRDR
julgamento do outro, mas ao próprio julgamento. Entrar em cena sustentando a presença que ela exige na
exata medida do corpo e somente isso. Fugir aos julgamentos morais das nossas ações. Não imaginar, mas
vivenciar. Uma tarefa contínua de afirmação da experiência. Poderia dizer que o fim do julgamento é também
um imperativo do teatro, pelo menos do teatro da presença que nega a representação para afirmar a busca de
um lugar real e instaurado no corpo. Pois se a representação precisa de um corpo vazio onde nada acontece,
a presença demanda um estado de preenchimento real do corpo no aqui e agora. Para mim havia uma nítida
relação entre aquelas aulas de teatro e o ensaio de Deleuze.
Em Para dar um fim ao juízo, seguindo os caminhos de Espinosa e aliando-se a quatro emblemáticos
personagens (Nietzsche, Lawrence, Kafka e Artaud), Deleuze trava seu embate contra a categoria do juízo.
Não atoa, os quatro personagens aliados também padecem dessa mesma categoria. Todos chegaram a
FRQKHFHURSRQWRHPTXHDFXVDomRGHOLEHUDomRHYHUHGLWRVHFRQIXQGHPDRLQILQLWR1LHW]VFKH´SDVVDFRPR
UpXSRUWRGDVDVSHQV}HVPRELOLDGDVjVTXDLVHOHRS}HXPGHVDILRJUDQGLRVRµ 4/DZUHQFH´YLYHVRED acusação
1 O presente resumo expandido é parte integrante da tese em elaboração intitulada ´GLUHLWR é o mundo: uma dramaturgia
do fim do MXt]Rµ produzida na Linha de Pesquisa em Filosofia do Poder e Pensamento Radical da Faculdade de
Direito da UFMG.
2 Doutorando em Filosofia do Poder e Pensamento Radical na UFMG. Bolsista CAPES. Membro da dobra: confluências e
5 Ibidem.
6 Ibidem.
7 Ibidem.
8 Ibid., p. 163.
9 DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia 2, vol. 3, p. 18.
10 Ibidem.
11 Ibidem.
12 DELEUZE, Gilles. Crítica e clínica, p. 162.
13 Ibid., p. 163
14 Ibid., p. 164.
15 Ibidem.
16 Ibidem.
17 Ibid., 165.
18 Ibidem.
19 Ibidem.
20 Ibid. p. 166.
21 Ibidem.
22 Ibidem.
23 LAPUJADE, David. Deleuze, os movimentos aberrantes, p. 58.
24 DELEUZE. Diferença e repetição, p. 379.ီ
25 LAPUJADE, David. Deleuze, os movimentos aberrantes p. 58.
26 Ibid. p. 59.
27 Ibid. p. 52.
28 DELEUZE, Gilles. Crítica e clínica, p. 166.
29 Ibid. p. 168.
30 Ibidem.
31 Ibid. p. 169.
32 Ibid. p. 170.
33 Ibid. p. 171.
34 Ibid. p. 173.
35 Ibid. p. 173-174.
36 Ibid. 173.
37 Ibidem.
38 Ibid. 172.
André Rossi1
Resumo:
Essa é uma apresentação-arguição de quem pergunta tendo somente pistas daquilo que quer pesquisar junto
da audiência do Congresso. Na década de 80 do século XX a esquizoanálise no Brasil ficava muito restrita a
uma apreensão filosófica das obras dos autores precursores, os livros da Suely Rolnik e outras práticas ou
teorizações ligadas à Socioanálise de Lourau e Lapassade, embora tenha havido um pouco antes um
protagonismo enunciador de uma prática híbrida de psicanálise, grupos e instituições (IBRAPSI) que
consideremos inaugural de nossa experiência clínica antropofágica esquizoanalítica brasileira (ROSSI, 2019).
Entrando pela década de 90 até a primeira década do século XXI, instalamos uma espécie de polarização em
dois eixos no que se refere à esquizoanálise no Brasil. O eixo Rio de Janeiro-São Paulo, mais acadêmico, se
posicionava ou dizendo que o que fazia era Psicanálise (núcleo PUC-SP) ou se posicionava designando-se
como clínicos numa perspectiva transdisciplinar da clínica (núcleo UFF-Niterói). Portanto um eixo que não
tomava para si o significante esquizoanálise, embora houvesse uma prática arrojada de cínica e política que
costurava os autores desse campo. Por outro lado, o eixo Minas Gerais (IGB) - Cone sul latinoamericano
(iniciativas universitárias ou não no Uruguai, Argentina e Chile) afirmavam práticas designadas como
esquizoanalíticas. Eixo menos universitário, mais constituído pelas experiências de organização política e
sindical. A posição da UFMG nesse período eu não sei, tampouco qual as práticas esquizoanalíticas,
designadas como tal, aconteciam nesse imenso Brasil de universidades públicas, privadas e grupos não
LQVWLWXFLRQDOL]DGRV0HUHFHSHVTXLVD6DEHPRVTXHR´6HWRUµDSHOLGDGDSDUWHGRGHSDUWDPHQWRGH3VLFRORJLD
da UFMG com pendor totalmente socioanalítico, já havia trazido Lapassade na década de 70 ao Brasil
(MACHADO, 2001).
Essa pequena polaridade oriunda de históricos diferentes ganhou ares de antagonismos explícito no I Encontro
Latinoamericano de Esquizoanálise (2004) rHDOL]DGRHP0RQWHYLGpXFRPRDFRQWHFLPHQWRGR´HVTXL]RER[Hµ
que denotava uma aberta divergência quanto a formação, a abertura de escolas, quiça de organização
internacional para a esquizoanálise (ROSSI, 2022a). Hoje atores que outrora divergiam corporalmente,
convergiram para uma mesma iniciativa: a formação em esquizoanálise não é somente algo permitido como
XUJHQWH -XQWR GLVVR QmR FHVVDP GH VXUJLU GHPDQGDV SRU ´HVTXL]RDQDOLVWDVµ QD FOtQLFD GH FRQVXOWyULRV
Resumo:
A arquitetura do presente trabalho se situa na temporalidade visto que todo problema humano exige ser
considerado a partir do tempo (Fannon, 2021). Nesse sentido, entende-se que é preciso situar análise de
tensionamentos sociais a partir de uma perspectiva temporal. Visto que conceitos voltados a uma regularidade
prevista são insuficientes para o entendimento das especificidades de relações de poder que se dão em
contextos diversificados. Portanto, se faz necessária uma espécie de produção teórica autônoma, não
centralizada, ou seja, que, para estabelecer sua validade, não necessita da chancela de um regime comum
(Foucault, 2000).
Ao tentar se distanciar das pretensões teóricas universalizantes na obra Em defesa da Sociedade (2000),
Foucault se debruça sobre a análise de uma dimensão histórica da subjetividade e das relações de poder.
Ainda nesta obra, se constrói a consideração de que as formações humanas são marcadas por uma guerra
contínua e que a continuidade dessa violência é entendida como constitutiva da subjetividade.
Fazendo uso desses pressupostos e da perspetiva de que todo saber é situado, histórico e parcial, o presente
trabalho se volta a análise da congruência dos conceitos foucaultianos supracitados com a constatação da
insuficiência das classes marxianas na compreensão plenas das relações de poder.
Entende-se que a luta de classes assumiu uma dialética em que a forma do proletariado e sua luta foi a
perspectiva central ³ e exclusiva ³ de análise marxista, entretanto a crença na existência estratégica de duas
classes apenas, capitalistas e operários, se baseia em uma ilusão teórica e política (Lazzarato, 2022). Nesse
sentido, tradicionalmente se constituiu uma relação dialética universalizante ³ não havendo maiores
elaborações referentes aos ditos "anacronismos do marxismo" ³ o que, ao se voltar para a análise de
problemáticas "pré-capitalistas" percebe-se ser insuficiente para exprimir as dinâmicas poder que se
perpetuaram através das mudanças de regime de produção. Essa postura teórica demarca uma redução no
entendimento das estruturas de poder e relega as discussões que interpelam questões como raça e gênero a
um papel secundário visto que estas demandam de uma análise mais minuciosa de contextos.
Por conseguinte, assimilando que contextos diversos produzem uma variedade de relações ³ e, portanto,
uma variedade de tensionamentos de poder ³ demanda-se repensar o entendimento atual de luta de classes.
Não se tratando de um abandono do movimento político centralizado na luta mas se voltando a uma reflexão
Resumo:
Este estudo é fruto de uma pesquisa de doutorado em Psicologia, tendo sua tese defendida em 2021 pela
PUC Minas e realiza uma analítica da Esquizoanálise enquanto possibilidade clínica para a área de
conhecimento e intervenção da Psicologia. A partir da experiência clínica da pesquisadora e das experiências
colhidas em dez entrevistas com profissionais da Psicologia que se orientam pela ética-estética-política da
Esquizoanálise, foi construída uma cartografia do funcionamento desta práxis. Por meio de causos, memórias,
experiências e afetos, esta cartografia inicialmente discutiu a produção de subjetividade sustentada pela
Esquizoanálise, articulando-a num pequeno histórico referente à formação em Psicologia no Brasil, bem
como as questões contemporâneas como a pandemia de Coronavírus e a situação política, social e econômica
brasileira. Por meio do diálogo não só de leituras que versam sobre a teoria esquizoanalítica, mas também
contribuições teóricas como a do feminismo negro, discute-se as relações existentes entre a formação e a
compreensão do que é subjetividade para as/os profissionais de Psicologia e sua prática e experimentações
clínicas. A subjetividade para a Esquizoanálise compõe-se e decompõe-se o tempo todo. Esta perspectiva
proposta por Deleuze e Guattari (2011), parte de uma noção de subjetividade que, além de extrapolar o
sentido de uma subjetividade universal, a considera como coletiva, complexa, heterogênea e composta por
linhas (flexíveis, de segmentaridade e de fuga). Essas linhas, que têm funcionamento distinto, se entrelaçam,
se atravessam, se fazem e se desfazem produzindo composições provisórias, operando tanto abertura quanto
rigidez. Sobre a formação em Psicologia no Brasil, minha preocupação e provocação se referiram a
observações feitas durante meu percurso formativo e também ao que colhi nas entrevistas, que apontam para
uma crítica à atuação clínica que muitas vezes se apresenta desconectada da realidade de seu público. As
questões relacionadas à desigualdade econômica e social brasileira, ao racismo, ao corpo, ao território, a
1 Doutora em Psicologia pela PUC Minas (2021). Mestra em Promoção de Saúde e Prevenção da Violência (Saúde
Coletiva) pela Faculdade de Medicina da UFMG (2015). Possui graduação em Psicologia pela PUC-Minas (2006), Pós-
Graduação Latu Sensu em Análise Institucional, Esquizoanálise, Esquizodrama: Clínica de Grupos, Organizações e
Redes Sociais pelo Instituto Félix Guattari de Belo Horizonte e Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais/
FELUMA (2009). Atuou como pesquisadora bolsista no projeto: Política de Periódicos para Minas Gerais.
(Departamento de Psicologia/UFMG) e como Pesquisadora Colaboradora do Laboratório de Grupos, Instituições e
Redes Sociais (L@gir)/FAFICH/UFMG. Foi membro do Instituto Félix Guattari/ Instituto Gregorio Baremblitt.
Membro do Grupo de Estudos e Ações em Filosofia e Educação (grupelho- FaE/UFMG). Supervisora Clínico-
Institucional da Coletiva Mulheres da Quebrada. Professora e Supervisora da Formação Livre em Esquizoanálise. Atua
nas áreas de Psicologia Clínica, Esquizoanálise, Saúde Mental, Psicologia Social, Assistência Social, Grupos e
Indivíduos. E-mail: diasvieirakelly@gmail.com
Resumo:
O presente trabalho é um manifesto decolonial contra a mitologia ocidental que tem sido pautada na ideia de
diálogo e consenso. Sempre temos desejado um lugar de conforto no campo da opinião e do pensamento,
ainda que utilizando-nos de filosofias críticas. Tendemos a querer e buscar resoluções, dialéticas que
transformam antíteses em novas teses, ainda que temporárias.
Vivemos imersos em uma fantasia de verdade, lugar a chegar, de solução de conflitos, de pacificação do
conhecimento, de mediação de interesses que levam a um acordo, a estabilidades no campo das lutas, a
combinados que, se feitos, devem ser cumpridos. Uma utopia, um não-lugar, portanto, que ganha espaço em
vários discursos e práticas que se inserem no campo social.
No Direito temos advogados, juízes, juízes de paz. Nos debates temos mediadores, nos casamentos temos
advogados. Na igreja temos padres,pastores, conselheiros.Na escola temos mediadores escolares; na
psicologia temos dinâmica de grupo, clínica, psicologia jurídica, escolar, recursos humanos, hospitalar,
SUiWLFDVHPVD~GHPHQWDO«WRGDVas áreas, de certa maneira, criadas para mediar conflitos.
Por que não avaliarmos a possibilidade de não ter acordo? Por que ao invés de buscar a cessão do conflito,
não podemos sustentar o dissenso e abrir a chance para o inconciliável?
Entender uma das partes como a parte correta, pode ser justo do ponto de vista lógico-formal, mas talvez
não seja eticamente adequado.
Afirmar o inconciliável é afirmar a capacidade humana da multiplicidade de versões possíveis de habitar o
mundo. Existe uma fantasia do acerto, um futuro porvir glorioso que levaria embora as malesses, as
imperfeições e os contrassensos. Há uma vontade de pacificar e deixar as vidas planas, amornadas, lisas, sem
conflitos. Assim, supostamente, as amizades, os casamentos, os namoros, as relações professor-estudante, as
relações das pessoas com as instituições seriam mais fortes, coesas (RANCIÈRE, 2005)
1 É psicólogo, músico e Mestre em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense, especialista em psicologia e
psicólogo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. É professor de graduação, lecionando e pesquisando o cuidado
na sua intersecção com gênero, racismo e classe. Foi coordenador do curso de Psicologia na Universidade Estácio de
Sá (2018-2022), e psicólogo voluntário por dois anos do serviço de saúde mental da Secretaria de Vitimados (SEVIT)
do Governo do Estado do Rio de Janeiro Atualmente é professor do Departamento de Psicologia de Campos dos
Goytacazes da Universidade Federal Fluminense, sendo também supervisor do SPA na abordagem transdisciplinar da
clínica. Tem experiência na área de Psicologia Social e Pesquisa, produzindo trabalhos principalmente sobre os
processos de subjetivação no contemporâneo, pesquisa-intervenção, tendo recentemente concluído pesquisa sobre os
impactos do racismo na saúde mental da população negra. E-mail: alexander.motta@gmail.com
Resumo:
A presente comunicação visa apresentar uma pesquisa em andamento que traçou como objetivo analisar a
noção de composição de vidas valendo-se de diálogos entre a Filosofia, a Arte e a Psicologia. Nessas
conversações, problematizamos que, para além de uma trajetória definida e direcionada, falamos da produção
de modos de vida, dos processos de criação e dos planos de composição na existência. Para aproximar tais
dimensões o estudo foi organizado teoricamente sobre processos de criação artístico-musical em diálogo com
o que denominamos composições de vida na prática clínica. O elemento central da pesquisa consiste em
abordar a relação da composição com a vida cotidiana, atentando aos processos de subjetivação e suas
variações afetivas. A noção de plano de composição, elencada nas obras de Deleuze e Guattari, atravessa os
modos de vida, mas sua abordagem em estudos acadêmicos que o relacione com a prática clínica e com a arte
ainda são escassos. Com o propósito de aproximar essa noção filosófica da Psicologia e da Arte, a pesquisa
concebe a noção de composição como ferramenta crítico-clínica em meio à uma lacuna de pesquisas na área.
Teoricamente, são abordadas três dimensões denominadas como composições: filosóficas, artístico-musicais
e clínica. No intuito de oferecer uma proximidade do estudo teórico com a vida cotidiana, o estudo abriu
uma parte empírica na qual dotou uma perspectiva metodológica qualitativa com a estratégia documental.
Assim, na parte empírica do estudo foram selecionados e analisados registros e diálogos de compositores
brasileiros que relatam seus processos de criação de letra, música e vida. As entrevistas foram cedidas e
publicadas em documentos de domínio público disponibilizados em sites e nas redes sociais dos artistas.
Foram selecionados cinco compositores que estão envolvidos com a denominada Música Popular Brasileira
(MPB), sendo eles Caetano Veloso, Milton Nascimento, Chico Buarque, Gilberto Gil e Djavan. Sua
oparticipação foi definida a partir de três critérios: a importância que suas obras possuem na cultura brasileira;
1 Está cursando Mestrado em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina. Obteve "Formação em
Esquizoanálise" pela Escola Nômade de Filosofia. Formado em Psicologia pela UEL em 2017. Foi bolsista do CNPq
de Iniciação Científica. Atuou no Projeto de Extensão: "Pronto Atendimento Psicológico na Clínica Psicológica da
UEL", no Programa de Extensão: "Intervenção psicológica na rede pública de serviços no contexto da saúde mental"
e como estagiário no Centro de Atenção Psicossocial III, o CAPS III - Conviver, de Londrina/Pr e no Instituto
Roberto Miranda, Centro de Instrução, Reabilitação e Apoio a Necessidades Visuais de Londrina e região. Participou
do grupo terapêutico em saúde mental "Despertando Potências, Produzindo Protagonismos". Foi entrevistador do
PMAQ, programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica. Atualmente trabalha como
psicólogo clínico na cidade de Londrina, tendo como referência a clínica psicanalítica em composição com a
esquizoanálise. E-mail: joaov.fgimenes@gmail.com
2 Docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia e do Departamento de Psicologia Social e Institucional da
Universidade Estadual de Londrina. Doutora em Psicologia Clínica pela PUC/SP. E-mail: mansano@uel.br
Resumo:
O presente trabalho tem como objetivo apresentar pensamentos elaborados a partir de pesquisas
desenvolvidas sobre futebol e produção de subjetividade (DANTAS, 2008; DANTAS, 2011; DANTAS,
2017) e também de recente vivência na abertura de campo de estágio em psicologia do esporte no curso de
Psicologia da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG - Divinópolis), em uma escola de futebol
localizada na mesma cidade.
Das leituras, estudos e afetos que envolveram uma aproximação da pesquisadora com a Análise Institucional
e a filosofia da diferença por meio de interlocuções com os escritos de Gilles Deleuze e Félix Guattari
(DELEUZE, 1997; DELEUZE-GUATTARI, 2018), articuladas aos estudos de Michel Foucault sobre a
governamentalidade neoliberal e a emergência do sujeito empreendedor-de-si (FOUCAULT, 2008;
FOUCAULT, 2012), buscou-se notar, entre outras questões, as emergências do jogador-empresa no futebol
jogado por homens cis no Brasil, instituído como modalidade profissional (DANTAS, 2017). Além disso, foi
foco de uma das pesquisas compreender como o trabalho do Psicólogo do Esporte contribui(a) no processo
de subjetivação do atleta profissional contemporâneo (DANTAS, 2011).
Nessas duas oportunidades anteriores, me detive às linhas mais duras da configuração dessa instituição
futebol e suas territorializações; aos seus efeitos de poder e de aprisionamento da formação-formatação de
jovens profissionais da bola, bem como da prática adaptativa e de alto desempenho às quais psicólogas(os),
no encontro com as demandas hegemônicas da instituição futebol (alto desempenho esportivo e financeiro,
entre outras) e com as concepções de psicologia que permeiam essas demandas, se sentem convocados a
responder.
1 Psicóloga (CRP 04/28.914), professora e pesquisadora. Doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, com período sanduíche na Argentina (Universidad de Buenos Aires) e Pós-Doutorado em Estudos
do Lazer na Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro. Atua como professora designada no Departamento de Psicologia da Universidade do Estado de Minas
Gerais. É pesquisadora no Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas (GEFuT/UFMG), atualmente vice-líder do
grupo, no qual se dedica a estudos sobre o futebol, relações de poder e produção de subjetividade. Participa da
produção do Programa Óbvio Ululante na Rádio UFMG Educativa e também do Grupo de Estudos e Pesquisas em
Psicologia Social do Esporte (GEPSE/UFMG), sendo uma das fundadoras do grupo. Integra o Núcleo de Projetos
de Apoio Psicossocial a Estudantes (NUPAPE/UEMG) e também o Grupo de Trabalho Esporte Cultura e Sociedade
do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (CLACSO). E-mail: marinamattos@gmail.com
Resumo:
Aponta-se que o objetivo geral da pesquisa foi realizar um estudo em psicologia do corpo, considerando esta
como a própria filosofia da imanência, bem como, uma análise das subjetividades nas práticas corporais
coletivas de improvisação na dança. E os objetivos específicos foram mapear as experiências na dança
contemporânea e colaborar com estudos sobre o corpo a partir de uma construção transversal. Para alcançar
os objetivos foram formados grupos de aproximadamente dez pessoas que passaram a se reunir duas vezes
por semana, constituindo as chamadas oficinas de dança contemporânea no Centro de Arte e Cultura da
UFRRJ sob orientação da autora da pesquisa. Destaca-se o caráter marginal das práticas pela própria
localidade geográfica ser periférica em relação aos centros urbanos. Uma cidade paradoxal, corpos paradoxais
marcados por desigualdades e potencialidades. Como em Guattari, toda uma criatividade subjetiva que
atravessa os povos e as gerações oprimidas, os guetos, as minorias (Guattari, 1992, p. 115). Toda uma potência
subjetiva que se afirmou no coletivo, nas transições de suas forças, mesmo que ainda seja mínima a capacidade
de afetação mútua comunidade instituição. Aprofundamos os pensamentos filosóficos, metodológicos e
micropolíticos de Gilles DeleuzH H )pOL[ *XDWWDUL SULQFLSDOPHQWH SHOD VXD REUD FROHWLYD ´0LO 3ODW{V ²
&DSLWDOLVPRH(VTXL]RIUHQLDµFRQFHLWRV-ferramenta que se empregaram como operadores das experiências
realizadas. E Michel Foucault para a compreensão da construção de um cuidado de sLHP´$+HUPHQrXWLFD
GR6XMHLWRµTXHFRPRVHXROKDUKLVWyULFRGHVHQYROYHXPSHQVDPHQWRYLYRDSRQWDGRSRU'HOHX]HFRPRXP
pensamento com estilo. Retomamos Deleuze, a partir do conceito de estilo por ele definido em
´&RQYHUVDo}HVµHQWHQGHQGRHVWLORFRPRXma sofisticação das práticas de cuidado de si. Foucault pensa o
desaparecimento da ideia de uma moral como obediência a um código de regras e na sua ausência busca uma
estética da existência. Um modo de vida que dê lugar a uma cultura e a uma ética por ele concebida enquanto
obra de arte. Constitui-se, então, um grupo de corpos dançantes entre treze e setenta anos de idade, meninos,
meninas, homens e mulheres, em sua maioria negras, das mais variadas origens, religiões, formas, formações
e engenhos, dançando juntos. Entre convidados especiais e outros proporcionados pelo próprio espaço e
acaso, estudantes do ensino fundamental e médio, universitários, pós-graduandos, artistas, professores de
dança, músicos, profissionais distintos, cientista social, educadora física, doceira, cabeleireira, vendedora,
1 Psicóloga e Doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Mestra Interdisciplinar em
Artes, Urbanidades e Sustentabilidade pela Universidade Federal de São João del-Rei. E-mail:
taiscarvalhosoares@gmail.com
Resumo:
Na proposta deste artigo, que constitui em um desdobramento de um trabalho de conclusão de curso que
está em andamento, buscamos comunicar percursos de experimentação que têm como ponto de partida a
Casa Florescer, um espaço de acolhimento e residência para mulheres trans em São Paulo, que está localizada
nas proximidades do bairro do Bom Retiro.
A Casa Florescer é pioneira como um centro de acolhimento exclusivo, destinado a travestis e mulheres
transexuais em situação de vulnerabilidade no Brasil. Através da metodologia da cartografia buscamos por
meio de cartas registrar os acontecimentos de um diário entre-corpos. Segundo Regina de Barros e Eduardo
3DVVRV ´D UHVWLWXLomR GH XP SURFHVVR GH SHVTXLVD-intervenção através do diário cria um plano em que
SHVTXLVDGRUHV H SHVTXLVDGRV VH GLVVROYHP FRPR HQWLGDGHV GHILQLWLYDV H SUHFRQVWLWXtGDVµ S) A
dissolução entre sujeito e objeto nesta pesquisa está marcada por um processo de experimentação mútuo no
qual o limiar entre as fronteiras instaura processos contínuos de reinvenção.
A busca que propomos percorrer a partir desses trajetos desviantes consiste em investigar quais são os espaços
de agenciamento imbricados nos corpos subalternizados pela lógica cisheteronormativa. Muitas das mulheres
que chegam na Casa Florescer percorrem um longo trajeto antes de chegar à casa. Várias delas deslocam-se
de suas terras natais em busca de novas possibilidades de existência. No entanto, quando chegam em São
Paulo, acabam morando nas ruas e vivenciando a poesia concreta da paulicéia desvairada. Nesse momento,
os serviços socioassistenciais constituem um política social imprescindível na condução dessas mulheres às
casas de acolhimento.
Como pudemos observar através da experiência de campo na Casa Florescer, o fluxo de chegada e saída é
constante. São diversos os atravessamentos que elas carregam em seu corpos-rua que são habitados por um
constante estado de atropelamento. Muitas mulheres acabam não conseguindo brotar devido aos resquícios
dos terrenos áridos que carregam em suas bagagens.
Nesse constante estado de afecção, algumas mulheres como Sabrina, 2 acabam não conseguindo digerir o
incômodo somático e relatam utilizar da automutilação como forma de expurgar certa culpa que carregam
sobre seus corpos. Os cortes que acompanham a rotina dessas mulheres vão desde o desmanche de vínculos
Resumo:
O presente relato de experiência parte do acompanhamento de dois casos, realizado durante o período de
cumprimento de estágio curricular do curso de Psicologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em uma
das equipes do Programa Corra pro Abraço, especificamente, a que atua na Vara de Audiência de Custódia (VAC)
da cidade de Salvador, Bahia. O Programa Corra pro Abraço é uma iniciativa criada no ano de 2013 voltada para
população em situação de rua (PSR) e/ou em contextos de extrema vulnerabilidade social atravessados pela
criminalização das drogas. No que lhe concerne, no ano de 2015, a equipe Corra VAC inicia atendimentos e
acompanhamentos de pessoas que passam por audiências de custódia e de seus familiares, principalmente
daquelas que se encontram em situação de extrema vulnerabilidade social, associada ou não ao uso abusivo
de drogas, e que se amplia para o acompanhamento de jovens vulnerados e pessoas em sofrimento psíquico
grave que passam pelo espaço. A presença do Corra pro Abraço não somente se torna uma inibidora de
possíveis violações de direitos e abusos de poder no cenário judiciário, como produz outros furos, fissuras,
linhas de fuga frente à máquina capitalista de moer gente, sobretudo gente preta e pobre, ao possibilitar a
produção de processos de singularização em um contexto repressivo. Em 2023, a equipe passa a realizar
1 Graduanda em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bacharelado Interdisciplinar em Saúde
Incompleto pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Integrou o Grupo de Pesquisa Cognições Sociais e
Representações no Laboratório de Estudo dos Processos Psicológicos e Sociais (LEPPS) como bolsista no Projeto
Representações Sociais sobre Usuários e Traficantes de Drogas (UFBA). Participou do Grupo de Estudos sobre
Reforma Psiquiátrica Marcus Vinícius O. e Silva (UFBA) e foi extensionista no Programa Intensificação de Cuidados
(PIC) em Saúde Mental do IPS/UFBA. Atuou no Projeto de Extensão Joga Texas Encontro de RPG e Jogos (UFSB)
e foi Professora Voluntária de Inglês no Projeto de Extensão Pré-Vestibular Social UFBA. Foi Estagiária do Programa
Nacional de Capacitação do Sistema Único de Assistência Social (CapacitaSUAS - UFBA) e Estagiária da Defensoria
Pública do Estado da Bahia na Equipe de Saúde Mental da Especializada de Defesa de Direitos Humanos (DPE/BA).
Atualmente é Estagiária no Programa Corra pro Abraço na equipe Corra Vara de Audiência de Custódia (Corra VAC).
E-mail: agnescristine@live.com / agnes.cristine@ufba.br
2 Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia, mestrado e doutorado em Filosofia (bolsista
CNPq) pela Universidade Estadual de Campinas e pós-doutorado em Estudos Psicanalíticos pela Universidade Federal
de Minas Gerais. Foi docente de teoria e clínica psicanalítica na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia no
período de 2007 a 2018. Atualmente é professora adjunta no Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia
e compõe o quadro docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (IPS-UFBA). É professora-
tutora na Residência Multiprofissional em Saúde HUPES/UFBA. Atua nos grupos de pesquisa "Filosofia e
Psicanálise" e "Psicanálise: clínica, política e cultura" (líder). É membro do Colégio de Psicanálise da Bahia e membro
fundador do Centro de Pesquisa Outrarte: psicanálise entre ciência e arte (Unicamp). Faz parte do grupo de sustentação
do GT de Filosofia e Psicanálise (ANPOF). E-mail: suely.aires@ufba.br
Eder Amaral1
Resumo:
Se o mundo hoje se tornasse infrutífero para novas obras de arte, passaríamos ainda milênios bem
acompanhados por tudo o que fizemos pela beleza, pela expressão, pela vitalidade, pela existência, alegre ou
triste, sempre intensa. Neste domínio jamais teremos feito tudo ou esgotado os possíveis, mas ainda que isto
ocorresse, estaríamos bem com o que trazemos em (entre) nós até aqui. Entretanto, poderíamos dizer o
mesmo dos modos de viver e estar juntos? ´Nós vemos um filme um pouco como vemos uma montanha ou
o marµ$VVLP)HUQDQG'HOLJQ\UHYHODXPWUDoR~QLFRGRVHXcinema infinitivo, que faz da câmera em uso um
agir que vale em si, inacabável, exercício imediato do presente. Desde o começo do seu trabalho com cinema,
numa aliança delinquente com François Truffaut, sua atração pela câmera como um objeto-circunstância
perturba as convenções de uma relação predatória com a imagem, fazendo da câmera uma ferramenta de
ocasião que abria novas possibilidades de coexistência, tornando-a um verdadeiro artefato antifílmico: em
recusa ao imperativo utilitário da filmagem (na medida em que filmar já implica um objeto final, que é o
filme), Deligny está mais interessado pelo processo que envolve manusear, operar, se acoplar a uma câmera
e, com isso, agir, se deslocar no espaço e no tempo, camerar, transformando o equipamento técnico
entrelaçado aos trajetos de crianças autistas num dispositivo clínico do cinema. De outro lado, Gilles Deleuze,
professor de cinema, dedica quatro dos seus últimos anos de ensino a estudar sistematicamente o pensamento
imanente ao cinema. Se o cinema enquanto fazer é imediatamente pensamento ² um pensamento imagético,
uma imagética do movimento e do tempo ² é sem dúvida como força que o cinema, em seu conjunto, exigirá
do filósofo Deleuze um dos seus movimentos mais originais em Cinema 1 e 2. Entretanto, e apesar do inegável
reconhecimento destas obras no campo dos estudos cinematográficos contemporâneos, causa espécie a
indiferença à voz do Deleuze professor, na medida em que estes livros (como aliás, quase tudo o que ele
escreveu a partir de 1979) foram preparados em condições que merecem, por si só, um estudo mais atento,
revelando a vitalidade clínica do seu ensino. Este trabalho consiste num estudo destas duas circunstâncias de
1 Professor Adjunto do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas (DFCH) da Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia (UESB), Campus Vitória da Conquista-BA, vinculado aos cursos de Cinema e Audiovisual e Psicologia;
Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, Campus Vitória da Conquista-BA;
Psicólogo Clínico; Tradutor nas áreas de artes e humanidades. Mestre em Psicologia Social e Política pela Universidade
Federal de Sergipe (UFS); Doutor em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Atua
principalmente nos seguintes temas: cinema, infância, clínica e experiência urbana, sempre articulados pelo horizonte
do pensamento da imanência, dos estudos contemporâneos da imagem e da clínica psicanalítica de orientação pós-
estruturalista. E-mail: ederamaral@uesb.edu.br
Resumo:
O Teia Acolhida surge em 2020, no contexto da Pandemia de COVID-19 e seu agravamento no país por
conta do governo de ultra-direita que nos assolava à época. Pensamos em adentrar esse contexto, mas é difícil
encontrar palavras para descrever nossa vivência, ou melhor, nossa sobrevivência. Ainda assim, foi nesse
contexto que juntamos um grupo de supervisão - que era organizado por uma de nós - e alguns participantes
da Formação Livre em Esquizoanálise para oferecer escuta e acolhimento à população em geral de forma
gratuita, frente aos mais diversos adoecimentos provocados pelo distanciamento social e precarização do
acesso a trabalho, renda, educação e saúde.
O grupo começou com cerca de 20 psicólogos, que recebiam as demandas de atendimento que nos chegavam
por um contato de whatsapp. Havia 2 encontros clínico-institucionais por mês para acompanhar esse processo.
Não apenas o processo de acolhimento de cada pessoa que chegava, individualmente, mas também o nosso
processo coletivo enquanto um projeto social-político. Por isso, além do Acolhida operar como acolhimento
e enfrentamento do isolamento social da população, também foi para nós possibilidade de rede afetiva nesse
mesmo enfrentamento e com isso, foi se tornando cada vez mais um local de coletivização do trabalho clínico.
1 Psicóloga e musicoterapeuta e atua em consultório com uma perspectiva esquizoanalista brincante. É supervisora do
Teia Acolhida, compõe a cogestão do coletivo e é criadora do Devir. Tem acompanhado as discussões em torno dos
diagnósticos e autodiagnósticos e se dedicado a estudar e acompanhar crianças no espectro autista. E-mail:
brunagaudio@gmail.com
2 Mulher periférica, cis, branca, psicóloga clínica, educadora popular e uma das fundadoras da Biblioteca Comunitária
Djeanne Firmino e da Coletiva Brincantes Urbanas. Pesquisa o papel da leitura e do brincar no desenvolvimento
humano. Constrói sua clínica na perspectiva da esquizoanálise, compõe o Coletivo Teia Acolhida e é aluna do curso
"Orientação à queixa escolar" pelo IP-USP. E-mail: cristiane.lima.0707@gmail.com
3 Psicóloga esquizoanalista, acompanhante terapêutica e mãe. Trabalha em consultório clínico. Está formanda pela
Formação Livre em Esquizoanálise e produz textos e imagens para a página da FLEA. Está co-gestora e supervisora
clínico-institucional do Teia Acolhida. Olha para a maternidade como importante intercessor para a clínica e afirma o
Acompanhamento Terapêutico como modalidade clínica em quaisquer espaços onde haja mais de uma pessoa. E-mail:
juliapaim.psi@gmail.com
4 Psicóloga clínica e Institucional, formada pela Universidade Federal Fluminense, especialista em Saúde Mental pela
Prefeitura do Rio de Janeiro e esquizoanalista pela FLEA. Atende grupos terapêuticos e pacientes individuais, de forma
remota e presencial. Co-gere o coletivo Teia Acolhida, grupo de estudos, acompanhamento e supervisão de psicólogos
clínicos. E-mail: jugfgomes@gmail.com
5 Graduada em Psicologia (UFRJ), Mestra em Psicologia, Subjetividades e Exclusão Social (UFF), Psicóloga Clínica,
Resumo:
A cartografia como método tem um lugar de importância e de produção de conhecimento para a psicologia
social e clínica no Brasil. O objetivo nesse trabalho é considerar se a teoria Paulo Freiriana contribuiu para
expansão do Método Cartográfico no Brasil. Que diagrama estava disposto em solo brasileiro que possibilitou
essa expansão seria nosso orientador para percorrer textos-pistas? Para tanto faremos um trajeto cartográfico
que passa pelas produções de Foucault, Deleuze, Guattari e Deligny, bem como depois tecer a hipótese
através de aproximações entre essas produções e o trabalho de Paulo Freire. A metodologia, portanto, é a
leitura cartográfica das obras e exposição das suas aproximações. Essa aproximação é muito mais
diagramática, no sentido do que a teoria dos autores europeus encontrou aqui no Brasil, e como talvez esses
conhecimentos em certa medida podem estar em uma mapa que gera agenciamento coletivo no Brasil. A
cartografia tem sua origem remonta as produções do encontro de Gilles Deleuze e de Michel Foucault, como
SRGHPRV DFRPSDQKDU HP XPD GDV SLVWDV QR FDStWXOR ´8P QRYR FDUWyJUDIRµ GR OLYUR FKDPDGR )RXFDXOW
(1986) de autoria de Gilles Deleuze. Outras pistas significativas foram deixadas pelo autor Foucault como,
por exemplo, na entrevista concedida a Alain Grosrichard em 1977 (2013) sobre a cartografia ser uma
metodologia que levaria em conta a arqueologia, a genealogia e o saber-poder, bem como e principalmente a
desmontagem dos dispositivos subjetivantes e normalizantes. Mais pistas sobre a metodologia cartográfica
vieram na obra Mil Plâtos Volume 1(1987) de Félix Guattari e Gilles Deleuze. De acordo com o capítulo
´5L]RPDµHQFRQWUDPRVDVUHIHUrQFLDVSDUDSHQVDURPpWRGRFRPRVHQGRHVWUDWpJLFR-rizomático. Modos de
construir o conhecimento que pensam criticamente as produções coletivas e suas normalizações
subjetivantes, mas também produzem linhas de fuga e agenciamentos coletivos heterotópicos. Com o
pedagogo Ferdinand Deligny na publicação brasileira de 2015 do livro O Aracniano e outros textos (reunião
de textos produzidos entre 1976- 'HOLJQ\HVFUHYHVREUHRVWUDMHWRVTXHIH]FRP´FULDQoDVjSDUWHµ2
desenho-mapa dos trajetos das crianças ditas autistas ofertaram uma outra forma de pensar subjetividade, um
método clínico de muita importância que desmonta a linha do normal e do patológico. Entretanto, não é só
na Europa que um modo de fazer implicado com os trajetos e os territórios existenciais se deu. Inclusive
1 Graduada em Psicologia (UFRGS) e Ciência Jurídicas e Sociais (PUCRS), Mestre e Doutora pelo Pós-Graduação em
Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foi professora convidada da
Residência Multiprofissional e Integrada de Saúde Mental Coletiva da UFRGS. Hoje é psicóloga clínica. E-mail:
juliadcarvalho@gmail.com
´$FHLWDPRVSRLVRTXDOLILFDWLYRGHHVWHWDSRUDFUHGLWDUTXHRREMHWLYR~OWLPRGDV
ciências humanas não é constituir o homem mas dissolvê-ORµ
² Claude Lévi-6WUDXVV´23HQVDPHQWR6HOYDJHPµ
´$HVSLULWXDOLGDGHGRHWQRFtGLRpDpWLFDGRKXPDQLVPRµ
² 3LHUUH&ODVWUHV´$UTXHRORJLDGD9LROrQFLDµ
Resumo:
Este trabalho é um convite ético para a continuidade deste longo esforço de retirada da antropologia
contemporânea de duas das manifestações científico-filosóficas de sua época que mantém um corpo teórico
iluminista preterindo a diversidade. Seu fio argumentativo passa por declarar que tanto a Ciência Ocidental
quanto a fundamentação humanista de princípio comum do gênero humano esmagam a multiplicidade em
favor de imagens coisificadas de essências que não satisfazem ao pensamento antropológico. Para tanto,
expõe-se a problemática da Ciência na era que convencionou-VHDFKDPDU´&DSLWDORFHQRµ$VVLPREUDGH
Isabelle Stengers em convergência com os conceitos de Gilles Deleuze e Félix Guattari são valiosas para
mapear e diagnosticar o paradigma científico, bem como suas implicações semióticas, políticas e ontológicas
que tendem a suprimir a multiplicidade. Depois, compara as noções substantivistas modernas com a
pronominal Metafísica Ameríndia ² transcrita ao modo de Eduardo Viveiros de Castro ² que assume sua
posição antimoderna. Como resposta teórica, propõe o projeto anarquista ontológico enunciado por Mauro
Almeida contra o problema positivista dos saberes através da comparação com a noção de comunismo
humanista de David Graeber. Finaliza, portanto, apontando a crítica de Viveiros de Castro e Bruno Latour
ao marxismo, destacando seus acertos e limites, assim como convergências e saídas para o marxismo através
da tradição iniciada por Louis Althusser e propagada por Étienne Balibar.
Palavras-chave: ciência; humanismo; anti-humanismo; marxismo; anarquismo.
1 Luís Filipe Viveiros e Silva é aluno do 5º semestre da graduação do curso de Ciências Sociais pela Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG). Iniciou a graduação pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e realizou a
transferência para Belo Horizonte em 2023. Interessado desde sempre por filosofia e antropologia, tem se dedicado ²
por incentivo de um professor de Introdução à Filosofia (disciplina cursada no 2º semestre) ² ao estudo das obras
convencionadas como pós-estruturalistas e de contexto contemporâneo. Adora ler Deleuze, Guattari, Marx,
Nietzsche, Preciado, Foucault, Freud, Lélia Gonzalez e tantos outros pela filosofia, bem como Virginia Woolf, Clarice
Lispector, Franz Kafka, Sade e outros pela literatura. E-mail: viveiros.luis002@gmail.com
Resumo:
Por muito tempo no Brasil, as ciências sociais e humanas, onde se inseriu a psicologia e outras ciências, alocou
os estudos raciais no campo do desconhecido, distanciando e apagando saberes e sujeitos (Santos e Oliveira,
2021). Nesse caminho, as universidades enquanto espaços de produção de conhecimento, de discursos e
práticas, de difusão de representações sociais, em seu processo de institucionalização, contemplou as elites
brancas burguesas. Com seus mecanismos de exclusão dos não-brancos e pobres, além da produção e
reprodução de discursos eugenistas, também pactuou com a produção do racismo científico e de perspectivas
que difundem a suposta neutralidade na produção científica (Fernandes, 2001).
Ao longo da história dos estudos do pensamento psicológico no Brasil a respeito das relações étnico-raciais,
Santos, Schucman e Martins (2012), compreendem que seus fundamentos se firmaram em perspectivas
médico-psicológicas, naturalistas e deterministas, que criminalizaram sujeitos negros e produziram as
justificativas para sua exclusão social. Ainda que outros estudos tenham surgido para tentar desconstruir tais
pilares, a escuta das produções que problematizam a branquitude e seus efeitos psicológicos é recente nos
corredores das universidades, no debate das questões étnico-raciais, principalmente no que diz respeito à
formação dos profissionais em psicologia.
Coadunamos com os estudos de Bento (2022), que compreende que falar do silêncio da branquitude no
debate das relações étnico-raciais é urgente. Para a autora, trata-se de uma herança marcada por violências,
por expropriações, e que se inscreve na subjetividade do coletivo, ainda que não seja publicamente
UHFRQKHFLGDHQTXDQWRWDO'HVVDIRUPDGHQRPLQDGH´SDFWRQDUFtVLFRµRDFRUGRWiFLWRHQWUHEUDQFRVTXH
constrói uma aliança que busca esconder, reprimir e expulsar o que é intolerável enquanto memória coletiva
de fatos que podem trazer sofrimento e vergonha para o grupo (autoproclamado) hegemônico branco que
os produziu.
A partir dos processos de subjetivação aterrados em nosso território, das complexas tramas de violências que
fundaram o que hoje denominamos Brasil, compreendemos que as pessoas brancas constituem uma
1 Psicóloga Clínica e Social, amazônida e ativista gorda. Pesquisadora dos estudos das Corporalidades Gordas latino-
americanas e Feminista decolonial. E-mail: psicorosaneta@gmail.com
2 Artista-musicista-educadora, mestranda em Psicologia Social pela UFMG, psicóloga pela PUC Minas. Educadora no
Origem Instituto. Investiga os processos de subjetivação em contextos periféricos, traçando pontes entre a
Esquizoanálise e teorias decoloniais/contracoloniais. E-mail: mariamoonica@gmail.com
Ritornelo e educação
André L. G. S. Dantas1
Claudia Lefebvre R. Bastos2
Luísa de Almeida Rocha Alves3
Madhu Itaborahy4
Nathali Arruda5
Taoã Albuquerque6
Thiago Colmenero Cunha7
Resumo:
O retorno diferenciado traz uma variação rítmica entre o aterrado e o suspenso, contorno e caos, esfera que
cria espaço em profundidade, potência criadora que irrompe vias de possibilidades, experiência de sermos
arremessados em meio a um espiral hora com fronteiras, hora sem fronteiras. Escrito a sete mãos, em uma
costura de estilos heterogêneos, pretende-se como objetivo neste trabalho investigar a repetição como
princípio coibitivo ou organizador de agenciamentos territoriais e sua relação com a aprendizagem, expostos
a essa inevitabilidade compreendida pelo conceito de ritornelo proposto por Gilles Deleuze e Félix Guattari.
Ousa-se sentir a repetição como o curso de um rio caudaloso. O rio traz materialidade para o conceito de
território enquanto lugar de passagem, podemos pensar represas e trombas d'água enquanto componentes
dimensionais de agenciamento desses rizomas aquáticos, e vislumbrar a força da água que busca fluir por
entre essas demarcações repetidas vezes provocando sulcos profundos na terra, compondo e alargando suas
margens, modificando-as no percurso. Há um centro repetitivo no rio, atravessado a todo instante por um
campo de pura diferença. Repete-se para construir um corpo, seja ele qual for; muscular, intelectual,
relacional. Entretanto, como justificativa de pesquisa, socialmente é percebida uma dinâmica neoliberal de
coação à produtividade, ao consumo, como traz Byung-Chul Han - uma espécie de compulsão ao novo que
tira a possibilidade do sentimento de pertencimento do fazer, do que se repete - esvazia o repetido em nome
de uma produção acelerada, muito cara ao sistema neoliberal educacional contemporâneo, em tempo de
tantas provas padronizadas, turmas separadas por rankings de notas e ensino através de apostilamento. Para
sentir e pensar as correlações desse campo vivencial, filosófico e educacional que territorializa efeitos, a
presente pesquisa é desenvolvida a partir de uma revisão bibliográfica crítica e contextual sobre os temas
Resumo:
Como professora, militante da Luta Antimanicomial e em Defesa da Democracia, psicóloga, esquizoanalista,
institucionalista, grupalista, apresento esta proposta de Comunicação Oral. Leciono, atualmente, Psicologia
Social 1 e Processos Grupais e Institucionais, para 3º período e 4º período, respectivamente. Desta vez vou
falar de sala de aula, vivências pedagógicas, que caracterizo como esquizoanalíticas - procuro inventar e
convido estudantes a inventarem, romper com a atmosfera de tédio, como diria bell hooks (2013), gerar
entusiasmo, favorecer o desejo de saber. E nesta perspectiva da educação como prática da liberdade, busca-se
construir posturas de diálogo entre diferentes referenciais ² a educação como prática da liberdade de Freire
D HUJRORJLD GH 6FKZDUW] H R GLiORJR HQWUH VDEHUHV DFDGrPLFRV H VDEHUHV ¶GD
H[SHULrQFLD· 6FKZDUW] 7UDMDQR 3); do grupo operativo de Pichon-Rivière e a intervenção
grupal como estratégia pedagógica (Pichon-Rivière, 1986; Bleger, 1980; Trajano, 2002); a esquizoanálise e o
esquizodrama (Guattari, 1981; Baremblitt, 2003,1992; Passos et al., 2009; Rossi, 2021) como possibilidades de
inventar e buscar romper fronteiras de saberes e poderes em sala de aula, tomada como grupo, este entendido
como processo grupal articulado a processos institucionais ² instituintes que produzem o Novo Radical, e
lembramos Gregorio Baremblitt (op. cit., 1992), que nos traduz Felix Guattari e a revolução molecular (op. cit.,
1 Possui graduação em Bacharel e Formação de Psicólogo pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG (1978),
mestrado em Psicologia Social / UFMG (2002) e doutorado em Conhecimento e Inclusão Social em Educação /
UFMG (2012); especialização em Psicologia Comunitária pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB (1981);
Formação em Análise Institucional pelo Instituto Félix Guattari / BH (1998). Professora efetiva da Universidade do
Estado de Minas Gerais - UEMG, desde agosto/2021, onde coordena o Núcleo de Projetos de Apoio Psicossocial a
Estudantes (NUPAPE), cadastrado no Diretório de Pesquisas do CNPq (09/2020). Atualmente, coordena Projeto de
Extensão com equipe de estudantes negras e o Grupo de Trocas de Vivências Negras (GTVN), com apoio do
PAEx/UEMG/2023. Associada à ABRAPSO - Associação Brasileira de Psicologia Social; ABRASCO - Associação
Brasileira de Saúde Coletiva; ABPP- Associação Brasileira de Psicologia Política. Experiências como pesquisadora -
UFMG/ FAFICH / Núcleo de Estudos Sobre Trabalho Humano, UFMG/ FaE/ Núcleo de Estudos sobre Trabalho
e Educação, UFMG/ FM/ Núcleo Promoção de Saúde e Paz; como professora em cursos de graduação e pós-
graduação em diferentes Instituições de Ensino Superior; como consultora / assessora junto ao SUS / Política
Nacional de Humanização e ao movimento sindical; atuando principalmente nos seguintes temas: grupos e instituições;
saúde coletiva; trabalho e ergologia, humanização do SUS, saúde mental antimanicomial e direitos humanos; psicologia
antirracista; psicologia e gênero; violências contemporâneas. E-mail: ana.trajano@uemg.br