Você está na página 1de 17

GRUPO EDUCACIONAL FAVENI

LAIS BUENO

REVISÃO INTEGRATIVA ACERCA DA SAÚDE MENTAL DOS


SERVIDORES MILITARES

LAJEADO
2022
LAIS BUENO

GRUPO EDUCACIONAL FAVENI

REVISÃO INTEGRATIVA ACERCA DA SAÚDE MENTAL DOS


SERVIDORES MILITARES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Faculdade Futura – Grupo Educacional Faveni,
como requisito parcial para obtenção do título de
Psicologia do trabalho.

Orientador: Prof. DsC. Ana Paula Rodrigues

LAJEADO
2022
REVISÃO INTEGRATIVA ACERCA DA SAÚDE MENTAL DOS SERVIDORES
MILITARES

1
Lais Fernanda Rohde Alf Bueno ,

1
Psicóloga, Pós Graduanda em Psicologia do Trabalho, Faculdade Futura, lais_rohde@hotmail.com;

Declaro que sou autor¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo foi por
mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou integralmente, de
forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente referenciadas ao longo do
trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por mim realizadas para fins de
produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e administrativos,
e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos direitos autorais.

RESUMO: Atualmente, o Policial Militar enfrenta situações no contexto de trabalho que


interferem na manutenção da sua saúde mental relacionados com os reflexos das
características desta ocupação. Esta pesquisa de Revisão Integrativa tem o objetivo de
identificar as causas de afastamentos do trabalho e as repercussões na área de saúde mental,
dos policiais militares do RS, embasada na teoria da Psicodinâmica do Trabalho (PdT). Foram
selecionados 8 artigos das bases de dados Scielo e Pepsic, publicados entre os anos de 2010 a
2019. A partir da análise e discussão dos dados, foram encontrados resultados sobre as causas
de sofrimento relacionados com o estresse elevado, suicídio, degradação econômica, conflitos
profissionais e pessoais, dependência química, instabilidade emocional e Burnout os quais
influenciam nos afastamentos por saúde mental.

Palavras-chave: Policial Militar. Saúde Mental no Trabalho.


1 INTRODUÇÃO

Na história da humanidade e pelo recente avanço da tecnologia, o homem passou a


ser tratado como um instrumento, como um componente a mais na linha de produção. Em
muitos casos, ocorre a desvalorização da pessoa, inversamente proporcional à real e
necessária situação em que está inserido. Este homem deveria ser tratado como o agente
que realmente é, responsável pela execução das atividade e precisa ser tratado com
dignidade. A relação homem-trabalho se dá a partir das mais diferentes formas e
significados, enfatizada em diferentes períodos da história, num processo entre o homem e
a natureza. (MARX, 1867/2013).
Segundo Freud (1930/1996), para que o sujeito possa solucionar as tarefas em prol
de si mesmo, deve inter-relacionar-se de modo cooperativo com a comunidade laboral,
sujeitado pela natureza humana e considerando o bem comum, a partir de técnicas
orientadas pela ciência. Desse modo, o custo de manutenção para o trabalhador como ser
humano é alto, principalmente, quando se refere a doenças do trabalho e a transtornos
recorrentes dele.
A Brigada Militar foi constituída com o objetivo de manter a preservação da ordem
pública, conforme disposto na LEI COMPLEMENTAR Nº 10.990, DE 18 DE AGOSTO
DE 1997. No cenário atual, o seu desafio é atender às crescentes demandas desta
sociedade, por mais segurança, menos violência e criminalidade, atuando de maneira a
respeitar os direitos de todos os cidadãos. A estrutura da organização policial militar é
fundamentada em dois pilares: disciplina e hierarquia. Além de ser uma estrutura
burocrática, sofre diversas críticas frente às suas atuações e seu formato por se tratar de
complexa, com diferentes ramificações. Por se tratar de instituição pública, não são
apontados valores exatos gastos em segurança pública, gastos esses que superam o
orçamento anual do Fundo Nacional de Segurança Pública. (SILVA; VIEIRA, 2008).
A precarização do trabalho é um fator relevante para o sofrimento laboral. Alves
(2011), neste sentido, coloca que a precarização não atinge somente ao salário, mas,
também, à jornada de trabalho. A complementação do salário com horas extras passa a
consumir o tempo de vida pessoal e familiar, tornando-se uma das preocupações. Estudos
de Gama et al (2019), apontam que não há uma delimitação no horário de trabalho na
Instituição da Brigada Militar, extirpando a capacidade de organização da vida social,

4
assim como na vida familiar, estudantil e profissional. deste modo comprometendo sua
qualidade de vida, em jornadas de trabalho que ultrapassam a carga horária de um
trabalhador, como os regidos pela pela CLT brasileira (44 horas semanais). A Polícia
Militar do Rio Grande do Sul constitui-se em órgão integrante do Sistema Nacional de
Segurança Pública, possui um efetivo de aproximadamente 19 mil Militares Estaduais,
regidos pelo seu estatuto, a sua força de trabalho em escalas, que não são discutidas, como
por exemplo de 12 horas de trabalho ininterruptas por 36 de folga, ou 24x48, ou ainda
24x72, sem contar com horas extraordinárias e expedientes administrativo, são longas e
ultrapassam os limites, aliado aos estado permanente de alerta e a burocracia para novos
equipamentos que precisam passar por processo licitatório, corroboram para a precarização
destes trabalhadores, além de problemas na vida social dos indivíduos e na desmotivação
da classe.

Isto posto, ao estudar-se a atividade policial, as dificuldades laborais e os distúrbios


psicológicos, quando não prevenidos, podem conduzir a sofrimentos patológicos que
comprometem a filosofia desejada de uma segurança pública de qualidade, com isso,
muitas vezes surgem condutas pessoais e profissionais inadequadas. (GONÇALVES et al.,
2000). Para tanto, Dejours (1994) nos fala das estratégias defensivas que cada sujeito
consegue elaborar para o enfrentamento no ambiente de trabalho, tentando, desta forma,
evitar ou minimizar possíveis danos da atividade laboral. Uma pesquisa feita pelo Jornal
Correio do Povo, em agosto de 2019, aponta um alto índice de afastamentos devido a
doenças psiquiátricas, com cerca de 53% do efetivo do estado segundo um estudo feito
pela própria entidade. Além disto, o alto índice de suicídio comparado com outros estados,
entre 2008 e 2018, 50 policiais tiraram a sua própria vida. A pesquisa teve o intuito de
identificar as causas e fatores das maiores incidências de afastamento do trabalho, na área
de saúde mental da Brigada Militar do RS.
De acordo com Mendes (1995), na teoria da Psicodinâmica do Trabalho (PdT), a
relação homem-trabalho ocorre pela internalização dos sintomas do sujeito e de seu corpo,
como representante de prazer e sofrimento, numa relação intersubjetiva com o outro e a
organização. Ainda, referindo-se às condições e à organização do trabalho apresentadas, se
estas atendem de forma eficiente os desejos inconscientes de auto realização profissional,
ainda há especificidades que precisam ser analisadas e nem sempre serão satisfatórias,

5
transformando o trabalho em necessidade ao invés de fonte de prazer.
Por conseguinte, esta Revisão Integrativa tem por objetivo identificar as causas de
afastamentos do trabalho e as repercussões na área de saúde mental dos policiais militares.
Mais especificamente, evidenciar quais os diagnósticos da saúde mental estão relacionados
aos afastamentos do trabalho e compreender qual a importância do acompanhamento
psicológico para a saúde mental dos trabalhadores da Brigada Militar (BM), embasada na
teoria da PdT.

2 DESENVOLVIMENTO

Durante a evolução da humanidade, podemos perceber que se exige do policial


mais do que ser apenas agente responsável pela segurança local, mas que ele representa o
Estado, através dos serviços prestados. Pode-se averiguar as funções dessa categoria
profissional na Constituição Federal/89, o Art° 144, mais precisamente, no parágrafo 5º,
que são: fazer o policiamento (patrulhamento) ostensivo e preservar a ordem pública.
O conceito de organização do trabalho pode ser dividido em duas esferas, sendo
uma delas caracterizada pela divisão do trabalho e a outra pela divisão dos homens.
(DEJOURS, 1992). Deste modo, Giongo, Monteiro e Sobrosa (2015), referem que a
respeito da divisão do trabalho estão atrelados aspectos relacionados à organização das
tarefas, aos processos prescritos, ao modo de produção, entre outros e na divisão dos
homens estão as responsabilidades relacionadas ao trabalho, as relações de poder, as
hierarquias, o comando, o grau de autonomia nas atividades, e as possibilidades de
cooperação e comunicação, entre outros.
Alves (2011), contextualiza que a precarização do trabalho aparece não somente na
força do trabalho mas sim na carreira, salário e condições de trabalho. A nova precariedade
na flexibilidade do trabalho, perda da razão social do trabalho e dos direitos do
trabalhador, associando a precarização existencial tendo em vista as alterações nas relações
sociais atuais onde o sujeito está inserido considerando assim a totalidade da vida.
Assim Mendes e Tamayo (2001) nos descreve que o prazer - sofrimento parte de
uma relação subjetiva do sujeito com seu trabalho, tendo implicações nas relações
interpessoais, valores, regras, os princípios que regem e guiam a socialização, definem
6
formas do trabalhador vivenciar as tarefas dentro do contexto organizacional, sendo elas
transformando o sofrimento em prazer ou não. Mendes (1995), nos coloca que a busca
incessante pelo prazer e a fuga do sofrimento no trabalho são um desejo de cumprir as
tarefas contidas no processo do trabalho, nas relações e na sua organização, um
comportamento defensivo com estratégias de acordo com a singularidade de cada sujeito,
na sua capacidade de se reinventar com as adversidades encontradas na organização do
trabalho. Além das características associada a profissão do policial militar, Alves (2013)
nos remete a precarização do trabalho não está somente na força de trabalho, mas sim na
precariedade salarial, estrutural, existencial com suas implicações no emprego, carreira,
salário dos trabalhadores. Assim aprofundando a auto alienação e a crise da subjetividade
humana: a crise da vida pessoal, a crise de sociabilidade e a crise de auto-referência
pessoal.

3 MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo, de caráter bibliográfico com análise integrativa, irá analisar o


assunto a partir de artigos com foco na Brigada Militar do RS. Uma revisão integrativa,
segundo Botelho, Cunha e Macedo (2011), constitui-se pelo levantamento de dados
empíricos ou teóricos para melhor compreensão do assunto em questão, construindo uma
análise sobre pesquisas anteriores permitindo a inclusão dos estudos de variadas
metodologias.
O critério de escolha das fontes deu-se por serem consideradas as mais abrangentes
entre as disponíveis, até o momento, e por agregarem significantemente aos dados
científicos, demonstrando um pouco da realidade do servidor militar. A partir do objetivo
da pesquisa, que é de identificar as causas e fatores de maiores incidências de afastamento
do trabalho na área de saúde mental dos policiais militares do RS, embasada na teoria da
Psicodinâmica do Trabalho (PdT), foram selecionados 8 artigos publicados na base de
dados Scielo e Pepsic, publicados entre os anos de 2010 a 2019. Para tanto, foram usados
os seguintes descritores: policial militar; saúde mental no trabalho.

Foi priorizada a produção de artigos mais recentes dentro do período selecionado,


tendo em vista a baixa produção de estudos, levando-se em conta as implicações e
7
atravessamentos atuais, partindo-se da leitura acerca do tema saúde mental do policial
militar, desenvolvendo uma análise reflexiva dos dados obtidos nesta pesquisa.
Inicialmente selecionados 15 artigos pela temática, reduzidos a 8 por não se tratarem do
tema abordado, separação por hierarquia ou que incluía outra categoria de trabalhadores,
como os policiais civis. Souza, Silva e Carvalho (2010), nos diz que a metodologia
utilizada na presente pesquisa determina o conhecimento atual sobre o tema escolhido,
com o intuito de identificar, analisar e sintetizar dados de estudos independentes sobre o
tema abordado.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como resultado dos artigos citados, foi possível observar que os fatores estresse,
suicídio, condições e carga excessiva de trabalho são comuns entre todos eles, sendo
colocados como elementos que contribuem para o sofrimento patogênico. Além disso, uma
importante menção foi a cultura hierarquizada da instituição, não abordado apenas no
primeiro artigo, como um aspecto negativo. Outros fatores pertinentes como o
desequilíbrio emocional, perturbações do sono, dependência química, e Burnout estão
dispostos na literatura selecionada. Nos estudos constata-se que o Policial Militar no
exercício de suas atividades funcionais, enfrentam ocorrências de alto risco, possibilitando
confrontos que, em diversas vezes, torna-se vítima da violência. Estas nem sempre são
físicas, observando-se adoecimento psíquico importante, o que mostra a necessidade de um
acompanhamento profissional desta especialidade.
O policial militar em sua atividade laboral está constantemente submetido a
pressões impostas pelo cumprimento do dever legal, pressão da sociedade, pelos superiores
e pelos familiares. O estresse e o suicídio são apontados como fatores de maior relevância
na consequência do sofrimento patogênico, além de outros sintomas supracitados, o que
afeta de modo geral a saúde, a personalidade e a capacidade desses profissionais, sendo
que o alto número de problemas emocionais, com certeza irão repercutir no trabalho
policial.
O quadro abaixo apresenta os artigos selecionados, bem como os resultados para
realização desta pesquisa:

8
TÍTULO AN AUTOR RESULTADOS REVISTA
O PUBLICADA
1-A profissão 201 WINTER, Disciplina e Revista psicologia e
do policial 9 Lilian Ester; hierarquia, organizações do
militar: ALF, desequilíbrio das trabalho
vivências de Alexandra demandas, carga
prazer e Machado. horária, estresse,
sofrimento no suicídio, estratégias
trabalho coletivas, espaço para
promoção e
prevenção.
2- 201 AMARAL, Disciplina e hierarquia, Biblioteca digital
Adoecimento 8 Elaine de Paula desequilíbrio das de segurança
psicológico: Oliveira. demandas, carga pública
um risco psíquica, estresse,
silencioso suicídio, insônia,
enfrentado relações sociais
pelo policial prejudicadas,
militar dificuldade de
memória, instabilidade
emocional, dependência
química, burnout,
espaço para promoção e
prevenção.
3-Avaliação 201 SILVA, L. N. Disciplina e hierarquia, Pesquisa Em
da saúde 8 da, & desequilíbrio das Psicologia - Anais
mental de SEHNEM, S. demandas, estresse, eletrônicos
policiais B. suicídio, insônia,
militares relações sociais
prejudicadas,
dificuldade de
memória, instabilidade
emocional, espaço para
promoção e prevenção.
4-Saúde mental 201 COUTO, Disciplina e hierarquia, Psicologia Argumento
do policial 7 Gleiber desequilíbrio das
militar: et al. demandas, carga
Relações horária, estresse,
interpessoais e suicídio, insônia,
estresse no relações sociais
exercício prejudicadas,
profissional dificuldade de
memória, instabilidade
emocional, estratégias
coletivas, espaço para
promoção e prevenção.
5-Profissionais 201 MACHADO, Disciplina e Psicologia Argumento
da Brigada 7 Caroline E.; hierarquia,
militar: TRAESEL, desequilíbrio das
vivências do Elisete S; demandas, carga
cotidiano e MERLO, horária carga
subjetividade Álvaro psíquica, estresse,
Roberto C. suicídio, insônia,
dificuldade de
memória,
dependência química,
estratégias coletivas,
espaço para promoção
9
e prevenção.
6-Saúde do 201 DORNELES, Disciplina e hierarquia, Revista
trabalhador 7 Ademir Jones desequilíbrio das enfermagem
militar: uma Antunes, demandas, carga contemporânea
revisão DALMOLIN, psíquica, estresse, ,
integrativa Graziele de suicidio, relações
Lima, socias prejudicadas,
MOREIRA, dependecia quimica
Maria Graziela
de souza
7-Prevalência de 201 LIMA, Disciplina e Psicologia Cien. prof.
5 Fabíola
Transtorno Polo de; hierarquia,desequilíbrio
Mental BLANK, das
e Vera Lúcia demandas, carga
Comportamental psíquica,
em Policiais Guimarães; estresse, suicídio,
insônia,
Militares/SC, MENEGON, relações sociais
em
Licença para Fabricio prejudicadas,
Augusto. dependência
Tratamento de química, estratégias
Saúde coletivas, espaço para
promoção e prevenção.

8-Percepção da 201 OLIVEIRA, Disciplina e hierarquia, Sociologias


saúde mental 0 Katya Luciane desequilíbrio das
em policiais de; SANTOS, demandas, carga
militares da Luana Minharo horária, estresse,
força tática e de dos. suicídio, insônia,
rua relações sociais
prejudicadas,
dificuldade de
memória, instabilidade
emocional, espaço para
promoção e prevenção.
FONTE: Tabela construída pela autora (2022)

O policial militar traz consigo diversas características, somando-as a fatores


estressores, origem psicossocial, condições inadequadas de trabalho, carga horária extensa,
questões salariais, fatores que exercem impacto sobre a saúde do indivíduo, enquanto
considerado como um ser biopsicossocial e homem de polícia. Além disto, no contexto
supracitado existe a precarização do trabalho, relativizando com a força de trabalho e uma
precariedade estrutural e existencial, com suas implicações no emprego, carreira e salário
dos trabalhadores. (ALVES, 2013).
Para a proteção quanto aos fatores estressores laborais há o uso das estratégias
defensivas pelos trabalhadores, constituídas pelos sujeitos, contudo, quando utilizadas
excessivamente, podem perder a eficácia, acarretando em adoecimento. Por outro lado, as
estratégias de enfrentamento propiciam a mobilização subjetiva dos trabalhadores, através
10
do uso da inteligência prática, transformando o sofrimento em prazer e ampliando o bem-
estar dos sujeitos. (WINTER; ALF, 2019; COUTO, 2017; MACHADO; TRAESEL;
MERLO,2017; LIMA; BLANK; MENEGON, 2015). Mendes (1995) coloca que as
estratégias de mediação (defensivas ou de mobilização subjetiva) têm como objetivo a
adaptação às condições dolorosas das situações adversas de trabalho, aos quais geram
conflitos que interferem no equilíbrio psíquico e ameaçam a integridade do sujeito.
Nesse sentido, tem sido apontado pela literatura que a falta de equilíbrio das
demandas de trabalho acarretam desequilíbrio emocional e sofrimento psíquico desses
policiais militares. Então, nas situações mobilizadoras de sofrimento, os trabalhadores
suprimem as emoções, não manifestando sentimentos desprazerosos ou defendendo-se
com estratégias adequadas para minimizá-los. (WINTER; ALF, 2019; AMARAL, 2018;
SILVA; SEHNEM, 2018; DORNELES; DALMOLIN; MOREIRA, 2017; COUTO, 2017;
MACHADO; TRAESEL; MERLO, 2017; LIMA; BLANK; MENEGON, 2015;
OLIVEIRA; SANTO,2010)
Apesar dos fatores supracitados, os autores trazem que as relações
socioprofissionais entre colegas, na BM, são satisfatórias. Neste caso, encontram-se, na
cooperação, estratégias mais saudáveis para minimizar o sofrimento advindo dos pares e,
de certo modo, a hierarquia de comando traz segurança. Por outro lado, as estratégias
defensivas coletivas geram negação e alienação, dificultando a mobilização subjetiva,
quando esses profissionais mantêm o foco na hierarquia de comando. ( WINTER; ALF,
2019; AMARAL, 2018; SILVA; SEHNEM, 2018; DORNELES; DALMOLIN;
MOREIRA, 2017; COUTO, 2017; MACHADO; TRAESEL; MERLO, 2017; LIMA;
BLANK; MENEGON, 2015; OLIVEIRA; SANTO, 2010).
Mendes e Tamayo (2001), referem fatores para as vivências de prazer-sofrimento:
em o sentido do trabalho, as relações socioprofissionais e o reconhecimento (entre pares e
hierarquia), sendo mantenedoras ou não da saúde do trabalhador. Em relação aos
profissionais em questão, foi referido pelos autores que o prazer está atrelado a realização
de esporte na atividade, como peculiar a atividade, a estabilidade no trabalho e o apoio
familiar. (COUTO, 2017).
Nas bibliografias analisadas, a função do policial militar, tem sido considerada uma
ocupação de estresse elevado. Existe um forte acordo entre os pesquisadores que o estresse
pode acarretar num desequilíbrio entre o sujeito e o meio social. Este desequilíbrio pode
11
ser percebido com as exigências e a capacidade de atender às prescrições, quando o sujeito
percebe que não consegue se adequar às exigências ocasionando um processo de estresse e
abrindo portas para a descompensação psíquica. (WINTER; ALF, 2019; AMARAL, 2018;
SILVA; SEHNEM, 2018; DORNELES; DALMOLIN; MOREIRA, 2017; COUTO, 2017;
MACHADO; TRAESEL; MERLO, 2017; LIMA; BLANK; MENEGON, 2015;
OLIVEIRA;SANTO, 2010). O estresse tem sido visto como uma preocupação pelas sérias
consequências que pode acarretar para a qualidade de vida do ser humano. (SADIR,
BIGNOTTO e LIPP, 2010). Assim, os sinais e sintomas físicos e psíquicos definem os
limites tanto físicos como mentais para avaliar-se as ameaças e desafios apresentados.
A instituição da Brigada Militar do RS possui nove pontos de atendimento
Biopsicossociais pelo estado, que atendem a demanda de toda a corporação. Disponibiliza
profissionais para acompanhamento em terapia individual, casais e grupos de apoio à
dependência química, tendo realizado palestras nos anos de 2018 e 2019 para valorização à
vida. Fornece, também, guias de informações sobre suicídio, os riscos, manejo,
encaminhamentos e mitos para maiores esclarecimentos. A corporação demonstra interesse
e preocupação com a questão do suicídio e estresse elevado, provocados pela ocupação
desses profissionais. (SAÚDE MENTAL, BRIGADA MILITAR DO RIO GRANDE DO
SUL, 2020).

5 CONCLUSÃO

Entende-se o homem como produto das circunstâncias que o envolvem, inclusive


no que tange ao seu equilíbrio sócio afetivo, comprovadamente importante. Esta pesquisa
apresentou fatores relevantes acerca da saúde dos policiais militares, compreendendo que o
estresse e o suicídio, associados à dependência química, insônia, dificuldade de memória,
instabilidade emocional e relações socioprofissionais prejudicadas, comprovam a
necessidade do acompanhamento psicológico permanente. Da mesma forma, a permanente
exigência de manter sob controle sua estabilidade emocional, expressa a luta contra a
descompensação psíquica, sofrendo com os impactos sobre sua subjetividade e saúde.
O trabalhador Policial Militar, no processo de manutenção da saúde mental, não é
partícipe dos procedimentos e terapias a ele propostos, o que certamente contribui para que
as ações sejam fundamentadas e dirigidas “para” os sujeitos ao invés “com” eles. Isto pode

12
limitar as possibilidades de efetiva superação de um contexto que favorece o adoecimento,
e deste adaptar a organização (sem que esta adaptação signifique afastamento de sua
filosofia e destinação), para que esta possibilite um desenvolvimento do indivíduo com
participação opinativa sobre si mesmo e sobre a função que exerce.
Entende-se que é importante o trabalho ser voltado para a prevenção das doenças
causadas pelo exercício da profissão de policial militar e, assim, amenizar os índices de
adoecimento apontados de forma relevante na literatura apresentada. Neste momento, a
partir dos dados de literatura, observou-se pouca resolutividade em termos de intervenções
preventivas, para minimizar os riscos psicossociais decorrentes do trabalho. Entretanto,
sabe-se que o Estado é institucionalmente responsável em oferecer segurança pública à
sociedade, através do Policial Militar. Neste sentido, realizar a interlocução entre a
corporação e o Estado é imprescindível, por tratar-se de serviço público.
Ao retomar a discussão da necessidade de se implantar um programa de prevenção
a fim de melhorar a qualidade dos serviços prestados, bem como qualidade de vida dos
policiais, fica evidente neste contexto, que o policial que, em ação, produzir ou receber
violência, necessita de acompanhamento psicológico. Portanto, é relevante que a
Corporação adote medidas que efetivem o atendimento médico-psicológico destes
militares. Não foi encontrado uma padronização de informações sobre as estatísticas de
adoecimento na própria Corporação, a falta de acesso às referidas informações e estudos
sobre o tema corroboram para a necessidade de pesquisas e aprofundamentos, por tratar-se
de um assunto complexo, demanda novas investigações para trazer transformações
positivas diante desta realidade.
Esta pesquisa contribui no sentido de explanar, discutir e estimular possíveis
estudos acerca do tema da saúde mental do policial militar. Para tanto, deve-se considerar
que a atual estrutura organizacional, em virtude da inexistência de atendimento efetivo aos
agentes de segurança, dificulta o acesso dos Policiais Militares. Encontrou-se na literatura
analisada que há apenas nove pontos de atendimento psicossociais para todo o Estado,
deixando, assim, de atender, em parte, as necessidades e demandas de atendimento
psicológico aos Policiais Militares.

13
REFERÊNCIAS

ALVES . Trabalho, subjetividade e capitalismo manipulatório - O novo


metabolismo social do trabalho e a precarização do homem que trabalha. Revista
Estudos do Trabalho, ano V, 1-31. 2011.

. Crise estrutural do capital, maquinofatura e precarização do trabalho – a


questão social no século XXI. Textos & Contextos (Porto Alegre), v. 12, n. 2, p. 235 -
248, jul./dez. 2013.

AMARAL, Elaine de Paula Oliveira. Adoecimento psicológico: um risco


silencioso enfrentado pelo policial militar. Biblioteca digital de segurança
pública. Junho de 2018. Disponível em
https://acervodigital.ssp.go.gov.br/pmgo/handle/123456789/1076 acessos em 19
abril/22.

BOTELHO, LLR, Cunha CCA, Macedo M. O método da revisão integrativa nos


estudos organizacionais. Revista gestão e sociedade, Belo Horizonte/ MG, Vol. 5,
número 11 Pág.121-136, 2011

BRASIL. Constituição: República Federativa do Brasil. Brasília, Senado Federal,


Centro Gráfico, 1988. Ed. 2001.

CORREIO do povo, Associação lança campanha de prevenção a suicídio e


transtornos mentais de policiais militares. Disponível em > Associação lança
campanha de prevenção a suicídio e transtornos mentais de policiais militares

COUTO, Gleiber et al. Saúde mental do policial militar:Relações interpessoais e


estresse no exercício profissional.Psicologia Argumento, [S.l.], v. 30, n. 68, nov. 2017.
ISSN 1980-5942. Acesso em: 19 fev. 2022 Disponível em
<https://periodicos.pucpr.br/index.php/psicologiaargumento/article/view/20507>

DEJOURS, Christophe. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho.


Trad. Ana Isabel Paraguai e Lúcia Leal Ferreira. - 5º ed. ampliada - São Paulo: Cortez -
Oboé, 1992

. Psicodinâmica do trabalho: contribuição da Escola Dejouriana à análise


da relação prazer, sofrimento e trabalho. DEJOURS, Christophe / Elisabeth
Abdoucheli/Christian Jayet; Coordenação Maria Irene Stocoo Betiol. São Paulo:
Atlas, pág 119-145, 1994

DORNELES, Ademir Jones Antunes, DALMOLIN Graziele de Lima, MOREIRA,


Maria Graziela de Souza Moreira. Saúde do trabalhador militar: uma revisão
integrativa.
Revista Enfermagem Contemporânea v. 6, n. 1 (2017) . Disponível em
https://www5.bahiana.edu.br/index.php/enfermagem/article/view/1220. Acesso em 19 fev

14
2022 .

FREUD, S. O Mal-Estar na Civilização. In: Freud. S. O Futuro de uma Ilusão, O Mal


Estar na Civilização e outros trabalhos. 1930. Trad. de W.D. Robson-Scott. Rio de
Janeiro: Imago, 1996.

GAMA, Rogério V. O. et al. Precarização do trabalho: análise sobre as condições


laborais dos militares no âmbito estadual. P2P e Inovação, V. 6, n° 1, Pag. 206-227,
outubro de 2019. Disponível em http://revista.ibict.br/p2p/article/view/4951/4235. Acesso
em 31 de março de 2022.

GIONGO, Carmem Regina; MONTEIRO, Janine Kieling; SOBROSA, Gênesis Marimar


Rodrigues. Psicodinâmica do trabalho no Brasil: revisão sistemática da literatura.
Temas psicol., Ribeirão Preto , v. 23, n. 4, p. 803-814, dez. 2015 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
389X2015000400002&l ng=pt&nrm=iso>. acessos em 09 jan. 2022.

GONÇALVES, S.A.P. et al. Acompanhamento Psicológico Preventivo para os


Servidores Militares da Brigada Militar/RS. Monografia apresentada à Academia de
Polícia Militar.
Curso de Especialização em Políticas e Gestão de Segurança Pública. Porto Alegre, RS.
2000.

LIMA, Fabíola Polo de; BLANK, Vera Lúcia Guimarães; MENEGON, Fabricio Augusto.
Prevalência de Transtornos Mentais e Comportamentais na Polícia Militar de Santa
Catarina. Psicol. cienc. prof. , Brasília, v. 35, n. 3, p. 824-840, setembro de 2015.
Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
98932015000300824&lng=e n&nrm=iso>. acesso em 01 de maio de 2022.

MACHADO, Caroline E.; TRAESEL, Elisete S; MERLO, Álvaro Roberto C.


Profissionais da Brigada Militar: vivências do cotidiano e subjetividade. Psicologia
Argumento, [S.l.], v. 33, n. 81, nov. 2017. ISSN 1980-5942. Disponível em:
<https://periodicos.pucpr.br/index.php/psicologiaargumento/article/view/19689>. Acesso
em: 10 fev 2022.

MARX, Karl. O Capital: Crítica da economia política. Livro I: O processo de


produção do capital. 1867. Trad. Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013.

MATOS, Simão da Silva. Riscos Psicossociais Em Trabalhadores Na Arábia


Saudita. 2015.

MENDES, Ana Magnólia Bezerra. Comportamento defensivo: uma estratégia para


suportar o sofrimento no trabalho. Revista de Psicologia, Fortaleza. V. 13, pág. 27-
32, janeiro 1995

. Aspectos psicodinâmicos da relação homem-trabalho: as contribuições de

15
C. Dejours. Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 15, n. 1-3, p. 34-38, 1995.
Disponivel em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
98931995000100009&lng=e n&nrm=iso>. Acesso em 08 fev 2022.

., TAMAYO, Álvaro. Valores organizacionais e prazer-sofrimento no trabalho.


Psico-USF (Impr.) , Itatiba, v. 6, n. 1, p. 39-46, junho de 2001. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
82712001000100006&lng=e n&nrm=iso>. Acesso em 09 de fev de 2022.

OLIVEIRA, Paloma Lago Marques de e BARDAGI, Marúcia Patta. Estresse e


comprometimento com a carreira em policiais militares. Bol. psicol [online]. 2009,
vol.59, n.131. p. 153-166 . Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0006-
59432009000200003&l ng=pt&nrm=iso>. ISSN 0006-5943. Acesso em 26 de jan de
2022.

OLIVEIRA, Katya Luciane de; SANTOS, Luana Minharo dos. Percepção da saúde
mental em policiais militares da força tática e de rua. Sociologias, Porto Alegre , v.
12, n. 25, p. 224-250, Dec. 2010. Disponivel em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-
45222010000300009&lng=e n&nrm=iso>. Acesso em 19 dez de 2021.

RIO GRANDE DO SUL, Lei complementar n° 10.990, DE 18 DE AGOSTO DE 1997.


Estatuto dos Servidores Militares da Brigada Militar do Estado do Rio
Grande do Sul.

SADIR, Maria Angélica; BIGNOTTO, Márcia Maria; LIPP, Marilda Emmanuel


Novaes. Stress e qualidade de vida: influência de algumas variáveis pessoais.
Paidéia (Ribeirão Preto), Ribeirão Preto , v. 20, n. 45, p. 73-81, Apr. 2010 . Available
from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
863X2010000100010&lng= en&nrm=iso>. Acesso em 7 fev 2022.

SAÚDE Mental, Estado do Rio Grande do Sul. 2020. Disponível em


>https://bm.rs.gov.br/mental, Acesso em 01 de maio de 2022.

SILVA, L. N. da, & SEHNEM, S. B. (2018). Avaliação da saúde mental de


policiais militares. Pesquisa Em Psicologia Anais eletrônicos, 43-60. Recuperado de
https://portalperiodicos.unoesc.e u.br/pp_ae/article/view/19184. Acesso em 29 de jan
2022.

SILVA, Maurivan Batista da; VIEIRA, Sarita Brazão. O processo de trabalho do


estado militar e a saúde mental. Saúde soc. São Paulo, v. 17, n. 4, p. 161-170,
dezembro de 2008. Disponivel em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
12902008000400016&lng=n &nrm=iso>. Acesso em 02 de jan de 2022.

16
SOUZA, Marcela Tavares de; SILVA, Michelly Dias da; CARVALHO, Rachel de.
Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einstein (São Paulo), São Paulo , v. 8, n. 1,
p. 102-106, Mar. 2010 . Disponivel em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-
45082010000100102&lng=e n&nrm=iso>. Acesso 10 de abril 2022.

WINTER, Lilian Ester; ALF, Alexandra Machado. A profissão do policial militar:


vivências de prazer e sofrimento no trabalho. Rev. Psicol., Organ. Trab., Brasília , v.
19, n. 3, p. 671-678, set. 2019 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-
66572019000300005&l ng=pt&nrm=is >. Acesso em 28 abr. 2022.

17

Você também pode gostar