A construção do social como

campo de saber da psicologia.

 Objetivos
1) Compreender as contingências históricas
do aparecimento do campo da psicologia
social: a especificidade e condições
históricas da psicologia social surgem a
partir de uma certa configuração social;

2) Sentidos do social em psicologia social;

1) Compreensão as contingências
históricas do aparecimento do
campo da psicologia social: a
especificidade e condições
históricas da psicologia social
surgem a partir de uma certa
configuração social.
1. Fase de uma protopsicologia social (metade do
séc. XIX e primeira metade do séc. XX);

2. Fase de constituição e afirmação da psicologia

social (década de 1950 e 1960);

3. Fase da consolidação da psicologia social como

disciplina acadêmica (meados de 1960 até meados de
1970);

4. Fase da crise da psicologia social (final de 1970 e

princípios dos anos de 1980).

(Maritza Montero, 1983).

Perguntas ao psi social: o que é o social? O
fato de trabalhar no social muitas vezes nos
impede de saber exatamente sobre o que
nós trabalhamos.
 SOCIAL
• Característica comum a Qual seria a especificidade
todas as formas de de uma psicologia social?
existência coletiva;
• algo intrínseco à Como explicar o
condição humana; aparecimento recente de
• sinônimo de um campo de conhecimento
sociabilidade; e de um conjunto de
práticas que se ocupa das
• objeto natural/evidência
relações sociais?
Evidência
(Silva, Rosane Neves,
Reduz o social a uma
2004).
dimensão
espacial/dispensa
explicações
 SOCIAL
• Característica comum a • Problema
todas as formas de • campo historicamente
existência coletiva que dado constituído por
relações de força;
pressupõe relação entre
• um campo constituído
seus membros;
por um conjunto de
• algo intrínseco à condição práticas;
humana; • Objeto construído/em
• sinônimo de sociabilidade; transformação;
• objeto natural/evidência • Multiplicidade
necessariamente
Evidência construída.
Reduz o social a uma
dimensão Problema
espacial/reduz sua Dimensão histórica
complexidade
Manuais de Psicologia social = objeto natural
SOCIAL

objeto: “interação social dos indivíduos” (fala

por si mesma)

surgimento do campo “Psicologia Social” –

relato cronológico de construção teóricas
X
contingências históricas que marcam suas
singularidade
“[...] nos impede de ver que tanto a
especificidade quanto as condições de
possibilidade para a emergência de tal campo
de conhecimentos se constituem a partir de
uma certa configuração do próprio social,
caracterizada pela valorização de um
determinado conjunto de práticas com
função normativa e reguladora”. (Silva, 2004,
p. 16) – cada formação histórica cria um campo
de possibilidades de onde emerge uma certa
problemática que engendra uma configuração
específica do social.
 A partir de que momento o social é
formulado como um problema que requer
intervenção específica?

Ex: sociedades mais antigas – “disfunções” absorvidas

em relações sociais informais (ex: o idoso, a criança).

“disfunções” não são mais reguladas de maneira

relativamente informal no tecido da sociedade
 1ª configuração do social

Criação de Criação de um
equipamentos/espaços corpo profissional
institucionais especializado

Pano de fundo: campo assistencial

“Podemos dizer que a invenção do social

implica um modo de intervenção que se
distingue das relações informais entre os
membros da sociedade em questão” (p. 18)
 1ª configuração do social

Criação de Criação de um
equipamentos Asilos corpo profissional
institucionais Hospícios especializado
orfanatos

Conjunto de práticas com função protetora/integradora = atender

certos segmentos da população carente cujas necessidades não
são suprimidas dentro do tecido informal das relações sociais
Desde a alta Idade Média = “serviço social local” –
Gestão racional da indigência (a partir do século XIII até
metade do século XIX)
1ª configuração do social
Um certo tipo de problema requer um modo de
intervenção específico = novo arranjo do tecido social

Relação entre trabalho/pauperismo

Núcleo de uma lógica assistencialista

1ª configuração do social

Problematização do social permanece

conectada a um vetor estritamente
espacial:

Pertencimento a um território comum

define quem receberá auxílio.
 Século XIX – ideal
republicano/democracia/liberalismo
econômico/aurora da Revolução Industrial
Questão social Ordem
Ordem jurídico- econômica
política
Surge no vazio
Liberalização do mercado
Soberania igual dessa fratura e
de todas(os) precisa ser Ordem econômica que
obedece às leis do mercado
Ordem política preenchida (liberalismo econômico)
fundada no Livre acesso ao trabalho Intervenção mínima do Estado/
reconhecimento
dos direitos x Revela a trágica inferioridade da
condição de alguns
Direito ao trabalho
2ª configuração do social

Criação de Criação de um
equipamentos corpo profissional
institucionais especializado

Pano de fundo: revolução industrial

Trabalho e novo pauperismo (diferente do anterior)

Aumento da riqueza Aumento da miséria

Ameaça à coesão social
 2ª configuração do social
Social como um problema indissociável de uma
questão subjacente ao conjunto da sociedade
capitalista, a saber, a questão do pauperismo
Pauperismo = Construção de um sistemas de
Rupturas regulações para tentar preencher
essa fenda, buscando promover
sociais a integração de diferentes
estratos da sociedade.

“[...] essa segunda configuração do social vai tomar forma e constituir um

problema que ultrapassa o campo do ‘social-assistencial’, inscrevendo-se
no centro do processo de produção de riquezas das sociedades
capitalistas”
(Silva, p. 23, 2004).
“Em função da falência de tal projeto (moderno),
não resta outra alternativa senão criar uma nova
tessitura das relações sociais capaz de conjurar
as ameaças inerentes a uma sociedade que
optou por um regime democrático e que precisa,
por este motivo, encontrar os meios que lhe
dêem sustentação. De qualquer maneira, a ação
social implementada pelo Estado-Providência
não reduzirá as desigualdades. Ao contrário, ela
servirá para mascará-la ao mesmo tempo em
que as produz” (Silva, p. 25).
 1ª configuração do 2ª configuração do
social social

Conjunto de Social se torna objeto

equipamentos/práticas de conhecimento
que regulam
disfunções da (advento das ciências
humanas e sociais)
sociedade

1ª
aproximação
da psicologia
em direção ao
social
“Não resta dúvida que a emergência histórica de cada
uma das ciências humanas se deu por ocasião de um
problema, de uma exigência, de um obstáculo de
ordem teórica e prática; certamente foram
necessárias as novas normas que a sociedade
industrial impôs aos indivíduos para que lentamente,
durante o século XIX, a psicologia se constituísse como
ciência; não há dúvida também que foram necessárias
as ameaças que desde a Revolução pesaram sobre os
equilíbrios sociais, e sobre aquele particularmente que
havia instaurado a burguesia para que aparecesse uma
reflexão do tipo sociológica” (Foucault, As palavras e as
coisas, 1966).
 Complementariedade entre
o que se denomina 2ª
configuração do social e o
advento das ciências
humanas

“Pode-se dizer, desse modo, que o social não é

meramente um campo de aplicação da psicologia
moderna e sim aquilo que torna possível a
própria constituição deste campo de
conhecimento” (Silva, 2004, grifos meus).
Arena social: produz verdades
Técnicas de regulamentação = governam a boa ordem

Século XVIII – “ciência da polícia”

- Conhecer a população

- Criar mecanismos para agir sobre a vida e a conduta dos

sujeitos
Estatística (ciência do Estado):

Originalmente era um projeto de transcrição dos atributos

da população de forma que eles pudessem entrar nos
cálculos dos governantes.

Inspetores enviados por todo o reino (século XVIII) =

número de pessoas, sua riqueza, formas de habitação e
comércio, nascimentos, doenças, mortes. Gráficos,
 Estatística =PASSAGEM> estatisticalização da moral e das
patologias
(topografias morais: pauperismo, delinquência, crime, insanidade)

“ciência da polícia” =PASSAGEM> IDEIA DE SOCIEDADE (descoberta do

pensamento
político do final
do século XVIII)
A ideia de sociedade diz
respeito a uma realidade
complexa e independente, com
suas próprias perturbações
“o governo depende do saber” (p. 101)

diagnósticos
 Papel chave da psicologia para o projeto liberal

Psicologia não se forma como disciplina/área profissional

Campo de aplicações/campo prático

para refletir sobre a sociedade, suas
características: a sociedade precisa ser
conhecida e administrada.
(ler página 156 do artigo do N. Rose: A
psicologia como uma ciência moderna...)
Duas contribuições do vocabulário da psicologia ao longo do
século XIX

1) Fornece termos para que a subjetividade seja traduzida para

as novas linguagens do governo das escolas, prisões,
fábricas, mercado de trabalho, economia;

2) Constituíram a subjetividade como objeto possível para o

gerenciamento racional ao fornecer linguagens para falar de:
- Inteligência
- Desenvolvimento
- Higiene mental
- Ajustamento/desajustamento
- Relações familiares
- Dinâmicas de grupo etc.
 “Superfícies de emergência” sobre a
qual certos problemas ganham
Sala de forma
aula
Degeneração racial
Favela Decadência intelectual
Tribunal Delinquência
Neurose de guerra
Exército Desajustamento infantil
Fábrica
Família
Psicologia visa curar,
reformar, elaborar teorias
sobre patologia mental e
normas de pensamento
Exemplo: delinquência juvenil (p. 103 do livro do N. Rose) – ver se dou esse exemplo
ou então coloco a questão das perversidades sexuais (Preciado)

reforma do patológico
técnicas de moralização dos perigos sociais

Linguagem da degenerescência (racionalidade médico-psiquiátrica) = apontar isso no

texto do Nina Rodrigues)

Programas eugenistas: debater os

Novos
degenerados e limitar sua
conhecimentos
procriação
sobre tais
patologias
(Antropologia criminal/Psicologia
individual/Psiquiatria)
Realeza, nobreza =FOCO
Infame

(criminoso, lunático,
Pervertido, a criança
na escola)

Colocar os anormais
aqui como exemplo.
Anos 1920/1930: linguagem da higiene mental = reconstrói fenômenos passando a
entendê-los como sintomas de distúrbios mentais originados a partir de pequenos
problemas de infância (birra, micção noturna, pirraça) que surgem a partir de
distúrbios vindos da economia emocional das famílias.

Linguagem da
higiene mental:

Meios de difusão:
Redes de
telecomunicações Clínicas de
Novas instituições orientação infantil
Escritos populares
de psis/experts em Regulação da vida
desenvolvimento familiar
infantil

(os anormais cabe

aqui)
Período de guerra e pós-guerra: linguagem sobre o grupo: central para o
gerenciamento da vida econômica do pós-guerra. Expõe minúcias das relações
interpessoais dentro da empresa.

Princípio psicológico Princípio

da saúde administrativo da
produtividade
 Discursos racionais da ciência
Ambições de programas
governamentais de saúde
Experts agem à luz da verdade e não de
mental
interesses políticos e criam categorias,
Lei
avaliações, estimativas e testes (todos
Ordem
com caráter DIAGNÓSTICO). A
Harmonia conjugal
subjetividade passa a ser compreendida
Adaptação infantil
por classificações, cálculos, quocientes.
Demandas organizacionais
Conhecimento científico
A expertise da psicologia se fundamenta
Expertise profissional
não em uma parcialidade política, mas
na reivindicação de uma verdade.

Fundamentais para a organização política das democracias

liberais/autoridades políticas agem à distância sobre os objetivos e
aspirações de indivíduos, famílias, organizações. (ler página 110
primeiro parágrafo) => relacionamento indireto
 A psicologia está intimamente ligada à entrada da alma do cidadão na esfera
do governo (como devemos nos comportar, como devem ser nossas
condutas, julgar nosso comportamento e dos outros)

Máquinas moralizantes Professores/gerentes/agentes

de saúde/assistentes
Prisões sociais/médicos/pronunciamento
Exército de experts na mídia
Fábrica impressa/programas de rádio
Escola
Família

Aconselhamento especializado sobre a arte

da existência
Conjunto de Coleção de
normas técnicas

Psicologia

linguagem Pletora de experts

“Podemos então dizer que se o social existe entre os indivíduos, não é apenas em
função das múltiplas interações que se produzem entre os mesmos, mas que é,
sobretudo, numa espécie de interstício, marcado por uma multiplicidade de
acontecimentos e de práticas que atravessam uma formação histórica num dado
momento, que o social irá ganhar uma consistência e se constituir como um campo
problemático” (Silva, 2004, p. 14, grifos da autora).
2) Sentidos do social em psicologia
social
Diversos sentidos do social da
psicologia social
(cursos de psicologia, debates acadêmicos, etc)

Lugar ou território

Ponto de vista
 Diversos sentidos do social da
psicologia social

Visão hegemônica (ainda)

Lugar ou território = lugar externo

= lugar de atuação como a escola, a empresa, a
clínica

O social no Brasil é associado às periferias e

contextos de grupos minoritários = entrar/sair
do social
 Lugar ou território

Papel da psicologia social dentro da psicologia: psicologia

social como um ramo da psicologia.

1º Negação das origens interdisciplinares/reducionismo psi =

história única

o Social se resume ao compromisso social da disciplina

psicologia e a psicologia social é um campo de aplicação
desta;
o Crítica ao paradigma moderno hegemônico não rompe
com o modelo dualista indivíduo e sociedade = social deve
ser conhecido para ser controlado, dominado + disciplinas
compartimentadas.
 Lugar ou território
Mas analisar o social demanda ultrapassar as fronteiras
da psicologia

“Consideramos que fazer pesquisa e intervenção em

psicologia social não é simplesmente escolher um
objeto nesse lugar externo, o social. Subir o morro,
pesquisar sobre meninos e meninas de rua, realizar
intervenções junto a familiares de usuários de drogas,
estudar as minorias sociais não garantem, por si só, uma
abordagem psicossocial. Pode-se muito bem trabalhar
com esses grupos acima citados, mas ter como
fundamento perspectivas de cunho individualizantes, às
vezes patologizante, etc” (Mayorga, 2012).
O social em psicologia social
Consiste em um ponto de vista;
Uma forma de analisar a
realidade

Ultrapassar fronteiras
disciplinares
3) Problematizações e consequências
para a pesquisa, intervenção e atuação
profissional.
 As imagens usadas nesses slides são da artista Denise Costa

As imagens utilizadas nesses slides são da artista de arte naif Denise Costa