Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
LÜDTKE, Lucas.1
ROUBUSTE, Leandro da Silva.2
RESUMO
A saúde mental no trabalho pode ser nomeada de “Saúde Mental Relacionada ao Trabalho”
(SMRT), sendo esta considerada uma demanda dos serviços públicos e de causas do
afastamento do trabalho e também de aposentadorias por invalidez. Dentre o rol de
psicopatologias o desgaste mental é o principal gerador de somatizações desencadeadas
durante a atividade laboral. O escopo deste estudo foi coletar informações sobre as
repercussões do desgaste mental, sua fisiopatologia e as relações de trabalho que
desencadeiam o mecanismo de saúde-doença decorrentes deste processo. O presente estudo
de revisão foi realizado mediante a busca de termos específicos do tema nas principais bases
de dados científicas como: BVS-Psi, PubMed, SciELO, LILACS e ScienceDirect. Apesar do
discurso do trabalho em equipe, as empresas buscam estimular o valor individual em
detrimento do coletivo, sob a ideologia da livre competição entre os sujeitos “autônomos”, na
busca do lucro e do interesse pessoal de poucos. É extremamente complicado buscar uma
reflexão em uma sociedade que busca soluções rápidas e instantâneas para os males que a
acometem em prol do capital, uma vez que com esta sistemática, a saúde mental e física dos
sujeitos acabam ficando em segundo plano.
Palavras-chave: saúde mental, saúde do trabalhador, transtornos somatoformes.
INTRODUÇÃO
A forma que se dá a organização do trabalho pode apresentar-se como fator de
fragilização de saúde mental dos indivíduos, tornando assim as organizações responsáveis
pela Saúde Mental de seus trabalhadores. Atualmente, 83 mil brasileiros se afastam do
trabalho todo ano por problemas de Saúde Mental. O custo do Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS) com auxílio-doença para quem sofria de transtornos psicológicos foi de R$ 90
milhões (VASCONCELOS; FARIA, 2008).
A saúde mental no trabalho pode ser nomeada de “Saúde Mental Relacionada ao
Trabalho” (SMRT), sendo esta considerada uma demanda dos serviços públicos e de causas
do afastamento do trabalho e também de aposentadorias por invalidez. As DORTs e LER
respondem por 80 a 90% dos casos de doenças profissionais registrados na Previdência
METODOLGIA
Consiste em uma revisão narrativa da literatura. O presente estudo de revisão foi
realizado mediante a busca de termos específicos do tema nas principais bases de dados
científicas como: BVS-Psi, PubMed, SciELO, LILACS e ScienceDirect. Foram buscados os
descritores: fisiopatologia, psicopatologia, desgaste mental, saúde mental, saúde do
trabalhador, entre outros termos próximos ao objetivo do estudo. Em se tratando de uma
revisão narrativa de literatura, serão trabalhados os artigos relacionados ao tema de pesquisa.
DISCUSSÃO
Ao serem submetidos a um estresse físico ou psíquico, há um aumento a produção de
hormônios como a adrenalina e cortisol. Eles produzem alterações no ritmo cardíaco, nos
níveis de pressão sanguínea, no metabolismo e na atividade física. Em curtos períodos, tal
reação faz com que o corpo responda melhor a momentos de pressão. Contudo, se este estado
perdura por longos períodos ou é crônico, haverá prejuízos à saúde em longo prazo, pois
haverão modificações nas composições químicas e estruturais do corpo. Este estado se
manifesta como Síndrome Geral de Adaptação (SGA), que corresponde a atrofia do sistema
linfático, úlceras gastrintestinais, dilatação do córtex da suprarrenal, além de perda de peso e
outras alterações, ou seja, há uma somatização dos processos mentais (SELYE, 1972;
OLIVEIRA, 2006).
O fenômeno da somatização é extremamente comum, mas pouco estudado e entendido
pela ciência, sendo muitas vezes erroneamente associado a características inatas de
determinados indivíduos. Stekel em 1908 introduziu o termo quando estudou sua associação
com a alexitimia, distresse e hipocondria e seus efeitos definidos como decorrentes do
mecanismo de defesa baseados em experiências próprias ou observadas. Atualmente a
nomenclatura mais adequada para caracterizar esta disfunção pode ser descrita como
“sintomas funcionais” ou sintomas sem uma causa orgânica”(KATON, 1993; KEYES; RIFF,
2003; LAEDERACH-HOFMANN; RÜDDEL; MUSSGAY, 2008; STONNINGTON et al.,
2013).
Pessoas que apresentam esta disfunção possuem graus significativos de inabilidade
social e ocupacional os quais necessitam de uma elaborada necessidade de recursos médicos e
psicológicos, sendo esta condição psicológica, em sua grande maioria, não reconhecida ou
inadequadamente tratada, o que determina uma dicotomia relacionada ao pensamento
Cartesiano e a real complexidade do funcionamento do cérebro humano (BOUTROS;
PETERS, 2012; STONNINGTON et al., 2013).
Essa intrincada arquitetura reside na teoria que compreende um sistema de
“comportas” localizadas no neuro-eixo central do cérebro primitivo. Essas áreas incluem o
córtex insular temporal, cíngulo anterior, córtex pré-frontal ventromedial, nucleo central da
amígdala, núcleo do leito estriado terminal, hipotálamo, substância cinzenta periaquedutal,
núcleo parabraquial, núcleo do trato solitário e as regiões medulares ventromediais e
ventrolaterais e regiões tegmentares da medula. As funções destas áreas coordenam as funções
endócrinas, comportamentais e respostas nociceptoras (BOUTROS, PETERS, 2012).
Devemos considerar a saúde do trabalhador como um processo, e não como um
estado, sendo o mais importante nesse processo o ser humano ali envolvido, como alguém
com condições para inferir naquilo que lhe causa sofrimento. Avaliar os indivíduos em suas
diversidades e variabilidades, com capacidades de intervir na realidade remetente ao seu
contexto de vida, especialmente o trabalho, e mais diretamente na organização do seu
trabalho, tornando-os articulados ao processo de saúde (PAPARELLI; SATO; OLIVEIRA,
2011; FRANCO; DRUCK; SELIGMANN-SILVA, 2010).
Atividades que não sejam penosas e geradoras de desgaste devem considerar a
capacidade de o trabalhador interferir no planejamento do seu trabalho, de modo a modificar o
que gera incômodo, sofrimento e esforço em demasia; a familiaridade do trabalhador em
relação ao desempenho da tarefa; e o limite psíquico que irá nortear o quanto e o como o
trabalhador irá suportar tal demanda de trabalho (PAPARELLI; SATO; OLIVEIRA, 2011).
Os atos de natureza física estão diretamente associados aos psicológicos, expandindo-
se cada vez mais no mundo do trabalho, a violência embutida nos paradigmas da “excelência”
do trabalho se torna perversa e ignora os limites dos processos mentais e fisiológicos. Existe
uma autonomia controlada favorecendo o imediato alcance de metas empresariais dando ao
trabalhador uma liberdade ilusória. Segundo a Organização Mundial de Saúde, os transtornos
mentais chamados menores atingem 30% dos trabalhadores ocupados e os transtornos mentais
graves, cerca de 5% a 10% (SELIGMANN-SILVA et al., 2010; FRANCO; DRUCK;
SELIGMANN-SILVA, 2010; MIRANDA et al., 2009).
Produzir saúde em relação ao trabalho, aos profissionais de saúde em geral, é poder
perguntar-se por que ele adoeceu e não outras pessoas. Por que ele não procurou outro
trabalho? O que há de singular que explique o adoecimento? Será que não há outras pessoas
no mesmo trabalho ou categoria profissional que apresentam esse mesmo quadro? Seria
possível desconsiderar os anos de dedicação e empenho a uma determinada atividade e
procurar outro trabalho, ainda mais em tempos de desemprego? O que esse quadro me diz
desse sujeito e de seu contexto maior de vida e trabalho? Como se produziu esse agravo no
decorrer e no interior de sua vida? Enfim, é necessário que se possa partir do questionamento
da ideia de que o indivíduo possa construir a si mesmo sozinho e que, desse modo solitário,
também possa enfrentar e superar as dificuldades vividas (PAPARELLI; SATO; OLIVEIRA,
2011).
CONSIERAÇÕES FINAIS
Adquirir saúde torna-se a busca por uma liberdade de regular as alterações do estado
físico de nosso organismo, poder deixa-lo dormir quanto possui sono, poder cuidar de alguma
doença, dar tempo ao tempo, possuir uma liberdade de poder organizar a vida no trabalho,
poder organizar a própria vida, agindo individualmente e coletivamente na organização e no
conteúdo relacionado ao trabalho e nas relações dos seres humanos entre si (PAPARELLI;
SATO; OLIVEIRA, 2011).
O preconceito ainda é um grande problema entre os profissionais da saúde quando
relacionados à saúde mental dos trabalhadores, pois estes demonstram despreparo, desprezo e
agressividade para tratar esta classe, caindo na idéia da fragilização dos trabalhadores
postulada pelos empregadores (FINAZZI-SANTOS; SIQUEIRA, 2011). A saúde mental é um
equilíbrio entre corpo e psique, aonde os trabalhadores possuam tranquilidade para trabalhar
com cobranças razoáveis, com ambientes acolhedores e não geradores de medo, fazendo o
que gostam, sem pressão por produção para não serem mais uma peça fora do mercado
(VASCONCELOS; FARIA, 2008). As empresas buscam estimular o valor individual em
detrimento do coletivo, sob a ideologia da livre competição entre os sujeitos “autônomos”, na
busca do lucro e do interesse pessoal de poucos. É extremamente complicado buscar uma
reflexão em uma sociedade que busca soluções rápidas e instantâneas para os males que a
acometem em prol do capital, como se isto trouxesse felicidade aos seres humanos.
REFERÊNCIAS
BOUTROS, N. N., PETERS, Rosalind. Internal gating and somatization disorders: proposing
a yet un-described neural system. Medical Hypotheses, n. 78, p. 174–178, 2012.
KEYES, C. L. M.; RYFF, C D. Somatization and mental health: a comparative study of the
idiom of distress hypothesis. Social Science & Medicine, n. 57, p. 1833–1845, 2003.
OLIVEIRA, Juliana Roman dos Santos et al . Fadiga no trabalho: como o psicólogo pode
atuar?. Psicol. estud., Maringá , v. 15, n. 3, set. 2010.
OLIVEIRA, H. S. De. Síndrome de burnout nos docentes universitários. Trabalho de
conclusão de Programa de Pós-Graduação “Lato Sensu”: Universidade Cândido Mendes: Rio
de Janeiro, 2006.
SELYE, H. The evolution of the stress concept. American Scientist: United, n. 61, p. 692-699,
1972.