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Fichamento

BOURDIEU, Pierre. O mercado de bens simbólicos. In: MICELI, Sérgio (Org). A economia das trocas simbólicas.
São Paulo: Perspectiva, 2007, p. 99-181.

O mercado de bens simbólicos


Europa Ocidental
● Campo intelectual e artístico autônomo
● Sistema de relações de produção, circulação e consumo de bens simbólicos
● Poder e autoridade dos agentes em legislar no campo cultural
○ Campo da forma e do estilo
○ Regras firmadas pela tradição intelectual e artística

O processo de autonomização

1. Dissociação progressiva da igreja e da


aristocracia
● Dependência econômica e social
● Demandas éticas e estéticas
● Transformações sociais
● Público consumidor extenso e diversificado
● Profissionalização dos produtores (artistas) e empresários de bens
simbólicos
● Multiplicação das instâncias de consagração e de difusão
● Arte/cultura como fim e não como mero instrumento de legitimação

2. Revolução industrial (Séc. XVIII e XIX) e romantismo


● Reivindicação de independência do campo
● Paradoxo aparente: arte como mercadoria versus singularidade da condição
intelectual e artística
● Mas, é a ideia de arte como mercadoria e a divisão do trabalho que permite a
instituição de uma categoria particular de produtores de bens simbólicos
○ Arte pela arte: prática específica
● Em lugar da encomenda (aristocracia ou igreja) surge a demanda atrasada (públicos
amplos) em relação à oferta: submissão às instâncias de difusão e aos índices de
venda.
○ Autonomia relativa
○ Junto com a perspectiva econômica da arte e uso de técnicas de
comercialização (campo da indústria cultural) surge a necessidade de
distinção do artista em relação ao povo e ao burguês e como gênio criador
(campo da cultura erudita)

Campo erudito versus campo da indústria cultural


● A noção de campo em Pierre Bourdieu
○ Atores e formas institucionais se organizam em campos autônomos, que
funcionam como um
sistema regido por leis específicas.
○ Relação entre infraestrutura e superestrutura e entre o social e o individual,
○ Perspectiva relacional: os sistemas de relações objetivas (posições),
explicariam as práticas, discursos e escolhas dos agentes (tomadas de
posição).

● O habitus é um conjunto unificador e separador de pessoas, bens, escolhas,


consumos, práticas, etc. O que se come, o que se bebe, o que se escuta e o que se
veste constituem práticas distintas e distintivas; são princípios classificatórios, de
gostos e estilos diferentes. O estabelece, perante habitus esses esquemas
classificatórios, o que é requintado e o que é vulgar, sempre de forma relacional, já
que, “por exemplo, o mesmo comportamento ou o mesmo bem pode parecer distinto
para um, pretensioso ou ostentatório para outro e vulgar para um terceiro
● Capital, na teoria sociológica de Pierre Bourdieu, é um sinônimo de poder. ...
Consiste em ativos econômicos, culturais ou sociais que se reproduzem e
promovem mobilidade social numa sociedade estratificada.

Campo de produção erudita (p. 105)


● Concorrência pelo reconhecimento e legitimação pelos pares (clientes privilegiados
e concorrentes) e críticos
● Distanciamento do público não especializado
○ Ruptura, isolamento
○ Libertação da censura e da autocensura pelo confronto com um público
alheio às profissão (ex. artes visuais contemporânea / performances)
● Quanto mais autônomo for o campo, maior será seu poder de definir regras próprias
(culturais) de legitimação. (p. 106)
● Crítico como intérprete criativo, garantindo a inteligibilidade da obra
● Recepção depende de instrução e manejo dos códigos
● Sucesso de público ameaça o monopólio da consagração cultural (p. 107)
● A existência do artista depende da relação com o outro (ter dez livros na gaveta não
faz da pessoa um escritor)
● Busca pela legitimidade propriamente cultural
○ Ênfase em princípios estilísticos e técnicos: primado da forma sobre a
função, do modo de representação sobre o objeto (p. 110) (guardar essa
característica para Yudice)
○ Busca por um modo de expressão original
● Circularidade e reversibilidade da produção e consumo: interrogação axiomática e
conhecimento reflexivo.
○ Especialização: tomada de consciência e prática sistemática (p. 114)
○ Exemplo da pintura/impressionismo (115)
● Produtos adquirem a função social da distinção (p. 116/117) - frações da classe
dominante e classes sociais
○ Defasagem entre oferta e demanda: artista como gênio desconhecido ou
maldito
○ Acesso aos códigos

O campo das instâncias de reprodução e consagração


● Obras do campo erudito são "abstratas", "puras" e "esotéricas" e portanto acessíveis
apenas para àqueles que detêm o manejo prático e teórico do código refinado, os
códigos sucessivos e os códigos dos códigos.
● Necessidade de instâncias que produzam pessoas aptas para a recepção, mas
também de produtores que sejam capazes de reproduzir e renovar a cultura
produzida no campo erudito.
● São exemplos, os museus e o sistema de ensino
● Sistema de ensino
○ Consagra a cultura digna de ser reproduzida
○ Pretensões de exercer uma autoridade propriamente cultural
● Hierarquia das obras, das áreas e das competências legítimas
● Estrutura das relações de força simbólica (p. 119)
○ Relações entre os produtores de uma mesma época ou não
○ Relações entre produtores e instâncias de legitimação
○ Relações entre as instâncias de legitimação
● Princípios fundamentais:
○ Oposição e complementaridade entre o campo erudito e o campo das
instâncias de conservação e consagração
○ Oposição entre campo erudito e o campo da indústria cultural
● Ação pedagógica como ato de imposição de um arbitrário cultural que se dissimula
como tal e que dissimula o arbitrário daquilo que inculca (p. 120).
○ Delimitação do que merece ser reproduzido
● Podem estar concentradas em uma ou várias instituiçoes
● Defasagem entre a cultura consagrada e a cultura produzida pelo campo intelectual.
○ Reflexão necessária para a explicitação dos princípios das práticas a serem
transmitidas, bem como os princípios da ação pedagógica.
● Alusão a Weber e sua teoria do Estado: as instâncias citadas deteriam o monopólio
da violência simbólica.
● Conflitos entre os produtores e os professores (p. 127)
● Origem social e legitimidade
● Reconhecimento da lei cultural perpassa por ignorar sua arbitrariedade. Três tipos
de condutas (p. 132)
○ Distância respeitosa
○ Negação envergonhada de práticas heterodoxas
○ Recusa e agressividade (p. 133)
● Exemplo de entrevistas

Campo da indústria cultural (em oposição ao da cultura erudita)


● Independe do nível de instrução do público, visto que o sistema busca se ajustar às
demanda
● Legitimação pela conquista do mercado
● Definição da obra pelo público não especializado, arte ou cultura “média”
● Conjunção de vários processos
○ Busca pela rentabilização, por meio da extensão máxima do público
○ Envolve relações com diversos agentes no campo da produção técnica e
diferenciada.
○ Os diversos tipos de teatro. (p. 138)
● Em comum entre os campos
○ Divisão do trabalho, constituição de esferas separadas para as atividades e
organização adequada dos meios técnicos
○ Valorização da técnica
■ Arte pela arte: efeito só te o público e engenhosidade
■ Forma pela forma: recurso pelos efeitos comprovados, quase sobre
tomados de empréstimo da arte erudita.
■ Coexistência no interior de um mesmo sistema
○ Consagração desigual e hierarquização pela competência cultural
● A cultura média está fadada a se definir em relação à cultura legítima
○ Renovação técnica e temática via empréstimo e adaptação
○ Recepção se pauta na possibilidade de associação à cultura erudita
(adaptações, orquestrações populares etc.) - cultura simili (144-145)
○ Hierarquia também pra consumidores...
● Não impõe sanções materiais ou simbólicas para não iniciados, mas não garante o
reconhecimento da legitimidade cultural (p. 148)
● Papel do sistema de ensino (o. 149)
○ Definir o que deve ser exaltado/priorizado e/ou esquecido
● No campo da indústria cultural: trabalho como outro qualquer em oposição às aura
carismática

Posições e tomada de posição (p. 154)


● Relações (com outros produtores, com as significações e com as próprias obras)
dependem da posição do produtor no campo de produção e circulação de bens
simbólicos e do seu grau de consagração.
○ Isso determina duas práticas e os produtos dela derivados
● Se a prática possui uma posição marginal no campo (jazz, cinema, fotografia, a
crítica, por exemplo, recorre a legitimidade acadêmica para uma análise.
○ Profissionais que não possuem uma legitimidade inerente a sua função,
como ocorre com produtores de arte legítima, correm o risco de tornar
explícita essa busca ou recorrem à agressividade em relação às instâncias
de consagração (p. 155)
○ Essa relação contraditória também acomete as classes médias.
○ Busca pelo reconhecimento

● Fascínio pelo sucesso, mas o sucesso não garante o reconhecimento da


legitimidade cultural pelos pares
○ Consagrados e difusores e vulgarizadores
○ As relações com os meios massivos de comunicação (p. 156)
■ Recorrer aos meios seria considerado heresia
■ Os difusores também precisam dos consagrados para se legitimar
■ Tendência a manutenção da hierarquia
■ O sucesso com o público é externo ao campo erudito e pode,
inclusive, ser um ponto negativo para o posicionamento do produtor
no campo
● A lógica de funcionamento do campo da cultura erudita protege sua integridade (p.
158)
● Para se aventurar fora dos limites do campo das práticas legítimas é necessário ter
sua autoridade reconhecida (p. 159)
● As relações com instâncias externas ao campo são mediadas pela estrutura do
campo a partir do posicionamento destas na escala hierárquica do campo (p. 159)
● Os posicionamentos no campo se dão em perspectiva relacional aos
posicionamentos construtivos do próprio campo (p. 160).
● Signos de reconhecimento na hierarquia das consagrações: posição no campo +
habitus + aspirações = representações dos posicionamentos tolerados,
recomendados e proibidos (p. 161)
○ Habitus primário de classe
● Exemplo do envio de um livro para uma editora: modos de seleção (p. 162)
● A escolha por uma instância de divulgação (nesse caso, interior ao campo) e a
crítica que lhe é direcionada é influenciada pela posição desta no campo (p. 163)
○ Juízos pessoais como juízos coletivos
● Signos de reconhecimento ou exclusão impactam as práticas e as obras dos
produtores (p. 165)
● O campo de produção intelectual
○ Ex. da aspiração de intelectuais consagrados em seus campos ao papel de
intelectual total
● A posição ocupada n campo e a maneira de ocupá-la dependem de uma trajetória
anterior e exterior ao campo (habitus) (p. 167)
● A busca pela legitimidade cultural perpassa por posições e tomadas de posição cujo
sentindo e função não são completamente reveladas por que se referem a
estratégias inconscientes ou semiconscientes (p. 169)
● Abordagens teóricas como mais legítimas do que empíricas
● A autonomia do campo é relativa, pois corresponde à realidade social do exercício
de um poder, conforme afirma Piaget, e do reconhecimento desse poder. (p.177)

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